A moura encantada

Num tempo em que o tempo no tinha nome, uma moura saa do seu cativeiro e passeava pelos bosques de mimosas e medronheiros, amedrontando os homens da aldeia. Surgia num repente, do nada, envolta num intenso brilho de magia e mistrio... A sua voz deixava-os petrificados e encantados. As suas suaves e sussurrantes palavras misturavam-se com o rumor das serras, numa harmonia perfeita com o murmrio das fontes e com o cantar dos montes. Os habitantes do vale, assustados e maravilhados com to magnfica apario, corriam a contar o que tinham visto. Corria na aldeia o rumor de que a moira guardava um tesouro imenso nas entranhas da serra e que s aquele que lhe conseguisse cortar os cabelos, quebrando o encanto, alcanaria o to fadado tesoiro! Um dia, trs jovens do vale de S. Pedro da Cova, cegos pela cobia e pelo desejo, decidiram penetrar nos bosques encantados e subir at ao penedo da moura, acreditando que conseguiriam o poder sobre o mgico tesouro. medida que entravam na floresta, o cu foi-se carregando de tons negros e cinzentos. Um silncio aterrador inundou as serras, mas os trs amigos ignoraram os avisos mudos da me serra e continuaram a escalada. E foi ento que, num repente, desabou sobre eles violenta tromba de gua, o vento raivoso e glido vergou as rvores do caminho, e a terra tremeu, e a serra gemeu, gritou, abriu-se em sulcos fundos, engolindo dois dos invasores. Um deles sobreviveu tormenta, arrastando-se penosamente at aldeia. Porm, no mais falou, tresloucado pelo que tinha visto. Morreu passados poucos dias. A partir desse dia, nunca mais algum ousou quebrar o encanto da moura e violar os tesouros que esconde. Quem se aproximar do penedo e escutar com ateno, consegue ouvir o choro da moura correndo sem cessar...