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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESEISTTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
W__ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
.. dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
FiLCÜOFi/\í

il- ■■-- I

NO IX N* 104 AGOSTO 1961


ÍNDICE
p&e-

I. CIENCIA E RELIGIAO

X) "Diz-se que os povos primitivos sao politeistas e fetichis


tas. O monoteísmo (arenca em um só Deus) seria tardío na his
toria das Religióes.
Que ensinam as pesquisas recentes a propósito ?" SIS

II. SAGRADA ESCRITURA

Z) "Que dizer da adoracáo dos magos a Jesús Menino? Cf.


Mt S, 1-2S.

Terá sido fato real ?" Sftl

m. DOGMÁTICA

S) "Que sao os sinais dos tempos, tdo mencionados hoje


em din?" 338

IV. ESPIRITUALIDADE

i) "Revisáo de vida 1 Atualmente fala-se muito disto.


Que é? Vale a pena?" SS8

V. MORAL MÉDICA

5) "O uso de entorpeeentes e psicodélieos nao será até certo


ponto justificado ?
Por que nao aproveitar os recursos que a ciencia moderna
p&e i nossa dtsposífóo poro suavizar a vida ?" 347

CORRESPONDENCIA MWDA 855

RESENHA DE LIVROS SS6

COM AFROVACAO ECLESIÁSTICA


PERGUNTE E RESPONDEREMOS »

Ano IX — N« 104 —: Agosto de 1968

I. CIENCIA E RELIGIAO

1) «Diz-se que 'os povos primitivos sao politeístas e feti


chistas. O monoteísmo (crenca em um só Deus) seria tardío
na historia das Beligióes.
Que ensinam as pesquisas recentes a propósito?»

Resumo da resposta.: Entre outras pesquisas interessantes, devé-


-se citar a de Domimique Nothomb, que. após haver estudado a popu-
lacáo negra de Ruanda (África), publicou o livro «Un humanisme
africain. Valeurs et pierres d'Attente». Louvain 1965.
Nothomb verificou que os ruandenses, primitivos como sao, pro-
fessam a crenca num único Deus. ao qual, numa linguagem antropo-
móríica e simples) atribuem predicados de elevada perfeicáo, que o.
artigo abaixo cataloga. '
Éste resultado vem corroborar a tese da Escola de Etnología de
Viena segundo a qual a forma primitiva da Rellgiáo foi o monoteísmo.
Quanto mais .rudimentar é um povo, mais pura é a sua religiáo.
Politeísmo, fetichismo, totemismo vém a ser formas nao primitivas,
mas posteriores e decadentes da Religiáo. DiP-se-ia que, no decorrer
da historia antiga, quanto mais os homens se viram dependentes da
natureza (sol, agua fogo, térra, animáis, plantas...), mais tenderam
a endeusá-la; por íim, também os monarcas foram tidos como filhos
dos deuses nos grandes Imperios da antigüidade.
Os testemunhos colhidos em Ruanda mostram como a alma hu
mana é espontáneamente voltada para Deus, o único Deus; existe nela
(ao menos, implícitamente) a expectativa da Revelacáo sobrenatural
que o Senhor houve por bem fazer na sucessáo dos séculos através
dos Patriarcas, dos Profetas e, por último, do próprio Cristo Jesús. Há,
por conseguin'te na natureza humana, e entre os povos primitivos,
muitas cabecas de ponte («pierres d'attente») para o Evangelho.

Resposta: Em «P.R.» 19/1959,, pág. 267, foi estudada a


tese segundo a qual a Religiáo comecou na historia sob formas
grosseiras (politeísmo, totemismo, animismo, fetichismo) e aos
poucos foi concebendo nogóes mais puras até chegar *ao mono
teísmo, que é a única forma plausível de crenca religiosa. Na
verdade, a etnología (estudo dos povos primitivos), explorada
pela escola «Anthropos» de Viena, demonstra que as primeiras
manifestacóes religiosas da humanidade, longe de ser politeístas

— 313 —
2 -- <tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 1

e grosseiras, sao monoteístas; quanto mais urna tribo é rude e


primitiva, .tanto mais puras (embora simples) sao as suas
arengas religiosas.
Em vista disto,, abalizados estudiosos admitem que o mo
noteísmo («der Hochgottglaube», a crenga no Grande Deus)
é realmente a expressáo religiosa inicial da humanidade. As
formas politeístas vém a ser manifestasóes decadentes da alma
religiosa humana. Encontram-se a respeito testemunhos valio
sos no citado artigo de «P.R.» Vejare também a obra funda
mental de W. Schmidt, «Der Ursprung der Gottesidee» (A ori-
gem da idéia de Deus) em doze volumes publicados de 1926
a 1955.
Ñas páginas que se seguem, proporemos os resultados
de estudos recentemente feitos entre os negros de Ruanda
(Rwanda), na África Central, por Dominique Nothomb, o qual
publicou em 1965 o livro «Un humanisme africain. Valeur et
pierres d'attente» (Um humanismo africano. Valores e caberas
de ponte), Louvain, Edicóes «Lumen Vitae».
Os dados abaixo demonstram que ésses homens primitivos
reconhecem um só Deus (monoteísmo puro), ao qual atribuem
predicados muito elevados.

1. Quem é Immana ?

Os ruandenses aceitam a existencia de Deus, e de um só


Deus,, que éles chamam «Immana», nome que, segundo alguns
lingüistas, quer dizer «Grande Espirito», segundo outros «Aquéle
que mora conosco».

Embora nao saibam desenvolver urna teología sistemática,


os primitivos fazem afirmagóes a respeito de Deus, na sua
linguagem cotidiana e simples, que contém um pensamento
teológico muito reto e profundo. O homem culto que saiba
compreender os antropomorfismos e as numerosas imagens
tiradas da agricultura, da caca ou da vida doméstica de um
povo primitivo, nao poderá deixar de admirar a sabedoria dos
dizeres dos ruandenses.
Eis um catálogo de tais afirmagóes, distribuidas sob tí
tulos congruentes:

1) Unicidade de Deus

Ntawe uhwana n'Immana: Ninguém igual a Deus.


Ntawuhwanye n'Immana: Nao há igual a Deus.

— 314 —
A RELIGIAO DOS PRIMITIVOS

Habinunana: So Deus importa.


Immana ntihenda indi, iba iyiriye: Deus nao engaña
outro Deus ; destruiría a si mesmo.

2) Poder de Deus

Eis algumas expressóes que manifestam a onipoténcia


divina:

a) Immana é o Criador. Por isto, outro nome que lhe


compete, é Rurema, Criador. Dizem também os ruandenses:
Niyo Ibeshaho byose: É Ele quem dá a vida a tudo.
Niyintunze: É Ele quem me dá a vida.
Iyamulemye: Aquéle que o criou.
Haba Eurema; Haba Ruhanga; Habumulemyi: O Criador
é (existe).
Quanto a Ele, ninguém O criou: Yalihanze (Ele criou a
si mesmo), expressáp imperfeita para dizer que Deus é o
Principio Absoluto dé todas as criaturas.

b) A obra da criacáo dá a conhecer o poder ilimitado


de Immana, poder especialmente realcado por expressóes como
Immana iruta. ingabo: Deus é maior do que os exércitos.
Immana igira amaboko maremare: Deus tem os bracos
compridos.
Immana ildnga ukuboko: Deus fecha o brago, isto é, pode
salvar tudo.
Rugaba: o Poderoso.

c) O que o Criador comecou, Ele o continua, de sorte


que Immana é o Dispensador de todo bem. Éste atributo é o
que mais freqüentemente ocorre em nomes próprios e em
proverbios de Ruanda.
Todos os bens — vida,, alimentos, saúde, fórga, béncáos,
crescimento, leite, colheitas, pousada, auxilios de todos os
tipos — provém, em última análise, dessa fonte única: Immana,
Dizem os ruandenses : Maniragabsn, é Deus quem dá, quem
distribuí; Itangikunda, Ele dá por amor.
Immana dá gratuitamente, distribuindo as suas dádivas
como quer:

Ntihabose: Nao dá a todos.


Itangishaka: Ele dá o que quer.
Ntiyabahwanije: Ele nao os fez todos iguais.

— 315 —
4 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968. qu. 1

Iirmana yaremye byinshi itora bike: Deus criou muitos;


escolhe poucos.
Umubaji w'imitima ntíyayiringanije: O Artífice dos cora-
cóes nao os mediu todos do mesmo modo.
Ntawiha icyo Immana Itamuhayei Ninguém dá a si o
que Deus nao lhe deu.
Ntihaba gukanura amaso haba Immana ikubonera: É váo
arregalar os olhos; sómente importa Deus, que vé por ti.
Estas expressóes visam apenas realgar a soberanía de
Deus; nao implicam necessáriamente imperfeicáo ou injustica
em Immana.

3) Ciencia de Deus

Paralela ao poder divino, a ciencia de Deus nao é limi


tada por algum segrédo. Por isto dizem os ruandenses:
Bizimmana: Deus conhece essas coisas.
Biziyaremyc: Aquéle que os criou, os conhece.

4) Providencia Divina

a) As sortes do homem e de todas as criaturas estáo


ñas máos de Deus:
Agati gateretswe n'Immana ntigahuhwa n'umuyaga: O ar
busto planeado por Deus nao pode ser levado pelo vento.
Urwubatswe n'Iipmana, ntirusenywa n'umuyaga: A casa
construida por Deus, nenhum vento pode derrubá-la.
Immana itera amapfa itegeka nabo bazahaha: Deus pro
voca a fome e manda dizer onde é preciso reabastecer-se.
Immanga y'Immana ¡ruta ildgarama cy'ijisho: Mais vale
o precipicio de Deus do que a planicie do nosso ólho. O que
quer dizer: Mais vale o que Deus manda (embora nos assuste
como um precipicio) do que aquilo que nos (pobres criaturas)
julgamos conveniente.
Hagcnimmana, Bugenimmana, Maniragena, Mbonigena: É
Deus quem determina tal pessoa para tal pessoa (em vista do
casamen4»).
Ndahayo: Eu vivo por Ele.

b) Para designar a solicita Providencia de Deus, os


ruandenses recorrem á imagem do Pasfor:
Haragira Immana: É Deus o Pastor!
Immana ikuragire: Deus seja teu Pastor!

— 316 —
A RELIGIAO DOS PRIMITIVOS

Immana ikuragirira uhari cyanga udahali: Deus é teu


pastor, estejas presente ou ausente.

c) A Providencia Divina nao dispensa a atividade do


homem. Donde:
Haba Rugirá, hakaba umugizi: A Providencia ai está, mas
existe também o homem de iniciativa.
Uragtriwe n'Immana ashyiraho n'umuwungeri: Aínda que
Deus vigié sobre o teu rebanho, toma o cuidado de o confiar
a um pastor.
Ibitihuse, Immana irabihambya: Aqueles que procedem
com prudencia, Deus se chega em tempo oportuno.
Abagiye inania, Immana irabasanga: Aqueles que delibe-
ram conjuntamente, Deus vai-se reunir.
Bahatimmana: É preciso forgar Deus.
Usabira Immana kw'ishyiga, ikagusiga ivu: Tu oras a
Deus ficando perto da lareira; Ele te cobre de cinzas, isto é,
deixa-te na miseria (Deus-nao favorece a preguiga).

d) Os ruandenses primitivos mostram ter consciéhcia de


que através das criaturas é Deus quem age; é Immana quem
dá ao homem o bom resultado de suas ac.óes.
Ukwerewe n'Immana agirango yakwerewe nase: Aquéle
que recebeu de Deus com que pagar a sua dote, diz que a
recebeu de seu pai.
Uwo Immana ihaye irobe agirango arusha abandi guhinga:
Aquéle a quem Deus deu farinha, julga que cultivou melhor
do que os outros.
Uwarasiwe n'Immana nivvc urasirwa n'incuti: Aquéle para
quem Deus arremessou as flechas, é para ele que os amigos
arremessam as flechas. — «Arremessar as flechas», no caso,
quer dizer «assistir». Donde : quando os amigos ajudam, é
Deus quem ajuda.

e) Deus, que guia o homem todos os dias de sua exis


tencia, determina o día em que o homem deve passar desta
vida para o reino dos barámu (almas dos defuntos):
Ntawurenga umunsi Immana yavuze: Ninguém passa além
do dia que Deus lhe assinalou.
Ntawupfa adatanzwe n'Immana: Ninguém morre sem ser
entregue por Deus.
Iykaremyo niyo ikajaja: Aquéle que formou o crá,nio, é
o único que o esmaga.
Hategekimmana: É Deus quem manda.

— 317 —
6 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 1

5) Transcendencia de Deus

Em presenga de Deus, o homem de Ruanda (Munya-


-Rwanda) afirma, em última análise, que Immana é o abso
lutamente Outro, aquéle que está ácima de todos os seres, e
difere de todas as criaturas, nao sonriente por sua dignidades,
mas também por sua maneira de existir. Com efeito,

a) Immana tem dois outros nomes próprios: Iyambere,


o Primeiro, e Iyakare, o Inicial.
b) É o Eterno: Uhoraho, Aquéle que é sempre.

c) Está ácima de todo outro ser:


Ntakiruta Immana: Nada está ácima de Deus.
Harnshimmana: Deus é Aquéle que está ácima.
Niyonkuru: É Ele que é grande.
Ntaldyiruta: Nada há que o supere.
Inyundo ntisumba nwayicuze: O martelo nao supera aquéle
que o forjou.

d) Está em toda parte:


Nta ho Immana itaba: Nao há lugar onde ele nao esteja.
Nyamugendera hasi no hejuru: É aquéle que percorre o
céu e a térra.

e) Enfím, Deus nao carece de coisa alguma: é o


Umudabagizi, o Pleno, Cumulado; o ümutesi, o Cumulado,
Satisfeito; Hatungimmana, É Deus quem possui.

6) Bondade de Deus

a) O Deus transcendente nao deixa de ser o Deus bom,,


amigo do homem. Por isto, é chamado Rukiza, o Salvador,
Ruvuna, aquéle que socorre, Nyamutezi, Aquéle que estende a
máo, Sebantu, Pai dos homens, Sebibondo, Pai dos pequeninos.
Diz o mándense: Niyinkunda: É ele quem me ama.

b) Conscientes disto, os ruandenses oram a Immana,,


que Ihes está sempre próximo e atento:
Ndemgimmana: Adoro a Deus.
Nsabimmana: Eu oro a Deus.
NsabLkunzc: Oro aquéle que ama.
Nsabiyumva: Oro aquéle que ouve.
Nsabíyeze: Oro aquéle que é propicio.

— 318 —
A RELIGIÁO DOS PRIMITIVOS

Ndayambaje: Eu o imploro.
Niyonsaba: É a ele que oro.
Mbonishaka: Vejo que ele me quer ajudar.
Nteráryayo: Ougo a sua palavra.
Mbonimpa: Ele me dará.
Mbonigorore: Ele restabelecerá minha sittiagáo.
Mboniyankura: Deus me tirará déste estado.
Ntezimmana: Confío em Deus.
Umbohore: Desliga-me!
Mana y'i Rwanda» umpfashe, untabare: Deus de nossos
país, ajuda-me; vem em meu socorro!
Yanknndiye: Ele mo concedeu por amor.
Musabyimmana: Pego a Deus, dé vida a esta crianca.
Ndagijimmana: Fago-me apascentar por Deus.
Nizeyimmana: Espero em Deus.
Nshmiyimmana: Agradego a Deus.
Immana irakarama: A Deus se déem gracas!
Umtintu arasinzira, Iyamuremye ntisinzira: O homem dor-
me, aquéle que o criou nao dorme.
Ao despedir-se, deseja o amigo ao amigo: Uragahorana
Immana, übane n'Immana. Possas viver perpetuamente com
Deus!
Estas sao as principáis nogóes religiosas professadas' e
vividas pelos homens primitivos de Ruanda. Referem os obser
vadores que é com grande fervor que aquela gente fala de
Deus e pratica seus atos de piedade.
Seja lícito acrescentar

2. Urna reflexao final

Acabamos de catalogar os pontos positivos da alma reli


giosa de um dos povos primitivos de nossos dias.
Faz-se mister aínda registrar que, ao lado désses elemen
tos perfeitamente válidos, existem na religiosidade mándense
pontos deficientes,, como, por exemplo, práticas supersticiosas.
Sabe-se também que as crengas referentes a vida futura ai
sao tímidas: os ruandenses admitem a sobrevivencia da alma,
mas nao tém clara nogáo de sangáo postuma nem de uniáo
com Deus após a morte. Os beneficios que éles pedem ao
Senhor, sao geralmente de índole temporal: saúde e haveres
materiais (rebanhos, colheitas, fecundidade, vitórias, domi
nio...), que tiornem o homem feliz sobre a térra.

— 319 —
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 1

Como quer que seja, é extremamente valioso o testemu-


nho da fé do povo de Ruanda. E isto, por dois motivos prin
cipáis:
1) corrobora a tese de que o monoteísmo é a forma de
religiáo inicial da humanidade. Esta tese é de importancia
capital para que se possa aquilatar o significado da Religiao
no quadro da historia geral dos homens. Pode-se dizer que
Religiao — e a Keligiáo pura, de um Deus sé — é algo de
táo antigo quanto o homem, em vez de ser (como se tem
dito) produto de determinada fase de cultura. Ao contrario,
o politeísmo, o totemismo, o animismo sao formas posteriores
e decadentes da religiao: com o progresso da ciyilizagáo, dir-
-se-ia que o homem nao sustentou mais o conceito, filosófica
mente muito elevado, de um Deus só; foi esfacelando ésse
conceito e repartindo a nocáo de Deus entre os elementos de
que o agricultor ou o cacador se via dependente: sol, lúa, agua,
fogo, térra, vegetacáo, animáis... A ignorancia,, o médo e
outras atitudes fainas (que a doutrina bíblica do pecado ori
ginal muito bem explica) concorreram para a decadencia das
nogóes religiosas da humanidade.
2) O testemunho religioso dos ruandenses dá a ver como
o Cristianismo completa a religiao primitiva dos homens. Há,
alias, estudiosos que admitem Deus se tenha revelado no inicio
da historia da humanidade; essa revelacáo primitiva seria ates
tada pelos povos mais rudimentares, que a etnología hoje em
dia vai descobrindo e estudando.
. O Cristianismo vem a ser a consumagáo das revelacóes
anteriormente feitas por Deus á humanidade fora e dentro
do povo de Israel (a revelagáo de Deus a Abraáo, patriarca
do povo de Israel, se deu no séc. XE a.C).
Verifica-se assim que os povos primitivos oferecem ge-
nuínas «cabegas de ponte» que os arautos do Evangelho tém
de saber descobrir e utilizar para lhes comunicar a Boa-Nova
ou a consumagáo de suas aspiracóes religiosas.

— 320 —
OS MAGOS E JESÚS

II. SAGRADA ESCRITURA

2) «Que dizer da adoragáo dos magos a Jesús Menino?


Cf. Mt 2, 1-2S.
Terá sido fato real?»

Resumo da resposta: O estudo da literatura judaica bihlica e


extra-bíblica levou os exegetas, nos últimos tempos, a ver no episodio
dos magos em Mt 2 traeos que se encontram também ñas narra
tivas concernentes a Moisés. Alias, todo o Evangelho de Sao Mateus
tende a apresentar Jesús como novo Moisés; é dste o aspecto da
figura de Cristo que S. Mateus, escrevendo para Judeus, quis por
em evidencia.
Nao é, portante, absurda a conjetura seguinte: Sao Mateus, no
seu capítulo 2, refere fatos históricos, apresentados, porém, de tal
moao que ura judeu antigo pudesse depreender que em Jesús a his
toria e a obra de Moisés chegaram á consumacáo. O caráter histó
rico de Mt 2 é confirmado por quanto a historia profana narra a
respeito do rei Herodes, personagem ambicioso e cruelt que nao hesi-
tava proceder a morticinios, mesmo coletivos (nao se deve exagerar
a extensáo do infanticidio ordenado por Herodes; aproximadamente
vinte e cinco criancas teráo perecido).
Contra a hlpótese de que Sao Mateus tenha usado de artificios
literarios na redagáo do episodio dos magos, nada se pode opor por
parte do conceito de iñspiracáo bíblica. Esta nao excluí géneros lite
rarios ou modos de redigir habituáis entre os antigos; ao leitor
compete apreciar cada texto bíblico dentro do seu género literario
próprio.

Resposta: A questáo ácima vai sendo mais e mais abor


dada nao sómente ñas altas escolas de estudos bíblicos, mas
também nos cursos de catequese destinados a todos os fiéis.
A resposta que se lhe dá, parece por vézes desconcertante
para a fé dos cristáos. Sendo assim, é oportuno considerá-la
nestas páginas em tom sereno e objetivo.
O texto de Mt sempre foi entendido como se segué:

Certas magos do Oriente avisados por urna estréla foram a Je-


rusalém á procura de um recém-nascido rei de Israel para lhe prestar
homenagem. Informados pelo rei Herodes de que ésse menino, cha
mado Jesús, nascera em Belém, diiigiram-se a esta cidade, onde o

— 321 —
10 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 2

encontraran! e adoraram. Herodes, entáo, julgando ter sido iludido


pelos magos, mandou matar todos os meninos de dois anos ou
menos que se achassem em Belém e nos arredores, a fim de se livrar
do seu .rival. Jesús, porém, escapou ao morticinio, porque um anjo
do Senhor admoestou José em sonho a que fugisse com os seus
para o Egito. A Sagrada Familia deteve-se na térra estrangeira até
a marte de Herodes, quando de n6vo um anjo em dois sonhos. con
secutivos exortou José a voltar para a Gallléia. Algumas profecías
do Antigo Testamento sao citadas pelo Evangelista a íim de ilustrar
os episodios narrados em Mt 2 (cf. w. 6. 15T 18. 23).

Nos últimos anos, abalizados exegetas católicos tém re-


estudado o texto de Mt 2, utilizando as recentes canclusóes
da filología, da literatura orientáis antigás e das ciencias
correlatas, conclusóes que, segundo o magisterio da Igreja,
devem ser levadas em consideracáo na exegese bíblica (cf.
Const. do Vaticano n sobre a Palavra de Deus, tí> 12). — Em
conseqüéncia, propóem novo modo de entender o episodio dos
magos adoradores de Jesús. Essa nova sentenca, de um lado,
em nada contradiz á fé católica; o magisterio da Igreja nao
se Ihe opóe. De outro lado, porém, nao se impóe necessaria-
mente á aceitagáo dos leitores, pois está baseada em conje
turas mais ou menos verossímeis, que nao sao decisivas.
Para que o leitor cristáo, nessas circunstancias, possa
formar o seu juízo com objetivo conhecimento de causa, váo
abaixo propostas as consideragóes dos referidos exegetas.

Eis a respectiva bihliograíia (católica):


Béda Rigaux, «Témoignages de l'évangile de Matthieu». Desclée
de Brouwer 1967.
Jean Daniélou, «Les Évangiles de l'Enfance». Paris 1967.
Xavier Léon-Dufour, «Les Évangiles et l'histoire de Jésus». Paris
1963.
M M Bourke, «The Literary Genus of Matthew 1-2», em «The
Catholic Biblical Quarterly» 22 (1960) 160175.
S Muñoz Iglesias «El género literario del Evangelio de la Infan
cia en San Mateo», em «Estudios Bíblicos» 17 (1958) 243-273.
J Bacette, «L'évangile de l'enfance selon Saint Matthieu», em
«Sciences Ecclésiastiques« de Montréal 9 (1957) 77-85.
R Bloch, «Midrash», em «Dictionnaire de la Bible. Supplément»
V, 1263-1281.

1. Preliminares de índole geral

Tres verdades a respeito da origem dos Evangelhos


devem ser aqui recordadas. Cf. «P.R.» 90/1967, qu. 2;
91/1967, qu. 2.

— 322 —
OS MAGOS E JESÚS

1) Sabe-se que os Evangelhos nao sao pegas literarias


¡mediatamente criadas pelos Evangelistas. Supóem, ao contra
rio, urna tradicáo; com efeito, antes que os Evangelistas
redigissem os seus livros, havia numerosos blocos ayulsos,
transmitidos de viva voz ou por escrito, os quais relatavam
ditos ou feitos do Senhor: urna serie de parábolas ou um
conjunto de milagres ou profecías de Jesús... Ésse copioso
material foi selecionado por cada Evangelista segundo seus
criterios pessoais e enriquecido com noticias colhidas de fon-
tes próprias. Além disto, cada qual imprimiu ao seu livró as
características de seu estilo.

2) É também notorio que os Evangelistas nao tiveram


a intencáo de escrever urna biografía de Jesús no sentido mo
derno. O que quer dizer: nao intencionaran! referir tudo que
Jesús disse e fez, nem seguiram a estrita ordem cronológica
em suas narrativas, mas subordinaram os seus relatos a fíns
de catequese. Por consegiñnte, agruparam episodios seme-
lhantes, referentes ao mesmo tema, procurando faxer que o
leitor, ao percorrer os ditos e feitos de Jesús, compreendesse
bem, antes do mais, a mensagem religiosa de Cristo.

Isto nao quer dizer, em absoluto, que os Evangelistas hajam in


ventado episodios, mitos ou Jendas. Nao; o que éles referixam sao
íatos históricos, propostos nao para ensLnar historias, mas verdades
religiosas.

De modo particular, o primeiro Evangelista é sistemático.


Escrevendo especialmente para judeus convertidos ao Cristia
nismo, quis apresentar Jesús sobre o fundo das profecías do
Antigo Testamento: o que estava predito, se cumpriu no Filho
de María. No Evangelho de Mateus, Jesús aparece principal
mente como novo Moisés, que em cinco grandes discursos
programáticos leva a Lei de Moisés á sua plenitude; cf. Mt
5-7 (a «Magna Carta» do Reino de Deus); 9, 36-11,1 (ins-
trucóes aos Apostólos); 13, 1-52 (as parábolas do Reino);
18,1-35 (o sermáo comunitario); 24,1-25,46 (o sermáo esca-
tológico).

3) A apresentacáo da historia como mestra da vida ou


o desejo de fazer de episodios históricos os veículos de ensi-
namentos religiosos era assaz comum entre os judeus antigos.
Estes chegaram a criar um género literario corresponden-

— 323 —
12 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 2

te a éste intuito, género chamado «midrash» ou também


«haggada».

O midrash é um relato de fundo histórico, ornamentado


de tragos ficticios. Estes traeos geralmente apresentam índole
maravilhosa e impressionante — o que bem se compreande,
pois tém por finalidade por em realce o ensinamento religioso
do episodio narrado. Os rabinos relatayam muitos midrashim,
parafraseando ou desenvolvendo narrativas históricas da S. Es
critura.
No inicio do séc. XX, atribuia-se ao termo midrash o
sentido de fábula, lenda ou mito; opor-se-ia a «historia real».

Era nesse sentido pejorativo, por exemplo, que Alfred Loisy em-
pregava o termo midrash. Admitía que o Evangelho da infancia .de
Jesús segundo Sao Máteus estava redigido conforme tal género lite
rario e, par isto, «parecía nao ter a maJs tenue base histórica»
(cf. «Les Evangiles Synoptiques» 1 Ceffonds, 1907, 331).

Em nossos dias percebe-se que midrash é urna especie de


comentario teológico ou edificante dos fatos bíblicos. Os-mes-
tres que narravam midrashim nao pretendiam cultivar a
historia por causa da historia, mas intencionavam fazer da
historia um instrumento catequético — o que é lícito, pñn-
cipalmente dentro do modo de pensar dos antigos.

Eis a respeito as observagSes de R. Bloch no «Dictionnaire de


la Bible. Supplément» V, pág. 1263:

«Importa dar a éste termo (midrash) o seu verdadeiro sentido.


Com efeito, muitas vézes é tido como sinónimo de fábula ou narra
tiva lendária. Na verdade, designa um. género edificante e explicativo
estreitamente ligado á Escritura, no qual a ampliacáo é real, mas
secundaria; essa ampliacáo fica sempre subordinada á finalidade re
ligiosa essencial, que é a de focalizar mais plenamente a obra de
Deus ou a Palavra de Deus. Por causa do sentido pejorativo que
frecuentemente se dá á palawa midrash, arriscamo-nos a nao reco-
nhecer que ésse género literario tem seus antecedentes ñas próprias
páginas da Biblia».

Assim entendido o midrash, nao se pode de antemáo ex


cluir que os Evangelistas tenham sofrido a influencia désse
género literario na redacáo das suas catequeses evangélicas;
a existencia de midrashim entre os judeus e judeo-cristáos
do séc. I d.C. pode ter contribuido para que o texto dos Evan-
gelhos tomasse a configurac.áo que ele hoje tem.
Após estas ponderacóes, passemos a urna consideracáo
mais direta do assunto que nos toca.

— 324 —
OS MAGOS E JESÚS 13

2. Os Evcmgelhos da infancia de Jesús

1. Em dois dos Evangelhos (Mt e Le) encontramos os


episodios referentes á origem de Jesús. Constituem os char
mados «Evangelhos da infancia»; cf. Mt 1-2 e Le 1-2.

Ora, como reconhecem os exegétas, ésses relatos tém tais


características de estilo e redacáo que nao podem ser anali-
sados e explicados como as demais seccóes do Evangelho;
merecem ser tratados a parte, pois supóem um género lite
rario próprio e um aprofundamento teológico. Pode-se dizer
que, logo depois da Ascensáo de Jesús, os Apostólos e discí
pulos voltaram sua atencáo para o misterio de Páscoa e da
Redencáo, ou seja, para a vida pública e a consumaeáo da
obra do Senhon. Só depois se detiveram no misterio da En-
carnagáo, ou seja, ñas origens do Senhor, cpnsiderando-o
com um olhar profundamente teológico, á luz do misterio de
Páscoa.

O género literario próprio de Mt 1-2 e Le 1-2 se depre-


ende claramente de urna de suas caraterísticas: a énfase
dada ao maravilhoso. — Note-se que nos episodios da vida
pública de Jesús os anjos nao intervém, a nao ser na tenta-
cáo de Cristo (segundo S. Mateus 4,11 e S. Marcos 1,13) e
no horto das Oliveiras (segundo S. Lucas 22. 43). Náq há
mencáo de sonhos pelos quais Deus se manifesté. As cenas
decorrem entre personagens humanos, se bem que os mila-
gres freqüentemente se déem. — Ao invés, ñas narrativas da
infancia de Jesús, nao se registram própriamente milagres
(derrogagóes (as leis da natureza), mas fatos maravilhosos:
Zacarías, José, Mana, os pastores, os magos entram em co-
municacáo com o mundo celeste por meio dos anjos. A his-
. tória da infancia de Jesús é urna historia desta térra, mas o
invisível nela se torna continuamente visível de maneira
extraordinaria; é urna historia real, cujos atores, porém, sao
movidos pelo céu.

Estas observacóes de modo nenhum pretendem lancar


descréditoi sobre os «Evangelhos da infancia» nem sobre a
existencia dos anjos. Na conclusáo déste artigo ver-se-á a
mensagem que (segundo os exegétas .modernos) tais seccóes
assim transmiten!.

É á luz de tais observacóes gerais sobre, os «Evangelhos


da infancia» que os estudiosos tém analisado o episodio dos
magos em Mt 2.

— 325 —
14 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 2

3. Herodes, os magos e Jesús (Mt 2)

Os exegetas verificam que o episodio de Mt 2 parece ter


sido redigido sob o influxo das narrativas do Antigo Testa
mento e dos rabinos referentes a vida de Moisés, principal
mente ao nascimento e aos primeiros dias déste homem de
Deus. Isto, alias, nao surpreende, pois Mateus, em mais de
urna página do seu Evangelho, procura apresentar Jesús como
novo Moisés (cf. E. Bettencourt, «Para entender os Evange-
lhos», c. IV).
Ora no tocante ao nascimento de Moisés, os judeus nar-
ravam o seguinte:

a) Faraó, o monarca do Egito, teve certa noite um sonho es-


tranho. Chamou entáo quena lho pudesse interpretar: Janes e Jimbres,
segundo algumas fontes literarias, ou um dos principes da corte,
ou, segundó mais outras lontes, Balaá, fUho de Beor, ou um dos
eunucos do rei. Os intérpretes disseram a Faraó que tal sonho signi-
ficava o nascimento de urna crianca israelita que destruiría o Egito
e tiraría Israel do cativeiro.
Outros escritos da tradigáo rabínica referem que íoram os astró
logos que revelaram a Faraó o nascimento do Salvador de Israel,
sem, porém, poder precisar se tal Salvador seria um israelita ou um
egipcio.
Coníorme Flávio José, historiador judaico do séc. I depois de
Cristo, um dos escribas sagrados da corte (sem mencáo de sonho)
anunciou a Faraó o nascimento do Libertador de Israel, o qual ha-
verla de humilhar os egipcios e libertar os israelijtas. Do seu lado,
Amram, o pai de Moisés, teve um sonho, que lhe anunciava a nati-
vidade e a missao de seu filho; éste haveria de libertar o povo hebreu
do cativeiro do Egito (cf. «Antigüldades Judaicas* n, XX 3. 212. 215s).
b) Os egipcios encheram-se de terror quando tiveram noticia de
tais predicñes.

c) Faraó consultou a propósito seus sabios e astrólogos, resol-


vendo, em conseqüéncia, mandar matar os meninos nascidos ñas
familias dos hebreus.
d) Moisés, porém, escapou ao morticinio.

Estes diversos dados da tradicáo judaica sao evidente


mente midrashim; exploram e ampliam em estilo -maravilhoso
os episodios narrados em Éx 2-4 a respeito de Moisés, a fim
de mais incutir os designios de Deus concernentes ao Legis
lador de Israel.
Quem compara os dizeres rabiáteos referentes a Moisés
com o texto de Mt 2, verifica inegáveis semelhangas.
Mais aínda: entre o livro do Éxodo e Mt 2 registram-se
pontos de contato.

— 326 —
OS MAGOS E JESÚS 15

Assim, em Éx 4, Ifts, lé^se:


«O Senhor dlsse a Moisés em Madiá: *Vai, volta ao Egito, porque
todos aqueles que atentavam contra a tua vida estáo mortos'. Moisés
tomou consigo sua mulher e seus íilhos, fé-los montar em jumentos
e voltau para o Egito». ,
Compare-se com Mt 2, 19-21:
«Quando morreu Herodes, um anjo do Senhor apareceu em sonho
a José, no Egito, e lhe disse: 'Levanta-te, toma o menino e sua máe
e vai para a térra de Israel, porque morreram os que atentavam
contra a vida do menino'. Levantou-se José, tbmou o menino e sua
máe e voltou para a térra de Israel».
Neste texto do S. Evangelho, chama a atencao a forma de plural
«morreram os que atentavam contra a vida do menino». Na verdade,
como nota o Evangelista pouco antes, Herodes é que atentava contra
Jesús e monrera. Por que entáo terá usado S. Mateus a forma de
plural? — Nao se pode dizer que o texto de ÉX 4, 19 (onde o plural
é mais compreensivel) influenciou diretamente a redacáo da passa-
gem de Mt 2, 20?
Note-se também a afinidade entre Éx 2, 15 e Mt 2, 13.14.16:
Éx 2, 15: «Faraó, sabendo do ocorrido, procurou matar Moisés,
mas éste fugiu para longe de Faraó. Retirou-se entáo para a térra de
Madiá, e sentou-se junto de um poco».
lUt 2, 13.14.16: «Apareceu em sonho a José o anjo do Senhor
e lhe disse: 'Levanta-te, toma o menino e sua máe e foge para o
Egito; permanece lá até que eu te avise, porque Herodes vai pro
curar o menino para o matar'. Levantou-se José e, aínda sendo noite,
tomou o menino e sua máe e retirou-se para o Egito, onde perma-
neceu até a morte de Herodes... Percebendo Herodes que tinha sido
engañado pelos magos, íicou irritadissimo e mandou matar todos os
meninos, que havia em Belém e ñas redondezas...»

Além déstes pontos de afinidade entre Mt 2 e a tradigáo


judaica, notam-se as dissemelhansas entre um e outra:

a) O sonho de Faraó nao tem paralelo em Mt. É José, o esposo


de María, quem recebe em sonho a noticia nao do nascimento de
Jesús, mas de que Jesús havia de ser o Salvador do povo (cf. Mt
1» 20s).
b) Os sabios da corte de Faraó, consultados ou nao pelo mo
narca, deram-lhe noticia do nascimento do menino, assim como
sugestdes a íim de evitar a ruina do Egito. — No Evangelho, Herodes
convoca os escribas ou sabios da Lei para que lhe digam onde o
Messias havia de nascer.
c) A-ordem de Faraó para que fóssem mortos todos os meninos
dos judeus aparece como algo de necessário ñas narrativas judaicas,
já que o monarca nao teve ulteriores noticias a respeito do Salvador
dos iudeus (apenas lhe disseram que nascera ou estava para nascer).
Ao contrario, no Evangelho Herodes só manda matar os peque-
niños de. Belém e arredores depois de ter tramado um plano de
morticinio direto; éste plano ffiíra frustrado por nao terem os magos
voltado a Jerusalém.

— 327 —
16 «PERPUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 2

Ao ponderar as semelhangas e as dissemelhangas existen


tes entre as narrativas judaicas e Mt 2, os estudiosos íormulam
a seguinte hipótese:
Antes da redacáo escrita do Evangelho de Mateus, formou-
-se na tradicáo crista urna narrativa referente a Jesús, os
magos, Herodes e os inocentes. Essa narrativa referia-se a
acontecimentos realmente ocorridos após o nascimento de
Jesús; utilizou, porém, tragos dos midrashim judaicos concer-
nentes a Moisés. Recorrendo a ésses tragos relativos a Moisés,
os antigos cristáos queriam significar que Jesús consumara
a obra do primeiro Legislador e Libertador de Israel; em Cristo
a figura de Moisés reaparecerá em toda a sua plenitude. O
Evangelista, após decenios de tradicáo crista, recebeu essa
narrativa e déla fez urna das fontes do seu Evangelho da
infancia; nao se pode determinar a maneira exata como o
Evangelista utilizou tal tradigáo crista; os estudiosos admitem
que a tenha retocado, pois 9 Evangelho de Sao Mateus apre-
senta estilo muito próprio ou muito mancado pela personali-
dode do seu autor.
Estas conjeturas explicam que o episodio dos magos em
Mt 2 tenha seu cunho de «maravilhoso» (sonhos, curso extra
ordinario da estréla...). A mensagem désse trecho é princi
palmente teológica, a saber: Jesús = novo Moisés e Consu
mador da libertagáo, reconhecido pelos gentíos pagaos e re-
jeitado pelos seus conacionais). Os pormenores do episodio
nao devem ser considerados de per si ou isoladamente, mas
háo de ser interpretados em fungáo do conjunto, pois a fun-
gáo principal désses pormenores é realgar a afirmagáo teoló
gica do Evangelista.
Nao será necessário repetir que estas consideragóes dos
estudiosos de modo nenhum significara que Mt 2 seja mito
ou ficgáo. A substancia do texto conserva seu valor histórico.
No inciso abaixo examinaremos justamente alguns tragos
da literatura e da historia antigás que concorrem para ilustrar
o fundo histórico de Mt 2.

4. O testemunho dos documentos profanos

A quem quisesse negar a autenticidade histórica de Mt


2, nao bastaría dizer que ésse episodio nos foi transmitido
com tragos aparentemente imaginarios ou lendários. Deveria
outrossim evidenciar que o episodio em sua substancia nao
pode ter ocorrido na historia real do Oriente antigo.

— 328 —
OS MAGOS E JESÚS 17

Ora o estudo da historia fomece indicios de verossimi-


lhanga da narrativa dos magos, de sorte que quem conhece
o ambiente do Oriente de outrora nao julga impossível o acon-
tecimento referido por Mt 2. Notem-se os seguintes dados:

a) Herodes e a Judéia. Herodes era um tirano sangui


nario.

Beduino de sangue misto (semi-judeu apenas), parecía compra-


zer-se na crueldade. Por suas próprias mSos, afogara o cunhado, o
formoso Aristóbulo, Sumo Sacerdote, aos 17 anos de idade, o qual
se tornara multo popular. Sucesivamente mandou matar seu outro
cunhado, José: Hircano II, rei octogenario da dinastía dos hasmoneus;
Mariamna I, sua esposa, neta de Hircano II; Aristóbulo e Alexandre,
seus próprios íilhos... Ainda cinco dias antes de morrer, maaidou
decapitar seu tercelro íilho Antipáter... Todo o seu reinado (de 40
a 4) foi assinalado por ondas de sangue. Nao recuou nem diante das
execucóes em massa: par terem ddrrubado a Aguia de Ouro, ídolo
desanroso que o tirano quisera colocar na fachada do Templo, qua-
renta homens foram queimados vivos. Já em sua frenética agonía,
ordenou fóssem assassinados todos os principáis personagens da
comunidade judaica, a fim de que houvesse lágrimas por ocasiáo dos
íunerais do rei.
O Imperador César Augusto, a propósito de Herodes, usava de
trocadilho multo significativo: «Miáis vale ser o porco (em grego,
hys) de Herodes do que ser o seu filho (hyiós)»!

Estes dados históricos insinuam que o morticinio dos


santos inocentes nao deve ser -tido como algo de exótico dentro
do quadro do reinado de Herodes.
Além disto, observe-se que a aldeia de Belém (situada
a 8 km de Jerusalém) e suas vizinhancas nao deviam contar
mais do que doie mil habitantes. Em conseqüéncia, julga-se
que o número de vítimas causadas por Herodes, segundo Mt
2, 16, pode ser estimado em vinte e cinco criangas aproxima
damente (sómente os meninos, e nao as meninas, foram con
denados) .

b) Os magos e o Messi&s. Varios testemunhos de auto


res pagaos atestam que a expectativa de um Messias, própria
do povo de Israel, encontrava eco profundo em regióes afas-
tadas da Judéia; foi, sem dúyida, levada para o Oriento pelos
judeus por ocasiáo do exilio (séc. VI a.C.) e após éste
(tenha-se em vista que as historias bíblicas de Tobías e Ester
se áeram na Pérsia). Em Alexandria (cidade fundada no
séc. IV a.C.) estabeleceu-se próspera colonia judaica que,
por meio de escritos diversos, difundía a sua espiritualidade
e as suas crengas religiosas.

— 329 —
18 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 2

É o que explica os seguintes textos e fatos antigos:


a') A quarta écloga de Virgilio (t 19 á. C.) assim rezaj
«Eis que vém os últimos tempos marcados pelo oráculo de Cumes:
A longa serie dos séculos recomerá,
Els que volta a virgem, volta o reino de Saturno,
Eis que desee do céu urna raga nova.
Ao menino recém-nascido, que eliminará a geragao de ierro
E suscitará por todo o mundo urna geraejio de ouro,
Dai acolhida...»

b') Tááto (fl20), por muito ufano que fósse de sua


linhagem romana, escreveu:

«Os homens estavam geralmente persuadidos, á luz da íé de


antigás profecías, de que o Oriente ia tomar a vanguarda e, dentro
em breve, se veriam sair da Judéia aqueles que governariam o uni
verso» (Hist. V 23).

c') Zarathustra (séc. VI/VII a. C.) na Pérsia professava


urna tradigáo, provávelmente de origem judaica, segundo a,
qual o principio do Bem triunfaría do Mal gragas a um Aliado,
«verdade encamada», que devia nascer de uma «virgem que
nenhum homem tivesse tocado».

d1) Nao se pode esquecer que Balaao, o adivinho pagáo


impelido pelo Senhor, havia profetizado:

«Sai uma estréla de Jaco; de Israel ergue-se um cetro» (Núm


24,17).

Estes testemunhos da historia dáo a ver que no Oriente


antigo havia sabios ou pensadores preparados para receber e
compreender o aviso que, conforme Mt 2, o Senhor lhes quis
dirigir por ocasiio do nascimento de Jesús. — De resto, para
um historiador cristáo nao é absurdo admitir que a Provi
dencia tenha, por um sitial celeste congruente, comunicado
aos pagaos que se cumprira a expectativa de um Salvador
acalentada pelos judeus.

c) O uso dos textos do Antigo Testamento em Mt %


Sabe-se que Mt 2 cita algumas passagens do Antigo Testa
mento para ilustrar os episodios narrados. Assim
em Mt 2,6 o Evangelista se refere a Miq 5,1, em combinacüo
com 2 Sam 5^el Cróti 11,2;
em Mt 2J.5, é citado o texto de Os 11,1;
em Mt 2,18 ocorre Jer 31,15;
em Mt 2,23 a citacáo é vaga, envolvendo Is 11,1 e 53,2.

— 330 —
OS MAGOS E JESÚS 19

Ora os textos mencionados, por si mesmos, nao se rela-


cionam com os episodios descritos pelo Evangelista, mas, sim,
com fatos diversos. Assim as criangas que Raquel pranteia,
em Jer 31,15, sao os seus descendentes (os israelistas) depor
tados para a Assíria no séc. VIII. O filho que Deus faz vol-
tar do Egito, em Os 11,1, é o povo de Israel. O texto de
Miq 5,1 combinado com o de 2 Sam é citado por Mateus sob
forma que difere tanto do original hebraico como da famosa
tradugáo grega dos LXX...
Destas observagóes se depreende que Mateus (de acordó,
alias, com os usos rabínicos da época), adaptou os textos da
Biblia aos acontecimentos descritos; nao forjou nem inventou
acontecimentos para ilustrar a veracidade dos textos do An-
tigo Testamento; ao contrario, viu-se diante de fatos, e pro-
curou colocar ésses fatos dentro da perspectiva da historia
da salvacáo descrita nos livros sagrados de Israel.
Por conseguinte, as citacóes do Antigo Testamento em
Mt 2 sao mais um indicio de que esta seccáo do Evangelho
nao é lenda imaginaria, mas historia real, apresentada, porém,
em perspectiva teológica, ou seja, em vista de um ensina-
mento religioso.
Feitas estas ponderagóes, podemos passar a urna

5. ConclusSo

O assunto abordado nestas páginas, quando proposto fora


dos circuios de especialistas, arrisca-se a provocar perplexi-
dade. Esta se; origina geralmente do fato de se ampliar o
alcance de certas afírmagóes ou de se dar a hipóteses o valor
de sentencas definitivas. Por conseguinte, a fim de que o
leitor possa avaliar serenamente a questáo, seja aqui resu
mido o ponto de vista da sadia exegese católica contempo
ránea.
1) Os estudos modernos evidenciaran! a existencia de
tragos semelhantes em Mt e ñas narrativas judaicas (bíblicas
e extra-bíblicas) referentes a Moisés.
2) Diante desta evidencia, é preciso evitar dois ex-
cessos:

a) de um lado, deduzir de tais semelhangas que a


narrativa evangélica é mera adaptagáo de textos judaicos pouco
fidedignos... ou concluir que a secgáo evangélica nao passa
de mera fábula dependente da fantasía dos antigos;

— 331 —
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 2

b) de outro lado, outro excesso seria o de nao querer


reconhecer a existencia em Mt 2 de um género literario pró-
prio, um tanto livre, dito midiash, género que os judeus
usavam em suas escolas de maneira honesta e com finalidade
didática.

3) Distandando-se déstes dois extremos, o fiel católico


pode dizer o seguinte:
Em Mt 2 há um núcleo histórico, a saber: os magos do
Oriente, admoestados por Deus, foram adorar Jesús recém-
-nascido em Belém, o que deu origem a cruel morticinio da
parte de Herodes irado por saber que nascera o novo «Rei
dos judeus»; Jesús escapou incólume, fugindo para o exilio.
Éste núcleo histórico, porém, é ornamentado com artificios
ou tragos maravilhosos familiares aos israelitas, a fim de se
por em realce o sentido teológico do fato histórico.
4) Torna-se muito difícil estabelecer os limites precisos
entre o fato real e os pormenores que lhe foram acrescen-
tados na tradigáo catequética dos cristáos¿ Pergunta-se, por
exemplo: o espanto de tóda a cidade de Jerusalém ao saber
que o Messias havia de nascer (ou nascera) em Belém terá
sido fato real ou, antes, a copia do espanto que acometeu os
egipcios ao saberem que um Libertador dos judeus estava para
nascer (ou nascera)?

5) Além de narrar fatos históricos, Mt encerra profun


da mensagem teológica, justamente realgada pelo estilo da
seccáo:
a) Jesús é o novo Moisés por excelencia;
b) O Messias foi reconhecido pelos gentíos (repre
sentados pelos magos), mas rejeitado pelo seu próprio povo
(representado por Herodes).
Estas duas teses, alias, dominam todo o Evangelho de
Sao Mateus. •

6) De resto, para ilustrar os artificios de Mt 2, pode-se


citar o episodio das tentagóes de Jesús, em Mt 4, 1-11. Nesta
passagem, o Evangelista coloca Jesús no quadro do Deutero-
nómio, apresentando-O a reviver o que Israel vivera no de
serto. Além disto, usa de traeos «midrashicos», como seria a
apresentagáo de todos os reinos do mundo a Jesús colocado
sobre urna alta montanha... Cf. «P.R.» 89/967, qu. 2.
A fé nao se opóe a que se aceitem tais proposigóes da
moderna exegese de Mt 2. Compete ao leitor julgá-las.

— 332 —
OS SINAIS DOS TEMPOS 21

III. DOGMÁTICA

3) «Que sao os sinais dos tempos, tao mencionados hoje


em día?»

Resumo da resposta: «Sinais dos tempos» sao acontecimentos me


diante os quais se pode dizer que se manifiesta a vontade de Deus na
historia dos homens. Merecem atencao, como Insinúa Jesús no S. Evan-
gelho (cí. Mt 16,1-4): Deus quer que os homens realizem a obra de
Cristo ou o reino de Deus lidando com as realidades déste mundo,
colocando nestas «o fermento da massa». O Concilio do Vaticano II
aludiu multas vézes aos sinais dos tempos, manifestando o desejo de
que os filhos da Igreja déem a ésses sinais (sao geralmente problemas
e interrogacdes) as respostas que o S. Evangelho sugere.
Os sinais dos tempos nao ccnstituem nova revelagáo de fé; nao
podem ser equiparados á mensagem da Tradi?áo oral e da Tradigáo
escrita (Biblia Sagrada). Nao obstante, há quem os queira tomar como
um dos criterios principáis da renovado da Igreja; os acontecimentos
de nossos días seriam os únicos reguladores das atitudes da Igreja,
exigindo «secularizacao» ou «dessacralizacjio». Esquece-se entao a Tra-
dicáo sagrada; a Igreja nao se pode desligar do seu passado pana
atender únicamente ao presente. Nem é isto que o mundo déla espera;
os homens de hoje aspiram a valores eternos, que Cristo realmente
coníiou á sua S. Igreja.

Resposta: Na atualizagáo e renovagáo pós-conciliares fre-


qüentemente os «sinais dos tempos» sao apresenfados como
criterio para dirigir as atitudes da S. Igreja.
Veremos abaixo o que sao os «sinais dos tempos» na
S. Escritura e na documentagáo conciliar; désse exame se
depreenderá a genuina atitude do cristáo diante dos «sinais».

1. Sinais «tos tempos na Escritura

Em Mt 16, 1-4, lé-se o seguinte:

«Acercaram-se de Jesús os fariseus e os saduceus com a intencáo


de O submeter a urna prova, e pediram-Lhe que lhes mostrasse um
slnal vindo do céu.
Disse-lhes em resposta: 'Quando chega a tarde, vos dizeis: Haverá
bom tempo, porque o céu está avermelhado. E pela manhá: Hoje
haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombría. Sa
béis, portanto discernir o aspecto do céu, mas nao sois capazes de
conhecer os sinais dos tempos! Esta geragao má e adúltera pede um
sinal, mas outro sinal nao lhe será dado senáo o sinal de Joñas'».

Os fariseus e saduceus pediram a Jesús um sinal de sua


autoridade de Messias,, ... um sinal, porém vindo do céu. Na

— 333 —
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 3

verdade, Jesús fizera em presenca de seus interlocutores


muitos sinais ou milagres, curando leprosos, restituuido a vista
aos cegos, até ressuscitando mortos, enfim, cumprindo profe
cías é correspondendo as expectativas messiánicas das Escri
turas do Antigo Testamento. Nao contentes, porém, os adver
sarios de Jesús pediam um sinal do céu, isto é, algo de mais
retumbante ainda.
Em sua resposta, o Senhor aludiu a sinais do céu que
os judeus costurñavam reconhecer — céu avermelhado, céu
carregado — como prognósticos de bom ou mau tempo. E
replicou: «Se sabéis ler os sinais do céu a respeito de bom
tempo ou tempestade (o que, de resto, nao passa de conje
turas) , como nao sabéis compreender os sinais milagrosos que
já vos apresentei, sinais que, conforme os Profetas, caracte-
rizam os tempos do Messias!»
Dito isto, Jesús apenas prometeu o sinal de Joñas: o smal
de sua próxima ressurreicáo.
Esta passagem nos sugere que Deus fala aos homens nao
sómehte pelos elementos e fenómenos da natureza (que refle-
tem a sabedoria do Criador), mas também pelos aconteci-
mentos da historia. É por estes que se váo realizando os
designios do Criador a respeito da salvacáo do homem e do
mundo. É, portanto, muito oportuno que os homens conside-
rem o desenrolar dos fatos históricos e o confrontem com os
dizeres das Escrituras Sagradas; projetem sobre essas reali
dades a luz da Palavra de Deus; assim compreenderáo melhor
o que Deus pede dos seus fiéis através dos tempos. Fariseus
e Saduceus poderiam ter reconhecido a presenga do Messias
se houvessem procedido désse modo.

2. ... No Vaticano II

1. O Concilio do Vaticano n, cioso de usar linguagem


bíblica,, recorreu, com certa freqüéncia, á expressio «sinais
dos tempos», como se pode depreendér das citacóes seguintes:
«Para desempenhar tal missáo, a Igreja, a todo momento, tem o
dever de pexscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los á luz do
Evangelho, de tal modo que possa responder, de maneira adaptada a
cada geragáo, as constantes interrogacOes dos homens...» (Const.
<Gaudium etSpes» n" 4).
«Movido pela fé, ... o Povo de Deus esforca-se por discernir
nos acontecimentos, ñas exigencias e ñas aspiracóes de nossos tempos,

— 334 —
OS SINAIS DOS TEMPOS 23

em que participa com os outros horneáis, quais sejam os sinais verda


deros da presenca ou dos designios de Deus» (ib. n* 11).

No decreto sobre os presbíteros, diz o Concilio que estes, junta


mente com os leigos, devem procurar reconhecer os sinais dos tempos
(cf. «Presbyterorum Ordinis» n* 9).

«Entre os sinais de nosso tempo, é digno de nota o senso sempre


mais ampio e inelutável de solidariedade entre os povos todos» (De
creto sobre o apostolado dos leigos, n« 14).

«Saudando com alegría os promissores sinais de nosso tempo,...


o Sacro Sínodo exorta os católicos...» (Declaragáo sobre a Liberdade
Religiosa, n* 15).

2. Como se vé, por «sinais dos tempos (modernos)», o


Concilio entende a situacáo concreta em que se acha o género
humano de nossos días. É aos homens, portadores de tais e
tais problemas e aspiragóes, que a S. Igreja tem de anunciar
o Evangelho. É ñas circunstancias do mundo atual que Ela
deve.desempeñhara sua missáó. Verifica-se, hoje tan dia mais
do que nunca, a importancia que tém as circunstancias histó
ricas. Quem n¿áo abre o ólho para o curso dos acontecimentos
do momento, levando-o devidamente em conta, arrisca-se a
perder toda.audiencia juntó aos homens.

Por isto quis o Concilio redigir urna Constituigáo sobre


a Igreja no mundo de hoje, documento que se abre por um
catálogo dos siriais de nossos tempos: a ciencia e a técnica
tém mudado progressivamente as condicóes de vida do homem
moderno, e influem profundamente também sobre o seu modo
de pensar; explosáo demográfica^ fome, processo de urbani-
zacáo, rápidas comunicagóes, socializacáo, aspiracáo la liber
dade, espirito de critica, promocáo da mulher (feminismo)...
criam urna situagáo geral de agitacáo e apreensóes. Fermi-
tindo tais fenómenos, Deus interpela a sua Igreja e a fé dos
cristáos, pedindo-lhes que sejam realmente o sal da térra e o
fermento da massa no mundo de hoje.

Sendo a Igreja urna instituigáo divina e, ao mesmo tempo,


humana, Ela nao pode deixar de estar envolvida no curso da
historia; deve estar próxima de todos os homens, de todas as
épocas e civilizacóesi, para anunciar o Cristo a todos, tais
como sao, e salvá-los a partir do que sao.

A consciéncia cada vez mais profunda déste dever, susci


tada pelo Vaticano n, representa realmente um enriquecimento
para os fiéis católicos.

" _ 335 —
24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 3

3. Verdadeira e falsa compreensao

A lealdade leva-nos a reconhecer que se registram des


víos na valorizacáo da historia e dos sinais dos tempos nesta
época pós-conciliar.

Há, sim, quem queira fazer dos sinais dos tempos, ou


seja, da época moderna com suas exigencias, o criterio prin
cipal, se nao exclusivo, da atualizacáo da Igreja. Os fenómenos
humanos e sociais de nossos dias seriam os elementos regula-,
dores da vida católica. Compreende-se entáo a onda dita «de
secularizagáo» e «dessacralizagáo» que hoje pretende tomar
vulto nao sómente dentro do Cristianismo em geral, mas tam-
bém, e de modo especial, dentro do Catolicismo: dizem seus
fautores que o mundo moderno já nao suporta que se lhe fale
de Deus ou que se lhe apresentem insignias sagradas; por
conseguinte, seria necessário ao Cristianismo «dessacralizar-
-se» ou «secularizar-se», tomando face puramente humana e
ocupando-se principalmente dos interésses temporais dos ho-
mens (desenvolvimento, instrucáo, saúde, etc.); Deus e atos
religiosos seriam relegados para o foro interno dos cristáos;
constituirían! o complemento, mais ou menos arbitrario, das
atividades dos «discípulos de Cristo».

Nao será necessário insistir no caráter desarrazoado dessa


tese, táo evidente é ele para quem tem urna auténtica nogáo
de Cristianismo. Veja-se a respeito «P.R.» 103/1968, qu. 2.

Na sua atividade em pleno sáculo XX, a Igreja deve ori-


entar-se, antes do mais, pelos seus principios próprios, incuti-
dos pelo Senhor Jesús e transmitidos fielmente através dos
seus vinte séculos de Tradicáo; é no seu passado, na sua
Tradicáo, que a Igreja vé o que Ela deve ser em nossos dias
para preencher devidamente a sua missáo. As normas que
norteiam a agáo da Igreja neste mundo, sao de índole reli
giosa, sobrenatural; procedem de Cristo, que trouxe aos ho-
jnens um germen de vida eterna, de tal sorte que será sempre
segundo as leis da vida eterna que os cristáos deveráo orientar
a sua atividade em meio as coisas transitorias.

Pode-se afirmar sem receio que é justamente dos valores


eternos que o mundo de hoje tem necessidade (as vézes, sem
os saber identificar). Os valores eternos sao incomparável-
mente mais ricos do que os temporais. Por que entáo os cris
táos silenciariam sobre o tesouro de que o mundo mais pre
cisa, para saciar sua sede e acalmar sua inquietude ? — Tal

— 336 —
OS SINAIS DOS TEMPOS 25

silencio equivaleria a verdadeira traigáo infligida nao sómente


a Deus, mas também aos homens.

Observa muito a propósito o famoso teólogo Pe. Yves


Congar :

«Na vida trepidante que levamos, entregue aos excessos do jor-


nalismo, da publicidade, das imagens que passam (cinema, TV) e a
propagandas insidiosas, é indispensável guardarmos em nosso espirito
urna ponta de resistencia resoluta a ésse tremendo condicionamento
do ambiente Resistencia aos 'slogans', tanto aqueles que se revestem
de aparénciás de teología Ca morte de Deus1, 'Cristianismo sem reli-
giáo') quanto aqueles que parecem querer assegurar-nos que há van-
tagens apostólicas em estarmos plenamente sintonizados com -a nossa
época.

Nao é isso que as almas pedem. É claro que «íáo apregoamos


repulsa áquilo de que se flimentam os homens de hoje, mas preco
nizamos plena liberdade frente a essas coisas, a fim de que nos
alimentemos de íontes mais elevadas.
Fala-se muito de profetismo. Nos mesmos expusemos íreqüente-
mente o conceito de um sacerdocio profético. Os profetas sao homens
do seu tempo, cujo sentido éles desvendam á luz do plano de Deus,
mas éles quase sempre remaram contra a corrente, contra os Impetos
da atualidade e dos 'slogans'. A Igreja existe no tempo, mas nao é
arrastada nem ílutuante segundo as correntes da atualidade, pois p
que Ela realiza na atualidade é a sua Tradicáo» («Notre Foi». París
1967, pág. 65s).

As palavras do famoso teólogo Pe. Congar exprimem


muito bem qual deva ser o papel do cristáo diante dos sinais dos
tempos (socializagáo, ateísmo, existencialismo...); o homem
de fé deverá dar-lhes atengáo, nao, porém, para lhes dizer
um Sim incondicional. Procurará, ao contrario, discernir o
que nessas manifestagóes de nossos tempos haja de sadio; dirá
Sim a tudo aquilo que possa ser conciliado com a genuína fé
católica, e decididamente dirá Nao (como os profetas bíblicos)
a todos os desvirtuamentos doutrinários e moráis. As vézes,
poderá e deverá haver contraste entre certas características
de nossos tempos e o pensamento católico; dado que haja tal
contraste, compete aos- teólogos responder ás aspiracóes dos
homens que erram, apresentando-lhes a auténtica verdade de
Cristo (colhida ñas fontes mais límpidas da Escritura,, da
Tradigáo e do magisterio da Igreja) com renovado esfórgo
de clareza. Assim a leitura dos sinais dos tempos será benéfica
para os católicos, pois os levará a tirar do tesouro da Revé-
lacáo divina «nova et vetera» (formulagóes an-tígas e formu-
lagóes novas), guardando, porém, intato o sagrado depósito,
da Palavra de Deus (Tradigáo oral e Biblia Sagrada).

— 337 —
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 4

IV. ESPIRITUALIDADE

4) «Revisao de vida! Hoje em día fala-se muito disto.


Que é? Vale a pena?»

Resumo da resposta: Revisáo de vida é urna reflexáo instituida


em equipe, á luz do Evangelho, sobre algum acontecimento tnteres-
sante, vivido por um ou mais membros da equipe. Seu objetivo é
íazer que os participantes da revisáo perceham os ensinamentos reli
giosos que decorrem do acontecimento analisado.

A revisáo de vida se distingue do exame de consciéncia pelo fato


de que éste tem em vista íaltas moráis e visa suscitar arrependi-
mentó e conversáo.

Revisáo de vida também nao é o balanco de atividades que se


costuma íazer após um curso ou congresso, a fim de apurar os pontos
positivos e negativos dos trahalhos eíetuados.

A revisáo de vida parte de um acontecimento real, que seja bem


representativo das mentalidades, das motivacoes e das reacoes das
pessoas que déle particlpam. Os equipistas procuram considerar ésses
elementos com o olhar de urna fé bem nutrida pela leitura do S. Evan
gelho, a fim de agucar essa sua fé e íazé-la penetrar cada vez mais
na vida de cada dia. — É claro que tal reflexao, embora nao tenha
em mira purificar a consciéncia dos participantes, é apta a provocar
mudanca de mentalidade e, conseqüentemente, mudanza de vida ou
conversáo.

A revisáo de vida faz-se sempre em equipe, beneficiando-se da


chamada «Dinámica de grupo» (táo usual em nossos dias), ou seja,
dos valores e da. eficiencia que costumam caracterizar a atividade de
todo grupo definido e disciplinado. O vinculo,que une o grupo de
revisáo de vida é o trabalho, ou melhor, urna atividade apostólica o
que, alias, lemnra a antiga «Acao Católica> com seu programa «Ver,
julgar, agir».
As sessoes de revisáo de vida sao marcadas também pelo espirito
de oracáb. Tém produzido resultados valiosos, como se pode depre-
endef de um exemplo apresentado no corpo deste .artigo.

Resposta: «Revisáo de vida» é urna praxe moderna que


há cérea de trinta anos comecou a ser esbocada e nos últimos
tempos vem tomando vulto. Visa despertar a consciéncia dos
cristáos que trabalham em comunidade, para certos valores
da vida cotidiana. Tem dado resultados muito positivos. Abaixo
seráo explanados os seguintes pontos: 1) o que nao é revisáo
de vida; 2) o que é revisáo de vida; 3) exemplo; 4) conside-
ragdes fináis.

— 338 —
REVISAO DE VIDA 27

1. O que nao é...

Nao se deve confundir revisáo de vida com


a) exame de consciencia. Neste exercício o homem se
interroga, procurando distinguir em sua própria vida os atos
pecaminosos e as más inclinagóes; feito isto, o cristáo se reco-
nhece culpado, e procura excitar-se ao arrependimento e á
correcáo de suas fainas. O exame de consciencia é feito explí
citamente sob o olhar de Deus e em atitude de oragáo.

Via de regra.i o exame de consciencia é praticado individual e


secretamente. Nos últimos tempos, porém, tém-se realizado exames de
consciencia coletivos: cristáos reunidos em grupo sondam a sua cons
ciencia a xespeito de pecados que tenham cometido ou individualmente
ou em grupo e como coletividade. Neste último caso sup5e-se que
haja «pecados coletivos» ou pecados cuja responsabilidade recaía
sabré a coletividade como tal.

Em resumo, o exame de consciencia consiste em um in


ventario de faltas efetuado na presenga de Deus, em Vista de
arrependimento e conversad.
b) Balanso de atividades. É muito freqüente e recomen-
dável que, após o encerramento de determinado trabalho,
curso, congresso..., se pega aos participantes déem a sua
opiniáo sobre a obra realizada, indicando os pontos positivos
e negativos da mesma. Faz-se assim urna «tomada de pulso»
ou urna auto-crítica realista e sincera, a fim de que, ao se
repetir urna tal atividade, se evitem as falhas anteriores e
aperfeicoem os resultados valiosos.
Ora revisáo de vida nao é alguma dessas duas táticas.

2. Que é revisáo de vida ?

A revisáo de vida nao tem por objeto atos bons ou maus


como tais, mas fatos^... os fatos da vida cotidiana. Consiste
numa reflexáo instituida em equipe sobre algum aconteci-
mento interessante, vivido por um ou mais membros da equipe.
Seu objetivo é fazer que os participantes da revisáo apurem
seu espirito de fé, compreenldam o Evangelho, e; procurem
deduzir os ensinamentos de índole religiosa que decorrem do
acontecimento analisado.

— 339 —
28 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 4

Examinemos de per si cada qual das quatro características


de toda revisáo de vida: 1) fatos da vida; 2) ... em equipe;
3) ... á luz do Evangelho; 4) ... em espirito de oragáo.

1) Fatos de vida

O objetivo da revisáo de vida é «unir a vida á fé e fazer


da vida cotidiana materia de eternidade» («Témoignage», no-
vembro 1960, pág. 8).
A revisáo de vida parte de acontecimentos ou experien
cias, nao de raciocinios, principios teológicos ou moráis, lei-
turas... Estes outros pontos de partida sao inegávelmente
fecundos para a meditagáo e a oragáo, mas a revisáo de vida
pretende nao se basear inicialmente sobre outro livro que nao
o da própria vida; interessa-lhe o acontecimento aparentemente
insignificante, ao qual geralmente pouca atencáo se presta.
Tal acontecimento deve ser escolhido por urna testemunha
direta; essa testemunha, ao presenciar o fato, deve té-lo jul-
gado bem representativo de um ambiente e de sua mentali-
dade. Por isto ésse acontecimento é chamado «fato de vida».
E que interésse apresenta o «fato de vida»?
— O fato de vida exprime as atitudes das pessoas que
néle estáo envolvidas: as motívagóes do seu agir, as suas
mentalidades, as suas reagóes... Os que praticam a revisáo,
procuran^ pois, perscrutar o que possa haver de positivo e
negativo nessas atitudes (nao julgam, porém, as consciéncias
individuáis, pois isto é estritamente proibido no caso). A re
visáo de vida tenta assim apreender as relagóes que existem
entre os acontecimentos, as pessoas, as mentalidades e as
instituigóes da sociedade. Isto tudo é feito a fim de educar a
fé dos membros da equipe, ou seja, a fim de fazer que consi-
derem os acontecimentos da vida com um olhar sobrenatural,
ou fagam penetrar a sua fé na vida concreta de cada dia.

2) Em equipe

Nao há revisáo de vida praticada individualmente. A re


visáo de vida deve ser preparada por um individuo (que vem
a ser o respectivo responsável), mas só se realiza em comu-
nidade. Nisto ela se distingue radicalmente do que se chama
«métodos de oragáo» e «exercícios espirituais». O clima da
revisáo de vida é, pois, um clima de fraternidade ou de amor
fraterno., correspondente as exortagóes de Sao Paulo:

— 340 —
REVISAO DE VIDA 29

«Pela caridade, colocai-vos ao servico uns dos outros» (Gal 5,13).


«Pela caridade fraterna, uni-vos em mutua aíeigao, considerando-
-se cada qual inferior aos outros em merecimentos» (Rom 12,10).
«Nao mintáis uns aos outros» (Col 4,9).
«Sede submissos uns aos outros» (Eí 5,21).

O grupo apropriado para a revisáo de vida deve ter suas


notas características:
a) seja pequeño, de modo a poder sentar-se em torno
de urna mesa (se fór oportuno);
b) saiba dialogar. Os respectivos membros devem sub-
meter-se ao estilo disciplinado dos intercambios e comunicar
uns aos outros as riquezas de seu modo de pensar e agir. O
ambiente de revisáo de vida está longe de se assemelhar ao
de certas assembléias, cujos adeptos repentinamente se julgam
carismátícos, pondo-se a bater no peito e proferir seus senti-
mentos. A revisáo de vida é discreta; nao basta fervor reli
gioso para que alguém déla participe com proveito. — Para
que se mantenha a devida disciplina ñas sessóes e se alcancem
os frutos desejados, requer-se que o responsável por cada re
visáo tenha experiénccia das táticas da «Dinámica de Grupo»
e saiba orientar o diálogo.
c) O vínculo que une o grupo de revisáo de vida, é o
trabalho, ou melhor, urna atividade apostólica. O grupo assim
vinculado é chamado «equipe».

A palavra «equipe» vem do fraincés «esquif» =■ séquito de naves


amarradas urnas as outras e impelidas pelo vento ou, em determi
nadas circunstancias, arrastadas pelos homens. «Equipe» passou a
designar, em francés, os canoeiros do rio Sena; a seguir, os homens
que se aplicam conjuntamente a determinada tarefa. Por último, o
termo se estendeu também aos desportistas que, comunitariamente,
disputam determinado torneio atlético. Em t&das as aeeepc5es da pa
lavra «equipe» há um signlfiaado comum: grupo de trabalho. & o
trabalho que dá razáo de ser á equipe.
' Esquif, por sua vez, pode ser derivado ou do grego skaphé,
barco canoa, ou da raiz germánica skef, nave, raíz donde se ori-
ginaram Schiff em alemáo moderno, shlp em inglés, skib em dina
marqués.. .

d) A equipe que faz revisáo de vida, é urna equipe


«situada»:
situada sociológicamente em determinado ambiente de tra
balho (equipe de operarios, equipe de enfermeiras, equipe de
catequistas, equipe de assistentes sociais...);
situada também dentro da Igreja: é um grupo que tem
seus estatutos e obedece aos legítimos pastores. Ésta nota é

— 341 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 4

muito importante para que o grupo nao ceda aos devaneios


da imaginagáo ou a qualquer influencia de falso fervor.
Toda revisáo de vida requer naturalmente certa prepara-
gáo: é preciso que um dos equipistas escolha o fato a ser
analisado,, introduza e dirija o diálogo enitre os irmáos. Será,
em grande parte, o responsável pelo bom éxito da sessáo.

3) A luz do Evangelho

A revisáo de vida parte dos fatos da realidade cotidiana.


Procura, porém, analisá-los e interpretá-los á luz do Evange-
lh!o. E, já que no Evangelho é Cristo quem fala, pode-se dizer
que a revisáo de vida atribuí a Cristo um lugar primordial.
A espiritualidade da revisáo é profundamente inspirada nao
sómente pelos textos de Sao Paulo que incutem fraternidade,
mas também pelas palavras do Senhor Jesús: «Onde dois ou
tres estiverem reunidos em meu nome, ai estarei no meio
déles» (Mt 18,20). É em nome do Senhor que os equipistas se
reunem para fazer revisáo; sabem que é o Cristo Jesús quem
lhes pode abrir os olhos para associarem vida e fé.

Existem diversos modos de colocar a revisáo de vida em


contato com o Evangelho: há equipistas que o estudam' siste
máticamente antes e depois de cada sessáo; outros léem textos
previamente escolhidos para um ou dois trimestres; outros
aínda se deixam guiar diretamente pela inspiracáo do Espirito
Santo. Como quer que seja, o Evangelho é sempre o ponto
de referencia para se julgar o acontecimento analisado. — O
texto sagrado é geralmente citado em cada sessáo; náb se
requer, porém, seja sistemáticamente lido em cada reüniáo.

No decorrer de urna sessáo, pode um equipista perguntar: «Atra-


vés de tal íato de vida, que quer dizer o Senhor?» Acontece entao
muitas vézes que, sem esperar resposta, o mesmo cite, como para
lelo do acontecimento apreciado, ou o episodio da mulher adúltera
(Jo 8,1-11) ou a parábola de Lázaro e do rlcaco (Le 16, 19-31) ou um
versículo do sermao sobre a montanha (Mt 5-7) ou alguma outra
passagem. Freqüentemente tais confrontes sao feitos muito a propó
sito, estabelecendo um verdadeiro liame entre a vida e a fé.

Como se compreende, ao utilizar o Evangelho, o equipista


deve-se precaver contra interpretagóes arbitrarias ou artifi
ciáis: o texto sagrado tem seu sentido literal, única yia para
se depreender o significado profundo (místico ou típico) dos
ditos e feitos do Senhor.

— 342 —
REVISAO DE VIDA 31

4) Em espirito de oragáo

Nao há auténtica revisáo de vida sem recurso á oracáo.


Os equipistas poderáo rezar no inicio, no decurso ou no fim
da reuniáo; como quer que seja, realizaráo a sessáo em espi
rito de oracáo. Principalmente o participante encarregado de
preparar o encontró deverá recorrer férvidamente a prece. A
obra é sobrenatural; seus frutos sao de fé e caridade; por isto
seu sucesso depende muito especialmente das disposicóes sobre-
naturais dos equipistas.
As consideracóes e normas gerais até aqui propostas seráo
elucidadas por

3. Um exemplo 1

Um grupo de Religiosas empreende obra de assisténcia


social em determinada paróquia. Urna das Irmas, logo de ini
cio, faz um giro pelo territorio de trabalho, a fim de tomar
conhecimento exato da tarefa. Verifica, porém, que as pessoas
da regiáo nao a saúdam. Voltando á comunidade, diz as outras
Irmas: «Curioso! Aqui ninguém diz 'Bom dia'!» As Religiosas
. admiram-se, pois isso nao lhes parece explicável.
A Irma Responsável pelo grupo nao se dá por satisfeita
com o estranho fato. E póe-se a indagar a causa. Certa vez,
tendo de sair pela regiáo, passa a observar as pessoas, saúda-
-as e verifica que lhe correspondem: saúdam-na. Julgou entáo
ter encontrado a chave do misterio,, e na próxima revisáo de
vida levou o ocorrido ao conhecimento das Irmas para que o
analisassem e descobrissem seus respectivos ensinamentos.
Eis as diversas etapas da revisáo de vida baseada nesse
fato:

1) Quais as causas?

A falta de «Bom dia» espontáneo da parte da populagáo,


ao ver a Irma, provém da descristianizagáo ou da mudanza
de mentalidade dos homens de hoje. Alhearam-se da Igreja
e dos seus sinais. Também perderam o senso de Deus, talvez
sem o saber.

1 O exemplo foi extraído do livro de Jourdain Bonduelle: «La


revisión de vie. Situation actuelle». París 1965. pág. 248250.

— 343 —
¿2 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 4

2) Conseqüéncias

A Irma, nao tendo saudado em primeiro lugar os habi


tantes da regiáo, nao deu o testemunho de Cristo; fé-lo de
boa fé, julgando talvez que aínda nao era a hora de entrar
em contato com tal ambiente descristianizado. As pessoas lhe
pareciam estranhas; por isto ela também se comportou como
estranha.
Saudando em primeiro lugar, a Irma teña feito ver a
face de Cristo, face aberta, sorridente e convidativa. Teria
talvez atraído e congregado as pessoas, pois o simples fato de
nos dizermos «Bom dia» uns aos outros nos reúne e vincula.
Todo Apostólo tem a missáo de reunir é congregar.
Note-se,, de resto, a bela frase da Constituieáo do Vati
cano II sobre a Igreja no mundo de hoje: «A vontade do Pai
é que em todo homem reconheeamos o Cristo nosso irmáo
(n» 93).

3) Que diz o Serihor a respeito no Evangelho?

— Os discípulos de Emaús (Le 24, 13-35): o Senhor os


vé contristados na estrada. Vai-lhes ao encontró. Fergunta-lhes
de que estáo falando. Éles, penalizados, lho explicam: espe-
ravam que o Nazareno se tornasse o Libertador de Israel;
Ele, porém, havia sido crucificado tres dias atrás. Jesús toma
a Si tal sofrimento. Explica-lhes as Escrituras referentes ao
Messias (Jesús Cristo) e abre-lhes as perspectivas do Reino.
— Zaqueu (Le 19, 1-10) : Zaqueu, de estatura pequeña,
rico publicano (cobrador de impostos), odiado pelos judeus,
sobe a urna árvore para ver Jesús, que passa pela estrada. O
Divino Mestre levanta os olhos e sé dirige a Zaqueu, dizen-
do-lhe que se hospedará em casa déle. O Senhor podia ter
passado sem olhar, sem interpelar Zaqueu. O «Bom dia» de
Jesús foi úm apelo, um convite.
A viüva de Naím (Le 7, 11-17);. desde que vé essa
mulher, o Senhor compártilha o seu sofrimento; toma a ini
ciativa de a interpelar: «Nao chores» e ressuscita-lhe o filho.
— A Samaritana (Jo 4, 1-42): o Senhor, á beira do poco,
encontra urna mulher,, füha de um povo que nao quer ter
relagóes com os judeus. — Desejoso, porém, de lhe abrir os
olhos da alma e beneficiá-la, chega a pedir-lhe um servipo.
Provoca discretamente urna conversa, com grande surprésa
para a Samaritana, que lhe pergunta: «És judeu, e pedes-me
de beber, a mim, que sou Samaritana? — A prova de con-

— 344 —
REVISAO DE VIDA 33

fianca dada por Jesús foi desconcertante: mudou por com


pleto todo o teor de vida da Samaritana e daqueles que ela
«evangelizou» ou a quem transmitiu a Boa-Nova.
— A cena do juízo final (Mt 25, 31-46): «Fui peregrino
e me recebestes... Doente, prisioneiro, e me visitastes». Isto,
em outras palavras,, também quer dizer: «Eu passava pela rúa,
e vos me saudastes».

4) O que o Senhor espera de nos através désse fato

Ninguém espere ser saudado, nern ser procurado pelo


próximo necessitado; mas tome a iniciativa de entrar em diá
logo com. os irmáos que precisam de auxilio espiritual ou
material, aínda que nao paregam Ínteressados em ser auxilia
dos; o aparente desinterésse encobre, as vézes, grande sede e
expectativa.
Por conseguinte, estaremos sempre á disposicáo, sempre
prontos a sair de nos e nos ultrapassar.
É éste o apelo que o Senhor Jesús nos dirige através ¿o
fato analisado.

5) OracSo conclusiva

A revisáo do acontecimento proposto suscita em nos urna


prece: «Senhor, que os homens se conhecam mutuamente!
Que através de mim éles Te encontfrem! Escutando a mim,
oucam a Tií»
Passamos agora a

4. Cons¡dera;oes fináis

A revisáo de vida tem suas origens na tática de Acáo


Católica. Esta, ■ em seus círculos de estudos, procedía sempre
segundo o método do «ver,, julgar e agir».
Ver — observar a situagáo concreta em que militamos;
Julgar ■= confrontá-la com as normas do Evangelho; averiguar
suas causas e conséqüéncias;
Agir = proceder de .sorte a remover os males e fomentar os
valores positivos da situacjío.

A revisáo de vida representa urna evolucüo dessa tática.


Note-se bem que ela nao é exame' de consciéncia; por isto nao
tem finalidade moral propriamente dita; nao visa, por si, cor-

— 345 —
34 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu, 4

rigir a vida dos que déla parficipam. Sua finalidade é, sim,


diretamente a de educar a fé dos equipistas ou proporcionar
urna visáo crista sobre o mundo. Ela completa assim o movi-
mento de volta as fontes, pois é urna tomada de contato com
a realidad© presente.
Embora a revisáo de vida nao vise diretamente purificar
a vida moral dos participantes, exerce influencia importante
sobre o comportamento de cada um; provocando urna mudanga
de mentalidade (ou incutindo urna visáo de fé mais concreta
e lúcida), ela deve acarretar naturalmente urna mudanza de
vida ou urna eonversao. Suscita a necessidade de exames de
consciéncia mais apurados e eficazes. Estimula também a vida
de oragáo. Urna comunidade que pratique regularmente autén
ticas revisóes de vida, há de se sentir beneficiada em sua
oracáo mental ou meditagáo, como em suas preces vocais e
em sua conduta de vida.
A revisáo de vida oferece a grande vantagem de utilizar
a Dinámica de Grupo, que é urna das descobertas de nossos
tempos. Os psicólogos chamam a atengáo para o fenómeno
do «pequeño grupo» e de suas riquezas. O «pequeño grupo»
é um dos valores positivos de nossos días,, constituindo como
que urna réplica ao fenómeno das «grandes massas», fenómeno
que também é urna das características da civilizacáo atual.
As riquezas da dinámica dos pequeños grupos pode ser
utilizada em favor da fé. É justamente1 o que a revisáo de
vida tem feito.
É por isto que até em conventos e casas de pessoas con
sagradas a Deus, como também em equipes de sacerdotes,
tem sido adotada, e com grandes vantagens, a tática da revi
sáo de vida. Naturalmente, transposta para ambientes sacerr
dotáis ou conventuais, a revisáo de vida terá suas modali
dades próprias; nesses casos, os equipistas tem preparo e
obrigacóes peculiares.
O que ácima foi dito a respeito dos pequeños grupos e
de suas vantagens nao implica em desdouro das grandes assem-
bléias e dos movimentos de multídóes, que sao perfectamente
explicáveis e necessários em muitas das situacóes da presente
ordem de coisas.

A guisa de bibliografía, muito se recomenda o liv.ro de Jourdain


Bonduelle, O.P.: «La revisión de vie. Situation actuelle». París 1965,
Editions du Cerf.
Muito aíim é também o estudo de G. Beal, J. Bohlen, J. N. Rau-
dabaugh: «Lideranga e dinámica de grupo». Rio de Janeiro 1968.
Zahar Editores.

— 346 —
ENTORPECENTES E SUAVIZANTES 35

V. MORAL MÉDICA

5) «O uso do entorpecentes e psicodélicos nao será até


corto ponto justificado?
Por que nao aproveitar os recursos que a ciencia moderna
poe á nossa disposicSo para suavizar a vida?»

Resumo da resposta: A vida moderna é inegávelmente difícil.


Por isto, niuitas pessoas, insatisfeitas, procuram esquecer a reali-
dade, recorrendo a algum ou alguns dos variados remedios ou drogas
que a industria moderna póe á. disposigáo dos pacientes: opio, mor
fina, mescalina, ácido lisérgico, entorpecentes em geral.
Tais elementos, consumidos segundo o arbitrio do individuo, po-
dem ser gravemente nocivas, 'produzindo intoxicacüo do organismo;
além do que, provocam o surto de hábitos, poil vézes obsessivos, nos
respectivos consumidores. A fuga da realidades a procura de um
mundo fantástico sao síntomas de estado psíquico cansado; quem,
por própria iniciativa, procura aliviar-se désse cansado mediante
algum esntorpecente, pode tornar-se dupla ou triplamente doente.
A Moral médica chama a atencáo também para o abuso de
remedios em geral praticado em nossos dias, qiiando a industria
farmacéutica está táo desenvolvida. Nao raro o recurso indiscrimi
nado a remedios (para dormir, para nao dormir, para emagrecer,
para engordar, para nao ter filhos...) amolece o animo do paciente,
tira-lhe a tempera forte e corajosa que deve caracterizar toda perso-
nalidade bem formada.
O álcool e o fumo também sao nocivos; as estatísticas depoem
contra o uso da nicotina.
Em suma: na medida do possivel, o hoirem deve procurar re
correr a vacinas (preventivos) mais do que a remedios. Dentre as
vacinas, urna das. mais importantes (de importancia básica* e capital)
é a educagáo da vontade, o dominio da pessoa sobre si' mesma, a
procura da paciencia e da magnanimidade.

X —

Resposta: O vocábulo «psicodélico» ocorre com insisten


cia crescente na linguagem contemporánea. Deriva-se de psyché
= alma e deloun = manifestar, em grego ; significa, pois,
«aquilo que manifesta a alma ou o íntimo da alma». O adje
tivo aplica-se a drogas que tomam a pessoa eufórica, levando-a
a viver num mundo irreal, projetado pelo seu subconsciente
e a sua imaginagáo.
O uso de tais drogas é cada vez mais vultoso, suscitando
graves problemas na vida contemporánea. Já que o assunto
nao é sómente de aleada médica, mas toca muito de perto a
consciéncia moral, será abordado abaixo consoante o seguinte
esquema: 1) o problema dos entorpecentes; 2) uso e abuso dos
remedios; 3) proposta de solugáo.

— 347 —
36 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 5

Muito nos valemos, • na elaborado • déste artigo, do livro do


Dr. Paúl Chauchard: «Une Morale des médicamente». París 1966.

1. O problema

1. A vida moderna é inegávelmente difícil, dados os seus


muitos problemas de economía, negocios, habitacáo, higiene,
etc. Numerosas pessoas dáo-se por insatisfeitas consigo mes-
mas ou com o seu ambiente doméstico ou profissional, embora
nem todas tenham igual razáo para se queixar.
A conseqüéncia déste estado de cpisas é que nao poucos
cidadáos tendem a esquecer a realidade em que vivem, pro
curando evadir-se, a finí de suavizar a luta ou nao cair em
revolta contra a sua sorte. Ora o mundo moderno coloca á
disposigáo do público uma'variedade de drogas aptas a satis-
fazer a éste intento: levam a mente da pessoa para um mundo
de sonho, de cores maravilhosas e de bem-estar. Daí a ten-
tagáo que .fácilmente acomete certos cidadáos, de recorrer a
tais remedios, também ditos «alucinógenos» (fatSres de aluci-
nagáo) ou «psicotrópicos» (influentes sobre o tropos ou o
comportamento da alma) ou «barbitúricos».
Alguns desses preparados ja sao de uso antigo na historia
da humanidade: os povos primitivos celebram festas em que
o consumo de drogas provoca euforia, embriagues e estados
de transe coletivos. Também a magia e os encantamentos
muito se servem de elementos désse género, dos quais os prin
cipáis podem ser aqui brevemente catalogados:
o opio e seus derivados,
o cánhamo da India (haschisch),
os subprodutos da erythiwíylon col», arvore da América do Sul,
cujas fl&lhas os indios mastigam para se excitar e esquecer as suas
miserias,
a morfina e a heroína,
um cactus sagrado do México, o peyott donde se extrai a mes-
calina,
cogumelos alucinógenos do México que dao a psilocibina,
a dietilamina do ácido lisérgico ou, simplesmente, o ácido lisér-
gico (LSD-25), um dos mals poderosos agentes na género.

Todos ésses produtos sao objeto de tráfico clandestino e


intenso mercado negro.
2. Os entorpécenos nao produzem apenas alivio e eu
foria para quem os consomé. Dáo origem a auténtica molestia,
que é toxicomanía. Na verdade, o organismo de quem os
consomé, concebe a necessidade do tóxico, pois os centros

— 348 —
ENTORPECENTES E SUAVIZANTES ' 37

nervosos da base do cerebro se tornam ávidos de tais drogas


jpara conservar o seu equilibrio. O paciente so se poderá li
bertar dessa manía submetendo-se a cuidados especiáis, abso
lutamente necessários'-para que nao venha & sofrer grandes
danos, de saúde.— Sabe-se também que os entorpecentes váo
suscitando o hábito respectivo no organismo, de sorte que,
para obter os mesmos efeitos, se requerem doses cada vez
mais fortes, que aumentam a intoxicagáo do paciente. Assim
a saúde física e psíquica da vitima é mais e mais abalada,
do que resultam conseqüéncias pouqo honrosas para a pessoa
humana.
3. As causas da toxicomanía sao varias:
Um fator freqüente do mal é o citado desejo de alivio
psíquico ou de euforia, desejo suscitado ou pelas circunstancias
de vida do paciente ou pelo exemplo contagiante de outras
pessoas. — Por vézes a toxicomanía se deriva também do uso
exagerado de morfina tomada para reconhecidos fins tera
péuticos. — Na maioria dos casos, porém, afirmam os médicos
que a toxicomanía supóe neurose. A fuga da realidade, a
procura de um mundo ideal ou fantástico sao síntomas de um
estado psíquico cansado, extenuado ou incapaz dé Iutar. Nao
poucas pessoas neuróticas recorrem a entorpecentes para se
curar de sua molestia psíquica, tornando-se assim duplamente
doentes; tais pacientes necessitam nao sómente de tratamento
para se desintoxicar, mas também de psicoterapia adequada
para se livrar do disturbio que os levou a usar entorpecentes.

4. Vé-se, pois, que o problema dos alucinógenos apre-


senta tres aspectos, que requerem cada qual seu tipo de solugáo
própria: —-
a) aspecto médico. Ao toxicómano deve-se aplicar o tra
tamento oportuno, ora mais, ora menos complexo;
b) aspecto social. Compete á sociedade exercer certa
profilaxia contra a toxicomaniá, amparando os individuos fra-
cos, solitarios ou mal acompanhados. Cabe-lhe também dar o
devido apoio a pessoas desintoxicadas, para que nao recaiam,
e profligar enérgicamente o comercio clandestino de entorpe
centes;
c) aspecto moral. O problema dos tóxicos tem aqui a
sua faceta mais importante.. É um problema de dominio do
homem sobre si mesmo, de formacáo e afirmagáo da perso-
nalidade. Em pessoas sadias, 6 uso de drogas para fugir da
realidade significa (fora excegóes) ánimo fraco, prestes a
abandonar a luta. Ora a personalidade üevidamente formada

— 349 —
38 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 5

é aquela que enfrenta os obstáculos. Principalmente a persona-


lidade de um cristáo deve ser dotada de tempera corajosa e
confiante, porque sabe que nao luta por si e a sos, mas atende
a um chamado ou a urna missáo que o próprio Deus lhe en-
tregou e para a qual Ele lhe assegura a sua graca.
Todavía o problema dos entorpecentes deve ser enqua-
drado dentro de urna problemática aínda mais ampia, que
é a do

2. Uso e abuso de remedios

Os médicos chamam a atengáo do público para o exage


rado uso de remedios que se: verifica na sociedade contem
poránea.
O homem moderno, constantemente atingido pela propa
ganda comercial (na imprensa escrita e falada), é propenso
a recorrer,, com ou sem propósito, aos medicamentos. Quando
lé num jornal ou numa revista o anuncio de novo remedio,
é muitas vézes tentado a tomá-lo, nao raro a revelia do mé
dico. Os pacientes tendem a entregar sua confianga ao médico,
e muitas vézes mais estimam o médico que maior número de
remedios prescreve.

Que dizer a propósito?

— É oportuno que haja remedios numerosos e eficazes


para as pessoas doentes. O homem moderno deve dar pro
fundas gragas a Deus por gozar dos recursos médicos e far
macéuticos que a civilizagáo contemporánea lhe proporciona.

Todavia é preciso lembrar que os remedios tém suas


indicagóes precisas, fora das quais sao mais nocivos do que
benéficos. Em verdade, todo medicamento, até certo grau, é
um veneno ou um tóxico; devidamente dosado, pode exercer
efeitos salutares, provocando a reagáo de um organismo com
balido pela molestia, ou freando urna excitagáo ou opondo-se
ao efeito de microbios,, ou reequilibrando urna fungáo desor
denada. É preciso, porém, nao esquecer que todo remedio,
além da sua agáo específica sobre determinado órgáo ou virus,
exerce urna agáo geral sobre a materia viva ou o organismo;
afeta o metabolismo, de sorte que na época atual, quando as
doengas váo cedendo ou recuando gragas aos medicamentos,
os médicos observam o surto Se novas doengas — paradoxal-
mente chamadas «doengas terapéuticas», porque resultam do
uso indevido ou exagerado de remedios.

_ 350 _
ENTORPECENTES E SUAVIZANTES 39

Apesar, de tais inconvenientes, nota-se hoje em dia que


muitas pessoas sás recorrem a remedios sem ter própriamente
necessidade terapéutica; procuram, sim., evitar algum incó
modo, dispensar-se de um sofrimento ou tornar a vida mais
tolerável. Nisto pode nao haver algo que mereca censura por
parte da consciéncia moral; contudo pode também haver algum
exagero, que denote ánimo «amolecido». Em certos casos
(quantos? — Seria difícil dizer), tais pessoas poderiam deixar
de recorrer a Medicina; resolveriam sua situagáo mediante
um pouco de esfórgo pessoal, dominando sua afetividade, suas
paixóes, estabelecendo método e horario em suas ocupagóes,
usando de regime alimentar adequado ou de dieta conveniente.
Todavía, já que os recursos do auto-dominio sao sempre um
tanto penosos e molestos, parece mais fácil a muitas pessoas
recusar a verdadeira medicagáo (a disciplina),, para adot'ar
urna pseudo-soluoáo: os medicamentos, que a industria mo
derna oferece com tanta profusáo. Tais pessoas se iludem ou
sao iludidas pela propaganda e pelo modo de pensar do seu
respectivo ambiente. Introduzem, sem necessidade, no seu orga
nismo «um amigo* que na verdade se lhes torna «um inimigo»,,
pois, em certo grau, as intoxica e lhes debilita a fórga de
vontade (elemento importantíssimo na vida de alguém).

Tais cidadáos julgam que destarte a ciencia e a técnica


modernas lhes prestam servigo, facilitando-lhes o trabalho e
o género de vida. Na verdade, sao vítimas da técnica, deixando-
-se em grau maior ou menor dominar por ela; os recursos
farmacéuticos e as drogas modernas podem exercer certo
imperio obsessivo sobre o consumidor. Com efeito, note-se que
há pílulas para dormir, pílulas para permanecer em vigilia,
pilulas para tranquilizar o psíquico, pilulas para excitar o ape
tite e engordar, pílulas para emagrecer ou combater a obesi-
dade, como também pílulas... para nao ter filhos!... Ve-se
assim que, ñas circunstancias mais contraditórias, o homem
moderno é seduzido pela tentagáo «medicamentosa» ou pela
tendencia a recorrer a remedios que ameagam reger ou go-
vernar a sua vida, com detrimento para a vontade e a perso-
nalidade do cidadáo.

Por que se absteria alguém de gulozeimas e pratos indigestos,


auando existe urna serie de remedios para o estómago e o figado, a
fim de atenuar os maus efeitos da intemperanca ? E, quando alguém
tem dor de cabeca. por que nao se há de contentar com um comprimido
adequado (existem tantos!), dispensándose de pesquisar as causas
dessa dor de cabeca e de corrigir as possiveis faltas de higiene ocor-
rentes em seu regime de vida? E quando alguém quer usar do sexo
sem ter íilhos, por que nao há de recorrer a remedios [congruentes» ou

— 351 —
40 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 5

dispositivos artificiáis, em vez de dominar seus instintos e sua vida


sexual (o que é muito mais duro, mas muito mais humano e digno)?

As facilidades que a ciencia e a técnica contemporáneas


assim proporcionan!, em vez de engrandecer o homem, por
vézes humilham-no, sem que ele teaiha sempre consciéncia
disto; exercem sobre o cidadáo moderno o que se poderia
chamar «urna tecnocracia». — Está claro que nao se deve
exagerar o alcance desta afirmacjio; ela é ora mais, ora menos
verídica, de acordó com cada situagáo.
O Prof. Dr. Paúl Chauchard assim comenta o quadro:

«Dir-se-á que o homem moderno é um toxicómano? — A palavra


é solene demais, talvez. Digamos que ele tem a inania dos tóxicos,
que ele é presa voluntaria dos medicamentos, aos quais ele pede
libertacáo e promocáo. Será isto o progresso? É, por certo, um pro-
gresso na medida em que nos alivia e facilita a vida. Mas nao há
progresso quando um homem se intoxica sem o saber, por falta de
cultura biológica. Nao há progresso quando um homem perde sua
lucidez, tornándose escravo dos medicamentos, esquecendo-se da ne-
cessidade de esfórgo e de dominio sobre si mesmo» («Une Morale
des médicaments», pág. 14).

Está claro que aos médicos compete alertar o público


sobre os abusos dos remedios e sobre a necessidade de se
levar vida disciplinada e,, quanto possível, higiénica. Nao seja
menos claro, porém, que os consumidores de remedios devem
estar conscientes do perigo que há em ingerir medicamentos
sem necessidade («sem necessidade»... a expressáo nao ex-
clui o uso justificado).

As consideracóes até aqui propostas devem ser ainda um


pouco ampliadas: além dos entorpecentes e dos remedios, há
outros suavizantes da vida que merecem atengáo pelas suas
conotaeóes médicas e moráis:

3. O álcool e a nicotina

O álcool e, principalmente, o fumo se tornaram elementos


quase rotineiros da vida moderna. Parecem inocuos, ao mesmo
tempo que podem concorrer notavelmente para amenizar as
agruras cotidianas.

Na verdade, sao elementos nocivos, aptos a provocar


intoxicacáo crónica, ainda que nao sejam ingeridos em doses
embriagantes ou aparentemente excessivas.

— 352 —
ENTORPECENTES E SUAVIZANTES 41

O álcool nao deve ser combatido de maneira sistemática.


É preciso, porénv evitar o seu consumo habitual, dadas as
graves conseqüéncias que acarreta para o individuo e para a
soejedade.
O alcoólatra é pessoa muitas vézes duplamente doente,
pois nao raro é um neurótico que procura a cura de suas
ansias no recurso ao álcool ou ao tóxico.
A nicotina também é um veneno, ainda que seus efeitos
sejam muito amenizados pela desnicotizagáo. Age nocivamente
sobre os vasos sanguíneos e o coragáo. Julga-se também que
contribui para aumentar os casos de cáncer nos bronquios,
embora isto nao possa ser provado de maneira peremptória;
certo é que a fumaga de cigarro contém corpos cancerígenos.
Também é certo que, associado a outros fatóres anti-higiénicos
da vida moderna, o tabaco depaupera a saúde e concorre para
a morte prematura.
Eis a propósito alguns dados estatísticos:
O Prof. Brun julga que, por cada cigarro, o fumante
absorve 0,3 mg de nicotina, ou seja, a centésima parte da dose
mortal. Compete ao figado eliminar boa parte déssé tóxico
mediante trabalho extenuante.
Nos casos em que a fumaga é conservada por dois se
gundos na boca, o fumante ingere de 66 a 77% de nicotina.
Os náo-fumantes obrigados a respirar o ar enfumagado pelo
cigarro sao também intoxicados? o Prof. Fabre provou que
um náo-fumante, tendo passado um seráo mima sala de fu
mantes, est(ava no caso de quem tivesse fumado sete ou oito
cigarros. O tabaco desnicotinizado ainda encerra 0,9% de nico
tina; é menos procurado, porque parece proporcionar menos
prazer.
Junto á nicotina, o tabaco contém tóxicos gravemente
nocivos, como o ácido cianídrico, a colidina,, o álcool metílico,
0 arsénio (cuja porcentagem aumenta segundo as doses de
inseticidas colocadas sobre as plantas de fumo), produtos
fenólicos e creosotados irritantes. O óxido de carbono constituí
1 a 4 % do volume da fumaga. Quem fuma um mago de
cigarros em sete horas, satura seu sangue de 5 a 10 % de
ácido carbónico. Por fim, diga-se que é o benzopirene que
torna o cigarro um elemento cancerógeno.
No tocante á mortalidade provocada pelo cigarro, o
Dr. Maud Cousin apresenta os seguintes dados:
As estatísticas asseguram que o tabaco aumenta a pro-
pensáo para molestias e a mortalidade. Os fumantes morrem

— 353 —
42 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968, qu. 5

em idade mais jovem; a sua mortalidade ultrapassa de 58 °/o


a dos náo-fumantes. Quem fuma um maco de cigarros por
dia, aumenta de 75 % o seu risco de morte, ao passo que os
fumantes em grande escala correm o dóbro do risco.
Entre as pessoas que fumam um mago de cigarros por
dia, o cáncer do pulmáo é dezesseis vézes mais freqüente.
Chegam os estudiosos a dizer que quem fuma meio-maco por
dia perde dois anos e meio de vida, ao passo que quem con
sume um maco diario,, abrevia de cinco ou seis anos a sua
vida. O consumo de um mago de cigarros por dia encurta a
vida de mais de quinze minutos por cigarro fumado.
A mortalidade induzida pelo cigarro tem duas causas
¡mediatas: perturbacóes cárdio-vasculares e cáncer.
Á mulher o fumo é particularmente nocivo durante a
gravidez.
A agáo do tabaco sobre o cerebro provoca disturbios de
atencáo e de memoria; favorece a angustia, a insónia, as
perturbacóes visuais. As estatísticas demonstram que preju-
dica os estudantes que se preparam para os exames (quando
julgam precisamente que o cigarro os ajuda a melhor estudar).
Após averiguar tais resultados do fumo, o Dr. Maud
Cousin insiste sobre a necessidade de se lutar contra a taba-
comania.
Na prática, porém. o uso do cigarro é cada vez mais
avultado. Em cento e quarenta anos, o fumo manufaturado
passou de dez mil toneladas a mais de cinqüenta e seis mi-
lhóes. Parece constituir, para nao poucas pessoas, um sinal
de libertacáo ou emancipacáo social: assim o homem e a
mulher sao tentados a adotar o cigarro para indicar suas
aspiracóes sociais. Muitos adolescentes, ou mesmo enancas,
desejosos de imitar os adultos ou de fazer sua auto-afirmacáo,
contraem o hábito ou o vicio de fumo. Ésse costume gera aos
poucos a necessidade quase inelutável de continuar a fumar,
nao sómente por motivos psicológicos, mas em virtude de
intoxicacáo cerebral. Daí a dificuldade de extirpar o hábito
do fumo.
As observaeóes até aqui propostas constituem base sufi
ciente para urna

4. Conclusa©

Nao pode haver dúvida de que o uso dos entorpecentes,


dos remedios e dos suavizantes nao diz respeito apenas á

— 354 —
ENTORPECENTES E SUAVIZANTES 43

Medicina, mas constituí tres facetas (de gravidade-e intensi-


dade assaz diversas, sem dúvida) de um problema fundamen
tal: problema de Moral, que interessa de muito perto o cristáo.
A solugáo désse problema é, em grande parte, algo de
que o cidadáo moderno costuma fugir, com grande detrimento
para sua felicidade: o dominio da pessoa sobre si mesma ou
o exercício da disciplina e da ascese. É preciso que o homem
saiba dizer «Nao» a si mesmo e que ensine esta grande arte
a seus filhos e discípulos desde a infancia.
Pode-se fazer ainda a seguinte observagáo:
Os médicos notam que os pacientes de hoje muito esti-
mam e procuram os remedios, mas se mostram assaz reser
vados para com as vacinas. O fato é estranho e parece pouco
lógico; o normal consistiría em que os cidadáos aceitassem
devidamente as vacinas e se mostrassem prudentes no uso
dos remedios. Como quer que seja,, o estranho fenómeno é
muito significativo, pois pode ser tomado como símbolo, ...
símbolo1 do que se dá no íntimo de muitas pessoas: nao tém
(talvez inconscientemente) a fórc.a ou a coragem necessária
para se disciplinar ou para levar urna vida metódica e mori
gerada, exercendo um pouco de ascese ou dominio sobre seus
instintos e apetites. Tal seria a verdadeira vacina, a vacina
no plano moral. Essas pessoas preferem dar largas aos im
pulsos da natureza, para depois recorrer aos remedios. Ora
talvez se possa dizer: a reserva perante as vacinas do corpo
parece ser o símbolo dessa «reserva» perante a vacina da
alma (ou o auto-dominio).
A fé ajude o cristáo a debelar qualquer especie de covar-
dia ou indevida moleza em si mesmo e no seu ambiente de
vida. Procure o discípulo de Cristo dominar a civilizac.áo e a
técnica, délas usando adequadamente, e nao se deixe por eias
dominar ou arrastar irrefletidarnente!

CORRESPONDENCIA MIÚDA
i?, jobim (Gb): Recebemos sua carta, cujas observagóes agradece
mos corilialmente, prontos a levá-las na devida conta.
E. J. M. (S. Amaro, SP): A sua pergunta nao foi possível respon
der neste número por falta de espac.0. Pode mandar-nos seu enderégo
para resposta individual ?
L. A. S. (Piracicaba): Sua missiva chegou-nos as máos. Gratos
por suas valiosas sugestóes. O comentario do livro de Faure sobre a
"inexistencia de Deus" está em "P. R." 71/1963, pág. 395-400.
M. Guerra (Sao Paulo): a respeito de dinámica de grupo, "P. R."
deve publicar em breve um artigo.

— 355 —
44 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 104/1968

RESENHA Dt LIVROS

Recebemos e podemos recomendar :

A Igreja e o povo judeu, pelo Cardeal Agostinho Bea. — Editora


Vozes, Petrópolis, 1968, 135x205mm, 147 pp.
O Cardeal Bea, entre outros tragos, tornou-se notável por seus estu-
dos de Escritura Sagrada, mediante os quais entrou em relagóes assíduas
com os cristüos náo-católicos e os judeus. No livro ácima, o autor expóe
o
o pensamento do Concilio do Vaticano II (Declarac.áo"Nostra Aetáte",
sobre as Religióes nao-cristas) a respeito do povo judaico e seu impor
tante papel na historia sagrada. É o povo «scolhido por Deus para dar
o Salvador ao mundo,... o povo cujo Patriarca Abraáo se tornou o
prototipo do homem de fé ; merece estima e respeito por parte dos cris-
táos. O livro se recomenda especialmente por suas belas explanac.óes
teológicas e sua valiosa utilizagáo das Escrituras Sagradas. — Obra de
formagáo teológica bem atualizada:

Éste é seu. uinanhá e seu hoje, por M. Raymond. — Editora Vozes,


Petrópolis, 1968, 133x210mm, 235 pp.
O livro cantém memorias do autor, monge trapista de Gethsemani
(U.S.A.), mosteiro onde professou o famoso escritor Thomas Merton.
As recordasóes concernem o irmáo do autor, que, afetado de cáncer,
sofreu e morreu heroicamente, sustentado por fé ardente. O escritor,
dotado de espirito meditativo, propóe fecundas cansideracóes a respeito
do sofrimento humano e dos designios de Deus : a dor do cristáo é
toda perpassada pela luz da gloria eterna. — Livro de leitura espiritual.

Liturgia e apostolado, por A. Hamman O.P.M. — Editora Vozes,


Petrópolis, 1968, 125xl80mm, 127 pp.
O autor apresenta oportunas reflexóes sobre o sentido do culto cris
táo, recorrendo as fontes bíblicas e a historia da Igreja antiga. Ao
mesmo tempo, desperta nos Icitores o entusiasmo do apostolado no sen
tido estrito, ou seja, no sentido -de procurar fazer que os homens mais e
mais "vivam de Deus. — Boa obra de forma?áo geral.

Tempo e Liturgia, por Thomas Merton. — Editora Vozes, Petrópolis,


1968, 125xl80mm, 254 pp.
Quem já leu Thomas Merton conhece o seu estilo muito caracterís
tico : aborda assuntos de espiritualidade, dos quais tem nao sómente
ciencia esmerada, mas também viva experiencia pessoal; cita freqüen-
temente a Sagrada Escritura e as clássicas fontes escritas da vida de
oracáo, como sao as obras dos antigos Padres da Igreja. Nao é sempre
fácil entender o que Merton quer dizer ; requer-se reflexáo para se per-
ceber o conteúdo de suas ricas páginas. — A obra ácima encerra urna
serie de meditacóes sobre as grandes solenidades do ciclo litúrgico. Escri
tas avulsamente, foram coletadas em um só volume, que muito se presta
á oraí&o mental e á leitura espiritual.

Urumimidade no Pluralismo, por Roger Schutz, Colegáo Ecumenismo


— 5. —Livraria Duas Cidades, Sao Paulo 1967, 130xl85mm, 96 pp.
O autor, Prior do mosteiro protestante de Taizé, muito aberto jio
ecumenismo, propóe reflexóes sdbre os grandes valores da vida crista.:
uniáo com Deus e caridade para com o próximo, fcendo em vista preparar

— 356 —
a perfeita uniáo entre os cristáos. Profliga o pluralismo entendido
como "relativismo, coexistencia pacífica de comunidades cristas índepen-
dentes urnas das outras". Por éste trago, o livro é digno de apreso, poia
nao raro se confunde "ecumenismo" com "relativismo". Nao há restricoes
teológicas a fazer á doutrina exposta por Schutz. — Livro profundo de
formacáo crista.
O serm&o da montanha, por Carlos Josaphat. — Livraria Duas
Cidades, Sao Paulo, 1967, 135x205mm, 164 pp.
Comentario dos capítulos 5-7 do Evangelho de Sao Mateus, teoló
gico e sólido. O autor, usando dos conhecimentos mais recentes da exe-
gese, fornece boa ¿niciacao ao texto sagrado, para o uso dos fiéis que
desejem meditar o S. Evangelho.

Padrea Profetas e Miatagogos, por Bertrand de Margene, Colegáo


Pastoral — 9. — Edigóes Paulinas, Sao Paulo, 1968, 155x230mm, 205 pp.
Coletánea de artigos de um bom teólogo, que deseja dar á pastoral
sólidos fundamentos dogmáticos. Trata do valor da pregacáo, da pastoral
do confessionário, da Comunháo diaria, da vida do sacerdote segundo o
Vaticano H, baseando-se em rica documentacáo colhida na vida dos
Santos, nos escritos da Tradigáo crista e no magisterio da Igreja. Ke-
comenda-se vivamente a sacerdotes e Seminaristas como livro de formacáo.

D. Estévao Bettencourt O. S. B.

A RADIO TUPI DA GUANABARA


I
apresenta o programa

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

todos os domingos, das 6h 30min as 7h, na palavra de

D. Estéváo Bettencourt O. S- B.
NO PRÓXIMO NÚMERO t

Quando é que alguém está morto ?

A idade da Primeira Comunháo

A pena de morte em foco

Um sociólogo falou sobre Igreja na América Latina

Que é o materialismo histórico ?

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

porte comum NCr? 10,00


Asslnatura anual I
porte aéreo NCr$ 15.00

Número avulso de qualquer mes e ano NCr$ 1,00


Número especial de abril de 1968 NCr$ 3,00
Colecto encadernada de 1957 a 1964 NCi? 80,00
Índice Geral de 1957 a 1964 NCr$ 7>0°
NCr$ 15,00
Colec&o encadernada de

Índice de 1967 NCr$


Encíclica «Populorum Progressio NCr$ 0,50

suas aquisicñes e seus pedidos.


Rogamos a todos efetuem sens pagamentos com a possível
brevidade.

KEDA<?AO
Caixa, postal 2666 Av. Elo Branco, 9, b/IU-A-ZC-05

Bio de Janeiro (GB) Blo de Janeiro (GB)

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