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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIN-E

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DAEDigÁOON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
'.■" visto que somos bombardeados por
■\<
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e
Responderemos propoe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
Sumario
Pao.

"CREIO NA RESSURREICAO DOS MORTOS" 353

No Ano Internacional da Ctlanca:


OS DIREITOS DA CRIANQA 35S

As riquezas do crlst3o:
OS DONS DO ESPIRITO SANTO 36S

Sansacionais!
PROFECÍAS DE IMINENTE FIM DO MUNDO 378

"O que o olho nSo vlu..."


"REFLEXÓES SOBRE VIDA APÓS A VIDA" 392

LIVROS EM ESTANTE , 394


COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

* • •

NO PRÓXIMO NÚMERO:

«Criacóo e mito» por O. Loretz. — Justica original : existiu ? Que


seria ? — «Manicomios, prisóes e conventos» por E. Goffman. —
«O mllagre da fé» (filme). — «Creio na ressurreicao dos morros».

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

Número avulso de qualquer mes Cr$ 18,00


Assinatura anual Cr$ 180,00

Diregao e Redasáo de Estévao Bettencourt O.S.B.

ADMINISTRACAO REDAgAO DE PR
Livraria Mlssionárla Editora Calxa Postal 2.666
Rúa México, Ul-B (Castelo)
20.031 Rio de Janeiro (RJ) ««.««v xv
Tel.: 224-0059
"CREIO HA RESSÜRREKÁO DOS
A S. Igreja, por meio da Congregacáo para a Doutr nffida 4
Fé, houve por bem publicar aos 17/05/79 urna Carta-Instruyao
sobre algumas questóes referentes á escatologia ou á consu-
macáo do homem e do mundo.
A oportunidade desse documento se depreende do fato de
que numerosas teorías, disseminadas por livros, conferencias e
cursos, vém atenuando ou desfigurando nos fiéis as concepcóes
genuinamente cristas sobre tais assuntos. Alguns chegam a
perguntar: haverá alguma coisa para além da morte? Subsis
tirá algo de nos mesmos ou espera-nos o nada? — Ora a res-
posta que se dé a tais perguntas, é de importancia capital para
a orientacáo da vida presente; o significado desta depende, ine-
gavelmente, da maneira como se conceba o além.
Eis por que vamos, a seguir, transcrever a parte principal
da referida Carta, que em próximo número publicaremos na
íntegra, acompanhada de comentario.
«Esta Sagrada Congregacao, que tem a responsabilidade de
promover e de defender a doutrina da fé, propoe-se hoje recordar
aquito que a Igreja ensina, em nome de Cristo, especialmente quanto
ao que sobreven» entre a morte do cristáo e a ressurreicao universal.
1) A Igreja eré numa ressurreicao dos morros (cf. Símbolo
dos Apostólos).
2) A Igreja entende esta ressurreicao referida ao homem
todo; esta, para os eleitos, nao é outra coisa senáo a extensao aos
homens da própria ressurreicao de Cristo.
3) A Igreja afirma a sobrevivencia e a subsistencia, depois
da morte, de um elemento espiritual, dotado de consciénca e de
vontade, de tal modo que o eu humano subsista. Para designar es:e
elemento, a Igreja emprega a palavra olma, consagrada pelo uso
que déla fazem a Sagrada Escritura e a Tradicño. Sem ignorar que
este termo é tomado na Biblia em diversos significados, Ela ¡ulga,
nao obstante, que nao existe qualquer razáo seria para o reatar
e considera mesmo ser absolutamente índispensável um instrumento
verbal para suster a fé dos cristáos.
4) A Igreja excluí todas as formas de pensamento e de ex-
pressáo que, se adotadas, tornarían» absurdos ou ininteli,gíveis a sua
oracao, os seus rijos fúnebres e o seu culto dos mortos, realidades
que, na sua substancia, constituem lugares teológicos.
5) A Igreja, em conformidade com a Sagrada Escritura, espera
'a gloriosa manifestacáo de Nosso Senhor Jesús Cristo' (cf. Consti-

— 353 —
tuicSo Dei Verbusn), que Ela considera como distinta e diferida «m
relacáo á.quola condicao própria do homem ¡mediatamente depois
da morte.

ó) A Igreja, ao expor a sua doutrina sobre a sorte do homem


depois da morte, excluí qualqtier explicacáo que rirasse o seu sen
tido á Assuncao de Nossa Senhora, naquilo que esta tem de único,
ou seja fato de ser a glorificacao corporal da Virgem Santíssima
urna antecipacáo da glortficacáo que está destinada a todos os
outros eleitos.

7) A Igreja, em adesáo fiel ao Novo Testamento e á TradicSo,


acredita na felicídade dos justos que 'estaráo um dia com Cristo'.
Ao mesmo tempo, Ela eré numa pena que há de castigar para sem-
pre o pecador que for privado da visáo de Deus, e aínda na reper-
eussSo desta pena em todo o ser do mesmo pecador. E, por fim,
Ela eré existir para os eleitos urna eventual purificacáo previa á
visáo de Deus, a qual no entonto é absolutamente diversa da pena
dos condenados. E isto o .que a Igreja entende quando falo de
Inferno e de Purgatorio.

Pelo que respeita á condicao do homem depois da morte, há


que precaver-se particularmente contra o perígo de representacóes
fundadas apenas na imaginaeño e arbitrarias, porque o excesso das
mesmas entra em grande parte ñas dificuldades que muitas vezes
a fé crista encontró. No entonto, as imagens de que se serve a
Sagrada Escritura merecem todo o respeito. Mas é preciso captar o
seu sentido profundo, evitando o risco de as atenuar demasiada
mente, o que equivale nao raro a esvaziar da própria substancia as
realidades que sao indicadas por tais imagens».

Voltaremos ao assunto. Por ora interessa realgar algo do


conteúdo do item 7.

O cristáo espera, para depois da morte, o encontró com


Deus face-a-face,... com Deus que já é conhecido e cuja pre-
senca já 6 desfmtada no decorrer mesmo da presente peregri-
nagáo. Esse encontró será a resposta a todas as aspiragóes do
ser humano, nada ficando por desejar. Deus, porém, será sem-
pre novo para a criatura, pois Ele só nao é novo para si mesmo;
Ele provocará urna feliz admiragáo, que nao conhecerá suces-
sáo de tempos.

Possa a consciéncia destas verdades penetrar mais e mais


no intimo de cada leitor, a fim de estruturar a sua conduta
cotidiana. Seja esta realmente um antegozo da vida eterna,
pois há continuidade entre a vida presente e aquela que nos
chamamos a vida futura!
E.B.
— 354 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XX — N' 237 — Setembro de 1979

No Ano Internacional da Crianza:

os direitos da crianca
Em sintose: O Ano Internacional da Crianca proclamado pela ONU
para 1979 deve avivar na opiniSo pública a consclencia dos graves proble
mas por que passam as crlancas tanto nos países subdesenvolvidos quanto
nos povos ricos. Naqueles a falta da devlda allmentagSo ocasiona doencaa
e morte prematura; além do que, a insuficiente escolarlzacSo e o trabalho
pesado, inepto aos menores, s§o flagelos dolorosos. Nos países desenvol
vidos, os pequeños sfio vltimas principalmente do esfacelamento da fami
lia, que fácilmente redunda em criminalidad© dos fllhos; a crianca é, nfio
raro, tida como indesejada e incomoda, porque diminuí as possibllldades
de gozo e prazer por parte dos pais.

Devem-se levar em conta também os fllhos dos emigrantes, nao raro


sujeltos a ser descaracterizados pelo sistema educacional da patria que os
hospeda.

Ora tais condlcóes de existencia da c Nanea em nossos días nao sSo


nem crlstSs nem humanas. Precisamente a fim de Ihes fazer frente, a
Organlzacao das Nacdes Unidas promulgou em 20/11/59 a Declaracfio dos
Direitos da Crianca. A estes a Igreja acrescentou o direlto de nascer, que
a prática do aborto recusa á crianca.

A fim de remediar radicalmente a sltuacáo da crianca em nossos


días, far-se-la mlster reformar a mentalldade dos homens e dos povos, que
se preocupam excesslvamente com armas e com o ter mala (em detri
mento do ser mala). Enquanto esta tSo almelada convers&o nfio ocorre, é
para desejar que se multipliquem as obras asslstenclals á Infancia, como
sao a UNICEF (de caráter Internacional lelgo) e os organismos católicos
de atendimento ¿s criancas e ¿s pessoas carentes em geral: Obra da
Infancia Misslonária, Caritas Internacional, Cor Unum, Adveniat, Mlsereor...
Possam estes modelos suscitar a generosidade do povo brasileiro, em
cujo seio multldóes de crlancas pedem auxilio I

Comentario: Aos 21/12/76, a Assembléia Gerai das Na-


cóes Unidas proclamou o ano de 1979 «Ano Internacional da
Crianoa». Visava assim despertar o interesse dos Governos
e da opiniáo pública em geral para os graves problemas de que

— 355 —
4 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 237/1979

sofrem os pequeninos no mundo inteiro, mesmo nos países


desenvolvidos.

A oportunidade dessa proclamagáo nos leva a procurar


tomar consciéncia da situagáo das criangas em nossos dias
assim como das providencias mais adequadas e urgentes em
favor das mesmas.

1. A situagao das crianzas lioje

Distinguiremos os países em via de desenvolvimento e os


países desenvolvidos.

1.1. Povos em vías de desenvolvimento

Compreende-se que nos países em vias de desenvolvimento


a situagáo das criangas seja particularmente aflitiva, pois estas
constituem a parte mais desprotegida de toda a populagáo.

Na verdade, a crianga ai é flagelada antes mesmo que


nasca, visto que a carencia alimentar da genitora exerce sobre
ela seus efeitos negativos; a crianga insuficientemente nutrida
durante a gestagáo corre o perigo de nao se desenvolver nor
malmente e, urna vez nascida, é sujeita a próximo perigo de
morte. A Organizagáo Mundial da Saúde prevé que, dos 122
milhóes de criangas nascidas em 1978, 12 milhdes pereceráo
antes do fim de 1979.

Dado, porém, que escapem da morte no seu primeiro ano


de existencia, as criangas dos países subdesenvolvidos estáo
expostas á fome e, por conseguinte, ia doenca e, mais, á pró-
pria morte precoce (muitas molestias que nao sao mortais em
criangas bem nutridas, prdvocam a morte nos casos de sub-
alimentagáo).

Sabe-se que a insuficiente alimentagáo prejudica o sistema


nervoso e, especialmente, o cerebro, acarretando depressáo
nervosa e psíquica; produz outrossim fraqueza generalizada,
pouca resistencia as doengas e aos microbios, exiguo rendi-
mento no trabalho e enveíhecimento precoce. Por outro lado,
a má alimentagáo, carente de proteínas, vitaminas e sais mine-
rais, é causa de graves molestias como o beri-béri, a cegueira
total e incurável, o raquitismo, o kwashiorkor... que, se nao

— 356 —
OS DIRECTOS DA CRIANCA

levam á morte, deixam o organismo combalido. A Organizagáo


Mundial da Saúde declarava aos 7/04/79:

"Seto molestias matam todos os anos, no munido, mals de dez m1lhSe3


de crlancas, embora para seis délas exista vacina eficaz, ao passo que a
sétima poderla ser evitada mediante melhor distribulcfio das aguas pota»
veis. As seis molestias que poderlam ser afastadas por meló de vacina,
sSo a difteria, a coqueluche, o tétano, o sarampo, a pollomlelite e a
tuberculoso. Estas matam anualmente cinco milhOes de crlancas, pravo*
cando em outras Invalidez permanente, como a ceguelra, a parallsla par
cial ou total, o retardamento mental, etc. A vaclnacáo das crlancas contra
essas molestias custarla multo menos do que é gasto para tentar curar
os doentes asslm atetados. A comunidade internacional está-se esforzando
para conseguir... providenciar a vacina de todas as criancas contra essas
seis molestias, mas tal medida nSo poderá salvar os pequenlnos que, erri
virtude da carencia alimentar de suas mSes, nascerem com menos de
dois quilos e meló".

Note-se ainda que aos flagelos da fome e da doenga, para


as criangas dos países subdesenvolvidos, se acrescentam as
ameacas do analfabetismo e do trabalho pesado, inadequado á
idade infantil. É particularmente dolorosa a condicáo das
meninas, seja porque em alguns países sao menos consideradas
do que os meninos, seja porque em muitas regióes da África
persistem costumes cruéis, como a mutilacáo dos órgáos se-
xuais..., costume para o qual alertou recentemente um Con-
gresso da Organizagño Mundial da Saúde em Khartoum (Suda).

1.2. Povos desenvolvidos

Nos países industrializados, a situacáo das criancas nao é


táo dramática. Ao contrario, no tocante á alimentagáo, ao ves
tuario, ao atendimento médico, á escola, ás diversóes, a situa-
gáo em geral ó boa ou mesmo, em alguns casos, esmerada.
Muitas criancas de tais países sao superalimentadas e gozam
de diversas chances de escolarizacáo e aprendizagem, como
também de grande variedade de diversóes. Todavía quem se
debruca de mais perto sobre a realidade social dos povos desen
volvidos, verifica graves carencias que afetam especialmente
as crianzas.

a) Em primeiro lugar, seja mencionada a prática do


aborto legal ou clandestino. Se nos países subdesenvolvidos
morrem de fome anualmente milhóes de criangas, é possível
que nos países desenvolvidos igual número de criangas morra
antes de nascer. E note-se que a tendencia das diversas legis-

- —357 —
6 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

lagóes leva a ampliar cada vez mais os casos de aborto «legal»,


como se este fosse um direito da mulher, quando na verdade
nao existe direito de matar um inocente!

b) Em segundo lugar, as criangas dos países desenvolvi


dos sao afetadas por outras carencias como a da moradia exi
gua, a da máe que trabalha enquanto os filhos sao pequeños,
a do divorcio e — mais — o alcoolismo, as drogas, o consu-
mismo desenfreado, a violencia, a agressividade...

Na verdade, os apartamentos modernos sao dispostos de


modo a só poder abrigar familias de dois ou tres filhos, os
quais difícilmente gozam de área para brincar ou jogar; só
resta a alternativa da rúa com os perigos físicos e moráis que
esta acarreta. Por sua vez, o trabalho profissional da mulher
que tenha criangas pequeñas, se de um lado pode ser neces-
Gario, de outro lado subtrai as criangas, durante longas horas
do dia, a presenga e o afeto insubstituíveis de sua máe.

Todavía é certo que os maiores danos para as criangas sao


provocados pelo esfacelamento da familia, táo freqüente ñas
sociedades industrializadas; nestas cerca da metade dos casa
mentas termina em divorcio; também ai é elevado o número
de separacóes legáis e de unióos maritais destituidas de qual-
quer vinculo conjugal. Ora as vitimas mais atingidas por tais
ocorréncias sao os filhos. Nao é sem razáo que a criminali-
dade incide com mais freqüéncia nos filhos de familias divor
ciadas ou mal constituidas.

Sabe-se também quáo grande é a influencia do alcoolismo


e das drogas no nascimento de enancas com taras físicas ou
psíquicas. Quanto aos meios de comunicacáo social, benemé
ritos por sua capacidade de unir os homens entre si, sao em
parte responsáveis pela difusáo de imagens e modelos que
deformam as criangas, tornando-se, para estas, escolas de vio
lencia, crueldade e deseducacáo sexual.

Acontece, em suma, que a sociedade industrial, baseada


eobre o binomio «producáo-consumo», vé na crianga um con
sumidor em potencial e, por isto, nao hesita em despertar nela
toda especie de desejos e necessidades artificiáis; explora-a nao
para que seja mais humana, ou seja, mais propensa a servir
aos outros, mas, sim, para avivar nela as tendencias naturais
ao egoísmo e ao hedonismo possessivo.

— 358 —
OS DIREITOS DA CRIANgA

c) Dentre todos, o aspecto mais grave do problema da


crianga na sociedade industrial moderna é a difusáo-da men-
talidade segundo a qual os filhos sao um peso e um impedi
mento á liberdade, em vez de serem a expressáo viva do amor
dos pais. Com efeito, em certas familias as crianzas percebem
que nao foram acolhidas por seus genitores, enquanto certos
Estados consideram cada crianza que nasce, como mais um
conviva que rivalizará com outros em torno da precaria mesa
da vida.

Sem dúvida, ainda há familias que aceitam todos os filhos


que Deus lhes dá. Todavía a sociedade e o Estado nem sem-
pre as apoiam. O pai de familia numerosa encontra obstáculos
para conseguir emprego, pois muitas empresas recusam fun
cionarios que tenham mais de dois ou tres filhos. Em conse-
qüéncia, a manga é vista por nao poucos casáis como «des-
mancha-prazer», segundo diziam os bispos da Bélgica em De-
claragáo conjunta referente ao Ano da Crianga (dezembro
de 1978):

"A procura do dlnhelro, do prazer e da comodidade leva certas


familias a considerar a crianga como urna parcela, entre outras, do orca-
mento familiar, parcela que é objeto de fríos cálculos" ("La Documentatlon
Catholique" 21/01/79, col. 92.

Com outras palavras: a crianga nao raro é considerada


como alguém que incomoda, impóe sacrificios, impede ou res
tringe a liberdade de movimento e as possibilidades de gozar
a vida, constituindo um peso indesejado no balango doméstico.
Disto se segué a limitagáo dos nascimentos a um só, ou entáo
o aborto (aborto que freqüentemente é praticado por mulhe-
res de boas condigóes financeiras, que nao querem ter mais de
um ou dois filhos).

d) Pior ainda se torna a situagáo da crianga, se ela é


um excepcional físico ou psíquico (mongolóide, retardado men
tal, paralitico...). Mesmo que encontré acolhida por parte
dos genitores, tal crianga difícilmente é aceita pela sociedade;
tenham-se em vista as dificuldades existentes para colocar
essa crianga em escola adequada.

e) Merecem especial mengáo ainda os filhos de emigran


tes. Alguns paises nao permitem que o emigrante possa levar
consigo a esposa e os filhos. Outros países obrigam as crian-
cas imigrantes a se adaptar as estruturas da educagáo local,

— 359 —
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

nao lhes concedendo a possibilidade de ter escolas próprias


onde possam aprender a língua materna e receber a formagáo
correspondente as tradicóes culturáis da sua patria de origem.

Ainda outro mal aflige as criangas emigrantes: o traba-


lho em menor idade. Conforme estatistica do «Bureau Inter-
national du Travail», os menores com menos de quinze anos
que trabalham no mundo, sao 52 milhóes (29 na Asia do Sul,
10 na África, 9 na Asia Oriental, 3 na América Latina, e 1 nos
países desenvolvidos cuja economía esteja baseada no comer
cio); dessas criangas, 42 milhóes trabalham na agricultura e
10 em pequeñas lojas e fábricas. Sabe-se, de resto, que nao
raro o trabalho dos menores de idade é realizado em circuns
tancias incómodas e pobremente remunerado.

Eis, em grandes linhas, os aspectos negativos da situagáo


da crianca no mundo de hoje. Procuremos agora refletir sobre
tal quadro.

2. Ponderando...

Tais condigóes de existencia da crianca nao sao nem cris


tas nem mesmo humanas. Estáo em choque nao só com os
ditames do Evangelho e os ensinamentos da Igreja, mas tam-
bém com os sentimentos mais espontáneos do ser humano. Es
tes, alias, encontraram a sua expressáo na Declaragáo dos Di-
reitos da Crianga.

Com efeito, aos 20/11/1959, a Assembléia Geral das Na-


góes Unidas aprovou urna Declaragáo — unánimemente confir
mada pela 2» Conferencia Internacional dos Direitos do Homem
(Teerá 1968) — que professa em dez pontos os direitos que
«háo de ser rcconhecidos a todas as criancas, sem excegáo
alguma». Eis o texto respectivo, que significa um passo im
portante em demanda do pleno humanismo a que aspiram (aa
menos, em teoría) todos os povos:

"Principio 1?: A crianza gozará de todos os direitos enunciados


nesta DeclaracSo. Todas as crlancas, absolutamente sem qualquer excecflo,
serSo credoras destes direitos, sem dlstlncfio ou dlscrlmlnacfio por motivo
de raga, sexo, língua, religiáo, oplniao política ou de outra natureza, origem
nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condlc&o, quer
sua, quer da sua familia.

Principio 2?: A crlanga gozará de protecSo especial e ser-lhe-So


proporcionadas oportunidades e facilidades por leí e por outros meios, a
flm de Irte facultar o desenvolvimiento fisico, mental, moral, espiritual e

— 360 —
OS DIREITOS DA CRIANgA ?

social de lorma sadia e normal e em condlcfies de liberdade e dlgnidade.


Na promulgacao de leis que visem a este objetivo, "levar-se-fio em conta,
sobretudo, os ¡nleresses superiores da crianca.

Principio 3?: Desde o nasclmento. toda crlanca terá direlto a um


nome e a urna nacionalidade.
P.-incipio 4?: A crianza gozará dos beneficios da previdencia social.
Terá dlreito a crescer e desenvolver-se com saúde. Em vista disto, tanto
a crianca como á mae serSo proporcionados cuidados médicos e protecao
social adequada, principalmente nos periodos pré-natal e pós-natal. A
crianca terá dlreito a alimentacSo. moradia, recreacfio e cuidados módicos
oportunos.

Principio 5?: A crianca incapacitada física ou mentalmente ou


que sofre de alguma InadaptagSo social, tem o direito de receber o trata-
mento, a educacSo e os cuidados especiáis de que precisa em virtude
do seú estado e da sua condicáo.
Principio 69: Para o desenvolvimento completo e harmonloso de
sua personalidade, a crianca precisa de amor e compreensSo. Criar-se-á,
sempre que posslvel, sob os cuidados e a responsabltldade dos pais e
sempre num ambiente de afeto e seguranga moral e material; salvo cir
cunstancias excepclonals, a crianga de tenra idade nao será apartada da
sua mSe. A sociedade e as autoridades caberao a obrlgagfio de propor
cionar cuidados especiáis ás criancas sem familia e áquelas que carece-
rem de meios adequados de subsistencia, é desejável a prestado de ajuda
oficial ou de outra natureza para a manutengan dos filhos de familias
numerosas.

Principio 7?: A crianza terá direlto a receber educacao, que será


gratuita e obligatoria pelo menos no grau primario. Ser-lhe-á proporcionada
urna educacSo capaz de promover a sua cultura geral e de capacitá-la a,
em condlcQes de Iguals oportunidades, desenvolver as suas aptidfies, a sua
capacidade de emitir |uízo e o seu senso de responsabllldade moral e
social, e a tornar-se um membro útil da sociedade. Os superiores lnteresses
da crlanga serSo a diretrlz a nortear os responsávels pela sua educacao
e orientacSo; esta responsabllidade cabe, em prlmeiro lugar, aos pais. A
crianca terá ampia oportunldade para brincar e divertlr-se, visando aos
propósitos mesmos de sua educacao: a sociedade e as autoridades públicas
empenhar-se-áo em promover o gozo deste direlto.

Principio B?: A crianca figurará, em qualsquer circunstancias, entre


os primelros a receber protegSo e socorro.

Principio 99: A crianza deve ser protegida contra quaisquer formas


de negligencia, crueldade e exploragáo. Nao será jamáis objeto de tráfico,
sob qualquer forma. Nfio será permitido a crlanga empregar-se antes de
urna Idade minlma conveniente; de nenhuma forma será levada a, ou
ser-lhe-á permitido, empenhar-se em qualquer ocupacáo ou emprego que
Ihe prejudique a saúde ou a educagfio, ou que Interflra em seu desenvol
vimento físico, mental ou moral.
Principio 109: A crlanga gozará de protegño contra atos que pos-
sam suscitar discrlmlnacáo racial, religiosa ou de qualquer outra natureza.
Crlar-so-á num ambiente de compreensao, de tolerancia, de amlzade
entre os povos. de paz e de fraternidade universal, em plena consciéncia

— 361 —
10 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

de que o seu esforco e a sua aptidSo devem ser postos a servlco do


seus semelhantes".

O reconhecimento de tais artigos por parte dos poyos em


geral nao significa que sejam apenas estes os direitos da
crianza. A Igreja Ihes acrescenta, em nome tanto do Evange-
lho como da lei natural, «o direito á vida, á vcrdade e ao
amor» (Paulo VI). Assim, por exemplo, se exprimía o Papa
Joáo Paulo II aos 13/01/79, dirigindo-se ao Comité dos Joma-
listas Europeus para os Direitos da Crianza:

"A Santa Sé julga que se pode também falar dos direitos da crlanca
desde a sua concelcSo no seto materno, merecendo particular mencao o
direlto a vida, pols a experiencia mostra sempre mals que a crlanca pre
cisa de especial protecSo, de fato e de direito, antes mesmo que nasca.
Poderlamos Insistir também no direlto da crlanga a nascer em verdadelra
familia porque é de importancia capital, para ela, que possa beneflciar-se,
desde o inicio, da colaboracáo do pal e da mae unidos em matrimonio
Indissolúvel.

A crianca deve também ser educada na sua familia, pols os genitores


sSo os seus prlmeiros e principáis educadores. Isto é exigido pelo clima
de afeto e de seguranca moral e material que a psicología da crlanca
requer...

A crianca tem outrossim direlto á verdade e a uma escola que leve


em conta os valores éticos fundamentáis e torne posslvel uma educagéo
espiritual, em conformidade com a filiacSo religiosa da crlanca, com a
orientacao legítimamente desejada por seus genitores e com as exigencias
de uma llberdade de conscléncia bem compreendlda. Para usufruir desta,
deve o jovem ser preparado e formado durante a infancia e a adolescencia.
é normal que a Igreja manifesté e propugne as suas responsabilidades
sobre tal ponto" ("L'Osservatore Romano" 14/01/79).

A Igreja fundamenta a sua preocupacáo com os direitos


da crianca sobre o fato de que esta nao existe para o servicp
dos adultos nem deve ser subordinada ao prazer e aos inte-
resses destes, mas é uma pessoa humana. A crianca também
nao é apenas um adulto em miniatura que vale em vista do
que será amanhá. Ao contrario, diz a mensagem crista: tem
valor inestimável a crianca como tal, na medida em que é pes
soa humana e nao enquanto é um adulto em potencial. Afir-
mava Paulo VI:

"A Infancia é uma fase essencial da vida humana. Toda crlanca tem
o direlto de vlver plenamente a sua Infancia e de produzlr uma contrlbulgSo
original á humanlzacSo, ao desenvolvimento e á renovacfio da socledade".

É principalmente com o olhar de Cristo que a Igreja con


sidera as mancas. Jesús dizia: «Deixai as criangas virem a

— 362 —
os direitos da crianca u

mim. Nao as impegais, pois délas é o Reino de Deus» (Me


10,14); esse seu carinho, Jesús o exprimía abracando e aben-
goando os pequeninos. Guiada pelos ensinamentos do Divino
Mestre, a Igreja, através dos sáculos, criou obras de atendi-
mento as criangas, principalmente as abandonadas e las sofre-
doras; tenham-se em vista as numerosas escolas, creches, orfa
natos, institutos de recuperagáo, hospitais infantis... ainda
hoje mantidos por Congregagóes Religiosas. Com vistas espe
ciáis ao Terceiro Mundo, existe a chamada «Obra Pontificia
da Santa Infancia» ou, hoje, «Obra da Infancia Missionária»,
fundada em 1843 no intuito de salvar as criangas mediante as
criangas, ou seja, incitando as criangas dos países desenvolvi
dos a ajudar os seus semelhantes do Terceiro Mundo. Esta
Obra sustenta atualmente a formagáo de 7 milhóes de crian-
gas em noventa países do mundo.

Perguntemo-nos agora:

3. E que fazer hoje em día ?

O Ano Internacional da Crianga nao pode limitar-se ape


nas á verificagáo de situagóes. Deve também procurar levar-
•lhes remedio, incentivando quanto já se faz em prol da crianga
no mundo e suscitando novas iniciativas em favor da mesma.

É certo que, para resolver radicalmente o problema da


fome e da mortandade infantil, será necessário mudar a nen-
talidade dos povos em geral e converter os homens a urna vida
mais humana e mais crista. Com efeito; há duas fontes de
despesas no orgamento geral das nagóes que poderiam ser can
celadas em vista de atendimento mais adequado as criangas
necessitadas: as despesas com os armamentos bélicos e o con-
sumismo provocado pela estima do ter mais (em detrimento
do stir mais). Somente com armas bélicas os povos gastaram
400 bilhóes de dólares em 1978! E tais armas foram forneci-
das, em parte, a povos subdesenvolvidos que, por sinal, parecem
ciosos (forgadamente ciosos...) de armar-se para a guerra.
Diz sabiamente o Papa Joáo Paulo II em sua encíclica «Re-
demptor Hominis»:

"Em vez do pSo e da ajuda cultural a novos Estados e nacSes que


estSo a despertar para a vida independente, algumas vezas se Ihes ofere-
cem, n9o raro com abundancia, armas modernas e meios de destruicao,
postos ao servic.o de conflitos armados e de guerras, que nSo sSo tanto
urna exigencia da defesa dos seus justos direitos e da sua soberanía

— 363 —
12 tPERGUWTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

quanto sobretudo urna forma de 'chauvinismo', de Imperialismo e de neo-


colonlallsmo de varios géneros. Todos sabemos bem que as zonas de
miseria ou de tome que existem no nosso globo, poderlam ser fertilizadas
num breve espaco de lempo, se os gigantescos investimentos para os
armamentos, que servem para a guerra e para a destrulcao, tivessem sido
em contrapartida convertidos em investimentos para a alimentacSo, que
servem para a vida" (n9 16).

Parece difícil, se nao impossível, coibir a corrida arma


mentista a que se refere o S. Padre. Todavía nem por isto é
lícito aos cristáos cruzar os bracos diante do desafio que a
infancia abandonada levanta para a humanidade. Eis por que
se faz necessário multiplicar as obras assistenciais, que ten-
dem a minorar os flagelos dos quais sofrem as enancas; era-
bora tais recursos nao resolvam o problema pela raiz, sao
indispensáveis para evitar que maior número de pequeninos
seja vitimado pela fome, pela doenca e pela morte. Em ámbito
internacional existe a UNICEF (United Natíons International
Children's Emergency Fund), organizagáo destinada a ajudar
as criangas carentes. Ao receber o diretor desta entidade dois
meses antes de morrer, Paulo VI quis incentivar táo benemé
rita obra. Joáo Paulo II, por sua vez, dirigiu-se aos jornalis-
tas europeus aos 13/01/79 nestes tormos:
"A Santa Sé nao se satisfaz apenas com um olhar lnteressado e
simpático sobre quanto de válido vier a ser feito em 1979... Ela está
pronta a encorajar tudo o que for projetado e realizado para o verdadelro
bem das criancas, pols estas constltuem uma populacáo Imensa, que pre
cisa de protecáo e de promocSo particulares, dada a precariedade das
suas condlcóes" ("L'Osservatore Romano", 14/01/79).

A própria Igreja procura intervir no encaminhamento de


alivio para os menores carentes mediante as suas instituicoes
missionárias e seus organismos internacionais de ajuda aos
necessitados (Cor ünum, Caritas Internationalis, Obra da In
fancia Missionária, BICESODEPAX em colaboragáo com o
Conselho Mundial das Igrejas); além do que existem institui
coes de caráter nacional dotadas da mesma finalidade, como
sao Catritas Nacional, IHQsereor, Adveniat, Máos Estendidas,
Aide a Toute Détresse (A.T.D.)...

Possam estes modelos despertar também no Brasil viva


consciéncia do problema da crianca carente e suscitar apos
tólos que se empenhem por socorré-la em suas necessidades
nao somente materiais, mas também espirituais!
Este artigo segué de perto o editorial "I cristlanl neil'Anno Intema-
zlonale del Bambino", da revista "La Clvlltá Cattollca", n<? 3093, 5/05/1979.
pp. 209-219.

— 364 —
As riquezas do cristao :

os dons do espirito santo

Em sfntese: Os dons do Espirito Santo sSo como que "receptores"


aptos a captar os Impulsos do Espirito mediante os quais o crlstSo se
encaminha para a perfeicSo em estilo novo ou com a eficacia que o
próprio Deus Ihe confere. Posslbllltam ao crlstSo ter a Intulcfio profunda
do significado das verdades reveladas por Deus asslm como de cada cria
tura. Proporcionam tambero tomadas de atitude que nem a razSo natural
nem as virtudes humanas, sujeitas sempre a hesitac6es e falhas, conse-
guirlam indicar ou efetivar.

Para Ilustrar o que sSo os dons, pode-se recorrer & Imagem de um


barco que navega: se ó movido a remos, avanga lenta e penosamente,
com grande esforco para os remadores. Caso, porém, estos desdobrem
as velas do barco para que capte o sopro dos ventos favorávels, os rema
dores descansam e o barco progride em estilo novo segundo velocidade
"sobre-humana". — Ora o barco movido ao sopro do vento que bate
contra as velas, é Imagem do cristao impelido pelo Espirito, segundo me
didas divinas, para a meta da sua santlflcacio.

Os dons do Espirito Santo sfio sete, segundo a habitual recensfio dos


teólogos: sabedorla, entendlmento, .ciencia, conselho, fortaleza, pledade,
temor de Deus. Para se beneficiar da 8960 do Espirito Santo, o crlstSo deve
dlspor-se de duas maneiras principáis: a) cultivando o amor, pols ó o
amor que propicia aflnldade com Deus e, por conseguinte, torna o cristao
apto a ser movido pelo Espirito de Deus; b) procurando jamáis dizer um
N3o consciente e voluntario ás Insplracoes do Espirito. Quem se acostuma
a viver asslm, cresce mals velozmente na sua estatura definitiva e se
configura mala fielmente ao Cristo Jesús.

Comentario: Em nossos días a renovagáo da oracáo e da


espiritualidade cristas apela freqüentemente para a acáo do
Espirito Santo nos coragñes. Muitos fiéis se tornam conscien
tes de que «ninguém pode dizer 'Jesús Cristo é o Senhor1
senáo sob a mocáo do Espirito Santo (cf. ICor 12,3); sabem
cada vez melhor que «todos os que sao movidos pelo Espirito
de Deus, sao filhos de Deus» (cf. Rm 8,14). A consciénda
destas verdades vem despertando cada vez mais a ateneáo
para a teología espiritual. É, pois, o momento de procurarmos
conhecer melhor as maneiras como o Espirito Santo age nos
coragoes, descrevendo os seus dons e o significado destes na
vida dos filhos de Deus.

— 365 —
14 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 237/1979

1. "Que sao os dons do Espirito Santo ?

1. De inicio, é preciso propor a distincáo que a Teología


costuma fazer entre dons e carismos (embora a palavra chá-
rísma em grego signifique dom).

Por carLsmas entendem-se gracas especiáis pelas quais o


Espirito Santo torna os cristáos aptos a tarefas e fungóes que
contribuem para o bem ou o servigo da comunidade: assim
seriam o dom da profecía, o das curas, o das linguas, o da
interpretagáo das linguas... Os carismas tém por vezes (nao
sempre) índole extraordinaria, como no caso de certas curas
ou da glossolalia.

Por dons compreendem-se faculdades outorgadas ao cris-


táo para seguir mais seguramente os impulsos do Espirito no
caminho da perfeicáo espiritual. Os dons e seus efeitos sao
discretos, nao chamando a atengáo do público por faganhas
portentosas.

2. Para entender melhor o que sejam os dons do Espi


rito, recorramos a urna analogía:

Quando urna crianoa nasce para a vida presente, é dotada


por Deus de tudo que é necessário á sua existencia humana:
recebe, sim, um organismo completo e urna alma portadora de
faculdades típicas do ser humano. Como se compreende, esse
conjunto ainda nao está plenamente desenvolvido quando o
bebé vem ao mundo, mas é certo que a crianca possui tudo
que constituí a pessoa humana.

Ora algo de análogo se dá na vida espiritual. Diz-nos Je


sús que renascemos da agua e do Espirito Santo pelo batismo
(cf. Jo 3,5). Este renascer importa receber urna vida nova, a
vida dos filhos de Deus, trazida pela graga santificante. Essa
vida nova tem suas faculdades próprias, que sao:

1) as virtudes infusas

a) teologais (fe, esperanga, caridade): virtudes que


nos póem em contato imediato com Deus;

b) moráis (prudencia, justiga, temperanca, forta


leza): virtudes que orientam o comportamento
do cristáo frente aos valores deste mundo;

2) os dons do Espirito Santo, «receptáculos» próprios


para captar as mogóes do Espirito Santo.

— 366 —
OS DONS DO ESPIRITO SANTO 15

Importa salientar bem a diferenga entre as virtudes infu


sas e os dons do Espirito Santo.
As virtudes infusas sao ditas infusas porque nao adquiri
das pelo homem. Sao principios de reta agáo outorgados ao
cristáo juntamente com a graga santificante, para que se com
porte nao apenas como ser racional, mas como filho de Deus,
elevado á ordem sobrenatural1. Os criterios de conduta do
cristáo sao as grandes verdades da fé ou da ordem sobrena
tural (que nem sempre coincidem com os da razáo); por isto
é que, ao renascer como filho de Deus, todo homeír recebe os
respectivos principios de conduta nova, que sao es virtudes
infusas. Destas, tres se orientam diretamente para Deus (a fé,
a esperanga e a caridade) e quatro se orientam para o reto
uso dos bens deste mundo (prudencia, justica, temperanga, for
taleza) . Quando o cristáo age mediante as virtudes infusas,
é ele mesmo quem age segundo moldes humanos, limitados,
lutando contra os obstáculos que geralmente a prática do bem
encontra; de maneira lenta e trabalhosa o cristáo cresce na
fé, na caridade, na temperanga, na fortaleza..., estando sem
pre sujeito a contradizer-se ou a cometer um ato incoerente
com tais virtudes.
É sobre este fundo de cena que se devem entender os
dons do Espirito Santo. Estes podem ser comparados a facili
dades novas ou «antenas» que nos permitem apreender rao-
Cóes do Espirito Santo em virtude das quais agimos segundo
um estilo novo, certeiro, firme, sem hesitagáo alguma e com
toda a clarividencia. Esta afirmagáo pode-se tornar mais clara
mediante algumas comparagóes:
a) Imaginemos um barco que navega a remos... Adian-
ta-se lentamente e com grande esforgo e fadiga por parte dos
remadores. Caso, porém, este barco tenha velas dobradas,
admitamos que os remadores resolvam desdobrá-las, a fim de
captar o vento que lhes é favorável. Em conseqüéncia, os maru-
jos deixaráo de remar, e o mesmo barco será movido a veloci-
dade «sobre-humana», de maneira nova e muito mais veloz do
que quando movido a remos.
Ora o «mover-se a remos» corresponde ao esforgo humano
(sempre prevenido pela graga) para progredir na prática do

i Sobrenatural nao auer dizer portentoso ou maravilhoso, mas designa


o que ultrapassa as exigencias de qualquer natureza criada,... o que ó
dado gratuitamente por Deus. É sobrenatural, portante a elevacSo do
homem á filiacáo divina ou á comunhSo de vida com o próprlo Deus.

— 367 —
16 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

bem mediante as virtudes infusas. O «deixar-se mover pelo


vento que bate ñas velas desdobradas», corresponde ao pro-
gresso provocado pela agáo direta do Espirito Santo, que move
os seus dons (= velas) em nos; progredimos entáo muito mais
rápidamente segundo um estilo novo.

b) Eis outra comparagáo: admitamos um pintor genial


que se dispóe a realizar urna obra-mestra. Para iniciar, ele
confia aos discípulos mais adiantados o trabalho de preparar a
tela, combinar as cores e esquematizar o quadro. Quando tudo
está preparado e corneja a parte mais importante da obra, o
próprio mestre traca as linhas finissimas de sua obra, reve
lando o seu genio e cristalizando a sua inspiragáo. — De ma-
neira análoga, o Espirito traga no íntimo de cada cristáo a
imagem do Cristo Jesús. Os inicios desta tarefa, Ele os realiza
mediante a nossa colaboragáo, permitindo-nos agir segundo os
nossos moldes humanos (ou mediante as virtudes infusas).
Quando, porém, se trata dos tragos mais típicos do Cristo na
alma humana, o próprio Espirito assume a tarefa de os deli
near utilizando instrumentos especialmente finos e precisos,
que sao seus dons.

Exemplificando, diremos: o homem prudente que, para a ortentacfio


de seus atos, só dispusesse de suas qualídades naturais e da virtude
infusa da prudencia, acertarla realmente, mas com grande lentidSo, depols
de varias tentativas. A prudencia humana é Insegura e tímida, mesmo
quando acería. — Ao contrario, quem age sob o influxo do dom do con-
selho, que corresponde á virtude da prudencia, descobre de manelra rá
pida, certelra e firme o quo deve fazer em cada caso.

Eis outro exemplo: quando o crlstSo se eleva, pela luz da fé, ao


conheclmento de Deus, ele o faz de maneira imperfelta e laboriosa, recor-
rendo a Imagens que sao, ao mesmo tempo, claras e obscuras. — Dado,
porém, que o crlstSo seja movido pelo Espirito mediante os dons de
sabedoria e inteligencia, ele contempla Deus e seu plano satvifico nutna
lúcida concatenac.no de Idélas em poucos instantes e com grande sabor
espiritual (em vez dos esforcos exigidos pela virtude da fé).

As normas das virtudes sao diferentes das normas dos


dons. Quem age sob o influxo das virtudes, segué a norma do
homem iluminado pela luz de Deus. Mas quem age sob o
influxo dos dons do Espirito, segué a norma do próprio Deus
participada ao homem.

3. Note-se que os dons do Espirito nao sao privilegio dos.


santos. Todos os cristáos os recebem no Batismo. Nem sao
necessários apenas para as grandes obras, mas tornam-se indis-
pensáveis la santificagáo do cristáo mesmo na vida cotidiana.

— 368 —
OS DONS DO ESPIRITO SANTO 17

O cristáo pode permitir cada vez mais a agáo do Espirito


Santo em sua vida mediante os dons, caso se dedique especial
mente ao cultivo das virtudes (principalmente da caridade) e
se torne mais e mais dócil as inspiracóes do Espirito Santo.
A prática do amor é importante, pois é o amor que nos comu
nica particular afinidade com Deus, adaptando-nos ao modo
de agir do próprio Deus.
Procuremos agora penetrar no sentido próprio de cada um
dos dons do Espirito.

2. Os dons em particular
A Tradigáo crista costuma enunciar sete dons do Espirito,
baseando-se no texto de Is 11,1-3 traduzido para o grego na
versáo dos LXX:
"iBrotará urna vara do tronco de Jessé
E um rebento germinará das suas raizes.
3E repousará sobre ele o espirito do Senhor:
Espirito de sabedoria e entendimento,
Conselho e fortaleza,
Ciencia e temor de Deus,
■ipiedade..."

O texto original hebraico, em lugar de piedade, dá a ler:


«Sua inspiragáo estará no temor do Senhor». Enumerando seis
ou sete dons do Espirito, o texto bíblico nao tenciona esgotar
a realidado dos mesmos: estes sao tantos quantos se fazem
necessários para que o Espirito leve o cristáo á perfeigáo defi
nitiva. Os sete dons enumerados pelo texto dos LXX e pela
Tradigáo vém a ser, sem dúvida, os principáis. Distingamo-los
de acordó com a faculdade humana em que cada qual se sitúa:
Intelecto: ciencia, entendimento, sabedoria, conselho.
Vontade: piedade.
Apetite irascível: fortaleza.
Apetite de cobicíi: temor de Deus.
Passemos agora á análise de cada qual de per si.

2.1. Ciencia

A ciencia humana perscruta o universo e seus fenómenos,


procurando as causas imediatas destes e concatenando-as entre
si para ter urna explicagáo mais ou menos clara da realidade.

— 369 —
18 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

Ora o dom da ciencia, embora nao defina a natureza e as


propriedades físicas ou químicas de cada criatura, faz que o
cristáo penetre na realidade deste mundo sob a luz de Deus;
vé cada criatura como reflexo da sabedoria do Criador e como
aceno ao Supremo Bem.

Mais: o dom da ciencia leva o homem a compreender, de


um lado, o vestigio de Deus que há em cada ser criado, e, de
outro lado, a exigüidade ou insuficiencia de cada qual.
Vestigio de Deus... Sao Francisco de Assis soube ouvir
e proclamar o canto das criaturas ao Senhor. As flores, as
aves, a agua, o fogo, o sol... tudo lhe falava de Deus; tudo
lhe era ocasiáo de contemplar e amar a Deus.
Exigüidade... Toda criatura, por mais bela que seja, é
sempre limitada e insuficiente para o coragáo humano. Este
foi feito para o Bem Infinito e só neste pode repousar. Perce-
bendo isto após urna vida leviana, muitos homens e mulhe-
res se converteram radicalmente a Deus. Tal foi o caso de
S. Francisco Borja (f 1572), que, ao contemplar o cadáver da
rainha Isabel, exclamou: «Nao voltarei a servir a um senhor
que possa morrer!» Tal foi outrossim o caso de S. Silvestre
(t 1267)... Estes cometeram a «loucura» de tudo deixar a
fim de possuir mais plenamente urna só coisa: o Reino de Deus
ou a presenga do próprio Deus.
O dom da ciencia ensina também a reconhecer melhor o
significado do sofrimento e das humilhagóes; estes «contra-
-valores», no plano de Deus, tém o valor de escola que liberta
e purifica o homem. Configuram o cristáo a Jesús Cristo,
outorgando-lhe um penhor de participagáo na gloria do pró
prio Senhor Jesús. Se nao fora o sofrimento, muitos e muitos
homens nao sairiam de sua estatura ana e mesquinha,...
nunca atingiriam a plenitude do seu desenvolvimento espiritual.
Sao estes alguns dos frutos do dom da ciencia.

2.2. Entcndimento ou inteligencia

A palavra «inteligencia» é, segundo alguns, derivada de


intellegere = intuslegere, ler dentro, penetrar a fundo.

Na ordem natural, entendemos (intelligimus) quando cap


tamos o ámago de alguma realidade. Na linha da fé, parale
lamente entender é penetrar, ler no íntimo das verdades reve
ladas por Deus, é ter a intuigáo do seu significado profundo.

— 370 —
OS DONS DO ESPIRITO SANTO 19

Pelo dotn do entendimiento, o cristáo contempla com mais


lucidez o misterio da SS. Trindade, o amor do Redentor para
com os homens, o significado da S. Eucaristía na vida crista...

A penetracáo outorgada pelo dom da inteligencia (ou do


entendimento) difere daquela que o teólogo obtém mediante o
estudo; esta é relativamente penosa e lenta; além do que, pode
ser alcancada por quem tenha acume intelectual, mesmo que
nao possua grande amor. Ao contrario, o dom da inteligencia
é eficaz mesmo sem estudo; é dado aos pequeninos e ignoran
tes, desde que tenham grande amor a Deus.

Para ilustrá-lo, conta-se que um irmáo leigo franciscano


disse certa vez a S. Boaventura (t 1274), o Doutor Seráfico:
«Felizes vos, homens doutos, que podéis amar a Deus muito
mais do que nos, os ignorantes!» Respondeu-Ihe Boaventura:
«Nao é a doutrina alcangada nos livros que mede o amor; urna
pobre velha ignorante pode amar a Deus mais do que um
grande teólogo, se estiver unida a Deus». O irmáo compreen-
deu a licáo e saiu gritando pelas rúas: «Velhinha ignorante,
vocé pode amar a Deus mais do que o mestre Frei Boaven
tura!»

O irmáo dizia a verdade. Na ordem natural, é compreen-


sivel que o amor brote do conhecimento. Na ordem sobrena
tural, porém, pode acontecer o inverso: é o amor que abre os
olhos do conhecimento. Os que mais amam a Deus, sao os que
mais profundamente dissertam sobre Ele.

Como frutos do dom do entendimento, podemos enunciar


as intuigóes das verdades da fé que sao concedidas a muitos
cristáos durante o seu retiro espiritual ou no decurso de urna
leitura inspirada pelo amor a Deus. O «renascer da agua e do
Espirito», a imagem da videira e dos ramos, o «seguir a
Cristo»... tomam entáo clareza nova, apta a transformar a
vida do cristáo.

O dom do entendimento manifesta também o horror do


pecado o a vastidáo da miseria humana. Por mais paradoxal
que paroca, é preciso observar que os santos, quanlo mais se
aproximaram de Deus (ou quanto mais foram santos), mais
tiveram consciénda do seu pecado ou da sua distancia daquele
que é tres vezes santo.

Em suma, o dom do entendimento faz ver melhor a san-


tidade de Deus, a infinidade do seu amor, o significado dos

— 371 —
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

seus apelos e também... a pobreza, nao raro mesquinha, da


criatura que se compraz em si mesma em vez de aderir cora
josamente ao Criador.

2.3. O dom da sobedoría

Na ordem natural do conhecimento, a inteligencia humana


nao se contenta com nogóes isoladas, mas procura reunir suas
concepgóes mima síntese sistemática, de modo a concatená-las
numa visáo harmoniosa. A mente humana procura atingir os
primeiros principios e as causas supremas de toda a realidade
que ela conhece.
Ora a mesma sistematizagáo harmoniosa ocorre também
na ordem sobrenatural. O dom da ciencia e o do entendimento
já proporcionam uma penetragáo profunda no significado de
cada criatura e de cada verdade revelada respectivamente; ofe-
recem também uma certa sintese dos objetos contemplados,
relacionando-os com o Supremo Senhor, que é Deus. Todavía
o dom que, por excelencia, efetua essa sintese harmoniosa e
unitaria, é o da sabedoria. Esta abrange todos os conhecimen-
tos do cristáo e os póe diretamente sob a luz de Deus, mos
trando a grandeza do plano do Criador e a insondabilidade da
vida daquele que é o Alfa e o omega de toda a criagáo.
Mais: o dom da sabedoria nao realiza a sintese dos conhe-
cimentos da fé em termos meramente intelectuais. Ele ofe-
rece um conhecimento sápido ou saboroso da verdade1...
Saboroso ou deleitoso, porque se deriva da experiencia do pró-
prio Deus feita pelo cristáo ou da afinidade que o cristáo adquire
com o Senhor pelo fato de mais a mais amar a Deus. Uma
comparagáo ajudará a compreender tal proposigáo: para conhe-
cer o sabor de uma laranja, posso consultar, intelectual e cien
tíficamente, os tratados de Botánica; terei assim uma nojao
aproximada do que seja esse sabor. Mas a melhor via para
conseguir o objetivo será, sem dúvida, a experiencia da propna
laranja que se faz pelo paladar. Os resultados do estudo mera
mente intelectual sao fríos e abstratos, ao passo que as vanta-
gens da experiencia sao concretas e saborosas.
Ora, na verdade, os dons da ciencia e do entendimento
fazem-nos conhecer principalmente por via de amor ou de afi
nidade com Deus. Todavia é o dom da sabedoria que, por

»A palavra sabedoria vem de saber, derivado do verbo latino sapero,


que slgnillea "ter gosto de ..." — O vocábulo portugués sabor se o»l-
gina do latino sapor, que é da mesma raiz que sapero.

— 372 —
OS DONS DO ESPIRITO SANTO 21

excelencia, resulta dessa conaturalidade ou familiaridade com


o Senhor. Ele se exerce na proporgáo da íntima uniáo que o
cristáo tenha com o Senhor Deus. «O dom da sabedoria faz-
-nos ver com os olhos do Bem-amado», dizia um grande mís
tico; a partir da excelsa atalaia que é o próprio Deus, contem
plamos todas as coisas quando usamos o dom da sabedoria.
Estas verdades dáo a ver quanto nesta vida importa o
amor de Deus. É este que propicia o conhecimento mais pers
picaz e saboroso do mesmo Deus (o que nao quer dizer que
se possa menosprezar o estudo, pois, se o Criador nos deu a
inteligencia, foi para que a apliquemos á verdade por excelen
cia, que é Deus). Alias, observam muito a propósito os teó
logos: veremos a Deus face-a-face por toda a eternidade na
proporgáo do amor com que o tivermos amado nesta vida. O
grau do nosso amor, na hora da morte, será o grau da nossa
visáo de Deus na vida eterna ou por todo o sempre. É por isto
que se diz que o amor é o vínculo ou o remate da perfeigáo
(cf. Cl 3,14). «No ocaso de sua vida, cada um de nos será
julgado na base do amor», diz S. Joáo da Cruz.

2.4. Conselho

Afirmam os teólogos que Deus nao deixa faltar ás suas


criaturas o que lhes é necessário, nem é propenso a dons
supérfluos, pois Deus tudo faz com número, peso e medida
(cf. Sb 11,20). Em tudo resplandece a sua sabedoria. Por isto
é que Deus é providente, ou seja, Ele providencia os meios
para que cada criatura chegue retamente ao seu fim devido.
Ora acontece que, para realizarmos determinada atividade,
exercemos um processo mental que tem por objetivo examinar
cuidadosamente nao só a conveniencia dessa atividade, mas
também todas as circunstancias em que ela se deve desenrolar.
Muitas vezes esse processo se efetua sem que dele tomemos
plena consciéncia. Quando, porém, nos vemos diante de urna
tarefa rara ou mais exigente do que as de rotina, o processo
deliberativo é mais intenso e, por isto, se torna mais cons
ciente; a mente se esforca por ver claro e fazer a opcáo mais
adequada, sem que, porém, o consiga de imediato. Nao raro
é necessário recorrer ao conselho de outra pessoa mais expe
rimentada.
É por efeito da virtude (natural e infusa) da prudencia
que cada cristáo delibera sobre o que deve e nao deve fazer.
É a prudencia que avalia os meios em vista do respectivo fim.

— 373 —
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

Pois bem. Em correspondencia á virtude da prudencia,


existe um dom do Espirito Santo, chamado «dom do conse
lho». Este permite ao cristáo tomar as decisóes oportunas sem a
fadiga e a inseguranga que muitas vezes caracterizan! as deli-
beracóes da virtude da prudencia. Esta por si nao basta para
que o cristáo se comporte ü altura da sua vocagáo de filho de
Deus,... vocagáo que exige simultáneamente grande cautela
ou circunspecgáo e extrema audacia ou coragem. Nem sempre
a virtude humana entrevé nítidamente o modo de proceder
entre polos antitéticos. A criatura, limitada como é, nem sem
pre consegue conhecer adequadamente o momento presente,
menos aínda é apta a prever o futuro e — ainda — senté difi-
culdade em aplicar os conhecimentos do passado á compreen-
sáo do presente e ao planejamento do futuro. É preciso, pois,
que o Espirito Santo, em seu divino estilo, lhe inspire a reta,
maneira de agir no momento oportuno e exatamente nos ter
mos devidos.

Assim o dom do conselho aparece como um regente de


orquestra que coordena divinamente todas as facilidades do-
cristáo o as incita a urna atividade harmoniosa e equilibrada.
Imagine-se com que circunspecgáo (cautela e audacia) um
maestro rege os múltiplos instrumentos de sua orquestra: assi-
nala a cada qual o momento precioso em que deve entrar e os
matizes que deve dar á sua melodia. Assim faz o Espirito me
diante o dom do conselho em cada cristáo.

Diz a Escritura que há um tempo exato para cada ativi


dade1; fora desse momento preciso, o que é oportuno pode
tornar-se inoportuno. Ora nem sempre é fácil discernir se c

iEis o texto de Ecl 3,1-8:


"Todas as coisas tém o seu tempo, e tudo o que existe debalxo dos
céus tem a sua hora.
Há tempo para nascer, e tempo para morrer.
Tempo para plantar, e tempo para arrancar o que se plantou.
Tempo para matar, e tempo para dar vida.
Tempo para destruir, e tempo para edificar.
Tempo para chorar, e tempo para Mr.
Tempo para se afligir, e tempo para dancar.
Tempo para espalhar pedras, e tempo para as ajuntar.
Tempo para dar abracos, e tempo para se afastar deles.
Tempo para adquirir, e tempo para perder.
Tempo para guardar, e tempo para allrar fora.
Tempo para rasgar, e tempo para coser.
Tempo para calar, e tempo para falar.
Tempo para amar, e tempo para odiar.
Tempo para a guerra, e tempo para a paz".

— 374 —
OS DONS DO ESPIRITO SANTO 23

oportuno falar ou calar, ficar ou partir, dizer Sim ou dizer Nafa.


Nem as pessoas prudentes, após muito refietir, conseguem
definir com seguranca o que convém fazer. Ora é precisa
mente para superar tal dificuldade que o Espirito move o cris-
táo mediante o dom do conselho.

2.5. Piedade

Todo homem é chamado a viver em sociedade, relacio-


nando-se com Deus e com os seus semelhantes. Requer-se que
esse relacionamento seja reto ou justo. Por isto a virtude da
justiga rege as relagóes de cada ser humano, assumindo diver
sos nomes de acordó com o tipo de relacionamento que ela deve
orientar: é justiga propriamente dita, sempre que nos relacio
namos com aqueles a quem temos urna divida rigorosa; a jus-
tica se torna religiao desde que nos voltemos para Deus; é
piedade, se nos relacionamos com nossos país, nossa familia ou
nossa patria; é gratidao, em relagáo aos benfeitores.
Ora há um dom do Espirito que orienta divinamente todas
as relacóes que temos com Deus e com o próximo, tornando-as
mais profundas e perfeitas: é precisamente o dom da piedade.
Sao Paulo implícitamente alude a este dom quando escreve:
«Recebestes o espirito de adogáo filial, pelo qual bradamos:
'Aba, ó Pai'» (Rm 8,15). O Espirito Santo, mediante o dom da
picdadc, nos faz, como filhos adotivos, reconhecer Deus como
Pai.
E, pelo fato de reconhecermos Deus como Pai, considera
mos as criaturas com olhar novo, inspirado pelo mesmo dom
da piedade.
Examinemos de mais perto os efeitos do dom da piedade.
Frente a Deus ele nos leva a superar as relagóes de «dar
e receber» que caracterizam a religiosidade natural; leva a nao
considerar tanto os beneficios recetados da parte de Deus, mas,
muito mais, o fato de que Deus é sumamente santo e sabio:
«Nos vos damos gragas por vossa grande gloria», diz a Igreja
no hiño da Liturgia eucaristica; é, sim, próprio de um filho-
olhar a honra e a gloria de seu pai, sem levar em conta os
beneficios que ele possa receber do mesmo. É o dom da pie
dade que leva os santos a desejar, ácima de tudo, a honra e a
gloria de Deus «... para que em tudo seja Deus glorificado»,
diz Sao Bento, ao passo que S. Inácio de Loiola exclama:
«... para a maior gloria de Deus». É também o dom da pie
dade que desperta no cristáo viva e inabalável confianca em

— 375 —
24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

Deus Pai,... confianga e entrega das quais dá testemunha


S. Teresinha de Lisieux na sua doutrina sobre a infancia espi
ritual.
O dom de piedade nao incita os cristáos apenas a cum-
prir seus deveres para com Deus de maneira filial, mas leva-os
também a experimentar interesse fraterno para com todos os
seus semelhantes. Típico exemplo deste sentimento encontra-se
na vida de S. Francisco de Assis: quando este, certo dia, so-
nhando com as glorias de tun cavaleiro medieval, avistou um
leproso, sentiu-se impelido a superar qualquer repugnancia e
a dar-lhe o ósculo que exprimía a fraternidade de todos os
homens entre si.
O dom de piedade, tornando o cristáo consciente de sua
insergáo na familia dos filhos de Deus, move-o a ultrapassar
as categorías do direito e do dever, a fim de testemunhar urna
generosidade que nao regateia nem mede esforgos desde que
sirva aos irmáos. É o que manifesta o Apostólo ao escrever:
«Quanto a mim, de bom grado me despenderei, e me despen-
derei todo inteíro, em vosso favor» (2Cor 12,15).

2.6. Fortaleza
A fidelidade á vocacáo crista depara-se com obstáculos
numerosos, alguns provenientes de fora do cristáo; outros, ao
contrario, do seu íntimo ou das suas paixóes. Por isto diz o
Senhor que «o Reino dos céus sofre violencia dos que querem
entrar, e violentos se apoderam dele» (Mt 11,12).
Ora, em vista da necessidade de coragem e magnanimi-
dade que incumbe ao cristáo, o Espirito lhe dá o dom da for
taleza. Esta nem sempre consiste em realizar faganhas yul-
tosas e admiradas pelo público, mas nao raro implica pacien
cia, perseveranca, tenacidade, magnanimidade silenciosas...
Pelo dom da fortaleza, o Espirito impele o cristáo nao apenas
áquilo que as forcas humanas podem alcangar, mas também
áquilo que a forga de Deus atinge. É essa forga de Deus que
pode transformar os obstáculos em meios; é ela que assegura
tranqüilidade e paz mesmo ñas horas mais tormentosas. Foi
ela que inspirou a S. Francisco de Assis palavras táo signifi
cativas quanto estas: «Irmáo Leáo, a perfeita alegría consiste
em padecer por Cristo, que tanto quis padecer por nos».

2.7. Temor de Deus


Para entender o significado deste dom, distingamos diver
sos tipos de temor: a) o temor covarde ou da covardia; b) o

— 376 —
OS DONS DO ESPIRITO SANTO 25

temor servil ou do castigo; c) o temor filial. Este consiste na


repugnancia que o cristáo experimenta diante da perspectiva
de poder-se afastar de Deus; brota das próprias entranhas do
amor. Nao se concebe o amor sem este tipo de temor.
Com outras palavras: as virtudes afastam, sim, o cristáo
do pecado, ajudando-o a vencer as tentagóes. Isto, porém,
acontece através de lutas, hesitagóes e, nao raro, deficiencias.
Ora pelo dom do temor de Deus a Vitoria é rápida e perfeita,
pois entáo é o Espirito que move o cristáo a dizer Nao á
tentagáo.
O dom do temor de Deus se prende inseparavelmente á
virtude da humildade. Esta nos faz conhecer nossa miseria;
impede a presungáo e a vá gloria, e assim nos torna conscien
tes de que podemos ofender a Deus; daí surge o santo temor
de Deus. O mesmo dom também se liga á virtude da tempe-
ranga; esta modera a concupiscencia e os impulsos desorde
nados do coragáo; com ela converge o temor de Deus, que, por
impulso de ordem superior, modera os apetites que poderiam
ofender a Deus.
Os santos deram provas sensíveis de santo temor de Deus.
Tenha-se em vista S. Luís ae Gonzaga, que, conforme se narra,
derramou copiosas lágrimas certa vez quando teve que con-
fessar suas faltas,... faltas que, na verdade, difícilmente pode
riam ser tidas como pecados. Para o santo, essas pequeninas
faltas eram sinais do perigo de poder um dia afastar-se de
Deus. Ora, para quem ama, qualquer perigo deste tipo tem
importancia.
Eis, em grandes linhas, o significado dos dons do Espirito
Santo na vida crista. Sao elementos valiosos para o progresso
interior, elementos que o Espirito mais e mais utiliza, se o
cristáo procura amar realmente a Deus e ao próximo e jamáis
dizcr um Nao consciente as inspiragóes da graga.

Bibliografía:
FALVO S., A hora do Espí'llo Santo. Ed. Paulinas, SSo Paulo 1975.
KONG H., BRAND P. e outros, A experiencia do Espirito Santo. Ed.

,S H. G". e outros, O ESPIRITO SANTO. Ed. Vozes, Petró-


MARTINEZ, L. M., Os dons do Espirito Santo. Ed. Paulinas, SSo
Paulo 1976
ídem, Os frutos do Espirito Santo. Ed. Paulinas, SSo Paulo 1976.
ídem, A tel do Espirito: as hem-aventurancas. Ed. Paulinas, SSo
Paulo 1976.
SCHEEBEN. M. J., O Espirito Santo. Ed. Loyola, Sao Paulo 1977.
SMET, W., Eu faco um mundo novo. Ed. Loyola, Sao Paulo 1978.

— 377 —
Sensacional!

profecías de ¡mínente fim do mundo

Em 8Íntese: O presente artigo refero onze revelagOes ou profecías


concernentes ao "próximo" fim do mundo. Transmltem noticias minuciosas
e espantosas a respelto de calamidades que estariam para se desencadear
em breva sobre o género humano.

A propósito de tais mensagens, observe-se:

1) É válida e altamente Importante a exortacSo á oracSo e á peni


tencia. Esta merece dócil atencSo da parte dos cristSos.

2) Quanto ao anuncio de datas e calamidades referentes ao fim do


mundo, deve-se notar que contraria ao teor e ao estilo da Revelacfio bí
blica. Esta é multo sobria neste particular; Jesús recusou-se explícita
mente a revelar a data do jufzo final (cf. Me 13,32).

3) Sobro Fátima e seu segredo, pouco se pode dizer de seguro,


pols as comunlcagóes feltas por Ir. Lucia distam 25 anos das aparicSes da
Vlrgem; os estudiosos julgam difícil distinguir o que nessas mensagens de
Ir. Lucia provenha propiamente de María SS. e o que haja sido acrescen-
tado pela vidente em seu fervor.

4) As noticias de imlnente fim do mundo corresponden!, de certo


modo, a um anseio psicológico e espontáneo dos homens contemporáneos.
Multas pessoas, verificando que as coisas vao mal, julgam que "so Deus
pode dar um jeito". Na verdade, porém, dlsse o Senhor: "Tempo vira em
que desojareis ver o dia do Fllho do Homem, e nSo o veréis" (Le 17, 22).
Estas palavras prevéem tempos diffeeis para os cristios, sem que todavia
o Senhor intervenha drásticamente na historia para alivlar-lhes a sorte.

Por conseguinte, as "profecías" em pauta merecem considerado tSo


somante na medida em que corroborara a seguinte mensagem destituida de
data e descrlcóes minuciosas: "Oral e fazei penitencia pelos vossos
pecados I"

Comentario: Nao sao raras as vozes que se levantam hoje


em dia para predizer a proximidade do fim do mundo. Descre-
vem com minucias os tragos catastróficos que deveráo carac
terizar a consumagáo da historia e quais os meios de escapar
as grandes calamidades que entáo se desencadearáo sobre os
homens. Para fazer valer a sua autoridade, referem-se a
visóes e revelacóes do Senhor ou da Virgem SS. a tal ou tal
vidente.

— 378 —
PROFECÍAS DE FIM DO MUNDO 27

Em conseqüéncia, muitas pessoas indagam, perplexas, a


respeito do significado e do peso que possam ter tais predicóes.
É o que vamos examinar ñas páginas subseqüentes: exporemos
prímeiramente o conteúdo de algumas das profecías mais em
voga; depois refletiremos sobre as mesmas á luz de criterios
teológicos.

1. Que dizem as profecías?

Recensearemos onze profecías dentre as que nos tém che-


gado as máos a partir das mais diversas procedenciasl.

1.1. No ano 2000

Colhemos de folhas datilografadas a seguinte «revelagáo»


de um católico praticante:

"Consclentlze-se o leitor e medite um pouco sobre a historia da


humanldade e verifique desde Abraio até Moisés, ou seja, desde 2000
até 1570, antes da vlnda de Jesús Cristo. De 1570 para 2000 s§o exata-
mente 430 anos, islo é, quando Jesús Cristo velo á térra pela prlmelra
vez. (slcl).

Ao verlflcarmos que de 1570 para 1979 sfio 409 anos, facamos a dife
rente entre 430 e 409; o que obteremos? exatamente 20 anos e, para
malor surprosa, vejamos a diferenca de 1979 para 2000 — 21 anos, Isto é,
em 2000, quando poderá realizarse a segunda vlnda de Nosso Senhor Jesús
Cristo á térra para julgar os vivos e os morios, conforme está escrito na
Oracáo da Proflssao de Fé rezada pelos católicos do mundo Inteiro: 'Crelo
em um só Deus, Pal todo-poderoso, Criador do céu e da térra... Ressus-
citou ao lerceiro dia, conforme as Escrituras e subiu aos céus, onde está
sentado á dlreita do Pal E DE NOVO HA DE VIR EM SUA GLORIA, PARA
JULGAR OS VIVOS E OS MORTOS. E O SEU REINO NAO TERA FIM'".

A propósito desejamos observar:

A cronología de Israel mais apurada e recente assinala,


como época de Abraáo, o século XVIII a.C. (em cerca de 1850
terá Abraáo chegado a Canaá; cf. Gn 12); a data do Éxodo e
da obra de Moisés é o ano de 1250 aproximadamente. Diante
desta computacao, vé-se que já nao tém sentido os cálculos da
«profecía» atrás citada; desmoronan! por completo.

Alias, há diversas vias para predizer o fim do mundo em


2000, das quais destacamos aínda a seguinte: aos seis dias da

JNáo nos será possfvel identificar com preclsáo as fontes que


aduzimos, porque recebemos tais noticias em folhas policoplada3 que
nem sempre citam com a devida clareza o documentarlo em causa.

— 379 —
28 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 237/1979

criacáo devem corresponder seis milenios da historia da huma-


nidade, visto que mil anos dos homens equivalem a um dia
para Deus (cf. 2Pd 3,8). Ora, dizem, Adáo foi criado 4000
anos antes de Cristo. Após Cristo estáo para encerrar-se dois
milenios; era 2000 terminará o sexto milenio da historia da
humanidade. Donde se depreende que o mundo há de acabar
entáo, para que o género humano entre no grande repouso do
Senhor ou no seu sétimo dia.

Ora também esta profecia é falsa a mais de um titulo:

— a seccáo de Gn l,l-2,4a nao tenciona indicar o número


de dias ou de eras em que haja sido criado o mundo, mas tem
em mira aludir á semana de trabalho do homem a fim de
incutir o repouso do sétimo dia, como se este tivesse sido
observado pelo próprio Deus;

nao se pode dizer que o género humano tenha surgido


sobre a térra 4000 anos antes de Cristo. A ciencia contradiz
frontalmente a esta suposigáo.

Passemos agora a outra profecia:

1.2. Trevas, trovoadas c luz...

A estigmatizada Marie Julie Jahenni (Département Loire,


Franga) terá Jesús manifestado o seguinte:

"Dou-vos um sinal: eu virel como um trovSo terrlvel sobre este


mundo pecaminoso, numa nolte de frió Invernó e nessa nolte t6o (ría um
vento quente soprará, seguido de chuva de pedras e de relámpagos, que
se preclpitarño sobre o povo, sobre este povo que nao quer acreditar
em mim...

O ar será envenenado por gases venenosos, enxofre e urna fumaca


que mata. Enviará urna tempestado que acabará com todas as casas que
a sabedoria dos homens construlu. Nessa noite vire! para acabar com
as cidades do pecado. Cal rao os planos das ambicSes humanas. Ai de vos,
chelos de podrldSo, que tendes a coragem de me insultar I

Enquanto o meu Anjo da Morte com a espada de rnlnha justica arrasar


os Infléis, procurará vingar-se, caira sobre os justos, mas eu vos quero
dar um slnal que Indica o principio destas calamidades.

Numa nolte de invernó, quando ouvirdes que no mundo rolam as


trovoadas, de forma que as montanhas tremem, fechai as portas e janelas
e coloca! panos ñas brechas, e nSo olheis para os mais horrivels horrores
que jamáis houve. Deus limpará a térra. E os que restaren» serSo apenas
urna terca parte da humanidade, o rebanho que se conservou fiel. Reunl-

— 380 —
PROFECÍAS DE FIM DO MUNDO 29

•vos dlante do meu Cruclflxo, chamal vossos protetores: Süo Miguel, Sfio
José, o Anjo da Guarda, colocal-vos debalxo da protecSo da minha MSe
e nSo tenhals medo. Escutal novamenle o que disse: acendel velas bentas
e rezal o terco, porque o terco é a espada mals aguda da minha M9e.
Tende perseverarla, nSo desaniméis. Sfio tres días de trevas. lApós estes
tres días surgirá a paz para vos, e o sol iluminará novamente e aquecerá
a térra. Será urna destruicSo enorme, só ficarSo as casas onde estavam
os meus. Eu, vosso Deus, terei llmpado tudo. Urna terca parte da humani-
dade se salvará. Os que flcarem, deverSo agradecer á SS. Trlndade pela
protec&o concedida e hio de louvar a Deus. Haverá um só rebanho, um
só pastor, urna só Igreja.

... Cair&o dois juízes sobre a térra. Um caira da térra: guerras,


revolucees e outras desgracas. Outro Juiz caira do céu sobre o mundo
Inteiro: urna escuridfio terrlvel, tres días e tres noites. Nessa escurldfio será
Impossível ver alguma coisa. Essa escurldSo será acompanhada de pesti
lencia dos ares. Depois do terceiro dfa as ondas do mar se levantarao a
cem metros de altura e lavaráo a pestilencia. Só velas bentas ilumlnaráo.
A ben;áo do padre é a bénjáo de Jesús".

Por ora, abstemo-nos de comentarios.

1.3. Trevas e morte

O «Almanaque Ilustrado das Familias Católicas Brasilei-


ras» á p. 85 (sem data nem número de edicto ñas folhas utili
zadas) publicou a seguintc noticia:

"Chorando, a Santlssima Virgem anuncia 70 horas de trevas, desapa-


recendo 75% da humanldade.

Oplniáo do Censor Diocesano, C&nego Francisco Manfredi: 'NSo


há nada contra a fé e a Moral'.

O dltame diocesano vem com data de 12 de junho de 1966 e assi-


natura do bispo de San Juan Dom Andino Rodríguez y Olmos".

Segundo parece, a revelaeáo em pauta foi dirigida a urna


Religiosa estigmatizada na Italia, na sexta-feira santa 16 de
abril de 1954.

Eis outros trechos da mensagem transmitida a essa Irma


pela Virgem SS.:

"Os homens vlvem obstinados nos seus pecados. Está multo próxima
a Ira de Deus. Grandes calamidades, revoluc.6es sangrentas, (uracSes terrí-
vels logo virSo por sobre a térra e os ríos e os mares transbordarSo.

Proclama, grita em voz alta, até que os sacerdotes de Deus oucam


a minha voz para que avisem ¿ humanldade que o castigo está multo perto

— 381 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

e que, se os homens nSo se voltarem para Oeus com a oracSo e a peni*


ténela, o mundo será lancado numa nova e terrlbillssima guerra. As armas
mais mortíferas destruIrSo os povos e as nacSes.

Nuvens como relámpagos penetrantes de fogo do céu e urna tem


pestada de fogo calrSo sobre a térra. Este castigo, Jamáis visto na historia
da humanldade, durará setenta horas. O3 ateus seráo confundidos e ani
quilados. Muitos se perderáo, porque se detém na obstlnacáo dos seus
pecados. Ver-se-á entáo o poder da luz sobre a Ierra. NSo fique silenciosa
porque se aproxlmam as horas das trevas e do abandono. Incllno-me sobre
o mundo, tendo em suspensáo a justiga de Deus. De outra forma, estas
coisas já teriam acontecido. Oragdes e penitencias sSo necessárias, porque
os homens devem voltar-se para Deus e para o meu CoracSo Imaculado.
Eu que sou a medianeira entre Deus e os homens e, por este meló, parte
do mundo será salva. Proclama, bradando estas coisas a todos, como o
mesmo eco de minha voz. Anuncia porque Isto ajudará a salvar multas
almas e impedir multa destruIcSo na Igreja e no mundo".

Eis outra profecía:

1.4. Unía aparisáo: haverá pragas e guerras

A revista franciscana «Eco Seráfico», de abril de 1947,


publioou um artigo de Frei Faustino Wessoly O.F.M., que se
referia as aparcóos de Heede (Alemanha), divulgadas pelo
jornal «Das Neue Volk» de 15/08/1946.

Conforme Frei Faustino, a Santa Máe de Deus em Heede


apareccu por cem vezcs a meninas em idade escolar, man
dando, através das mesmas, mensagens ao Papa. Eis o depoi-
mento de Frei Faustino:

"Eu me encontrava em Alttotlng, célebre santuario e lugar de pere-


grinaqSo da Bavlera. Num serm9o dominical, no tempo da Quaresma, o
vigárlo Pe. José Engelhart disse o segulnte: 'Urna noticia digna de fá nos
vem do Norte da Alemanha: em Heede, atdela célebre pelas aparic5es de
Nossa Senhora, aparece agora Nosso Senhor em pessoa a urna das quatro
jovens que vlram Nossa Senhora. E Isto se verifica há varios meses1. O
Revmo. Vigárlo de Alttotlng, homem prudente, contlnuou asslm : 'Eu me
informe) minuciosamente a respeito dessas aparicSes no próprlo lugar, e,
só depois de me ter convencido da veracldade dos fatos, tome) a resolu-
(So, como imposta pela coincidencia, de publica-tos'.

O bispo de Osnabruck — contlnuou o vigárlo —, ao receber noticias


das apartides, enviou ao lugar dols dos seus sacerdotes conhecldos como
contrarios e críticos em acreditar semelhantes noticias, como vigárlo e
coadjutor. Foram incumbidos de Investigar minuciosamente e relatar. E os
resultados? Eu mesmo recebl urna carta do vigárlo de Heede, na qual ele
me escreve: 'Temos em máo testemunhos irrefutávels da veracidade das
aparlcóes de Nosso Senhor'. Ambos, vigárlo e coadjutor, estSo portanto
convencidos (considerando sua prlmeira incredulidade em materia de

— 382 —
profecías de fim do mundo 31

aparicSes) da que as apartases em Heede sSo urna realldade. E qual o


conteúdo das comunlcacóes de Nosso Senhor? Eis o que diz:

Os homens nSo ouvlram mlnha M9e, quando Ihes apareceu em Fátlma,


recomendando que flzessem penitencia. Na última hora venho eu mesmo
para prevenir e exortar a humanldade. Os tempos sSo multo serios... Os
homens devem fazer penitencia, afastar-se de todo o coracSo dos seus
pecados, devem rezar, e rezar muito, a flm de que se aplaque a Ira de
Deus. Particularmente se deve rezar multo o Rosario. Esta oracSo é multo
poderosa aos olhos de Deus. Os divertlmentos e conversares devem ser
restringidos.

Quando em 21 de outubro de 1945 estava por reallzar-se em Heede


urna sessSo de baile, Nosso Senhor comunicou a Greta Gansfert, agra
ciada vidente, o seguinte recado: 'Dize ao pároco que eu ordeno que
nSo se deve realizar o baile. O vigário tem que publicar na igreja. Ai dos
país que, nlo obstante, mandarem para lá as suas filhas I TerSo que
prestar um dia severísslmas coritas'.

O Pe. Vigário publicou esta ordem de Nosso Senhor na Igreja e o


resultado foi que nlnguém se atreveu a ir aquele baile. Este, portento, nSo
se realizou, apesar de todas as preparares feltas. Para o futuro, nln
guém mais teve a ousadia de realizar nessa paróquia qualquer baile.
N. Senhor havia dito também: 'Eu quero que Heede seja urna paróquia
modelar. Todos os abusos deverSo ser abolidos e os habitantes devem
dar bons exemplos aos peregrinos'.

Diz Freí Wessoly: 'Repetidas vezes Deus nos tem prevenido, por
meló de um santo e de sua própria mié, que flzéssemos penitencia. Pols
nos aguardam terrfveis provacSes em tempo multo próximo. Nlsto se en-
quadram as profecías dos tempos passados e modernos. Grande parte
desses terriveis aconteclmentos já se realizou, mas o plor está para vir.
O que foi que Nosso Senhor revelou á bem-aventurada Ana Taigi ? — 'Pra-
gas terrestres vlráo primeiro; essas serSo terriveis, mas seráo abreviadas
e mitigadas pela penitencia e oracfio de muitos milhSes de homens. Haverá
grandes guerras ñas quais milhSes de homens perecerao pelo ferro. Depois
dessas pragas terrestres, vlráo as celestes, que cairáo únicamente sobre
os impenitentes. Estes castigos serio tremendos e nada os mitigará, mas
se cumprlráo com todo o rigor'".

Passcmos agora a mais outra famosa profecía.

1.5. E o segredo de Fófima ?

As aparigóes de Fátima, ocorridas em 1917, teráo reve


lado a Luda um segredo a respeito da futura sorte da huma-
nidade.

Em 1960, esperava-se que tal mensagem fosse manifes


tada ao mundo inteiro — o que nao oeorreu. Todavía em 1965

— 383 —
32 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

o jornal alemáo «Neues Europa», de Stuttgart, publicou a men-


sagem, até entáo secreta, de Fátima, alegando té-la recebido
do Vaticano. O texto de «Neues Europa» foi publicado por
outros grandes jomáis europeus, sem que o Vaticano jamáis
emitisse algum desmentido ou sentenga contraria. Eis alguns
tópicos do famoso texto:

"Sobre toda a humanldade vira um grande castigo, nem hoje, nem


amanhá, mas na segunda metade do século XX. O que eu expressei em La
Salette através das enancas Melania o Maximino, repito hoje diante de ti:
a humanidade prevaricou (e tornou-se criminosa), e o presente que I he
dei foi pisado aos pés.

... O mundo está em estertores. A grande, grande guerra cal na


segunda metade do século XX. Fogo e fumaca cairáo do céu e tudo o
que estava em pe rulrá. E milhSes e milhSes de criaturas humanas per-
derao a vida de urna hora para outra, e os que ainda ficarem vivos inve-
jaráo os que tlverem morrido. Para onde quer que se ojhe na térra inteira,
ver-se-So tribulacao, miseria e morte em todos os paises...

O tempo dos tempos aproxlma-se, o flm de todos os fins".

Mais: em setembro de 1961, a revista italiana «Messagero


del Cuore di Maria» publicou um artigo do Pe. Agostinho Fuer
tes, do qual váo extraídos aqui alguns dizeres:

"Eu vos trago urna noticia multo Importante de Fátima. O Santo Padre
Dermltiu-me visitar Lucia. E ela me recebeu chela de tristeza. Parecla-me
emagrecida e abatida. Logo que me vlu, dlsse-me: 'Padre, a Madona está
insatlsfeita, porque nlnguém se importou com a sua mensagem de 1917.
Nem os bons nem os maus se deixam dirigir por ela...

Crela-me, padre, o Senhor Deus castigará o mundo dentro de pouco


tempo. O castigo está as portas. Vira logo. Padre, procure Imaginar o
malor sofrimento corporal posslvel, e quantas almas calrSo no inferno, e
isto acontecerá se nSo se rezar e se nao flzer penitencia.

A Rússia será o agullhSo escolhldo por Deus para castigar a huma


nldade, se nos com as nossas oracóes e os nossos sacramentos nao Ihe
alcancarmos a graca da conversáo... O que mals entristece os coracBes
de Jesús e María, é a queda das almas dos Religiosos e dos padres...

Satanás se apoderará das almas consagradas; ele tente estragá-las


para, dessa manelra, levar as outras & im penitencia final. A Mfie de Deus
dlsse expressamente: 'Nos nos aproximamos dos últimos días'. Ela me
dlsse Isto tres vezes ... os últimos meios de salvacfio dados ao mundo
sfio o terco e a devoefio ao Coracáo de María, depois de todos os outros
meios de salvacao terem sido esgotados e desprezados pelos homens".
.; \^.
Sobre Fátima proporemos algumas noticias e considera-
Cóes a mais na segunda parte deste artigo, pp. 389s.

— 384 —
profecías de fim do mundo 33

1.6. Atrás da Cortina de Ferro

Também nos países comunistas diz-se terem ocorrido apa-


ricóes da Virgem SS., que propóem mensagens ameagadoras
aos pecados da humanidade.

Na Lituánia (diocese de Per.evezys), por exemplo, Nossa


Senhora ter-se-á manifestado visivelmente a urna jovem de
dezoito anos, que, por isto, foi denunciada as autoridades comu
nistas. No local das aparigóes, os fiéis ergueram um altar;
inexplicavelmente todos os que tentaram destrui-lo nada con-
seguiram, mas, ao contrario, foram punidos. A mensagem
transmitida pela vidente é semelhante á de Fátima, Lourdes e
Garabandal, pois exorta os homens á oragáo e á penitencia.

Na Eslováquia, a cidade de Turzovka, com seus 3.000


habitantes, foi também teatro de aparigóes mañanas. A Vir
gem SS. ai apareceu a um pai de familia de 42 anos, guarda
florestal, chamado Matous Lasuta. Este foi preso como visio
nario alucinado e doentio; logo, porém, as autoridades chega-
ram á conclusáo de que era homem normal. O escritor Er
nesto Kratzer falou pessoalmente com diversas pessoas proce
dentes da Eslováquia, as quais afirmaram ter visto um mira-
culoso fenómeno do sol e até mesmo a própria Virgem SS. As
peregrinac.óes a Turzovka sao incessantes apesar de ocorrerem
em territorio comunista. A mensagem se assemelha á de outras
aparigóes: pede oragáo e penitencia, em vista, de flagelos imi-
nentes, que estáo para se desencadear sobre a humanidade.
María Santíssima é para o mundo de hoje o que a arca foi
para Noé e sua familia.

Sobre Turzovka existem duas publicacóes: urna se deve


ao Pe. Joáo Schmid, passionista, que reside no convento dos
Passionistas em Schwarzenfeld (D 8472), Alemanha. A outra é
do escritor Carlos Wagner, distribuida pela Livraria M. Hauss-
ler de Viena (Austria).

1.7. A mensagem da Senhora de Todos os Povos

Sob o título de Senhora de Todos os Povos, diz-se que a


Virgem SS. apareceu a urna vidente em Amsterdam (Holanda)
a partir de 1945. Essa pessoa teve como confessor e diretor
espiritual, desde 1918 até 1967 (quando morreu), o frade domi
nicano Padre Frene. Através da vidente, María SS. teria trans-

— 385 —
34 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

mitido serias advertencias a respeito dos graves acontecimen-


tos que vém marcando os nossos tempos. Haverá também
ditado urna oracáo que traz aprovagáo eclesiástica e já foi tra-
duzida para trinta e duas línguas.

1.8. Outras aparijóes

Entre outras, vém ao caso ainda as aparigóes da Santís-


sima Virgem a urna Ir. Romana a partir de 1946. Em um de
seus éxtases, a vidente viu urna chuva de fogo a cair sobre a
Rússia. Esclamou:

"Virgem Santíssima, será a bomba atómica ?

— Nüo, nlo será bomba atómica; nSo haverá guerra.

— Mas por que vejo muitas das pessoas que passam pelas rúas
calrem fulminadas ? ... e outras segulrem Ilesas ?

— Ah, é um castigo especial para os maus e para os Impíos".

Finalmente menciona-se Teresa Neumann, a estigmatizada


de Konnersreuth, que transmitiu a seguinte mensagem de
Cristo:

"Tenho sido Insultado pelos pecados da humanidade. O castigo é


inevitável. Se me pedes que salve almas no último momento, satisfar-ie-ei.
Alé aqui as almas sacrificadas que vivem em cada paróquia, detiveram o
castigo; agora, porém, lepaiacao já nao é suficiente; vira o castigo certo
e inevitável. Vira repentinamente" (trecho transcrito do "Almanaque Ilus
trado das Familias Católicas Brasileñas").

Pergunta-se agora:

2. Que idizer a propósito ?

Proporemos quatro observagóes:

2.1. Ono{áo e penitencia

As mensagens mencionadas sao todas válidas na medida


em que exortam os homens á oragáo e á penitencia. Diante da
situagáo moral e material que aflige a humanidade de nossos
dias, o cristáo sente-se obrigado a praticar, corrí zelo especial,

— 386 —
profecías de fim do mundo 35

a oragáo, que pede a Deus as gragas que o mundo nao pode


dar a si mesmo, e a penitencia, em expiacáo dos pecados da
humanidade.

Pode-se, porém, duvidar da autenticidade das previsóes


referentes á proximidade do fim do mundo e de acontecimentos
catastróficos sobre a térra. Se alguém quer dar crédito a tais
profecías, nao peca contra a fé, pois, a rigor, tais predigóes
nada tém de herético. Acontece, porém, que, sempre que um
cristáo é interpelado por urna noticia milagrosa ou portentosa,
deve procurar as credenciais aptas a autenticar tal noticia.
Ora realmente essas credenciais, nos casos em pauta, nem
sempre sao sólidas. É o que se depreenderá das consideracóes
subseqüentes.

2.2. Revelajóes particulares

A teología distingue entre revelacáo pública de Deus aos


homens e revelacoes particulares.

Pela revelacao pública o Senhor comunica aos homens as


grandes verdades da fé e as linhas do seu plano salvífico. En-
cexTou-se este processo com a vinda de Cristo e a geragáo dos
Apostólos (cf. Const. «Dei Verbum» tí> 4). Todos os cristáos
aceitam a Revelagáo pública pelo fato mesmo de professarem
o Credo. •

Após Jesús Cristo só pode haver na Igreja revelacíes par


ticulares, isto é, comunicagóes cujo teor nao se impóe como
objeto de fé a todos os fiéis. O leque das revelagóes parti
culares tem-se ampliado nos últimos decenios; numerosos sao
os casos relatados por criancas, jovens, adultos. Religiosos, a
tal ponto que é preciso aplicar-lnes o senso critico a fim de
se distinguir de fenómenos alucinatórios e doentios urna pos-
sivel comunicagáo de Deus aos homens. A S. Igreja tem-se
pronunciado mesmo sobre alguns casos de pretensas revelacóes
particulares, negando a autenticidade das mesmas, ou seja,
reduzindo-as a fenómenos meramente humanos ou doentios.
Tal foi o caso de Garabandal, El Palmar de Troya... (cf. PR
208/1977, pp. 153-163).

Quais seriam os criterios de autenticidade de determinada


revelagáo particular?

— Entre outros, assinalam-se

— 387 —
36 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

a) o teor da doutrína revelada seja condizente com as


verdades da fé. Ora, entre outros casos, notamos que isto nao
ocorre exatamente no caso da mensagem de Nossa Senhora
de Todos os Povos, como se pode depreender da análise publi
cada em PR 161/1973, pp. 222-232.

b) O estilo das auténticas revelacóes ou profecias é sem-


pre sobrio. A mengáo minuciosa e precisa de acontecimentos
(tragedias, calamidades...) foge ao que se dá ñas profecias
bíblicas; corresponde, antes, a urna atitude psicológica do cida-
dáo contemporáneo do que a urna revelacáo divina; fornece
devaneio á fantasía e satisfagáo á curiosidade, mas nao cos-
tuma ter a autenticidade das verdadeiras profecias. Ora veri-
fica-se que a grande maioria das profecias citadas neste artigo
tém características minuciosas e sensacionalistas (ano 2000,
trováo em noite de frío invernó, uso de velas bentas, morte
de 2/3 da humanidade, escuridáo de tres dias e tres noites,
ondas do mar a cem metros de altura, tempestade de fogo
sobre a térra durante setenta horas...).

c) Sabe-se outrossim que o Senhor Jesús recusou explici-


tamente revelar aos discípulos a data do fim do mundo. Afir-
mava Ele ao se despedir dos Apostólos: «Nao compete a vos
conhecer os tempos e os momentos que o Pai tem em seu
poder» (At 1,7). Mais aínda: dizia Jesús que «a respeito
daquele día e daquela hora ninguém sabe coisa alguma a nao
ser o Pai» (cf. Me 13,32) — o que bem evidencia que nao
estava em sua missáo de Doutor dos homens revelar a data
do juizo final.

Em conseqüéncia, é difícil admitir que o Senhor Jesús


esteja revelando tal data através de mensagens particulares.

Quanto á aprovagáo eclesiástica concedida ao texto de


tais revelagóes ou a oracóes que lhes estáo associadas, nao quer
dizer que a Igreja confirme tais mensagens com a autoridade
do seu magisterio. Apenas significa que o censor eclesiástico
nada viu de herético em tais textos. A rigor, pois, nao e ím-
possível que as mensagens respectivas tenham sido reveladas
pelo Senhor Deus. Há, porém, distancia muito grande entre
«nao ser impossivel» e «ocorrer de fato» ou «ser fato reab.

De modo especial, digamos algo sobre

— 388 —
profecías de fim do mundo 37

2.3. O segredo de Fátima

As aparigóes de Fátima deram-se em 1917. A historia


das mesmas, a principio, era conhecida apenas através do
inquérito realizado pelo Cónego Formigáo em setembro-outu-
bro de 1917. Acontece, porém, que, aproximando-se o 25»
aniversario das aparigóes (1917-1942), a vidente Lucia (no
Carmelo, Ir. Maria Lucia do Coragáo Lnaculado) enriqueceu
a narrativa contando fatos outrora nao divulgados e fazendo
apelo a novas comunicagóes do Alto. Em conseqüéncia, as
revelagóes de Fátima ao mundo tém-se feito por etapas suces-
sivas, sendo que ñas últimas alguns autores julgam difícil dis
cernir os pormenores que pertencem estritamente ao teor da
mensagem daqueles que a vidente acrescentou em seu santo
fervor (cf. H. Maréchal, Memorial des Apparitkms de la Vierge
dans l'Église. París 1957, p. 146). É muito importante observar
este fato, pois faz suspeitar que nem todos os dizeres das
revelagóes de Fátima se devem á Virgem Maria, já que sao,
em parte, redutíveis a Ir. Lucia.

Quanto ao segredo de Fátima, ele se prende á terceira


aparigáo de Nossa Senhora, verificada aos 13 de julho de 1917.
Instada pelo bispo de Leiria (as vésperas do 25fl aniversario
das aparigóes, Lucia disse ter obtido licenga do céu para comu
nicar o segredo num relato de quinze páginas datado de
31/08/1941: a mensagem do segredo consta de tres partes,
duas das quais foram ¡mediatamente reveladas; a terceira,
porém, ficaria contida em envelope lacrado, sobre o qualse
lia • «Nao abrir antes de 1960»; interrogada sobre o motivo-
desta restrigáo, Lucia respondeu sempre: «A SS. Virgem a
quer assim».

A primeira parte do segredo compreendia urna visto do


inferno: Lucia, Francisco e Jacinta perceberam como que
um grande mar de fogo e, nele mergulhados, os demonios e
as almas. Trata-se de um quadro figurado, cheio de íma-
gens literarias adaptadas a capacidade perceptiva das criangas.
A segunda parte do segredo predizia o fim da guerra
mundial de 1914-1918 e o comego de outra pior sob o reinado
de Pió XI. E acrescentava :

"Quando virdes urna noite alumlada por urna luz desconhecida, sabeJ
que é o grande sinal que Deus vos dá, de que vai a punir o mundo de
seus crimes por meio da guerra, da fome e de persegulc6es á Igreja e
ao Santo Padre.

— 389 —
38 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 237/1979

Para impedir, vlrel a pedir a consagrado da Rússla a meu Ima


culado Coracio e a comunhíio reparadora nos prlmelros sábados.

Se atenderem ao meu pedido, a Rússla converter-se-á e terSo paz;


se nao, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguí-
coes á Igreja. Os bons serio martirizados; o Santo Padre terá multo que
sofrer; varias nagfies serio aniquiladas...

Por fim, o meu Imaculado Coracio triunfará 1".

A propósito, observemos : a guerra aue devia comecar sob


Pío XI, na verdade só comecou em 1939, isto é, sob o Papa
Pío XII!

Ouanto á terceira parte do segredo, aue devia ficar oculta


até 1960, nao foi objeto de divulgagáo oficial por parte da S.
Igreja nem em 1960 nem depois. As noticias divulgadas pelos
jomáis em 1965 como auténtica revelacáo do segredo nao tém
a cháncela oficial da Igreja. Pergunta-se: por que a Santa Sé
nao divulgou tal segredo em 1960 ?

As respostas podem ser as mais variadas. Julgamos, po-


rém, muito provável que o S. Padre Joáo XXIII nao quisesse
entreter a atencáo do povo cristáo com revelares particulares
cuja autoridade era discutida (pois na verdade nao se sabe o
que no teor desse segredo provém da Virgem María e o que
é proferido táo somentc pela Ir. Lucia). Bastava á autori
dade da Igreja comunicar ao povo de Deus a exortacáo á
oracáo e á penitencia que sempre se derivou de Fátima. Real
mente estas atitudes sao de importancia capital, qualquer que
seja a sucessáo dos acontecimentos do próximo futuro. As
profecías (mesmo as auténticas) nao alteram em nada a men-
sagem concreta, essencial, de oragáo e penitencia. É isto que
absolutamente importa aos homens a fim de que nao percam
os valores verdadeiros e eternos.

2.4. A expectativa do fim do mundo

Para entender o pulular de profecías relativas ao iminente


fim do mundo, deve-se levar em conta que o fenómeno pode
ser ilustrado por fatores psicológicos.

Com efeito, nossos tempos sao difíceis; a segunda guerra


mundial (1939-1945) deixou o género humano extremamente
convulsionado; até hoje os males se prolongam através da
violencia, da alta de pregos, da poluicáo, etc. É natural, pois,
que certas pessoas religiosas digam: «As coisas váo táo mal
que só Deus pode dar um jeito nisto !• Só urna intervencáo do

— 390 —
_^ profecías de toi do mundo 39

céu pode acabar com as desgragas da humanidade! Os homens


estáo provocando o fim do mundo!» Estes dizeres sao mais
emotivos do que propriamente teológicos. Os homens, postos
sob calamidade, sempre julgaram que o fím do mundo estava
próximo; foi o que se deu no séc. V, quando Roma estava
para cair sob os golpes dos bárbaros; foi o que se deu no fim
da Idade Media, quando a peste devastava a Europa; é o que
se dá também em nossos dias (nao alongamos a enumeracáo
de datas intencionalmente).

Por conseguinte, a predicáo de iminente catástrofe e de


próximo fim do mundo pode nao ser devida a alguma revela-
cáo divina, mas, sim, a urna atitude psicológica muito com-
preenslvel; seria a resposta espontánea do homem «mtem-
poráneo aos males que o afligem. Julgamos que as predicóes
trágicas que hoje em dia correm, nao sao mais do que a ex-
pressáo da psicología religiosa de muitos cristáos dos nossos
tempos que se sentem perplexos diante do desenrolar da his
toria presente. De todos esses rumores, possa o povo de Deus
ao menos aproveitar a insistente exortagáo á oracáo e á peni
tencia! Esta, sim, tem valor perene e é a melhor resposta
a qualquer desafio dos tempos.

Devem-se também notar as palavras do Divino Mestre:


«Tempo vira em que desejareis ver o dia do Filho do Homem,
e nao o veréis» (Le 17,22). Nestes termos Jesús prediz sitúa-
cóes dificeis e fases angustiantes para os seus seguidores;
estes, premidos por flagelos e tragedias, haveriam de ansiar
pela vinda solene do próprio Deus como Juiz e Consumador
da historia (no dia do Filho do Homem); todavía este anseio
nao correspondería ao designio de Deus; o Senhor Jesús riáo
voltaria segundo as expectativas ou as aspiracóes dos seus
discípulos.

Eis por que julgamos que as proferías em pauta merecem


consideracáo táo somente na medida em que corroboram a
seguinte mensagem destituida de data e descrigóes minuciosas:
«Orai e fazei penitencia pelos vossos pecados e pelos do mundo
inteiro!»
A propósito
PR 4/1958, pp. 169-174 (segredo de Fátlma).
PR 161/1973, pp. 222-232 (aparlefio de Nossa Senhora de Todos
os Povos).
PR 170/1974, pp. 72-83 (aparlcOes e "aparlcoes" de Nossa Senhora).
PR 170/1974, pp. 64-88 (memorias e cartas da Ir. Lucia).

— 391 —
"O que o olho nao víu..."

"reflexóes sobre vida após a vida"

A edigáo de «Selegóes» de abril 1979 aborda mais urna


vez o tema «Vida após a vida», já considerado em «Selegóes»
de setembro 1977 e comentado em PR 216/1977, pp. 501-506.

Voltamos ao assunto neste fascículo porque o tema, sen


sacional como é, tornou a provocar indagac.óes de varios lei-
tores. Na verdade, trata-se de pesquisas empreendidas pelo
Dr. Raymon Moody, médico norte-americano, junto a pacien
tes que estiverana em coma, mas conseguiram recuperar-se.
Tais pessoas posteriormente relataram ao Dr. Moody a expe
riencia do além que fizeram durante o espaco de quase morte.
O Dr. Moody publicou esses relatos em um primeiro volume
intitulado «After Life» (1975). Tendo, após esta data, colhido
outros testemunhos, houve por bem editá-los em novo livro
com o título «Reflections on Life After Life», cujo teor nao
difere do anterior; é este segundo volume que ocasiona o
artigo «Cidade de luz, reino das trevas», de «Selegóes» de
abril 1979, pp. 25-29.

1. Um espécimen dos relatos

Antes do mais, transcrevemos um breve e significativo


exemplar dos depoimentos colhidos por Raymond Moody.

"Um homem está morrendo. Quando chega ao ponto máximo do


sofrlmento ffslco, ouve o médico declarar que está morto.

Comeca entSo a ouvlr um ruido forte, como campaínha ou cigarra


estridente, e ao mesmo tempo senté que está se deslocando velozmente
através de um túnel comprldo e escuro. Depols dlsso, vé-se de repente
separado do seu corpo físico, que observa de longe, como se fosse um
espectador. Dessa posigSo favorável, asslste ás tentativas para a sua ros-
surrelcSo. Percebe que aínda possul um 'corpo', mas de natureza multo
diversa e com poderes multo diferentes do corpo físico que ele delxou
para tras.

Logo depols, outras pessoas vem ao seu encontró e o ajudam. Ele


vislumbra os espfritos de parantes o amigos que já morreram. Aparece a.
sua frente urna alma carinhosa e acolhedora (um ser luminoso). Este ser
Ihe faz urna pergunta sem palavras, para Induzl-lo a avallar sua vida, e

— 392 —
¿A VIDA APÓS A VIDA? 41

o ajuda, mostrando-lhe urna reapresentac&o Instantánea dos marcos prin


cipáis dessa existencia.

Finalmente, vé que se aproxima de urna especie de barreira, que


aparentemente representa o limite entre a vida terrena e a posterior. O
'morto' entfio acha que precisa voltar á Térra — que ainda nao chegou
a hora da sua morte. Resiste, pofs a essa altura já se absorveu com as
experiencias da vida eterna e nao deseja regressar. Sente-se dominado
por profundos sentlmentos de alegría, ternura e paz. Nio obstante, de
algum modo ele torna a se reencarnar no seu corpo físico e volta a vlver"
(art. clt. p. 25s).

Passemos a

2. Algumas observagóes

1) Antes do mais, nota-se que os depoimentos publicados


por Moody descrevem a vida do além & semelhanga do aquém:
túnel que dá passagem a urna cidade de luz, em que há jardim,
amigos e felicidade... Dir-se-ia que se trata de vida terrestre
em nova edigáo, melhorada e embelezada.

Ora nao há quem nao veja que tais descrigóes se podem


explicar cabalmente como projegóes do subconsciente ou do
inconsciente dos pacientes. Nao há necessidade de recorrer a
revelacóes ou a experiencias do além para elucidar a oñgem
de tais narragóes.

2) A inspiracáo desses depoimentos é evidentemente es


pirita. O espiritismo admite, sim, que os espíritos se desen-
carnem e, revestidos de perispírito ou de corpo astral, pairem
ácima do seu corpo inanimado ou terrestre, podendo depois
voltar a enoarnar-se. Além disto, chama-nos a atengáo a falta
de referencia clara e explícita a Daus em tais relatos; ora o
espiritismo é, sim, um sistema que professa Deus e o amor
a Deus, mas que parece interessar-se mais por comunicagóes
com os espíritos do que com o encontró do próprio Deus. Ora,
para quem tem fé monoteísta, é impossível admitir que o
além nao proporcione a criatura um relacionamento direto e
imediato com o Senhor Deus, que é o Alfa e o ómega da
toda a criagáo.
3) Para o cristáo, a chamada «morte» é, antes do mais,
o encontró com Deus,... com o mesmo Deug que na vida
presente é reconhecido através dos véus da fe. Na verdade,
Deus é o grande «polo» de atragáo da vida humana, em
demanda do qual todos os homens retos, consciente ou incons
cientemente, peregrinam. Cidade de luz, jardim ameno, belas

-- 3S3 —
42 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 237/1979

cores... sao realidades muito pobres ou mesmo insuficientes


para a criatura humana. Bem dizia S. Agostinho: «Senhor,
Tu nos fizeste para Ti, e inquieto é o nosso coragáo enquanto
nao repousa em Ti». Quanto aos parentes e amigos, é certo
que cada um de nos os encontrará de novo na «casa do Pai»,
mas seráo reconhecidos e amados em funqáo de Deus; o amor
a Deus nao sofrerá divisáo nem dilaceracáo ñas criaturas,
mas, ao contrario, esse amor é que assegurará o amor de
cada qual aos seus semelhantes.
A fim de entender o que será a vida eterna para si pes-
soalmente, o cristáo se esforga por avaliar o seu relaciona-
mento com Deus na vida presente: é íntimo ? É saboroso ?
Tem algum significado estrutural ? — Nao há ruptura ou
hiato entre a existencia terrestre e a postuma; há apenas re-
velacáo ou queda de véus. Daí a importancia da pergunta:
«Quem é Deus para mim hoje ?» — A resposta sincera que
cada um dé a esta mterrogagáo, manifestar-lhe-á, de certo
modo, o que a vida eterna será para essa pessoa.

EstévSo Bettencourt O.S.B.

livros em estante
O descompasso da teoría com a práttca: urna IndagacSo ñas rafees
da Moral, por Hubert Lepargneur. Cadernos de Teología e Pastoral n? 14.
Ed. Vozes, Petrópotls 1979, 95 pp., 135x210 mm.
O Pe. Lepargneur, teólogo de renome nacional e Internacional, oferece
ao público um livro sobre assunto candente: a Incoeréncla em que incide
freqüentemente o comportamento humano, pols na verdade o agir ou a
conduta nem sempre corresponde ao pensar ou á teoría; há teorías que
flcam distantes da prátlca e há prátlcas totalmente divorciadas da respec
tiva teoria.
O autor mostra que o problema é de todos os tempos; |á era denun
ciado por Demócrlto de Abdera (460-370 a. C.) e pontllha toda a historia
do pensamento. A seguir, Lepargneur discute varios conceitos Implicados
pela problemática: o de praxis, os de relativo e absoluto, o dos condiclo-
namentos do ato humano (Ética da sltuacfio)... Após eruditas considera-
c6es, concluí que nunca haverá adequacSo entre teoría e prática, pols o
desajuste tem sua raíz na próprla constituido do ser humano: este é
fraco e falho. Todavía é preciso combater esse desajuste e tentar reduzír
a distancia entre teoría e prátlca. É a dissoclacáo entre esta e aquela
que pSe a Moral em constante tensfio e dinamismo. Nessa tensSo, que se
opde á Inercia ou estagnacSo do ser humano, Lepargneur chama a atencfio
para o papel da vlrtude da prudencia: esta há de tentar refletlr sobre a
teoria, de um lado, e, de outro lado, sobre as circunstancias concretas
em que se encontra o agente; a prudSncla procurará Indicar as atltudes
mals coerentes e tiéls para o comportamento do ser humano. — Cremos
que a conclusSo de Lepargneur é válida; apenas enfatizarfamos a necessl-

— 394 —
LTVROS EM ESTANTE 43

dade premente de se diminuir a distancia entre teoría e prática; todo


crlstáo, chamado a pertelcfio e á santldade como é, deve sentlr-se cada
vez mals impelido á coeréncla ou a ser a expressfio concreta do Amor
de Deus.
O llvro é rico em cltacOes e documentacfio, aparecendo como fruto
de asslduas e variadas lelturas sobre o assunto. Destina-se a estudiosos
de certo nivel, aptos a compreender o vocabulario e o raciocinio do autor.
Ao lado de trechos multo Interessantes, como o das pp. 12s (em que o
autor exp&e sumariamente a tese do llvro), há outros que nos parecem
merecer certa revisSo: asslm o da p. 74, que se refere á leí natural com
um tanto de amargura. Gostarlamos de perguntar a Lepargneur em que
sentido entende a frase: "A Igreja nfio se revoltou em condenar a máe
de preferencia ao nasclturo, mesmo na presenca de filhos ]á numerosos
e esbeltamente dependentes da mfie para a sua sobrevivencia" (p. 74).
Na verdade, a Moral crista nSo' condena nem a mfie nem o filho em caso
de perigo para ambos, mas trata de salvar um e outro, utilizando os meios
mals eficazes para Isto; tanto a mfie como o fllho sao seres humanos e
tém o dlreito de vlver, o qual Ihes deve ser respeitado.
Protetas ontem e hoje, por Norbert Lohílnk. Traducao de Celeste
María Jardlm de Moraes. Colecfio "A Palavra Viva" rff 19. — Ed. Paulinas,
SSo Paulo 1979, 110x190 mm, 90 pp.
O presente Itvro traz o texto de quatro conferencias proferidas pelo
exegeta iesulta N. Lohffnk, ¡á conhecido no Brasil por outras obras suas.
A exposlcáo do tema decorre em llnguagem multo acesslvel, pois fol con
cebida principalmente para rádlo-ouvlntes — o que nao pre|udlca o con-
teúdo, vasado ñas mais recentes pesquisas bfblicas.
O autor apresenta teses ponderéveis a respelto do profetismo fora
de Israel, a respelto dos profetas bíblicos "revolucionarlos" como tamben»
a propósito das predlgCes messianlcas em Israel e no locante a existencia
de profetas em nossos días. No primelro capitulo, por exemplo, Lohflnk
cita fenómenos de profecía ocorrentes entre os povos orientáis pré-crlstfios;
havla. sim, como testemunham documentos escavados nos últimos decenios
em Mari e albures, emlssárlos da Dlvlndade que transmltlam aos reís
mensagens diversas... No capitulo quarto, Lohflnk afirma que, mesmo após
os profetas bíblicos até nossos días, houve e hé profetas; cita, por exem
plo, SSo Francisco de Assls e S. Tereslnha de Usleux, que contribuirán!
para que os crlstfios descobrlssem a esplrltualldade evangélica de ma-
neira adequada ás suas respectivas épocas (cf. p. 80).
Apenas nos parece que Lohflnk deverla mencionar a' posslbllldade
de IIus6es por parte de pessoas que se dizem profetas ou portadores de
mensagem divina. É preciso nfio "Inflaclonar" o termo "profeta", visto
que ó Inórente ao pslqulsmo humano querer alguém passar por emissárlo
de Deus". A experiencia comprova qufio fácilmente um devoto atribuí a si
o carisma da "profecía".
As novas sellas, por Alaln Woodrow. Traducao do francés por Celeste
María Jardlm de Moraes. — Ed. Paginas, SSo Paulo 1979. 130 x 200 mm,
241 pp.
O llvro é de grande atualldade, pols vem responder ao compreenslvel
interesse que o público em geral alimenta pelo fenOmeno "místico" das
novas sellas. Estas se multiplican» com modalidades diversas, correspon-
dendo ás variadas tendencias psicológicas do homem religioso: há as
pesslmlstas, que prevéem o flm do mundo para breve; as curandelras,
que prometem milagros; as ocultistas, que tem revelacóes reservadas ao»

— 395 —
44 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

Iniciados; as orientalistas, oriundas da India, do JapSo e da Coréfa; as


racionalistas, que pretendem fundir ciencia e religiao, como a Ciencia
Crista, a teosofía, etc.
O fenómeno pede expllcacao. Ora, com acertó. Alaln Woodrow Julga
que o veemente surto das seltas contemporáneas vem a ser a réplica á
crise que tem afetado a próprla Igreja Católica ou a Reiigiao clássica: o
secularlsmo e a teología da morte de Deus tém procurado apagar as manl-
festacóes religiosas da vida moderna; dizem que Deus é urna palavra sem
ressonfincla e que o homem de hoje )á pode dispensar o auxilio do
Senhor para prover a si mesmo. Ora o fenómeno das seltas significa a
recusa de tais concepcóes secularlstas: por ele irrompe do mals profundo
do ser humano a dlmensáo religiosa congénlta e Indelével, contradizendo
a Marx, Nietzsche e Freud, que aínda recentemente classlficavam a rell-
glSo como um fenómeno espurio e pereclvel da historia dos homens.
Alain Woodrow, depols de ponderar estes dados, analisa a origem e
a mensagem das principáis seltas modernas: Meninos de Deus, Krlshna,
Testemunhas de Jeová, Mórmons, Adventistas... Detém-se sobre os
métodos empregados para conquistar e catequizar adeptos de tais grupos:
as técnicas de persuasfio modernas, utilizando recursos psicológicos, podem
convencer de qualquer colsa qualquer pessoa nao precavida: a pessoa
humana é asslm manipulada, pols o fanatismo e a obsessSo levam nSo
raro á desonestidade. O livro aprésenla, em apéndice, um quadro sinótico
esquemático de dezesseis sellas, assim como um estudo mals difuso da
Seicho-No-Ie. forma religiosa japonesa, que promete curas.
Recomendamos vivamente a leitura de tal obra, pois esclarece o
leltor a respeito de um fenómeno que mais e mais se Impóe á atengao
do público. As seitas modernas constituem um desafio aos fiéis católicos
para que assumam com toda a coeréncla e convlccfio a sua mlssfio de
portadores da Boa-Nova; procurem responder aos anseios do homem
moderno, "que abre para si cisternas rotas, as quais nao podom reter as
aguas" (cf. Jr 2,13).
Puebla. A evangelízaoslo no presente e no futuro da América Latina.
Texto oficial da CNBB, acompanhado de IntroducSo e Subsidios da autoría
de Frei Clodovls Boff O.S.M. — Ed. Vozes, Petrópolls 1979, 136x200mm,
336 + 29 pp.
Dlspomos agora do documento final da 3? Assembléla Geral do Epis
copado Latino-americano reunido em Puebla (laneiro-fevereiro 1979) Tra-
ta-se da forma definitiva, revista, retocada e aprovada pela Santa Sé. Por
consegulnte, perde o seu valor o texto provisorio lancado ao publico em
marco pp.
A edlcSo das Vozes, como a da Ed. Loyola e a dos Paulinos, apre-
senta outrosslm o texto dos tres discursos do S. Padre Joáo Pauloi II
proferidos no México com referencia a assemblóla episcopal de Puebla.
Verifica-se que o texto provisorio fol retocado de principio a fim,
nao em termos substanciáis, mas de acordó com enfoques mals teológicos
«u mals precisos; vé-se que a Santa Sé teve grande cuidado por dar ao
público um texto oue realmente corresponda ao genuino pensamento
cristao sobre a América Latina.
A IntroducSo á Leitura das ConclusSes de Puebla elaborada por Freí
Clodovls Boff parece-nos um tanto unilateral. Com efelto, o autor distin
gue dez temas-eixo no documento de Puebla, entre os quals nao Incluí
as verdades a respeito de Cristo, a respeito da Igreja e a respeito do

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homem, que o referido documento muito enfatlza, fazendo eco, alias, ao
discurso inaugural do Paulo JoSo Paulo II. Frei Clodovis descobre os eixos
do documento em assuntos de ordem sóclo-económlco-polltica, nSo levando
talvez na devida conta a Crlstologia, a Eclesiologia e a Antropología pro-
fessadas pelos Bispos em Puebla. Ora é certo que o episcopado reunido
no México se preocupou também — e primordialmente — com as ver
dades da fé a serem transmitidas ás populacees latino-americanas.
É com prazer que saudamos a publicacáo do texto definitivo da
Assembléia de Puebla, destinado a dar novo Impulso á sadia evangelizacao
da América Latina.
Escatologia e Ressurreicao, por JoSo Evangelista Martins Térra S.J.
Coiecáo "Serie Bíblica" n? 7. — Ed. Loyola, S8o Paulo 1979, 140x210mm,
110 pp.
O Pe. J. E. M. Térra é incansável produtor de boa bibliografía teo
lógica e exegótico-blbllca. Desta vez publica o primeiro de dois livros
programados sobre a consumagáo do homem e da historia assim como
sobre a ressuTreicao de Cristo. Comeca com um capitulo sobre a morte;
após o qual examina os conceitos de escatologia (individual e cósmica);
a seguir, considera os fundamentos históricos da fó na ressurrelcSo de
Cristo, a teología da ressurrelcSo do Senhor, o sacerdocio do Cristo
ressus'cltado...
As exposicfles teológicas e exegétlcas do autor tem sua solidez;
todavía resultam, em parte, de estudos feltos há cerca de dez anos, como
afirma o próprio Pe. Térra á p. 3. Seráo completadas ou talvez cá ou la
retocadas pela publicacáo da nova obra que o autor está preparando sobre
tal temática. Em especial, parece-nos que os capítulos iniciáis do livro
atinentes á ressurreigSo em geral e á escatologia individual e cósmica
deveráo ser retidos e enriquecidos á luz da Carta da S. Congregado
para a Doutrlna de Fó datada de 17/05/79, a respeito de questees atinen
tes á escatologia bíbllco-cristá. Este documento — cuja leltura será alta
mente proficua a todos os fiéis católicos — enfatiza a distincáo entre
escatologia pessoal e escatologia universal assim como a sobrevivencia,
após a morte, de um "elemento espiritual, dotado de conscléncla e de
vontade, de tal modo que o eu humano subsista". Esse elemento é, pela
tradicSo crista, chamado "alma humana". De resto, o conteúdo dos artigos
de tal carta da Santa Sé será oportunamente explanado ñas páginas de PR.
Apraz-nos ainda transcrever aqui as reflexdes do Pe. Térra sobre
antropología semita e antropología grega:
"NSo raras vezes a nocSo de Imortaildade é1 atribuida a filosofía grega
e contraposta á Idéla de ressurreicao, que serla típicamente bíblica ou
semítica. Na realldade, porém, ambas a9 nocSes emergem na Biblia ao
mesmo tempo e sao tributarlas da cultura helenística. Alias, a pretensSo
de quallficar alguma nocSo como típicamente semitlca é bastante proble
mática. A identificacBo entre antropología bíblica e antropología semitlca
também ó simplista. Durante os mil anos de elaboracSo da literatura vete-
rolestamentária, ela sofreu as mals diversas aculluracSes (egipcia — lite
ratura sapiencial t — cananéla ou fenicia, assírla, persa, grega, etc.)"
(p. 5, nota 1).
Estamos plenamente de acordó com o Pe. Térra, cuja posicfio é pre-
ferlveX áquela que identifica a antropología semítica com o pensamento
bíblico; este é assim depauperado, pols na verdade os autores bíblicos
assumiram oportunamente também o instrumental de outras concepgSes filo
sóficas para exprimir o conteúdo da mensagem do Senhor aos homensi
O livro em pauta será útil aos leitores principalmente nos capítulos
que dizem respeito á ressurreicao de Cristo (pp. 39-110). O autor af
responde validamente a urna serie de dúvidas e anseios propostos pelo
homem moderno.
E.B.
Aos que estáo em luto1

SE TU ME AMAS, NAO CHORES.


SE CONHECESSES O MISTERIO INSONDÁVEL DO CEU
ONDE ME ENCONTRÓ...

SE PUDESSES VER E SENTIR O QUE SINTO E VEJO


NESTES HORIZONTES SEM FIM
E NESTA LUZ QUE TUDO ALCANCA E PENETRA,
JAMÁIS CHORARLAS POR MIM.

ESTOU AGORA ABSORVIDO PELO ENCANTO DE DEUS,


PELAS SUAS EXPRESSOES DE INFINITA BELEZA.
EM CONFRONTO COM ESTA NOVA VIDA,
AS COISAS DO TEMPO PASSADO SAO PEQUEÑAS E
INSIGNIFICANTES.

CONSERVO AÍNDA TODO O MEU AFETO POR TI


E UMA TERNURA QUE JAMÁIS TE PUDE,
EM VERDADE, REVELAR.

AMAMO-NOS TERNAMENTE EM VIDA,


MAS TUDO ERA ENTÁO MUITO FUGAZ E LIMITADO.
VIVO NA SERENA EXPECTATIVA DA TUA CHEGADA,
UM DÍA, ENTRE NOS...

PENSA EM MIM ASSIM:


ÑAS TUAS LUTAS PENSA NESTA MARAVILHOSA
MORADA
ONDE NAO EXISTE A MORTE
E ONDE, JUNTOS, VTVEREMOS NO ENLEVO
MAIS PURO E MAIS INTENSO,
JUNTO A FONTE INESGOTAVEL DA ALEGRÍA
E DO AMOR.

SE TU VERDADEIRAMENTE ME AMAS,
NAO CHORES MAIS POR MIM.
Eü ESTOU EM PAZ!

iVer Editorial, pp. 353s.

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