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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico • filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
responderemos
^ SUMAR 10

*~ "Com os Olhos Fixos Nele..."


<

oo ' O Budismo

o "A Cristandade Colonial. Mito e Ideología"

^ O Cristianismo Visto por um Agnóstico


Z) Por que me fiz Católico?
o
"Logoterapia... de Viktor Franfcl"

Documento: Palavra de Despedida

Notas: A Moralogia

co

O
ce
a.

ANO XXIX - MARQO - 1988 310


PERGUNTE E RESPONDEREMOS MARpO - 1988
Pubjicapao mensal N9 310

SUMARIO
Diretor-Responsável:
"COM OS OLHOS FIXOS NELE...".... 97
Estéváo Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia
Historia das Raligioes:
publicada neste periódico
O BUDISMO 98

Oiretor-Administrador: Urna re-teitura da historia:


"Á CRISTANDADE COLONIAL.
D. Hildebrando P. Martins OSB
MITO E IDEOLOGÍA" 107

Administrapáo e distribuicáo: Fala o Prof. Leo Moulin:


O CRISTIANISMO VISTO POR
Edicóes Lumen Christi
Dom Gerardo, 40 - 5" andar. S/501
UM AGNÓSTICO 115
Tel.: (021) 291-7122 Depoimento de ex-pastor luterano:
Caixa Postal 2666 POR QUE ME FIZ CATÓLICO? 121
20001 - Rio do Janeiro - RJ
Um livro atual:
" LOGÓTE R API A. ..
DE VIKTOR FRANKL" 131

DOCUMENTO;PALAVRA DE
"MARQUES-SARAJVA" DESPEDIDA .139
aOÁFlCOS £ fDíTOflfS S.A.
Til».: «»1»>}-MM -IJMJ47
NOTAS: A MORALOGIA 141

ASSINATURA: Cz$ 1.000,00 NO PRÓXIMO NÚMERO:

311 -Abril -1988


Número avulso: Cz$ 100,00
"Jesús Histórico, Ponto de Partida da Cristolo-
Pagamento (á escolha): gia Latino-Americana" (P.R. Hilgert). - A "Pe-
restroika" (Reforma) no Setor Religioso.
1. VALE POSTAL á Agencia Central dos - "Como Viver a Sexualidade" (O. Zanini).
Correios do Rio de Janeiro. r- Ministros Extraordinarios da Comunhao
2. CHEQUE BANCÁRIO. Eucarística. - "Béncaos Papáis Produzem Mal-
3. No Banco do Brasil, para crédito na Con- dicoes"?
ta Corrente n?0031, 304-1 em nome do
Mostei ro de S. Bento do R io de Janei ro, pa-
COM APROVAQÁO ECLESIÁSTICA
gávet na Agencia da Praga Mauá (n?0435).

RENOVÉ QUANTO1 ANTES COMUNIQUE-NOS QUALQUER

A SUA ASSINATURA MUDANCA DE ENDERECO


"COM OS OLHOS FIXOS NELE

O mes de marpo de 1988 é m§s de Quaresma, que culmina na Semana


Santa... na Semana do Reí que, aparentemente vencido, vence definitiva
mente a morte.

A reflexSo do cristao pode, nesta época, rnspirar-se do belo texto de


Hb 12, 1-3. Caro ¡rmao (3), leia-o ...
"Cercados como estamos portal nuvem de testemunhas..." - O autor
sagrado considerou em Hb 11, 1-40 a historia da salvapao ... Desde Abel até
os Macabeus (séc. II a.C.) dezenas de geracoes correram o céname da fó com
heroísmo, cada qual a seu modo (uns como os Patriarcas longevos AbraSo,
I saque, Jaco ..., outros como os Profetas apedrejados, acortados, encartara-
dos...). Esses heróis do Antigo Testamento transmitiram aos cristaos o
exemplo da sua galhardia fiel até o extremo. O hagíógrafo veos agora
(Hb 12,1) colocados como que num estadio a considerar as geracoes cristas
e a maneira como se desempenharao do pareo que, por sua vez, Ihes toca
correr. Na verdade, a historia é a luta constante da linhagem da Mulher que
enfrenta a da Serpente (cf. Gn 3,15); é urna sucessao de geracoes chamadas a
um certame arduo, no qual os antepassados se tornam os torcedores dos
atuais atletas.
Entre os justos do Antigo e os do Novo Testamento, o hagiógrafo con
templa a figura do Cristo Jesús, "Autor e Consumador da nossafé" (Hb 12,1),
o qual desprezou a alegría que Lhe era proposta por Satanás (=o Messianis-
momirabolante sugerido pelas tres tentacoes; cf. Mt 4, 1-11) e abracou a
ignominia da Cruz; em conseqüéncia dessa opcao paradoxal, está Jesús sen
tado á direita do Pai (Hb 12,2), Ele que se fez obediente até a morte de Cruz
(cf. FI2, 5-11).
É para este Jesús, vencedor mediante a sua "bem-aventurada Paixao"
(Oracao Eucarística n° 1), que o autor sagrado nos convida a olhar. Ele, que
recapitula todo o heroísmo dos antigos justos, é o Prototipo e a Fonte da
forca. Para seguí-Lo, o cristao deve livrar-se de todo peso que lhe impeca a
corrida (o peso do pecado) e dispor-se a um certame de f&lego... nao de
salto. O de salto é espetacular, brevíssimo e suscita aplausos, ao passo que o
de fólego é ¡mperceptível, extenuante pela duraclo, sujeito a ser ignorado
pelos homens e a provocar desánimo. Um passo, mais um passo, mais um
passo... até o íncerto ponto de chegada, eis o programa do cristao.
A consideracao atenta da figura de Cristo é o grande reconforto do
discípulo. Certo de que é nobre portador da Paixao de Jesús (cf. Cl 1,24.
2Cor 4, 10-12), preencha o cristao o papel que lhe toca hoje na historiada
salvacao. Jamáis lhe será lícito esquecer que é filho dos Santos e herdeiro de
heróis.
E. B.

97
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
ANO XXIX-N? 310
M arpo de 1988

Historia das ReligiSes:

O Budismo
Em símese: O Budismo, fundado por Siddhartha Gautama, o Ilumi
nado (Buda), no sáculo VI a.C, procura libertar o homem do soi'rimen to,
tido como conseqüéncia do apego ás coisas sensíveis; o termo final da insen-
sibilizacao será o Nirvana, np qualse desintegrará o núcleo pessoal; haverá a
negacSo de todas as realidades negativas para dar lugar a urna felicidade indi-
zfvel. O Budismo professa a lei do karma e o ciclo das reencarnares. A sua
Moral é austera e sobria, tendo como paradigma a vida dos monges.

Tem-se dito que o Budismo é urna religiao sem Deus, pois se ocupa
muito mais com o homem do que com a Divindade; oferece urna cosmovisao
que tem imperativos de Absoluto, mas que nao tem a face de um Deus pes
soal.

O Budismo é urna das grandes religioes do mundo, com cerca de


300.000.000 de seguidores. Últimamente tem penetrado no Ocidente, in
clusive no Brasil, tomando formas diversas, que o público brasileiro nao
identifica fácilmente. Daí a importancia de urna explanacáo de quem seja
Buda e da doutrina que ele pregou.

1. Quem foi Buda?

A palavra Buddha significa em lingua páli1 "o Iluminado". £ o cogno-


me atribuido a Siddhartha Gautama, também conhecido por Sakyamuni (o
Sabio dos Sakya). Deve ter vivido nos anos de 566 a 486 a. C. no N.E. da

1 Pali á a Ifngua sagrada do Budismo, talada no Sul da India e assemelhada


ao sánscrito.

98
O BUDISMO

India. Nasceu de familia principesca e foi, por seu pai, educado no luxo bur
gués. Casou-se com dezenove anos e levou vida conjugal feliz e abastada du
rante dez anos.

A existencia faustosa que Siddhartha levava, nao Ihe satisfez. Um belo


dia viu-se diante da realidade da vida, pois se encontrou com um velho, um
doente e um cortejo fúnebre, que o fizeram pensar sobre a seriedade da pas-
sagem do homem pela térra. Depois o exemplo de um religioso mendicante
levou o príncipe a abandonar tudo para pesquisar as causas do sofrimento,
da ve I hice, da morte e do renascer. Tal passo custou-the renuncias: tinha 29
anos, quando uma noite, enquanto todos dormiam, lancou um olhar de
Adeus sobre a esposa e o f ilho recém-nascido, e deixou a residencia, decidi
do a nao voltar antes de ter descoberto a solucao do enigma da vida. Foi mo
rar numa floresta, como monge e como aprendiz dos grandes mestres da épo
ca. A religiao comum era o Bramanismo, pouco expressivo naqueles decenios;
emergiam entao grupos ou escolas, que, dentro dos parámetros da antiga re-
ligiosidade, tencionavam ensinar o caminho da salvaclo. Nada disso, porém,
satisfez a Siddhartha. No intuito de se libertar das paixoes, praticou o jejum
e a ascese, que o extenuaram ao extremo.

Passados seis anos nesse tipo de procura, o monge resolveu abandonar


todas as escolas e seguir sua ¡nspiracao pessoal na solidao, colhendo as revé-
lacoes que Ihe viessem do seu próprio i'ntimo. Após quarenta e nove dias de
meditacao, em noite de luar, sentado debaixo de uma figueira em Gaya, per-
to de Benares, Siddhartha combateu o último embate contra os desejos de
honra, poder e bem-estar e conseguiu a lluminacao, tornando-se Buda (o
Iluminado): compreendeu a causa do sofrimento, da morte e do renascer;
percebeu também os meios para extinguir o sofrimento, escapar ao ciclo das
reencarnacoes e chegar ao Nirvana. Depois disto, pós-se a percorrer durante
quarenta e cinco dias o Norte da India, pregando a sua mensagem de espe
ranza. Morreu com oitenta anos numa noite de luar, após haver dito aos dis
cípulos: "Recordai-vos, irmaos, destas minhas palavras: todas as coisas com
postas estío fadadas a decompor-se! Trabalhai com diligencia na vossa salva-
gao!"

As lendas imaginosas enriqueceram a personalidade e o currículo de


vida de Buda. Segundo a tradipáo, o Iluminado é o termo final de uma longa
serie de encarnapdes; percorreu os diversos graus dos seres vivos, manifestan
do sempre benevolencia para com os outros. Esteve também ñas regióos ce
lestes; foi Brama e soberano ñas esferas mais elevadas. A última etapa, po
rém, na qual atingiu a sua perfeicáo, foi a humana. Atribuiram-lhe milagres,
tidos como normáis na vida dos homens sabios e perfeitos. Diz aintia a tradi-
pao que Buda conhece os pensamentos dos homens e responde ás suas mais
íntimas ¡ndagacoes.
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

2. As quatro "Nobres Verdades"

Buda nao se apresentou como Salvador nem como Profeta inspirado.


Quis apenas ser um guia, que ensinava aos inexperientes aquilo que ele des-
cobrira por seus próprios esforpos. Nao falava de salvapao outorgada por
D'eus como urna grapa, mas falavada emancipacaoconquistada pelo intelecto
e a vontade do homem, movido pela consciéncia de sua própria responsabi-
lidade.

Do Hindúísmo Buda herdou dois elementos doutrinários:

1) a crenpa numa retribuiclo mecánica de tudo o que o homem faz de


bom e de mau (é o karma), lei de causa e efeito, contra a qual nao há apela-
pao nem prece nem ritos;

2) a crenpa na transmigrapao (samsara) através de nascimentos e de-


sencarnapoes sucessivas.

Sobre estas premissas o Iluminado desenvolveu a sua doutrina, que


consta de quatro "Nobres Verdades":

1) Diagnóstico: tomada de consciéncia do múltiplo sofrimento que


afeta o homem;

2) Etiología: descoberta da causa do sofrimento;

3) Cura: extinpao do sofrimento;

4) Terapia: caminho que leva á cessapáo do sofrimento.

Percorramos sucessivamente estes quatro pontos:

1} Dukkha ou sofrimento é o mesmo que nascer, declinar e morrer.


Neste itinerario estao disseminadas a dor e a tribulapao. A continua mudan-
pa de tudo ou desintegrapao é especial motivo de sofrimento.

2) A causa de todo este sofrimento é o tanha ou o desejo, o anseio: o


homem quer ser..., quer ter... ou quer evitar... é movido por afetos e pai-
xóes; apega-se ás coisas sensfveis, porque estas Ihe proporcionan! uma satis-
fapáo momentánea (satisfapao que, por sua vez, gera ainda mais desejos e
apegos). A causa desta avidez é a ignorancia ou a errónea compreensáo do
significado das coisas sensi'veís; o homem tende a nao considerar quanto elas
sao vazias. Se alguém morre com desejos nao realizados, deve renascer e o
ciclo de dores continuará.

100
O BUDISMO

3) O sofrimento cessa quando se extinguem todas as aspiracoes da


mente e dos sentidos do individuo. Quem se liberta de todos os anseios, ex
perimenta a Nírodha ou a cura e goza de paz e feiicidade indizfveis num es
tado dito Nirvana ou Nibbana.

4) Pergunta-se entao: qual a via que leva a tal feiicidade? - é a via


media entre a extrema mortificacáo e a desenfreada satisfacao dos anseios
sensuais. Chama-se Magga e é assim apresentada por Buda:

"Há dois extremos, irmSos, que deve evitar aquele que aspira á liberta-
cao. De um lado, a tendencia a satisfazer ás paixoes e aos prazeres sensuais é
baixa, desprezfvel, degradante e deletéria; esta é a via que seguem os homens
de mentalidade mundana. De outro lado, a prática da automortificacSo e do
ascetismo é terrivefmente dolorosa e inútil. Somente a via intermediaria...
evita estes dois extremos; abre os olhos e permite ver dentro do homem e
leva á liberdade, é sabedoria, á iluminacio plena, ao Nirvana".

Esta quarta "Nobre Verdade" compreende oito deveres ou principios:

I. Sila: 1) Discurso reto; 2) Agir reto; 3) Meios de subsistencia,


justos.
II. Samadhi: 4) Esforco justo; 5) Atencao justa; 6) Meditaclo justa
(concentracao).
III. Panna: 7) Idéias justas; 8) Aspiracoes (pensamento) justas.

A aplicacao destes principios leva ao Nirvana ou ao estado de paz


perfeita.

3. Que é o Nirvana?

A palavra Nirvana (sánscrito) ou Nibbana (páli) significa "desaparecí-


mentó" ou "extincáo", á semelhanca da extincao do fogo. Buda afirmava
que o mundo todo está em chamas, incendiado pelo fogo do tanha. Cada re-
encarnacao reacende urna chama. O Nirvana a apaga definitivamente e poe
termo á vida como os homens a entendem comumente. Por isto nao pode
ser descrito com palavras; só o conhece quem o experimentou pessoalmente.
Pode ser atingido nesta Térra mesma, embora isto seja difícil e fique reserva
do a poucos. O Nirvana só é pleno após a última desencarnacao. Entao todos
os atributos pessoais desaparecerao.

Na verdade, o Budismo ensina que no homem nao existe um eü ou


urna alma permanente; professa a an-atta (nao alma). Esta doutrina ó tida
como o ñervo do budismo e aquilo que distingue de todos os outros este sis-

101
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

tema filosófico-religioso. O eu é apenas urna combinacáo, sempre em mu


danza, de foreas e energías mentáis e físicas que se podem agrupar em cinco
categorías:

1. Materia (solidez, fluidez, calor, movimento);


2. Sensato: visao, audicáo, paladar, odorato, tato, memoria;
3. Percepcáo: as seis percepcoes correspondentes ás seis sensacoes;
4. Formacáo mental: vontade ou atividade mental;
5. Consciincia: a reacao ou a resposta aos fenómenos.

Conseqüentemente, no Nirvana ou no estado de paz absoluta o eu es


tará desintegrado e nao se poderá falar de felicidade pessoal. Haverá um
nada, nao, porém, em sentido negativo, mas, sim, um nada positivo, porque
será a negacao das realidades negativas. O Bramanismo propoe a salvacao
mediante a fusao do eu e do Absoluto; o Budismo, ao contrario, diz que nao
devem existir nem o eu nem o Absoluto, mas a superacao de ambos no Nir
vana ou em algo que é totalmente positivo e inefável.

4. A Moral budista

O Budismo formula em normas precisas o comportamento dos seus


discípulos leigos (os monges, além dos preceitos comuns, devem observar
227 outras normas).

Os preceitos fundamentáis (sila) distribuen-se em tres grupos: 1) os


cinco Mandamentos (Panca Sila ); 2) os oito Mandamentos (Arthamga Sila);
3) os dez Mandamentos (Dasa Sila).

4.1. Os cinco Mandamentos

Eis o mínimo que se requer de qualquer budista, ou, melhor, que todo
individuo budista deve propor a si mesmo a título de resolucoes pessoais,
orientado, se necessário, por um monge:

"1. Comprometo-me a abster-me de destruir a vida.


2. Comprometo-me a abster-me de tirar coisas que nao me tenham
sido dadas.
3. Comprometo-me a abster-me de qualquer mau comportamento
sexual.
4. Comprometo-me a abster-me de proferir frases nao verídicas.
5. Comprometo-me a abster-me de licores distilados ou fermentados,
que provocam intoxicacao e fazem girar a cabeca".

102
O BUDISMO

4.2. Os oito Mandamentos

Os preceitos anteriores sao acrescidos de tres outros, que nao obrigam


os leigos budistas, mas os verdadeiros devotos sao propensos a observá-los,
principalmente nos períodos de Lúa cheia ou caso tenham feito o voto de
cumpri-los.

Eis os tres novos preceitos:

"6. Comprometo-me a abster-me de alimentos em horas improprias.


7. Comprometo-me a abster-me de danca, canto, música e de todo es-
petáculo indecente. . ., de usar guirlandas, perfumes e ungüentos, assim co
mo as coisas que servem para embelezar e ornamentar a pessoa.
8. Comprometo-me a abster-me de usar cadeiras altas e luxuosas".

O terceiro mandamento nesta lista de oito sofre nova redacao, ficando


assim concebido:

"3. Comprometo-me a abster-me de todo ato nao casto".

4.3. Os dez Mandamentos

Acrescentam-se mais dois aos oito anteriores:

"9. Nao usar leitos grandes e confortáveis.

10. Nao fazer comercio de coisas de ouro e de prata".

Estes preceitos dizem respeito apenas aos leigos piedosos, visto que a
vida monástica impossibilita aos monges pensar em tais tipos de cama e de
comercio.

— Além do mais, aos monges se impoe estríto celibato.

Na verdade, os budistas, mesmo nao consagrados á vida monástica,


tendem a levar urna vida sempre mais sobria, pois procuram extinguir em si
mesmos todo desejo ou anseio, a fim de poder atingir o Nirvana. Por ¡sto
também os monges sao como que os adeptos modelares do budismo; sao os
conselheiros e orientadores, por excelencia, do povo budista.

O Iluminado era contrario aos ritos religiosos e ás oracoes e cerimo


ni as litúrgicas. Por isto nao fundou casta sacerdotal nem quis organizar ou
estruturar a sociedade dos seus discípulos. Apenas deixou após si urna Fra-

103
_8 "PERGUIMTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

ternidade de Monge.s, dedicados a vida de mendicantes celibatários e á medí-


tacao. Buda também nao designou sucessor para dirigir as geracóes subse-
qüentes de seus discípulos. Acontece, porém, que os monges, na medida em
que sao fiéis ao pensamento do Mestre, vém tomados como auténticos in
térpretes do mesmo e, por conseguinte, orientadores dos fiéis no mundo.

Dentro dos mosteiros, sim, existem: 1) novicos, 2) monges propria-


mente ditos, 3) andaos; 4) o Grande Anciao.

5. Ramos do Budismo

O Budismo ¡nfluenciou enormemente as diversas culturas da Asia, on


de ele se expandiu principalmente entre os séculos IV e VIII d.C.; nesta épo
ca quase toda a Asia foi budista. Tal expansao fez que a corrente budista se
diversificasse segundo as regioes ñas quais se inseriu. Atualmente o Budismo
apresenta tres linhas principáis ou veículos, além de outras menos importan
tes, que tém as seguintes características:

1) O Pequeño Veículo (ou Theravada), "doutrina dos antigos". Está


difundido no S.E.daÁsia (Tailandia, Cambodja, Laos, Birmánia, Sri Lanka...).
Protesta fidelidade a doutrina originaria. Considera Buda como pessoa histó
rica e mestre. Reserva lugar central á vida monástica. Apregoa a medí tacao
solitaria como via de salvacao, a qual tem que ser conseguida mediante o es-
forco de cada um. Nos países do Pequeño Veículo, cultura e Budismo se en-
trelacam, autoridades civis e religiosas vivem em harmonía e mutua influen
cia; os monges (cujo número é muito grande) e os leigos se apóiam uns aos
outros. O leigo budista, mesmo que se sinta chamado ao casamento, costu-
ma fazer estágio no mosteiro. Em Bangkok (Tailandia) existe urna especie
de Coordenadoria Mundial do Budismo, chamada World Buddhist Fel-
lowship, fundada em 1950 na ilha de Sri Lanka. Em Sri Lanka há 6.000
mosteiros, com 17.000 monges e 14.000 novigos.

2) O Grande Veículo (Mahayna) está difundido na Asia Oriental e Se-


tentrional (Japao, Coréia, China, Tibe, Mongólia. ..). Apregoa urna via fácil
e larga, aberta a todos os que estao em demanda da salvacao. Divinizou Bu
da, apagando alguns dos seus traeos históricos. Dá grande voga aos leigos;
permite o casamento aos Religiosos. Reconhece o valor da ajuda de outrem
para que alguém possa conseguir a salvacao. Exalta o santo misericordioso
(bodhisattva), que esquece a salvacao propria para atender aos outros. Cul
tiva a fé, a confianca e o amor. O Budismo tibetano tem por chefe religioso
0 Dalai-Lama1, que desde 1959 vive na India por causa do regime comunista

1 Lama é título dos monges em geral no Tibe.

104
O BUDISMO

de seu país; é baluarte de estrita observancia. No Japao, o Budismo se rami-


ficou grandemente; em 1876 foi abolido o celibato dos monges o que pro-
vocou a reducao dos recintos monásticos propriamente ditos. Os 70.000
templos budistas constituem núcleos aos quais se agregam as familias. Além
disto, tém surgido movimentos leigos dentro do Budismo japonés como o
Rissho-kosei-kai e o Soka Gakkai. - Na Coréia o Budismo está dividido em
dezoito correntes.

3) O Veículo do Diamante (Vajrayana) ou Vefculo do Livro (Tan-


trayana) difundiu-se principalmente no Tibe e na Mongólia; é derivado do
Grande VeCculo e admite expressdes religiosas próximas as do animismo e da
magia. Recorre a fórmulas (mantra) mágicas, ao segredo esotérico, á mitolo
gía feminina e a um Ritual elaborado.

6. Reflexao final

Há quem diga que o Budismo, na sua concepcao originaria, nao é uma


religiao no sentido próprio desta palavra, pois volta ásua atencao para o no-
mem mais do que para Deus: procura levar seus adeptos ao autodesenvolvi-
mento e a auto-iluminapao, esclarecendo-lhes a mente sobre o mundo com t
seus valores e desvalores; desperta para uma vida moral de elevado teor; con
sola na dor, reconforta diante da morte; faz tender á emancipacao frente ás
paixoes e ao Nirvana, que seria a felicidade suprema.

O Budismo nao propoe uma revelapao da parte da Divindade nem exi


ge a fé em verdades transcendental, mas a conviccao a respeito de uma de
terminada cosmovisao, que a razao e a reflexao podem avahar.

Mesmo dentro do plano meramente filosófico, o budismo dá especial


énfase á prática ou a Moral, pois esta é que permitirá ao homem insensibili-
zar-se frente ás coisas materiais para entrar no Nirvana. É solene dístico da
tradipao budista:

"Por culpa nossa cometemos o mal,


Por culpa nossa sofremos.
Por mérito nosso deixamos cíe fazer o mal,
Por mérito nosso somos purificados".

Verdade é que o Budismo nao nega a Divindade e propoe uma cosmo


visao tío exigente quanto a de uma religiao. A este título pode ser tido co
mo Religiao: na "doutrina libertadora" (Oharma) Buda encontrou algo de
semelhante a Oeus, mas sem o proclamar explícitamente. Ele dizia, ao findar
as suas meditagoes sob a figueira: "É um mal permanecermos sem ninguém a
quem testemunhemos veneracao e respeito". Esse alguém venerável Sid-

105
_10 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

dhartha o encontrou: nao seria chamado Brahma, mas, sim, Dharma (men-
sagem de emancipadlo), a quem Budadaría o valor do Absoluto, nao, porém,
o semblante do Absoluto, de urna pessoa (comentarios de Marcello Zago, p.
69 na obra citada na bibliografía deste artigo).

O Budismo tem em comum com o Cristianismo o anseio a urna vida


pura e perfeita, isenta de paixóes desregradas. Vive mais em funcao do invi-
sível do que do visível — o que encontra eco na mensagem crista (cf. 2Cor
4,18). Todavia as diferencas sao evidentes:

1) Enquanto o Budismo prega a auto-salvacao, o Cristianismo apre-


goa a hetero-salvacao. É Deus quem toma a si a salvacao do homem (que es
te, sem dúvida, pode rejeitar).

2) O Cristianismo se interessa pela salvacao do homem, mas sem dei-


xar de ser teocéntrico ou de estar voltado para Deus; a salvacao do homem
dá gloria a Deus. Em última análise, o mundo e o homem existem porque
Deus, que é o Sumo Bem, os fez para difundir a sua Bondade e espelhar no
homem a sua imagem e sémelhanca.

3) O Cristianismo propóe ao homem o encontró com o Grande TU ou


o grande referencial de sua vida. Deixa de ser um sistema -físico e mecani-
cista, para ser a mensagem do Amor que "primeiro nos amou" (Uo 4,19) e
que espera a condigna resposta do homem. A Cruz de Cristo, Deus e homem
verdadeiro, faz a ponte emre o céu e a térra e dá ao sofrimento o sentido de
um testemunho de fidelidade e amor. Já que o primeiro Adao foi até a mor-
te por desobediencia ou desamor, o segundo Adao va i até a morte por obe
diencia e amor, e convida os demais homens a segui-lo. A dor foi transfigu
rada pela ressurreicao na Páscoa.

4) Além destas observacoes, deve-se notar que entre Cristianismo t


Budismo há umadiferenca fundamental:enquanto aquele é monoteísta, este
é pantei'sta, isto é, identifica a Divindade com o homem e o mundo. Esta
premissa básica provoca urna diferenciacao geral entre o sistema de Buda e o
de Jesús Cristo; veja-se a propósito o que foi dito sobre o Hinduísmo sm PR
309/1988, pp. 78-89.

A guisa de bibliografía:

PHICHIT, P., II Buddismo, na coletánea de varios autores intitulada


"Le Grandi Religioni del Mondo. Edizioni Paoline, Milano 1987.

ZAGO, MARCELLO, Buddhismo: la religione senza Dio, em JESÚS,


número especial, outubro 1986, pp. 64-69.

106
Uma re-leitura da historia:

"A Cristandade Colonial.


Mito e Ideología"
por Riolando Azzi

Em símese: Riolando Azzi propoe 22 capítulos em que considera fa


cetas da historia da Igre/a no Brasil em perspectiva marxista, ou seja, enfo
cando tudo através do prisma "luta de classes", "opressores e oprimidos"...
Este procedimento redunda em auténtica caricatura da historia, que é estu-
dada preconceituosamente. Sem dúvida, as páginas de R. Azzi apontam tam
bém aspectos reais, históricos, em que a fraqueza dos homens da Igre/a se
manifesta; ao lado de tais fatos, porém, houve muitos outros, que testemu-
nham o heroísmo e o ideal cristao dos agentes da historia do Brasil. Seria
preciso considerar também a estes e nao aplicar aqueles categorías depensa-
mentó anacrónicas; cada época hé de ser julgada dentro dos parámetros que
os seus protagonistas podiam conhecer.

No final do livro, o autor tenciona recuperarse do extremismo de. suas


posicoes, reconhecendo os valores da fé e da religiao para reconstruir a socie-
dade aínda em nossos días impregnada de ilusorio cientificismo. Todavía as
poucas observacoes que faz a respeito nao sao suficientemente claras e enfá
ticas para desfazer o que o livro pode transmitir de caricatural e amargo aos
seus leitores.

Riolando Azzi nasceu em Sao Paulo (1928). Licenciou-se em Historia


da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, e obteve o Mestrado em Fi
losofía na Universidade Federal do Rio de Janeiro. É membro da Comissao
de Estudos de Historia da Igreja Latino-Americana (CEHILA) e pesquisador
do IBRADES (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento). O autor vem-se de
dicando ao estudo da historia da Igreja no Brasil, e oferece agora ao público
uma reflexáo filosófico-sociológica sobre "o regime de Cristandade" que fot
a época colonial1. Cristandade, no caso, designa a ordem de coisas em que o

1 Riolando Azzi, A Cristandade Colonial. Mito e Ideología. - Ed. Vozes,


Petrópolis 1987, 135 x 210 mm, 152 pp.

107
J2 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

Estado se dizia cristáo e, por conseguinte, parecía observar oficialmente as


normas do Cristianismo.

O livro é ti'pico de urna re-leitura da historia em chave marxista, como


o próprio autor professa na sua Introducto:

"Foi sob a influencia de Antonio Gramsci que desperté i para a impor


tancia da religiao popular como expressao significativa da cosmovisáo de de
terminado período histórico" (p.9).

"Na utílízacao do conceito de ideología inspíreime tanto em Karl


Mannheim Ideología e Utopia, como na Ideología Alema efe Karl Marx" (p.
13).

"A contribuicao de Marx está em mostrar a importancia e o peso do


aspecto económico na elaboracao das ideologías " (p. 13).

A seguir, examinaremos os principáis tragos do livro de R. Azzi, aos


quais acrescentaremos algumas observapoes.

1. As linhas-mestras do livro

Segundo R. Azzi, o homem primitivo, sentindo-se envolto em misterio


e inseguranca, concebeu mitos como forma de explicagáo e "domesticacao"
do mundo. O mito é inspirado preponderantemente pela imaginacao, que as-
sim procura responder ás perguntas: por qué? Por que exatamente agora?
Por que tao longe? Por que justamente comigo? Sao questoes atinentes ao
sentido da vida, da dor, da morte...

Os mitos tém geralmente caráter religioso. Entre eles sobressaem os


mitos cristaos, que estao na raiz da historia da Europa medieval e do Brasil
colonial, segundo R. Azzi.

Ainda, conforme o autor, os mitos deram origem ás ideologías, isto é,


aos sistemas de organizacao da sociedade que corroboram e atualizam os
mitos:

"Enquanto a forca do mito está exatamente no seu caráter primordial,


no seu aspecto de principio fundante do mundo e da sociedade, a ideología
permite analisar o efeito histórico do mito na organizacao social e cultural
de um povo, e sua cristalUacao ñas cosmovisoes estruturadas no decorrer
dos tempos. A Ideología é a maneira de ver o mundo resultante da formafSo
histórica de urna tribo, de um da, de um povo. . . É a partir da sua visao

108
"A CRISTANDADE COLONIAL,MITO E IDEOLOGÍA" 13^

ideológica que as pessoas, os grupos sociais e os povos se posidonam diante


da vida e do mundo" (p. 12).

Dito isto, o autor discorre sobre a Historia da Igreja no Brasil tentando


mostrar a repercussao dos "mitos cristaos" na configuradlo da sociedade de
opressores e oprimidos, patrdes e escravos. . .. que, conforme Azzi, foi o
Brasil-colonia.

Quem lé os sucessivos capítulos do livro, tem a ¡mpressao de estar


diante de urna caricatura derivada de urna visao unilateral e preconceituosa
dos fatos. Realcemos alguns de seus tópicos:

1) A palavra "mito" é aplicada até mesmo a Jesús na seguinte frase:


"Jesús aparece como urna figura histórica e mi'tica ao mesmo tempo" (p.
13). Á p. 104, fala-se do "mito do Bom Jesús". Vejam-se ainda:

"Segundo a concepcao mítica judaico-crista, o mundo, como constru-


cao divina, era estruturatmente bom" (p.30).

"A narracao do paraíso constituí o mito fundante da historia huma


na... O mito descreve um evento que se realiza quando o ser humano Vivía
aínda envolto pelo misterio, inserido na própria ordem divina" (p. 85).

"O mito católico gira ao redor de dois polos fundamentáis: dor-alegria,


destruicao-ressurreicio, morte-vida" (p. 107).

"Segundo o mito cristao, a dor e a morte constituem o castigo impos


to por Deus a rebeliao das criaturas " fp. 103).

"O mito católico da morte e ressurreicao do Fimo de Deus já tinha


precedentes nos cultos agrarios do Medio Oriente" (p. 105).

Verdade é que a palavra "mito", na linguagem técnica contemporánea,


já nao significa "lenda ficticia", mas, sim, um sistema de explicacao do mun
do e do homem que pode ser portador de alguma verdade. - Todavía o que
chama a atencao no livro de R. Azzi, é a designacao da mensagem crista co
mo "mito" ao lado de outros mitos nao cristaos; o vocábulo relativiza o con-
teúdo do Evangelho, reduzindo-o á expressao fantasiosa de arquetipos sub
jetivos, congénitos no homem e elaborados fantasiosamente.

2) Conseqüentemente a religiáo é tida como "opio do povo":

"A religiáo foi utilizada como 'opio do povo', impedindo ou dificul


tando aos brasileiros a tomada de consciénría sobre sua situacSo histórica"
(p. 146).

109
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

"O exemplo do 'bom' Jesús apresentava-se como.vm reforco á acei-


tacao da térra como 'vale de lágrimas'. . . O mito falava com eloqüéncia es
pecial ás populacoes mais pobres, compostas de negros escravos, de mesti-
eos, caboclos e indígenas sociaJmente margina/izados " (p. 104).

3) O livro é todo perpassado por an títeses:

"mundo dado por Deus" x "mundo construido pelo homem" (p. 32);

"consciénda intelectual típica da mentalidade urbana" x "conscién-


cia mítica, expressao característica do mundo rural" (p. 143);

"Misticismo religioso" x "plena luz da razio científica" (p. 132);

"senhores" x "servos", "santos protetores" x "fiéis devotos", "prote-


cao x fidelidade" (p.64);

"Providencia Divina"x "previdencia humana" (p. 147).

Tem-se a impressao de que Igreja e Estado, conforme o autor, devem


viver num constante antagonismo, pois o bom entendimento entre ambos
parece-lhe significar atrelamento da Igreja aos opressores e dominadores; é o
que dá origem ao "mito da Cristandade" (p. 141).

4) A doutrina católica favorecería o racismo:

"Na própria doutrina católica sao apresentados elementos queservem


para afirmar a supremacía da raca lusitana sobre a indígena e a negra, racas
estas condenadas a viver na subordinacao aos brancos e na marginalizacSo
social" fp. 83).

5) No final do livro, o autor diz que a ordem mítica de Cristandade


foi derrubada pela Revolucao Francesa e pelo lluminismo (Racionalismo),
que a inspirou. Em Portugal, o Marqués de Pombal representou a nova cos-
movisao, racional e científica, em vez de fantasiosa e emotiva; expulsou do
reino e da colonia os jesuítas, enfraquecendo assim o pensamento escolásti
co e preparando a reforma da Universidade de Coimbra em 1772. No Brasil,
a nova mentalidade gerou idéias independentistas, que suscitaram a autono
mía da col&nia em 1822. Todavia o Imperio no Brasil aínda se mostrou mui-
to ligado á cosmovisao de Cristandade. Sonriente com a República (1889)
esta foi sendo mais eficazmente substituida pela mentalidade do homem
adulto, que olha para o progresso e o futuro, que se pro-jeta numa perspec
tiva antropocéntrica orientada pela ciencia (p.147):

110
"A CRISTANDADE COLONIAL. MITO E IDEOLOGÍA" 15.

"Num país marcadamente conservador, onde a religiSo mantivera seu


dominio inconteste por quase qua trocen tos anos, a nova mentalidade de
confianca no poder da ciencia, e, ao mesmo tempo, de esperanca no progres-
so humano, teve urna importancia fundamental na críacSo de um novo hori
zonte de reflexSo para as carnadas medias urbanas, num verdadeiro empolga-
mentó. O Brasil passa a ser proclamado como urna nacSo 'jovem', com um
'futuro' promissor, a ser conquistado pelo desenvolvímentó comercial e
industrial, pelo trabalho e a poupanfa" (p. 149).

A Teología da Líbertagao seria urna expressao da nova mentalidade


reinante dentro da própria Igreja.

6) Eis, porém, que ñas quatro últimas páginas (149-152) do livro o au


tor tenta recuperar-se como se tivesse ido longe demais ao afirmar eufórica
mente a autonomía do novo Brasil iluminado pela mentalidade cientif icista:

"A confianca na autonomía da razio e no primado da ciencia, típicas


dos séculos XVIII e XIX, vem dímínuindo muito ñas sociedades européias,
sobretudo após as duas guerras mundiais. De fato, comecou a ficar bem evi-
dente que, assim como a religiSo, também a ciencia pode ser utilizada a ser-
vi'(o de urna classe ou grupo social, em detrimento de outro, bem como po-'
de ser manipulada para a destruicao da natureza, ao invés de transformá-la
em beneficio do homem. Os movimentos ecológicos, cada vez mais fortes,
representam um grito em defesa do mundo natural 'dado', contra o avanco
destrutivo do mundo 'construido'pelo ser humano, é possível ver ho¡e, com
bastante clareza, que, assim como o mito religioso,, também o mito científi
co sofre freqüentemente o viés ideológico" (pp. 149s).

7) Concluí entao o autor que é necessário combinar entre si a "re-vela-


cao" da religiao e o "des-velamento" cientCfico (p. 151).

E no último parágrafo do livro escreve R. Azzi:

"O mito cristao é exatamente a exaltacao do ser humano em sua dialé-


tica de corpo e alma, de materia e espirito, de ciencia e fé, de criatura e cria
dor, de uno e múltiplo, de relativo e absoluto, de tempo e etemidade. Qual-
quer tentativa de privilegiar um desses planos constitutivos do mito cristao,
em detrimento do outro, empobrece nSo só a existencia do ser humano, co
mo também sua realizacSo cultural sobre a térra" (p. 152).

Este fecho do livro tenciona ser equilibrado e aceitável ao cristao. To


davía vai muito brevemente explanado após 22 capítulos de caricatura do
Cristianismo, de sorte que o que predomina no livro é urna abordagem ten
denciosa e unilateral da historia da Igreja; a crítica é constante e preconce-

111
_16 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

bida, nao levando em conta quase nenhum dos aspectos positivos da histo
ria.1

A obra assim sumariamente, apresentada sugere algumas ponderacoes.

2. Refletindo...

Seguem-se seis consideracóes a proposito do livro de Azzi:

1) Quando se fala de religiao católica, é preciso distinguir sempre en


tre aquilo que a Igreja oficialmente professa e ordena, daquilo que tal ou tal
pessoa ou instituicao católica diz e faz. Sabe-se que os reis de Portugal rece-
beram dos Papas, nos sáculos XV/XVI, ampias facuidades para evangelizar
os povos recém-descobertos; dispunham assim do "padroado" sobre a Igreja.
As ¡ntengoes dos Papas, ao confiar-lhes tais faculdades, eram compreensí-
veis: os monarcas lusitanos, sendo católicos, eram chamados a colaborar de
perto no cumprimento da ordem de Cristo: "Ide, pregai a todos os povos,
fazendo-os meus discípulos e batizando-os. . ." (Mt 28,18-20). — Acontece,
porém, que a fraqueza humana levou muitas vezes os reis e seus colaborado
res a abusar das faculdades recebidas, para servir a interesses particulares ou
espurios. Tais fainas nao foram cometidas por inspiracáo da Santa Mae Igre
ja, mas a revelia desta. — É á luz desta observacao que se devem reler muitas
páginas do livro de R. Azzi; apontando falhas da Coroa portuguesa, nao está
necessariamente acusando erras da autoridade da Igreja.

2) Nao podemos estudar historia sem reconstituir o ambiente e a men-


talidade da época considerada; nao é lícito aplicar criterios filosóficos de ho-
je a pessoas que nao os tinham, nem os podiam ter. Além de anacronismo,
isto sería injustica. Os antigos tinham por ideal construir a "Cidade de
Deus", na qual o braco secular e a autoridade eclesiástica colaborariam uná
nimemente na ¡nstauracao de urna ordem pública justa e crista; daí a uniao
de Igreja e Estado, que, como tal, é plausível, mas que muitas vezes red un-
dou em que os valores da Igreja e do Cristianismo fossem manipulados ou
desviados para fins heterogéneos. O ideal d¿ Cidade de Deus explica a for-
macao do estado de Cristandade, que perdurou até o século passado nos paí
ses latino-americanos.

De resto, é oportuno lembrar que cada época da historia tem seus pa-
radoxos ou suas incoeréncias. Se o homem contemporáneo as aponta na
Idade Media, as geracoes do futuro as apontarao também em nossa época;

' Ao tratar da esclavatura no Brasil, R. Azzi observa que a Igreja se interes-


soupeia libertario dos escravos (pp. 82-84).

112
"A CRISTANDADE COLONIAL. MITO E IDEOLOGÍA" 17,

com efeito, é paradoxal que tantos e tantos cidadaos sejam contrarios á pena
de morte, mas clamem em favor do aborto (pena de morte para o ino
cente!), . . . que tantos e tantos sejam cn'ticos da Inquisiclo, mas persigam
seus adversarios políticos, colocando-os em campos de concentracao e lavan
do-I hes o cránio;. . . que tantos critiquem a escravatura, mas favorecam a
venda da pessoa humana como prostituta, mae de aluguel, "menina de pro
grama", "massagista". .. é certo que os erros modernos nao justif icam erros
do passado, mas ajudam a vi sao mais objetiva e verídica da realidade huma
na, que é a mesma (lúcida e sombría) em todos os tempos.

3) A piedade popular nao raro desfigura a religiáo, reduzindo-a a ati-


tudes fantasiosas e emotivas ou a um sistema de curas, milagres, "proteccio
nismo". .., que pode alienar os fiéis e reduzi-los ao conformismo doentio...
Em tais casos, a religiáo pode tornar-se "opio do povo". Trata-se, porém, de
urna contrafacao ou deteriorapao da religiao. Esta, como tal, especialmente
o Catolicismo, é um fator de engrandecimento do ser humano e um estímu
lo a que exerca o seu papel de "imagem e semelhanca de Deus" frente ao
mundo visível que o cerca. Tenham-se em vista as observacoes do Prof. Leo
Moulin apresentadas ás pp.115-120 deste fascículo. Principalmente na
época atual a Igreja incita os fiéis a que assumam seu lugar na sociedade civil
e nos diversos ramos do saber e das atividades profissionais, pois nada do
que é humano é alheio ao Cristianismo.

Aínda com outras palavras: a relagao congénita do homem a Deus nao


diminuí a criatura, nao a infantiliza, nem a impede de cumprir as suas tare-
fas na construcao deste mundo. O próprio R. Azzi parece reconhecer isto
no final do seu livro, onde ele tencíoná abrir o espaco devido aos valores re
ligiosos. De resto, a historia contemporánea atesta eloqüentemente que, por
mais que se queira extinguir o senso religioso de algum povo, ele resiste te
nazmente as pressoes, sem capitular; um dos exemplos mais recentes sao
as palavras do Ministro soviético Gorbachev, que exclamou (oxalá com sin-
ceridade!): "Deus nos ajude!", quando desembarcou nos Estados Unidos aos
06/12/1987.

4) A mensagem crista nao é um "mito" entre outros; nao é produto


subjetivo da mente humana desejosa de "tapar buracos" ou de encontrar res-
postas para seus enigmas. É o termo da revelacao do próprio Deus; nao só a
fé o diz, mas também a observacao da historia e dos frutos da mensagem
crista neste mundo; longe de desabonar suas origens, a historia do Cristianis
mo atesta a grandeza e a transcendencia do seu Autor (tenham-se em vista,
mais urna vez, as consideracóes do Prof. Moulin).

5) A luta de classes ou a tendencia dos mais fortes a oprimir os mais


fráeos é urna constante de todos os tempos. R. Azzi, valendo-se de premis-

113
_18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

sas marxistas, critica os cristaos que erróneamente cederam a tal tendencia.


— Nao se pode esquecer, porém, que o marxismo cede ao mesmo "mito",
pois o marxismo é urna forma de messianismo ateu, em que o Messias é o
Proletario sacrificado para que naja urna nova humanidade a recuperar "o
paraíso perdido". O marxismo pratica o mesmo jogo de opressores contra
oprimidos em nome de sua mentalidade cientificista, que redunda em mito
e misticismo1. Nao é, pois, em nome do marxismo que combateremos a
prepotencia iníqua de uns sobre outros, mas em nome do Evangelho, que
ensina a fraternidade e o amor (agápe) entre os homens; tenhamos em vista
especialmente o Sermao da Montan ha (Mt 5-7).

6) Nao é lícito criticar a Igreja pelo fato de entreter bom relaciona-


mentó com a autoridade civil legítimamente constituida. Conserva seu vigor
a norma paulina: "Toda autoridade vem de Oeus, e as que existem foram es-
tabelecidas por Deus" (Rm 13,1). Enquanto a autoridade nao exorbita da
sua aleada impedindo o Reino de Deus, merece respeito e pode ser solicita
da para colaborar explícitamente com o Reino de Deus. é interessante obser
var como alguns cristaos modernos, condenando todo dualismo, costumam
alimentar o dualismo "Igreja x Estado".

3. Conclusao

É de lamentar que a Introducao e os 22 capítulos do livro de R. Azzi


sejam tao amargos, irónicos e caricaturáis. Somente fortes preconceitos po-
dem ter inspirado tal literatura, preconceitos, alias, reconhecidos pelo autor
ao se dizer devedor de Gramsci e Marx (pp. 9 e 12). No final do livro, o au
tor quer equilibrar sua posicSo extremada, mas o faz insuficientemente; con
tinua a falar do "mito cristáo, no qual se afirmam simultáneamente a huma
nidade e a Divindade de Jesús" (p. 151). Ainda que mito tenha, no caso,
o sentido mais ampio que os modernos historiadores Ihe atribuem, a exprés-
sao aplicada a Jesús e ao Cristianismo é ambigua e inadequada. O final do li
vro nao resgata a densidade de caricaturas irónicas que o corpo do livro
apresenta ao leitor. é de crer que este, ao percorrer a obra de R. Azzi, deixe
prevalecer o seu bom senso e tenha o discerní mentó neoessário para fazer a
triagem de verdades objetivas e proposigoes tendenciosas.

1 A propósito é importante notar que Jacques Monod, famoso biólogo neo-


positivista e ateu, julgava que o marxismo e o Cristianismo convergem entre
si por serem, ambos, sistemas místicos (aquele sem Deus, este com Deus).
Cf. "O Acaso e a Necessidade". Ed. Vozes, Petrópolis.

114
Fala o Prof. Leo Moulin:

O Cristianismo Visto
por um Agnóstico

Em símese: 0 Prof. Leo Moulin, belga de 82 anos de idade, diz-se


agnóstico ou ateu. Pesquisou, porém, tongamente a historia do Cristianismo,
especialmente a Idade Media, e apoma grandes valores dessa historia,... va/o
res que abonam a vitalidade fecunda da mensagem crista. Concluí exortando
os católicos a que estudem a historia do Cristianismo também eles, para po
der responder ás objecSes que hoje em día, precipitada ou preconcebidamen
te, se levantam contra tópicos desses dois mil anos de atuacSo no mundo.

* * *

0 Prof. Leo Moulin, belga de 82 anos de ¡dade, foi durante cinqüen-


ta anos docente da Universidade Maconica de Bruxelas, Universidade funda
da para fazer frente á Católica de Lovaina. Filho de familia agnóstica, an
ticlerical, voltada para o Socialismo, o Prof. Moulin até hoje nao professa
a fé crista, mas é um apologista do Cristianismo, que ele muito tem estu-
dado. Freqüentou a Maconaria, mas acabou deixando-a. Diz atualmente ser
um agnóstico rigoroso, se nao um ateu radical.

0 jornalista Vittorio Messori.jáconhecido no Brasil (cf. PR 282/1985,


p. 402), foí entrevistar o Prof. Leo Moulin, que Ihe declarou textualmente:
"Muitas e muitas vezes, desde enanca, incutiram-me a idéia de que crer é
um ato de covardia ou um renunciar á própria dignidade. Em conseqüéncia,
com os meus mais de 80 anos, sinto-me aínda bloqueado a tal respeito. So-
fro disto nao tanto por causa de mim, mas por causa dos meus muitos ami
gos cristaos, os mais caros que tenho e que me cercam de atencoes, de admi-
raplo e de convites; nao os quisera ofender, morrendo como agnóstico e
recusando, por dever de consciéncia, os sacramentos. Mas que posso fazer?"

1 Agnóstico é aquele que professa que nSo pode conhecer (Deus e as rea/ida-
des espirituais). £, portanto, contrarío é Metafísica e é Teología.

115
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

Nao obstante, o jornalista foi propondo ao Prof. Moulin perguntas


diversas relativas a religiao, ás quais o entrevistado deu respostas que mere-
cem ser conhecidas pelo público brasileiro. Poem em relevo aspectos do Cris
tianismo muito positivos; o depoimento, partindo de um nao cristlo ou de
um ateu, torna-se duplamente valioso - razao pela qual vai aquí reproduzido
em tradugao portuguesa.

1. Valores humanos

Leo Moulin refere a Messori que, desde muito, descobriu coisas impor
tantes:

"Primeramente: aqueles valores apresentados como produtos da livre


pesquisa humana, na verdade, provém da TradicSo crista e sao incompreen-
si'veis sem esta. Em segundo lugar: arrancados da sua base religiosa, esses
mesmos valores pairam no vazio, de modo tal que se torna difícil dar-lhes
solidez. Para o cristao, eles fazem parte de um sistema coeren te; para o nao
eren te, sSo apenas postulados,. . . nobres certamente, mas nao explicáveis
racionalmen te ".

Nao basta dizer isto. Como freqüentemente mostrou Moulin nos seus
livros, baseando-se ñas licoes da historia dos dois últimos séculos, os valores
que os leigos escrevem ou escreviam com letras maiúsculas, degenerare, se
separados do Cristianismo, que os criou e os torna acreditáveis.

"Separadas do nome de Deus, todas as outras maiúsculas sao mortífe


ras: nada derrama mais sangue do que as religioes irreligiosas modernas. A
Liberdade, primeramente, transformou-se em anarquía; depois tornou-se
o seu contrario, isto é, tiranía. A Igualdade levou á pior iníqüidade, o iguali
tarismo. A Razao se fechou em fórmulas esteréis e nos becos cegos do racio
nalismo, que impede de compreender a complexidade do real. O culto dos
Direitos do individuo levou-nos ao individualismo, ao egoísmo, ao hedo
nismo".

2. A Idade Media

Leo Moulin tem grande estima pela Idade Media.

"O século XIII, vértice da sociedade medieval, é um dos pontos mais


altos e luminosos da historia do Ocidente ou mesmo da humanidade. Em
poucos decenios, tivemos Giotto, Dante, Tomás de Aquino, mil catearais..."

116
O CRISTIANISMO VISTO POR UM AGNÓSTICO 2±

Moulín ri-se do mito dos "sáculos obscuros":

"Eis um breve e incompleto elenco das ¡nvencdes tecnológicas (obras,


quase todas, de mongos beneditinos) do homem medieval, que, como diz a
lenda, vivía na ignorancia e na penitencia, apenas á espera do fim do mundo:
o moinho de agua, a serra hidráulica, a pólvora preta, o relógio mecánico, o
arado, a relha, o timSo a roda, o jugo para o cávalo, o canal com redusas e
portas, a canga múltipla para os bois, a máquina para enovelar a seda, o guin
daste, a dobadoura, o tear, o cabrestante complexo, a bússola magnética, os
óculos. Acrescen temos a imprensa, o ferro fundido, a técnica de refinacSo,
a utilizanao do carvao fóssil, a química dos ácidos e das bases, etc. Esse im
pulso ao conhecimento científico e tecnológico continuou nos sáculos se-
guintes: no inicio do sáculo XVII a Europa contava 108 Universidades, en-
quanto no resto do mundo nSo havia urna só... Isto poe um problema para
o historiador. Por que é que o desenvolvimento ocorreu somente em área
crista, e nao fora desta? Por que, hoje aínda, entre os dez países maís evoluí-
dos é ricos do mundo, nove sSo de tradícao crista? Na~o há outra explica-
ció senao a que ¡á expus em livros dedicados á questao: há na mensagem
crista alguma coisa que leva os gérmens do desenvolvimento e do progresso.
A antropología da Biblia exalta o homem e o pde no centro do universo.
Além disto, pregando igualdade, ela cria urna sodedade livre, sem barreiras
sacrais ou de castas; nao há, pois, como se surpreender se, alimentado por
tal mensagem, o homem europeu conquistou o mundo. . . Por que as suas
naves Ihe permitiam dominar os mares? Por que ele, e ele só, sentiu a neces-
sídade de expandirse sobre a térra inteira, enquanto a África, a Asia, a Amé
rica pré-colombiana permanedam imóveis nos seus confins? Sem esta nossa
maravilhosa Europa, o mundo, como o conhecemos, nSo existiría. Mas nao
existiría nem mesmo esta Europa recoberta de glorias sem as suas rafzes cris-
tSs e sem os seus monges".

Continua Leo Moulin, referindo-se aos monges em especial:

"As familias beneditinas procuravam, antes do mais, a gloria de Deus.


E eis que, mesmo sem o procurar, construiram o mecanismo do desenvolvi
mento económico e cultural. Havia necessidade de vinho para a Missa; ora
o continente se recobriu de vinhedos até a Escocia e a Polonia. Havia neces
sidade de cera para as velas; eis, em resposta, o desenvolvímentó da apicultu
ra. Para atender á dieta vegetariana, havia necessidade de verdura, quei/'o,
peixe; eis, em resposta, as hortas, os rebanhos, os aquérios. Era preríso tra
tar dos doentes; eis entSo o cultivo das plantas medicináis e os laboratorios
de fármacos vegetáis. Havia necessidade de livros; eis os tcriptoria, oficinas
de cultura. Mas a construcio dos mostetros e ¡grojas requer também pedrei-
ros, carpinteiros, pintores, escultores; ai está um intenso movimento, que
parte da esfera espiritual e que se alarga, qual mancha de óleo, pondo em

117
_22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

acio a economía da sociedade inteira. Sio realidades estas bem diferentes


da 'inutilidade social dos monges', mencionada pelos decretos de supressio
dos mosteiros. Data dos séculos XVIII e XIX\ Muiros reis e muitos políti
cos que expulsavam os Religiosos das suas casas, esquedam que a prosperi-
dade dos seus países lora construida precisamente por aqueles 'ociosos' ".

Moulin volta-se aínda para outro mito, que atribuí a Igreja Católica
opressao política e autoritarismo apenas:

"Dá-se precisamente o contrario] Se a democracia parece caracterizar


somente o Ocidente, a causa disto está de novo no Cristianismo ou, mais
precisamente, no monaquismo. Os próprios termos do regime democrático
(Par/amento, escrutinio, voto de Minerva. . .) provém da negra beneditina.
A democracia, como a conhecemos, nao nos vem dos gregos e, muito me
nos, dos romanos, mas dos Religiosos, que elaboraram um sistema, aínda
ho/e nao superado, de represen tacao... no interior da comunidade. O exem-
pío dos mosteiros tornou-se escola para todos, e deu a cada um o senso da
dignídade, que frutificou ñas democracias modernas".

3. Sao Bento de Núrsia

O Prof. Leo Moulin, apologista das instituicoes e da obra cultural da


Igreja, tem em mira um nome que, desde a juventude, Ihe fala muito viva
mente: o de SSo Bento de Núrsia (480-547). Tornou-se um dos grandes estu
diosos da Regra de Sao Bento:

"Há decenios que venho estudando aqueles poucos milheíros de pala-


vras, e nao cesso de me maravilhar, como sociólogo e como politólogo que
sou, além de historiador. Por isto creio muito acertada a decisao de Paulo VI,
em 1964, de proclamar Sio Bento patrono principal da Europa. A sua Re
gra, como o movimento que ela desencadeou, está realmente na base de
quanto o Ocidente produziu de melhor".

E qual seria o trapo mais ¡mpressionante da Regra, segundo Leo Mou


lin?

"O genio de SSo Bento consiste em ter encontrado o equilibrio entre


as duas tendencias fundamentáis: a direita e a esquerda. A direita, em teolo
gía, nio eré ñas capacidades da natureza humana, deteriorada radicalmente
pelo pecado. A esquerda, ao contrario, tem excessiva conf¡anca no homem
e ñas potencialidades para pratícar o bem...

Sao Bento nio era um ingenuo; conhecia bem os homense nio tinha
ilusoes a respeito deles. Maquiavel também era assim; mas Maquiavel escre-

118
O CRISTIANISMO VISTO POR UM AGNÓSTICO 23.

veu: 'Os homens sao maus, mentirosos,cobicososdoseuprazeredosseusinte-


resses pessoais, preguicosos, bajuladores...' e daí tirava conseqüéntias céti-
cas. Ora Bento pode estar de acordó com este conceito de ser humano, pois
gozava da sabedoria que a experiencia Ihe incutira. Todavía o que chama a
atencao, é que, embora reconheca a verdade a respeito do próximo, Sio
Bento o ama profundamente e quer ajudá-lo a conseguir — cada qual aseu
modo - a salvacao ou mesmo a santidade. Bento, portanto, era um homem
de centro, profundamente realista e, ao mesmo tempo, aberto é maravilhosa
utopia do Evangelho. Para governar os homens na Igreja, é preciso levar em
conta equilibrada os dois elementos: o carisma e a instituicSo, o amor e a leí.
Bento, herdeiro do genio jurista romano iluminado pela fé crista, conseguiu
fazer esta si'ntese na suá Regra. Esta fascina até os estudiosos leigos das ins-
tituicoes e manifesta concretamente a sua capacidade de funcionar e servir
através dos tempos e do espaco.

O Santo de Núrsia sabe que nao se pode exigir tudo de todos; por isto
é discreto, levando em consideracao os menos motivados e prendados. A
sua discricao pode tornarse ternura para com os doentes, os jovens, os ve-
Ihos. Ele eré firmemente na igualdade fundamental de todos os seres huma
nos diante de Deus. mas nao caino funesto igualitarismo dos 'reformadores'
sanguinolentos e ñas suas conseqüéncias. Bento sabe que os homens sao
iguais, porque compartifham a mesma dignidade, mas também sao profunda
mente diversos uns dos outros pelo seu caráter, por suas aptidoes, por seus
dotes intelectuais, físicos e moráis. A todos ele propoe a meta ideal e eleva
da, mas pondera sempre as diferencas e a debilidade, que em alguns é mais
acentuada, e em outros menos".

4. Jesús Cristo

Moulin falou do Cristianismo com grande entusiasmo. Mas Cristo. . .


Quem é Jesús Cristo para ele? — Responde:

"É verdade que nao conseguí, ao menos até agora, ver nele o Filho
de Deus. Mas, como historiador, há meio-século ou mais que me formulo
perguntas sobre os resultados extraordinariamente benéficos daquela vida e
daquele ensinamento. Nao tendo fé, vejo-me obrígado a me reconhecer na
que/a que é ta/vez a mais nobre das escolas de Moral humana: a estoica. Mas
o estoicismo é duro, professa o amor do Destino, masnSo sei até que ponto
professa o amor ao homem. Principalmente nao conhece o perdió. De resto,
nenhuma cultura e nenhuma religiio. tanto anterior como posterior a Cris
to, reconhece o perdSo no sentido ¡limitado que o Evangelho propde. Hoje
o homem de esquerda nio pode perdoar porque nSo tem o senso de fraque-
za dos semelhantes. Os da direita, diante da queda dos seme/hantes, despre-

119
_24 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

zam-nos, encontrando ai urna confirmacao do seu pessimismo referente á


natureza humana. Sabemos como os discípulos de Jesús se comportam na hora
da provacío: como covardes, se nSo como traidores. Mas, segundo os Evan-
gelhos, Jesús ressuscitou e se apresentou a eles, saudando-os: 'Paz a vósV
Isto é sublime; nem se chama perdió, é algo multo maior, é esquecer tudo e
recomecar de novo.

Também a este título (delxai que um velho agnóstico o diga) há no


Cristianismo urna das herancas mais preciosas do homem. É necessário que
todos, mesmo nos, que nao temos fé, o defendamos, se queremos realmente
defender o homem.

fíeagl vos, católicos, contra aquele desarrazoado masoquismo que se


apoderou de vos após o Concilio do Vaticano II. A propaganda mentirosa
que se iniciou no século XVIII, ou talvez antes, conseguiu a sua maior vitó-
ría, incutindo-vos urna consciéncia pesada; persuadiu-vos de que sois culpa
dos de todas as desgracas do mundo e herdeiros de urna historia que é pre
ciso esquecer. Ora, na verdade nao é assim. Estudai a vossa historia, e veréis
que o ativo destes dois mil anos supera de longe o passivo. E nao vos esque
jáis de comparar os frutos de Jesús e dos seus discípulos como Ben to, Fran
cisco, Domingos. . . com os frutos de outras árvores. O confronto vos abri
rá de novo os olhos".

* * *

Estas declarares e ponderales de Leo Moulin, agnóstico como é,


tocam pontos muito reais e significativos: após o Concilio do Vaticano II,
muí tos fiéis católicos se detém principalmente em críticas ao passado, es-
quecendo os valores positivos da Tradicao crista, muito superiores aos traeos
negativos. Os ateus tudo fazem para desfigurar o passado do Cristianismo,
a ponto de transmitir aos próprios católicos o seu azedume unilateral.
Prevaleca o parecer objetivo, despreconceituoso, do Prof. Moulin, que fala
com autoridade e conhecimento de causa! - De resto, as fraquezas existen
tes nos homens da Igreja só podem corroborar a conviegao de que é o pro-
prio Deus quem sustenta a sua Igreja e, através das criaturas, realiza a sua
obra de salvacáo.

O texto de Leo Moulin foi extraído da revista JESÚS, setembro 1987,


pp. 68-71: "Questo meraviglioso Cristianesimo in cui non riesco a credere",
por Vttorio Messori.

120
Depoimento de ex-pastor luterano:

Por que me fiz Católico?

Em símese: O pastor luterano Woifgang Tschuschke em 1986 tor-


nou-se católico com sua esposa e seis filhos. A razio que o levou a isto, fo-
ram seus estudos de Liturgia, que Ihe deram a ver a densidade do culto cató
lico, marcado pela celebracao dos santos misterios ou da obra salviflca de
Cristo perpetuada sobre os altares; nSo apenas a palavra ressoa na Liturgia
católica, mas também os feitos redentores de Cristo se tornam presentes e
atuantes - o que abre novas perspectivas de espiritualidade e nova dimen-
sao de Cristianismo. W. Tschuschke ¡ulga que a politizacao da Teología e do
culto esvazia o Cristianismo. Deseja ser ordenado presbítero católico, como
tém sido outros pastores luteranos e anglicanos nos últimos decenios.

* * *

0 ex-pastor luterano Woifgang Tschuschke serviu durante dez anos a


urna comunidade evangélica de Sibbesse, perto de Hildsheim, no Norte da
Alemanha. Com o tempo, porém, foi estudando o Catolicismo e resolveu
tomar-se católico com sua esposa Sabine e os seis filhos: Jakob, com doze
anos atualmente, Agnes, Cordula, María, Franziska e Hans (com dois anos de
idade). Tem 38 anos de idade. 0 seu caso chamou a atencao das autoridades
eclesiásticas luteranas, assim como dos crentes e da imprensa.
O repórter Paoto Vicentin foi entrevistá-lo, afim de colher informa-
goes sobre o momentoso episodio. 0 depoimento de Woifgang Tschuschke é
assaz interessante. Cada conversao tem seus porqués, pois cada convertido
é impressionado por urna faceta do Catolicismo, que talvez tenha caído na
penumbra para aiguns católicos. DaC a importancia de se conhecer um pouco
do itinerario espiritual desse homem, que se pos totalmente a disposicfo do
Senhor Deus.

1. A entrevista

1.1. O processo interior

"Paolo Vicentin: Como chegou o ex-pastor Tschuschke á Igreja Cató


lica?

121
_26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

Worfgang Tschuschke: Fui ordenado pastor há dez anos. Em Gó'ttin-


gen, onde morava minha familia, eu tinha diante de casa urna ¡greja católi
ca; mas, quando menino ou jovem, nunca pisei lá. Éramos protestantes. Mi
nha mae descendia de urna familia de eclesiásticos luteranos de estrita obser
vancia e naturalmente eram-me inculcado que nao se entra num edificio de
culto católico.

P.V.: E o Sr. sempre observou escrupulosamente tal proibicao?

W.T.: Certo que sim; mesmo porque a nos, filhos, nao passava pela ca-
beca tancar urna olhada por entre os muros dos papistas. Quando eu já era
pastor, durante ferias passadas na Grecia, assisti, pela primeira vez, a urna Li
turgia greco-ortodoxa. Após ter estudado Teología ñas Universidades de
Gbftingen e Heidelberg, tornei-me pastor em Sibbesse, perto de Hildsheim.
O primeiro contato, propriamente dito, com o mundo católico, eu o tive
quando preparava a minha tese sobre um tema litúrgico. Comprei um Missal
como fonte de estudo, e disse a mim mesmo: 'Vai também a um Gottesdienst
(culto) católico. . ." Pela primeira vez, entao, freqüentei urna Missa. Foi
urna experiencia importante. Pois também comprei um Breviario1 em ale-
má*o, sempre como materia de estudo para a minha Dissertacáo; veio-me
também a ¡nspiracao de rezar com a ajuda daquele Breviario.

P.V.: Houve no Sr. urna 'virada teológica que o fez desembarcar no


Catolicismo?

W.T.: Desde que me aproximei da Liturgia e, por conseguinte, da teo


logía católica, as coisas se me apresentaram sob outro aspecto. Pela primei
ra vez, perguntei a mim mesmo: 'Que aconteceu realmente na Páscoa e como
aconteceu?' Já nao me bastavam as respostas que ouvira durante os meus
estudos, a saber: 'Cristo ressurge na comunidade dos crentes' ou 'A Ressur-
reicao enfatiza a importancia da Cruz'. Como quer que fosse, eu já nao me
sentia á vontade para pregar apenas sobre essas idéias.

Foi entao que pensei em rever a minha Teología. Muito importante pa


ra mim foi também a preparacao para um Sermao de Natal sobre o inicio
do Evangelho segundo Mateus: 'Livro da genealogia de Jesús Cristo, Filho
de Davi, Filho de Ábralo', trecho onde se fala do nascimento virginal de
Jesús. Disse a mim mesmo: isto nao é urna lenda piedosa... Eu me conven
cía de que Deus realmente tocou o mundo com o seu Natal; a Encarnacao
significa que Ele é, por assim dizer, palpável, . . . que a Palavra se fez car
ne,. .. que aconteceu realmente alguma coisa...

' Com nome mais recente dir-se-ia: Livro da "Liturgia das Horas".

122
POR QUE ME FIZ CATÓLICO? 27

1.2. O Luteranismo hoja

P.V.: Como se apresenta a Igreja Luterana com os seus ministros?

W.T.: Existe urna tabulacao muito ampia com duas posicoes extrema
das. De um lado, estao os teólogos fortemente esquerdistas, que em suas pre-
gacoes quase só desenvolvem temas políticos e presidem aos Oficios litúrgi
cos de maneira totalmente profana, sem alguma veste litúrgica, e assim por
diante. Ooutro lado, acham-se os pastores (e as comunidades) que sao quase
católicos: tém paramentos sacros, tabernáculo, veneracao a María SS., Con-
fissao. . . Se o Sr. assistisse a um culto celebrado por tais pastores, quase
diría: 'Aquí estamos entre católicos'.

P.V.: Quando o Sr. era pastor em Sibbesse, como se comportou?


De que lado da tabulacao se colocou?

W.T.: Dado que os eclesiásticos luteranos podem, de certo modo, es-


col her a comunidade em que trabalhem, eu procurei urna do segundo tipo;
cresci neta, e procurei realizar as coisas que passam por prerrogativas dos
católicos. Houve muitas discussóes e oposicao nao só entre os crentes, mas-
também entre os meus confrades da vizinhanca.

P.V.: A que prerrogativa católica o Sr. dava prioridade no seu tra-


balho pastoral?

W.T.: Procurei colocar a Eucaristía no centro da minha atividade.


Quando cheguei a Sibbesse, na minha comunidade a Santa Ceia era celebra
da apenas seis vezes ao ano. Quando deixei a cidadezinha, era celebrada duas
vezes por mes. Eu celebrava a Liturgia da Ceia duas vezes por mes, coisa
inédita para os luteranos que se colocam do outro lado do quadrante. . .
Mas nao consegui introduzir a Confissao; existem, porém, comunidades pro
testantes onde ela é praticada.

P.V.: Houve um dia ou talvez um momento em que o Sr. disse a si


mesmo: 'Sou católico'?
i

W.T.: Nao negó que esta pergunta me perturba e me comove ao mes


mo tempo. Nao houve um momento preciso, mas descobri sempre mais - e
com minha esposa deu-se o mesmo - que no coracao éramos católicos. Cem
Sabine discutimos tongamente, como o Sr. pode imaginar, a respeito dos
nossos problemas religiosos; o propósito de tornarmo-nos católicos amadu-
receu em nos simultáneamente, por urna conviccao comum, mesmo que te-
nha decorrido muito tempo para que oficializássemos a nossa escolha.

123
_28 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

1.3. O desligamento oficial

P.V.: Como transcorreu, digamos assim, o cerímonial da passagem do


Luteranismo ao Catolicismo?

W.f: Pedi audiencia ao Bispo de Hildsheim, diocese á qual pertence o


territorio no qual eu era pastor protestante. O Bispo, como se compreende,
já estava a par do meu desejo. Mons. Josef Homeyer acolheu-me com um
Herzlich willkommen!. . . bem-vindo de todo o coracao! Contei-lhe a mi
nha historia e, depois, acrescentei: 'Excelencia, eu tinha certo medo de que
me dissesse: Fica onde estás...' Ao contrario, respondeu-me o Bispo: 'Nao,
nao, falo com muita conviccao: Herzlich willkommen!' Estávamos no fim
de 1985. Ele me recomendou a um Prelado, com o qual posteriormente
me encontrei muitas vezes. No comeco de 1986, fomos recebidos, minha
mulher e eu, na Igreja Católica.

P.V.: Antes, porém, o Sr. comunicou a sua decisao aos Superiores e


á comunídade da qual era pastor?

W.T.: Por certo, nao sou o primeiro eclesiástico luterano que se torna
católico. Como o Sr. há de se lembrar, há alguns decenios causou muito alar
de a conversáo de um párente remoto de Goethe, o pastor Rudolf Goethe.
Urna vez tomada a decisao, fui visitar alguns ex-párocos protestantes que se
haviam tornado católicos e ora exercem o ministerio na diocese de Ratisbona.
Contaram-me que a sua passagem para o Catolicismo havia sido muito difí
cil. Mas, com o meu Bispo luterano, a conversa desenvolveu-se com franque
za, mas também fraternalmente. Disse-me: 'Aceito a sua decisao... ainda que
me pese...'. Depois acertamos a maneira de dar a noticia aos fiéis.

P.V.: Imagino a sua emocao naquele domingo 12 de Janeiro de 1986,


ao celebrar pela última vez a Ceia do Senhor com os fiéis da sua comuni-
dade...

W.T.: Antes do culto marcado para o dia 15, eu tinha convocado os


membros do Conselho e os informara oficialmente a respeito de quanto o
Landessuperintendent (o meu Superior, o Superintendente local) havia de
comunicar, pouco depois, á assembléia. A seguir, fomos juntos para a igre
ja. Eu já nao era o oficiante e nao trajava a veste litúrgica, túnica preta com
grande colarinho branco, especial para as cerimónias religiosas. Mas ainda re-
cebi a Comunhao. Minha mulher, que é organista, tocou pela última vez du
rante aquele oficio religioso. O Lande«uperintertdent, Ernest Henze,
ao comunicar a minha decisao, valeu-se da passagem do Evangelho onde Je
sús afirma que na Casa do Pai há muitas moradas. Ele disse que respeitava
a minha opcao e me agradeceu pelo trabalho realizado naquela común idade.

124
POR QUE ME FIZ CATÓLICO? 29

Depois ¡nvocou a béncao do Senhor sobre aquilo que acontecerá (assim se


exprimiu ele) e que procederá de um coracáo sincero.

P.V.: E o Sr. que disse naquele domingo aos seus paroquianos?

W.T.: Disse que nos despedramos, minha mulher e eu, de Sibbesse ccm
0 coráceo partido, mas que o de vi amos fazer, porque tínhamos reconheci-
do a Igreja Católica como o lugar ao qual tínhamos de pertencer. Acrescen-
tei que encontramos na Igreja Católica maior plenitude de sacramentos, de
modo que intencionávamos participar déla com os nossos ftlhos. Sendo
assim, pedi aos fiéis que aceitassem e respeitassem a minha caminhada, en-
fatizando que nos nao nos afastávamos daquilo que até entao tínhamos acre
ditado e pregado e que nao existe motivo para renegar o que seja. Continuei
dizendo que cada um, na Igreja, devia ficar no lugar em que Oeus o colocara.
E concluí: 'Oeus abencoe esta comunidade e a Igreja luterano-evangélica,
e nos leve um día todos juntos para um Reino onde nao naja diversas confis-
soes religiosas'.

1.4. Após a despedida

P.V.: Como decorreram os primeiros dias, as primeiras semanas e os


primeiros meses após o Adeus oficial ao protestantismo?

W.T.: Existe urna especie de acordó entre a Conferencia dos Bispos


Católicos da Alemanha e os responsáveis da Igreja protestante, segundo o
qual os eclesiásticos luteranos que passam para o Catolicismo nao devem
ficar na regiao onde sao conhecidos e trabalharam. O Bispo de Hildsheim,
por isto, enviou-me a ter com ó Bispo de Bamberg, e Mons. Elmar María
Kredel me destinou para cá, em Schwaig, perto de Norinberga, que perten-
ce a sua arquidiocese. Éncarregaram-me das aulas de Religiaonum Instituto
profissionalizante.

P.V.: Sei, porém, que o Sr. tem um desejo bem preciso...

W.T.: Por certo, a minha mais viva aspiracao é a de tornar-me sacerdo


te católico. Em breve encontrar-me-ei com professores de Teología em Bam
berg para definir quais sao as minhas lacunas e para que me indiquem o
que devo ainda aprofundar (por exemplo, o Direito Canónico). O pedido
de dispensa especial já foi encaminhado pelo arcebispo de Bamberg á Santa
Sé'. Bem espero que me seja concedido o acesso ás Ordens Sacras. Nao há
dúvida, terei que percorrer toda a via: Leitorado, Acolitado, Diaconato e,
depois, a Ordenacao Sacerdotal.

1 Sendo casado, W. Tschuschke precisa de especia/ /¡cenca para ser ordenado


presbítero. (N.d.T.)

125
_30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

P.V.: Há outros casos, além daqueles famosos de mais de trinta anos


(entre os quais o do citado descendente de Goethe), de pastores protestan
tes que se tornaram sacerdotes católicos?

W.T.: Em Hildsheim um pastor luterano se converteu há seis anos.


Agora é pároco, mesmo tendo esposa e filhos. A comunidade católica o acei-
tou plenamente e é be lo ver isto. Existem muitos outros casos. . . Sei que
atua¡mente vivem na diocese de Ratisbona seis ex-pastores protestantes: cin
co deles sao párocos. um tem oito filhos, um convento...

P.V.: O Sr. como se senté agora: humilhado, posto de lado, arrependi-


do do passo dado?

W.T.: Na verdade acontece justamente o contrario. Minha mulher e eu,


como eu Ihe dizia, estamos muito felizes por causa da nossa decisao.

1.5. O que falta...

P.V.: Mas o Sr. nao me dirá que tudo é positivo na igreja Católica.
Nao será que o Sr., como neófito, ve as coisas róseas demais?

W.T.: Nao; estou com os pés no chao. Tenho a ¡mpressao, por exem-
pío, de que, segundo párocos católicos, eu scu um estorvo para o ecumenis-
mo. Sao reservados ao falar-me. Há muito empenho para cancelar as diferen-
cas entre católicos e protestantes, acentuando-se o que há de comum aos
dois lados. Por isto, quando se apresenta alguém como eu, tenho a sensacao
de que me querem dizer: 'Eram tao grandes as diferencas para que te decidís-
ses a dar este passo?'

P.V.: No seu modo de ver, por que é que pastores protestantes deixam
a sua Igreja e se tornam católicos?

W.T.: Além de motivos pessoais, ás vezes ¡mpenetráveis, parece-me que


o que os atrai ao Catolicismo — foi um pouco o meu caso — é a celebraca*o
eucarfstica e o calor (se assim me posso exprimir) que a discreta presenca da
Virgem comunica á Igreja Católica. O Papado já nao é visto, como era outro-
ra, qual obstáculo para que um luterano se torne católico. Recentemente
muitos pastores se separaram da sua Igreja, cansados da politizacao exercida
por seus Bispos.

P.V.: Permita-me insistir: que significa atualmente a Igreja protestan


te na Alemanha?

126
POR QUE ME FI2 CATÓLICO?

W.T.: Nao tenciono falar mal. Mas os dados e os fatos tém linguagem
eloqüente. A Igreja Evangélica Alemf (EKD), ñas dezessete circunscricóes
regionais em que se reparte, perdeu, de 1970 a 1985, mais de 3.300.000
fiéis. Neste segmento de tempo, o número dos protestantes alemies caiu de
quase 12%, passando de 28,5 a 25,1 milhoes. A maior parte das defeccoes
se verifica na Alemanha Setentríonal.

P.V.: Que elementos da sua Igreja protestante Ihe fazem falta, agora
que se tornou católico e espera ser ordenado sacerdote?

W.T.: Falta-me, e sempre me farao falta, os nossos Lieder (cantos),


aqueles coráis religiosos tío belos; falta-me também a música que se toca en
tre os protestantes — principalmente em certas datas. Perturbam-me, na Igre
ja Católica, os rosarios recitados sem reflexao. Mas principalmente os católi
cos ás vezes cedem demais aos luteranos...

P.V.: Se o Sr. tivesse o desejo e a possibilidade de se encontrar com


Hans Küng, que é que Ihe pediría?

W.T.: Talvez eu Ihe colocasse urna só pergunta: 'Sr. Professor, por que
nao passa para o protestantismo?' "

2. Comentarios

O depoimento de Wolfgang Tschuschke sugere algumas reflexoes:

1.1. Catolicismo e Protestantismo

1) O Luteranismo e o Calvinismo sao as denominapoes mais antigás e


clássicas do Protestantismo, pois se reduzem aos iniciadores do movimento
reformista do século XVI. Especialmente o Luteranismo conserva muitos
elementos tradicionais, que o aproximam da Igreja Católica. Daí o interesse
de pastores luteranos pela Igreja Católica. Hoje as tensoes entre católicos e
protestantes estao muito amainadas, pois, numa reflexao objetiva, se vé que
as objecoes levantadas por L útero sao su pera veis.

O fato de haver denominacoes diversas dentro do Cristianismo é dolo


roso. Deve-se ás vicissitudes humanas. Todavía o cristao nao é relativista; sa
be que a Igreja fundada por Jesús Cristo foi confiada a Pedro e seus sucesso-
res, a quem o Senhor prometeu infalCvel assisténcia até o fim dos tempos
(cf.Mt 16,16-19; 28,18-20).

127
_32 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

As denominares cristas que nao reconhecem o primado de Pedro, es-


tao separadas, como se diz; mas também se pode afirmar, com o Concilio
do Vaticano II que es tao em comunhao imperfeita ou incompleta com a
Igreja de Cristo; com afeito, estáo em certa comunhao, porque possuem, em
grau maior ou menor, elementos da Igreja de Cristo (a Biblia, o Batismo, a
oracáo, o martirio...); tais elementos devem ser acrescidos de outros (Euca
ristía, ministerio sacerdotal, demais sacramentos, fidelidade a Pedro...), tam
bém constitutivos da Igreja de Cristo, para que a comunhao se torne perfei-
ta (cf. Decreto Unitatis Redintegratio n?4).

Esta concepcao otimista derruba barreiras inúteis entre católicos e


protestantes, mas nao deve fazer esquecer que o protestantismo parte de
premissas inaceitáveis ao Cristianismo clássico; entre estas, se acha a recusa
da Tradicao oral, a fim de privilegiar únicamente a Escritura como fonte da
Revelacao Divina. Esta posicao chega a ser ilógica, pois implícitamente ela
afirma o que explícitamente ela nega. Com efeito; pergunta-se: se a S. Escri
tura é a única fonte de fé e tudo tem que ser provado mediante a Biblia, on
de é que a S. Escritura define o seu Canon ou o seu catálogo? Onde leio na
Biblia que tais sao os livros inspirados por Deus e nao mais nem menos? A
Biblia nao o diz; somente pela Tradicao oral é que o eren te sabe que Deus
falou e que a sua Palavra se encontra em tais escritos sagrados, e nao em ou
tros. Veja-se a Constituicao Dei Verbum do Concilio do Vaticano II:

"Pela Tradicao tornase conhecido é Igreja o Cdnon completo dos li


vros sagrados e as próprias Sagradas Escrituras sao neta cada vez mais pro
fundamente compreendidas" (n?8).

A S. Escritura arrancada do seu berco anterior e luzeiro concomitante,


que é a Tradicao oral, está sujeita a ser interpretada subjetivamente de
diversas maneiras — o que dá origem ás centenas de denominacoes protes
tantes.

2.2. O especíico católico

O que atraiu Wolfgang Tschuschke ao Catolicismo, foi principalmente


a Eucaristía.

Por qué?

- Porque a Eucaristía, como perpetuacao do Sacrificio de Cristo e co


mo real presenca do Senhor Jesús, constituí a verdadeíra riqueza do Cristia
nismo e, por conseguinte, da Igreja Católica. Faz que no culto cristao nao
naja apenas a Palavra e sinais simbólicos, mas, sim, urna historia, que comeca

128
POR QUE ME FIZ CATÓLICO? 33

com a criapao do primeiro homem (tipo do futuro ou do segundo AdSo; cf.


Rm 5,14; ICor 15,45-49), culmina na Encamacáo ou na vinda do segundo
AdSo e se estende através dos sáculos nos membros do Corpo de Cristo. Tal
é o sentido da expressao "Santos Misterios" ocorrente ao iniciar-se cada ce
lebrado eucarística1. A imagem da videira (cf. Jo 15,1-6) é extremamente
significativa no caso: implica que entre Cristo (tronco) e os cristaos (ramos)
naja a mesma seiva, a mesma vida: é a seiva de Cristo que frutifica nos ra
mos, de modo que Sao Paulo podia dizer: "Vivo eu, nao eu; é Cristo que vi
ve em mim" (Gl 2,20) e Sao Joao: "Vede com que amor Oeus nos amou: so
mos chamados filhos de Oeus. E nos o somos!" (Uo 3,1).

Portanto o conceito de SACRAMENTO (a Igreja é Sacramento, os se-


te ritos habituáis sao sacramentos) é realmente o grande diferencial existen
te entre Catolicismo e Protestantismo. Sem o Sacramento neste sentido am
pio, o Cristianismo se esvazia enormemente, reduzindo-se ás dimensoes de
urna escola de bons costumes, de urna sociedade que interpela e estimula o
psíquico (conhecimento e afetos), ou ainda a um sistema de curas e "exor
cismos" (como acontece, conseqüentemente, ñas mais recentes denomina-
coes protestantes).

A nogao de SACRAMENTO garante a objetividade ou urna realidade


transubjetiva (nao meramente subjetiva) do culto e da vida cristaos. É me
diante sua uniao sacramental com Cristo que todo cristáo, mesmo pregado a
cruz (ou ao seu leito de dor) leva urna existencia espiritualmente fecunda,
pois pode dizer com Sao Paulo: "Completo em minha carne o que falta a
Paixáo de Cristo em favor do seu Corpo, que é a Igreja" (Cl 1,24).

2.3. Politízacao

Wolfgang Tschuschke refere-se á politizacao que invade certos setores


do Luteranismo e o desvirtúa ou empobrece. Esta observacao interessa muí-
to a alguns ambientes católicos, que sofrem o mesmo perigo e que já experi-
mentaram os frutos negativos de tal onda; os fiéis se afastam da Igreja quan-
do ai nao encontram o que Ela tem de específico a dar-lhes. O ministro ca
tólico sabe que a mensagem da fé continua a ser procurada pelos homens de
hoje; o ser humano traz no fundo de si a ansia do Transcendente e do Abso
luto, de tal modo que, quando ele nao cultua o verdadeiro Deus, cria seus
ídolos ou suas religioes seculares com falsos absolutos, como lembra oportu
namente o Documento de Puebla:

1 Ver Curso de Liturgia por Correspondencia, Módulo 7. Caixa Postal


1362,20001 Rio (RJ).

129
J4 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS"310/1988

"As ideologías trazem em si mesmas a tendencia a absolutizar os inte-


resses que defendem, a visao que propoem e a estrategia que promovem.
Neste caso, transformamse em verdadeiras 'religioes leigas'. Apresentam-se
como urna explicacSo última e suficiente de tudo e se constrói assim um no
vo ídolo, do qual se aceita és vezes, sem se dar coma, o caráter totalitario e
obrigatório. Nesta perspectiva nao é de estranhar que as ideologías tentem
instrumenta/izar pessoas e instituicoes a servico da eficaz consecucio de seus
fins. Eis o lado ambiguo e negativo das ideologías" (n? 536).
2.4. Casos paralelos

O entrevistado menciona casos de pastores luteranos que se fezeram


católicos nos últimos tempos. Em PR 259/1981, pp. 387-391, tem-se a noti
cia de que tambérn diversos ministros anglicanos recen temen te pediram ad-
missao na Igreja Católica e foram acolhidos, chegando mesmo a receber o sa
cramento da Ordem. A Congregacao para a Doutrina da Fé emitiu a respeito
urna Declaracao publicada a 1?/04/81: entre outras coisas, explica que tais
ex-ministros anglicanos se tornaram sacerdotes católicos no uso de suasatri-
buicoes conjugáis, mas que se tratava de casos individuáis, os quais nao afe-
tam as normas do celibato sacerdotal.

Em conclusao: o caso de Wolfgang Tschuschke merece admiracao pela


sinceridade e a coragem de que deram provas o ex-pastor e sua esposa. As ra-
zoes alegadas pelo entrevistado dao muito que pensar aos fiéis católicos, aos
quais o Senhor concedeu denso patrimonio espiritual a ser conservado com
amor e transmitido fielmente ao mundo.
* * *

Felizes os Generosos, por Atilano Alaiz. Traducao de María Rezende.


- Ed. Paulinas, SSo Paulo 1985. 110 x 190 mm, 214 pp.
A finalidade des te livro é evidenciar o valor da doacao magnánima que
cada um pode e deve fazer de sua vida a urna Causa Nobre ou... ¿ Causa de
Jesús Cristo. Valendo-se da S. Escritura, da Psicología e de exemplos concre
tos, o autor desenvolve a temática de maneira muito persuasiva. Entre as
passagens mais notáveís do livro, estao as pp. 93-98, intituladas: "Um Segre-
do para Transformar Vidas". A. Alaiz mostra que a valorizacao de alguém é
capaz de fazer essa pessoa desabrochar interiormente e cita o caso do famo
so Abbé Pierre, fundador da Comunidade de Emaus (estabelecida na estrada
Rio Petrópolis): logo após a Segunda Guerra Mundial, em meio a familias
desabrigadas nos arredores de París, o sacerdote Ihes dizia: "Voces nao tém
bens meteríais, mas sao gente e valem muito"; estas palavras despertaram
sadia autoconfianca nos "Trapeiros de Emaus", que, em conseqüéncia, des-
cobríram o sentido da sua vida. — O livro de A. Alaiz será precioso para to
dos os seus leitores.
E.B.

130
JW»'

-. ■&. . .
Um livro atual: ■. f&), """
y
"Logoterapia».
de Viktor Frankl"
por José Carlos Vítor Gomes

Em síntese: Viktor Frankl é o fundador da Escola de Psicología dita


"Logoterapia", que conscientemente discorda de Sigmund Freud (o homem
seria o joguete de impulsos sexuais} e de Alfred Adler (o homem é movido
fundamentalmente pela procura do poder). Para Frankl, o anseio básico do
ser humano é o de conhecer o sentido ou o "para qué"da vida;afirma isto
apoiando-se em experiencia feita em campos de concentracao, como tam-
bém na sua reflexao pessoal, que sabia levar em conta a Leí de Moisés
(Frankl é judeu). A Logoterapia tenciona, pois, ajudar os pacientes a deseo-
brir (nao se trata de criar ou inventar. .Jo sentido da vida,... descubrir, _
porque desde o nascimento de alguém existe uma tarefa ou uma missao que
essa pessoa é chamada a cumprir para ocupar seu lugar na sociedade. Existe,
pois, um Ser Transcendental (Deus), que deíxou sua marca congénita no
homem; tratase de saber auscultar esse Deus oculto ou o senso religioso do
homem, para mobilizar as energías e a vitalidade do individuo.

V. Frankl, embora seja dissidente das escolas materialistas de Freude


Adler, tem obtido enorme sucesso. As suas concepcoes pousam sobre sóli
das bases ou sobre a observacao do ser humano nos momentos mais decisi
vos da sua existencia: diante da ameaca de sofrímento e morte, a energía re
ligiosa é capaz de superar adversarios e barreiras que nenhuma outra energía
é apta a suplantar; parece, pois, ser o valor mais profundo e constitutivo da
personalidade humana.

Já em PR 278/1985, pp. 61-65; 281/1985, pp. 329-340 fo¡ apresenta-


da a figura do psicólogo Viktor Frankl, fundador da escola dita "Logotera
pia". 0 assunto despertou muito ¡nteresse. Eis por que voltamos ao mesmo,
valendo-nos do livro do Dr. José Carlos Vitor Gomes: "Logoterapia. A psico
terapia existencial humanista de Viktor Frankl"1; o autor esboca a biografía

1 Ed. Loyola. Sao Paulo 138x210 mm, 78pp.

131
_36 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

e as grandes linhas doutrinárías de V. Frankl, que, embora fiquem no campo


estrito da Psicología, convergem fortemente com o pensamento cristao a res-
peito do ser humano.

1. Quem era Viktor Frankl?

Viktor Emil nasceu em Viena (Austria) aos 26/03/1905, de familia


judia. O pai trabalhava como Secretario no Ministerio da Educacáo em Vie
na, enquanto a mié se dedicava aos trabalhos de casa e da familia.

Desde pequeño, Viktor mostrou interesse pela Psicologia. Aos dezes-


seis anos, escreveu urna carta a Sigmund Freud, o pai da psicanálise; estimu
lado por este mestre, o jovem colocou-se na escola de Freud.

Aos poucos, porém, foi descobrindo incompatibilidades com o seu


professor: a filosofia freudiana pareda-lhe determinista e mecanicista; o h'o-
mem seria guiado fundamentalmente pelos seus impulsos sexuais e pela pro
cura do prazer; estava assim negada a liberdade da pessoa ou a sua superiori-
dade sobre as tendencias do subconsciente.

Frankl procurou entao, em Viena mesmo, Alfred Adler, ex-discípulo


de Freud, que parecía reconhecer melhor o que há de específico no ser hu
mano. Decepcionou-se, porém, pois verificou que, para Adler, o impulso funda
mental do ser humano nada mais é do que a busca do poder e da conquista
de superioridade. Por discordar publicamente de Adler, V. Frankl foi expul
so da escola deste mestre, juntamente com os colegas Schwarz e Allers. Re-
solveu entlo fundar, após Freud e Adler, a terceira Sociedade Psicoterápica
da Viena, na qual proporia livremente suas idéias: afirmava, sim, que o im
pulso fundamental da pessoa humana nao é o erótico, nem é a procura do
poder e da superioridade, mas é a aspiracao a descobrir o sentido da vida; é o
saber "por qué" viver que dá estrutura ao psiquismo do homem.

Em 1930 V. Frankl licenciou-se em Medicina. Em 1936 especializou-


se em Neurologia e Psiquiatría e comecou a atuar em hospitais e clínicas aus
tríacas.

Diante da perseguícao do nacional-socialismo aos judeus, o jovem mé


dico hesitou entre partir para os Estados Unidos da América e ficar com seus
pais em Viena... Por respeito ao quarto mandamento da Lei de Deus, prefe
rí u finalmente permanecer na Austria. Em 1942 casou-se com a jovem Tilly,
mas só pdde viver o matrimonio durante poucos meses. Com efeito; no final
de 1942 a GESTAPO (Policía Secreta Alema) prendeu a familia Frankl, le
vando cada qual dos familiares para um lugar diferente. Viktor tornou-se o

132
"LOGOTERAPIA.- DE V'KTOR FRANKL" 31

prisioneiro n? 119.104, que esteve nos campos de concentracao de Tur-


khein Theresienstadt, Kaufering e Ausschwitz; tratado humilhantemente,
veio a ser cavador de valetas das fábricas clandestinas de projéteis nazistas.
De cada conjunto de 29 presos, apenas um conseguía sobreviver. Ora Viktor,
tendo passado tres anos nesse tormento, foi posto em hberdade aos
27/04/1945 com quarenta anos de idade. V. Frankl fez entlo a experiencia
de como o ideal de vida ou a consciSncia de ser útil ou de ter urna tarefa a
realizar pode ajudar a pessoa a atravessar e superar as mais fortes tempesta
des No campo de concentracao, o prisioneiro n? 119.104 nutriu sempre o
anseio de se reencontrar com a esposa e de se dedicar ao próximo, cultivar
posteriormente a Psicoterapia e escrever livros; entre os companheiros de
cárcere, era um psicólogo voluntario, que Ihes incutia a procura do sentido da
vida ou do "para que" viver, pois quem tem um "para qué..." geralmente
encontra o "como" viver.

Ao recuperar a liberdade, V. Frankl nao tinha familiares vivos; a pro-


pria esposa havia morrido. Só Ihe restavam fraqueza e cansaco. Mas retomou
seu curso de vida; era homem de fé, que sabia rezar.

Voltou para o Hospital Policlfnico de Viena, como Chefe do Departa-,


mentó de Neurología, e comecou a escrever seu primeiro livro: "Cura Médi
ca das Almas".

Em 1984 veio a Porto Alegre (Brasil) para participar de um Encontró


de Psicólogos; soube entSo que sua esposa morrera num campo de concen
tracao, como Ihe disse a irmá*de Tilly, refugiada no Brasil.

Atualmente V. Frankl é professor'de Neurología e Psiquiatría na Fa-


culdade de Medicina da Universidade de Víena e Professor de Logoterapia na
United States International University de San Diego (U.S.A.). Tem 26 livros
publicados em dezoito idiomas entre os quais "O Homem em Busca de Sen
tído" com mais de oitenta edícoes em varias línguas. Em portugués, encon-
tram-se "Fundamentos Antropológicos da Psicoterapia" (Zahar Ed., Rio de
Janeiro, sem data). "Psicoterapia e Sentido da Vida" (Ed. QuadranteRúa
Iperoig 604, 05016 Sao Paulo, SP) e "A Psicoterapia na Práttca (EPU-
Edusp, Sao Paulo, sem data).

Examinemos agora as principáis concepcoes de V. Frankl.

2. Que é a Logoterapia?

A Logoterapia é a psicoterapia bascada no encontró e no cultivo do


Lógos ou da razao, do sentido da vida (Lógos, no caso, significa razao, sen
tido; terapia, cura).

133
_38 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

1. Segundo-V. Frankl, a necessidade fundamental do ser humano é a


de saber o "para qué" viver ou o sentido da vida. Quem tem urna resposta
para esta indagacáo, mobiliza as suas energías e equilibra sua personalidade.

Nota o psicólogo que nao se trata de procurar um sentido qualquer pa


ra a vida ou de inventar urna justificativa para esta, porque já existe o senti
do da vida incutido no interior de cada pessoa. Com efeito, segundo Frankl,
todo homem é portador de urna religiosidade inconsciente, ignorada, mas
pulsante no íntimo da pessoa. Essa religiosidade é urna energia, que Frankl,
na sua linguagem de psicólogo, chama Deus, Deus oculto, mas Deus vivo no
fundo de cada individuo1. Em 1947, escreveu urna obra intitulada "O Deus
Inconsciente", em que defendía a presenca de Deus no íntimo de cada indi
viduo. Esta tese se tornou clara a Frankl durante os seus anos em campo de
concentrado: percebeu, entre os companheiros de prisao, que na angustia
intensa aqueles que concebiam a fé em Deus e a esperanca no futuro, conse-
guiam sobreviver heroicamente, ao passo que aqueles que nao cultivavam a
religiosidade ou a presenca de Deus oculto em seu íntimo, pereciam desgra-
cadamente por desánimo e inercia.

Esse "Deus oculto" é urna energia que aparece e persiste mesmo quan-
do todas as outras formas de energia se extinguem. Permanece incólume ou
sempre viva, mesmo no auge da dor e da molestia, em meio a delirios e alu-
cinacoes. V. Frankl chama-a também "a dimensao noética" do ser humano,
a espiritualidade incorruptível ou urna vitalidade que pode emergir inexpli-
cavelmente nos momentos mais trágicos.

2. Desta premissa segue-se que o ser humano é imprevisível ou nao


está sujeito a leis mecanicistas e deterministas. Neste ponto Frankl se opoe a
toda corrente psicológioa behaviorista, gestaltista, estruturalista ou reflexoló
gica, que reduz o ser humano a um joguete de impulsos, condicionados pelas
circunstancias e impelido para cá ou para lá; o homem nao é mero fruto do
seu ambiente.

A pessoa é livre por sua natureza, e chamada a exercer a liberdade. Es


ta é a sua expressao típica. A liberdade é para a pessoa humana o que as co
res sao para a pintura e o que o sim é para a melodía.

Tais idéias sao, segundo Frankl, corroboradas pelas observacoes se-


guintes: como pederíamos punir um delinqüente se ele fosse mero fruto do

1 Estas afírmaedes de Frankl nada tém que ver com o panteísmo, embora o
possam insinuar. ■ Tratase de um iinguajar de psicólogo; Frankl faz questSo
de notar que a Logoterapia nao ó religüo nem Teología. Pessoalmente. ele é
umfudeu monoteísta, cultor de Deus como a Biblia o revela.

134
"LOGOTERAPIA... DE VIKTOR FRANKL" 39

seu meio? Com que Moral prenderíamos um assassino, se a responsabilidade


nao é dele, mas da sociedade? - "Mas a sociedade é composta de indivi
duos! Vocé se imagina sendo preso para pagar dividas da sociedade?" (trans-
crevemos palavras de Vitor Gomes a reproduzir o pensamento de FrankI á p.
30 do livro analisado).

3. Quatro Preocupacoes

V. FrankI julga que há quatro preocupacoes essenciais que fazem parte


da existencia do ser humano no mundo: o sentido da vida, a liberdade, o ¡so-
lamento e a morte. Cada urna destas preocupacoes gera um confuto existen-
cial. Examinemo-las sucessivamente.

3.1. O Sentido da Vida.

FrankI afirma que a falta de sentido para a vida está na base das psico-
patologías modernas, porque a humanidade nunca viveu tao sem perspecti
vas. A falta de sentido dá origem a um vazio existencial e ao mal-estar da c¡,-
vilizapao contemporánea.

Todo homem precisa de encontrar algo a que se dedique e pelo qual


valha a pena dar a vida. Cada individuo tem urna missao que só ele é capaz
de executar e que nao pode deixar de assumir. Cada pessoa é como peca de
um quebra-cabeca. Só ela pode ocupar o espaco vazio e, se nao o ocupar, f¡-
cará deslocada e o todo ficará incompleto. Se alguém nao assume a sua res
ponsabilidade, todo o universo estará prejudicado, porque urna missao pes-
soal nao pode ser realizada por outrem. O mundo perde, todas as vezes que
alguém se omite frente as suas tarefas; perdemos valores que jamáis poderlo
ser recuperados, porque a vida é única.

Quem nao se entrega a sua tarefa neste mundo, corre o risco de se fe


char em si mesmo, esquecendo o mundo exterior; a pessoa mergulha num
vazio existencia!, ponto de partida de enfermidades noogénicas ou espíritu-
ais ou conf litos moráis.

Ora a Logoterapia tenciona ajudar o paciente a descobrir o sentido de


sua vida, que desencadeia urna resposta pessoal e o engajamento na tarefa
própria da pessoa. - Para libertar o homem de si mesmo e levá-lo a descobrir
o sentido da vida, a Logoterapia propoe a darreflexao, ou seja, o desvio'da
atenpao tendente a se fixar no passado ou no presente, para induzi-la a se di
rigir para o futuro ou para o que é preciso realizar ou, ainda, para os apelos
que a vida formula ao íntimo de cada pessoa.

135
JO "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

3.2. A liberdada

A preocupacfo com a liberdade é tao intensa que a historia da huma-


nidade parece resumirse na luta para consegui-la; resolucSes e derramamen-
tos de sangue atestam este anseio.

Mais importante do que a liberdade extrínseca (¡sencao de coacao ex


terior) á a liberdade intrínseca ou a liberdade de consciéncia ou a capacidade
de tomar atitudes que respondam aos desafios da vida. A liberdade assim en
tendida nao depende de fatores externos; só pode ser limitada pelos valores
éticos ou pela responsabilidade pessoal. Cada individuo deve ser responsável
pelo uso da sua liberdade.

3.3. Isolamento

A terceira preocupacao existencial do homem é o isolamento ou o fa-


to de nao poder transferir para outrem as suas dores e as suas alegrías. Cada
pessoa nasos e morre sozinha no mundo; é única na imensidao do universo;
tem características absolutamente pessoais, desde as impressóes digitais até
a cor dos olhos e o tipo de pensamento e afetos.

Doutro lado, verifica-se que o homem precisa de relacionamento com


os outros para crescer. Deve, pois, exercitar-se nessa comunhao social, ten
tando intuir o que os outros sentem, integrar-se em algum grupo e procurar
a protecao que torna possível o crescimento do individuo. - Se alguém nao
consegue progredir nesta di reglo, o seu isolamento ou a sua singufaridade
pode-lhe gerar profundo confuto existencial.

3.4. A Morte

A morte constituí a preocupacao diante da qual nao há escapatoria e


que, por isto, desperta no homem urna sensapao de inseguranca total. - Ela
obriga a pessoa a procurar descobrir por qué vive numa existencia fadada a
ser arrebatada pela morte. Descobrindo esta razáo, o homem valoriza a sua
vida, porque sabe que ela é finita e tem que ser aproveitada em todos os seus
momentos.

A tarefa de Frankl como psicólogo de campo de concentracao foi ten


tar resgatar a esperanca e o sentido da vida, utilizando a técnica da derrefle-
xao; esta consistía em se desviar a atencao do sofrimento e da ameaca de
morte "aquí e agora" para a conquista da liberdade e a execucao plena de ta-
refas que haviam ficado interrompidas.

136
"LOGÓTE RAPIA.^ DE VIKTOR FRANKL" 41.

Muitas vezes o fato de se encontrar o sentido do sofrimentb faz que


ele seja mais fácilmente suportável, especialmente nos casos em que a possi-
bilidade de cura é remota, como o é na situacao dos prisioneros dos cam
pos de concentracao e dos pacientes termináis de doencas incuráveis.

4. A Presenta de Deus

Frankl define a religiao como sendo a consciéncia que o homem tem


da sua dimensao sobre-humana. Nesta dimensao se apóia a conviccao de que
a vida tem seu sentido último e definitivo. O fato de que o homem se vé co
mo um ser no mundo, dotado, porém, de dimensao sobre-humana ou volta-
do para o Infinito, torna-o cheio de fé no valor da vida e de esperanca.

O psicólogo lembra urna frase de Blaise Pascal (í 1662), filósofo e ma


temático francés, que atribui a Jesús os seguintes dizeres: "Tu nao me procu
rarías, se já nao me tivesses encontrado". Toda a historia da humanidade pa
rece marcada por intensa procura de Deus ou pelo desejo de compreender o
misterio de cada coisa. Ora essa busca de Deus significa, para Frankl, que o
homem já conhece Deus;... conhece-o seja pelas obras da criaplo, seja em
decorréncia da fragilidade da vida neste mundo, seja mediante arquetipos...
Mas o que interessa, é que parece haver urna necessidade básica de acreditar".

Neste ponto Frankl e Jung divergem entre si. Com efeito, Jung diría
que o homem de fé tem urna dimensao religiosa congénita, mas que esta é
meramente subjetiva, pois Deus nao passa de urna projecao da psyché huma
na. Ao contrario, Frankl afirma que Deus é urna realidade viva e existente
fora do homem, embora nao seja possível contemplar Deus com os olhos das
ciencias positivas. Com Martín Buber, também judeu, Viktor Frankl acredita
na existencia de um Tu Eterno, um Deus com o qual o homem precisa de
conviver e que está aninhado na intimidade de cada um, sem deixar de ser o
Supremo Ser existente também fora do homem1.

A Logoterapia, levando em conta esta dimensao, específica do homem,


é urna psicoterapia que parte do espiritual. Todavía nao se confunde com
Teología nem com seita religiosa, como dito.

5. ConclusSo

A Escola de Viktor Frankl, por mais oposta que seja ás corren tes fa
mosas de Psicologia, tem encontrado grande ressonáncia: diante do materia-

1 A Unguagem de V. Frankl, como dito, éadeum psicólogo; quando ele fa-


la de "Deus aninhado na intimidade de cada um", intenciona referirse ao
sonso religioso congénito em cada homem, marca do Deus Criador.

137
_42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

lismo que leva á conspurcacáo e ao menosprezo da pessoa humana, conside


rada joguete, a Logoterapia afirma, com base na experiencia mais crua e cruel
possível, que o ser humano é capaz de superar os condicionamentos que o
querem coisíficar; tem dentro de si urna energía (a religiosa) que o leva a to
lerar o que nenhuma outra energía tolera e que, por isto, o faz, de certo mo
do, construtor do seu futuro, ultrapassando obstáculos mortais.

Esse senso religioso, segundo Frankl, nao é mera ficcao subjetiva, mas
tem algo que Ihe corresponde fora de si e que é o próprio Deus. Frankl é muí-
to atento, neste ponto, a nao infringir os limites da Psicología; por isto, ao
insinuar a realidade objetiva de Oeus, diz simplesmente: "Nao precisamos de
inventar tarefas para preencher o tempo, nem de fabricar um sentido ou
urna tarefa artificial. A vida já tem um sentido a partir do momento em que
somos atirados neste mundo. Falta a cada um descobri-lo. Esta é a intencao
da Logoterapia" (José Carlos Vítor Gomes, reproduzindo o pensamento de
Frankl no livro analisado, p. 28).

É a este título que V. Frankl se aproxima da antropología crista, ilus


trando as propostcoes desta como judeu, sem preocupagao apologética, mas
guiado únicamente pela experiencia e pela reflexao.

No Brasil existe a Socíedade Brasileira de Logoterapia, com sede em


Porto Alegre (RS), á Rúa Tobías da Silva n° 85, conj. 305; telefone: (6512)
31-1962. O seu presidente é o Dr. Jorge C. Sarriera, professor da Faculdade
de Psicología de Pelotas e da Uníversidade Católica de Porto Alegre.

O Dr. Viktor Frankl tem por endereco: 1 Maríannengasse, 1090 Víena,


Austria.

CURSOS POR CORRESPONDENCIA

OS SINAIS DOS NOSSOS TEMPOS ESTÁO A EXIGIR QUE OS


FIÉIS CATÓLICOS PROCUREM CONSOLIDAR A SUA FÉ: SAIBAM O
QUE CRÉEM E POR QUE CRÉEM... PARA TANTO, SÁOLHES OFERE-
CIDOS CINCO CURSOS POR CORRESPONDENCIA: S. ESCRITURA,
INICIACÁO TEOLÓGICA, TEOLOGÍA MORAL, HISTORIA DA IGREJA
E TEOLOGÍA. AS INSCRICÓES PODEM SER FEITAS EM QUALQUER
ÉPOCA DO ANO. A DURACAO DO CURSO ESTÁ A CRITERIO DO(a)
INTERESSADO(a). SEJAM AS INFORMACÓES SOLICITADAS A ESCO
LA "MATER ECCLESIAE", CAIXA POSTAL 1362, 20001 RIO DE JA
NEIRO (RJ) OU RÚA BENJAMÍN CONSTANT 23, 3? ANDAR, 20241
RIO (RJ).

138
Documento
Aos 16/10/87 faleceu o Cardeal Joseph Hoeffner, arcebispo de Colo
nia (A lemán ha), ex-Presidente da Conferencia dos Bispos da Alemanha 0c¡-
dental, vi'tima de um tumor maligno na cabeca. E" o autor do livro "Doutrina
Social Crista", já apresentado em PR 305/1987, pp. 447-456. Além do qué,
o Cardeal Hoeffner esteve no Brasil a mando da Santa Sé, como Visitador de
Seminarios diocesanos. - Dentre os escritos deixados por esta eminente fi
gura, encontra-se a DESPEDIDA, que abaixo vai transcrita em traducao por
tuguesa. É sempre oportuno ouvir as palavras de alguém que se poe no limiar
da morte e olha para o passado assim como para as pessoas que o acompanham.

PALAVRA DE DESPEDIDA

"Como sacerdotes e como Bispos, anunciei muitas vezes a Boa-nova da


morte crista. Na medida em que eu mesmo envelheci, tocava-me mais esta
mensagem; pois eu sabia, que em breve haveria de despojar-me desta tenda
terrena (2Pd 1,14),. e que chegava o tempo de minha partida (2Tm 4,6)".

Nossa fé nao permite que se banalize a morte. Experiencias atéentáo-


desconhecidas nos serao oferecidas. A morte é urna lei, mas também um
jui'zo. Ela perdeu o seu aguilhao (cf. 1 Cor 15,55). Na segunda vinda de Nos-
so Senhor, ela será definitivamente destruida como último inimigo (1 Cor
15,26). Com Cristo já comepou a nossa ressurreicao. Como primicias. Cris
to; depois, aqueles que pertencem a Cristo, por ocasiao da sua vinda (1 Cor
15,23).

Tenho consciéncia de que existe urna vida - minha vida terrestre -


que ainda nao é vida em plenitude; e que existe urna morte - minha morte
humana -, que nao mata e nao separa sob todos os aspectos. Após a semen-
teira, haverá a colheita. Da térra estrangeira peregrinamos para a Patria, da
tenda para a casa paterna, da cidade terrestre para a Jerusalém celeste. Tudo
o que buscamos dentro do mundo, sao apenas valores provisorios e passagei-
ros. Nossa meta verdadeira é Deus.

Assim devolvo minha vida terestre as máos do Criador, esperando que


Jesús Cristo, "a Luz dos homens" (Jo 1,4) alumie o caminho de minha pas-
sagem. A minha vida, a seguranca e o aconchego dentro da Igreja, o meu sa
cerdocio: tudo Deus me concedeu sem mérito meu. Por isto a despedida des-
te mundo torna-se um ato de agradecimento. Agradeco a Jesús Cristo, por
que, como sacerdote em Saarbrucken, em Kail e Trier, e depois em Münster
e Colonia como Bispo, maravilhado, eu pude experimentar Seu amor, qu»dá
vida dentro da Santa Igreja, a qual, nao obstante tantas rugas, é sua Esposa e
nossa Máe. Pude experimentar esse amor quando, na Eucaristía, tinha sua

139
.44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

presenca entre nos, quando Ele ia á procura dos desgarrados e perdoava os


pecadores, quando Ele reconfortava e consolava enfermos e moribundos,
quando Ele chamava jovens para o Seu seguimento.
Agradeco a meus pais e a meus irmaos seu amor e sua bondade. Agra
deco aos fiéis sua confianca, aos irmaos no episcopado, aos sacerdotes e diá
conos a sua colaboracao fraterna na vinha do Senhor. Agradeco aos Religio
sos e a tantas mulheres e homens que, como voluntarios ou como contrata
dos, servem á causa da Igreja. Nao menos agradepo a todos os que, em minha
casa, durante todos esses anos, incansáveis e pacientes me apoiaram.

Queira Deus perdoar os meus pecados, os meus fracassos, as minhas


fraquezas e negligencias.Seja-me Ele, pela intercessao de María, Mae de Deus,
um Ju¡z misericordioso. A todos aqueles que eu tenha ofendido ou entriste
cido, e a todos os que nao se viram compreendidos por mim, peco, pelo amor
de Jesús Cristo, o perdao.

Num tempo muito agitado social e eclesialmente, Deus colocou em


minhas fracas maos o báculo pastoral de Sao Materno. Experimentei a Igreja
em suas aflicóes, que Ihe advém de fora e de dentro. Mas exatamente nos
anos da fermentacáo e de mudancas abruptas, foi-me consolo e torca aqueta
certeza de que é Jesús Cristo quem vive e age em sua Igreja.

Como chegou o momento em que devo prestar contas diante d'Ele, su


plico aos fiéis da Arquidiocese de Colonia, e conjuro-os a que permanecam
firmes em seu amor e sua fidelidade ao Cristo e á Igreja, que é o seu Corpo.
(Cl 1,24), que conservem a unidade na fé em comunhao com osucessorde
Sao Pedro," que imitem o próprio Cristo em sua vida cotidiana, e que, por
seu vivo testemunho, tornem a Igreja presente e operosa naqueles lugares e
circunstancias onde apenas através deles ela pode chegar como sal da térra
(II Concilio do Vaticano LG 33).

Deus abencoe e proteja a Arquidiocese de Colonia: as familias, as


crianzas e os jovens, os pais e as maes, as pessoas idosas, os sacerdotes, os diá
conos e os Religiosos.

Lembrai-vos de mim na oracao. Eu clamo ao Senhor: Tende piedade


de mim, segundo a vossa grande misericordia! (Neemias 13,22). Por vos, meu
Deus, aspiro (SI 25,1).

Quarta-Feira de Cinzas, 20 de fevereiro 1980

t Joseph Cardeal H'ó ffner"


O texto dispensa comentarios. É a palavra simples de um homem de fé,
que deu lúcido testemunho de fidelidade a Cristo e á Igreja até o extremo
momento de sua existencia terrestre.
Estévao Bettencourt O. S. B.

140
Nota

A Moralogia

A Moralogia é urna corrente de pensamento fundada pelo jurista japo


nés Dr. CHIKURO HIROIKE (1866-1938). Aos 46 anos de idade, este mes-
tre, após grave enfermidade, resolveu dedicar-se, de corpo e alma, á salvapao
da mente humana, ensinando os preceitos da Ética ou Moral (Moralogia} que
levam á felicidade.

Chikuro Hiroike distingue: 1) Moral Comum (respeito aos pais, justipa


social, benevolencia; em suma: as normas da Ética natural) e 2} Moral Supre
ma, ensinada pelos Sabios ou "Mestres da Humanidade", que ele assim enurt,-
cia: Sócrates, Jesús Cristo, Buda, Confúcio e a Familia Imperial Japonesa; á
Moralogia recomenda também a fidelidade ao Ortolinon ou aos benfeitores
que contribuiram para a*formacao material e espiritual da sociedade atual (a
palavra vem dogrego orthós, re toe linón, linha, fio); há tres tipos de Ortolinon:
o Familiar (os antepassados de urna familia), o Nacional (os benfeitores de
urna nacao; no caso japonés, a familia imperial) e o Espiritual (benfeitores
comuns a toda a humanidade, independentemente de nacionalidade, religiao,
povo...).

A Moralogia professa a fé em Deus, cuja existencia é atestada: 1) pela


Lei da Natureza, 2) pelo testemunho de todos os povos, 3) pelos ensinamen-
tos dos Sabios. Deus é tido como um "Ser personificado"; em alguns textos,
parece transcendente ao mundo, do qual é o Criador; mas em outras passa-
gens parece identificado com a própria Lei da Natureza — o que redundaría
em panteísmo (conceito nao conciliável com o monoteísmo bíblico.

A Moralogia só se ocupa com a vida presente e a consecupao de felici


dade neste mundo, que consiste em alegría de viver, saúde, longevidade, pros-
peridade dos descendentes, progresso profissional, etc. Nao fala da vida pos
tuma nem de reencarnacao, deixando o estudioso inseguro quanto ao senti
do da morte e, conseqüentemente, da vida presente mesma.

Em suma, o código de preceitos éticos da Moralogia, na medida em que


é o da lei natural, é válido (mas nada de novo traz após quanto já foi dito

141
_46 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

por sistemas filosóficos anteriores e pelo Cristianismo). No tocante a Deus,


á fe e á Religiao, tal corrente de pensamento é sobria demais; a verdadeira
Moral deve estar bascada no Absoluto, que o Cristianismo apresenta como "o
Amor que primeiro nos amou" (Uo 4,19) e nos convida ao consorcio da sua
vida (cf. 1 Jo 3, 1-3). A estrutura da mensagem da Moralogia é bem marcada
pela sua origem japonesa, pois o povo do Japao, como o da China, sempre
cultivou muito a vida ética e a tradicao dos antepassados (em cuja hornería-
gem celebram ritos religiosos).

Os elementos desta Nota foram extraídos do livro "I ntroducaoá Mora-


logia", editado pelo Instituto de Moralogia do Japao e traduzido para o por
tugués pela filial do mesmo em Sao Paulo (SP).

2. O Nome de Batismo

O nome foi considerado na antigüidade como designativo da ident¡da-


de do seu portador; o nome era urna expressáo do que a pessoa é ou tencio-
na ser. Esta concepcao transparece nos escritos bíblicos (cf. Gn 3,20; 17,5.
15; 32,29; 35,10; Jo 1,42), e esteve em vigor durante sáculos cristaos. Nos
últimos tempos, porém, tem-se apagado tal nocao, de modo que muí tos no-
mes sao criados sem significado nem mensagem. — Ora a importancia do no
me pessoal foi recentemente posta em relevo na Albania, país comunista... É
o que nos diz, com alguns comentarios, o jornal Schweizerische Katholische
Wochenzeitung (Semanario Su ico Católico), de 02/12/1987, p. 4. A noticia
vai, a seguir, transcrita em traducao portuguesa:

APRENDER DOS ATEUS

"A Albania é o país que apregoa o combate mais ferrenho e violento


contra a Religiao. dentre todos os países govemados por regimes ateus. Por
isto nao surpreende a seguirte noticia de jornal:

'Já nao ó permitido aos casáis, na Albania, dar nomes cristaos ou mu-
culmanos aos seus filhos. Estes deverao trazer nomes adequados ás linhas po
líticas, ideológicas e éticas do Partido Comunista. Por isto sao recomendados
nomes como Illy (Estrela) ou Miri (o Bom). Esta lei nao faz senSo enfatizar
as normas já promulgadas em 1975 por um decreto que recomendava a abo-
licao de nomes religiosos para enancas'.

Quem reflete sobre tal lei, pode perguntar se os ateus da Albania nao
tém mais consciéncia, do que os católicos, do significado do nome dado ás
crianzas, pois muitas vezes os genitores católicos escolhem para seus filhos

142
NOTA/A MORALOGIA 47.

nomes 'de moda', que nada significan). Os ateus tém consciéncia de que um
nome cristao ou muculmano é urna confissao de Cristianismo ou de fslanis-
mo e lembra a fé ao respectivo portador e ao seu ambiente; por isto é que
querem retirar da consciéncia do povo tais nomes. Por conseguíate, vé-se
que a fgreja nada de mais pede quando solicita que as enancas a serem
balizadas recebant nomes em consonancia com a fé católica. A razio deste
desej'o é assim formulada pelo 'Catecismo Romano', elaborado por encargo
do Concilio de Trento:

'Dé-se a cada candidato ao Batismo um nome inspirado pela figura da-


queles que, por sua piedade e seu temor de Deus, mereceram ser contados
entre os santos. Assim acontecerá que, pela identidade do nome, seja o neó
fito estimulado a imitar a virtude e a santidade do patrono; além disto, invo
cará a este e confiará na intercessSo do mesmo em favor do seu bem espiri
tual e corporal'.

"Tais ponderacoes em favor de apelativos cristaos merecem especia/


atencao em nosso mundo secularizado".

Até aqui o jornal su ico, que transcreveu dados de outro periódico. É


interessante lembrar como os cristaos criaram ou enfatizaram nomes de sig
nificado cristao ou bíblico:

Segundo a língua latina, Renato(a) = Renascido(a) da agua batismal;


Domindos = do Senhor; Lúcio(a) = Portador de luz; Fortunato = Feliz;
Augusto = Elevado; Justino = Justo; Celestino = do céu; Inés = do Cordei-
ro...

Segundo a língua grega: André(a) = Coragem, Virilidade; Timóteo(a)


= 0 que honra a Deus ou é honrado por Deus; Crisóstomo = Boca de Ouro;
Crisótogo = Palavra de ouro; Teodoro (a) = Dom de Deus ou Dado a Deus;
Eugénio(a) = de boa linhagem; Estéváo = Coroa; Águeda = Boa; Anastácio
(a) = Ressurreipao; Ireneu = Pacato; Cleto = Chamado...

Segundo a língua hebraica: Joao (Joana) = Javé é Grapa; Elisabete =


Meu Deus é repouso; Zacarías = Deus se lembra; Daniel = Deus é meu Juiz;
María = Elevada, Excelsa; Miguel = Quem é como Deus?...

Nao seria oportuno que nossas familias refletissem bem sobre os no


mes que desejam dar aos seus filhos?

143
48 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 310/1988

ENSINO RELIGIOSO ÑAS ESCOLAS DA INGLATERRA

Em 1986 realizou-se em Rimini (Italia) urna Mesa Redonda sobre a Es


cola Popular, da qual participou, como representante da Inglaterra, o Prof.
Sexton. Este referiu-se que em seu país o Estado deixa as diversas escolas
ampia liberdade de programas; a única materia prescrita para as Escolas de
qualquer grau e ordem é o Ensino Religioso.

Na mesma época um grupo de turistas italianos percorria a Inglaterra,


quando a guia inglesa, talando da organizado escolar, perguntou:"Sábem
qual é a única materia obrigatória ñas nossas escolas? "Os interpelados bal-
buciaram algumas tentativas de resposta, ás quais retrucou a guia: "A Reli-
giáo!".

A mesma legislapao escolar é vigente na Australia e em outros países


do antigo Imperio Británico.

Aínda a respeito da liberdade de ensino, o Parlamento Europeu apro-


vou importante Resolucao aos 14/03/84, a saber:

"A liberdade de ensino e ¡nstrucao implica o direito de abrir urna esco


la e de exercer atividades didéticas. O direito á liberdade de ensino implica,
porsua índole mesma, a obrigacio, dos Estados-membros, de tornar possível
o exerdcio deste direito, até mesmo no plano financeiro".

Estes dados, trazidos a confronto com a legislacao escolar brasileira,


evidenciam que, neste ponto, «tamos bem longe de desfrutar de auténtica
democracia.

(Noticias extraídas da revista FAMIGLIA CRISTIANA, n? 50,


23/12/1987, pp. 13s).
Estévao Bettencourt O.S.B.

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ÚLTIMO BISPO DO RIO DE JANEIRO NO IMPERIO
(1868- 1890)

Para elaborar o presente livro, o autor, D. Jerónimo de Lemos OSB.,


além de consultar ampia bibliografía, viu também o arquivo de D. Lacerda,'
lendo sua correspondencia, escritos, e preciosa documentado até hoje iné
dita, bem como jomáis daquele tempo, grapas ao que pode contribuir para
urna perspectiva inteiramente nova sobre a pessoa e acontecimentos da época
em que viveu esse bispo, que, durante mais de vinte anos dirigiu espiritual-
mente os destinos da extensa diocese de Sao Sebastiao do Rio de Janeiro, a
qual, naquela época, nao se restringía ao assim chamado Municipio Neutro,
mas abrangia todo o Estado do Rio e Espirito Santo, e territorios das provin
cias de Santa Catarina e Minas Gerais. - 600 páginas - CzS 900,00.

RITOS DE COMUNHÁO
paraM.E.C.E.

Normas, Ritos, Indicapao de leituras, com base em documentos da


Santa Sé, compilados por D. Hildebrando P. Martins OSB - 68 páginas.
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7? edipao
Aplicável a qualquer Diocese, a criterio do Ordinario do lugar.

DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temas controvertidos.

2a Edicao

Em 18 capítulos, tendo sido acrescentados nesta edipao:


"Capítulo IV: A Santi'ssima Trindade: Fórmula paga?"
"Capítulo XVIII: Seita e espirito sectario".

Cap. 1. O catálogo bíblico. 2. Somente a Escritura? 3. Somente a fé. Nao


as obras? 4. O Primado do Pedro. 5. Eucaristía: Sacrificio e Sacramento.
6. A confissao dos pecados. 7. O purgatorio. 8. As indulgencias. 9. María,
Virgem e Mae. 10. Jesús teve irmáos? 11. O culto dos Santos. 12. As imagens
sagradas. 13. Alterado o Decálogo? 14. Sábado ou Domingo? 15.666
(Ap 13,18).
¡

Seu Autor D. Estévao Bettencourt, considera os principáis pontos da clássica


controversia entre Católicos e Protestantes, procurando mostrar que a discus-
sáo no plano teológico perdeu muito de sua razao, de ser, pois nao raro,
versa mais sobre palavras do que sobre conceitos ou proposipoes. — 380 pá
ginas - CzS 500,00.

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