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Ana Cláudia Afonso Valladares ; Cristina Alves Oliveira ; Denize Bouttelet
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Munari ; Ana Maria Pimenta Carvalho
ABSTRACT: This work aimed at analyzing the effects of using art therapeutic painting with
adolescents, once it is known that painting facilitates the process of expression by
promoting the expansion and liberation of the individual’s psyche. The study was based on
the possibility of painting’s triggering the creative process through stimuli from the
imaginary, thus facilitating symbolic expression and the organization of these patients’
inner experiences. It was conducted at a public school in the city of Goiânia-GO, Brazil
with two adolescents and consisted of case studies with a qualitative approach. Through
the symbolic production of paintings, the expression of the adolescent’s subjectivity was
facilitated. Therefore, painting rather benefited this person’s mental balance and helped
him to overcome obstacles, fear, insecurity and, at the same time, to recognize his
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Pesquisa financiada pelo CNPQ/vinculada ao Núcleo de Estudos e Pesquisa em Saúde
Integral/FEN/UFG
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Professora do Curso de Especialização em Arteterapia da Universidade Federal de Goiás (UFG),
Enfermeira Pediátrica, Artista Plástica e Arteterapeuta, Presidente da Associação Brasil Central de
Arteterapia. E-mail: aclaudiaval@terra.com.br
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Arteterapeuta e Psicóloga
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Professora Doutora da Faculdade de Enfermagem da UFG, Coordenadora do Núcleo de
Estudos e Pesquisa em Saúde Mental (NEPS/FEN/UFG)
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Professora Doutora do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP, Psicóloga
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creative potential, thus strengthening his self-esteem and enabling healthier relationships
with oneself and others.
Key words: adolescent, art therapy, painting, mental health.
INTRODUÇÃO
A arteterapia utiliza-se de técnicas e materiais artísticos diversos na busca
de resultados terapêuticos, na expressão e na elaboração de conteúdos
internos do indivíduo. A pintura foi escolhida, dentre várias técnicas, como cerne
deste estudo, devido às valiosas qualidades da pintura arteterapêutica,
enquanto facilitadora do processo expressivo e promotor da expansão e
liberação da psique humana.
A pintura constitui, desde a pré-história, uma prática constante do ser
humano, que serve de comunicação de sentimentos, de idéias e de emoções.
Alguns movimentos artísticos se prenderam mais à estética ou às regras, na
linha mais racional; entretanto, a maioria desses movimentos reconhece o valor
terapêutico da pintura e utiliza tal conhecimento para suprir a necessidade do
homem de se expressar criativamente.
As motivações que levaram à realização deste estudo se deram pelo fato
de existirem poucas investigações sistematizadas na área da arteterapia,
especialmente da pintura arteterapêutica, além de ser uma prática recente no
Brasil. Para tanto, com o auxílio das áreas de saúde mental e arteterapia poder-
se-ia mais facilmente ampliar esta pesquisa e valorizar a pintura terapêutica
dentro das áreas de promoção da saúde mental e prevenção de danos mentais
destinadas aos adolescentes na rede regular de ensino.
A fase da adolescência, marcada por intensas transformações bio-psico-
sociais na nossa sociedade, muitas vezes leva ao agravamento de várias
doenças mentais, quando não for bem conduzida. O adolescente permite
expressar mais seus conflitos através da conduta, em detrimento da
comunicação verbal. Necessita assim, de um espaço para liberar seus conflitos
internos. Pergunta-se, então, quais as técnicas da arteterapia mais produtivas
para essa clientela, por serem essencialmente não-verbais? A pintura por ser
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REVISÃO DA LITERATURA
* Conceituação, materiais e técnicas
A pintura, segundo FERREIRA (1986, p.1333), é "a arte e a técnica de
aplicar tinta sobre uma superfície plana a fim de representar figuras, formas
abstratas etc, em quadros, painéis ou outras composições, tendo a cor como
elemento básico".
A técnica da pintura é freqüentemente confundida com a técnica do
desenho. De conformidade, bem distingue PILLAR (1990, p.38) assinalando
que:
"o que difere a pintura do desenho é que, na pintura, a cor se torna
elemento fundamental de construção do espaço _ de construção
analítica de um espaço que é essencialmente cor _ não se limitando
aos objetos e invadindo os espaços entre eles. A cor é meio de
conhecimento, transforma o real expressando uma visão particular do
mundo."
estrutura egóica. O ego pode não estar preparado para reconhecer o que está
sendo informado pelas das imagens simbólicas.
METODOLOGIA
Sujeitos: a clientela-alvo foi composta por dois adolescentes saudáveis de
ambos os sexos, com idades entre catorze e dezesseis anos. Foram feitas
escolhas casuais simples entre os que estavam aquiescentes à pesquisa e eram
alunos do colégio específico. Eles concordaram em participar do estudo
assinando o termo de consentimento livre e esclarecido. Em relação à
escolaridade, ambos cursavam o ensino médio, com pouca oscilação quanto ao
nível socioeconômico, no caso baixo.
Local: realizou-se em um Colégio Público de Goiânia - GO.
Materiais e técnicas utilizadas: trata-se de um estudo realizado na
abordagem metodológica do estudo de caso. Os recursos expressivos utilizados
nas sessões foram conduzidos de forma livre e dirigidos aos pacientes. Foram
utilizadas, além da técnica de pintura, outras atividades complementares, como:
o relaxamento, a expressão corporal, a colagem, a fantasia criativa, o desenho e
a escrita criativa. A partir do início do processo terapêutico, propôs-se aos
clientes utilizarem a pintura como forma de expressão diante de sua
problemática. Essa proposta era realizada de maneira simples e livre. Todos os
comportamentos dos participantes, durante as sessões, eram observados e
transcritos através de relatório. Com isso, os dados compreendem as etapas de
início e fim das sessões com as devidas expressões artísticas e verbais
formadoras do produto final da pintura.
Os objetivos gerais das sessões de arteterapia com enfoque na pintura
terapêutica tentaram abarcar os seguintes objetivos:
a) estimular o autoconhecimento e a auto-estima;
b) proporcionar conhecimento, manipulação, exploração e
experimentação pela pintura arteterapêutica;
c) resgatar potenciais desconhecidos ou inativados na arte;
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1) Pedro Sexo: M Idade: 16 anos
Mora com os pais, avós, tio e primo. É o primogênito de uma prole de três.
Diz ter bom relacionamento com a família, exceto com os irmãos e ter
relacionamento satisfatório com os amigos e colegas. Foi encaminhado para as
sessões de arteterapia por causa do relacionamento não satisfatório com os
professores e a direção do colégio. Seu objetivo inicial, nas sessões de
arteterapia, era de “tentar melhorar nas aulas, pois meus amigos já participaram
e eu ainda não, e os vi muito melhores.”
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2) Rita Sexo: F Idade: 14 anos
Mora com os pais e um irmão mais velho. Refere que seu relacionamento
não é muito satisfatório em casa e com os professores. Conversa pouco com os
familiares e se relaciona bem, mas se considera um pouco distante dos amigos.
Foi encaminhada às sessões de arteterapia pelos mesmos motivos expostos do
caso A. Seu objetivo inicial em arteterapia foi “em primeiro lugar porque foi
convocada e em segundo porque queria se conhecer melhor e também os seus
colegas.”
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Nome fictício
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Nome fictício
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medo de algumas pessoas que vão me matar, eu fiz uma paisagem e por cima
da paisagem uma mistura de vermelho, significando amor, e de preto o medo de
viver.” Rita fez três trabalhos: um todo em preto com um coração grande branco
no centro superior e com centro preto; um arco-íris iniciando com a cor preta e
que intermediava as outras cores; outro trabalho todo em preto com um
quadrado azul de tamanho médio no centro. Escreveu sobre eles: “No papel, eu
expressei que dentro de mim é muito escuro e o coração branco está 50%
preenchido por Jesus em minha vida. Em meus trabalhos eu ponho muita cor
preta porque me sinto meio excluída lá em casa. Isso não quer dizer que minha
mãe não me ama, aliás sei lá. Expressei então um sentimento de solidão frente
a tudo isto!”
meus verdadeiros sentimentos, como das outras vezes.” Rita representou duas
imagens distintas. Do lado esquerdo fez três pessoas sobre um plano, com um
sol, duas nuvens e chuva, todos em preto sobre fundo branco. Do lado direito,
pintou tudo em preto com pingos amarelos, com exceção de dois quadrados
brancos nos cantos direitos, onde colocou uma figura humana pequena em
preto e em cima um sol amarelo. Escreveu: “Eu expressei de um lado a minha
família, contente com o sol preto, representando a tristeza e a falta de atenção
comigo. E do outro lado está eu bem pequena e triste, mas com um sol bem
vivo, representando minha vitória de não suicidar, junto com os pingos amarelos
representando o fim da tristeza.”
Foi feito um fechamento coletivo da sessão através da verbalização dos
sentimentos.
* Avaliação do trabalho
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Rita
Em relação com a pintura: suas imagens eram grandes e bem
configuradas. No início, suas pinturas eram predominantemente de fundo todo
preto, mas se tornaram mais coloridas e soltas no decorrer das sessões.
Em relação intrapessoal: apresentou-se progressivamente mais
envolvida, interessada, concentrada, independente e ativa. Houve uma
variedade na produção expressiva, era bem observadora e manteve-se calma
durante o processo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise dos comportamentos e das produções dos participantes,
pode-se considerar que a pintura arteterapêutica facilita a expressão da
subjetividade dos adolescentes. Ela auxilia sobremaneira tanto na auto-
expressão, como na elaboração de conteúdos internos (sentimentos, emoções,
lembranças etc) e alívio de tensões. A tinta é um material agradável de ser
manipulado, além de facilitar a expressão da criatividade do self em sua
essência. Permite que o criador possa expressar seus sentimentos, adquirir
consciência dos mesmos e, em seguida, melhorar a ativação e a estruturação
do processo do desenvolvimento interno deles.
Ao valorizar a expressão em si e não a estética da produção, dá-se mais
liberdade ao criador, que poderá seguir seu instinto e deixar o racional em
segundo plano, o que lhe possibilita ser mais autêntico e saudável. Depois das
imagens configuradas, os adolescentes podem se surpreender, às vezes, com o
seu próprio feito, com a diminuição de seu autocontrole e das censuras durante
o processo criativo. Os adolescentes podem partilhar desse processo, colocar
de uma forma mais espontânea a partir do aprofundamento no processo,
deixando de agir de acordo com as expectativas alheias, para se tornarem mais
espontâneos e criativos.
A pintura arteterapêutica consegue resgatar os aspectos mais saudáveis
da personalidade. Os adolescentes alcançaram a percepção de que seus
sentimentos e emoções podem ser compartilhados com os colegas de maneira
profícua.
Nessa perspectiva, a pintura arteterapêutica beneficia muito o equilíbrio
emocional deles, no sentido de auxiliá-los a expressar e a superar bloqueios,
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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criativa. Brasília: Centro de Criação, 1996.
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JUNG, C.G. Catálogo: Imagens do inconsciente. Rio de Janeiro: Block, s.d.
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PILLAR, A. D. Fazendo artes na alfabetização. Artes plásticas e alfabetização.
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