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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoríam)
APRESENTAQÁO
DA EDipÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanza a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
7' visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
|_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
X dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar. este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.


Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
(A

SUMARIO

t/5
"Ex Umbris et Imaginibus in Veritatem'
LU

O A Igreja: Sua Origem e Sua Natureza

<S>
Sexo e Violencia na TV
UJ

O
"Palavra, Parábola"

00
"O Julgamento de Jesús, O Nazareno"

2 Mais urna vez o Sudario de Türim

Aínda o Carmelo de Auschwitz-


m
o
Livro em Estante
a.

ANO XXXI OUTUBRO 1990 341


PERGUNTE E RESPONDEREMOS OUTUBRO - 1990
Publicando mensal
N9 341

SUMARIO
Dlretor-Rosponsável:
Estéváo Bettencourt OSB "Ex Umbris et Imaginibus
Autor e Redator de toda a materia in Veritatem" 433
publicada neste periódico
A Memoria da Igreja:
Diretor-Admfnistrador: A Igreja: Sua Origem a Sua Natureza . . 434
O. Hildebrando P. Martins OSB
A TV pesquisada na Universidade:
Administrado e distribuicáo: Sexo e Violencia na TV 443
EdicSes Lumen Christi
Lingüística e Teología:
Oom Gerardo, 40 - 5? andar, S/501
"Palavra, Parábola" 455
Tel.: (021) 291-7122
Caixa Postal 2666 Pleiteando pro Israel:
20001 - Rio de Janeiro - RJ "O Juramento de Jesús, O Nazareno" . 463

Sempre em foco:
ncademacáo Mals urna vez o Sudario de Turim .... 473

O Diálogo Judeo-cristao:
Aínda o Carmelo de Auschwitz 478
Llvro ttn Estante 480
1 'MARQUES-SARA/VA "
GRÁFICOS £ EDITORES S. A.
Tels I0ÍIK73-949B -Í73-9H7

NO PRÓXIMO NÚMERO

A Biblia em Edicao Pastoral. - Morte, eutanasia e coma. - O Cardeal John


Henry Nevyman: o amor á Verdade. - "O Misterio de Jesús" (Vamberto de
Moráis). - Determinismo e Indeterminismo ñas Leis da Física.

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

ASSINATURA ANUAL (12 números):Cr$ 800,00- Número avulso: CrS 80,00

.Pagamento (á escolha).
1. VALE POSTAL á agencia central dos Córrelos do Rio de Janeiro em nome de Edi-
cóes "Lumen Christl" Calxe Postal 2666-20001 Rio de Janeiro- RJ.
2. CHEQUE NOMINAL CRUZADO, a favor de EdicOes "Lumen Christi" (endereco
ácima).
3. ORDEM DE PAGAMENTO, no Banco do Brasil, conta N? 31.304-1 em nome do
Mosteiro de Sfio Bento, pagável na agenda Praca Maué/RJ N« 0435-9. (Nflo enviar
através de DOC ou depósito instantáneo - A identiftcacfio 6 difícil).
'Ex Umbris et Imagínibus in
Veritatem"
Aos 11/08 pp. foi celebrado o centenario da morte do Cardeal John
Henry Newman, que formulou para si mesmo o epitafio: "Ex umbris et ima-
ginlbus in Varitatem. - Das sombras e imagens para a Verdade". Estas pala-
vras compendiam bem a trajetória desse homem notável, que foi um ardoro
so peregrino da Verdade.

Com efeito; nasceu em 1801 no seio da Comunhlo Anglicana, onde


foi batizado. Universitario, tomou conscifincia de que o Anglicanismo sofría
forte influencia do racionalismo e do liberalismo. Se isto Ihe desagradava,
desagradava-lhe também o catolicismo, reduzido a destropos e preconceituo-
samente considerado na Inglaterra. Resolveu entao iniciar urna Via Media,
que seria a doutrina é a espiritualídade dos Padres dos prímeiros séculos.
Fundou assim o Movimento de Oxford, com seus Tracts (Breves Tratados),
que aprofu'ndavam a historia e o pensamento da Igreja amiga. Na execucáo
desse designio, foi aos poucos verificando que tanto o Arianismo, o Nesto-
rianismo, o Monof¡sismo.;, (heresias amigas) quanto o Protestantismo eram
dissidéncias do tronco original da Igreja fundada por Jesús Cristo; por conse-
guínte, se ele rejeitava as heresias amigas, devia também rejeitar o Protestan
tismo, para ser fiel a Jesús Cristo. Assim, guiado únicamente pela busca da
Verdade, Newman chegava a urna conclusao que o surpreendia e nao podia
deixar de Ihe serdolorosa: o estudo sincero levava-o a filiar-se ao berco e ao
tronco central do Cristianismo! Levava-o a dizer Sim e pedir ingresso á Igreja
Católica, depauperada e menosprezada na Inglaterra, em contraste com o
Anglicanismo, que era a religiao altamente favorecida pelas leis do Estado.
A Via Media nao se sustentava; tornara-se a Via de retorno á Igreja dos
Apostólos, dos Mártires e dos grandes Doutores, que se prolongava nos terrv
pos modernos sob o pastoreio do sucessor de Pedro em Roma. Se no sé-
culo XIX a face externa da Igreja Romana nao era a dos primeiros séculos,
compreender-se-ía que a sementé lancada por Jesús Cristo na Palestina se
havia desenvolvido com a assisténcia do Espirito Santo, dando urna árvore
frondosa (cf. Mt 13, 31s), mas homogénea com as suas origens.
Newman nao hesitou em dar o passo decisivo em 1845. Ele havia de
clarado, ao encetar a Via Media: "Meu desejo foi ter a Verdade como a mais
cara amiga e nao ter outro inimigo a nao ser o erro"! Nobre programa, sem
dúvida, mas quao arriscado e perigoso!

Incompreendido nos anos subseqüentes, Newman foi feito Cardeal da


Igreja por LeSo XIII em 1879. Seu testemunho é eloqüente até hoje e conti
nua a ressoar numa de suas mais belas oracoes: "LUZ SUAVE, GUIA-ME
NA ESCURIDÁO. LEVA-ME ADIANTE. DENSA É A NOITE. DISTANTE
ESTÁ A MINHA CASA. DIRÍGEME OS PASSOS. EU NAO TE PECO
QUE ME DESCORTINES O HORIZONTE LONGfNQUO; INDÍCAME
APENAS ONDE DEVO COLOCAR O PÉ!" E.B.

433
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

ANO XXXI - N? 341 - Outubro de 1990

A Memoria da Igreja:

A Igreja: Sua Origem e Sua


Natureza

Em síntese: O Cardeal Joseph Ratztnger proferíu palestra pública, no


Rio de Janeiro aos 26/07/90, sobre o tema ácima. Antes do mais, colocou a
pergunta: Quis Jesús fundar a Igreja? Que é a Igreja? - Frente és teorías dos
últimos cem anos, inspiradas por fatores filosóficos e culturáis contingentes,
mostrou que a Igreja tem urna memoria, ouseja, tem fontes próprías para re-
conhecer sua identídade: ó a Ekklesía (= convocacio ou assembléla convoca-
da, em grego), que corresponde aos anseios do povo de Deus no Antigo Testa
mento; este, após o exilio babilónico (587-538a.C), pedia a Deus que reunís-
se os segmentos de Israel dispersos entre os diversos povos do Orienta, do Egi-
to a do Ocidente; essa reuniio seria o cumprimentó das profecías do Antigo
Testamento referentes é vinda do Reino de Deus. Ora Jesús realizou essa con
vocacio, reunfndo nSo só o povo de Israel disperso, mas também os povos pa
gaos, numa assembléia católica, universal. O Reino de Deus nSo é algo de to
pográfico ou espacial, mas 6 o próprío Cristo; estar com Cristo ó estar no
Reina

0 episodio de Pentecostés (At 2, 1-41) concretizou multo vivamente


essa convocacio, que deu origem ao novo povo de Deus: as Ifnguas foram
multiplicadas para que as multas culturas da humanidade fossem lavadas ó
unidade da Igreja; nesta hé urna sófóe urna só Eucaristía, que sela a definitiva
Alianca de Deus com os homens. Assim se vé que a Igra/a nio 6 o produto da
criatividade humana, mas tem origem em Deus; ala vem a ser a realizacio das
expectativas dos Profetas do antigo Israel.

De 23 a 27 de 1990 realizou-se no Rio de Janeiro um Curso para Bispos


sobre "O Munus Petrino (a funcao de Pedro) no final do milenio, diante dos

434
IGREJA: ORIGEM ENATUREZA

problemas da Igreja", com a participacao de 96 Bispos brasileiros. A abertura,


na noite de 23 de julho. foi feita pelo Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro,
D. Eugenio Sales; pelo Presidente da CNBB, Dom Luciano Mertdes de Almei-
da; pelo Nuncio Apostólico, Dom Cario Fumo; e pelo coordenador do curso,
Dom Karl Josef Romer. O objetivo desse Curso foi proporcionar atualizacao
teológica aos Bispos e defender a unidade doutrinária da Igreja. O Prefeito da
Congregado para a Doutrina da Fé, Candeal Joteph Ratzinger, fez tres pales
tras, sempre na primeira sessáo da manhá", sobre "Igreja Universal e Igreja Par
ticular", "Pedro e a Unidade dos CristSos", o "Munus do Bispo e a Igreja Par
ticular". O CardealArcebispo de Salvador na Bahía e Primaz no Brasil fez
duas conferencias sobre "Desafios á Igreja no final do 2? Milenio" e "Mensa-
gem do Magisterio de Joao Paulo II ao nosso tempo". O Bispo da Diocese
gaucha de Novo Hamburgo, Dom Boaventura Kloppenburg. falou sobre a
"Igreja na América Latina após o Concilio Vaticano II, sinais do Espirito e
desafios". O Bispo da Diocese paulistana de Santo Amaro, Dom Fernando Fi-
guairedo, expós sobre a "Unidade e Multiformidade na Igreja Apostólica". O
Secretario do Departamento de Ecumenismo do CELAM (Conselho Episco
pal Latino-americano), Padre Lub Eduardo Castaño, dissertou sobre "Ecume
nismo: compromisso e limites na América Latina". O Bispo Auxiliar de Olin-
da e Recife, Dom Joffo Evangelista Martins Térra, falou sobre "Aspectos bí
blicos da unidade e diversidade na Igreja". 0 Curso terminou ao meio-diada
sexta-feira 27 de julho, após diálogo com os conferencistas.

Aos 26 de julho o Sr. Cardeal Joseph Ratzinger proferiu urna palestra pú


blica sobre "A Igreja: sua origem e sua natureza". Perante um auditorio super-
lotado discorreu serenamente sobre um tema hoje controvertido, visto que há
estudiosos que negam tenha Jesús fundado a Igreja; esta seria criacáo dos
Apostólos após sofrerem a decepcao de nao verem o fim dos tempos; por con-
seguinte, dizem, se os Apostólos fundaram a Igreja, os sucessores dos Apostó
los podem hoje reformá-la radicalmente ou extinguir a instituicSo existente
para fundar outra (oriunda do povo e moldada segundo os trapos de urna re
pública democrática contemporánea).

Eis, em smtese, o teor da magistral conferencia do Cardeal Joseph


Ratzinger:

1. Um pouco de historia recents

Que é a Igreja? Donde provém? Será expressáo da vontade de Jesús


Cristo?

Para elucidar tais perguntas, há tantas teorías entre os exegetas e teólo


gos que parece impossível dar urna resposta segura a tais indagacoes. Devere-

435
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

mos, entao, desistir da pesquisa? ... e passar simplesmente para a vivencia do


Evangelho segundo os criterios individuáis de cada cristao? — Tal atitude seria
grave infidelidade a Cristo. Ao estudioso cristao nao é lícito fechar-se no ce-
ticismo.

Como entao proceder para chegar a urna elucidacao dos quesitos pro-
postos?

O melhor ponto de partida há de ser a procura de urna visao de conjun


to das teorías existentes. Urna vista aérea panorámica das mesmas permitirá
descobrir caminhos que levem a urna so I u cao do aparente impasse.

Ora podemse distinguir tres carnadas de teorías sobre Jesúse a Igreja


propostas pelos teólogos dos últimos anos:

1) A exegese dita "liberal" concebía Jesús como um pregador liberal,


que reduzia a Religiao á ética crista. Opunha-se ¿s instituicSes existentes em
sua época; por conseguirle, nao terá fundado alguma instituicao ou Igreja,
mas haverá despertado nos homens o desejo de experiencia de Deus mera
mente pessoal ou subjetiva.

2) Tais concepcoes perderam sua voga apósa primeira guerra mundial


(1914-18). Os povos perceberam que o cientificismo e muitos esteios de
urna falsa auto-afírmacao do homem haviam fracassado; a guerra incitou os
homens a reconhecer sua fragilídade. Isto os levou a procurar estimar de no
vo os valores sagrados. Tomaram consciéncia de que Jesús era avesso ao cul
to de Deus e á Liturgia, como fora dito pelas geracoes anteriores. Conse-
qüentemente o protestantismo na Alemanha, na Inglaterra, na Escandinávia
restaurou com novo interesse a prática da oracao e os ritos sagrados. Entre
os católicos a Eucaristía foi mais reconhecida como centro da vida crista; o
movimento litúrgico tomou vulto e reavivou a piedade. Nesta fase tiveram
certa influencia os teólogos ortodoxos russos exilados em París, que contri-
buiram notavelmente para a elaboracao de urna Eciesioiogia eucarística mais
densa e profunda. Tornou-se forte a consciéncia de que o Messias deixou as
linhas fundamentáis da constituicáo de um povo santo ou messiánico.

3) Sobreveio a segunda guerra mundial, que por sua vez deslocou o fo


co de atencfo dos estudiosos. Urna das mais notáveis conseqüéncias do con
futo foi a abertura de um fosso crescente entre povos ricos (liberáis) e povos
pobres; no Ocídente os povos do bem-estar restauraram a antiga filosofía li
beral, que por sua vez ressuscitou a teologia liberal, segundo a qual Jesús foi
tao somente um moralista, desligado de instituicoes. Alguns teólogos apela-
ram para a distincao, existente no Antigo Testamento, entre sacerdotes e
profetas; aqueles teríam representado a Lei e as ¡nstituicoes de Israel, ao pas-

436
IGREJA: ORIGEM E NATUREZA

so que estes significavam o carisma e a oposicao ás ¡nstituicóes; ora Jesús se


terá alinhado do lado dos Profetas, contra os sacerdotes; por conseguirte,
nao terá fundado Igreja alguma. Mais, diziam tais estudiosos: Jesús julgava
que o mundo acabaría em breve ou com a geracao do próprio Cristo, de mo
do que Ihe era alheia a idéia de criar urna instituicao duradoura.1

A sumaria exposicáo das tres carnadas de teorías feita até aqui maní-
festa que cada qual délas é o reflexo da sua época ou foi marcada pelas cir
cunstancias sociais, políticas e culturáis da respectiva época. A Eclesiologia
foi formulada em consonancia com esses fatores extrínsecos e contingentes,
e nao de acordó com a memoria da Igreja, ou seja, com as concepcoes cons
tantes e tradicional que formam o fio condutor da historia e da doutrina da
Igreja. É, pois, necessário redescubrir a memoria e a Tradicao da Igreja.

2. A memoria e a TradicSo da Igreja

Para comecar, notemos a freqüente ocorréncia da expressáo Reino de


Deut nos escritos do Novo Testamento: aparece 122 vezes nestes, sendo que
99 vezes nos Evangelhos sinóticos e 90 vezes diretamente nos labios de Je-

1 Eis as palavras com que o próprio Cardeal Ratzinger exprime seu penta-
mento no artigo "A Memoria Histórica da igre/a" publicado no JORNAL
DO BRASIL, caderno "Idéias/Ensaios" de 5/8/90, pp. 7s. Tais dizeres a/u-
dam a compreender afirmacdes de teólogos da Libertacáb no Brasil:
"Esse novo tipo de Hberalidade pode transformarse, com grande facili-
dade, em urna ¡nterpretacá"o de orientacio marxista da Biblia. O confronto
entre sacerdotes e profetas converte-se na chave da luta de classes como lei
da Historia. Nesse caso, Jesús foi morto na luta contra as torcas opressoras e
se converte em símbolo do proletariado que sofre e luta, símbolo do povo,
como se prefere dizer. O caráter escatológico da mensagem remete para o
fim de urna sociedade classista; na dietética profeta-sacertote expressa-se a
dialética da Historia, que culmina com a vitória dos oprimidos e o surgimen-
to de urna sociedade sem classes. Nesta concepció pode-se encaixar o foto
de que Jesús quase nunca fatou de Igre/a, referindo-se, constantemente, ao
Reino de Deus; o Reino será, entffo, a sociedade sem classes, e será amatada
luta do povo oprimido; ele ocorre onde o proletariado organizado, isto 6,
seu partido, com o socialismo alcancou vitória. A eclesiologia volta a ter sig
nificado, neste modelo dialático, dado pelo desmembramento da Biblia em
sacerdotes e profetas, correspondente i difarenca entre instituicáb epovo.
Segundo esse modelo dialético, é Igre/a institucional, oficial, se opde a Igre/a
do povo, aquela que, renascendo constantemente com ele, perpetua as intBn-
cdes da Jasus, sua luta contra as instituicóes e seu poder opressor, a favor de
urna nova sociedade livre, o reina "

437
'PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

sus. Era na base desta verif¡cacao que Loisy dizia: "Jesús pregou o Reino de
Deus (= a consumacao definitiva da historia), mas o que veio é a Igreja".

Eis, porém, que a oposicao "Reino de Deus x Igreja" é falsa. Com efei-
to; os Profetas do Antigo Testamento anunciavam o Reino de Deus como
realidade última e definitiva; Sao Joao Batista também reunia os homens rai
ma só comunidade que aguardava o termo final da historia. Ora Jesús veio
justamente, como representante de Deus Pai, para reunir os homens no Rei
no prometido. Este, porém, nao é um lugar, um espapo; é Jesús mesmo; é
Deus posto diante do homem. Observemos que, quando Jesús se aproximava
do povo para anunciar-lhe a Boa-Nova, dizia-1 he: "Cumpriu-se o tempo e o
Reino de Deus está próximo" (Me 1,15). Jesús é o Reino que se aproxima;
onde Ele está, ai está o Reino; o Reino de Deus é a atuapSo de Deus na his
toria dos homens. Por isto a frase de Loisy deveria ser assim corrigida:
"Anunciou-se o Reino e chegou Jesús".

Esse Jesús nunca está só. Ele veio reunir os homens num só povo. Den-
tre as diversas imagens que designam esse povo — rebanho, cidade de Deus,
templo de Deus, campo de Deus... -, a preferida é a imagem da familia de
Deus: nesta os homens sao filhos de Deus e Jesús 6 o Primogénito.

Nessa familia tres pontos chamam-nos a atencao:

1) Os discípulos pediram ao Mestre que Ihes ensinasse urna oracao: a


orapao da comunidade. Na verdade, os grupos religiosos outrora tinham,
como marco constitutivo, urna oracao própria. Em resposta, Jesús ensinou
o Pai-Notso. Uto quer dizer que a comunidade congregada por Jesús está
ligada á oracao; a oracao a distingue, caracteriza e consolida.

2) Mais: a comunidade de Jesús nao é um núcleo amorfo. Jesús cha-


mou doze seguidores; este número 6 tao importante que servia para designar,
sem aposto, a comunidade (só após a ressurreicao do Senhor foram eles cha
mados Apostólos); cf. Le 9.1; Me 6,7; 3,14. Por Isto, após a defeepáo de Ju
das, o número 12 foi restaurado pela escolha de Matías. — Ora o número 12
lembra os filhos de Jaco, dos quais descendiam as doze tribos de Israel. Je
sús, acompanhado pelos doze, faz as vezas de Patriarca de um novo Israel;
este é consagrado nao pelos lapos do sangue, mas pelos da pertenpa a Jesús.

Além dos doze seguidores (mediatos, Jesús tinha setenta discípulos.


Ora também este número tem suas conotapSes valiosas. Com efeito; os ami
gos concebiam o mundo povoado por setenta povos (cf. Gn 10,1-32); tam
bém foram, segundo se dizia, setenta os tradutores da Biblia de Israel do he-

438
IGREJA:ORIGEM ÉNATUREZA

braico para o grego - o que significava que era um livro destinado a todas as
nacoes.

Assim acompanhado por doze apostólos e setenta discípulos, Jesús


quer chamar todos os homens para que integrem o novo povo de Deus. Ele,
alias, termina a sua missao terrestre enviando os Apostólos a todos os povos
para que os batizem e os facam discípulos de Jesús; cf. Mt 28,18-20.

3) A oracao comum dos seguidores de Jesús foi acompanhada de novo


elemento cúltico. Sim; Jesús quis transformar a Páscoa de Israel em selo de
urna nova Alianca de Deus com os homens, ... com todos os homens. Cum-
príram-se assim as profecías de Isaías concernentes ao Servo de Javé (cf.
Is 52,13-53,12), vftima de expiacao pelos pecados, que reuniría os homens
todos e, reconciliados, os levaría a Deus Pai. O pao e o vinho da nova Páscoa
foram entregues aos Apostólos como sendo o alimento que une os discípu
los com o Senhor Deus e uns com os outros. A Alianca do Sinai foi assim ul-
trapassada em favor de outra, cujo mediador e ponto central é o próprio
Jesús.

A Eucaristía - nome dado á ceia instituida por Jesús - nao é, pois,


um culto semelhante aos que já existiam. É celebracao de Alianca,... da no
va e definitiva Alianca; ela faz dos homens o povo da Alianca mediante a
participacao no corpo e no sangue de Cristo. Desta maneira a Eucaristía é a
origem e o centro da vida da Igreja; ela faz a Igreja, e a Igreja, por sua vez,
faz a Eucaristía.

Tendo assim percorrído as grandes linhas do ministerio de Jesús, exa


minemos a face de

3. A Igreja dos Apostólos

Os livros do Antigo Testamento designavam Israel como o povo de


Deus. No Novo Testamento o povo constituido pela Eucaristía é chamado
Ekklesía = Igreja. Por que isto?

— A palavra qahal, no Antigo Testamento, significa assembléla, ...


assembléia de caráter cúltico, político, jurídico. Compreendla nao s6 ho
mens (como as assembléias políticas e jurídicas da Grecia), mas também
mulheres e enancas... Ora, após o exilio de Israel na Babilonia (587-538
a.C), os judeus ficaram esparsos por diversas regióos do Oriente Medio, do
Egito e do Ocidente; essa dispersáo quebrava brutalmente a unidade do povo
(alias, já violada pelo cisma das dez trióos em 930 após a morte de Salomao;
cf. 1Rs 12, 1-33). Por isto os judeus pediam a Javé que congregasse o povo

439
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

disperso, restaurando a qahal ou o povo reunido; nutriam ardentes anseios


neste sentido, especialmente nos tempos próximos á vinda de Cristo.

Ora Jesús veio realizar estes anseios. Por isto os cristaos das primeiras
geracoes, assumindo o no me grego Ekklesía (= convocacao, chamamento
dos que estavam longe), queriam declarar que neles se realizava a nova qahal
almejada pelos judeus. A Lei (Tora) da qahal antiga se transformava em Lei
do amor (cf. Jo 13, 34): "Eu vos dou um novo mandamento: que vos améis
uns aos outros, como eu vos amei". Jesús, entregando a vida por seus discí
pulos num gesto de amor, podia promulgar a nova alianca sobre esse amor,
fazendo dele a grande diretriz de vida dos seus seguidores.

A noció de Igreja assim entendida é explicitada no livro dos Atos dos


Apostólos, escrito por Sao Lucas. Tem-se ai urna Eclesiologia narrativa, isto
é, descrita através da narracao de fatos históricos. Todo esse livro sagrado se
prestaría a fecundo estudo da concepcao eclesiológica dos Apostólos e das
primeiras comunidades cristas. Neste contexto seja suficiente realcar tres
quadros apresentados no inicio de tal obra:

1) At 1,12-26: Temos aqui a primeira reuniao dos seguidores de Jesús.


Estavam no Cenáculo Pedro e os dez (Judas apostatara e Matias ainda havia
de ser eleito), Maria SS. e alguns discípulos (homens e mulheres) fiéis. Todos
os pormenores deste quadro sao importantes na sua própria singeleza: a sala
de reunilo era o Cenáculo ou a sala da instituicao da Eucaristía na última
Ce i a; os onze Apostólos sao apresentados um por um; perseveravam unáni
mes na oracao ou numa atitude de abertura para a graca e a vontade de
Deus; o seu número total era de cento e vinte — o que lembra o número 12
sagrado e profético, pois indica a totalidade; era o número dastribosde Is
rael e dos Apostólos de Jesús.

Sao Pedro se fez porta-voz do designio de Deus: era preciso escolher o


substituto do 12? Apostólo ou do traidor. A escolha se fez mediante um si-
nal de üeus, que indicava Matias á comunidade orante; a decisao veio do Al
to, pois o quadro nao era o de um Parlamento, que decide por criterios hu
manos, mas era o de urna auténtica qahal-ekkleifa, ou de um povo convoca
do pela graga de Deus, unido, em santa Alianca, ao Senhor e regido por cri
terios transcendentais; era ele o espelho do novo povo de Deus, no qual Pe
dro exerce urna funcao primacial, fortalecendo e confirmando seus irmá*os,
levando-os a identificar-se com o plano de Deus.

2) At 2, 42-47: Quatro características assinalam a Igreja róscente: a


fidelidade ao ensinamento dos Apostólos, a comunhao fraterna, a fracffo do
pao e a oracao. Isto quer dizer:

440
IGREJA:OR1GEM E NÁTUREZA 9

- a Palavra de Deus e o pao sacramental fundamentam a Igreja de


Deus;

- esta é algo de institucional; ó preciso obedecer aos ensinamentos dos


Apostólos; o Cristianismo nao ó algo que se possa viver isoladamente, na ba
se de intuicSes particulares. O cristao deve sentir-se membro de urna comu-
nidade, selada pela fraclo e a partilha do pao (eucarístico);

- a fidelidade dos cristaos a Cristo implica o respeito a um testemu-


nho vivo (a Palavra viva dos Apostólos, a vida e o agir da comunidade) mais
do que a um livro. Os I ivros sagrados (Evangelhos, epístolas) sao posteriores
a essa fase da Igreja nascente; esta encontrava na Palavra proferida e vivida o
seu Mame e a sua luz ou o roteiro de sua fidelidade a Cristo.

3) Entre At 1, 12-26 e At 2, 42-47 acha-se a cena do primeiro Pente


costés cristao (At 2, 1-14). Esta significa que a Igreja (ekkletía = convoca-
cao) nSo é obra criada ou fundada pelos homens, mas pelo Espirito Sa.nto; é
este quem comunica aos Apostólos o dom das línguas, mediante as quais
puderam chamar á nova qahal judeu* e nao judeus ou pagaos. As línguas
multiplicadas em Pentecostés significam as muitas culturas humanas convo
cadas a se entrelacarem sob a orientacao de urna só fé e um só amor. E inte-
ressante que Sao Lucas registra como presentes ao primeiro Pentecostés ju
deus provenientes de doze partes do mundo (partos, medos, elamitas, habi
tantes da Mesopotimia, da Judéia e da Capadóda, do Ponto, da Asia, da
Panfília, do Egito e das regiSes da Libia próximas de Cirene), além dos ro
manos, representantes do mundo pagao. Com outras palavras: sao convoca
dos judeus e gentíos, ou seja, todos os povos. Assim a Igreja, já ao nascer, é
católica ou universal; depois da comunidade de Jerusalém foram fundadas
outras comunidades na Térra Santa e também fora da Térra Santa; mas nao
foram essas comunidades esparsas que deram a Igreja o seu cunho de cató
lica; ao contrario, foi a índole católica da Igreja oriunda em Jerusalém que
se transferiu para as outras comunidades eclesiais, tornando-as católicas.

Pentecostés, levando a multiplicidade dos homens e das culturas ¿


unidade da Ekktesta. resgata o episodio de Babel, no qual a unidade se dissol-
veu em multiplicidade por causa da arrogancia dos homens frente a Deus. A
volta a unidade se faz sem violencia nem constrangimento, mas por efeito do
amor derramado pelo Espirito Santo nos coracSes (cf. Rm 5,5).

No decorrer do livro dos Atos. Sao Lucas desenvolve o acontecido em


Pentecostés: o caminho da Boa-Nova e da Igreja oriundas em Jerusalém,
barco judaico, e destinadas aos pagaos, cuja capital era Roma. Sim; o livro
comeca em Jerusalém no Cenáculo, apresentando a nova qahal e seu Pente-

441
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

costes, e termina em Roma; esta cidade, na mente de Lucas, tem valor teoló
gico, é o ponto que séla e confirma a catol¡cidade da Igreja.

O livro de Sao Lucas, alias, é todo ele escrito em perspectiva profunda


mente teológica: demonstra o misterio da Igreja, que é a continuacao da as-
sembléia do povo do Amigo Testamento, disperso nos tempos de Cristo e
convocado para constituir novo povo, bascado nao sobre a pertenca a urna
rapa, mas sim sobre a pertenca a Jesús Cristo, que é o Reino de Deus inicia
do; tal pertenca implica nova Al ¡anca firmada no sacrificio de Cristo, que
pao e vinho sacramentáis perpetuam sobre os altares.

Assim Sao Lucas, de certo modo, antecipou as questoes que se coloca-


riam posteriormente sobre a origem e a natureza da Igreja, e forneceu a cha
ve para resolver os problemas eclesiológicos de nossos tempos.

Eis a símese da conferencia do Cardeal J. Ratzinger. A conclusao (pa


rágrafo final) deste texto responde ás indagacoes iniciáis: quis Jesús fundar a
Igreja? Que é a Igreja? - Como se vé, a resposta nao é deduzida de contin
gencias da historia, mas da "memoria" da Igreja, ou seja, dos arquivos mais
auténticos da mesma; é a historia da salvacao, considerada desde o Antigo
Testamento, que apresenta a Igreja como o fruto de longa preparacao: a
AI ¡anca do Sinai, a Ce ¡a de Páscoa, a assembléia (qahal) de culto a Deus e de
comunhao fraterna... sao concepcoes do amigo Israel que chegam á sua pie-
nitude na Ekklesía ou na assembléia convocada, que reúne em seu bojoju-
deus e gentios, ou seja, todos os homens; a catol ¡cidade da Igreja nao extin
gue as peculiaridades étnicas e culturáis, mas fá-las convergir para constituí-
rem um novo povo consolidado pelo amor de Deus derramado nos coracoes
mediante o Espirito Santo (Rm 5,5). SSo Lucas, nos Atosdos Apostólos, é
o doutor que faz reviver os antigos episodios e mostra a Igreja fundada pelo
próprio Cristo como emissário do Pai e Patriarca da linhagem dos filhosde
Ueus (em Cristo os homens sao feitos filhos no FILHO).

CORRESPONDENCIA MIÚDA

A quem pergunta se a Igreja proibe tratamentos psiquiátricos e psica-


naltticos, por nao aceitar a filosofía materialista deSigmund Freud, respon
demos: Nada há contra tal tipo de terapia, desde que conduzida por um (a)
profissional que respeite a antropologia crista, reconhecendo a espiritualida-
de da alma e o misterio da pessoa humana (que nao ó simplesmente urna cai-
xa de ressonáncias). Existem psicoterapeutas católicos de confianca.
E.B.

442
A TV pesquisada na Uníversidade:

Sexo e Violencia na TV

Em tíntete: Urna pesquisa acerca dos programas de televisado no Brasil


revelou. de maneira surpreendente, enorme carga de pornografía e violencia,
que incide nSo somonte sobre o público adulto, mas também sobre as crian-
cas e os adolescentes. Vió-se formando novas geracdes afeitas a comporta-
montos de baixo calió, a urna linguagem chula, e anestesiadas para o crime
ou a violencia. - Entre as causas de tal realidade, está a própria demanda da
populacio brasileira, que dé preferencia a programas permissivos — o que faz
que os empresarios eprodutores se sintam indevidamente obrigados a forne-
cer tal tipo de espetéculo. De resto, a cobica do lucro leva muitos a oferecer
qualquer materia aos telespectadores, contanto que se/a lucrativa. Tai estado
de coisas 4 síntoma de decadencia da sociedade brasileira;parece conjugarse
com a críse económica, educacional, hospitalar..., por que passa o país. Urna
sociedade que nSo respeita os padrees moráis, é sociedade que se condena i
autodestruicio. Daf a urgencia de se procurar remediar á críse da Ética no
Brasil; país, educadores, empresarios, Igreja tém papel premente a desempe-
nhar para salvar a sociedade e garantir ao Brasil geracdes de futuros líderes
guiados pela inteligencia (apanágio do ser humano), e nio pelos instintos ce-
gos (muitas vezes, bestiais).

A revista VEJA, edicao de 4/7/90, pp. 50-56, publicou longa reporta-


gem a respeito dos programas de televisao. Resulta da observacao efetuada
por representantes da revista em colaborarlo com professores e alunos da
Escola de Comunicacoes e Artes da Universidade de Sao Paulo. As conclu-
soes decorrentes dessa pesquisa foram levadas á apreciacao de profissionais
de televislo, psicólogos e educadores: "O susto foi geral, tarnanha a quanti-
dade de cenas violentas e eróticas mostradas pela televisao" (Carta ao Leitor
p. 17 do citado n? de VEJA).
V

Ñas páginas subseqüentes, seráo analisados os resultados de tal estudo,


que nao poderao deixar de suscitar alguns comentarios.

1. Os fatos concretos

A equipe indicada para realizar a pesquisa foi a do quinto semestre do

443
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

curso de Radio e TV, em que a disciplina é ministrada pela professora Ana


María Balogh. Treze estudantes se muniram de fichas impressas, cada urna
com todos os ítens da pesquisa, e foram para a frente de seus aparelhos de
televisao para contar o que acontecía no horario nobre, na semana de 28 de
maio a 3 de junho. O restante do horario foi coberto pelos jornalistas da edi-
toria de Artes e Espetáculos da revista. Em cada ficha, anotou-se o nome do
programa, o comercial ou a chamada de programacao em que havia alguma
cena de sexo e violencia, especificando-se a forma como era mostrada. No
total, foram cobertas 3.000 fichas em 448 horas de programacao das quatro
redes Globo, Mánchete, Bandeirantes, SBT, que apresentaram nesse tempo
14.840 programas, chamadas e comerciáis.

Concluida a pesquisa, procedeu-se á tabulacao, que demorou quase


urna semana. Os resultados apurados foram os seguíntes no tocante ao ero
tismo:

Estupros 3
Nudez total masculina 28
Nudez total faminina 83
Trejeltos ou referencias a homossexualismo feminino 61
Trejeitos ou referencias a homossexualismo masculino 127
Relacdes explícitas 114
RelacSes implícita» 162
Referdncias a sexo ou piadas sobre o tema 180
Nudez parcial masculina 212
Nudez parcial fe minina 822

REFERENCIAS A:

Afrodisíacos 3
Virgindade 7
Genitalia 24
Impotencia sexual 30
Termos chulos ou palavrSes 72

Também as cenas de violencia ocupam espaco notável na progra


mado:

Canas de tortura 23
Facadas 66
Trombadas de carro 233
Brigas *>1
Explotóos 886
Tiros 1940

444
SEXO E VIOLENCIA NA TV 13

As conseqüéncias de tais espetáculos se fazem sentir principalmente


sobre as enancas e os adolescentes, mas também sobre os adultos, como se
depreende de estatfsticas e depoimentos:

"Urna crianza de cinco anos que fique na frente do apanino duas ho


ras por día, ao fim de um ano taré sido exposta a '/.168 piadas sobra sexo,
7.446 cenas de nudez e a mais da 12.600 estampidos de tiros. Até atingirá
maiohdade, essa crían fa tería tomado contato com 15.184 anedotas de se
xo, 96.798 cenas de nudez e mais de 163.000 tiros. Razoável supor que urna
enanca, mesmo vivendo num país em guerra, ou fazendo o trajeto entre
Sodoma e Gomorra, jamáis tere oportunidade de chegar a tais números"
(p. 53).

"Para um adulto de estrutura psicológica formada, o bombardeio eró-


tico-violento da televisio tem efeitos reduzidos, aínda que eles existan As
pesquisas estabeleceram que o telespectador habitual de violencia tende a
encarar a brutalidade com menos traumas e, ele próprio, a ser mais violen
to" (p. 53).

"Pesquisa feita nos Estados Unidos mostrou que um telespectador me


dio, ao atingir dezoito anos, tari assistido a 3200 homicidios e 250.000
ates de violencia na televisio. Como a violencia ó entendida umversalmente,
cerca de doisbilhoes de telespectadores em todo o mundoassistem a esses fil
mes feitos nos Estados Unidos" (p. 56).

Os dados sao assaz significativos ou mesmo surpreendentes. Daí a per-


gunta:

2. Quais as causas?

As causas desse derramarnento de sexo e violencia através da televisao


podem ser detectadas com certa facilidade. A própria reportagem de VEJA
as deixa perceber:

2.1. "0 gosto do fregués"

O público gosta de tais cenas... a tal ponto que a sobriedade ou a abs-


tencao em relapso ás mesmas é causa de boleóte ou repulsa por parte dos
telespectadores:

"De maneira geral, o fregués-telespectador gosta do que assiste no ví


deo, inclusive nudez, erotismo e violencia - s» nffo fosse asstm, as TVs edu
cativas seríam as campeéis nacionais de audiencia. O Brasil nffo é habitado
exataments por mongos. Das mulatas lúbricas dos romances de Jorge Amado

445
14 * "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

á festa ultrapagido Carnaval, passando pelas carnes amarradas em fío-dental


que drculam pelas praias a chegando á tambada, urna sensuafidade caracte
rística faz parte dos usos e costumes nacionais" (p. 52).

Se é verdade o que a reportagem refere, é de lamentar o futuro do Bra


sil, pois a grandeza de urna sociedade nao se constrói em clima de paixoes
desenfreadas; sem autodominio nao há verdadeiros valores nem na vida de
um individuo nem na de urna coletividade. A permissividade, por mais en*
vernizada que seja, é sinal da decadencia de urna nacao, como se pode depre-
ender das descricoes que nos deixaram os cronistas do antigo Imperio Roma
no; a populacao de Roma so pedia "pao e espetáculos de circo" (panemet
circenses)1, enquanto os exércitos inimigos a ameacavam e preparavam a
queda de Roma e do seu Imperio.

Se o Brasil de hoje se debate com urna crise económica gigantesca,


nao se deveria associar isto á crise moral que flagela o país? Desonestidade,
fraudes e furtos na vida publica, libertinagem sexual, degradacáo e costumes
de baixo cálao em todas as carnadas da sociedade,... eis o que se depreende
dos noticiarios da imprensa escrita efalada. Pode haver bem-estar, prosperida-
de e felicidade em ambientes onde a Ética, o respeito mutuo e os padroes
educativos estao em baixa ou mesmo ausentes? Que se pode esperar degera-
coes que desde a infancia sao familiarizadas com assassínios, raptos, seques-
tros e todo tipo de desrespeito?

2.2. A cobica de faturamento

Se o gosto do público se volta para a permissividade, os produtores de


programas procuram corresponder-lhe, pois isto dá dinheiro; o criterio das
empresas é faturar, geralmente sem levar em consideracao os valores éticos
ou o bem comum. Na corrida ao lucro, pode-se dizer que vale o axioma:
"Salve-se quem puder!" Qualquer negocio 6 válido, desde que lucrativo. Te-
nham-se em vista os depoimentos seguintes:

" Fio-Dental e Topless - Quem nSo se adapta ás pressdes do mercado,


parece condenado a sucumbir. Pelo menos 6 o que se pode deduzir da estra
tegia Inicial do SBTde Silvio Santos, para aparecer como alternativa á guerra
das peladas travadas pela Mancheta e a Globo. Quando Pantanal comecou a
ganhar pontos na audiencia, a Globo programou urna semana de filmes brasi-
leiros e, ñas chamadas, carregou a mSo ñas cenas de nudez, sexo e violencia.
'Para oferecermos algo diferente de nudez, tiramos do ar nossa linha habitual

1 A expressSo 6 do poeta satírico latino Juvenal (f 130 dC), que assim con-
surava a fútilidade da sua gente.

446
SbXU b VIULbNUM nm i v la

de shows e programamos a Sessffo Bestsallar, urna serie de adaptacSes de li-


vros de primeira linha, para a mesma semana, conta Si/vio Santos. Resulta
do: tivemos os piores índices de audiencia em nove anos de SBT' " (p. 52).

"Luciano Callegarí, superintendente artístico e operacional do SBT,


acredita que a atual onda de erotismo e nudez na tslevisSo teve um momen
to de inf/exáb bastante nítido: a novela Pantanal As cenas vistas ho/e em Ra-
inha da Sucata serlam /mpensáveis na Globo se nSo houvesse a concurrencia
da novela da Mánchete, diz Callegarí. A Globo apelou para combater Panta
nal, e ho/e, se eu fosse fazer urna novela, haveria urna pressSo muito grande
do mercado para ela ter cenas de nudez" (p. 52).

É por isto que se confeccionam até mesmo "Receitas para conquistar


a lideranca" entre as emissoras de televisao. As Redes Globo, Mánchete e
SBT "apostam em sexo e violencia" ou rivalizam entre si na produelo de
cenas deste tipo. A Bandeirantes dá preferencia á cobertura esportiva (em-
bora nao se recuse a fazer qualquer negocio lucrativo)1. Eis o receituatio do
faturamento:

RECEITAS PARA CONQUISTAR A LIDERANCA

REDE GLOBO MÁNCHETE BANDEIRANTES SBT

Trombadas de carro 36 21 6 170


Termos chulos ou
palavrdes 41 13 8 10

Trejeitos ou referencias
a homossexualismo 42 9 0 137

Nudez masculina 74 54 0 112

Nudez faminlna 184 193 30 498

Referencias a sexo 117 23 0 104

RelacSes sexuais 199 27 0 50

Brigas e tacadas 205 223 99 180

Explosdes 220 377 145 144

Tiros 720 56S 93 562

1 A TV Bandairantes se esmera na producid de programas de todo tipo


"místico", até mesmo de índole charlatSe anticientífica, sem levar em con
ta a formacSo ou deformacffo cultural dos telespectadoras.

447
H> "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

2.3. A inepcia das autoridades

As autoridades govemamentais aboliram a censura, promulgando a


nova Constitutcao em 1988.

O artigo 221 da Constituidlo apenas diz que se deve observar no radio


e na televisáo "o respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da familia".
E o artigo 220 da mesma afirma que compete á legislacao federal "estabele-
cer os meios legáis que garantem á pessoa e á familia a possibilidade de se
defenderem de programas ou programacoes de radio e televisáo que contra-
riam o disposto no artigo 221".

Ora o Congresso aínda nao formulou a legislacao que proporciona á


populacao os meios de se defender dos abusos cometidos pela televisáo, de
modo que o público é invadido e atacado em seus lares sem ter os recursos
para se defender da agressao.

Os próprios empresarios, embora sejam os diretores das emissoras de


TV, se sentem acovardados diante da pressao que os seus funcionarios e ar
tistas exercem sobre eles. Eis um testemunho entre outros:

"Controle Remoto" - N£o falo pa/avrSes, acho que a TV brasileira


devia ser estrítamente familiar, como a americana, e já oriental a SBTnesse
sentido, mas nSo posso fazer mais que isso, diz Silvio Santos. O empresario,
na condicSo de dono da segunda maior rede do país, até reconhece que po-
deria baixar urna serie de normas e proibicdes na sua emissora, mas se recusa
a fazer isso. Se eu proibir um artista de cometer grosserias, no dia seguinte
ele dá urna entrevista me acusando de ser censor, de estar com inveja do seu
sucesso e outras coisas mais, afirma Silvio Santos, que acha que deveria par
tir dos artistas de televisSo a iniciativa de evitar que cenas chocantes sejam
colocadas no ar".

A verificacao de tais fatos, espécimen realista do que acontece nos


meios de comunicacao do Brasil, suscita as interrogacSes perplexas:

3. Que dizer? Que fazer?

Cinco observacSes vém ao caso:

3.1. "Chega de tanta avacalhaeffoi"

Estas palavras sao do ator Paulo Autran. Ao completar quarente anos


de profissSo artística, Autran foi entrevistado pelo JORNAL DO BRASIL,
que publicou seus depoimentos na edicáo de domingo 8/7/90, 1? caderno,

448
SEXO E VIOLENCIA NA TV 17

p. 13. Dessas declarares vao aquí extraídas algumas das mais expressivas,...
tanto mais pelo fato de provirem de um profesional do teatro, que nao faz
profissao de Moral religiosa.

- O Jornal Casseta Popular recebeu críticas suas em recante entrevista


na tetevisffo...

- Nio. Acho que a Casseta 6 um efeito e nio urna causa. Por que a
Casseta usa a avacalhacio como base do seu humor? Porque o Brasil está
num momento psicológicamente perfeito para a cu/tura da avacalhacSo. O
que me repugna na avacalhacio é a sua ausencia de alvo intelectual, políti
co, social, psicológico, qualquer que seJa ele. Os avacalhantes avacalham pelo
prazer de avacalhar. Sem nenhuma finalidade que nio seja a de — pobre de
nos — fazer rir. Com a avacalhacSo desaparecem quaisquer valores que a po-
pulacio possa ter e nio se oferees nada para substitui-los.

- Há mais avacalhacffb por ai além de na Casseta?

- Infelizmente, pela sua fácilidade, pela sua ausencia de qualquer exi


gencia intelectual, a avacalhacSo transformou pessoas inaptas em jornalistas,
em cronistas, em animadores de TV...

- Poderla citar nomes?

- NSo. Nunca. Mas talvez tudo tenha comecado quando, em vez de


entregar um presente á platéia, um animador de TV achou mais engracado
atirarum bacalhau na cabeca de um espectador. E. o público riu.

- Mas quando o Chacrinha comecou a Jogar bacalhau na platáia, os


artistas de teatro tambóm estavam jogando f ígado e repotho no público.

- Nio en a avacalhacSo. 0 teatro de agressSo teve outras causas muí-


to mais serias. Era urna tentativa de acordar a burguesía para urna terrfvel
realidade nacional. E o teatro de agressSo acabou definitivamente porque até
a classe teatral percebeu que isso seria urna atitude suicida. Ao passo que a
avacalhacio nio tem nenhuma finalidade política, social, psicológica ou mo
ral.

- Mas o público ri da avacalhacfo.

- Sempre que o sucesso e o dinheiro fustíficam tudo. Ató mesmo se


isso implicar em rebaixar a mentalidade do povo de um país. Longo de mim
querer voltar a qualquer tipo de censura, mas eu gostaria que os avacalhado-

449
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

res pensassem menos no dinheiro que ganham e mais nos maleficios que tra-
zemájá tio combatida mentafidade brasileira.

— Que mais á avacalhante?

- Os govemos que temos tido. A corrupcSo. A falta de moral das au


toridades. A avacalhacSo nSo atinge nenhum objetivo e nSo tem nenhum
objetivo. Quando vocé é irónico, ferino, para combater o que vocé acha que
está errado, vocé está usando a sua inteligencia com urna boa finalidade.
Quando vocé está avacalhando sem nenhuma finalidade, a nSo ser a de fazer
rir, vocé nao constrói nada.

Avacalhante é aquele tipo de artigo de jornal, de programa de TV que


tende a se esquecer de que a melhor qualidade que o ser humano tem é a sua
dignidade, o seu amor próprio.

As palavras de Paulo Autran, inspiradas pelo vocabulario livre do tea


trólogo, tém peso excepcional, visto que sao a expressáo do bom senso co-
mum a todos os homens e sobrevivente num ator que completou quatro de
cenios de lides artísticas.

3.2. Pais e educadores

As principáis vftimas das cenas "avacalhadas" da televisao sao as crian-


cas e os adolescentes, que ainda nao tém criterios para discernir bons e maus
costumes ou que vao sendo deformados desde que abrem os olhos e os ou-
vidos. Quando adultos, difícilmente poderao ter criterios de comportamento
diversos dos que Ihes sao incutidos. Ora vé-se que tais tipos de conduta só
podem gerar e alimentar o caos e a infelicidade no país.

É por isto que aos genitores compete papel de particular importancia


nesta hora, em que muitos casáis delegam a funcionarios e funcionarías a ta-
refa de educar, omitindo-se porque alegam nao ter tempo ou nao ter
competencia. Tais alegacSes sao insustentáveis; os genitores tém missao ¡n-
substitu/vel juntos aos filhos. Para esta missao devem preparar-se, como tam-
bém devem conceber a coragem para a executar fielmente, a custa de qual-
quer sacrificio. Pouco se Ihes importa se remam contra a córrante ou se slo
tidos como "cafonas"; a verdade e o bem nao se decidem pelo voto da maío-
ria, mas dependem de criterios perenes, que perpassam todas as culturas e
épocas; é a lei natural, congénita em todos os homens, que as dita.

Semelhante missao toca aos educadores chamados a prolongar a tarefa


dos pais. Verdade é que aIgumas escolas de pedagogía apregoam a liberdade,...
liberdade quase ¡rrestrita para os educandos (tenha-se em vista a experiencia

450
SEXO E VIOLENCIA NA TV 19

de Summerhill; PR 96/1968, pp. 35-46). Nenhuma délas, porém, consegue


formar cidadáos dignos deste nome; sem disciplina nao há desenvolví mentó
harmonioso de personalidade. A corrente filosófica freudiana é, em parte,
responsável pela libertinagem, ensinando que contrariar os impulsos natura¡s
causa neuroses; refreía qualquer tentativa de coibir os instintos, muitas ve-
zes, irracionais, que desfiguram a personalidade. — Na verdade, ensinar os jo-
vens a ter urna vontade forte e decidida, capaz de controlar os impulsos pré-
deliberados ou espontáneos do ser humano é um dos maiores servicos que se
Ihes possam prestar; cf. Joao Mona na, A vida sexual dos sorteiros e casados,
23a edicao, revista e ampliada em 1984. Alias, Mohana, como médico e sa
cerdote, é mestre de sadia educacao sexual: mostra que esta nao consiste
apenas em licoes de anatomia e fisiologia, mas implica outrossim a comuni-
cacao de principios éticos aptos a fazer da sexualidade um elemento cons-
trutivo de personalidade forte e harmoniosa; a formacáo da vontade, neste
particular, é de importancia capital; é preciso que a pessoa tenha a forca de
dizer Sim ou Na*o sempre que a reta escala de valores o exigir. Esta, alias,
deve saber subordinar os valores sensitivos, nao raro cegos, aos da inteligen
cia (que é a luz natural do ser humano). Quem sacrifica as intuicoes da inte
ligencia aos momentáneos e fugazes prazeres dos sentidos, jamáis será perso
nalidade digna deste nome. Ora, segundo a reportagem em foco, a televisao
vem insinuando que o gozo sensual prevalece sobre outros bens - o que é
um desservico de graves conseqüéncias para a sociedade.

3.3. Governantes

Ainda está muito atual o apelo dirigido ao Senado por onze mil signa
tarios pouco depois que a Cámara dos Deputados em Brasilia aprovou a abo-
licáo da censura aos 19/9/85:

"AO SENADO FEDERAL

(Sobre o Projeto do Deputado ALVARO VALLE, que extingue a cen


sura previa, e aprovado pela Cámara dos Deputados em Brasilia, no dia 19
de setembro de 1985).

"A crianza gozaré de proteció contra quaisquer formas


de negligencia, crueldade e exptoracSo."
(Daclaracio Universal dos Dinitos da Crianca - ONU
20.XI.19S9 - art 9).

1o- Nurns sociedade que pretende a valoriacffo o preservaefo do ser hu


mano em todas as suas dimansfias, imp6e-*e a defesa da Crianca, da Ju-
ventude e da Familia.

451
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

2?- Tudo qua possa atingir a afetar a formado da infancia e da Juventud»


deve ser objeto da mais alta reflaxáfo do legislador.

3?- As nossas crianzas estío sendo forte menta negligenciadas, exploradas e


moral mente agredidas, sob diferentes formas, nos maios de comunica-
cffo social (televisSb, cinema, etc).

4?- A atual e avassaladora onda de pornografía, proposta e exposta ao pú


blico jovem, deve ser urgentemente coibida.

5?- Tendo sido aprovado na Cámara Federal um Projeto qua extingue a


censura previa para o livro, o teatro e o cinema, urge tomar posicSo
em defesa dos costumes e da moral.

6?- É incontestável que hoje os futuros cidadá"os sa*o atingidos, desde a in


fancia, e de varias formas, pelos meios de comunicacffo social, sobre-
tudo pela televisio, o cinema e teatro.

7?- O simples criterio classificatório, abolido o criterio de idade, na libera-


cá"o de obras e programas propostos ao público jovem, nffo 4 absoluta
mente suficiente.

8?- Os valores moráis na"o podem ficar sujeitos a interesses económicos e


outros, que ameaeam a infancia e a juventude.

9?- A legítima liberdade de expressffo nffo deve ferir os principios moráis,


os senti mantos religiosos e familiares, que constituem o fundamento
duma sociedade que tenha em vista o bem integral da pessoa humana,
em todas as suas fases de vida.

10?- Em face do exposto, os aba)xo-assinados apelam veementemente para


os senhores Senadores, antes de se pronunclarem sobre essa grave ma
teria, visto que a própria sobrevivencia da sociedade eitá em jogo, com
a permíssividade que deturpa e destrói os autSnticos valores, pondo
em risco os verdaderos direitos da infancia, da Juventude e da Fa
milia."

Este apelo n§o logrou os frutos desojados, pois a Constituicao de 1988


nao tomou as providencias cabfveis, nem o Congresso fez algo até agora.
Nao obstante, é necessário que haja vozes corajosas dispostas a clamar opor
tunamente em prol do bem comum.

452
SEXO E VIOLENCIA NA TV 21

3.4. Empresarios e proditores

"Urna andorinha s6 nao faz verao". Mas, se empresarios e produtores


tiverem a galhardia de se unir entre si a fim de banir a vileza dos espetáculos
da televisa o, conseguiráo ¡mpor-se. O que se requer, no caso, é a conviccáo
de que servir aos baixos instintos é desservir á nobreza do ser humano; é
também a consciéncia de que o bem comum prevalece sobre os interesses fi-
nanceiros de urna empresa. Entre os telespectadores haverá sempre os que
apoiarao urna emissora honesta e limpa, de preferencia as que deterioram a
dignidade do público. É preciso ter a coragem de comecar para verificar que
o risco será compensado.

3.5. A Igreja

A Igreja compete funcao primordial na estruturacao da nossa socieda-


de. Toca-lhe, de modo especial, zelar pelo patrimonio espiritual da humani-
dade; trata-se de bens que nao dao lucro financeiro; muitas vezes, ao contra
rio, acarretam prejuízos materiais para quem os cultiva; mas sao o que de
mais precioso tém os homens, penhor de genufna auto-realizacao.

Sobre a pornografía e a violencia nos meios de comunicacao social


pronunciou-se aos 7/5/89 o Pontificio Conselho para as Comunicacoes So-
ciáis, apontando precisamente os males que da permissividade advém aos
homens; de tal documento seja citada a síntese publicada em PR 328/1989,
pp. 386-392.

Em suma, os abusos cometidos pelos produtores e artistas da televisáo


nao sao senao um aspecto da crise geral que atravessa o Brasil. A solucáo da
problemática está muito mais no coracao dos homens do que nos papéis que
publicam tais e tais leis. Se nao houver mudanca nos padroes éticos (ou an
tiéticos) dos maiorais de nossa patria, difícilmente se poderá esperar melhora
da situacao geral do país. É muito mais fácil editar leis do que converter
mentalidades e condutas; é desta tarefa que muitos, consciente ou inconsci
entemente, vérn fugindo. A amargura da crise contemporánea seja finalmen
te incentivo para que toda a populaclo brasileira repense seriamente as cau
sas que motivam tanto sof rimento; em conseqüéncia, cada cidadao procura
rá dar sua contribuicao para suavizar a desgrapa, voltando-se de um tipo de
vida embrutecida pelos baixos instintos para um comportamento mais aber-
to aos verdadeiros valores que sao os da inteligencia e do espirito.

Nfib podamos deixar de mencionar aqüi a instituido "O Amanha* de


nossos Fllhos" que promove touvável campanha de sanea mentó da nossa
televisáo. Informales podem ser solicitadas á Caixa postal 3713, 01051
Sfo Paulo (SP).

453
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

APÉNDICE
Da revista VEJA, edicáo de 15/08/1990, pp. 14s, extraímos o seguinte
tópico, que faz eco á reportagem comentada ñas páginas atrás:

LEITOR NAO QUER SEXO NA TV

O leitor Leonisio José David Ribeiro, residente em Brasilia, escreveu á


redado de VEJA para registrar sua indignacib com a reportagem "Sexo,
socos e babas" (4 de julho), um dos assuntos de capa que mais motivaram
cartas á redacio neste ano. "A fome me revolta, nSo o sexo ou a violencia na
TV", diz Ribeiro, que como outros quatro leitores discordou da abordagem
de VEJA num total de 170 que mandaram seus comentarios. Marínda Ribei
ro, de SSo Paulo, que forma no bloco das 166 pessoas que ou gostaram do
que leram ou escreveram simplesmente para participar do debate, soube da
reportagem por amigos e comprou a revista na banca. "Agora, pretendo fa-
zer urna assinatura, porque vejo que se trata de um importante órgSo de im
prensa", diz ela. Urna das cartas mais surpreendentas fot escrita pela garota
Joana Dhália da Silveira, do Recife. Ela tem 13anos e conta que aos 11 f¡ca
va día e noite diante da TV. "Aprendí, desde entffo, a ver tudo com malicia
e, em conseqüénda, amadured antes do que devia", escreve ela. "Eu fícava
esperando cada bei/'o para depois fazer o mesmo com o meu namorado." A
menina acha, hoje, que seria melhor descobrir as coisas a cada passo, sem os
estímulos da televisSo. "Que pafs ó este, que nos passa a irresponsabilidade
de urna promiscuidade sem fim?", pergunta.

A propósito observamos que o combate á fome no Brasil nao excluí


a reforma dos programas de televisSo. A populacao faminta de pao também
há de ser faminta de dignidade e respeito á pessoa humana. Caso isto nSo se
verifique, confirmar-se-á entre nos a situacao do Imperio Romano decaden
te, no qual a populacao pedia pan«m at circense» (pao e espetáculos de cir
co), com menosprezo dos valores moráis e transcendentals. - O povo sim
ples do Brasil, vftima de pobreza e fome, costuma ser um povo religioso,
sensível aos preceitos da Lei de Deus. Levemos em conta nao somonte as vi-
timas da fome. mas também as da destruicao da personalidade, como seria
Joana Dhália da Silveira, de Recife, com seus treze anos de idade. se nSo ti-
vesse despertado em tempo oportuno para o serio desgaste que inconscien
temente ela ia sofrendo por acompanhar de perto os programas de televislo.

454
Lingüística e Teología:

"Palavra, Parábola"
por Rdmuk) Cándido de Souza

Em símete: Rómulo Cándido de Souza relé as páginas bíblicas consi


derando a etimología de paiavras a iocorrentes. Concluí que o texto sagrado
nio quer dizer o que sempre se Ihe atribuiu:os Evangelhos seríam urna gran
de parábola ou estaría ficticia. — 0 método do autor é faino, pois numero
sos vocábuios adquiríram significado diverso daqueie que outrora tinham e
que a etimología aponta: por exemplo, calculadora é urna máquina eletró-
nica, que nada tem a ver com cálculos (=seixos) outora utilizados para so-
mar ou subtrair. . . Se atguém. baseado na lingüística, quísesse afirmar que a
calculadora á urna máquina feita de seixos ou pedrinhas, enganar-se-ia re
dondamente. Assim se engaña Rdmu/o Cándido de Souza. Ademáis a histo-
ricidade dos Evangelhos 6 hoja em dia mais e mais reconhecida pelos estu
diosos (Latourelle, Lambiasi, Dreyfus); estes em suas pesquisas ncorrem
também ó Palavra (Tradicio) oral, que bercou e sempre acompanhou a Pala
vra escrita na Biblia. A TradicSo oral contribuí necesariamente para que
hoje saibamos como entender as páginas escritas, que déla se derivaram.

0 Pe. Rdmulo Cándido de Souza é professor no Instituto de Teología


Sao Paulo e na Faculdade Nossa Senhorá da Assuncao (Sao Paulo, SP), de-
pois de haver concluido o Doutorado em Historia da Igreja na Universidade
Gregoriana de Roma, de 1953 a 1956. Entregou ao público um livro intitu
lado "Palavra, Parábola. Urna aventura no mundo da linguagem".1 Nessa
obra analisa cerca de 1.500 paiavras, particularmente da língua hebraica, e
cita por volta de vinte línguas, perpassando a Biblia inteira, a fim de re-inter-
pretá-la. Cada capítulo do livro concluí contraditando o clássico entendí-
mentó de alguma passagem bíblica; quem acaba de ler a obra, tem a ¡mpres-
sao de que até hoje os cristfios andaram na ilusáo e tém que aprender a pro-
pria mensagem crista na escola de Rdmulo Cándido de Souza, que se serve
de Etimología, Simbologia, Paleografía, Mitologia, Semántica, Onomato-
péia... para ensinar um novo Cristianismo.

Dada a perplexidade que o livro vem disseminando na mente de muí-


tos leitores, vamos analisá-lo mais detidamente e tecer-lhe alguns comenta
rios.

1 Ed. Santuario, Aparecida 1990, 173x 245mm, 316 pp.

455
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

1. O conteúdo do livro

Em 49 capítulos o autor imagina estar conversando com o judeu rus-


so Dr. Samuel Kluglikoff, que, mediante recurso á lingüística hebraica, á
egipcia, ás ciencias congéneres..., Ihe vai re-lendoa Biblia emtom de revira-
volta total. Os diálogos ficticios entre Rdmulo Cándido e o Dr. Samuel sao
marcados por certa dose de ironía, que vai zombeteando e caricaturando
proposites da fé católica. Assim, por exemplo, lé-se á p. 193:

"Eu (Rdmulo Cándido) me sentía cada vez mais frustrado. O Cristo


em que eu acreditava, esteva perdendo urna por urna as suas auréolas. Seus
milagros mais extraordinarios existiam apenas na mente dos evangelistas.
Eram midrash e símbolos da fé. Os Evangelhos estavam recheados de enfei-
tes legendarios ñas narrativas que eu sempre tivera por históricas. Sobraria
alguma coisa?"

Ap. 171 lé-se:

"Os quatro Evangelhos sio quatro grandes parábolas, que encerram


urna ¡nf¡nidada de símbolos, todos eles convergentes em algumas ¡délas fun
damentáis, particularmente a fé na vida e na ressurreició:a nova criacio".

Logo no inicio do livro o autor declara:

"Os milagros de Jesús sio postos em dúvida. Nio duvido de um mila


gro qualquer. Duvido dos maiores: as tres ressurreic6es, o Tabor, a multipli-
cacio dos pies. Sei que muita gente nio vai gostar" (p. IX).

No corpo do livro (pp. 171-202) o autor nega francamente tais mila-


gres. Mas com certa irania proclama:

"Estamos mergulhados no milagro. O sol que nasce cada día, ó um mi-


lagre... Falar, pensar, conversar como estamos tazando agora é um dos mai
ores prodigios do universo" (p. 174).

Em particular no tocante a Mt 16,16-19, o autor julga que Kspha sig


nifica urna gruta protetora escavada no rochedo e, após muitas considera-
coes lingüísticas, traduz as palavras de Jesús a Pedro nestes termos:

"Tu és Kepha, a caverna escavada na rocha, é ai dentro que eu vou


criara mlnha familia, éaique criareiosmeus fí/hos".

No tocante á Eucaristía, Rdmulo Cándido equipara entre si as exprés-


s5es "Jesús está no pao" e "Jesús está no próximo". Desta maneira exprime

456
"PALAVRA, PARÁBOLA" 25

erradamente a presenta eucarística de Jesús (que nao é urna tmpanacfo,


mas urna traraubstanclacíb); além do qué, relativiza grotescamente o sacra
mento da Eucaristía, preterindo-o, de certo modo, em favor do "sacramento
do pé sujo". Diz o Dr. Samuel:

"Por que nio celebran) o sacramento da Bacía, o sacramento do La-


va-Pés ou o Sacramento do Pé Sujo do irmio? Se Cristo falou que está no
pió e no irmio, em nome de que lógica os cristios fazem diferencas e.nre
urna e outra presenca? Para mim, um hebreu, é mais fácil aceitar a presenca
de Deus no pió do que a discriminacio que os cristios fazem entre a presen
ca no pió e a presenca no irmio. No dia em que voces adorarem a Deus ñas
Pessoas como adoram a Hostia, eu vou comecar a acreditar na fé Cristi no
Sacramento da Eucaristía" (p. 279).

Também o Evangelho da Infancia (Mt 1-2; Le 1-2) é volatilizado, de


modo a nada referir de histórico (pp. 203-214).

Em suma, o autor nega totalmente ou quase totalmente o valor histó


rico dos Evangelhos. Parece admitir apenas a mensagem doutrinária dos mes-
mos, reduzida, porém, ao seu aspecto sócio-econdmico-político:

"Cristo nio transformou podras em pió. Ele fez um milagro muito


mais difícil: transformou os problemas sociais e políticos em culto religio
so e ato de adoracio a Deus. O irmio é o novo templo, a nova presenca de
Deus.

Isto sim é um mílagre. Nio aceitar essa mensagem é heresia, é falta de


fé, é a tentacio, ao menos para o cristio que diz crerno Evangelho.

VocS conhece o grande pregador Jesuíta Antonio Vieira. Ele falou:


'Católicos do Credo e Hereges dos mandamentos'. Eu diría: 'Cristios dos
milagros e hereges dos sermdes de Cristo'" (p. 202).

"0 Dr. Samuel nio se preocupava multo com os fatos. fntaressavá-lhe


sobretudo a mensagem" (p. 196).

"É na casa do pobre que Cristo adía seu descanso. Nio nos palacios
dos ricos, em Jerusalém, mas nos arredores da cldade, na periferia, oa casa
do pobre" (p. 307).

Quem termina de ler o livro, talvez se sinta confuso, vendo-se interpe


lado por um acervo de observacSes lingüísticas, aparentemente eruditas e
científicas, que levam ao ceticismo e ao vazio em relacao ao conteúdo da
historia narrada na Biblia. Verdade é que R6muk> Cándido tudo faz para

457
2(f "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

suavizar o impacto que seu üvro deve causar; afirma que a re-interpretacáo
nao afeta a fé dos cristaos:

"Nio estou destruindo o seu Cristo. Estou lando o Evangelho de Ma-


teus como foi escrito, em forma de PARÁBOLA" (p. 202).

Pergunta-se, pois:

2. Quedizer?

O livro nos sugere muitas observacoes, das quais sejam quatro aqui
enunciadas:

2.1. O método

Rómulo Cándido nao é um estudioso profesional da S. Escritura; a


sua área de do utora mentó é a Historia da Igreja. Pode ter conheci memos de
lingüística, mas aplica-os ao texto bíblico com leviandade desonesta, quase
em tom de brincadeira e sátira. Jamáis um exegeta bíblico profesional pro-
cedeu ou procederá como Rómulo Cándido. Seja citado, entre outros, Rene
Latourelle no seu livro "Jesús Existiu?", analisado em PR 336/1990,
pp. 194-210: o autor, após minucioso exame do texto sagrado, concluí em
favor da historicidade do mesmo; nao somonte a lingüística bem aplicada
leva a tanto, mas também o estudo da historia dos judeus e dos primeiros
cristaos.

O método de Rómulo Cándido, baseado únicamente em observacoes


lingüísticas (palavra-parábola), é falho e engañador. Com efeito; a etimología
ou o estudo da raiz de determinada palavra pode mostrar as origens de tal
vocábulo, mas nao evidencia necesariamente o sentido que tal vocábulo as-
sumiu posteriormente e hoje tem. Eis alguns exemplos:

Calcular vem de cálculo = pedra, pois amigamente se faziam somas e


subtracdes mediante pedrinhas. Isto, porém, nao quer dizer que hoje quem
use a palavra "calcular" tenha em vista o recurso a pedrinhas. O vocábulo
"calculadora" nada mais tem a ver com pedrinhas; é, sim, um sistema eletró-
nico moderno (designado por um nome amigo, de sentido ultrapassado);

Escola vem do grego scholá = ocio, lazer. Ora o sentido que hoje da
mos a escola é o de urna instituicao de muito trabaIho, caracterizada pelo
estudo, pela pesquisa e pela transmissao do saber, e nao pelo ócioou o lazer.

Machado, Leltffo, Flfluelra, Peroira, OHveira, Parrelrai... hoje em dia


podem designar pessoas..., pessoas que nio témafinidade alguma com árvo-

458
"PALAVRA, PARÁBOLA" 27

res ou seres irracionais. Nao se diga que o Sr. Oliveira tem algum parentesco
oom árvore produtora de azeitonas, ou que a Sra. Pereira tem algo de co-
mum com árvore que dá peras...

Contemplar vem de templo. Isto, porém, nao quer dizer que hoje
quem contempla esteja, de certo modo, relacionado com um templo. Con
templarse urna paisagem, um espetáculo, urna disputa atlética...., sem a mí
nima referencia a um templo.

Considerar vem do latim sidus, sideris = astro. Todavía quem hoje


usa a palavra considerar, nao pensa em astro; quem considera..., nao tem re-
lacionamento com os astros; consideram-se problemas, consideram-se teo
rías, propostas...

Os exemplos poderiam multiplicar-se... Daf se vé que ó erróneo que


rer deduzir o significado de um vocábulo únicamente das suas raízes etimo
lógicas ou das suas assonáncias e ressonáncias, sem levar em conta a evelucao
dessa palavra através dos tempos. Pode-se tratar de urna brincadeira que im-
pressione enancas, mas nada significa para um adulto amadurecido.

2.2. Sagrada Escritura a TradicSb

0 bom intérprete da S. Escritura sabe que so pode perceber o auténti


co sentido da mesma se ausculta o discurso oral ou a Tradicao oral, da quai
a Escritura é o eco. A Escritura supoe a transmissao de mensagens sagradas
feita inicialmente por via oral, a ponto que só pode ser compreendida á luz
da Tradicao oral, que Rómuio Cándido n3o menciona em absoluto.

Além disto, para um católico essa Tradicao oral continua viva na Igre-
ja, á quai Cristo prometeu sua assisténcia infalfvei para guardar e transmitir
a mensagem da fé (cf. Jo 14, 26; 16, 12-14). Por conseguinte, o magisterio
da Igreja há de ser levado em conta por todo estudioso católico que deseje
conhecer o sentido da Biblia. Nunca um fiel católico pode limitar suas fon-
tes de conhecimento ao texto escrito, pois este mesmo se refere á Tradicao
oral como elemento hermeneutico indispensável; cf.

2T» 2,15: "Asslm, pois, ¡rmios, permanece/' firmes e guardai as tradi-


(des que recebestes, se/a de viva voz, se/a por carta nossa".

2Tm 2,2: "O que ouviste de mim empresenta de multas testemunhas,


confia-o a homens fiéis, que se/am capazas de ensinar aínda a outros".

2Tm 1,12-14: "Sai em quem acreditei... Toma por norma as s& pala-

459
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

vras que ouviste de mim, na fé e no amor do Cristo Jesús. Guarda o bom de


pósito com o auxilio do Espirito Santo, que habita em nos".

Quanto á interpretado da S. Escritura, há a inda famosa advertencia


na2Pd1¿0s:

"Antes de mais nada, sabei isto: nenhuma profecía da Escritura está


sujeita a uma interpretado pessoal, pois nunca uma profecía foi proferida
pela vontade humana, mas sim movidos pelo £ sp/rito Santo ó que alguns ho-
mens falaram em noma de Deus'.

2.3. Cristianismo e Historia

Quem rejeita a historia narrada pela Biblia (por considerá-la parábola,


mito ou midrache...) para ficar apenas com a mensagem doutrinária, ignora
a auténtica índole do Cristianismo. A mensagem crista está essencialmente
ligada a fatos históricos, de tal modo que, se alguém nega a historicidade das
grandes etapas do Antigo e do Novo Testamento, esvazia a própria doutriña
do Cristianismo. É o que diz Sao Paulo referindo-se á ressurreicao de Jesús:

"Se Cristo nao ressuscitou, vazia ó a •tossa pregacSo, vazia também é a


vossa fé.... Se Cristo nio ressuscitou, il'.uória 6 a vossa fé; aínda estáis nos
vossos pecados" (1Cor 15,13-17).

O Cristianismo é uma reltgiao histórica. Isto quer dizer: Deusse reve


lo u aos homens através da historia e de fatos concretos, como lembra o
Concilio do Vaticano II:

"Aprouve a Deus em sua bondade e sabedoria revelarse a si mesmo e


tornar conhecido o misterio de sua vontade... Este plano de revelacSo se
concretiza através de acontecimentos o palavras íntimamente conexos entre
sí, de forma que as obras realizadas por Deus na historia da salvacio manifes-
tam e corroboram os ensinamentos e as realidades significadas pelas palavras.
Estas, por sua vez, proclamam as obras e elucidam o misterio netas contído.
O conteúdo profundo da verdade a respeito seja de Deus, se/a da salvacio
do homem se nos manifesta por meto dessa revelacSo em Cristo, que é ao
mesmo tempo mediador e plenitude de toda a revelacSo" ÍConstituícSo Dei
Verbum,/j?2¿

O mesmo nao se dá, por exemplo, com o budismo. Pode o budista du-
vidar das biografías de Buda que a Tradicao Ihe entrega (a mais antiga é a
Lalista Vistara, escrita sáculos depois da morte de Buda), e, nao obstante,

460
"PALAVRA. PARÁBOLA" 29

ser fiel budista, aderindo ás doutrinas do budismo."4 Este subsiste perfeita-


mente sem que se leve em conta o seu fundamento histórico; paira ácima da
historia, da qual, alias, o budista quer-se livrar mediante desencarnacfo defi
nitiva. Ao contrario, o Cristianismo estima a historia e a cultiva, como a
cultiva também ciosamente o povo judeu, visto que judeus e cristaos sabem
que Deus falou por fatos históricos. A historia ¿discurso de Deus aos ho-
mens.

2.4. Midraxs • Parábola

O autor confunde entre si dois termos técnicos da nomenclatura exe-


gética, como se depreende da seguinte passagem:

"Bastaría isto para caracterizar o midrash, isto é, demonstrar que as


tentacSes de Cristo sio urna parábola" (p. 201).

Quanto ao midraxe, Rómulo Cándido o apresenta nestes termos:

" - Midrash? O que é isso?

— Os especialistas bíblicos nSo conseguem entrar em acordó numa de-


finicSo do que seja midrash. Vamos encunar caminho e dizer simplesmeote:
éumXEROX.
— Xerox do qué?
— Xerox é urna copia perfeita do original. Os evangelistas usam conti
nuamente deste processo para expor suas idéias. Imitam passagens e modelos
¡á conhecidos da Biblia" (p. 189).

Há ai imprecisoes de certo vulto, que exprimem a impericia do autor


em materia de exegese bíblica.

Na verdade, midraxe é urna narrativa de fundo histórico real, ap resen


tada de modo a se por em relevo o seu sentido teológico. Assim, por exem-
pío, a genealogía de Cristo em Mt 1,1-17 conta 42 geracoes desde Abraao
até Jesús, e... 42 geracoes distribuidas em tres seccoes de quatorze rtomes ca
da urna; donde 3x14 =42. Ora quem conta as geracSes que vao de Abraao a
Cristo nos livros do Antigo Testamento, verifica que foramlmaís de 42.
Entilo por que terá o evangelista apresentado apenas 42 nomes? — Notamos
que sao nomes reais, que devem ter sido tirados de registros e arquivos do
povo de Israel; foram, porém, escolhidos 42 apenas para evidenciar que Je
sús é tres vezes Davi; com efeito, as consoantes hebraicas do nome DAVID
tfim um valor numérico, de tal modo que, somadas, dao o total de 14:

1 Ver a propósito Domanico Grasso: O probtoms á» Cristo. Ed. Loyola, 1967.

461
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

D V D
4 + 6 +4 =14

Oesta maneira a passagem de Mt 1,1-17 é um auténtico midraxe: um


episodio de fundo histórico e real apresentado de modo a se perceber o sig
nificado teológico da figura de Jesús, filho de Ábralo e de Davi: ele é o Rei
de Israel por excelencia, o Filho de Davi no qual se cumprem todas as pro-
messas feitas a este rei (cf. SI 88, 21-38; 2Sm 7,14).

O tato de que os evangelistas, por vezes, se referem, explícita ou implí


citamente, a textos do Antigo Testamento nao quer dizer que nao tenham
escrito historia real; significa, sim, que procuraran) mostrar que no Novo
Testamento se cumpriram plenamente as insinuares e predicdes do Antigo
Testamento.

Disto tudo se depreende que midraxe nao é urna parábola. Esta é urna
estória ficticia, que nunca aconteceu. Nos Evangelhosexistem mWraxim e
também parábolas, mas isto nao quer dizer que sejam os Evangelhos ficcao
ou relatos nao históricos. A historicidade destes quatro livros tem sido estu-
dada meticulosamente; donde resultaram conclusoes positivas em favor da
mesma, como se pode perceber na bibliografía deste artigo.

3. ConclusSo

A obra de Rdmulo Cándido de Souza é urna exibicao de erudicao mal


aplicada, pois o autor faz da Biblia a área de seus exercfcios lingüísticos,
sem considerar que o texto sagrado deve ser estudado também a luz da his
toria e de outros referenciais. Rdmulo Cándido poderia ter-se divertido fa-
zendo os mesmos exercícios filológicos sobre o texto dos Lusíadas de Ca-
moes ou - por que nao? — sobre a própria Constituicao do Brasil; eviden
ciaría que os vocábulos usados na Constituicao tém, em suas origens etimo
lógicas, significado diverso daquele que hoje tém e que foi intencionado pe
los constituintes; assim ele mostraría que a Constituicao do Brasil é urna pa
rábola e que, conseqüentemente, fica a liberdade para que no Brasil cada um
faca o que quer: em vez de ir á escola, vá ao lazer (scholé, em grego); em vez
de usar um computador, use pedrinhas (cálculos); em vez de se debrucar so
bre um problema merecedor de consideracao, olhe para os astros ou a Lúa!

A propósito ver
Rene Latourelle, Jasu* Exlttiu? . Ed. Santuario (Caixa Postal 04,
12570 Aparecida, SP) 199a
F. Lambiasi, AutentlckJada Histórica dos Evangelhos. Estudos de
Criterlologia. Ed. Paulinas 1978.
Fr. Dreyfus, Jesús sabia que ara Deus? - Ed. Loyoia 1987.

462
Pleiteando pro Israel:

"O Julgamento de Jesús,


O Nazareno"

por Haim Cohn

Em símese: O livro de H. Cohn tendona ¡sentar osjudeus de qualquer


responsabilidade no processo condenatorio de Jesús; os evangelistas terió
falsificado a historia, atríbuindo ao povo de Israel um maleficio que, na ver-
dade, foi cometido pelos romanos. Os judeus terSo sido mesmo amigos e de
fensores de Jesús contra a sanha de Pilatos;nSo terSo entregue um conpa
triota seu ñas mSos de estrangeiros dominadores. — A tese exige do autor o
remane/amento do texto dos Evangelhos; estes sSo tidoscomo tendenciosos
e nSo merecedores de crédito; H. Cohn, que é jurista de Israel, alega que os
acón tecimentos nSo podem ter ocorrido como os apresentam os evangelis
tas, porque a narracáb dos mesmos contraria é jurisprudencia dos judeus. Es
ta premissa, firmada de antemSb ou a prior!, dá caráter preconceituoso á
obra de Cohn. - De resto, todo o teor dos Evangelhos mostra como, desde
o inicio da vida pública de Jesús, se foi criando um hiato entre o Divino
Mestre e os fariseus; Jesús combatía a observancia meramente formal ou le
galista dos mesmos e os irritava, a tal ponto que sem demora conceberam a
decisib de matar Jesús; cf. Me 3,6.

Aínda é de notar que o Imperio Romano desde 64 se voltou atrozmen


te contra a Igreja, f¡cando ilícito desde entSo o nome de cristSo. Sendo as-
sim, nSo se vé por que os evangelistas terSo procurado inoesntar os romanos
(perseguidores) e culpar mentirosamente os judeus. Por sua premissa precon
cebida, o livro canee do peso de urna obra de ciencia objetiva.

Ex-presidente da Suprema Corte de Justina de Israel, o Dr. Haim Cohn


aprésente nova versao do julgamento de-Jesús, relendo os Evangelhos á luz
da jurisprudencia dos antigos judeus. Conclui que Jesús nao foi condenado
pelo Sinedrio ou pelos israelitas, mas, sim, pelos romanos. Os evangelistas,
porém, ¡nverteram os papéis ao descreverem a ira dos judeus contra Jesús e
a indiferenca "quase simpática" de Pilatos por Jesús.

463
32 "PERGUNTE'E RESPONDEREMOS" 341/1990

O livro de H. Cohn fo¡ escrito em 1967 com o título inglés "Reflec-


tions on the Trial and Death of Jesús" e publicado em portugués em 1990.1
Ñas páginas subseqüentes ocupar-nos-emos com o conteúdo do livro.

1. Atesé do autor

Haim Cohn quer ¡sentar os judeus de qualquer responsabilidade na


condenacao de Jesús á morte; julga mesmo que os judeus tentaram defender
Jesús perante a san ha dos romanos e de Pilatos. Foram estes que mataram
Jesús. Infelizmente, porém, os autores cristaos preferíram, por razóes de
conveniencia política, inocentar os romanos e acusar os judeus; isto gerou
o anti-semitismo e o odio através dos séculos, culminando na perseguicao
movida pelo nacional-socialismo e no Holocausto (1933-1945).

Para chegar a esta conclusao, o autor estabelece duas premissas:

1) Afirma repetidamente que os Evangelhos nao sao fidedignos:

"Nio devemos atribuir nenhum valor histórico ou de evidencia é ma-


nifesta tendencia existente em todos os evangelhos para liberar o governador
romano da responsabilidade pelo que se passou, e atribuir toda a culpa aos
judeus, mas considerar os relatos dos Evangelhos como relatos e descricdes
intencionáis, de claro matiz religioso-político, cu/os autores nSo se abstive-
ram de desvirtuar os fatos e as tradicBes para engrandecer o seu Deus"
(pp. 14s;cf. cf. pp. 18s).

Para firmar esta proposicao, H. Cohn atribuí datas tardias á redacao


dos Evangelhos: Me terá sido escrito em 70, Le em 85; Mt em 90 aproxima
damente; Joao por volta de 110. Assim "nenhum dos quatro Evangelhos in
cluí depoimentos de testemunhas presenciáis dos eventos que descrevem"
(p. 12).

2) Relendo os Evangelhos á luz da jurisprudencia judaica, firmada na


Biblia e no Talmud2, o autor define, preconcebidamente, como se deram os
acontecímentos que levaram Jesús á morte; afirmacoes feitas a prior! sao
freqüentes no livro:

1 TraducSo de María de Lourdes Menezes. — Imago Editora, 130x 200mm,


275pp.

2 O Talmud vem a ser duas eoleedes (a de Jerusafém e a da Babilonia) de


dizeres dos rabinos, que venam sobre exegese bíblica, casuística moral e
jurídica, tradiedes dos sabios... Essas eoleedes, realizadas paulatinamente,
chegaram a sua forma atual no sáculo V d.C

464
"O JULGAMENTO DE JESÚS..." 33

"Urna vez chegados és conc/usdes que nos parecem apropriadas, refu


taremos quatquer conclusSo contraditória: eventos possfveis de acontecer
factfvet e objetivamente, da maneira como nos os descreveremos, nio po-
deriam ter acontecido de nenhuma outra maneira. E, portento, se eles real
mente aconteceram, so podem ter acontecido dessa maneira" (p. 20).

Eis um espécimen preciso desse modo de falar a priorí:

"Seria inimaginávei que, ao ver um deles, judeu como eles mesmos,


colgado em urna cruz romana, os judeus abrissem suas bocas para zombar
dele, escarnecer dele e insultá-lo. Mesmo supondo terem sido os judeus que
por urna ou outra razio, em um ou outro momento, estiveram interessados
em acabar com Jesús, e supondo também que foram eles que o entregaram
ñas mibs dos romanos para ser julgado e executado. Aínda assim é incrí-
vel que, urna vez vitoriosos em suas maquinacdes e com o homem colgado
diante deles entre a vida e a morte, fossem capazes de escarnecer dele, com
palavras de insultos e de menosprezo" (p. 247).

Na base destas duas premissas, o autor assim reconstituí o processo de


Jesús (ver especialmente pp. 256-9):

Jesús se declarou Rei dos judeus durante a sua vida pública, responsá-
vel pela ¡mplantacao do Reino de Deus neste mundo. Ele nao se dizia F¡-
Iho de Deus. mas filho de Davi e Messias (Ungido). Ora esta concepcao nao
ofendía os judeus,1 mas irritava os romanos, que dominavam a térra de Is
rael. Por isto Pilatos concebeu um plano estritamente cronogramado para
condenar Jesús á morte. Judas nao traiu Jesús (este traco, encontrado nos
relatos evangélicos, seria ficcao dos evangelistas, interessados em acusar os
judeus e inocentar os romanos). Foi Pílatos quem mandou prender Jesús me
diante urna coorte acompanhada de guardas judeus do Templo (cf. Jo 18,3 e
12). Os guardas judeus acompanharam a coorte romana porque deviam levar
Jesús á casa do Sumo Sacerdote, evitando que fosse diretamente para urna
prisao romana.

E por que o levaram para a casa do Sumo Sacerdote? - Para tentar sal-
vá-lo da ira de Pilatos. Queriam obter de Jesús a promessa de que "nao mais
se dedicaría aos assuntos do seu 'reino' e evitaría qualquer atividade ilegal"
(p. 119). Quando viram que Jesús ná*o renunciava aos seus propósitos, nSo
se contiveram e o espancaram, nao por odio, mas porque Jesús fora pouco
habilidoso e perderá a ocasiSo de escapar da morte. Quando disseram: "E

1 "Do ponto de vista do Sinedrio, o tribunal dos judeus, Jesús era totalmen
te inocente" (p. 250; cf. pp. 128s).

465
34 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

réu de morte!" (Mt 26,66), nao tencionavam condená-lo, mas apenas pre-
viam a sentenca condenatoria a ser proferida por Pilatos (pp. 133-135). Os
judeus queriam exercer o amor ao próximo para com Jesús, sabendo que ele
se encaminhava para a condenacao á morte por parte dos romanos. Os ju
deus nao entregarían fácilmente o judeu Jesús ao poder estrangeiro dos ro
manos.

A pressa com que a sessao noturna se realizou em casa do Sumo Sa


cerdote, se deve ao fato de que Pilatos já havia definido que julgaria Jesús
na manha seguinte.

Jesús nao sofreu os suplicios que. conforme os evangelistas, Pilatos


mandou infligir-lhe:

"Supde-se que Jesús tenha recebido algumas pancadas com chicote ou


pónete, com o objetivo de provocar a sua contricSo, e a prova da relativa
leveza das pancadas é que ele apareceu varias vezes diante de Pilatos intei-
ro de corpo e alma. E, assim como nSo foi aceitado da forma costumeira
com finalidade de interrogatorio e prova, tampouco foiacoitado da maneira
determinada pela leí como complemento da pena de crucificacSo. NSo só
nSo o despiram, como também, depois de retirarem o manto de púrpura que
Ihe fora colocado em tom de escarnio, tornaram a vestir-lhe as suas roupas.
Nio só na~o amarraram a forca ás suas costas nem prenderam suas mábs ás
extremidades do patíbulo que deveria carregar sobre os ombros, como se-
quer o obrigaram a carregar a própria cruz, e segundo todos os detalhes co-
nhecidos levaram-no ao lugar da crucificacSo caminhando livremente e sem
tormentos. B as pancadas que recebeu dos soldados antes de iniciar o cami-
nho nSo foram de agressao nem de violencia, mas de provocacSo e de diver-
sSo estúpida"(p. 207).

É difícil saber qual a diferenca que há entre "agressao e violencia", de


um lado, e "provocacao e diversao estúpida", de outro lado. Como quer que
seja, continua o autor do livro afirmando que Jesús foi finalmente crucifica
do por ordem dos romanos. Acontece, porém, que "os primeiros informan
tes cujas descricSes chegaram até os nossos dias, foram os autores dos Evan-
gelhos. Nem eles nem o público para o qual escreveram, tinham interesse no
aspecto judicial do processo nem no sentido jurídico dos acontecimentos
descritos. Seu interesse era eminentemente religioso e missionário, e sua ten
dencia era apologética com relacao ao Imperio Romano e hostil com respei-
to aos judeus" (p. 266).

0 autor ainda explícita o seu pensamento na seguinte passagem:

Os Evangelhos foram escritos "para salvar a honra e o prestigio da re-

466
"O JULGAMENTO DE JESÚS..." 35

ligiao crista e fazer crescer a sua influencia frente aos governantes romanos.
Quando os Evangelhos foram escritos, a comunidade crista em Roma aínda
era pequeña e perseguida. Para dentro existia a necessidade de ressaltar a
santidade de Jesús, a sua inocencia de qualquer crime ou pecado, a sua gran
deza em suportar o sofrimento e as torturas, e para fora existia a necessidade
de ressaltar que os romanos nao estiveram envolvidos no caso, que Jesús nao
os agredia com sua crenga e com suas atividades, e que nenhum governador
romano, de acordó com o seu status e de acordó com a lei romana, tinha
qualquer razao para prendé-lo, julgá-lo ou crucificá-lo. Salientar o odio
dos judeus contra Jesús e o suposto interesse que teriam em seu afastamen-
to e morte deveria — ou assim eles consideravam — aumentar o prestigio dos
cristaos aos olhos dos romanos. Por outro lado, qualquer expressao ou des
criólo da qual se desprendesse alguma crítica aos romanos ou alguma quei-
xa contra eles, s6 poderia fazer reavivar as chamas das perseguipóes contra os
cristaos" (p. 14).

Diz H. Cohn que tal modo de apresentar o processo de Jesús nos Evan
gelhos redundou em aversao e perseguicao aos judeus, da qual o Holocausto
sob o nacional-socialismo alemao é das mais clamorosas. Nao obstante, "se-
jam quais forem os relatos dos Evangelhos, é um fato que os judeus nao car-
regam nenhuma culpa pela morte de Jesús" (p. 268).

É com esta semenca que se encerra a obra de H. Cohn, rica de conhe-


cimentos jurídicos, mas certa mente nova e singular na área da literatura ju-
deo-cristS. A leitura da mesma nao pode deixar de sugerir alguns comenta
rios.

2. Refletindo...

Nao nos déte remos na análise de todos os particulares da exegese que


H. Cohn faz do texto dos Evangelhos; os pormenores sao muítos e suscita-
riam a redacao de outro livro. Mas aposentaremos tres consideragoes funda
mentáis:

2.1. Poslcfo unilateral

O autor do livro se detém únicamente sobre o processo de Jesús. Exa


mina os procedimentos jurídicos dos judeus como eles eram ou parecem ter
sido nos tempos de Cristo e, comparando-os com os dados do Évangelho,
conclui que os evangelistas forjaram estórias para ¡sentar os verdadeiros
culpados, os romanos, e acusar os judeus. O que interessa a H. Cohn, é inc-
centar o povo de Israel.

Compreende-se que Haim Cohn, como judeu, queira defender sua gen-

467
36 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

te, mas nao se pode deixar de observar que o trámite seguido pelo autor é
unilateral, preconcebido e artificial. Com efeito; H. Cohn nao considera de-
vidamente os antecedentes da Paixao de Jesús: as altercacoes entre Jesús e os
fariseus (partido dominante na época) eram graves; Jesús se opunha rigoro
samente ao "farisaísmo", a tal ponto que, conforme Me 3,6," os fariseus
com os herodianos conspiraram contra Jesús sobre o modo de o matarem"
já nos inicios da vida pública do Senhor. Conforme Sao Joao, mais de urna
vez os judeus procuraram prender e mesmo matar Jesús durante o seu mi
nisterio; cf. Jo 5,18:

"Os judeus, com mais empenho. procuravam matar Jesús, pois, além
de violar o sábado, ale dizia ser Deus o seu próprío pai, fazendo-se assim
igual a Deus".

Ainda vém ao caso os textos de Jo 7,44; 8, 59; 10,31.39; 11, 50;


12,10.

É, pois, artificial afirmar que Jesús era "inocente" perante os judeus


e que estes 0 quiseram libertar das maos de Pilatos, tratando-o com benigni-
dade. O inverso é que deve ser tido como verdade histórica. Deve-se, pois,
dizer que a furia dos fariseus contra Jesús está na lógica dos antecedentes ou da
vida pública do Mestre; ela é esbocada desde os inicios desta, a tal ponto que
se torna ¡mpossível crer que os evangelistas falsificaram a realidade quando
apresentaram os fariseus a condenar Jesús ¿ morte. Sao Mateus refere que
Pilatos relutou para condenar Jesús porque nao via nele crime algum contra
a lei romana; lavou as maos simbólicamente para declarar "ser inocente do
sangue desse justo" (Mt 27,24); a própria esposa de Pilatos mandou-lhe di
zer que "nao se envolvesse com esse justo, porque muito sofrera em son no
por causa dele" (Mt 27,19).

Ainda é de ponderar o seguinte: torna-se difícil imaginar que os evan


gelistas tenham procurado defender os romanos ao escrever seus livros ñas
datas tardias que H. Cohn Ihes atribuí. Sim; desde 64 o Imperio Romano
perseguía os cristaos; o nome de "cristao" era ilícito e banido; a hostilidade
dos romanos fez que no Apocalipse o Imperio Romano e as suas religiSes
oficiáis (entre os quais o culto do Imperador) fossem simbolizados por duas
Feras, fadadas a perecer na batalha contra o Reino de Deus; cf. Ap 13,1-18.

Além disto, observemos que, se Jesús anunciava a proximídade ou a


presenca do Reino de Deus (cf. Me 1,14s; Le 10,9), ele entendía esse Reino
como algo que nao implicaría revolucao política; dizia, com efeito: "Dai a
César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" (Mt 22,21). E também:
"A vinda do Reino de Deus nao é observável. Nao se poderá dizer: Ei-lo

468
"O JULGAMENTO DE JESÚS..." 37

aquí! ou Ei-lo ali!, pois eis que o Reino de Deus está no meio de vos" (Le
17,20s).

Ulteriormente chama-nos a atencao o fato de que, segundo o livro dos


Atos dos Apostólos (que relata a historia dos primeiros decenios do Cristia
nismo, historia contemporánea á da confeccao dos Evangelhos), sempre que
os judeus quiseram acusar os cristlos perante os magistrados romanos, estes
se recusaram a intervir em tais litigios, alegando tratar-se de questoes mera
mente religiosas, que nao Ihes ¡nteressavam; donde se vé que nos primeiros
anos a hostilidade aos crístaos provinha dos judeus e nao dos romanos. As-
sim, por exemplo, dizia o procónsul Galiao aos judeus de Corinto:

" 'Se se tratasse de um delito ou ato perverso, 6 judeus, com razio eu


vos atendería. Mas, se sa~o questdes de palavras, de nomos, e da vossaprópria
Lei, tratai vos mesmos dissol Juiz dessas coisas eu nio quero ser". Edespe-
diu-os do tribunal" (At 18, 14-16).

Escreveu o tribuno romano Claudio Lisias ao governador FéHx roma


no, sediado em Cesaréia:

"Querendo averiguar o motivo por que os judeus incríminavam Paulo,


fi-fo conduzirao Senédrio deles. Verifiquei que era incriminado por questdes
referentes á Lei que os rege, nenhum crime havendo que justífícasse morte
ou prisSo. Tendo-me sido denunciada urna emboscada contra a sua vida, tra-
tei de enviá-lo prontamente a ti, comunicando, porém, a seus acusadores que
exponham diante de ti o que ha/a contra efe" (At 23,28-30).

2.2. A veracidade dos Evangelhos

A veracidade dos Evangelhos tem sido criticamente estudada nos últi


mos dois séculos. Após a proposta de algumas teorías céticas, os pesquisado-
res hoje, numa consideracao serena, afirmam a historicidade dos mesmos. A
respeito sejam consultadas as obras citadas & p. 462 deste fascículo.

0 fenómeno "Cristianismo" ou a seqüela de vinte séculos que se inicia


no século I com o fenómeno "Jesús" nao podem estar baseados na mentira
ou na distorcao da verdade, pois esta seria um pedestal insuficiente para sus
tentar e explicar 250 anos de perseguicüo (até 313, Edito de Miláb) e toda a
vitalidade do Cristianismo subseqüente até nossos días.

Sobre as datas de origem dos Evangelhos, os estudiosos hoje as aproxi


ma m mais da época da vida terrestre de Jesús do que os críticos do século
passado. Isto se dá, em parte, pelo fato de que a descoberta de novos papi
ros e outros testemunhos obriga a recuar tais datas. Em conseqüéncia, con-

469
38 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

jeturar-se a seguinte escala: Mateus em aramaico (perdido): ano de 50 apro


ximadamente; - Marcos em grego: 65; - Lucas em grego: 75; - Mateus em
grego (único texto existente): 80; - Joáo em grego: 98/100.

É de notar, porém, que entre Jesús e a reda pao escrita dos Evangelhos
nao houve*hiato, mas, sim, a transmissao ou pregacao oral dos ditos e feitos
de Jesús. Essa pregacáo oral foi-se cristalizando aos poucos em folhas volan
tes, que continham episodios da mensagem de Jesús; tais folhas foram final
mente utilizadas pelos Evangelistas para redigirem os seus Evangelhos. Há,
pois, continuidade entre Jesús e o texto escrito dos Evangelhos, continuida
de sob a vigilancia dos Apostólos, que zelavam pela i'ntegra conservacao do
depósito da fé (cf. Gl 1.8s; Jd 3; 2Tm 1,13s; 2,2; 3,14...). É isto que torna
inversossímil a h¡pótese de deterioracao dos fatos ou da mensagem; so admi
te tal teoria quem náfo conhece com precisao a historia do Novo Testamento.

2.3. Processo ilegal

Se os Evangelhos sao dignos de crédito, deve-se reconhecer que o pro


cesso dos judeus contra Jesús foi ilegal ou realizado em dissonancia das nor
mas da jurisprudencia judaica, como afirma H. Cohn. Esta conseqüéncia nao
surpreende: os fariseus se precipitaram para eliminar Jesús, julgando em tri
bunal de noite, porque receavam urna manifestacáo do povo por ocasiao da
Páscoa; muitos acreditavam em Jesús após a ressurreicao de Lázaro e esta-
vam dispostos a proclamá-lo Messias, em sed i cao contra as autoridades roma
nas. Se o fizessem, "os romanos destruiriam o lugar sagrado e a nacao", co
mo observava Caifas, pleiteando, para evitar tal desastre, a morte de um só
hometn ou de Jesús (cf. Jo 11,45-53). Nao o queriam prender, porém, no
dia da festa para nao suscitar tumulto no meio do povo (cf. Mt 26,5); daí o
interesse de liquidar o caso antes da festa de Páscoa, mesmo que para tanto
tivessem de burlar as normas da jurisprudencia israelita.

É um preconceito erróneo dizer que o processo de Jesús nao pode ter


ocorrido como o narram os Evangelhos, porque em tal caso teria ferido os
preceitos jurídicos do judaismo. A excecao de que falam os evangelistas, é
compreensfvel por todo o teor da vida pública de Jesús, especialmente pe
los "sinais feitos por Jesús" (Jo 11,47).

É de se afirmar, portante que os judeus tiveram a iniciativa de conde


nar Jesús como transgressor da Lei de Moisés e instigaram os romanos a
sentenciar a morte do Senhor; Jesús havia reconhecido a conveniencia de se
pagar o imposto a César (cf. Mt 22, 15-22) e nao fazer revolucáo armada;
por conseguinte, nao deu motivo a que os romanos Ihe quisessem o mal;
Pilatos mesmo quis isentar-se da responsabilidadeda condenacao (cf. Le 23,
1-25; Mt 27,19-24); todavía foi fraco e cedeu á pressao dos judeus. Em con-

470
"OJULGAMENTODEJESUS..." 39

seqüéncia, pode-se dizer que os judeus e os romanos da época foram respon-


sáveis pelo processo que levou Jesús á morte.

2.4. Diálogo Religioso

A necessidade de se extinguirem resquicios de anti-semitismo é algo de


reconhecido pela Igreja Católica, É particularmente digna de nota a Declara-
cao Nostra Aetate do Concilio do Vaticano II no seu parágrafo 4, que trata
das relacoes do Catolicismo com o Judaismo; entre outros tópicos, merece
realce o seguinte:

"Testemunha é a Sagrada Escritura de que Jerusalém nao conheceu o


tempo de sua visitacSo; e que os /udeus em grande número aceitaram o
Evangelho, sendo que nSo poucos opuseram obstáculos á sua difusSo. Segun
do o Apostólo, no entanto os judeus aínda sa~o amados por causa de seus
país, porque Deus nSo se arrepende dos seus dons e da sua vocacSo. Junta
mente com os Profetas e o mesmo Apostólo, a Igreja espera por aqüele dia,
só de Deus conhecido, em que todos os povos a urna só voz aclamarSo o Se-
nhor e se submeterio num mesmo espirito (cf. Sf 3,9).

Sendo, pot's, tio grande o patrimonio espiritual comum aos cristSos


e judeus, este Sacrossanto Concilio quer fomentar e recomendar a ambas as
partes mutuo reconhecimento e apreco. Poderá isto ser obtído principalmen
te pelos estudos bíblicos e teológicos e aínda pelo diálogo fraterna

Se bem que os principáis dos judeus, com seus seguidoras, insistiram


na morte de Cristo, aquiio contudo que se perpetrou na sua Paixio nSo po
de indistintamente ser imputado a todos os judeus que entSo viviam, nem
aos de hoja. Embora a Igreja saja o novo povo de Deus, os judeus, no entan
to, nSo devem ser apresentados nem como condenados por Deus, nem como
amaldicoados, como se isso decorresse das Sagradas Escrituras. Haja por isso
cuidado, da parte de todos, para que, tanto na catequese como na pregacSo
da Paiavra de Deus, nSo se ensine algo que nSo se coaduna com a verdade
evangélica e com o espirito de Cristo".

Por conseguinte, a fim de que se apaguem os vestigios de hostilidade


entre judeus e cristSos, nao é necessário recorrer a artificios de exegese dos
Evangelhos no intuito de apresentar os judeus de outrora como defensores
de Jesús Cristo; basta que os cristaos sigam as diretrizes emanadas da autori-
dade da Igreja e se compenetrem de que judeus e cristSos possuem valioso
patrimonio comum, sendo Abraao "o pai da nossa fé" (cf. Rm 4,11$) e o
principio da oliveira de escol na qual, como ramos de oliveira selvagem,
foram enxertados todos os povos (cf. Rm 11,17-24).

471
40 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

Após estas ponderacóes, pode-se tranquilamente concluir que o livro


de H. Cohn é, em grande parte, destituido de peso científico, visto que o
inspira urna premissa preconcebida, premissa que leva a remanejamento arbi
trario do texto dos Evangelhos.

É merecedor de todo apoio o intuito, de H. Cohn, de apagar todo ves


tigio de anti-semitismo. Mas este ideal pode ser atingido de maneira mais
objetiva e plausível, ou seja, mediante a reconsiderado de todos os pontos
que unem judeus e cristaos entre si e devem suscitar respeito mutuo e pro
cura de convivencia pacífica.

Filosofías da Hora e Filosofía Perene, por Emilio Silva de Castro.


- Edicoes GRD,Sá~o Paulo 1990. 140 x 210 mm, 224 pp.
■ Mons. Emilio Silva de Castro 6 Decano da Faculdade de Díreito da
Universidade Gama Filho, Catedrático da Universidade do Estado da Guana
bara. da PUC-RJ... Publica, com retoques e aditamentos, a sua tese para a
Cátedra de Livre Docencia na Faculdade de Filosofía da Universidade da
Guanabara. Ana/isa as principáis corren tes filosóficas dos últimos tempos e
confronta-as com a Filosofía perene, que tem em Aristóteles e S. Tomás de
Aquino os seus grandes expoentes. Conseqüentemente, o leitor encontrará
nesse livro consideracdes sobre as mais notorias escolas do pensamento mo
derno: o relativismo e seus variados aspectos (o psicologista, o evolucionis
ta, o idealista...), as Filosofías da crenca e o pragmatismo, o Historicismo, o
Existenciaiismo multiforme (com a respectiva apreciacio e crítica). Por últi
mo estudará a nocSo de Filosofía Perene, com suas formas históricas e seus
principios primarios. No derradeiro parágrafo do seu livro, escreve o autor:

"0 fim a que nos propusemos, foi demonstrar a radical insuficiencia


das filosofías da hora para ordenarem a vida humana, e a eficacia da phi-
losophía perenis, para a reconstrucao do mundo sobre bases sólidas" (p. 217).

E como há de proceder a Filosofía perene?

"A rigor, a funcao da Filosofía perene há de limitar-se a selecionar al-


gumas verdades e doutrinas das mais básicas da humanidade. Aquetas que
todo homem descobre com a luz natural do entendimento e que 'nao so-
mente é necessário quesejam verdadeiras por si mesmas, se na o que, também,
nos demos conta de que necessariamente sao verdadeiras' (S. Tomás, In I
pott. Anal, lectio 49) e que, portanto ninguém as pode negar" (pp. 216s).

Como Manual de Historia da Filosofía Moderna, o livro 6 valioso e rico


em ¡nformacBes. A sua condusffo levará o estudioso a proficua nflexSo. Pa-
rabéns ao venerando autor, que Antonio Paim apresenta ñas pr/meiras pági
nas do volumel g.B.

472
Sempreemfoco:

Mais Urna Vez o Sudario


de Turim

Em sintasa: Passados mais de dois anos após os exames do Carbono 14


realizados sobre o Sudario de Turim (tido como provável mortafha que en-
volveu o Cristo mono), vSm é baila os resultados de indagacBes feitas sobre
a maneira como foram efetuados tais testes. Verifícase que há serias restri-
cffes a opor ó experiencia dos tres Laboratorios mobilizados para tanto.
Preconceitos e falta de ética inspiraran) os executores do projeto, de tal mo
do que este 6 hoje em dia tido como insuficiente ou mesmo nulo náhisto
ria das pesquisas sobre o Santo Sudario.

Sabe-se que em 1988 um teste do Carbono 14 realizado por tres Labo


ratorios (os das Universidades de Arizona, U.S.A., e Oxford, Inglaterra, e o
do Instituto Politécnico de Zurique, Suíca) levou um grupo de dentistas a
declarar que o Sudario de Turim é peca medieval, devida aos anos de 1260-
1390, portanto muito distante da época de Cristo. — A noticia causou gran
de surpresa e acendeu caloroso debate, visto que outros muitos pesquisa-
dores contestaram a validade do teste assim efetuado. Cf. PR 320/1989,
p. 34-42 e 322/1989, pp. 98-103.

Ñas páginas subseqüentes acompanharemos esse debate, no qual se fa-


zem serias acusacoes aos dentistas que empreenderam o citado exame.

1. Que se pode dizer hoje?

Dois livros importantes foram escritos sobre o teste do Carbono 14


efetuado em 1988. Sao eles o de Freí Bruno Bonnet-Eymard (Editlons de
la Contre-Reforme, Franca) e o dos autores italianos Orazio Petrosillo, Jor
nal ¡sta do cotidiano II Meuagero, e Emanuela Marinelli, coordenadora do
Centro Internacional de Documentacfo Pro-Sudario; a obra tem portfolio:
La Slndorw, un enigma alia prava dalla tclanza. SSo impressionantes os fa-
tos que esses livros revelam, juntamente com documentacao rigorosa, que

473
42 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

evidencia lamentáveis imprecisoes, se nao fraudes, ñas pesquisas ditas "cien


tíficas" dos Laboratorios em pauta. O dentista Luigi Gonella, assessor da
Curia Episcopal de Turim, levantou a hipótese de haver um compló anticató
lico no caso; por ¡sto na Secretaria de Estado do Vaticano abriu-se um dossié
para averiguar se tem fundamento tal hipótese.

Eis atguns elementos que debilitam ou anulam a validade do teste do


Carbono 14, especialmente o que foi feito sobre o Santo Sudario.

1.1. Errot flagrantes

A revista Sciance de dezembro de 1988 revelou que algumas casas de


caracóis a inda vivos submetidos ao teste do Carbono 14 foram tidas como
velhas de 26.000 anos.

A revista Antarctic, especializada em Biología e Geologia, publicou o


resultado do exame do Carbono 14 efetuado numa foca que acabara de
morrer: foi-lhe atribuida a idade de 1.300 anos.

O periódico Radicarbon nottciou que a pete de um mamute da pre


historia existente há 26.000 anos, teria a idade de 5.600 apenas.

O Conselho de Pesquisas da Inglaterra enviou a 38 Laboratorios do


mundo inteiro objetos cuja idade era conhecida; somente sete resultados
da datacáo pelo Carbono 14 foram aceitáveis, segundo a Comissao Orga
nizadora.

Como se vé, os erros de tal método de pesquisa sao muitos e fla


grantes.

Alias, o Diretor do Laboratorio de Zurique, um dos tres Laboratorios


que receberam amostra do Santo Sudario para exame, tentou datar urna
toa I ha de linho, que certamente nSo tinha mais de 50 anos; ora o teste do
Carbono acusou 350 anos de existencia dessa peca. O Diretor justificou-se
atribuindo a culpa do erro aos detergentes.1

Mais grave ainda foi o caso do Laboratorio de Tucson, que datou um


capacete vikíngio do ano 2006 depois de Cristo!* -Éo que se Id na revista
30 DÍAS, junho de 1990, p. 51.

1 Os vikfngios eram guerreiros noruegueses, suecos e dinamarqueses que ata-


caram e colonizaran) varias partes da Europa do sáculo IX ao sáculo XI. Eram
eximios armadores e navegantes, que conseguiram realizar longas viagens.

474
O SANTO SUDARIO DE TUR1M 43

1.2. Dstonottldsde preconceituota

Em 1984, um grupo de quarenta dentistas norte-americanos (o


Shroud of Turin Rosearen Projeet ou STURP) apresentou ao Car dea I Bailes-
trero, arcebispo de Turim, onde está localizado o Sudario, um novo projeto
de pesquisas multidisciplinares intitulado PHASE II; tais estudos estariam
em continuidade com pesquisas anteriores muito favoráveis á autenticidade
da mortalha1. Foi entao que outros dentistas se moveram para impedir
a realizacao desse projeto; queriam que o veredicto final dos estudos depen-
desse únicamente do teste do Carbono 14; este teste seria executado pelo
menor número possível de Laboratorios, e nao pelos sete previstos inicial-
mente. Qualquer representante da arquidiocese de Turim ou da Pontificia
Academia de Ciencias deveria ser excluido da supervisao dos exames. — Os
tres Laboratorios escolhidos deveriam usar (e usaram) o mesmo tipo de tes
te, o AMS, embora existam dois tipos de teste do Carbono 14, um dos quais
é mais antigo e experimentado. Tal procedimento ó contrario aos métodos
mais elementares de análise científica e provocou os protestos de'muitos
cientistas. O Prof. Luigi Gonella, Diretor da Sala de Imprensa do Vaticano
explicou por que a Igreja aceitoutais condicSes propostas para o teste:

"A Igre/a viu-se diante de um desafío lanzado por algumas pestoas


que, com os seus pedidos, fizeram o possível para receber urna resposta

1 Eis alguns dos resultados positivos a que chegaram os pesquisadores duran


te as últimas décadas:
Foi possfvel identificar o polen de flores retido pelo Sudario entre os seus
fios nos sucessivos lugares em que esteve. Conseguiu-se assim tracar o itinera
rio da mortalha nos sáculos da sua historia:esta comeca na Palestina e termi
na em Turim, passando pelos lugares citados nos documentos da historiogra
fía.
O Prof. Francis L Filas, da Unh/ersidade Loyola de Chicago, encontrou
sínais das moedas colocadas sobre os olhos do homem envolvido no Sudario.
Na Palestina havia, sim, o costume de colocar moedas sobre os olhos dos
mortos. Pódese outrossim averiguar que as moedas foram cunhadas entre 29
e32d.C,ou se/a, na época de Pondo Pilotos.
Foram encontrados ñas malhas do Santo Sudario fragmentos de um raro
tipo da terreno existente ñas grutas de Jerusalém:a aragonita.
Os traeos de sangue existen tes no lenco! permitiram estabelecer o tipo san
guíneo do homem ncoberto pelo linho; apurou-se que ficou 3 horas no se
pulcro.
Mais: o contato do sangue coagulado com o lenco/ foi interrumpido sem
que as manchas fossem alteradas e antes que se iniciasse o processo de putre-
facSo.

475
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

negativa e dizer que a Igreja tem medo da ciencia. Diante desse perigo,
decidiu-se proceder ao exame científico a todo custo, mesmo sob protesto.
Foí urna chantagem. Encostaram-nos na parede com urna chantagem: ou
aceitávamos o teste com o Carbono 14 ñas condicdes impostas pelos Labo
ratorios ou comecaría urna campanha acusando a Igreja de temer a verdade
a ser inimiga da ciencia. Os Laboratorios se comportaram muito mal. Pro-
testo contra e/es, vista a sua falta de idoneidade no campo deontológico.
Protesto pela maneira infame como se conduziram. Já disse a e/es que sSo
mafiosos".

A Ética e a seriedade dos trabaIhos foram ainda violados quando os


resultados dos testes foram diretamente apresentados a imprensa numa en
trevista coletiva, no Museu Británico, pelo Prof. Edward-Hall, Diretor do
Laboratorio de Oxford; segundo a boa Ética, este dentista devia-se ter
dirigido diretamente ao arcebispo de Turim antes de qualquer divulga-
cao pela imprensa. Numa entrevista publicada na revista The Tablet de
14/01/1989, disse o Prof. Edward Hall que certamente nao acreditava que
aquele fosse o Sudario de Cristo e nao sabia se o sangue ali encontrado era
de um ser humano ou de porco! Além do mais, zombou de Papas e fiéis
católicos, que veneraram a sagrada mortal ha durante séculos a fio.

É de notar outrossim que, após terem sido cortados os tres fragmen


tos-amostras do Sudario para o exame do Carbono 14, se deu um fato es-
tranho: o Prof. Dr. Michael Tite, do Museu Británico, Coordenador do
projeto de exame, pedirá a Jacques Evin que procurasse um tecido o mais
semelhante possível ao Sudario e de data medieval. Evin conseguiu obter
um fragmento da capa de Sá"o Luís de Anjou (1274-1297); esse pedago
foi cortado em tres fragmentos e entregue aos Laboratorios em envelopes
separados bem identificáveis. Ora a idade dessas amostras clandestinas,
muito próxima da idade atribuida posteriormente ao Sudario, faz pensar
em substituicao das pecas do Sudario por tais fragmentos medievais.

Ainda há que registrar o enigma do peso das pecas submetidas a exa


me. Quanto pesava o pedaco de tecido retirado do Sudario? - Giovanni
Riggi, que cortou o tecido e coordenou o trabalho, disse em conferencia
em Paris que as amostras pesavam 497 miligramas. Na mesma conferencia
Riggi falou também de 540 miligramas. No filme sobre as opera coes, o peso
assinalado na balanca é de 478,1 miligramas. Há outra incongruencia impor
tante: Franco Testore, especialista em tecidos, afirmou que o pedaco retira
do tinha 12,96 centímetros quadrados e que o tecido pesava 23 miligra
mas por centímetro quadrado, o que dá um total de 298 miligramas, quase
a metade do que foi indicado por Riggi.

O último fato nesta serie de observa coes é o seguinte: segundo o

476
O SANTO SUDARIO DE TURIM 45

Daily Telegraph, de Londres, ediclo de 25/03/89, quarenta e cinco homens


de negocios e "amigos ricos" ofertaram ao Prof. Edward Hall - um dos
dentistas que dirigiram a anáiisedo Santo Sudario pelo método do Carbono
14 - um milhao de libras esterlinas por seus servicos, especialmente por
ter "demonstrado, no último ano, que o Sudario de Turim era urna
falsificacao medieval". O dinheiro foi entregue numa data muito signifi
cativa: sexta-feira santa dia 24 de marco!

Tal presente é insólito, ainda mais se se considera que cátedras de cien


cia em Oxford estao sendo supressas urna após a outra por falta de verbas.

Hall afirmou que usará o dinheiro para criar urna nova cátedra de
ciencia arqueológica, em beneficio precisamente do... Dr. Michael Tite, o
cientista que exerceu o principal papel "no desmascaramento do Sudario
de Turim" e tentou-se defender, em vao, no Encontró de homens de cien
cia de Paris.

Esta última noticia é devida ao periódico The Catholic Counter-Refor-


mation, Morder), Inglaterra, junho 1989, ao passo que as anteriores tém sua
fonte na revista 30 DÍAS, ano V, rfí 6, junho de 1990, pp. 50-53.

2. Conclus&o

A fé católica nao precisa da autenticidade de Sudario de Turim para


subsistir incólume. Esta possfvel reliquia é de valor secundario, pois déla nao
depende a certeza da ressurreicao de Cristo. Como quer que seja, é de inte-
resse do público que nao se cometam falsificacoes ou testes fraudulentos pa
ra tentar anular conclusóes de dentistas varios que, trabalhando sem precon-
ceitos, convergem mais e mais para o reconhecimento da autenticidade da
mortalha. A ciencia é objetiva, destituida de teses predefinidas. Só depoe
contra o pesquisador a fuga da objetividade e o direcionamentó preconcebi
do de seus estudos. Oü será que a autenticidade do Sudario incomoda a cos-
movísao de certos pensadores?

Em conseqüéncia dos dados aduzidos, verifica-se que o teste do Car


bono 14 efetuado em 1988 carece de valor demonstrado. Os estudos vol-
tam h situacao anterior a tal teste. Aguardam-se ulteriores pesquisas que con-
firmem as anteriores ou Ihes contradigam, sempre, porém, em termos serios
e llvres de preconceitos.

477
O Diálogo Judeo-cristffo:

Aínda o Carmelo de Auschwitz

Temos noticiado as conversacoes havidas entre judeus e católicos a res-


peito do Carmelo (Mosteiro de monjas contemplativas) de Auschwitz (Polo
nia). Cf. PR 328/1989, p. 395 e 332/1990, pp. 8-18.

Os judeus julgam que o campo de concentracao deve ser mantido


alheio á presenpa da Cruz e do culto católico. Os poloneses respondem que
nao somente judeus foram vitimados em Auschwitz, mas também muitos ca
tólicos, entre os quais S. Maximiliano Kolbe e seus companheiros. Por conse
guí nte, é plenamente justificada a presencade um mosteiro dentro da área do
antigo campo de concentracao, tendo a finalidade de orar pelas vítimas da
perseguicáo (católicos, protestantes, judeus e outros) e pelos seus carrascos.

Como quer que seja, o episcopado católico, querendo evitar litigios,


houve por bem entrar em acordó com os judeus e transferir o Carmelo para
outra área, próxima do campo, como se verá a seguir.

A fim de esclarecer o público brasileiro, transcrevemos em traducáo


portuguesa um Comunicado da respectiva Comissao Episcopal Francesa a
respeito das decisoes e da execucao das mesmas, datada de 7/3/1990:

"Aproveitando a pessagem, por París, do Sr. Wilkanowicz, mediador


designado pelo Primeiro-MInistro da Polonia, a Combsfib informou-se tonga
mente sobre os trabalhos que estffo comacando em Auschwitz.

O Centro de Raflexáb e o novo Carmelo estffo sendo construidos so


bre o terreno escolhldo, de pleno acordó com os representantes da Delega-
cao judaica de Genebra, Isto é, a um pouco mals de 500 m da muralha de
Auschwitz I. O Carmelo mesmo será construido para além do Centro, do
qual estará separado por um muro e urna cortina de árvores. Estará, portan-
to, situado a malí de 700 m da cerca da Auschwitz. Tara entrada indepen-
denta da entrada do Centro.

Este compreenderá tres predios diferentes:

— um local da encontros destinado a reunifies ou coloquios, que po


dará servir também para dar informaoSes antes ou depob da visita do campo
a todos aqueles que as desejarem. - Ai será instalada urna Biblioteca equipa-

478
CARMELO DE AUSCHWITZ 47

da com Inttrumentos necassárlos é missSb de pesquisa a de reflaxSo do Can-


tro;

- um local para hoipodagem, contando antra tauants a cam quartot


para os partidpantas dos encontró»;

- um predio administrativo com alguns aposantos para os responsáveis


a os animadoras do Centro.

O conjunto dos edificios assim como o novo Carmelo sera*o construí-


do» em estilo prático e modesto, como convém a tais lugares. NS6 davem
acarratar despesas excessivas.

No atual astado das coisas, ¿evidentemente prematuro preverá data de


término da construeflb. Todavía pode-se esperar que o novo Carmelo e o edi-
ffdo administrativo, que serio construidos em primeiro lugar, estarifb pron
to» dentro da um prazo multo razoável. O Sr. Wllkanowlcz nSo dlssimulou a
eonvlccffo da que o ritmo das construcSes dependerá dos recursos coletados.
Com efeito; pode acontecer que nam sempre se encontré na Polonia o mate
rial necessário a esse tipo de construefb. Em tal caso, se se quer acelerar o
ritmo, será preciso importá-lo da Europa Ocidental; disto resultará aumento
dos custos.

A Comistffo Episcopal lembra que ala abriu urna conta bancária para o
Centro e o Carmelo. Já Ihe foram enviados donativos assaz numerosos, pro
venientes da mab de 45 Departamentos. Devam permitir fazer frente á pri-
meira fase da trabalho, que será realizada no próximo verffo e cujo custo
atingirá, sem dúvida, um pouco mais de cam mil dólares...

Parece necessário observar que o Centro de ReflexSb nfo é um Centro


Ecumínico nem mesmo um Centro InterreDgioso. No espirito dos acordó»
de Genebra, 4 urna iniciativa da parte católica, que foi aceita pela delegacao
judaica a fim da resolver o problema. Esto será superado por um esforcé de
informacffo, reflexflb, estudo e oracffo; daí o noma de Centro de ReflexSb.
Sem dúvida, este ficará aberto prioritariamente ao diálogo com o judaismo,
mas acolhera tambám todos os que se sentem interpelados pelos acontecí-
mantos que já ocorreram em tal lugar...

Mons. Gastón Poulain, Bispo de Périgneux, Presidente da Comissffo


Eplseopal Francesa para as RelaoSes com o Judaismo.

Pe. Jaan Dujardln, Secretario da Combsáo Episcopal Francesa para as


Relac¿os com o Judaismo".
Julgamos assim poder informar os leitores brasileiros sobre o projeto
do Carmelo de Auschwitz, projeto que vem a ser um sinal da resposta
de fratemidade e benevolencia da Igreja Católica para com os Judeus.

Estévffo Bettencourt O.S.B.

479
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 341/1990

Livro em Estante
Laitura Orenta da Biblia, ColecSo "Tua Palavra é Vida". PublicacBes
da CRB/1990. - Ed Loyola, Sio Paulo 1990. 137 x 207 mm, 79pp.

O projeto "Palavra-Vida" elaborado pela Conferencia dos Religiosos


da América Latina (CLAR) em 1989 foi vedado pela Santa Sé como tenden
te é ideología e é manipulacio do texto sagrado em sentido política Em
conseqüéncia, a Conferencia dos Religiosos do Brasil resofveu redigir outro
pro/ato, a ser aplicado no Brasil e distribuido em seto pequeños livros, cuja
publicacio devoré estar terminada em agosto de 1995.

O primeiro volume dessa serie é o que vai ácima identificado. Compre-


ende duas partes bem distintas: a primeira (capítulo I, pp. 14-36) é mais
doutrinária: expde o que se chama Lectio Divina ou a maneira como os
mongos faziam e fazem uso da S. Escritura;procedempor quatro etapas: leí-
tura, meditacSo, oracSo, contemplacio. Estas sao descritas segundo os ter
mos da clésslca piedade monástica.

Os trSs capítulos seguintes do livro (pp. 38-77) tentam exemplificar


e completar as indicacdes anteriores, retomando a linha ideológica: há cons
tantes referencias ao Éxodo bíblico e tendencia a fazer que os hitares de
boje se sintam na situacSo dos judeus oprimidos pelo Farad:

"Hoja, em nosso país e em toda a América Latina, a peneguicSo e o


Éxodo continuam. Conhecemos sltuacdes de perseguicdes as comunidades?
E aos agentes de pastoral? Como acontecen) hoje confutas entre as comuni
dades e a Sociedade? O que sabemos dos Movimentos Populares?" (p 65).

"Como está a questSo da térra hoje em nosso país?

O que sabemos da organizado do nosso povo? Conhecemos os movi


mentos populares? Participamos deles?" (p 44).

"Como se manifesta hoje, entre nos, a voz profótica? Conhecemos al-


guém perseguido no seu zelo pelo Reino de Deus? Como e onde aparece
atualmente, na América Latina, a dimensio profetice da Vida Religiosa? On
de nossa sociedade permanece fiel é Alianca? Onde ala quebra?" (p. 49).

A terminología é ambigua, podendo xa vocébulos "profétíco. Reino


de Deus, Alianca, Éxodo..." ser entendidos tentó no sentido classico como
no seu significado ideológico, oriundo das correntas da Teología da Liberta-
cSo extremada. Estas consideracSes evldendam que o uso de tal Roteiro de
leltura bíblica é inepto para levar o leitorao ¡mago da Palavra de Deus, que
é um sacramental destinado a fomentar a vida de oracSo o de uniffo com o
Senhor. E.B.

480
NOVIDADES
LIVROS EM LÍNGUA ESPANHOLA:.

- SUMA DE TEOLOGÍA (Santo Tomás de Aquino). Edción dirigida por


los Regentes de Estudios de las Provincias Dominicanas en España.
Presentación por Damián Byme, O.P. Plan General de la Obra: V. Tomos.
TOMO I: Introducían general y parte I. BAC. 1988,995p.. Cr$ 15.207 00
TOMO II: Parte NI. BAC 1889. 975p Cr$ 14.421 00
- BIBLIA VULGATA - Biblia Sacra luxta Vulgatam Clementinam. Nova
Edito - Colunga - Turrado. 7a. ed. 1985.1.260p Cr$ 7 057 00
- LOS EVANGELIOS APÓCRIFOS - Colección de textos griegos y
latinos, versión crítica, estudios ¡ntrodutóríos y comentarios por Aurelio
S. Otero, 6a. ed. 1988 Cr$ 6.664 00
- PADRES APOLOGETAS GRIEGOS, edición bilingüe completa (S.'ll)
Daniel R. Bueno. BAC. 1979.1010p „ Ct$ 5.244 00
- PADRES APOSTÓLICOS, edición bilingüe completa. Daniel R. Bueno.
5a. ed. BAC. 1985 Cr$ 4 761 00
- TEOLOGÍA DE LA PERFECCIÓN CRISTIANA, Antonio Royo Marín
6a. ed. 1988. 993 p Cr$ 6.926 00
- EL COMPLEJO ANTIRROMANO. Hans Urs Von Balthasar (Integración
del papado en la Iglesia Universal). BAC, 1981. 375p ... Cr$ 3.235 00
- IGLESIA, ECUMENISMO Y POLÍTICA (novos ensayos de eclesiologia)
Card. Joseph Ratzinger. BAC. 1987.305p Cr$ 4.155 00
- TEXTOS EUCARfSTICOS PRIMITIVOS (Edición bilingüe de los conte
nidos en la Sag. Escritura y los Santos Padres, con introducciones y notas
por Jesús Solano, S.l.) Vol. I. Hasta fines del siglo IV, 2a. ed. BAC 1988.
755p. Vol. II Hasta en fin de la época patrística (r. VII-VIII). 2a. ed.
BAC 1989. 1007p. (02 Vols.) Cr$ 9.420,00
- TRATADOS ESPIRITUALES, la victoria de si mismo. Tratado del amor
de Dios. Diálogo sobre la necessidad y provecho de la oración vocal.
Melchor Cano, Domingo de Soto. Juan de La Cruz. BAC. J962
520p Cr$ 2.885.00
- ASI FUE LA IGLESIA PRIMITIVA, vida informativa de los Apostóles.
José A. Sobrinho y Candeal Marcelo C. Martín. BAC. 1986.
445p Cr$ 5.495.00
- CÓDIGO DE DERECHO CANÓNICO, edición bilingüe comentada por
los professores de la Univ. de Salamanca. BAC. 7a. ed. revista. 1986.
945p , . . Cr$ 6.785,00
- NUEVO DERECHO CANÓNICO, MANUAL universitario por Lamberto
de Echeverría, director (Salamanca). BAC 1988.628p. . Cr$ 4.970,00
- LOS PAPAS, retratos y semblanzas (Josef Gelmi) lista de los Papas de
Pedro a Joao Paulo II. 1986,272p Cr$ 5500,00
- SOY CRISTIANO, apuentes para un catecismo del Pueblo por Gonzalo
Girones. Ed. Mari Montanana, Valencia. 1980,485p Cr$ 2.000.00
- TEOLOGÍA MORAL PARA SEGLARES por Antonio Royo Marín, 02
volumes:
Vol. I, Moral fundamental y especial. 7a. ed. 1986. BAC. 990p
Vol. II, Los Sacramentos. 4a. ed. 1984. 750p. (02 vols.) Cr$ 16.700,00
- NUEVO TESTAMENTO TRILINGÜE (espanhol, latim egrego), edición
crítica de José Maria Bover y José O'Callaghan. 2a. ed. BAC. 1988.
1.385p Cr$ 12.367.00

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Precos sujeitos a alteracáo.
Número limitado de exemplares.
RENOVÉ QUANTO ANTES SUA ASSINATURA DE P.R.

1990: Cr$ 800,00/ 1991 :Cr$ 1.000,00

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" ANO 1989:


Encadernado em percalina, 590 págs. com l'ndice de 1989.
(Número limitado de exemplares) Cr$ 2.000,00

NOVIDADES:

1. PERSPECTIVAS DA REGRA DE S. BENTO


Irma Aquinata Bbckmann OSB

Comentario sobre o Prólogo e os capítulos 53, 58, 72, 73 da Regra Bene-


ditina - Traducao do alemáo por D. Mateus Rocha OSB
A Autora é professora no Pontificio Ateneu de Santo Anselmo em Roma
(Monte Aventino). Tem divulgado suas pesquisas nao só na Alemanha, Ita
lia, Franca, Portugal, Espanha, como também nos Estados Unidos, Brasil,
Tanzania, Coréia e Filipinas, por ocasiao de Cursos e Retiros.
364 págs Cr$ 1.500,00

2. COLETÁNEA (Tomo I) - publicacao da Escola Teológica da Congrega-


pao Beneditina do Brasil, organizada por D. Emanuel de Almeida e
D. Matias de Medeiros.

Este livro contém 16 estudos sobre os mais diversos ramos do saber


(Historia, Biblia, Teología Dogmática, Teología Ecuménica, Liturgia, Direito
Canónico, Pedagogía e Literatura). Os temas desta obra tém por autores
varios professores de Teología, entre ex-alunos e admiradores, publicados em
homenagem a D. Estéváo Bettencourt por ocasiáo de seus 70 anos de vida. A
obra apresenta também urna lista completa dos livros e artigos de D. Esté-
vio. - 332 págs Cr$ 1.800,00

3. MAGISTERIO EPISCOPAL (Escritos Pastorais)


de D. Clemente José Carlos Isnard OSB
Bispo Diocesano de Nova Friburgo
Coletánea sobre os mais variados temas vividos durante os seus trinta
anos de vida episcopal.
Volume de 540 págs Cr$ 2.500,00

4. SUMA CONTRA OS GENTÍOS (Livros I e II), de Santo Tomás de Aquí-


no, traducao de D. Odilao Moura, OSB, edicao bilingüe, Formato
30 x 21 - Cr$ 3.000,00

5. PARA ENTENDER O ANTIGOTESTAMENTO, D.Estévao Bettencourt,


4a ed. (Ed. Santuario), 286 págs Cr$ 650,00

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