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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIN.E

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTTAQÁO
DA EDipÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
'£'<?'T ':" visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
¥_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
.. dissipem e a vivencia católica se fortaleca
^ no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
ANO XXXIV

OUTUBRO

1993

to SUMARIO

5 "Tu me seduziste, Senhor...!" (Jr 20,7)


09
Ul Os novos movimentos religiosos
O
"Jesús dentro do judaismo", por James H. Charlesworth
UJ
Ainda os Judeus Messiánicos
O
A privatizacao da fé

Abstinencia de carne: por qué?

Ul A esterilizacao das pessoas deficientes


00
o AIDS e Castidade
a.
a. O bem e o mal: meniqueísmo?
PERGUNTE E RESPONDEREMOS OUTUBRO 1993
Publicado mensal N9 377

Diretor-Responsável o Sumario
Estévao Bettencourt QSB
Autor e Redator de toda a materia "Tu me seduziste, Senhor...!" (Jr20,7).. 433
publicada neste periódico
Sempre na ordem do dia:
Os novos movimentos religiosos 434
Dlretor-Adm ¡nittrador:
D. Hildebrando P. MartinsOSB Aínda a crítica dos Evangelhos:
"Jesús dentro do Judaismo",
Administrecao e distribuicáo: por James H. Charlesworth 446
Edicoes "Lumen Christi"
"Quem dlzem os homens que eu sou?"
Rúa Dom Gerardo. 40 - 5?'andar - sala 501
Ainda os judeus messiánicos 455
Tel.: (021) 291-7122
Fax (021) 263-5679 Tendencia forte:
A privatizacao da fé 462
Endereco para correspondencia: Surpresa?
Ed. "Lumen Christi" Abstinencia de carne: Porqué? 467
Caixa Postal 2666
Discute-se:
Cep 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ
A esterilizacao das pessoas deficientes . . 471
Impressao e Encadernapao
De grande atualidade:
AIDS e Castidade 476

Será?
O bem e o mal: Maniqueísmo? 480
"MARQUES SARAIVA ~
GRÁFICOS E EDITORES S.A.
re/t: (021) 273-9493 / 273-9447

NO PRÓXIMO NÚMERO:
Sudario de Turim: rejeitado o teste do Carbono 14. — "Jesús, Precursor e Anun
ciador da Nova Era" (L. Trevisan). - "Nem Bateados nem Casamentos...". - Os
Anticoncepcionais e a Ameaca de Estupro. — Manipulacao da Vida Humana. —
"Santo Antonio de Categeró": quem era? — O Neocatecumenato. — Um teste-
munho significativo.

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA


ASSINATURA ANUAL (12 números) CR$ 1.000,00 - n? avulso ou atrasado CR$ 100,00

. O pagamento podará ser á sua escolha:.

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verso: "VÁLIDO SOMENTE PARA DEPÓSITO na contado favorecido" e, onde consta
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2. Depósito no BANCO DO BRASIL, Ag.0435-9 Rio C/C0031-304-1 do Mosteiro deS. Ben


to do Rio de Janeiro, enviando a seguir xerox da guia de depósito para nosso controle.
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Sendo novo Assinante, é favor enviar carta com nome e endereco legfveis.
Sendo renovacao, anotar no VP nome e endereco em que está recebendo a Revista.
"TU ME SEDUZISTE, SENHOR. . . !"

UNISANTOS . FAFIS <Jr20,7)


BIBLIOTECA
Esta exclamapao ousada do Profeta Jeremías brotava do coracSo de
alguém que fora chamado por Deus a f¡m de anunciar a sua Santa Palavra a um
povo incrédulo. No desempenho desta missSo, Jeremías fo¡ aprisionado e
¡aneado numa cisterna para morrer (cf. Jr 37,11-38,13); após muito pade
cer, desabafava-se junto ao Senhor, como quem se queixa de haver sido lu-
dibriado ou chamado para urna tarefa que ele nao imaginava tao ingrata.
Apesar de tudo, Jeremías permaneceu fiel a Deus até o fim de sua vida.
O caso de Jeremías é, porassim dizer, um paradigma da sorté que toca
a todos aqueles que desejam firmemente seguir a Deuse tomar-se arautos
de sua mensagem de salvacao. Haverá sempre que enfrentar resistencia e
incredulidade, pois o plano de Deus é mais sabio do que a sabedoria dos
homens e, por isto, nSo cabe dentro da mente de quem o quer julgar se
gundo categorías meramente naturais.
No Novo Testamento a loucura e o escándalo do designio de Deus se
concretizaram na Cruz de Cristo, feita árvore da Vida. Entre os grandes
mensageiros da Palavra de Cristo, destaca-se o Apostólo Sao Paulo. Chama
do por Deus para anunciar a Boa-Nova, sofreu longa serie de provacoes,
que o próprio Paulo enumera em 2Cor 11, 23-27: "Muítas vezes vi-me
em perigo de morte. Dos judeus recebi cinco vezes os quarenta golpes me
nos um. Tres vezes fui flagelado. Urna vez apedrejado. Tres vezes naufra-
guei. Passei um dia e urna noite em alto-mar. Sofri perigos nos ríos, perigos
por parte dos ladroes, perigos por parte dos meus ¡rmaos de estirpe, peri
gos por parte dos gentios... Mais ainda: fadigas e duros trabalhos, numero
sas vigilias, fome e sede, múltiplos jejuns, frío e nudez!". — Apesar de tu
do, o Apostólo, fazendo um retrospecto, escrevia no fim de sua vida: "Sei
em quem acredítei" (2Tm 1,12). Sim; Paulo sabia que nSo colocara a sua
fé num mero homem nem numa faccao humana, mas a entregara a Cristo,
que nao havia de o decepcionar. Por ¡sto, em meio as suas múltiplas dores,
podia afirmar: "Estou cheío de consolo, transbordo de alegría em todas as
nossas tribulacdes" (2Cor7,4).
"Sei em quem acreditei..."; eis a fórmula crista que dissipa a reacao
espontánea do Profeta: "Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzír".
Ora ser cristao implica entrar na linhagem dos grandes amigos de
Deus, que se deixam seduzir pela Boa-Nova. Esta seduz, porque é bela e
profunda, mas será sempre exigente,... exigente porque tudo o que é gran
de e nobre vem a ser um desafio. E é este desafio que o S. Padre Joao
Paulo II langa a todos os fiéis, ao proclamar de modo insistente em nossos
diasa NOVA EVANGELIZAgAO...
"Sentí no meu coracao um fogo abrasador... Esforcéí-me por conté-
lo, mas nao o conseguí" (Jr 20,9).
E.B.

433
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
ANO XXXIV -- N? 377 - Outubro de 1993

Sempre na ordem do dia:

OS NOVOS MOVÍMENTOS RELIGIOSOS

Em síntese: Os Novos Movimentos Religiosos vém-se expandindo de


modo a provocar seria reflexSo da hierarqüia e dos leigos católicos. Entre
as causas de sua difusao, registrase a enorme carencia de solucoes para os
problemas de nosso tempo, carencia que, em desespero de causa, leva a
aceitar propostas irracionais, mágicas, falsamente niveladas. Registrase
outrossim o vazio deixado nos fiéis cató/icos por urna pastoral excessiva-
mente voltada para questdes sócio-pol(ticas e económicas.

Se, de um lado, o crescimento dos Novos Movimentos Religiosos im-


pressiona, de outro lado nao se pode esquecer que traz em seu bojo pontos
muito vulneráveis, que podem ser fatores de seu próximo dec/inio: assim a
manipulacSo da pessoa humana, o desrespeito á inteligencia e á verdade, o
fanatismo, que tem suscitado crimes e processos ¡udiciários contra esses
Movimentos...

Da parte da Igreja Católica, requerse urna revisSo de sua pastoral:


mais intensa e precisa catequese para todas as ¡dades, com énfase nos pon
tos controvertidos pelos nSo-católicos, a revitalizacao do comportamento
de certos setores do Catolicismo atetados pelo secularismo, a renovacao
das paróquias, que se devem tornar mais aconchegantes e fraternas, cele
brando urna Liturgia viva e participada (que nSo perca o seu caráter hie-
rático ou sagrado).

* * *

É sempre — ou cada vez mais — atual o tema das seitas ou, melhor,
dos Novos Movimentos Religiososo (NMR) que invadem as populacdes da
América Latina e, em particular, do Brasil. Embora as estatfsticas sejam di-
f icéis, visto que há pessoas de posicao religiosa ambi'gua, diz-se que anual-

434
OS NOVOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS

mente 600.000 católicos se passam para os novos movimentos religiosos


no Brasil. Com relacáo á América Latina, o Cardeal Obando y Bravo, da
Nicaragua, observava no Consistorio Extraordinario convocado pelo Papa
para examinar o fenómeno das seitas: "Em 1900, contavam-se 50.000 per-
tencentes a denominacoes nSo católicas; em 1967, eram 4.000.000; em
1974, 8.000.000, e em 1985 30.000.000". Podemos dizer que em nossos
dias a cifra aínda é bem maior.

0 ritmo de progresso numérico das seitas mostra que nao se trata de


um fenómeno passageiro, mas, sim, de algo que tende a se expandir e a se
arraigar, pois 1) se formam familias nSo-católicas, onde a fé católica já
nao é transmitida aos filhos; 2) os adultos que aderem a determinada seita,
sSo doutrinados tao preconceituosamente contra a Igreja Católica que difí
cilmente voltam para ela; nao raro ficam desorientados e vagos em materia
de religiao e nao recuperam a fé e o fervor que possam ter tido em seus
anos de juventude católica.

Consideremos de perto algumas facetas da grave problemática que as-


sim se poe. O assunto já foi abordado em PR 309/1988, pp. 67-77; 325/
1989, pp. 278-283; 364/1992, pp. 386-397. Procuraremos abordá-lo acres-
centando novos dados ao que já foi dito.

Antes do mais, impoe-se a procura das causas do fenómeno.

1. AS CAUSAS DA DIFUSAO DOS NMR

Distingamos causas externas, ou seja, de fora da Igreja Católica, e


causas internas, isto é, deficiencias da aca"o pastoral da Igreja Católica.

1.1. Causas externas

1) Verificase que o homem de nossos dias é profundamente carente:

a) carente de bens materiais — o que o torna sujeito á fome, á doen-


ca, á migracao, á baixa escolarizacao, ao subemprego ou ao desemprego...;

b) carente de bens espirituais: sentido da vida (por que ou para que


vh/er), instrucSo religiosa, experiencia de Deus...

Isto tudo torna as pessoas angustiadas e inseguras. A situapá'o se agra


va pelo fato de que há muitos lares destruidos: casáis separados ou mal ca
sados, filhos que abandonan) o lar, migrantes deslocados do seu ambiente
familiar... Estes dados geram terrfvel sentimento de solidao e a expectativa
de urna mao amiga que socorra a quem precisa.

435
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

Ora a esse quadro respondem os NMR. Pregam, numa palavra, a "sal-


vagao", "salvacao" que, antes do mais, toma aspectos emotivos, talando
ao coracao, acompanhados de mensagem "maravilhosa". Com efeito; os
NMR oferecem respostas que pretendem desvendar o futuro e profetizar
em nome de Deus ou resolver problemas de todo e qualquer tipo. Isto sa
tisfaz profundamente a todo ser humano pouco crítico, na medida em que
é desejoso de conhecer coisas ocultas, desvendar mistéríos, aprender o que
há de acontecer... ou resolver o que há de insolúvel:

2) Os NMR oferecem outrossim aos nossos contemporáneos

— calor humano em comunidades pequeñas, coesas, ñas quais cada in


dividuo é atendido, valorizado — o que dá a impressao de protecao, segu
ranza e recuperacá*o ás pessoas marginalizadas (como sao os divorciados, os
migrantes, os filhos fora do lar, a gente desempregada...);

— respostas simples e "sob medida" para problemas e situacSes com


plicadas;

— solucSes "milagrosas", como curas, empregos, éxito na vida... a


pessoas que tentaram os meios convencionais para atender ás suas dificul-
dades, mas nada conseguiram; estáo cansadas de lutar, desanimadas, pres
tes, por isto, a aceitar qualquer perspectiva nova de so lucio, ainda que má
gica (ou talvez porque mágica). Tais pessoas estao pouco inclinadas a ra
ciocinar ou a examinar criticamente o que Ihes é proposto, porque a emo-
tividade e o nervosismo superam o uso da razao;

— mensagem doutrinária proveniente de novas "revelacSes" do Alto,


mesclada a fenómenos extraordinarios (glossolalia, "profecias", transes...).
0 respectivo gurú, pastor ou mestre é tido como "pessoa carísmática", ca
paz de realizar prodigios. Nao cultiva alta intelectualidade, mas exerce cer-
to fasci'nio natural. Este fascínio confere-lhe grande autorid ade; há preci
samente pessoas que necessitam de ser comandadas imperiosamente, por
que sao indecisas, e ná*o querem assumir a responsabilidade de seus atos;

— apavoramento diante de pretensas intervenpoes do demonio e pos-


sessao diabólica, das quais os dirigentes da seita dizem ter o poder de livrar
as vítimas. A expl¡cacao de males e desgracas a partir de ¡nfestacao do de
monio é frequeme e impressiona os pacientes (estes, muitas vezes sao ateta
dos por doencas nervosas crónicas e feias; já que a medicina nao os pode
curar, torna-se-lhes fácil crer que o exorcismo afastará o pretenso demonio
provocador da praga);1

1 Ao dizer isto, nao tencionamos negar nem a existencia nem a acao do


demonio no mundo. Apenas nos referimos á falsa tendencia de explicar
todas as desgracas como efeitosda acao ou infestacáo direta do Maligno.

436
OS NO VOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS

— promessa de urna nova fase da historia, que deverá seguir-se a urna


próxima catástrofe mundial. A humanidade será renovada, o mundo será
melhor. Essa "visao nova" (embora proposta sem fundamentacáo) atrai
fortemente o público abatido pela perplexidade e a desorientacao incuti-
das pela presente fase da historia;

— culto impregnado de apelos as emocóes e aos sentimentos, culto


em que a espontaneidade de cada participante se pode exercercom liber-
dade. Culto no decorrer do qual milagres ou transformacSes sao aguarda
dos. Nao se requer muito catecismo para entendé-lo ou tomar parte nele,
pois nesses NMR ocorre certo antiintelectualismo. A sugestao, consciente
ou inconscientemente incutida nessa sessoes de culto, despena certa eufo
ria, que leva as pessoas a superar vicios arraigados, como o alcoolismo e o
uso de drogas;

— intenso proselitismo, alimentado pela conviccao de que o mundo


está sob a acSo do Maligno e o fim dostempos se aproxima ameacador.

1.2. Causas internas

1) Antes do mais, registrase a insuficiente instrucao religiosa do povo


católico - o que o toma indefeso diante do proselitismo dos NMR. Existe
vivo senso religioso na populacSo do Brasil, mas desvinculado do estudo
ou do aprofundamento das verdades da fé. Isto é terreno fértil para o sin
cretismo, o ecleticismo e a própria apostasia religiosa.

2) O número de clérigos e de agentes de pastoral bem preparados é


insuficiente para formar o povo católico. A popula?ao do país vai crescen
do, mas nao cresce proporcionalmente o número de sacerdotes e catequis
tas.

3) A excessiva preocupacao com os problemas sócio-econdmico-polí-


ticos na pregacao tem afastado muita gente da I groja Católica, levando os
fiéis a procurar pequeños grupos que falem calorosamente (embora com
pouca profundidade) de Deus Pai, de Jesús Cristo, do Espirito Santo e de
seusdons...

4) o culto católico é, ás vezes, celebrado sem que se levem em conta


as possibilidades de participacSb dos leigos. Estes se sentem passivos, "anó
nimos", perdidos na massa de urna grande assembléia. Este ponto é nevrál-
gico, pois é certo que o culto n§o pode perder o seu caráter hierático,
reverente a Deus e, por isto, disciplinado e regrado; mas também é certo
que é o culto prestado por toda a assembléia ou todo o povo de Deus pre
sente, de modo que cada um se sinta envolvido por aquilo que é dito e fei-
to na Liturgia sagrada.

437
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

5) O ecumenismo ou diálogo entre irmSos separados nem sempre tem


sido adequadamente cultivado. Nao raro se tem caído no relativismo reli
gioso ou em concessoes indevidas, que traem a fé católica. Na verdade, é
sempre mais fácil ceder ao protestantismo ou a uma nova corrente religio
sa do que ser fiel ao Catolicismo, pois este é mais exigente, ao passo que
as novas propostas religiosas sao dadas ao subjetivismo, ao sentimento, ao
livre exame da Biblia e dos valores religiosos.

2. PROSPECTIVAS

Perguntamos agora: quais as conseqüéncias e os possíveis prognósti


cos que o quadro descrito nos aponta?

2.1. Diálogo?

O diálogo ou a troca de idéias com os membros dos novos grupos reli


giosos é, muitas vezes, impraticável, pois eles o recusam. E isto pordois
motivos: 1) em geral, nutrem preconceitos ou mesmo odio em relacSo á
Igreja Católica, que eles caluniam e agridem nao raro sem saber justificar
o que estao dizendo; 2) receiam nao estar á altura de um debate religioso
ou teológico, visto que pouco se dao ao aprofundamento doutrinário. Os
respectivos pastores ou ministros recebem formacao sumaria; muito enfati-
zam as emocoes com detrimento da lógica. Por conseguinte, há pouca ou
nula esperanga de que, por vias racionáis, se consiga conter o avango dos
NMR. Resta, pois, praticar a norma deixada por S. Agostinho: "Odi erro
res, ama errantes (Detesta o erro, ama aqueles que estao no erro)". Esse
amor aos irmSos concretizar-se-á na oracá*o por eles e no testemunho de
vida auténticamente crista da parte dos católicos. Onde a emoc§o prima
sobre o raciocinio, o brilho de um comportamento coerente e corajosa
mente fiel a Cristo e su a Igreja há de impressionar.

2.2. Aspectos frágeis

As estatfsticas, de modo geral, apontam crescimento constante dos


NMR, com prognósticos sombríos para o futuro do Catolicismo na Améri
ca Latina ("o continente da esperanca", como dizem). Realmente há moti
vos de serias preocupares a propósito. Todavia nao se podem esquecer os
aspectos frágeis do fenómeno, aspectos que provavelmente servirlo de di
que ao avanco das seitas. Eis o que se pode registrar:

2.2.1. Fanatismo mais ou menos cegó

É certo que varios dos NMR sa*o impulsionados por atitudes patológi
cas: assim, uma excitacao fanática, cega... doentia,... excitacao provocada

438
OS NOVOS MOVIMIENTOS RELIGIOSOS

e alimentada por meios ambiguos, práticas rituais e sermfies que chegam as


raías da morbidez. Nao sa*o raros os casos de crimes cometidos no ámbito
dos NMR em nome das respectivas crencas. Em parte, tais fatos se compre-
endem a partir da premissa de que mu ¡tas das pessoas que vao procurar os
NMR sao pessoas cansadas, desanimadas, decepcionadas pelos meios de so-
lucao convencionais ou racionáis; a crise mental 6 exacerbada pelas propo
sites, nao raro, aterradoras dos dirigentes das seitas.

Há também quem julgue que o processo de iniciacao em alguns dos


NMR equivale a urna "lavagem de cránio": a pessoa é programada para se
comportar e falar de tal ou tal maneira, de modo que deverá ser deprogra-
mada caso venha a deixar o respectivo grupo. — Se nSo chega a tanto, a
iniciacao tende a submeter cada vez mais a pessoa á autoridade do mestre
ou pastor "esclarecido", sem deixar margem a senso crítico e a objecSes.
— Óigase, alias, mais urna vez: muitosdosque aderem a um NMR querem
precisamente ser dirigidos por urna autoridade absoluta, tida como "caris-
mática", porque sa"o inseguros e frustrados pela inclemencia da vida.

Tal estado de coisas é perigoso tanto para os individuos como para a


sociedade. Por isto também correm processos perante tribunais civis con
tra a conduta de determinados grupos religiosos. Alguns Governos da Eu
ropa e o próprio Parlamento Eüropeu resolve ram tomar medidas coibiti-
vas; segue-se urna noticia colhida no periódico La Documentation Catno li
gue n? 1878, de 15/06/1984, p. 764:

"O Parlamento Europeu, aos 22 de maio de 1984, adotou um 'Códi


go de Conduta Comunitaria' frente as seitas na Comunidade Económica
Européia (CEE); após longos debates, 98 votos foram favoráveis ao texto,
28 contrarios, ao passo que 26 votantes se abstiveram.

A assembléia modificou levemente o Parecer apresentado sobre o as-


sunto pelo parlamentar conservador británico Richard Cottrell.

Entre outras coisas, foi trocado o respectivo título a fim de denegar


todo caráter auténticamente religioso ás seitas. Já nao se fala de 'Novos
Movimentos Religiosos', mas de "Novas Organizacóes que atuam sob a
Cobertura da Liberdade Religiosa'. Esta troca de título tinha por objetivo
tranquilizar as comunidades protestantes receosas de que se viesse a com-
bater a liberdade de consciéncia.

O Parlamento convida o Conselho dos Ministros do Interior e da Jus-


tica da Comunidade a efetuar um 'intercambio de informacoes' sobre as
seitas e as suas 'ramificacoes internacionais', a resolver 'eventuais proble
mas' por elas causados, na base dos principios seguintes:

439
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

- jovens de menor idade nao poderlo ser obrigados a pronunciar 'vo


tos definitivos';

- qualquer compromisso 'financeiro ou pessoal' só poderá ser assu-


mido após 'um período de reflexao suficiente';

- após a adesao, a familia e os amigos deverao poder entrar em con


tato com o novo membro; a estes se transmitiráo os chamados telefónicos;

- todo cidadao gozará do direito de 'deixar livremente qualquer or-


ganizacáV e de consultar livremente um médico ou urna pessoa indepen-
dente;

- nao será lícito impor a quem quer que seja, 'a mendicáncia ou a
prostituicao', a título de angariar fundos.

Mais: a Comissao deverá fazer um elenco de dados relativos ás per-


quisicoes judiciárias eventualmente em curso contra as seitas.

Do seu lado, a Federacao Protestante de Franca escreveu em feve-


reiro de 1984 aos Deputados Europeus, solicitando-lhes que votassem con
tra o projeto Cottrell. Em abril do mesmo ano, o Conselho Británico
das Igrejas escreveu-lhes no mesmo sentido. A aversao dos protestantes
assim se explica: a liberdade religiosa é indivisível: torna-se difícil tracar
clara linha divisoria entre serta e Igreja; o aparato legislativo na Europa
é suficiente para reprimir os delitos".

Neste texto destacamos:

- a troca do título "Novos Movimentos Religiosos" por "Novas Or-


ganizacoes que atuam sob a Cobertura da Liberdade Religiosa". Esta mu-
danca visa a denegar todo significado auténticamente religioso ás seitas;
estas deturpam ou manipulam, muitasvezes, os valores religiosos;

- a recusa dos protestantes, que talvez se deva ao fato de que varias


das novas organizares sao oriundas do protestantismo e se dizem filiadas
a este.

Pode-se crer que, na medida em que o público tomar consciéncia dos


abusos ocorrentes ñas novas organizares, o número de candidatos ás mes-
mas irádiminuindo.

2.2.2. Desrespeito á Verdade

Outro aspecto vulnerável das Novas Organizares (NO) é o seu cara-


ter mais emotivo do que racional. A emocáo nao pode sustentar longas ca-

440
OS NOVOS MOVIMIENTOS RELIGIOSOS

minhadas, pois cedo ou tarde o homem sadio senté necessidade de dar


contas a si mesmo das suas opcSes e da sua escala de valores. Ademáis veri-
fica-se que as NO interpretam as Escrituras a seu,talante, nao raro desfigu
rando-as — o que Ihes tira toda legitimidade intelectual. Isto explica por
que, entre os membros das NO, nao se encentra algum intelectual de valor.
— Tal fato deve, aos poucos, ir limitando a propagacao das NO, pois todo
movimentó histórico se difunde na base e na proporcá'o da verdade que ele
contém e apregoa. Cedo ou tarde toda mistificacao vem á tona e provoca
o repudio da sociedade.

2.2.3. Vida Curta

Chama-nos a atencao o grande número e a crescente proliferacao das


seitas. A historia, porém, ensina que as seitas nao tém vida longa. Apare
ce m e desaparecem, ao longo dos tempos, como insetos muito prolíferos
que duram apenas alguns dias ou algumas horas.

Também efémera é a passagem de mu ¡tas pessoas pelas NO; entram


nesses grupos e deles saem com relativa fácilidade; acontece, porém, que,
ao entrarem, suscitam comentarios e impressionam parentes e amigos, ao
passo que, ao sairern, ninguém diz coisa alguma, porque nao raro sedesli-
gam aos poucos. Isto faz crer que há um aumento numérico continuo em
favor das seitas; estas parecem estar dominando o cenário.

Eis alguns fatores que atenuam a "pujanea" dos Novos Movimentos e


levam a prever um enfraquecimento de sua vitalidade. Como quer que seja,
a confianca e o zelo apostólico dos católicos nao se baseiam nos aspectos
vulneráveis das seitas, mas, sim, na palavrado Senhor Jesús, que prometeu
estar com os discípulos todos os dias até o fim dos tempos (cf. Mt 28,18-
20).

Impoe-se agora a questao:

3. QUE FAZER?

Sem dúvida, a situacáo descrita é um desafio para a Igreja, que se sen-


te obrigada a rever sua acao pastoral. Tais sao os pontos que parecem mais
urgentes:

3.1. Catequese

Diz o Papa Paulo VI:

"Mis ouvimos, no final da grande Assembléia de outubro de 1974,


estas luminosas palavras: 'Queremos confirmar, urna vez mais aínda, que

441
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

a tarefa de evangelizar todos os homens constituí a missao essencial da


Igreja'; tarefa e missao, que as ampias e profundas mudanzas da socieda-
de atual tornam ainda mais urgentes. Evangelizar constituí, de fato, a graga
e a vocagao própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe
para evangelizar, ou se/a, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da gra
pa, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o sacrificio de Cristo na
Santa Missa, que é o memorial da sua Morte e gloriosa Ressurreígao"
(Exortagao Apostólica Evangelii Nuntiandin? 14).

Essa tarefa palmar da Igreja se toma mais urgente e exigente em nos-


sos dias, quando se verifica tao débil conhecimentó das verdades da fé en
tre os próprios fiéis católicos. A ¡nstrucao religiosa deve atingir todas as
idades desde a infancia até a maturidade; há de propor nao somente urna
clara explanacao dos artigos da fé, mas também a resposta ás objecoes que
nao-católicos fazem aos católicos. A Apologética, um tanto preterida nos
últimos anos, impSe-se como tarefa importante, pois muitos católicos nao
sabem o que dizer quando sao acusados de adorar imagens, de idolatrar
María SS., de alterar o texto bíblico, etc. — Esta nova catequese deve ser-
vir-se copiosamente do texto bíblico, como alias deseja o Concilio do Va
ticano 11:

"A catequese há de haurir sempre o seu conteúdo na fonte viva da


Palavra de Deus, transmitida na TradígSo e na Escritura, porque a Sagra
da Tradigao e a Sagrada Escritura constituem um só depósito invioiávei
da Palavra de Deus, confiado á Igreja, como o recordou o Concilio do Va
ticano II, desejando que o ministerio da palavra, que compreende a prega-
gao pastoral, a catequese, e toda especie de instrucSo crista... com proveí-
to se alimente e sanamente se revigore com a mesma palavra da Escritura"
(Joao Paulo II, A Catequese Hoje, n? 27, citando a ConstituicSo Dei
Verbum n°s 10 e 24, do Concilio do Vaticano II).

É também para desejar que a Igreja penetre mais e mais nos meiosde
comunicacao social; cf. PR 364/1992, pp. 398-409.

3.2. Coeréncia de comportamento

"As palavras voam, os exemplos arrastam", diz-se popularmente.


Nesta época de antíintelectualismo religioso, toma-se particularmente per
suasivo (ou dissuasivo) o tipo de vida que os católicos levam. Requer-se
fidelidade a Cristo, como Ele se apresenta na Igreja por Ele fundada (cf.
Mt 16, 16-19) e governada pelo sucessor de Pedro; a adesio ao magisterio
e ás orientacñes do Papa é de valor capital para ilustrar a coesao e a unida-
de da Igreja. Em nossos dias, fala-se da "privatizacao da religiao", inclusive
entre católicos; há aqueles que créem em Cristo, mas nao freqüentam a

442
OS NOVOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS U_

Igreja, nem participam da sua vida, por motivos individualistas e subjeti


vos, que sao mortíferos para a vida espiritual do cristao.

3.3. "NáV'aoSecularismo

O Catolicismo se debilita pela infiltradlo de concepcSes secularistas,


que tendem a reduzi-lo a um sistema de atendimento ao homem com o
apagamento do nome de Deus. O transcendental estaría incluido no imá
nente (paradoxo!) e nao precisaría de ser explicitado. É claro que tal men-
talidade é apta a desfigurar o Catolicismo e tirar-lhe a identidade. Os valo
res religiosos, a cosmovisao de fé, as expressSes do Cristianismo hao de ser
constantemente sustentadas pelos fiéis, sob perigo de trair o Cristo e o
Evangelho. Numa sociedade pluralista como a nossa, o transcendental po
de e deve ser nítidamente proclamado.

3.4. As Paróquias

As paróquias sao as células-chaves necessárias da Igreja. Verifica-se,


porém, que, com o aumento demográfico, a escassez do clero e o insufi
ciente comprometimento dos leigos, o estilo da paróquía tradicional já
nao é bastante para atender aos fiéis, em mu ¡tos lugares. A revitalizacáo
da paróquia se torna indispensável. é para desejar que se torne urna comu-
nidade de comunidades, contendo dentro de si núcleos menores, nos
quais as pessoas se sintam acolhídas fraternalmente, rezem juntas, partid-
pem da Eucaristía sempre que possível, e vivam a fraternidade crista. Os
NMR dao grande importancia a vida comunitaria e fraterna; é isto que
atrai muitos fiéis, que nao encontram a ocasiao de participar de urna vida
mais fraterna ñas paróquias tradicionais.

3.5. A Liturgia

O anseio de participar tende a se exercer muito especialmente ñas ce-


lebracóes litúrgicas. Daí a conveniencia de urna revisao do nosso modo de
celebrar; seja tao aberto aos fiéis leigos quanto o permitem as rubricas
(nao mais, porém, do que isto). é oportuno que os fiéis católicos sejam
instruidos a respeito do significado dos gestos e símbolos da Eucaristía, do
Batismo, dos Sacramentos e sacramentáis em geral. Orem em comum, cele
brando, na medida do possível, a Liturgia das Horas, muito rica em textos
bíblicos, cantos e silencio contemplativo.

Sao estas algumas sugestSes que podem contribuir para responder ao


premente desafio das seitas. Em cada regiao toma rao suas características
próprias.

443
_12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

Concluiremos acrescentando

4. A PALAVRA DO PAPA

A Santa Sé e os Bispos de países atetados pelas seitas (também os de


outros continentes o sao) tém-se dedicado á consideracao do assunto, va-
lendo-se do subsidio de peritos diversos.

O Papa Joao Paulo II tem-se mostrado particularmente interessado


pelos tatos, tendo em vista especialmente o continente latino-americano.

Assim a um grupo de Bispos do Perú em visita ad limina, no ano de


1988, dizia:

"Verifico que, nos diversos países da América Latina, o problema


n9 1 é, sempre mais, o problema das seitas...

Este assunto deve constituir um motivo suplementar de zelo pastoral,


que nos leve a organizar e por em prática urna acáo evangelizados, para a
qual precisamos de agentes de Pastoral devidamente formados e impregna
dos de grande espirito apostólico".

0 Santo Padre insiste na necessidade de urna catequese renovada e


mais penetrante, a fim de consolidar a té dos tiéis católicos, tao exposta
as invectivas de pregadores de tora:

A Catequese deverá ser "um objeto prioritario nos planos orgánicos


da Pastoral voltada para o futuro" (Aos Bispos de El Salvador em 1984).

Aos Bispos do México em 1982 dizia o Pontífice:

"A formacao crista mediante a catequese levará a urna participacSo


mais ativa na vida litúrgica e sacramental da Igre/'a. Assim o povo simples
encontrará na Liturgia e na piedade popular motivacdes para dar contas de
sua fé. Desta maneira a atividade proselitista das seitas poderá encontrar
um freio que contenha as ambigúidades e as confusdes que elas dissemi-
nam" (Discurso em Veracnjz).

0 Papa lancou outrossim um apelo ao povo mexicano, valendo-se do


amor desse povo á Virgem de Guadalupe, e levando em consideracao espe
cial aqueles que se deixaram atrair pelas seitas:

"Quisera encontrar-vos um por um para dizer-vos: 'Voltai ao seio da


Igreja, nossa Mae\ A Virgem de Guadalupe... nao vos pode engañar. Ela

444
OS NOVOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS

sempre esteve ao vosso lado, em todas as circunstancias da vossa vida; e


ela vos escutou em todas as vossas necessidades. Talvez, como aconteceu
a Juan Diego, preocupacoes espirítuais e materiais vos tenham levado a
furtar-vos a um encontró com a Santíssima Virgem e a vos afastar déla.
Talvez tenhais ju/gadó também que, para atingir o bem-estar económico,
era preciso deixar de lado a fé católica. A estes motivos poder-se-iam
acrescentar outros muitos, como o de vos sentirdes mais acolhidos num
pequeño grupo de pessoas que se conhecem mutuamente e que se ajudam
urnas ás outras. Por isto eu vos convido calorosamente a considerar isso
tudo diante da Virgem de Guadalupe. E a sentir que, como e/a fez em
favor de Juan Diego, ela vos a/udará em todas as vossas solicitudes e an
gustias, dizendo-vos hoje mais urna vez: 'Nao estou aqui eu, tua Mae?'.
Por conseguinte, voltai sem medo\ A Igreja vos espera de bracos abertos,
para que encontréis de novo o Cristo. Nada alegraría tanto o coracio do
Papa, durante esta viagem pastoral ao México, do que o retorno, á Igreja,
de todos os que se afastaram".

Nao faltam, pois, incentivos a urna tomada de posicá"o coerente dian


te do fenómeno dos NMR. Possam os "sinais do tempo" calar fundo no
ánimo da hierarquia e do laicato católicos, provocando a esperada res-
posta!

• * *

Unidade na Pluralidade, por Alfonso Garci'a Rubio. - Ed. Paulinas, Sao Paulo
1989,135x210 mm, 578 pp.

O subtítulo do livro soa "O ser humano á luz da fé e da reflexao cristas". A obra
vem a ser um tratado de Antropología Teológica, que abrange diversos aspectos da te
mática, de maneira erudita e profunda, numa perspectiva quase enciclopédica. O autor
cita as teorías existentes sobre os varios pontos do tratado, ás vezes de maneira tal que
o leitor difícilmente consegue depreender a posicao finalmente adotada pelo Pe. Gar
cía. Pode-se dízer, porém, que, embora exponha muitas sentencas nem sempre ortodo
xas, o autor guarda a reta doutrina de pontaaponta em seu livro. Os dois segmentos
nevrálgicos do tratado de Antropología Teológica sfo: o da constituicao psicossomática
do homem (corpo e alma distinguenvse entre si?) e o do pecado original. No tocante
ao primeiro, o autor combate veementemente o dualismo (a materia seria má, e o espi
rito bom), mas defende a dualidade (a materia e o espirito se diferenciam um do outro,
mas sem antagonismo ontológico); "nao é lícito passar do dualismo ético para o dualis
mo metafísíco" (p. 90); por conseguinte, a ressurreicao dos seres humanos em geral se
dará no fim dos tempos como ensina a Escritura (cf. Jo 60,40; 1Cor 15,22s; 1Ts 4,
15-17), e nao logo após a morte do individuo.

Quanto ao pecado original, o autor disserta longamente sobre o assunto; mas


conserva os elementos ensinados pelo magisterio da Igreja: elevacao dos primeiros pais

(Continua na pág. 454)

445
Ainda a crítica dos Evangelhos:

"JESÚS DENTRO DO JUDAISMO'

por James H. Charlesworth

Em sintese: James H. Charlesworth, pesquisador protestante, prescin


de da fé e procura entender os Evangelhos e a figura de Jesús a partir
de documentos e monumentos do judaismo. 0 livro levanta hipóteses e
cita sentencas de autores diversos, sem chegar, por vezes, a unta conclusSo.
Contudo o resultado do confronto de Jesús com os testemunhos do
judaismo é, de modo geral, favorável a clássica imagem que se tem de Je
sús; o autor afirma mais de urna vez essa concordancia, e poderia fazé-lo
com mais freqüéncia no decorrer da sua obra, se nSo fosse tao dependente
de preconceitos racionalistas.

James H. Charlesworth é professor do Princeton Theological Semi-


nary da Universidade de Princeton. Escreve mais um livro sobre Jesús,
abstraindo da fé e dedicando-se únicamente á considerado de documentos
que possam esclarecer a pessoa e a obra de Jesús Cristo no plano mera
mente humano1. É assim urna obra que se justapoe á de Johm P. Meier,
já analisada em PR 376/1993, pp. 406420. Ambas préscindem da fé
e procuram o chamado "Jesús real" atravós dos elementos fo meci
dos pela literatura antiga extra-bíblica e pela arqueología. Sao livros que
R. Pompeu de Toledo citou no seu famoso artigo sobre Jesús em VEJA
de 23/12/1992, pp. 48-59, como se fossem revolucionarios ou aptos a
desfazer a clássica imagem de Jesús; na verdade, trata-se de colecSes de
sentencas hipotéticas, que em parte destroem urnas as outras, tentando
fugir do Jesús do Cristianismo. Como se verá, o livro de James H. Charles
worth (como o de John P. Meier) é interessante pela documentacáfo que

1 James H. Charlesworth, Jesús dentro do Judaismo. TraducSo do origi


nal inglés Jesús within Judaism, por Henríque deAraujo Mesquita. /mago
Editora, Rio de Janeiro 1992 (2a. edicao), 155 x 210 mm, 267 pp.

446
"JESÚS DENTRO DO JUDAISMO" 1S

cita, mas pouco diz de novo que exija a aceítacSo de um pesquisador


sincero.

Examinemos, pois, o conteúdo de tal obra.

1. CONSIDERACOES GERAIS

Charlesworth anuncia no subtítulo de seu livro: "Novas Revelacoes


a partir de Estimulantes Descobertas Arqueológicas". O sumario do livro
apresenta os documentos que contém as "novas revelacoes": 1) os Pseudo-
epígrafos (apócrifos) do Velho Testamento (cap. 2); os Manuscritos do
Mar Morto (cap. 3); 3) os Códices de Nag Hammadi e Flávio José (cap. 4);
4) a Arqueología da Palestina (cap. 5). O último capítulo (cap. 6) do livro
tem por título: "O cortee¡to que Jesús tinha de Deus e sua Autocompre-
ens3o".

Além destes estudos, Charlesworth esbopa o rumo das pesquisas so


bre o Jesús histórico nos anos de oitenta (pp. 27-44 e pp. 201-218).

Pode-se dizer que as "revelacSes" aduzidas nada tém de propriamente


novo. O autor se detém sobre trechos'de manuscritos amigos (judeus e ná"o
judeus) e cita os mais diversos comentarios de estudiosos que véem ou
nao véem pontos de contato entre esses textos e os dizeres dos Evangelhos
canónicos; o leitor é colocado diante de longos e cansativos "vai-e-vem"
do arrazoado de Charlesworth, que passa de algumas sentencas ás suas an-
títeses e geralmente concluí em termos favoráveis á autenticidade ou ere-
dibilidade do texto do Evangelho.

Assim o livro de Charlesworth pouco tem do sensacionalismo ou da


índole revolucionaria que Pompeu de Toledo e outros escritores mal infor
mados Ihe querem atribuir. O próprio Charlesworth confessa que foi céti-
co em relacao á historicidade dos Evangelhos, mas reviu sua posicao e se
tornou adepto daquilo que ele negava:

"Durante anos citei com aprovagSo o queja nSo posso endossar. Re-
firo-me á seguinte citagSo do livro de Rudolf Buftmann Jesús and the
Word:

'Eu pensó que agora quase nada podemos saber sobre a vida e a per-
sonalidade de Jesús, já que as primeiras fontes cristas nao mostram interés-
se em qualquer das duas e que nao existem outras fontes sobre Jesús'
(p. H).

447
]6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

... A compreensao que Bultmann tem das fontes cristas, a saber, a tra-
dicao subjacente á redacao dos Evange/hos, é muito diferente da minha
própria. Difiro de Bultmann nao só em conclusao, mas também em me
todología" (pp. 146s).

Em varias passagens de seu livro, Charlesworth aponta a semelhanca


de expressoes existentes na literatura extra-bíblica (judaica, gnóstica) e nos
Evangelhos: tais seriam "agua viva" (p. 93), "perdoai-nos as nossas ofen
sas..." (p. 67}, a idéia de que Deus julgará os homens (p. 56)... Ora ponde
remos, de um lado, que existem conceitos dependentes da religiosidade
natural de todo homem e anteriores as concepcdes judias e cristas; por isto
nao nos surpreendemos ao encontrá-las em documentos judeus e cristaos;
nao significam dependencia de uns em relacao a outros. De outro lado, sa
bemos que o Cristianismo se sitúa na continuidade do judaismo como tér
mino e consumacao das expectativas de Israel; por isto é natural encon-
trarmos no Cristianismo alusSes a proposicdes do judaismo ou abonadas
ou ampliadas ou ratificadas.

Dito isto, percorramos as principáis conclusSes a que chega Charles


worth em sua obra.

2. TRACOS MARCANTES

2.1. Jesús e os Pseudo-epfgrafos (apócrifos) do Velho Testamento


(cap. 2)

Neste capítulo de seu livro Charlesworth considera a literatura apo


calíptica judaica, os escritos escatologistas (que proclamavam o fim dos
tempos para breve), a consciéncia do pecado e a necessidade do perdao
expressa pelos apócrifos... Refere-se a comentadores diversos... E conclui
muito sobriamente:

"A plena signif¡cacao dos pseudo-epígrafos para a pesquisa sobre Je


sús aínda nao foi contemplada ou escrita. Mas está-se tornando clara a im
portancia que os pseudo-epígrafos tém para a compreensSo do judaismo
anterior a 70 e do próprio Jesús" (p.67).

Como se vé, o autor ná*o ousa adiantar-se num terreno que ele consi
dera ainda insuficientemente explorado.

2.2. Jesús e os Manuscritos do Mar Morto (cap. 3)

Sabe-se que se trata de documentos de judeus (monges essénios pro-


vavelmente) encontrados em 1947 e nos anos seguintes ñas grutas de

448
"JESÚS DENTRO DO JUDAISMO"

Qumran a N.O. do Mar Morto. Os judeus que para lá se retiraram a partir


de meados do século II a.C. viviam na oracáb e no trabalho, aguardando
a próxima vinda do Messias.

Após citar textos judaicos e compará-los com o Evangelho, concluí


Charlesworth:

"Sem sombra de dúvida, a importancia mais significativa, e nao sujei-


ta a controversias, dos Manuscritos do Mar Morto para a pesquisa sobre
Jesús é a luz que lancam sobre um período anteriormente obscuro. Pene
trar no mundo dos Manuscritos do Mar Morto equivale a merguihar no
tempo e no ambiente ideológico de Jesús. Os Manuscritos fazem mais do
que revelar o panorama ideológico da vida de Jesús ou o espirito do tempo
(Zeitgeist) que ele conheceu. E/es e os objetos encontrados no mosteiro de
Qumran também refletem tímidamente os contextos social e económico
dos judeus palestinos anteriores a 70 E.C.

Além destes curtos comentarios, os Manuscritos do Mar Morto — jun


tamente com os Pseudo-epigrafos e a Mishná — habilitam-nos a comecar a
avallar os tragos distintivos da teología do próprio Jesús. Esses antigos tex
tos judeus proporcionam a estrutura a partir da qual podemos estimar a
'singularídade' de Jesús de Nazaré. Comecam a aparecer os contornos do
Jesús histórico, e é surpreendente discernir como é verdade que a génese e
o genio do mais antigo Cristianismo e a única razSo pela qual ele se distin-
guiu do judaismo encontrase essencialmente numa vida e numa pessoa.

Em resumo, podemos afirmar que a máxima de Renán, tantas vezes


citada, de que o Cristianismo é um essenismo que teve éxito, é simplista e
distorcida. O Cristianismo nao se desenvolveu a partir de urna 'seita' na
periferia de um judaismo normativo. 0 Cristianismo se desenvolveu a par
tir de muitas correntes judaicas; nao houve urna fonte ou trajetória única.
Jesús é o fundador do Cristianismo. Ele naturalmente nSo era um essénio;
mas pode ter partí/hado com os essénios mais do que a mesma nacSo, tem
po e lugar" (pp. 87s).

Como se vé, o autor, quando nao confirma as proposicoesdo Cristia


nismo clássico, se limita a afirmacSes vagas e pouco significativas.

2.3. Jesús e os Códices de Nag Hammadi e Josefo (cap. 4)

Os Códices de Nag Hammadi safo documentos descobertos no Alto


Egito, perto de Nag Hammadi. Dois irmaos camponeses lá encontraram
um jarro de cerámica vermelha, em cujo interior havia doze códices de

449
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

papiro escritos em copta ou cinqüenta e tres escritos antigos. Muitos des-


tes eram de origem gnóstica1, outros de origem judaica.

Charlesworth se detém sobre o Evangelho de Tomé, apócrifo, ai'en


contrado: o lógion ou a sentenca 101 desse texto tem afinidade com Le
14.262 ... O pesquisador procura definir o parentesco existente entre um e
outro texto; formula interrogacóes, para as quais nao oferece resposta.
E concluí:

"é obvia a importancia do Evangelho de Tomé em nossa busca dos


ditos do Jesús histórico" (p. 101).

"O Evangelho de Tomé e, portanto, o copta sao fontes e instrumen


tos para toda a futura pesquisa sobre o Novo Testamento, especialmente
seu aspecto que é rotulado de 'Pesquisa sobre Jesús'" (p. 102).

Realmente é muito magro o resultado das ponderales de tantas


páginas do capítulo.
xr.
r-

o A seguir, no mesmo capítulo 4, Charlesworth se volta para um texto


rq do historiador judeu Flávio José, que ñas suas Antiguidades Judaicas
*• (18.63-64) escreveu:
c
2 "Por volta desse tempo, havia Jesús, um homem sabio, se com
2 efeito o devemos chamar um homem. Pois ele era alguém que praticava
3 feitos surpreendentes (e) um mestre de pessoas que recebiam o extraordi-
" nário com prazer. Ele motivou muitos judeus e também muitos gregos.
2 Ele era o Cristo. E, quando Pilatos o condenou á cruz, jé que ele era acusa-
3 do por aqueles da mais alta categoría entre nos, os que o haviam amado
(desde) o inicio nao pararam (de causar perturbacoes), pois ele Ihes
apareceu ao terceiro dia, tendo novamente vida, como os profetas de Deus
haviam previsto esta e outras coisas maravilhosas a seu respeito. E até
agora a tribo dos cristaos assim chamados por causa dele (aínda?) nSo se
extinguiu".

' O gnosticismo é urna corrente filosófico-religiosa dos sáculos H/lll, que


fundiu entre si elementos Judaicos, elementos da mística oriental e da fi
losofía grega.
7 Le 14,26: "Se alguém vier a mim e nSo odiar seu próprio pai, sua mié e
sua mulher, seus filhos, seus irmaos e irmas, e mesmo a si próprio, nSo po
de ser meu discípulo".
Notemos que o verbo grego misein (odiar), no caso, tem significado
original semita: quer dizer "amar menos" (e nao odiar propriamente)....
amar menos pai e mae... do que Jesús.

450
"JESÚS DENTRO DO JUDAl"SMO" 19

Charlesworth reconhece que as alusdes elogiosas a Jesús (postas em


negrito) nao podem ser da pena do judeu Flávio José, mas sao interpola
res cristas. Este fato sugere a Charlesworth oito páginas de ponderales
sutis, após o que escreve:

"A existencia de Jesús nao pode ser provada aos céticos pelas narra
tivas do Novo Testamento, porque estas estio obviamente predispostas a
favor de Jesús. Certamente, Flávio José nSo é pró-Jesus na versao árabe
das Antigüidades 18, as quais, como o erudito judeu Fines corretamente
julga, apesar de seu retrato mais favorável, tém essencialmente 'urna ati-
tude de nao comprometimento' com relacSo a Jesús" (p. 108).

"A recensao grega do texto de Flávio José, sem as interpolacoes cris


tas, revela como um judeu do primeiro sáculo provavelmente qua/ificava
Jesús: efe era urna pessoa rebelde e um perturbador da frágil paz, mas era
também urna pessoa sabia que praticava obras 'surpreendentes', talvez
mesmo maravilhosas, e foi seguido por muitos judeus e gentíos" (p. 109).

Mais urna vez Charlesworth nao chega a conclusQes claras e satisfa-


tórias. Diz e nao diz. "Chove e nao mol ha".

2.4. O Jesús da historia e da arqueología da Palestina (cap. 5)

Charlesworth estuda os vestigios da Jerusalém e da Palestina do tem-


po de Jesús; principalmente Cafarnaum e os monumentos relativos ao fim
de vida de Jesús sao considerados. Em conclusao lemos:

"Por mais que isso tenha parecido incrível antes, os arqueólogos nSo
estao jogando pedras no caminho da fé crista. Em termos da historia do
Novo Testamento, estao mostrando a areia e o leito de rocha em que se
fundamenta a fé. A pesquisa sobre Jesús é influenciada pela pesquisa ar
queológica. O Jesús da historia é agora menos incompreensível, gracas a
arqueología da Palestina" (p. 142).

Em particular, Charlesworth admite com probabilidade que foi des-


coberta a casa de Jesús em Cafarnaum (p. 129). É contrario aos que negam
a historicidade do Evangelho segundo Sao Joao: "Nao se pode por de lado
Joao como um documento desprovido de informacao histórica" (p. 136).

No tocante ao túmulo de Jesús, Charlesworth reconhece a autentici-


dade do Santo Sepulcro incluido na basílica do mesmo nome em Jerusa
lém; esta igreja recobre também o Calvario, onde Jesús esteve crucificado.
O autor rejeita explícitamente o chamado "Túmulo do Jardim", que está

451
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

distante da basílica e é tido como o sepulcro de Jesús pelos protestantes.


Eis as suas palavras:

"O chamado Túmulo do Jardim , que a maioría dos peregrinos a Je-


rusalém hoje presumem (como Ihes é ruidosamente informado) ser o
túmulo de Jesús, nao pode ser o seu túmulo. Foi descoberto apenas no sé-
culo passado (em 1867) e anunciado como sendo o túmulo de Jesús por
um herói militar, o general Charles George Gordon, em 1883. As escava-
coes demonstram que o túmulo nao pode sequer ser herodiano. G. Barkay
concluí um estudo do Túmulo do Jardim com as seguintespalavras: 'Com
base em todas as provas, parece claro que a cova do Túmulo do Jardim foi
abena na fdade do Ferro II, o período do Primeiro Templo, entre os sécu-
los oito e sete A.E.C. Nao voltou a ser usada para fins funerarios até o pe
ríodo bizantino. Portanto, nao poderla ser o túmulo onde Jesús foi enter
rado' (páginas 56-57). Ver Barkay, The Garden Tomb: Was Jesús Buried
Here?, BAR 12 (1986) 40-57" (p. 173, nota 24).

2.5. O Concertó que Jesús tinha de Deus e sua Autocompreensao


(cap. 6)

Charlesworth analisa o apelativo abbá (Pai querido), que Jesús atri-


buiu a Deus, e observa:

"Jesús escolheu usar abba e nao abinu quando se dirigía a Deus, e


punha urna énfase singular nessa palavra Abba. Era sua maneira habitual
de se referir a Deus e de chamá-lo. Nao será concebível que ténha chama
do Deus de Abba porque tinha urna concepcao de Deus que era, de algu-
mas maneiras, diferente daquela da maioría dos seus contemporáneos?
Muítos antigos ¡udeus tendiam a conceber Deus como distante, só visitan-
do a humanídade através de intermediarios, como os an/os, como sabe
mos por estudar os Pseudo-epígrafos e os Manuscritos do Mar Morto. Je
sús percebeu que o próprio Deus estava muíto próximo e que se importa-
va diretamente com cada pessoa, mesmo (e talvez especialmente) com os
pecadores"(pp. 148s).

O autor nao vai mais longe porque prescinde da fé. Julga, porém, aos
olhos mesmos da razao, que Jesús se diferenciou dos outros homens em
seu trato com Deus Pai.

Quanto á consciéncia que tinha de si mesmo, o autor reconhece que


é difícil definí-la, pois isto significaría penetrar no íntimo de alguém que
viveu, como homem na térra, há quase vinte sáculos. Como quer que seja,
Charlesworth se fixa em tres momentos da vida de Jesús, nos quais descobre
a nocao que Jesús tinha de estar exercendo urna missao de alcance trans-

452
"JESÚS DENTRO DO JUDAl'SMO"

cendental: 1) a vocacao dos doze Apostólos (cf. Mt 10,1-4; Me 3,13-18;


Le 6,12-16), correspondentes ás doze tribos de Israel, e pilastras do novo
povo messiánico; 2) a entrada triunfal em Jerusalém, na qual Jesús afir-
mou sua messianidade {ou permitiu que a afirmassem); 3) a parábola dos
vinhateiros homicidas, que termina descreyendo de antemáo o morticinio
do Filho, herdeiro, por parte dos locatarios da vinha (os maiorais de Is
rael), conforme Me 12, 1-9; Mt 21, 33-46; Le 20, 9-19; ao narrar esta pa
rábola, Jesús se apresentava como o Filho de Deus enviado pelo Pai para
converter os homens, mas massacrado por estes (como de fato aconteceu).
Eis os dizeres de Charlesworth:

"Como compreendemos ao estudar o ato simbólico, de Jesús, de


escolher doze discípulos, ele tinha a intencao clara de se envolver de algu
ma maneira com a contribuicao de estabelecer urna nova era messiánica.
Alguma autocompreensSo messiánica pode muito bem ter sido parte de
sua autocompreensSo. Essa autopercepcSo também parece exigida pela
maneira como entrou em Jerusalém, cava/gando um animal e aceitando as
saudacoes. Ele também provavelmente pensou em si próprio, de alguma
maneira, como alguém que foi enviado a Jerusalém presumivelmente para
mqrrer e como o filho retratado no cerne auténtico da Parábola dos Vi
nhateiros Maus" (p. 170).

3. CONCLUSÁO

Como se depreende, o livro de Charlesworth, em seu conjunto, nao é


destruidor dos clássicos dados da fé crista. Verdade é que considera hipó-
teses pouco fundamentadas de certos críticos, hipóteses que podem deixar
perplexo o leitor, mas que nao passam de concepcoes subjetivas, alheias á
grande corrente da Tradica o e á pesquisa objetiva. '

Como estudioso que prescinde das proposicoes da fé, Charlesworth


em sua conclusao julga poder transmitir o seguinte retrato de Jesús:

"Jesús existiu; sabemos mais sobre ele do que a respeito de qualquer


outro fudeu palestino antes de 70 E.C. Ele era urna pessoa real, que viveu
na Palestina, crescido na Ga/iléia.

Os seguintes aspectos de sua vida sao relativamente fidedignos: ele


manteve algum relacionamento com JoSo Batista (que certamente o batí-
zou), comecou seu ministerio público em Cafamaum, chamou homens e
muiheres que o seguissem (inclusive um grupo especial de doze), praticou
curas (provavelmente também exorcismos), era um pregador itinerante
que proclamou a proximidade (e mesmo, por momentos, a presenca) do

453
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

Reino de Deus, ensinou que Deus devia ser concebido como um pai amo
roso (Abba), pode ter tido alguma autocompreensao messiánica, provavel-
mente de algumas formas se tinha na conta de fi/ho de Deus, possivelmen-
te enfrentou sem medo a premonicao de que sería assassinado (talvez ape-
drejado), mas, nao obstante, depois de um período desconhecido de pre-
gacao pública na Galiléia, foi para o Sul, para Jerusaiém, onde com ousa-
dia e éxito demonstrou seu desprezo pela corrupcio no Templo durante
urna confrontacao pública com a casta sacerdotal, sofreu por causa da trai-
ció de Judas e da negacao de Pedro, e terminou morrendo ignominiosa
mente numa cruz, do lado de fora da mura/ha ocidental de Jerusaiém, na
primavera de 30 E.C." (p. 182).

É certo que, mesmo prescindindo das proposites da fé, seria possí-


vel afirmar ainda varias outras verdades históricas a respe¡to de Jesús.
Charlesworth nao foi tao longe quanto podia ir dentro do seu projeto, mas
nao perturba essencialmente a imagem de Jesús que a fé concebe (nao a fé
cega, mas a fé ilustrada por serio estudo).

Como quer que seja, o livro nao é de fácil leitura; supoe um usuario
já iniciado em estudos bfolíeos e cristológicos.

A propósito ver
Francois Dreyfus, Jesús sabia que era Deus? Ed. Loyola 1987.
Rene Latourelle, Existiu Jesús? Ed. Santuario 1989.

• * *

(Continuacao da pág. 445.)

ao estado de justica original (ainda que concedida em germen ou em principio apenas)


e perda desse dom interior por causa da soberba e desobediencia dos primeiros pais;
nos descendentes de AdSo e Eva o pecado original nao é culpa pessoal, mas a carencia
da fustiga original, que os primeiros homens deviam ter guardado e transmitido (cf. pp.
559-562).

Cremos que o livro apresenta páginas muito úteis e proficuas ao estudioso, mas é
de leitura pesada por causa de fatores varios: excessiva preocupacao com a necessidade
de evitar o dualismo (antagonismo) entre corpo e alma, preocupacao que leva o autor a
explicacoes sutis (cf. pp. 258-292); o leitor pouco conhecedor do assunto pode fácil
mente concluir que o Pe. Garci'a professa o monismo "corpo-alma" — o que na verdade
nao é o pensamento do autor. Registram-se também elucubracoes longas demais sobre
civilizapáo industrial (cf. pp. 30-65), América Latina e política (cf. pp. 406-430)... 0
autor tenciona abordar todos os aspectos do tratado; parece que o faria com mais pro-
veito para o leitor, se escrevesse obra mais enxuta e clara.
E.B.

454
"Quem dizem os homens que eu sou?"

AÍNDA OS JUDEUS MESSIÁNICOS

Em síntese: Há atualmente algumas correntes de judeus que profes-


sam a fé em Jesús Messias. Sao hostilizados por seus compatriotas israeli
tas, mas dizem-se plenamente judeus, coerentes com as premissas do ju
daismo, pois reconhecem o Messias prometido aos Patriarcas e i anunciado
pelos Profetas.

Verificase, porém, que esses judeus até hoje nao se filiaran) ao Cris
tianismo enquanto é instituicao ou Igreja, ou, caso se tenham filiado, ten-
dem a formar um grupo á parte. A razio deste fato é, em parte, o ressenti-
mentó neles existente em conseqüéncia dos litigios havidos entre judeus e
cristaos no passado; é também o amor ás tradicoes culturáis do judaismo,
que eles desejam guardar, em vez de adotar as expressoes culturáis do
Ocidente.

Embora se compreendam as razoes subjetivas assim aduzidas, nao se


pode esquecer que o Cristianismo é essencialmente Sacramento, em que
Deus vem aos homens por sinais sensfveis, inseparáveis uns dos outros:
Jesús Cristo e sua humanidade, a Igreja, os sete sacramentos. 0 misterio
da Encarnacao de Deus é central no Cristianismo.

É de se esperar que a graca de Deus inspire esses irmaos e os leve a


dar os próximos passos decorrentes de sua adesao a Cristo, reconhecendo
o Corpo de Cristo M/'stico, instituido pelo próprio Senhor Jesús (cf.
Mt16, 16-19).

* * *

Em PR 375/1993, pp. 345-348 demos notfcia de que, em Israel e na


Diáspora, há judeus que aceitam Jesús como Messias e, por ¡sto, sofrem re
presalias por parte do povo ¡sraelense. — Voltamos agora ao assunto adu-
zindo novos e interessantes dados.

Na verdade, distínguem-se quatro modalidades de judeus que aceitam


Jesús — o que certamente torna a questao assaz matizada e complexa.
Consideremos cada qual de per si.

455
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

1. JUDEUS PERTENCENTES A COMUNIDADES CRISTAS

Em varias comunidades cristas — católicas, protestantes, ortodoxas —


existem judeus espontáneamente batizados, que professam a fé em Jesús
como Messias. Todavía tém consciéncia de ser inteiramente judeus e que-
rem ser considerados como tais. Nao véem descontinuidade entre o Deus
de Abraao, Isaque, Jaco, Moisés, Elias, Davi, Salomao... e o Deus Pai de
Nosso Senhor Jesús Cristo. Julgam ter uma vocacao específica dentro do
Cristianismo: seria a de combater o anti-semitismo em qualquerde suas
expressoes e fomentar a compreensao mutua e as boas relacoes entre cris
taos e judeus. Para tanto, foi fundada no seio da Igreja Católica na térra de
Israel a chamada "Obra de Sao Tiago", cujo Estatuto foi aprovado pelo Pa
triarca Latino de Jerusalém, Mons. Alberto Gori, aos 11/02/1956: as nor
mas ¡nsistem sobre formacao bíblica, procura de compreensao do misterio
de Israel e a vivencia de uma espiritualidade crista correspondente á cultu
ra judeo-crista.

Além de tais judeus que na térra de Israel professam abertamente a


sua fé cristl, existem cripto-cristaos, ou seja, judeus que foram batizados
espontáneamente em térras da Diáspora e se transferiram para Israel. Neste
país abandonaram toda prática religiosa, nao, porém, a fé crista. Esta ou
permanece acesa, mas oculta e serenamente guardada, ou pode estar
sofrendo a ameaca de enfraquecimento, á semelhanca do que se deu du
rante dois séculos com os cristaos escondidos (Kirishitan) do Japao. Nao
se tem estatística desses cripto-cristaos de Israel; as noticias anunciam
3.000 ou até mesmo 35.000 pessoas.

2. OS JUDEUS MESSIANICOS

Em Israel existem, além dos judeus pertencentes a comunidades cris


tas, judeus que constituem comunidades Messiánicas (Yehudim Meschi-
chiyim), nao filiadas a algum grupo cristao. Tém existencia tío patente
que vém mencionados num verbete próprio de um Dicionário Hebreu:
HaMillon heChadash, de A. Even Shoshan.

O judeu messiánico professa a fé em Jesús Cristo, fé que os israelitas


consideram uma degenerescencia de suas tradigoes religiosas e assemelham
a uma crenca nao judaica; os israelitas os tém como escandalosos por ade-
rirem a um Cristianismo hebreu (o Cristianismo deyeria ficar reservado
aos nao-judeus, conforme os israelitas ortodoxos!). É inconcebíbel a um
israelita ortodoxo que um judeu creia em Jesús Messias e, apesar disto,
queira viver como membro do povo de Israel na sua térra nacional. Os clás-
sicos israelenses, e também muitos cristaos, julgam que o judeu convertido
a Cristo já nao pode ser considerado como auténtico judeu. Mesmo que

456
aínda os judeus messiánicos 25

o judeu messiánico more e trabalhe em Israel, fale a Ifngua nacional, pague


seus impostos, preste sen/ico militar,... permanece o sentimento geral de
que ele n3o é propriamente judeu. Tem havido até mesmo violencia e per-
seguicao a esses cidadaos por parte de grupos religiosamente fanáticos.

Da sua parte, o judeu messiánico esforca-se por mostrar aos seus com
patriotas que nao é preciso ser ou tornar-se um nSo-judeu (um pagao)
para crer em Jesús e cultivar urna teologia auténticamente crista compatí-
vel com o judaismo. Em vez de se deter nos episodios de confuto ocorri-
dos entre judeus e cristaos através dos sáculos, o judeu messiánico conside
ra tudo o que há de positivo e divino na mensagem de Jesús.

Contudo o judeu messiánico nao eré que a fé em Jesús Cristo o obri-


gue a filiar-se a alguma das denominaedes cristas existentes, visto que estas
Ihe parecem portadoras de resquicios da cultura paga. Por isto o judeu
messiánico, habitando na térra de Israel, julga que ele pode constituir um
grupo cristao plenamente legítimo no contexto dos cristaos existentes em
Israel, grupo que conserva sua identidade hebraica e professa a fé em Je
sús.

Da parte dos cristaos que moram em Israel, registrase urna certa re


sistencia aos judeus messiánicos, dada a sua posicao religiosa singular, que
nao se identifica com alguma comunidade nem do judaismo nem do Cris
tianismo. Respondem-lhes os judeus messiánicos que a comunhao que fez
de dois povos — judeus e gentios — um so povo e um so homem novo em
Cristo (cf. Ef 2,14-18), nao implica o desaparecimento de um dos dois ou
a absorcao de um pelo outro. Paralelamente, dizem, o fato de que homens e
mu I he res constituem urna so realidade em Cristo (cf. Gl 3,26-29) nao exi
ge que as mulheres sejam menos mu I he res e os homens menos homens; até
mesmo na ressurreicao final homens e mulheres guardarlo suas caracterís
ticas pessoais. Os judeus messiánicos afirmam que, nestes anos de restaura-
cao do povo judeu em sua térra de origem, Deus está plasmando urna faixa
auténticamente hebraica e crista dentro da Igreja Universal, sem detrimen
to do fato de que todos constituem um só povo seguidor de Jesús Messias.
Preconizam assim a diversidade na unidade ou a unidade na diversidade.

3. JUDEUS PARA JESÚS (JEWS FOR JESÚS)

Na Diáspora judaica, existente no mundo inteiro, especialmente nos


Estados Unidos, existe outro tipo de movimento judeu messiánico, aínda
mais importante do que os da térra de Israel: sao os chamados Jews for
Jesús ou Jews for Christ; existem perto de 80 grupos desses messiánicos
nos Estados Unidos, reunindo 40.000 membros (segundo uns) ou 250.000
(segundo outros), com urna porcentagem de 79% entre 20 e 29 anos.

457
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

As estatísticas judaicas atribuem aos Judeus para Cristo o quarto lu


gar entre os judeus norte-americanos; vém após os judeus ortodoxos, os
conservadores e os reformados e antes dos reconstrucionistas. Cerca de
48% dentre eles freqüentam urna igreja crista; 10%, porém, dizem perten-
cer á su a Igreja própria, que eles chamam "Igreja Messiánica".

O Credo desses grupos de Judeus para Jesús nao é muito definido:


afirmam que a fé em Jesús é a única áncora de salvacao de cada fiel e da
Casa de Israel; a ressurreicao de Jesús é, para eles, como para Sao Paulo
OCor 15,14.17), o cumprimento das esperances judaicas; professam isto
com entusiasmo, á semelhanca do que ocorre na tradicao pietistado pro
testantismo. Pouco conhecem as tradicSes religiosas de Israel, e chegam
mesmo a criticar ásperamente o judaismo oficial em aigumas de suas as-
sembléias. Para mu ¡tos deles, que nunca foram judeus religiosos, o crer em
Jesús tornou-se urna forma de conversab ao judaismo. Léem o Antigo
Testamento a partir do Novo Testamento como preparacáo para este.

Feitos discípulos de Jesús, esses judeus proclamam que sao plena


mente judeus, até mais judeus que os rabinos ortodoxos, visto que, reco-
nhecendo o Messias, estao conscientes de se identificar com o plano de
Oeus relativo a Israel. Sao, porém, menos zelosos do que os judeus messiá-
nicos de Israel no tocante a cultura judaica; contentam-se com um judais
mo genérico.

O judaismo oficial considera todos os grupos judeo-cristaos com


certa aversao: seriam pessoas mal adaptadas, em crise, vítimas de proble
mas afetivos e familiares, sofrendo de traumas psicológicos, írustracfies so-
ciáis e económicas... em suma: presa fácil de missionários cristaos e de
mensageiros dos cultos esotéricos.

4 AÍNDA OUTRA MODALIDADE

Além das correntes até aqui mencionadas, existem, tanto em Israel


como na Diáspora, varios judeus que, por vias diversas, chegaram a conce-
ber fé em Jesús. Provém tanto dos ambientes judaicos mais ortodoxos
quanto dos mais atenuados, guiados t2o somente por seus próprios estudos
ou esclarecidos por intermediarios. Sao pessoas cultas, desejosas de saber,
que se deixaram impressionar pela figura de Jesús, conhecida através da
le ¡tura do Novo Testamento (livro este severamente ban ido pelas comuni
dades judaicas ortodoxas) O Novo Testamento, em vez de os afastar do
judaismo, fé-los tomar consciéncia de que a sua identidade judaica se tor
na piena em Jesús, pois reconhecem o tempo da visita do Senhor e deseo-
brem finalmente o que é Shalom (Paz); cf. Le 19,41-44. Julgam revivera
experiencia de Sao Paulo, que foi prostrado na estrada por Jesús a fim de

458
AÍNDA OS JUDEUS MESSI AÑICOS 27

mudar de vida (cf. At 9,1-19; 22,1-21; 26,2-23), ou também a experiencia


dos discípulos de Emaús, que, em meio á penumbra da tarde e do coracao,
reconheceram o Senhor Jesús com o coracao ardente e a mente sequiosa
(cf. Le 24,27-45).

Essa intuicao da messianidade de Jesús nao é tida como conversao


por tais judeus. Afirmam que nao mudaram de religiao, mastomaramcons-
ciéncia de haver encontrado o Messias de Israel (cf. Jo 1,41. 45-49), Mes-
sias que eles chamam Adon, Senhor (cf. At 2,36). Essa descoberta de Jesús
muda todo o teor de vida de tais judeus, para quem Jesús já nao é um mes-
tre entre outros, mas o Mestre (cf. Jo 13,13), o Guia (cf. Mt 23,10), Aque-
le que traz a chave decisiva para se compreender qualquer outro ensina-
mento ou orientacao. O judaismo de tais judeus nao é aniquilado, mas de
finitivamente confirmado (cf. 2Pd 1,16-19), dado que se abrem ao Messias
em funcao do qual o povo de Israel teve sua origem e sempre viveu (cf. Jo
1,50).

É de notar, porém, o seguinte: os judeus cristaos de que falamos, nao


querem (ou encontram grande dificuldade para) chamar Elohim (Deus) o
Jesús que eles reconhecem como Mashiach e Adon. Também costumam re-
je itar o título de Mae de Deus (Em haElohim} que os cristaos atribuem a
María, pois tal apelativo Ihes sugere que Myriam seja a Mae de Deus na
eternidade (e nao pelo fato da Encarnacao de Deus Filho). Os judeo-cris-
taos nao negam a SS. Trindade e o misterio da Encarnacao, mas nao que
rem encarar as questoes teológicas que tanto interessaram os prime iros sé-
culos do Cristianismo, suscitando as definicoes teológicas dos Concilios
de Nicéia I (325), Constantinopla I (381), Éfeso (431), Calcedonia (451).
Para eles, é mais oportuno dizer que Deus é inefável do que tentar pene
trar no misterio de Deus; sao portanto discretos ao falar de Deus.

Muitos de tais judeus pediram o Batismo no Cristianismo. Mas nao se


julgam membros da Igreja. Alias, a sua adesao a Cristo nao se deve ao con
tato com cristaos ou com alguma denominacio crista; foi a leitura atenta
do Novo Testamento que os impeliu a fazer seus um livro e um nome
(Jesús) que na realidade Ihes pertenciam (visto que Jesús nasceu do povo
de Israel). Acreditam que é possível crer plenamente em Jesús e tornarse
discípulos dele sem se fazer "cristaos". A historia das relacoes entre judeus
e cristaos Ihes torna pouco atraente o nome "cristao". Ademáis alegam
que o nome "cristao" nao é o da primeira comunidade de discípulos de
Jesús, pois estes só foram chamados cristaos pela primeira vez em Antio-
quia (cf. At 11,26); tal nome, alegam, foi dado por nao-cristaos — judeus
ou pagaos — aos discípulos.

Em suma, tais judeo-cristaos querem viver um Cristianismo destituí-


do de qualquer influencia da cultura greco-romana dos primeiros sáculos,

459
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

ou seja, um Cristianismo que recorra únicamente a traeos culturáis do ju


daismo. Sonham com a fundacao de urna Igreja hebraica que esteja em
comunhao com a Igreja Universal, portadora das marcas do mundo ociden-
tal, e que constitua com as demais denominacoes cristas o Corpo Vivo do
Messias glorioso ou o Corpo de Cristo de que fala Sao Paulo em ICor 12,
12-27; CI1,24; Rm12,4s.

Tais noticias sugerem alguns comentarios.

2. REFLETINDO...

Proporemos quatro principáis ponderacoes:

2.1. Judaismo e Cristianismo

Os grupos de judeus que aceitam Jesús como Messias, mencionados


atrás, sao lógicos e clarividentes na sua adesao a Cristo. O judaismo é es-
sencialmente a expectativa do Messias, desde as suas origens. Reconhecen-
do Jesús como Messias, nao estao traindo o judaismo e suas tradiefies nem
estao mudando de religiao; estao, sim, levando a plenitude as suas cuencas
judaicas. Com muita razao podem defender-se frente aos seus compatrio
tas que os acusam de degenerescentes, problemáticos, traumatizados, frus
trados... Ao contrario, sao judeus corajosos que acreditam firmemente ñas
promessas fe ¡tas a Abraao e seus descendentes.

3.2. Cristianismo e Instituicao

Verífica-se, porém, que tais judeus parecem ter receio de se filiar ao


Cristianismo-instituicao ou á Igreja. Em parte, isto se deve á historia dos
litigios havidos entre judeus e cristaos no decorrer dos sáculos; motivos
subjetivos Ihes dificultam a pertenca á Igreja e Ihes propiciam urna viven
cia crista mais ou menos subjetiva e livre ou mesmo sujeita a improvisa-
coes arbitrarias.

Na verdade, Jesús Cristo é inseparável da sua Igreja, que Ele fundou e


entregou a Pedro e seus sucessores (Mt 16,16-19). O Cristianismo ensina
que Deus vem aos homens através de sinais sensiveis, que constituem a or-
dem sacramental:

— o primeiro destes sinais é a humanidade de Cristo, o sacramento


primordial, que assinalava e transmitía a vida divina mediante palavras e
gestos sensiveis.

— O Corpo de Cristo fisico se prolonga no Corpo de Cristo Místico,


que é a Igreja ou o segundo Grande Sacramento; por esta Cristo continua
a viver e agir, promovendo a santificacao dos homens; com efeito, Jesús

460
AÍNDA OS JUDEUS MESSIÁNICOS

nao é apenas um mestre que ensinou e desapareceu, ou um mártir que dei-


xou tao somente um exemplo; Ele é um tronco de videira, da qual nos so
mos os ramos (cf. Jo 15,1 s); é também a Cabeca de um Corpo do qual nos
somos os memoras (cf. 1Cor 12,12-27; Cl 1,24; Rm 12,4s). Ele enxerta os
homens nesse Corpo Místico para os fazer viver a filiacao divina;

— O sacramento da Igreja, por sua vez, se prolonga e esmiuca nos sete


sacramentos, que acompanham a vida do homem desde o nascer até o
morrer, transmitindo-lhe a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte: Ba-
tismo. Crisma, Eucaristía, Reconciliacao, Ordem, Matrimonio, Unpao dos
Enfermos.

Nao há Cristianismo pleno sem a participacao nos sacramentos. Dai'


formularmos os votos de que os judeus fiéis a Cristo superem reminiscen
cias pouco agradáveis e compreendam a própria mensagem do Novo Testa
mento que os atrai: aderir a Cristo Cabeca implica aderir a Cristo em seu
Corpo Místico, aceitando o Misterio da Encarnacao ou do Deus que é
revelado e velado por sinais sensi'veis. Alias, é essa adesSo á Igreja assistida
por Cristo e seu Espirito (cf. Le 22,31 s; Jo 14,26...) que pode preservar
o cristao (judeo-cristSo ou étnico-cristao) de desvíos inspirados pelo sub
jetivismo e o sentimentalismo fantasioso.

2.3. Aculturacao

Só pode haver urna Igreja de Cristo, como só há um Cristo. Nessa úni


ca Igreja, porém, confiada a Pedro, pode haver diversos ritos decorrentes
de tradicoes diversas. Assim os cristaos orientáis tém seu Código de Direi-
to Canónico próprio, tém presbíteros casados, ritos litúrgicos típicos, sem
deixar de pertencer á única Igreja de Cristo e reconhecer a autoridade do
sucessor de Pedro. A Igreja deseja em nossos dias a aculturacao ou a ado-
cao de expressoes próprias das culturas dos povos nao ocidentais para pro-
fessarem e viverem a mesma fé católica. É lícito assumir tais traeos cultu
ráis, desde que nSo suscitem confusa"o de crencas, ecleticismo ou sincretis
mo. Por conseguinte, pode-se conceber um judeo-cristianismo marcado
por tradicoes judaicas que nao impliquem desvirtuamento da fé apregoada
por Jesús na sua Igreja.

É para desejar que, com o tempo, os judeus discípulos de Cristo com


preendam todo o alcance de sua profissao de fé em Jesús e se decidam a
dar todos os passos daí decorrentes.

A propósito se/a citado o artigo de

Francesco Rossi de Gasperis S.J., professordo Instituto Bíblico Pon


tificio de Jerusa/ém-Roma: Un nouveau judéo-ehristianisme, em Etudes,
juin 1993, pp. 795-794.

461
Tendencia forte:

A PRIVATIZAQÁO DA FÉ

Em sintese: A privatizacao da fé é a atitude de quem professa Jesús


Cristo, mas nao freqüenta a Igrej'a. Pode ter diversos motivos, entre os
quais se salienta a dificuldade de aceitar urna instituicao com suas normas
jurídicas; a mentalidade subjetivista de nossos días alimenta tal dificuldade.

Em resposta deve-se lembrar que ser cristao nao é simplesmente crer


em Deus, mas é crer em Deus como Jesús 0 revelou. O Senhor Jesús se
apresentou como o Mediador da definitiva Alianca entre Deus e os ho-
mens; Ele veio fazer urna convocacao (ek-Mesís) dos homens dispersos,
reunindo-os num só povo, o povo de Deus. Esse povo é mais do que a so
ma de seus membros; é Sacramento, visto que Jesús prometeu estar em
sua Igreja e continuar por Ela a sua obra redentora até o fim dos tem-
pos: "Ide e fazei que todas as nacoes se tornem discípulos. Eis que esta-
rei convosco todos os dias até a consumacao dos séculos" (Mt 28,19s).
Pela Igreja passa a vida de Cristo em favor de quem a Ela adere, sem que
a fragilidade dos homens da Igreja possa impedir a acao redentora de Cris
to no sacramento da Igreja. Por conseguinte. Cristo e Igreja sao insepará-
veis um do outro. A privatizacao da fé só pode resultar da ignorancia da
auténtica índole do Cristianismo.

• * *

O jornal "0 Estado de Sao Paulo", em seu Caderno Especial de


13/06/93, pp. 3 e 4 publicou interessante noticiario sobre a Religiao no
mundo atual. Registrava a profissao de fé em Deus e em Jesús Cristo por
parte de numerosos segmentos da populacao da Alemanha, Inglaterra,
Italia, Holanda, Estados Unidos, Nova Zelandia, Polonia, Eslovénia, Ir
landa, Hungría, Noruega, Israel. Assim, por exemplo, nos Estados Unidos
90% das pessoas entrevistadas disseram crer em Deus.

Ocorre, porém, o fenómeno da privatizacao da fé, ou seja, da nao


freqüéncia a Igreja. A fé se torna um assunto meramente pessoal, sem
expressoes comunitarias. Visto que o fato tende a se alastrar mesmo entre

462
PRIVATIZAQÁO DA FÉ 31

os católicos, as páginas seguintes o abordarao, tocando o ámago da


questao.

1. PRIVATIZACÁO DA FÉ: POR QUÉ?

A existencia de muitas pessoas que créem em Deus e em Jesús Cris


to, mas nao váo á Igreja, tem suas causas, que vamos procurar catalogar:

1) Migracoes. 0 fenómeno de pessoas que deixam seu torreo natal


para estudar ou trabalhar longe daí, cada vez mais freqüente. Ora aconte
ce fácilmente que tais pessoas, ao deixarem seu ambiente de origem, deixam
també m mu itos de seus costumes; sentem-se desarraigadas e dispostas a
ser absorvidas pelo novo mundo em que passam a viver,... mundo de mega-
lópole, materializado ou absorvido pelas conquistas materiais. Abandonam
entao sua prática religiosa e "privatizam" sua fé, reduzindo-a a um senti-
mento íntimo.

2) Moral Católica. Para quem vive na grande cidade, o motivo da pri-


vatizacao deve ser outro: consiste, muitas vezes, na recusa de certas nor
mas da Moral Católica, que a Igreja professa: o Nao ao divorcio, ao aborto,
ao homossexualismo, ás relacSes extra-conjugais... é a anti'tese do que a so-
ciedade de hoje aceita e pratica... Isto torna a Moral Católica difícil, mas,
sem dúvida, garantía e tutora dos verdadeiros valores humanos. Por nao
compreenderem este papel benéfico, há quem se afaste da Igreja, embora
continué a crer em Jesús Cristo.

3) Existencialismo e Subjetivismo. Este isolamento religioso pode


nao causar estranheza, visto que a sociedade contemporáncea está impreg
nada de mentalidade existencialista, alheia á Metafísica e voltada para o
eu individual de cada cidadao. O criterio dos valórese o eu circunstancia
do de cada um (eu e minhas circunstancias, tu e tuas circunstancias...). Em
questdes de Ética, Direito, Religiao... é freqüente dizer-se: "Eu acho que...
Para mim é assim,..., Cada um na sua verdade, na sua Ética...". Tal subje
tivismo é mais cómodo do que a aceitacao da vida em comunidade.

4) A face humana da Igreja. Além do mais, sabe-se que a Igreja tem


urna face humana, que é bela ou desfigurada de acordó com as pessoas que
a constituem. A fragilidade humana nem sempre corresponde ao ideal, de
modo que muitos se afastam da Igreja escandalizados (com ou sem razao)
pelo que observaram.

Parecem ser estas as principáis causas da privatizacao da fé. Procure


mos agora urna resposta para o problema.

463
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

2. QUEDIZER?

As nossas consideracoes terao em vista a privatizacao da fé dentro do


Cristianismo ou, mais precisamente, dentro do Catolicismo.

2.1. Alianca

Um cristao nao é simplesmente alguém que eré em Deus. Um cristao


eré em Deus tal como Jesús O revelou. Jesús se apresentou e comprovou,
por seus ditos e feitos, como o Enviado do Pai, Mestre de todos os ho-
mens; principalmente a sua ressurreicá*o ¿entre os mortos é o sinete coloca
do pelo Pai sobre a pessoa e a obra de Jesús Cristo; cf. ICor 15,14.17.

Ora Jesús sempre se situou na linha de urna Alianca entre o Pai e o


género humano. Essa Alianca interpela pessoa I mente cada ser humano...
mas cada ser humano situado dentro de um povo. Deus faz Alianca com
o povo santo e, porque é membro desse povo santo, cada cristao entra em
Alianca com Deus: antes de Jesús Cristo, havia o povo da Antiga Alianca,
os judeus; após Jesús Cristo, há o povo da Nova Alianca, a Igreja, cujo
nome Ek-klesfa, emgrego, significa convocacao; a Igreja continua o papel
do antigo Israel. É por isto que em toda a pregacao de Jesús se enfatiza a
común nao dos discípulos entre si dentro de urna sociedade organizada:

"Nao temáis,pequeño rebanho..." (Le 12,32);

"Como o Pai me enviou, assim eu vos envío..." (Jo 20£1);

"Tudo o que ligardes sobre a térra, será ligado no céu..." (Mt 18,
18; cf. 16, 19);

"O Espirito Santo... vos ensinará tudo, e vos recordará tudo o que eu
vos disse" (Jo 14,26);

"Simio, Simio,... roguei por ti, a fim de que a tua fé nio desfafeca.
Quando te converteres, confirma teus irmios" (Le 22,31s);

"Simio, apascenta as minhas ove/has" (Jo 21,15-17).

É muito compreensível o propósito do Pai, visto que o ser humano é,


naturalmente, um ser social; só se realiza plenamente em comunidade, tan
to no plano meramente racional quanto no plano da fé. Daí dizer o Conci
lio do Vaticano II:

"Aprouve a Deus santificar e salvar os homens nao singularmente,


sem conexio de uns com os outros, mas sim constituir um povo que o

464
PRIVATIZACÁO DAFÉ 33

conhecesse na verdade e santamente Ihe servisse" (Constituigao Lumen


Gentium n. 9).

2.2. Sacramento

A Igreja assim constituida, tem uma face humana, mas nao é apenas
a soma dos homens que a compoem. Dentro déla vive o Cristo. Este com-
parou-se a um tronco de videira, da qual somos os ramos; isto querdizer
que há uma comunhao de vida entre Cristo e seus discípulos ou sua Igre
ja. Por meio do sinal humano da Igreja, o Cristo exerce a sua apio santi-
ficadora em favor dos homens. É o que torna a Igreja um sacramento...
ou o Sacramento que prolonga a humanidade de Jesús. Por esta, na térra,
o Filho de Deus exerce sua funcao de arauto da Boa-Nova e restaurador
do homem ferido pelo pecado; por sua Igreja — Corpo de Cristo estendi
do através dos séculos — Cristo continua a sua missao redentora.

Por conseguinte, a Igreja nao é algo de acidental no Cristianismo ou


algo que possa ser recomecado (como se recomeca um partido político);
ela tem sua origem no misterio da Encarnacao, central no Cristianismo, e,
a seu modo, prolonga esse misterio. Cristo e a Igreja sao, pois, inseparáveis
um do outro. Nao há cristao em sentido pleno que nao seja membro de
Cristo Cabeca do Corpo de Cristo, que é a Igreja. Cristo nao é apenas um
mestre que tenha deixado uma mensagem a ser estudada e vivenciada em
escolas fundadas por homens.

Pode-se, portanto, dizer: o nao reconhecimentó da Igreja decorre da


ignorancia — muito freqüente — do que seja a auténtica natureza do
Cristianismo.

2.3. E as falhas?

Sem dúvida, existem falhas na Igreja, resultantes das limitacoes dos


homens que a integram. Essas falhas, porém, nao extinguem a acao santi
ficado ra de Cristo em favor dos membros fiéis da Igreja. Nao há pecado
humano que impeca Cristo de se dar aos seus no sacramento da Igreja. Ele
prometeu aos Apostólos antes de partir: "Estarei convosco até a consuma-
cao dos séculos" (Mt 28,20). Isto significa que Jesús garante sua acao vivi
ficante á sociedáde estruturada pelos Apostólos e seus sucessores, indepen-
dentemente da virtude desses homens; nao é a santidade dos pastores que
santifica os fiéis, mas é a santidade de Cristo, que quer passar pelas mSos
dos pastores, sem ser diminuida por estes. É de notar que Jesús nao disse:
"Estarei com os mais santos e zelosos até o fim dos tempos"; se o tivesse
dito, estaría condicionando a sua obra redentora á fidelidade dos ministros
— o que deixaria inseguro o povo de Deus. Cristo quis, ao contrario, dar

465
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

um si na I objetivo da sua indefectível acSo santificadora; esse sinal é a su-


cessao apostólica, um fato histórico, que pode ser averiguado e comprova-
do por qualquer observador e que paira ácima da oscilante virtude dos ho-
mens. Quem, pois, adere á sociedade fundada por Cristo e estruturada pela
sucessao apostólica (a Igreja), pode ter a certeza de que entra em cornil-
nhao com Cristo, fonte de vida, independentemente da fidelidade ou infi-
delidade de seus ¡rmaos.

Sao estas as principáis razoes pelas quais o Cristianismo é um Sacra


mento a ser vivido em comunidade, de modo a se excluir a "prívatizacao
da fé". Esta, a rigor, é urna aberraclo derivada da nao compreensa*o do
Evangelho e alimentada pelo subjetivismo reinante na sociedade contem
poránea.

* * *

SAO FALHOS OS PRESERVATIVOS


A ineficacia dos preservativos (camisinhas) é atestada por urna noticia publi
cada no JORNAL DO BRASIL de 25/8/93.1? Caderno, pág. 9:

"CAMISINHA TEM NOVAS NORMAS

BRASILIA - Os fabricantes de preservativos masculinos devem-se adaptar


¡mediatamente á nova regulamentacSo para o produto. O Ministerio da Saúde edi-
tou ontem portaría no Diario Oficial, em substhuicao á que estava em vigor desde
1987 ...

A nova regulamentacSo foi elaborada com base em testes feitos pela Holan
da, no ano passado, com preservativos racionáis a estrangeiros vendidos no país,
que detectaram que, em sua grande maioria, nao eram eficientes nam para o con
trole de natalidade nam para a prevancao á AIDS. Os testes foram pedidos pelo De
partamento de Dafesa do Consumidor e pelo Procon de Sao Paulo.

Entre as inovacóes da nova regulamentacao estao o ensaio de porosídade das


camisinhas, já que a pesquisa descobriu que os preservativos racionáis deixavam pas
sar esperma pelos microporos. Outra novidade 4 o texte da estufa, para averiguar a
resistencia das camisinhas ao aumento da temperatura. Antes, cinco delas-tinham que
passar dois dias numa estufa de 70 graus centígrados, pela nova portaría, 50 preserva
tivos f¡carao na estufa, durante urna semana....

O texto ressalva que lubrificantes e antisépticos usados ñas camisinhas nao


devem prejudicar as suas normas de uso".

Estes dados evidenciam quao falsas sao as afirmacóes de plena eficacia da ca-
misinha provenientes de adeptos do livre relacionamento sexual. — A propósito ve-
ja-se o oportuno artigo de Mons. Jean Bonfils publicado ás pp. 476-479 deste fas
cículo.

466
Surpresa?

ABSTINENCIA DE CARNE: POR QUÉ?

Em síntese: A abstinencia de carne é praxe freqüente em correntes


religiosas nao-cristas e no Cristianismo. Deve-se é conviccao que em geral
as pessoas tém, de que a carne é um alimento forte, provocador de pai-
xoes, de modo que abster-se déla vem a ser um meio de mitigaras tenden
cias desregradas da natureza humana, tendencias que nao raro humilham a
pessoa. 0 próprio Apostólo Sao Paulo observava: "Nao consigo entender
o que fago, pois nao pratico o que quero, mas fago o que detesto... Nao
fago o bem que eu quero, mas pratico o mal que nao quero" (Rm 8,15.
19).

* * *

Mu ¡tas pessoas indagam a respeito do porqué do preceito eclesiástico


de abster-se de carne na Quarta-feira.de Cinzas e na Sexta-feira Santa (no
Brasil) Há também quem julgue que á abstinencia de carne corresponde a
obrigaclo de comer peixe — o que é falso (quem nao come carne, escolha
o tipo de alimento que preferir).

Em vista das hesitacoes, abordaremos o assunto ñas páginas sub-


seqüentes.

1. A EXPERIENCIA DE INlAOCRISTAOS E CRISTÁOS

A abstinencia de carne é observancia freqüente ñas religiSes antigás.


Inspiraram-na razoes diversas, das quais algumas muito dignas, outras, po-
rém, supersticiosas. Nao raro, junto com a privacSo de carne, prescreviase
a abstencao de outros alimentos tidos como excitantes ou como sagrados:
cebóla, favas, peixe, vinho... Para ilustrar a rnotivacao dessas práticas, seja
aqui citado o ponto de vista do neo-platónico Juliano, Imperador bizantino
de 361 a 363: recusava-se a comer a parte dos vegetáis que se acha ¡mersa
no solo (rai'zes, bulbo...), porque, dizia, o solo é o cárcere no qual a alma
caiu; aceitava, porém, a parte da planta que emerge ácima da térra, porque
esta emersao Ihe parecía simbolizar a subida da alma para as altas esferas
(or.V17a-17c)!

467
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

Os judeus anteriores a Cristo observavam abstinencia e jejum, em par


te ditados pela Lei de Moisés, em parte inspirados por devocao pessoal
(cf. Lv 11; Dt 14, distincao entre animáis puros e impuros; Ex 34,28 e
1Rs 19,8, os quarenta dias de jejum de Moisés e Elias; Lv 16, 29-31, o
solene dia de jejum expiatorio; Est 9,31, o jejum de Purim, etc.).

Os cristaos herdaram o costume geral de se abster de alimentos em


ocasioes solenes. Jesús mesmo deu o exemplo disto durante os quarenta
dias que passou no deserto {cf. Mt 4, 1-11);também formulou normas so
bre a atitude de espirito de quem jejua (cf. Mt 6, 16-18; provavelmente
Me 9,29; Mt 17,21). Logo a primeira géracao dos discípulos aparece, nos
Atos dos Apostólos, associando jejum e oracao; cf. At 13,3s; 14,23. — A
prática se foi tornando mais e mais habitual até ser introduzida na legis
larlo eclesiástica.

2. O PORQUÉ DA PRAXE CRISTA

Os motivos que sugerem aos cristaos a abstinencia de carne, em parti


cular, nao sao:

a) concepcao pessimista da materia. Tal foi, sim, o ponto de vista de


seitas dualistas (Gnósticos, Maniqueus,...), que, nos primeiros sáculos do
Cristianismo, tinham a materia e, por conseguinte, a carne como elemen
tos intrínsecamente maus. Tal foi também a concepcao de correntes exa
geradamente espiritualistas, como a dos Montañistas (séc. ll/lll d.C). Era
a ascese baseada nessas teses erróneas que Sao Paulo reprovava em Cl 2,
18-23; 1Tm 4,3.

O cristao sabe que Deus fez todas as criaturas boas (cf. Gn 1,31) e as
destinou a servir ao homem para que este se santifique e dé gloria ao seu
Senhor; nao há, por conseguinte, alimento que por sua natu reza mesma se-
ja pecaminoso (cf. 1Tm 4,4s);

b) respeito supersticioso aos animáis. Os adeptos da metempsicose ou


da reencarnacao (hindúístas, órficos, pitagóricos...), julgando que a alma
de um párente seu poderia estar incorporada em tal ou tal animal, absti-
nham-se de qualquer consumo de carne.

Para o cristao, a tese da reencarnacao é falsa; por conseguinte, inca


paz de fundamentar algum preceito de abstinencia;

c) conformidade á Lei de Moisés. Esta cumpriu o seu papel, preser


vando a fé e a esperanca messiánicas do povo de Israel. Urna vez que veio o

468
ABSTINENCIA DE CARNE: POR QUÉ?

Redentor, já nao tém vigor as normas positivas da Tora judaica (todas elas
dadas como prenuncios e preparativos do Salvador); permanecem de pé
apenas os preceitos de direito natural que Moisés incluiu na sua legislacao
e que, por serem de direito natural, se estendem a todos os tempos e todas
as religiSes.

Sao Pedro mesmo, em casa do centuriao Cornélio, teve a revé I apao de


que nao deveria mais distinguir entre os alimentos puros e impuros discri
minados pela Leí; cf. At 10,10-16. A seguir, os Apostólos reunidos em Je-
rusalém puderam declarar, invocando a autoridade do próprio Deus, que
estava ab-rogada a Leí de Moisés: "O Espirito Santo e nos dispomos que..."
(At 15,28);

d) razoes de medicina, higiene, pedagogía... A Revelapao crista nao


interfere positiva e autoritativamente em questoes de ciencias naturais.

Excluidas as justificativas atrás para a abstinencia de carne entre os


cristaos, afirmar-se-á que esta é ditada estritamente pelo dever de peni
tencia e mortificacao que incumbe a todo discípulo de Cristo. A absti
nencia vem a ser urna das respostas que o cristao dá áquela exortaclo do
Divino Mestre: "Se alguém quer vir após Mim, renuncie a si mesmo, tome
a sua cruz e siga-Me" (Mt 16,24; Le 9, 23).

Explicitando esta doutrina, diremos: o cristao é chamado a viver para


Deus e para os bens definitivos, fazendo que estes prevalecam num corpo
que é espontáneamente rebelde á orientacao do Espirito; duas tendencias
— urna, superior, voltada para o bem; e outra, inferior, carnal, propensa ao
mal — se defrontam no íntimo de cada individuo (cf. Rm 8,15.19). Em
conseqüéncia, torna-se indispensável a mortificacao da carne a todo ho-
mem desejoso de viver segundo a sua parte mais nobre. A carne tem que
ser destituida de suas cobicas desregradas, que levam a natureza a agir an
tes da deliberacSo da razao ou mesmo á revelia desta. Ora tal objetivo nao
pode ser alcancado se nao se subtraem á carne humana certos alimento*
particularmente fortes e excitantes, entre os quais a carne de animáis (jun
tamente com o vinho) costuma ser mencionada em lugar de destaque.

Assim se compreende que urna alimentacao sobria e simples tenha si


do desde cedo considerada pelos cristaos como estimulo das virtudes e, es
pecialmente, da castidade: "Abster-me-ei de carne, a fim de que, alimen
tando fortemente a carne, nao venha a alimentar também os vicios da car
ne", afirmava Sao Bernardo (r 1153), repetindo a doutrina de escritores
mais antigos (ed. Migne lat. 183, 1096s). A Liturgia, por sua vez, incute a
mesma idéia, quando na Quaresma canta: "Pelo jejum corporal, ó Senhor,
comprimís os nossos vicios, eleváis as nossas mentes, concedéis as virtudes
e o premio respectivo" (Prefacio da Missa).

469
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

A experiencia, alias, levou certos pensadores de bom senso (estoicos,


neoplatónicos) a conclusao semelhante. O filósofo Séneca (+ 66 d.C.),'
por exemplo, dizia que, após um ano de regime vegetariano, as suas ápti-
does de mente se haviam desenvolvido com mais rendimento ainda (epist
108); o neoplatónico Porfirio (t 303 d.C.) escreveu um tratado inteiro
sobre o assunto ("De Abstinentia"), em que propugnava ser a alimenta-
cao vegetariana a mais adequada á vida espiritual do filósofo.

3. UMA OBJECÁO

Há,porém,quem receie detrimento de saúde ocasionado pela absti


nencia de carne.

A essas pessoas pode-se dizer que nao somente os ascetas e os filóso


fos, mas também muito(a)s nutricionistas, longe de condenar em tese tal
prática, reconhecem o seu valor. Numerosas experiencias tém demonstra
do que urna dieta vegetariana sabiamente praticada pode favorecer a capa-
cidade de trabalho, tanto bracal como intelectual, do individuo. Para
quem segué um ritmo de vida preponderantemente intelectual, muito se
dentaria, com pouco exercicio muscular, com raras ocasioes de respirar ao
ar livre, sofrendo por vezes a acSo de excitantes (como o fumo e o álcool),
a abstinencia de carne pode ser de grande auxilio, pois diminui as ocasioes
de intoxicacSo. Epicuro (t 270 a.C), que pessoalmente nao foi um goza-
dor debochado, Plutarco (t 127 d.C.), Ovidio (t 17/18 d.C.) seguiram o
vegetarianismo. Pitágoras (t 497/496 a.C), vegetariano, morreu com cerca
de cem anos de idade. Ñas Ordens Religiosas em que o regime alimentar é
mais austero, registra-se supreendente quota de longevidade.

Mas, repitamos, nao sao propriamente consideracoes de saúde que


motivam a abstinencia de carne dos cristaos; elas foram aqui trazidas prin
cipalmente a fim de dissipar qualquer escrúpulo de Índole sanitaria. Fora
dos dias determinados pela legislacao eclesiástica (quarta-feira de cinzas,
sexta-feira santa), o cristSo é livre para seguir o regime alimentar que errí
consciéncia I he pareca conveniente; de modo geral, a abstinencia easo-
briedade Ihe ficarao sendo um paradigma que ele procurará reproduzir
com maior ou menor intensidade, levando em conta as exigencias pró-
prias de sua natureza, seu temperamento pessoal, suas condicSes económi
cas, etc. O que, em todo e qualquer caso, importa ao cristao, é regrar sua
alimentacao de modo a ná"o fomentar indevidamente as paixóes, mas,
antes, obter o dominio do espirito sobre a carne, emancipar o espirito dos
grilhoes das concupiscencias desregradas, a fim de Ihe possibilitar a adesao
incondicional a Deus na oracao e na contemplacáo.

470
Discútese:

AESTERILIZAQÁO
DAS PESSOAS DEFICIENTES

Em si'ntese: Apesar de varías declarares de Conselhos e Comunida


des da Europa, como também das Nacoes Unidas, o Par/amento Europeu,
em setembro de 1992, aprovou a Resolucao que autoriza a esterilizacao de
deficientes mentáis em casos definidos. A fundamentacao deste gesto é a
alegacio de que assim se evitará o nascimento de filhos deficientes ou, tai-
vez, de filhos sadios que nSo teríam o necessário acompanhamento do pai
ou da mSe. — Tal alegacio é falha, pois ¡á existem organizacdes dedicadas
a deficientes mentáis, que, preenchendo com afeto e carinho as carencias
dessas pessoas, verificam que estas sofrem de "sede de amor", e nao tanto
de "sede de sexo". - Por conseguíate, a Resolucio do Parlamento Euro
peu é a expressao de urna mentalidade materialista e consumista, que é ca
paz de sacrificar a pessoa humana ao bem-estar da sociedade; o "amorao
próximo" alegado por quem mata ou mutila seu semelhante, nao é verda-
deiro amor, pois este quersempre o be'm da pessoa amada.

Os fatos assim registrados vém a ser um apelo para que os cristaos


com mais afinco apregoem a mensagem de respeito e estima á dignidade de
todo ser humano.

* * *

A "cultura da rnorte", que é a cultura do nosso tempo (como jé se


tem dito), tem progredido a passos largos; nao sonriente os crimes clássi-
cos (assaltos, assassCnios, seqüestros...) vém-se multiplicando, mas novas
formas de agressao á vida humana estao tomando vulto no cenário nacio
nal e internacional. Sejam lembradas as campanhas (freqüentemente vito-
riosas) em prol do aborto, da eutanasia direta, da Engenharia Genética
sem Ética... Urna das últimas expressSes dessa cultura da morte é a apro-
vacao, pelo Parlamento Europeu, da esterilizacao de pessoas deficientes
no plano psi'quico — fato ocorrido em setembro de 1992, como se dirá a
seguir.

Visto que a inovacSo tem seus aspectos de aparente legitimidade e


até... de humanitarismo, passamos a examinar detidamente a problemática.

471
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

1. A LEGISLACÁO DOS ÚLTIMOS DECENIOS

Logo após a segunda guerra mundial (1939-1945), os Estados Euro-


peus assinaram o Tratado de Bruxelas (1948), que tencionava regulamen-
tar pontos de ¡nteresse comum. Seguíram-se-lhe o Tratado da UniSo Eu-
ropéia Ocidental (1954) e o da Comunidade Económica Européia (1957).
Todos esses Tratados, tendo em vista a manipulado da pessoa humana nos
campos de concentracao e nos cárceres de guerra, acentuaram a dignidade
e os direitos de todo ser humano, mesmo quando deficiente físico ou
mental. Em conseqüéncia, registraram-se, entre 1950 e 1960, dezoito "Re-
comendacoes" aos Governos Europeus em favor das pessoas deficientes.

Mais: após a instituido do Conselho da Europa, entre 1960e 1981,


vinte e seis "Resolucoes" foram aprovadas no mesmo sentido.

Em 1984 foi promulgada a Resolucao AP (84)3, que tinha por título:


"Programas de Política de ReabilitacSo das Pessoas Deficientes por parte
das Autoridades Nacionais" (17/09/84). Esta Resolucao foi substituida
por urna "Recomendacao de urna Política Coerente em favor das Pessoas
Deficientes", publicada pelo Conselho da Europa em 8/11/91, com a par
ticipado de todos os países da Europa Ocidental e Setentrional, mais a
Hungría e a República Tcheca e Eslovaca.

No ámbito mundial, a Organizacao das Nacoes Unidas, em sua 26?


Assembléia Geral, promulgou a "Declaracao dos Direitos do Deficiente
Mental" aos 20/12/1971. O primeiro desses direitos estipula:

"O deficiente mental deve gozar, em todos os setores possfveis, dos


mesmos direitos que os outros seres humanos".

Em 9/12/1975 a 30a. Assembléia Geral da mesma ONU proclamou a


"Declara?ao de Direitos das Pessoas Deficientes", em que se lia:

"Os direitos devem ser reconhecidos a todos os deficientes sem exce-


gao, e sem distincoes ou discriminacdes".

"O deficiente tem essencialmente direito ao respeito da sua dignidade


humana. O deficiente, qualquer que se/a a origem, a natureza e a gravidade
de suas perturbacoes e incapacidades, tem os mesmos direitos fundamen
táis que os seus concidadios da mesma idade".

Verdade é que tais Declaracoes nem sempre foram observadas; como


se verá a seguir, algumas poucas napoes européias chegaram a contradizer-

472
ESTERILIZAQÁO DE DEFICIENTES 41

Ihes implícita ou explícitamente. Todavía muito grave é o fato que passa-


mos a registrar.

2. A RECENTE POSIQÁO DO PARLAMENTO EUROPEU

Em setembro de 1992 o reconhecimento dos direitos dos deficientes


foi seriamente ameacado por urna decisao de tendencia regressiva: o Parla
mento Europeu aprovou urna proposta de ResolucSo sobre os direitos dos
deficientes psíquicos, que confere legitimidade jurídica á esterilizado de
tais pessoas, desde que se trate de "pacientes incapazesde compreendere
de querer"; a Resolucfo exige previo exame de cada caso, com a participa-
cao de autoridades judiciárias, ás quais é atribuido um papel decisorio.
Vé-se que, mediante tais cláusulas, os legisladores quiseram evitar gestos
passionais e arbitrarios; como quer que seja, assumiram urna posicao grave
mente atentatoria á pessoa humana, especialmente se considerada sobre o
paño de fundo das anteriores recomendapoes da ONU e de Conselhos de
Países Europeus.

A Resolucao em foco nao contradiz apenas ás normas do Direito,


mas também aos valores éticos; poe em questao a inviolabilidade da pessoa
humana. Só se pode admitir ¡nterveocao cirúrgica num ser humano, se se
tem em vista a saúde ou o bem desse individuo; mesmo em tal caso, é a
pessoa quem deve definir, consciente e livremente, se aceita ou ná"o a c¡-
rurgia. Vé-se, pois, que há injustica quando sao terceiros que decidem a
respeito da integridade física de um ser humano; a injustica aínda é maior,
quando a vítima é um sujeito fraco, impossibilitado de se defender ou de
fazer valer os seus invioláveis direitos.

Merece consideracao ainda o fato de que a decisao do Parlamento Eu


ropeu teve em seu favor urna enorme maioria, a saber: 154 votos favorá-
veis, 52 contrarios e 14 abstencSes. Isto mostra quanto está difundida nos
países europeus a concepcao de que a sociedade pode manipular e domi
nar pessoas deficientes, impondo-lhes, sem as consultar, tratamentos de
graves conseqüéncias.

Alias, já há alguns anos, varios países da Europa Ocidental acolheram


em sua legislacao normas que abrem brecha para a esterilizacao de defici
entes mentáis gravemente afetados. A Alemanha, por exemplo, e, depois,
a Espanha despenalizaram tal intervencSo, isto é, declararam-na isenta de
qualquer sancáo ou punicao. Compreende-se que a decisao do Parlamento
Europeu há de estimular outros países da Comunidade Européia a proce
der de modo semelhante.

473
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

3. O EMBASAMENTO DA DECISÁO

A Resolucao do Parlamento Europeu foi fundamentada sobre a alega-


pao de que assim se impediría o nascimento de enancas gravemente defi
cientes ou, caso nascessem sadias, seria evitado que crescessem sem o
acompanhamento de pai ou mae, acompanhamento necessário á sadia evo-
lucao da crianca.

Tal embasamento, porém, é falho, pois a experiencia ensina que


existem outros meios para evitar os males apontados. Com efeito, a fim de
evitar o relacionamento sexual e a gravidez de pessoas deficientes, alguns
psicólogos e pedagogos (masculinos e femininos) tém-se dedicado com afe-
to e respeito a tais pacientes, verificando que os deficientes s3o movidos
nao tanto por sede de sexo quanto por sede de amor; é precisamente a fal
ta de amor que os leva a procurar o relacionamento sexual como compen
sadlo ou desabafo. Foi a esta conclusao que chegaram dois grandes apostó
los das pessoas deficientes: Jean Vanier, fundador das Communautés de
l'Arche (Comunidades da Arca), instituidas principalmente para atender
aos mais gravemente atetados por deficiencia psíquica; e Don Luigi Mon-
za, cuja obra dita "La Nostra Famiglia" conta numerosos casos.

A procura de esterilizacao dos deficientes pode ser entendida como


sinal de excessiva valorizacSo dos bens de consumo ou do dinheiro e do su-
cesso. A sociedade contemporánea se mostra disposta a sacrificar á busca
de prazer os valores mais preciosos, como sao as pessoas humanas, desde
que estas sejam empecilho para gozar do bem-estar material. Há mesmo,
entre os defensores da eliminacao de seres humanos indesejáveis, os que
julgam ser o aborto "urna conquista da civilizacSo"; a eutanasia direta se
ria "um gesto de amor"; nessa perspectiva encaram a esterilizacao de
deficientes mentáis. Assim o homem contemporáneo, tendo-se desembara
zado de Deus, arroga a si o direito de disporda vida, da morte ou da inte-
gridade física de seus semelhantes, especialmente dos desprovidos e
indefesos.

Verifica-se, alias, que a agressa*o á pessoa humana tem sido progressi-


va: do aborto oficializado, alguns Estados passaram á eutanasia-direta le
gitimada; a seguir, vém adotando novas medidas repressivas do ser huma
no, entre as quais a esterilizacSo. Já o notava o Papa JoSo Paulo 11 em um
de seus discursos sobre a eutanasia:

"Como já se deu no tocante ao abortamento, a condenacao moral da


eutanasia permanece alheia e incompreensi'vel aqueles que estao impreg
nados (por vezes, inconscientemente) de urna concepcao da vida incompa-
ti'vel com a mensagem crista ou mesmo com a dignidade da pessoa humana
devidamente entendida".

474
ESTERILIZA CAO DE DEFICIENTES 43

4. A RESPOSTA CRISTA

Como se vé, a resposta crista ao problema dos deficientes mentáis e


do seu relacionamento sexual recusa a mutilacá*o física de tais pessoas;
propoe, antes, um tratamento que preencha as carencias afetivas desses pa
cientes de tal modo que superem por si mesmos a cobica sexual.

Para promover tal tratamento, que é muito mais humano e digno do


que a violenta intervencao cirúrgica, é necessárío que os cristaos apregoem
ao mundo a antropología do Evangelho, oposta á visao meramente mate
rialista e hedonista da sociedade de nossos dias. É necessárío que os cris
taos procurem realizar, no seu ambiente cotidiano, urna reviravolta da cul
tura, correspondente á nova evangelizado proclamada por Joá*o Paulo II.
Este, aos 12/10/92, falando aos Bispos reunidos em Santo Domingo, afir-
mava:

"A Igreja considera com preocupacSo a brecha existente entre os va


lores evangélicos e as culturas modernas; estas correm o perigo de se fechar
sobre si mesmas numa especie de invoiucSo agnóstica, privada de referen
cia á dimensao moral. A Igre/'a deve saber dar urna resposta adequada á
atual crise da cultura. Frente ao fenómeno complexo da modernidade, é
necessárío dar vida a urna alternativa cultural plenamente crista".

O Papa julga que as manifestacoes da cultura da morte registradas em


nossos dias constituem "um apelo dramático a todos os fiéis e a todos os
homens de boa vontade, para que promovam, por todos os meios e em to
dos os nfveis, urna auténtica virada cultural na marcha da nossa sociedade"
(Discurso aos Participantes do 54? Curso de Atualizacao Cultural organi
zado pela Universidade do Sagrado Coracao em Millo aos 6/9/1984).

É para desejar que os pungentes atentados contra a vida humana em


nossos tempos nao suscitem apenas a condenacao da parte dos cristaos,
mas também sirvam de ensejo a um revigoramento da proposta sempre lú
cida e firme da mensagem do Evangelho.

* + *

CURSOS POR CORRESPONDENCIA

S. Escritura, Iniciacao Teológica, Teología Moral, Historia da Igreja,


Liturgia, Sobre Ocultismo, Parábolas e Páginas Diffceis do Evangelho,
Doutrina Social da Igreja, Diálogo Ecuménico, Novfssimos (Escatologia).

Pedidos de informacóes e encomendas sejam dirigidos á Escola "Ma-


ter Ecclesiae", Caixa Postal 1362,20001-970, Rio (RJ).

475
De grande atualidade:

AIDSECASTIDADE

Em sintese: O Sr. Bispo de Viviers (Franga) chama a atencSo para o


fato de que muitos recomendara aos jovens o uso de preservativos, a fim
de nao contrairem aAIDS. Tal receita nSo somente é ineficaz do ponto de
vista técnico, mas, além disto, menospreza a juventude, confirmando-a
num tipo de comportamento passional, instintivo, distante de um nobre
ideal; "a juventude merecería melhor tratamento". - O autocontrole
sexual só pode ser obtido, se a pessoa substituí o impulso instintivo e cegó
por urna adesao mais consciente ao Primeiro Amor (Deus), adesao que se
obtém mediante a prática da oracSo e a disciplina geral dos sentidos, dos
lazeres, dos ambientes de vida...

* * *

A AIDS está sempre em foco. Quase todos os dias os jomáis noticiam


o número crescente de pessoas afetadas e a incessante luta da Medicina pa
ra debelá-la de algum modo. - A propósito escrevem-se as mais diversas
explanacñes. Com prazer registramos um precioso artigo do Sr. Bispo de
Viviers (Franca), Mons. Jean Bonfils,dirigido a jovens e também ao ampio
círculo de pessoas interessadas no assunto. Traduzimo-lo a partir do origi
nal francés, que se acha no "Bulletin Oiocésain de Viviers" n. 7, de
2/04/1993. É de crer que as ponderac8es do autor contribuarri para ilus
trar a única pista de saída do problema.

1.0 TEXTO

Há alguns dias passei urna tarde numa instituicSo de ensino católico


da diocese, em companhia de 25 jovens da última serie, debatendo o tema:
"Que esperam da Igreja os jovens? Que espera dos jovens a Igreja?" Entre
as perguntas que me foram colocadas, havia esta: "Que pensa o Sr. a res-
peito dos preservativos e, em particular, da distribuicSo dos preservativos
ñas escolas?"

476
AIDSECASTIDADE 45

Respondí:

"Tenno vergonha em nome dos jovens. Quem se julga que eles sao?
Em prime i ro lugar, mentem-lhes, dando-lhes a crer que os preservativos
sao o melhor remedio contra a AIDS. A seguir, rebaixam-nos quase ao ní-
vel de um animal que nao tem inteligencia para conceber um ideal, nem
afetividade para gozar dele, apreciá-lo, expandir-se nele e amá-lo, nem von-
tade para realizá-lo. Os homens contentam-se com muni-los de urna prote-
cao, e subentendem que, com isto, podem permitir a si mesmos o que eles
querem. Chamo isto 'urna pedagogía da subcintura, urna pedagogía que es
carnece do coraclío e do cerebro'. A pedagogía dos fracos, dos que sao des-
prezados, porque tidos como incapazes de coisa alguma, e digo a mim mes-
mo que os jovens merecem, sem dúvida, um pouco mais de consideracSo".

Um jovem reagiu entao: "Mas o Sr..., o Sr. talvez nao tenha relacoes;
por isto é-lhe difícil saber o que elas significam!" Ao que respondí: "Se eu
nao tivesse a oracá*o e um pouco de disciplina dé vida, eu seria e faria co
mo todos fazem".

As pessoas consagradas a Deus, os sacerdotes que se comprometerán)


a viver no celibato e na castidade perfeita, sabem que, se eles querem ser
fiéis, tém que rezar quase duas horas por día, contando-se o tempo que
eles passam a celebrar a Eucaristía, a rezar em nome da Igreja, lendo o que
se chama a 'Liturgia das Horas', a ruminar a Palavra de Deus na Biblia, a
orar á Virgem María recitando o rosario a examinar a sua consciéncia á
noite antes de adormecer e, enfím, a adorar o Senhor Jesús presente na
Eucaristia. Sem a oracSo, é impossível viver em castidade, pois o hornem
nao pode viver sem amor, nem sozinho. Ele precisa de amizade. A oracáo
é isso; é o encontró de um amigo com seu amigo. Pensó aqui especialmen
te na oracao pessoal, naquela que fazemos no segredo do nosso quarto ou
do nosso escritorio. "Quanto a ti, quando qu¡seres rezar, diz Jesús, entra
no segredo do teu quarto, tranca a porta e eleva tua oracao ao teu Pai, que
lá está no segredo" (Mt 6,6).

Quando o Papa Joá"o Paulo II ousou utilizara linguagem exigente da


castidade em Uganda, há algumas semnas, os meios de comunicacao dos ri
cos que nos somos na Europa, sempre prontos a dar licóes a África, ¡me
diatamente levantararn urna tempestado de protestos. Um semanario, ha-
bitualmente serio, chegou a consagrar toda urna página a ridicularizar o
Papa numa caricatura. Todavía tal linguagem é a única auténtica lingua
gem. Nem é necessário que alguém seja cristSo para que a profira. Basta
crer numa certa dignidade da pessoa humana. Mas, se os cristaos nao a pro-
poem, quem a proporá? É a linguagem que chama o bem e o mal pelo seu
genuino nome. O preservativo é um mal. Que os homens o digam a si mes-

477
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 377/1993

mos, se tém um pouco de lucidez e de coragem. Em relacao a AIDS, é evi


dentemente um mal menor. Mais vale utilizar um preservativo do que
transmitir a AIDS. Mas mais vale praticar a castidade do que utilizar um
preservativo. O Evangelho nao nos foi anunciado por Jesús para que nos
contentemos com o mal menor. Nao era necessário que viesse do céu para
apregoar urna pedagogía do mi'nimo vital.

Além da oracao, há também a exigencia de urna certa disciplina de vi


da. Se tu permites a ti mesmo olhar para qualquer imagem na televisao ou
alhures, escutar qualquer conversa, fumar ou beber mais do que a razao
reconhece, freqüentar pessoas que fazém do vfcio urna virtude, ser-te-á
impossfvel viver na castidade.

Dito isto, acrescentarei — mas isto vai além da pergunta formulada —


que todos aqueles que sofrem de AIDS devem ser acolhidos com a cruz
que carregam, sem exclusao de ninguém, sem censura, sem julgamentos:
"Eu estava doente, e vos me visitastes", diz Jesús (Mt 25,36).

Tal é, segundo me parece, a única linguagem que seja lícito a um


cristao sustentar.

A seguir, passamos a outra pergunta, sem que eu pudesse deixar de


julgar que esse tipo de discurso era um pouco difícil de serendossado pe
los jovens que eu tinha diante de mim. Mas temos nos o direito de apresen-
tar outro discurso?".

II. COMENTANDO...

O texto é altamente valioso, porque usa da linguagem mais franca


possível, a única válida no caso. Em sintese, eis o que lembra ao leitor:

1) Sonriente a castidade ou o uso racional e regrado da sexualidade,


dentro das normas que a natureza propoe, pode por termo ao flagelo
da AIDS.

2) Incentivar os jovens (ou também os adultos) ao uso de preservati


vos é enganá-los; é dar-lhes a crer que poderao livrar-se de um mal sem eli
minar a respectiva causa. É estimuiá-los á covardia ou á falta de disciplina
— procedimento este que é nocivo para toda a vida de alguém. Vem a ser,
pois, urna falsa pedagogía, que desconsidera e deprecia os jovens, reduzin-
do-os á categoría de animáis dotados de instintos cegos e incontroláveis.
Assim murcha todo ideal que um jovem possa conceber.

478
AIDSECASTIDADE 47

3) Mas como viver a castidade? O homem precisa de parceiragem


e amor. - Nao há dúvida. Notemos, porém, que há varios graus de amor
e amizade. Quem se dispoe a abandonar a parceiragem instintiva do sexo
livre, encontrará certamente no Primeiro Amor e na Fonte de todo bem
muito mais respostas do que em qualquer criatura; a prática da oracao
(que a muitos pode parecer árida e insignificante) preenche o orante com
muito mais deleite e firmeza do que as desregradas concessSes feitas aos
sentidos. Quem reza, descobre Oeus e se fixa mais fácilmente na fidelidade
á dignidade humana e á vontade do Criador. Eis o segredo de quem deseja
elevar-se ácima dos impulsos desordenados do seu coracao.

4) Juntamente com a oracSo, a disciplina de vida - a guarda dos


olhos, a escolha do tipo de lazer, a temporánea na fruicáo do prazer - é
condicao indispensável para sadio desdobramento da personalidade. Se o
homem nSo sabe dizer Nao a si mesmo quando se senté impelido á desor-
dem, se se deixa levar pela fácil concesslfo ao hedonismo, será sempre
escravo, e nao livre.

Oxalá esta linguagern franca, que afinal pode ser entendida mesmo
sem a luz da fé, consiga levar a seria reflexao sobre o problema da AIDS!

A propósito da ineficiéncia dos preservativos, ver pág. 445 deste


fascículo.

* * *

(Continuagao da pág. 480)

muitos casos, tornando-se um bom cidadSo. Portanto nao é mau essencial-


mente, mas apenas em seu agir.

Pergunta-se agora: como reconhecer concretamente o que é moral-


mente bom ou mau? — A resposta nao é diffcil: existem ditames éticos im
pregnados em todo ser humano, ditames que constituem a lei natural; a
existencia desses ditames, anteriores a qualquer crenca religiosa, mais urna
vez se manifestou em 1948 na promulgacao da Carta dos Direitos Huma
nos; após os crimes de 1939-45, os povos da térra resolvera m afirmar sole
rtemente a necessidade de se respeitar a pessoa do próximo, seus bens, sua
fama, sua liberdade... Vemos, pois, que a reafirmado do bem (honestida-
de, lealdade, fidelidade...) e do mal (homicidio, furto, calúnia...) como
comportamentos antagónicos é algo de sadio e mesmo indispensável á vida
social. Sem isso, caímos no caos e na desgraca.

Estévao Bettencourt O.S.B.

479
Será?

O BEM E O MAL: MANIQUE

"Aceitar a distincao entre o bem e o mal ou entre bom comportamen-


to e mau comportamento é maniquei'smo dualista. O bem estaría de um
lado e o mal, do outro. Acabemos com a distincao". É o que estao dizen-
do. — Será verdade?

* * *

0 maniquefsmo é urna corrente de pensamento derivada de Maní


(sáculo III) na Pérsia. Professava a existencia de dois Principios ou Seres
Primordiais, dos quais um seria esencialmente bom (o Principio da Luz)
e o outro essencialmente mau (o das T revas); o primeiro seria responsável
pelo espirito, o outro, responsável pela materia. Esta doutrina tem o nome
de dualismo ontológico. Nao é aceitave I, nem aos olhos da razao nem aos
olhos da fé.

Existe, porém, o dualismo ático. Este professa que nenhum ser é es


sencialmente mau, mas, sendo dotado de vontade livre, pode ter um com
portamento desarmonioso em relacao á dignidade humana. Tal fato é da
experiencia de todos os homens; o próprio Sá*o Paulo podia dizer: "Nao fa-
co o bem que quero, mas pratico o mal que nao quero" (Rm 7,19). Os ins
tintos ou impulsos naturais (conscientes ou inconscientes) nem sempre es-
peram a autorizacao da razao para se manifestar. Compete á pessoa de
bem coibi-los e dar-Ihes remedio, para nao se tornar incoerente. Quem
senté, mas nao consente em tais impulsos, nao está pecando. Existem, por-
tanto, o bem e o mal no plano ético ou no plano da conduta humana.
Quem reconhece isto, está longe de ser maniqueu, pois maniqueísmo, co
mo dito, se refere ao plano ontológico, e nao ao plano moral. Observemos
que um criminoso, por mais malvado que seja, tem prendas da natuerza
humana (inteligencia, vontade, afetividade...); é corajoso, perspicaz; infe
lizmente, porém, aplica esses dons á destruicSo e ao terror, em vez de os
dedicar á construcao da sociedade; tal individuo pode ser recuperado em

(Continua na pág. 479)

480
Em Comemoragao do IV Centenario de sua. Fundagao

408 páginas (30 x 23) de uma obra ricamente policromada


Texto histórico documentado por O. Mateus Rocha OSB

É a crónica corrida e compacta da construcao do Mosteiro, da sua


igreja e das obras de arte nele contidas. Resume as mais diversas contri-
buicóes que. durante séculos. formaram o patrimonio da Ordem Benediti-
na na provincia do Rio de Janeiro.

Palavras do renomado arquiteto Ludo Costa:

"Esse mosteiro - este monumento - é, sem dúvida, a áncora da ci-


dade do Rio de Janeiro. — Em boa hora o intelectual e fotógrafo Humber
to Moraes Franceschi que já nos deu a obra-prima ."O Oficio da Prata",
resolveu fazer, com o pleno apeno do engenheiro-Abade D. Inácio Barbosa
Accioly (falecido a 26 de maio de 1992) -impecável dono da casa - este
definitivo inventario visual, velho sonho de O. Clemente da Silva Nigra."
Oe O. Abade Inácio Barbosa Accioly:

"Hoje o Mosteiro é realmente a áncora da cidade do Rio de Janeiro.


É igualmente foccxle luz ardente que, semqualquer ostentacSo ilumina to
dos aqueles que aqui vivem, que aqui vém louvar o Senhor, ou que aqui
encontram alimento para a chama misteriosa de sua fé — pois o Mosteiro
nao é um simples monumento ou um museu, mas uma casa viva a irradiar
a presenca de Oeus."

Da mesma obra, álbum com 110 págt. (30 x 23) tomantt mbn t IQREJA DE SAO
BENTO. am S volvmat ttptradot ñas lingual portuguota.xatpanhola. fnnetsa. inglesa
a alemi.
O ANO LITÚRGICO
Presenga de Cristo no tempo

Quadro mural (formato 65 x 42).


I lustrado em cores, para estudo do
Ano Litúrgico em cursos para
equipes de Liturgia. É um "calen
dario" com as solenidades e testas
do ano eclesiástico, com breves
explicacoes.

Pode ser afixado ás portas de igre-


jas, em salas de aulas, novicia
dos, etc.

Elaborado por D. Hildebrando


Martins. Útil á Catequese.

LITURGIA PARA O POVO DE DEUS, 4? ed. por O. Cario Fiore SDB e D.


Hildebrando Martins OSB.
E a Cunstituicáo sobre a Liturgia (Sacrosanctum Concilium) explicada aos
fiéis, em todo o seu conteúdo (Principios gerais, Acao Pastoral, o Miste
rio da Eucaristía, os Sacramentos (com os seus ritos), o Oficio divino, o
Ano litúrgico, a Música e a Arte sacras), com breves questionános para
estudo em grupos. — 215 págs.

LITURGIA DAS HORAS, Instrucao geral (importancia da Oracáo na vida da


Igreja, a Santif¡cacao do dia, os diversos elementos da Liturgia das Horas.
Celebra?oes ao longo do ciclo anual, Celebracáo comunitaria). - 100 págs.

LITURGIA DA MISSA — Ordinario para celebracao da Eucaristía com o povo.


25a edtcao atualizada, em preto e vermelho. Traducao oficial da CNBB,
contendo as 11 OracSes Eucarísticas, com acréscimo das aclamacoes e
novos textos. — 108 págs.

ESTRUTURA GERAL DA MISSA - Quadro mural que completa o do ANO


LITÚRGICO-(65x42).
Apresentacao em cores de todos os momentos da celebracáo da Missa.
Elaborado por D. Hildebrando OSB.

RENOVÉ. QUANTO ANTES,


SUA ASSINATURA PARA 1993
CR$ 1.000,00

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