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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoríam)
APRESENTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Estevño Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a conflaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
Ano xxxvii Marco i996

"Ó Morte, onde está a tua Vitoria?" (1Cor 15,55)


Ano 2000: Medo ou Esperanza?

. Ainda a Profanado da Imagem de


Nossa Senhora Aparecida

"O Jesús Histórico" por John Dominic Crossan

Vassula Ryden: Pronunciamento Oficial da Igreja .

Resposta á Associacáo "A Verdadeira Vida em Deus"

A Conferencia de Pequim: Resultados

As Restricóes da Santa Sé

"A Viagem de Lourdes por Alexis Carrel


PERGUNTEE RESPONDEREMOS MARC. O 1996
Publicarlo Mensal N<> 406

Diretor Responsável SUMARIO


Estéváo Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia "Ó Morte, onde está a tua Vitoria?" 97
publicada neste periódico Fa|am os Bjspos do paraná;

Ano 2000: Medo ou Esperanza? 98

Diretor-Administrador: o pronUnciamento dos Bispos do Brasil:


O. Hildebrando P. Martins OSB Ainda a Profanado da Imagem de
Nossa Senhora Aparecida 101

Administrado e distribuicáo: Afirmacóes e Suposicñes:


Edicóes "Lumen Christi" c?osranS Hlstórlco por John Domlnlc 1(M
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5o andar - sala 501
Tel - (021) 291-7122 Uma Oeelaracáo Importante:
cJ/mnwom Vassula Ryden: Pronunciamento
Fax (021) 263-5679 of,cU|| da ,*reJa 116

Aínda a Notificacáo:
Enderezo para correspondencia: Resposta á Associacáo "A Verdadelra
Ed. "Lumen Christi" Vida em Deus" 118

rIIÍXa™ao^66B h . - p,
Cep 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ
Que Conclusóes?
A conferencia de Pequim:
Resultados 124

Em Pequim:
As Restrlcdes da Santa Sé 130
ImpressSo e Encadgmacffo
Um Milagre... Uma Conversáo:
"A Viagem de Lourdes" por Alexis
Carrel 137

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA


"MARQUES SAfíAIVA-

NO PRÓXIMO NÚMERO:

Nestoríanos professam a Fé Católica. - Eleicáo do Papa por todos os fiéis? - 17


Anos de Pontificado. - Encíclica de Pió XI contra o anti-semitismo. - Acusacoes
suspeitas e injustas. - "A quem iremos?" (Dr. E.A. D'Assumpcáo). - "Catolicismo:
Verdade ou Mentira?" (A.D. Santos).

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is«
"O MORTE, ONDE ESTA A TUA VITORIAS
(1Coi'Ta;0S)~ -~

O mes de margo é mes de Quaresma, em que o cristáo procura contem


plar mais assiduamente a "bem-aventurada Paixáo" do Senhor Jesús para déla
participar mais intimamente.

Porque... "bem-aventurada Paixáo"?

- A expressáo é tirada da Oragáo Eucarística I. Exprime o misterio da


Páscoa do Senhor: esta é Paixáo e Morte, que se tornaram vitória sobre a
Morte. A Liturgia de Páscoa o sintetiza nestas palavras: "Cristo, morrendo, des-
truiu a nossa morte" (Prefacio da Missa). Os antigos escritores da Igreja se
compraziam em explicitar esta idéia, notando que Jesús transfigurou a morte;
trocou o seu sinal negativo por um sinal positivo. Com efeito; a morte arremes-
sou-se sobre Jesús como se atirava sobre qualquer filho de Adáo, mas nao
conseguiu captá-lo porque Ele era a própria Vida feita carne; em conseqüéncia,
a morte foi vencida... e vencida nao somente em favor de Cristo, mas em favor de
todos os homens. Ela se langa até hoje sobre todo e qualquer mortal, mas será
vencida porcada qual no fim dos tempos, quando se dará a ressurreicao de toda
carne. Escreve S. Efrém, o sirio: "A morte matou Cristo no corpoque Ele assu-
mira. Com as mesmas armas, porém; Ele triunfou sobre a morte. A Divindade
ocultou-se sob a humanidade e aproximou-se da morte, que matou e foi morta.
A morte matou a vida natural, mas foi morta pela vida sobrenatural".

A morte assim perdeu o seu aguilháo. É semelhante a urna serpente cujo


veneno pode fazer a vítima dormir durante algum tempo, mas nao mata: "A
morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó
morte, o teu aguilháo?" (1 Cor 15,55).

Entendida nestes termos, a morte já nao é espantalho para o cristáo. O


Apostólo chega a dizerque ele a domina desde que viva e morra com Cristo: "O
mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro, tudo é vosso, mas vos sois de
Cristo, e Cristo é de Deus" (1 Cor 3,22s).

É de notar, porém, que a morte nao é urna realidade meramente futura. O


cristáo, pelo Batismo, foi mergulhado sacramentalmente na morte de Cristo,
para poder viverdiariamente a morte,... a morte ao velho homem e ao pecado.
Dizendo Nio ao que é velho, o cristáo diz simultáneamente Sim ao novo ho
mem; abre espago em seu íntimo para que ai se desenvolva a nova criatura,
configurada ao Cristo Jesús. Quaresma é, pois, o tempo forte e santo do ano em
que somos incitados a reconhecer a Páscoa de Cristo nao somente em si,
como fato histórico, mas também em nos, como a nossa realidade mais profun
da e significativa; nao apenas comemoramos a Páscoa, em atitude de louvor,
mas nos a vivemos no cotidiano.

É para desejarque o Senhor Jesús, assumindo mais urna vez a sua Igreja
na celebragáo de Páscoa, dé a todos a graga de urna consciéncia sempre mais
viva da nobre tarefa que isto implica para cada cristáo.
E.B.

97
PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
»l

Ano XXXVII - N° 406 - Marco de 1996

Falam os Bispos do Paraná:

ANO 2000: MEDO OU ESPERANQA?

Diante do pulular de noticias catastróficas relativas aos próximos


anos, os Bispos do Paraná houveram por bem publicar uma Nota, na
qual tomam posicio serena, mostrando o que hája de inverossímil em
tal noticiario. O texto, oportuno como é, merece divulgacáo.

Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)


Regional Sul 2 (Paraná)

ANO 2000: MEDO OU ESPERANCA?

"A proximidade do ano 2000 fez nascer, no coracáo do Papa Joáo


Paulo II, um oportuno apelo. Em sua Carta Apostólica Tertio Millennio
Adveniente (TMA - O Terceiro Milenio que se Avizinha), conclamou
toda a humanidade a preparar-se para o Jubileu extraordinario em
que se celebraráo os dois mil anos do nascimento de Jesús. Jubileu,
lembrou o Papa, é um ano de graca do Senhor, um tempo dedicado
de modo particular a Deus, um ano de reconciliado e de júbilo, um
ano de alegría (cf. TMA 11-16). Celebrar o próximo Jubileu é ter uma
conviccáo: em Cristo, o próprio Deus nos fala e, mais ainda, nos
procura, demonstrando seu infinito amor por nos (cf. TMA 6-7). Por
isso mesmo, essa grande celebracáo deverá ser marcada pela
esperanca. Haverá, até, uma 'nova primavera de vida crista... se os
cristáos forem dóceis á acio do Espirito Santo" (TMA 18).

Em vista do ano 2000, somos convidados (1) a louvare agradecer


a Deus pelo dom da Encamacio de seu Filho e da Redencáo por ele
realizada; (2) a viver desde já em espirito de penitencia e reconciliacáó,

98
ANO 2000: MEDOOU ESPERANQA?

num clima de alegría, "alegría pela remissáo das culpas, alegría da


conversáo" (cf. TMA 32); (3) a trabalhar e rezar pela unidade dos
cristáos, "dom do Espirito Santo" (TMA 34). Deseja o Papa que
dediquemos um trienio á Santíssima Trindade: o ano de 1997 a 'Jesús
Cristo, único Salvador do mundo, ontem, hoje e sempre" (cf. TMA 40;
Hb 13,8); o de 1998, ao Espirito Santo, destacando sua presenca
santificadora na comunidade dos discípulos de Cristo (cf. TMA 44); e
o de 1999 ao Pai, para que saibamos vé-lo com o olhar de Seu Filho
(cf. TMA 49).

Nos, Bispos do Regional Sul 2 (CNBB - Paraná), conclamamos


nossas comunidades a prepararem-se adequadamente para este ano
de graca da parte do Senhor (cf. Le 4,19).

Preocupa-nos, por outro lado, a onda de pessimismo e medo que


invade muitos coracóes, fruto da difusáo pouco criteriosa - inclusive
por movimentos ou grupos que se dizem de Igreja - de noticias e
experiencias místicas extraordinarias. Normalmente essas noticias,
transmitidas por livros, folhetos e vídeo-cassetes, surgem cercadas
de ameacas, contém previsóes catastróficas e estáo envolvidas em
linguagem apocalíptica. Sua divulgacáo nao leva em conta as normas
de prudencia e os criterios de discernimento que a Igreja usa em
situacóes assim. Multiplicam-se, também, descricóes da terceira parte
do Segredo de Fátima, como se as autoridades competentes já o
tivessem revelado. Resultado: a alegría da Boa Nova passa a ser
substituida por ameacas, acompanhadas de interpretares
superficiais de textos bíblicos; a confianca em Deus, que é Pai
misericordioso, dá lugar á inquietacáo; e a ¡maginacáo de alguns faz
nascer curiosas "visitas espirítuais* de Nossa Senhora.

Sabemos que Deus, o Senhor do Universo, é livre e pode intervir


na historia para manifestar-se ao homem. Há casos, inclusive, em que
permitiu que María, a Máe de Seu Filho, recordasse á humanidade
verdades esquecidas do Evangelho. Nao se pode esquecer, contudo,
que o campo das manifestacóes sobrenatural é delicado e o perígo
de engaño é real é freqüente. Muitas "aparicóes* e "revelacóes* sao
fruto da imaginacáo, da auto-sugestáo ou do desequilibrio de pessoas
que, inclusive, podem até ser bem intencionadas. Por ocasiáo da
mudanca e passagem dos séculos ou dos milenios é comum surgir,
em nao poucas pessoas, a expectativa do "maravilhoso* ou do
extraordinario. Por isso, mais do que nunca, tenha a Biblia um lugar
privilegiado na vida de todos - ela que é a revelacáo oficial que o
Senhor nos oferece. E, em lugar de preocupar-se com as "novidades"
neste campo, assumam os crístáos-leigos o papel de protagonistas
da evangelizacáo para levar todos á adesáo pessoal a Jesús Cristo e

99
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

á Igreja. Afinal, segundo nosso Mestre e Senhor, a expansáo do


Evangelho nao se dará por aparicóes e revelares particulares, mas
pela pregacáo (cf. Mt 28,19) e pelo testemunho (cf. At 1,8).

María Santíssima, a quem estáo sendo atribuidas ¡numeras


comunicacóes de desgraca, é, na verdade, a mulher da esperanca
(cf. TMA 48). Apontando-nos seu Filho divino, repete-nos hoje: "Fazei
o que ele vos disser" (Jo 2,5). A Máe de Jesús é, para todos nos,
modelo de como a fé deve ser vivida no dia-a-dia (cf. TMA 43). Seu
cántico, o Magníficat (cf. Le 1, 46-55), a saudacáo do Anjo (Ángelus)
e o Rosario - oracóes que muitas familias rezam diariamente -,
certamente nos ajudaráo na caminhada em direcáo doTerceiro Milenio.

Curitiba, 23 de setembro de 1995


Os Bispos do Paraná"

REFLETINDO...

Já em PR 405/1996, pp 50-56 foi publicada urna síntese da Carta


do S. Padre Joáo Paulo II sobre o Terceiro Milenio. A leitura de tal
documento suscita esperanca e confianca; vé-se que o Papa deseja
realizar grandes coisas a fim de celebrar dignamente o ano 2000, e,
para tanto, conta com a graca de Deus. Nao deixa de ser também
serio e sincero, quando aponta falhas do passado e do presente, que
exigem penitencia da parte dos fiéis católicos. Mas está longe de
prever catástrofes e flagelos em punicáo dos delitos da humanidade.
Nao há dúvida, Deus nao tolera a iniqüidade; Ele pode castigar quando
e como queira, mas nao nos é lícito falar em nome do Senhor sem ter
recebido explícita delegacáo para predizer intervencóes drásticas de
Deus na historia dos homens.

Parece certo que atualmente quem profetiza calamidades sobre


a térra, assim procede de boa fé, julgando ter recebido revelacóes do
Alto; mas o bom senso e o discemimento dos fiéis devem estar atentos
para avaliar o peso de tais "profecías". Quem vive em nossos días,
sabe que há urna onda de previsóes subjetivas atribuidas ao além,...
onda contagiante e desacreditada por si mesma ou pelo teor fantasioso,
nem sempre ortodoxo, de suas afirmacóes.

Eis por que há de prevalecer no povo de Deus urna atitude realista,


"pé-no-cháo", ou seja, a consciéncia de que os tempos atuais nos
pedem mais fidelidade, mais empenho apostólico, mais abnegacáo...
para nao trairmos o Senhor Jesús e prepararmos dignamente o
Grande Jubileu do ano 2000.

100
O Pronunciamento dos Bispos do Brasil:

AÍNDA A PROFANAQÁO DA IMAGEM DE


NOSSA SENHORA APARECIDA

Embora com grande atraso, devido a razóes independentes dos


propósitos da Reda9áo, nossa revista nao pode deixar de publicar a
Nota da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil referente á
profanacáo da imagem de Nossa Senhora Aparecida. Apesar de haver
ocorrido muita coisa após o lamentável gesto, o Documento em pauta
é inesquecível, pois exprime a atitude nobre dos Bispos do Brasil,
que, em vez de responder com represalias, preferem manter a atitude
crista de perdáo. Este perdáo nao significa moleza ou covardia, pois
é acompanhado de protesto contra as "caluniosas acusacóes"
levantadas pelos protestantes contra seus irmáos católicos. Dizia o
sabio filósofo grego Platáo (f348 a.C.) que mais infeliz é a condicáo
de quem comete urna injustica do que a de quem sofre urna injustica;
ver texto editado em Apéndice á Nota da CNBB.

O TEXTO DA CNBB

"ESCLARECIMENTO AOS FIÉIS CATÓLICOS

"1. Os bispos do Brasil sentiram e sentem a mesma consternacáo


dos mais de cem milhóes de católicos brasileiros diante da gravíssima
agressáo á imagem de Nossa Senhora Aparecida. Com a nota
(divulgada pelo vice-presidente da CNBB quando dom Lucas estava
em Roma) cumpriram o dever de solidarizar-se com todos os fiéis,
especialmente com os mais pobres e simples, marcados por profunda
devocáo á Aparecida; de confortá-los na prova cao; de dar-lhes as
orientacóes mais importantes. Podem esses fiéis ter a certeza de que
seus pastores estáo muito próximos deles neste momento de
tribulacáo.

"2. Por maior que seja a gravidade do fato, este nao monopoliza
as atencóes dos bispos do Brasil. Estes, integrados na CNBB e guiados
pelas 'Diretrizes Gerais da Acáo Evangelizadora da Igreja no Brasil'
assim como por importantes documentos do Magisterio da Igreja,
prosseguem, sem se deixar desviar por nenhuma provocacio, a sua
atividade pastoral evangelizadora e missionária em beneficio dos fiéis
e do povo brasileiro em geral.

"3. Os bispos do Brasil convidam os sacerdotes, diáconos e


ministros, religiosos e religiosas, leigos engajados, agentes de pastoral
e fiéis em geral a urna atitude evangélica de perdáo das ofensas:

101
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

"Nao te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem" (Rom.
12,21). Neste sentido, a CNBB rejeita de antemáo qualquer atitude
de revanchismo mesmo diante das provocacóes que nao faltam.

"4. A CNBB observa com prazer que a agressáo a um dos seus


símbolos mais sagrados ja provocou nos fiéis católicos um forte
aumento de devocáo a María. Os bispos renovam seu compromisso
de aperfeicoar, mediante urna adequada catequese, o sentido e o
conteudo-desta devocáo que se dirige á mulher predestinada a ser a
Máe do Verbo Encarnado e, por isso, ornada por Deus de gracas e
prerrogativas; á primeira e mais perfeita discípula de Jesús; á serva
do Senhor, exemplo e modelo de obediencia á Sua vontade.

"5. Os bispos do Brasil repelem, venha de onde vier, as infundadas


e caluniosas acusacóes de que os católicos adoram (quando, na
verdade, adoram só a Deus Trindade) e praticam a idolatría (quando,
na verdade, yéem ñas imagens de Cristo, de María e dos Santos
somente sinais visíveis á sua devocáo e religiosidade).

"6. A CNBB nao pretende promover nenhum ato de reparacáo e


desagravo de ámbito nacional, pois entende que as grandes romanas
ao Santuario Nacional da Aparecida já cumprem essa finalidade;
entende também que cada bispo promoverá melhor tais atos em sua
respectiva diocese, levando em consideracáo as situacóes locáis, os
apelos dos fiéis a dar as respostas ás necessidades do lugar, para
que os mesmos atos tenham sua plena signíficacáo.

"7. Atenta aos desdobramentos do episodio em todas as áreas


que possam achar-se afetadas por ele, a CNBB nao julga oportuno,
no momento, tomar a frente de nenhum processo jurídico contra
pessoas e instituicdes envolvidas. Por outro lado, porém, os bispos
nao se sentem autorizados a proibir nem desencorajar leigos católicos
que se sentem em consciéncia no dever de entrar com processos
judiciais ou acñes populares desde que essas sigam rigorosamente
os trámites da Justica sem o mínimo risco de desviar-se em atos de
violencia física ou moral a terceiros.

"8. A CNBB exprime gratidáo a todos os líderes religiosos da


comunidade judaica, das igrejas reformadas, protestantes e
evangélicas, de varios outros cultos que, por cartas, telegramas ou
entrevistas á imprensa, quiseram exprimir solidariedade. Ela vé nesses
testemunhos um incentivo a prosseguir e intensificar o diálogo
ecuménico e ou ¡nter-religioso que é um dos seus empenhos
fundamentáis. Agradece igualmente as manifestares amistosas de
outras instituicdes civis, associacóes e grupos sociais e renova com
todos e todas seu compromisso de continuar a promover, no ámbito
que Ihe concerne, o clima de respeito mutuo, compreensáo e
convivencia em meio ás diferencas de cultura e religiáo.

102
AÍNDA A PROFANACÁO DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA APARECIDA 7

"9. A CNBB senté a necessidade de conclamar os fiéis católicos


a colocar-se, perante o deplorável episodio, em atitude de fé, de
oracáo, de humildade, de amor á Justica e a paz. Está certa que só
deste modo se restabelecerá o clima de concordia seriamente
ameacado pelo episodio de intolerancia.

"10. Por fim, confia a CNBB que os meios de comunicacáo social


(aos quais agradece todo o esforco de informacáo) sejam, nesta
circunstancia, como é de sua natureza, instrumentos de verdadeiro
entendimento entre pessoas e as comunidades humanas.

Dom Lucas Moreira Neves, presidente da CNBB"

(Publicado na imprensa aos 26/10/95)

APÉNDICE

O JUSTO E O INJUSTO

Sócrates discute com Polos, ardente e verboso discípulo do sofista


Górgias, a respeito do que é justo e do que é injusto.

"Polos: Na minha opiniáo, aquele que é levado á morte injustamente,


é, ao mesmo tempo, infeliz e digno de pena, nao é verdade?

Sócrates: Ele o é menos do que aquele que o faz morrer


injustamente. E também menos do que aquele que, simplesmente,
morre por causa de urna sentenca justa.

Polos: Mas que absurdo! E como assim?

Sócrates: No sentido de que o maior de todos os males é cometer


a injustica.

Polos: Será realmente este o maior de todos os males? Sofrer


urna injustica nao é, porventura, um mal maior?

Sócrates: Absolutamente nao!

Polos: Entáo tu preferirías ser vítima da injustica a cometer a


injustica?

Sócrates: Por minha parte, eu preferiría nao ter de encontrar


me nem numa situacáo nem na outra. Mas se, forcpsamente, tivesse
que haver ou urna injustica praticada ou urna injustica sofrida, eu
preferiría sofrer urna injustica a cometé-la".

(Platáo, Oeuvres Completes. Bibliothéque de la Pléiade, I


vol., p. 406; Diálogo Górgias § 469)

103
Afirmacóes e suposicóes:

'O JESÚS HISTÓRICO"

por John Dominio Crossan

Em síntese: John Dominic Crossan distingue entre o Jesús da


historia e o da fé; mediante um exame crítico e discutível dos textos
do Novo Testamento, chega á hipotética reconstituigao da figura de
Jesús "tal como Ele deve ter sido", sem os pretensos acréscimos
teológicos que as antigás comunidades cristas Ihe terao adicionado.
A tese decorrente de tal trabalho afirma que Jesús foi um camponés
cínico, preocupado com a aboiigáo das ciasses sociais e desejoso de
promover a igualdade entre todos os homens; para tanto ter-se-á
servido de curandeirismo popular e comensalidadé ou refeigdes
informáis em casas de familia. - A conclusáo de Crossan é altamente
subjetiva e insegura, pois se funda em conjeturas e hipóteses
sucessivas, que o próprío autor reconhece como tais; vejase a relagao
de "creio..., sugiro..., proponho..." catalogados no fim deste artigo.
* * *

O livro "O Jesús Histórico" de John.Dominic Crossan traz como


subtítulo "A Vida de um Camponés Judeu do Mediterráneo" e ainda.
"A primeira Definicáo abrangente de quem era Jesús, o que ele fez e
o que ele disse". O autor supóe que a imagem de Jesús apresentada
pelos Evangelhos e outros escritos do Novo Testamento é urna imagem
teológicamente elaborada e engrandecida, diferente da imagem do
Jesús real ou histórico; o Jesús da historia e o Cristo da fé seriam
diferentes um do outro. Ora o autor pretende penetrar, através do
Cristo da fé, até o Jesús da historia. Para tanto emprega material
muito vasto; consultou os livros do Novo e do Antigo Testamento,
apócrifos do Antigo e do Novo Testamento, escritos rabínicos, obras
de escritores cristáos dos primeiros séculos, produzindo assim um
volume de 543 páginas em traducáo portuguesa'.

Ñas páginas subseqüentes procuraremos esbogar o conteúdo do


livro, ao qual faremos alguns comentarios.

1 O JESÚS HISTÓRICO. Ed. ¡mago, Rio de Janeiro 1993, 155x230mm. 543 pp.
Tradugao do inglés The Historical Jesús por Andró Cardoso.

104
"O JESÚS HISTÓRICO"

LÁTESE DO LIVRO

1. A premissa do autor é que os escritos do Novo Testamento


nao a presenta m simplesmente Jesús como Ele foi (o Jesús da historia),
mas Jesús como O engrandeceram os seus discípulos pela fé e a
mística (Jesús da fé). Quer entáo chegar a descobrir o Jesús da
historia distinguindo, nos textos neotestamentários e em textos
contemporáneos a estes (apócrifos, escritores cristáos), o que possa
ser acréscimo das comunidades cristas primitivas, do que se reduz
realmente a Jesús. A fim de o conseguir, John Crossan distingue
estratos ou carnadas da tradicáo crista:

1° estrato (30-60 d.C): ITessalonicenses, Gálatas, 1 Corintios,


Romanos, Evangelho de Tomé I, papiros diversos...;

2o estrato (60-80 d.C): Marcos secreto, Evangelho de Marcos,


Evangelho de Tomé II, Colossenses...;

3o estrato (80-120 d.C): Mateus, Lucas, Apocalipse, Tiago,


Didaqué, Evangelho de Joáo I...

4o estrato (120-150 d.C): Evangelho de Joáo II, Atos dos


Apostólos, 1/2Ti moteo, 2Pedro, Evangelho dos Nazarenos, Evangelho
dos Ebionitas...

O autor também distingue passagens atestadas por varios


testemunhos (quatro, tres, dois) daquelas atestadas por um único
testemunho...

Além deste trabalho de classificacáo de textos, o autor realiza


longa descricáo dos costumes, da cultura, das condicóes económicas,
sociais e políticas do povo de Israel e do Imperio Romano em geral.
Mostra grande erudicáo, resultante de exaustiva pesquisa. E concluí
que, na verdade, Jesús nao era senáo um camponés judeu
impregnado de idéias apocalípticas ou relativas a urna próxima
intervencáo retumbante de Deus na historia deste mundo; apregoava
assim a iminéncia da vinda do Reino de Deus, que libertaria da
opressáo os pequeninos. A sua mensagem se concretizava em dois
tipos de atividade: as curas mágicas efetuadas em favor de todas as
pessoas sofredoras e as refeicóes em casas de familia, ñas quais
nao havia cerimonial, mas igualitarismo, que nivelava homens e
mulheres de todo tipo entre si:

"O Jesús histórico era um camponés judeu cínico. A aldeia


camponesa em que nasceu, ficava pedo da cidade greco-romana de

105
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

Séforís. NSo é improvável que conhecesse ou tivesse visto alguns


cínicos.' A sua obra, porém, era realizada ñas fazendas e ñas aídeias
da Baixa Galiléia. A sua estrategia (impiicitamente para si mesmo,
mas explícitamente para os seus discípulos) era urna combinagSo de
curas gratuitas e refeigóes comunitarias, um igualitarismo religioso e
económico que negava a estrutura hierárquica e patronal da religiáo
judaica e do poder romano. Para nao ser reconhecido como o novo
intermediario de um novo Deus, ele se deslocava constantemente,
sen? nunca se ter instalado em Nazaré ou Cafarnaum. Ele nao era um
intermediario nem um mediador, ... mas sim alguém que anunciava
que nño devería haver nenhum dos dois entre a humanidade e a
divindade ou entre a humanidade e si mesma. Milagro e parábola,
cura e refeigéo eram planejados para fazer com que os individuos
tivessem um contato físico ou espiritual ¡mediato entre si e com Deus.
Ele anunciava, em outras palavras, o reino, sem intermediario de
Deus" (p. 460).

A figura e a imagem de Jesús sao mais longamente descritos á p


12 do livro de Crossan:

'Aos seus primeiros seguidores, gente das aldeias camponesas


da Baixa Galiléia que perguntavam como pagar pelos seus exorcismos
e suas curas, ele dava urna resposta muito simples - ou melhor, simples
de entender, mas extremamente difícil de executar. Voces sSo
curandeiros curados, dizia; entio levem o Reino a outras pessoas,
pois nño sou o seu mestre e voces nSo sSo seus intermediarios. Ele
sempre esteve e sempre estará é disposigáo de todos aqueles que o
desejarem. Vistam-se como eu, como um mendigo, mas nao pegam
asmólas. Fagam um milagre e pegam um lugar á mesa. Aqueles que
voces curarem devem aceitá-los em sua casa.

Essa visño enlevada e esse programa social tinham o objetivo de


reconstruir urna sociedade a partir de suas bases, mas através de
principios de igualitarismo religioso e económico, levando-se curas
gratuitas diretamente á casa do camponés e aceitando em troca
qualquer coisa que puderem oferecer. A conjungao deliberada de magia
erefeigéo, milagre e mesa, compaixáo gratuita e comensalidade aberta
era um desafío langado nSo só á rigorosa regulamentagSo de pureza
do judaismo, ou á combinagao patriarcal de honra e vergonha,
apadrinhamento e ctientelismo do Mediterráneo, mas á eterna
tendencia da civilizagSo de criar limites, estabelecer hierarquias e

Cínicos, na antigOidade, eram filósofos gregos populares que zombavam das


instituigdes vigentes como sendo meras convengoes desprezlveis. O seu princi
pal representante 6 Diógenes (413-327 a.C); conta a lenda que, quando Ale-
xandre o Grande - colocado entre ele ea luz do sol-lhe perguntou o que podía
fazer por ele, respondeu: "Basta que nao me tires a luz". (Nota do Redator)

106
"O JESÚS HISTÓRICO' 11

alimentar discriminagóes. Ela naobuscava urna revolugáo política, mas


urna revolugáo social que afetaria as profundezas mais perigosas da
imaginagáo. Nao se dava nenhuma importancia as distingues entre
gentío ejudeu, homem e mulher, escravo e homem livre, ricos e pobres.
Essas distingues mal chegavam a ser atacadas na teoría: e/as
simplesmente eram ignoradas na prática".

Os discípulos fizeram desse Jesús "o Cristo, o Messias", e


restauraran! as classes, configuraram urna hierarquia dentro das
comunidades cristas:

"Quando tentou definir com a maior clareza possivel o significado


de Jesús, o cristianismo insistiu em que ele era 'completamente Deus'
e 'completamente homem', em que ele era, em outras palavras, a
presenga ¡mediata do divino no humano... Talvez o cristianismo se/a
urna traigüo inevitável e necessária de Jesús, pois senSo teña morrido
entre os morros da Baixa Galiléia" (p. 462).

Quanto á ressurreicáo de Jesús, que, como fato histórico, é


considerada por Sao Paulo a pedra de toque da mensagem de Cristo
(cf. 1Cor 15,12-17), Crossan nao a reconhece; nega-a nao só pela
afirmacáo mesma de sua tese como também por citar um texto de
Ernesto Renán que satiriza a ressurreicáo e que é colocado como
introducáo ao capítulo 14 ("Morte e Enterro") da obra:

"Pelo prego de algumas horas de sofrimento que nem chegaram


a arranhar a tua grande alma, obtiveste a mais completa imortalidade.
O mundo inteiro te louvará por milhares de anos... Os homens nao
conseguirao mais te distinguir de Deus. Grande Vencedor da morte,
toma posse de teu reino, para onde incontáveis adoradores te seguirSo
pela estrada magnifica que abriste" (A Vida de Jesús 1972, 368-369,
citado por Crossan á p. 392).

Á p. 13 lé-se o seguinte:

"05 seguidores de Jesús, que tinham fúgido do perigo e do horror


da crucifixao, passaram a falar... de ressurreigáo. Eles tentaran)
exprimir o que sentiam contando, por exemplo, a historia de dois
seguidores de Jesús que viajavam a Emaus... Finalmente os dois
discípulos de Emaus o reconheceram quando ele Ihes serviu a
refeigao... A simbologia é obvia, assim como a condensagao metafórica
dos prímeiros anos de pensamento e prática crístáos numa única tarde
parabólica. Os eventos de Emaus nunca aconteceram. Os eventos de
Emaus estáo sempre acontecendo".

107
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

Em contrario desta afirmacáo de Crossan, o próprío autor parece


referir-se a Jesús ressuscitado como sefosse urna realidade (realidade
meramente subjetiva ou realidade objetiva?). Essa presen9a de Jesús
ressuscitado junto aos evangelistas ter-lhes-ia permitido reler e
aumentar ou criar os belos traeos da figura de Jesús:

"A presenga continua do Jesús ressurrecto e a experiencia


permanente do Espirito ofereciam aos transmissores da tradigáo de
Jesús urna liberdade criativa que nunca nos atreveríamos a postular,
caso o peso das evidencias nao a tornasse inquestionável. Mesmo
quando Mateus ou Lucas, porexemplo, usam Marcos como urna fonte
do que Jesús disse e fez, ou do que outras pessoas disseram e fízeram
a Jesús, eles apresentam urna assustadora desenvoltura ao omitir,
acrescentar, modificar, corrigir e criar certas passagens dentro das
suas próprias narrativas - mas sempre, é claro, de acordó com a sua
interpretagSo pessoal de Jesús" (p. 30).

As passagens atrás citadas poderiam ser tidas como indicio de


hesitacáo de John Crossan. Em suma, nao é claro no tocante ao fim
da vida de Jesús, de mais a mais que á p. 30 ele julga que as carnadas
tardías da redacáo dos Evangelhos podem ser tidas como táo
auténticas quanto as mais antigás:

"A/So acho adequado chamar a primeira carnada de "auténtica",


como se as outras duas fossem ilegítimas. Posso falar de urna carnada
original e de outras de desenvolvimento e composigao, ou entéo de
retengáo, desenvolvimento e críagSo, mas rejeito qualquer conotagSo
pejorativa em relagño aos dois últimos processos".

Como quer que seja, a obra de Crossan decompóe a figura de


Jesús e a decompóe na base de hipóteses subjetivas, como se dirá a
seguir. Considera Jesús preponderantemente do ponto de vista
humano, como camponés que julgava ter urna missáo social junto aos
seus. O seu aspecto transcendental é deixado na penumbra; parece
um acréscimo artificial devido ao pensamento "místico" dos antigos
cristáos.

Passemos a urna reflexáo sobre tal livro.

2. PONDERANDO...

Crossan teve a intencáo válida de reconstituir o ambiente


geográfico, sócio-económico, cultural em que Jesús viveu. Com farta
documentacáo descreveu-o de maneira interessante. Todavía o que
ele propóe a respeito de Jesús é muito discutível. Eis por qué:

108
"O JESÚS HISTÓRICO" 13

2.1. Oesenvolvimento homogéneo ou heterogéneo?

Pode-se admitir que os escritores do Novo Testamento tenham


engrandecido a figura de Jesús. As cartas de Sao Paulo, por exemplo,
quase nao falam do Jesús pré-pascal, mortal, itinerante pela Palestina,
mas apresentam Jesús como o Senhor (Kyrios), o Cabeca da Igreja,
aquele que pelo sangue da sua Cruz reconciliou entre si e com Deus
todas as criaturas da térra e do céu (cf. Cl 1,20). É de notar, porém,
que este aspecto transcendental ou divino de Jesús nao é proposto
tardíamente ou no século II; ao contrario, brota da consciéncia dos
primeiros cristáos. Sim; os escritos paulinos datam do período de 51
a 67 ou, em maioria, do primeiro estrato reconhecido por Crossan;
nesses escritos mesmos há pecas anteriores a Sao Paulo, ou seja,
expressóes da Liturgia e da Catequese dos primeiros anos da Igreja;
cf.CoM, 15-20; Ef 1,3-14; 1Cor15, 3-8; 1Tm 3,16; 6,15s; 2Tm2, 11-
13...; sao textos que louvam o Cristo vencedor da morte, exaltado na
gloría e presente á sua Igreja como fonte de Vida. Isto significa que o
"desdobramento" teológico realizado pelos escritores do Novo
Testamento nao é algo de artificial, produto de imaginacáo piedosa
ou "mística" dos antigos cristáos, mas é eco genuino daquilo que Jesús
disse e fez durante a sua passagem pela térra; Jesús mesmo deve ter
vivido e falado de tal modo que os discípulos, confirmados pelo fato
real da sua ressurreicáo e por Pentecostés, compreenderam que Ele
nio era um profeta como os anteriores, mas sim o Salvador aguardado
ou, mais aínda, Deus feito homem.

Um dos textos mais significativos é o de 1Cor 15, 3-8, que data


de 56 e propóe urna profissáo de fé que vem dos primeiros anos do
Cristianismo:

"1 Faco-vos conhecer, irmáos, o Evangelho que vos preguei, o


mesmo que vos recebestes e no qual permanecéis firmes. *Por ele
também seréis salvos, se o conservantes tal como vó-lo preguei... a
menos que nao tenha fundamento a vossa fé.

9 Transmiti-vos, antes de tudo, aquilo que eu mesmo recebi, a


saber, que Cristo morreu por nossos pecados, conforme as
Escrituras,

4 e que foi sepultado


e que ressuscitou ao terceiro día conforme as Escrituras

5 e que apareceu a Cefas, depois aos doze.

* Posteriormente apareceu, de urna vez, a mais de quinhentos

109
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

irmáos, dos quais a maior parte vive até hoje, alguns, porém já
morreram.

1 Depois apareceu a Tiago e, em seguida, a todos os Apostólos.


8 Por fim, depois de todos, apareceu também a mim, como a um
abortivo".

Sao Paulo escreveu tal passagem no ano de 56, ou seja, pouco


mais de vinte anos após a Ascensáo de Jesús. Eis, porém, que nesse
texto o Apostólo quer apenas lembrar aos fiéis o que ele Ihes transmitiu
de viva vozquando fundou a comunidade de Corinto em 51-52; nessa
época Paulo entregou aos fiéis a doutrina que Ihe fora entregue
("Transmiti-vos... aquilo que eu mesmo recebi..."). E quando o Apostólo
recebeu a mensagem?

- Ou por ocasiáo da sua conversáo, que se deu aproximadamente


no ano de 35, ou no ensejo de sua visita a Jerusalém, que teve lugar
em 38, ou, ao mais tardar, por volta do ano de 40.

Observemos agora o estilo do texto de 1Cor 15, 3-8: as frases


sao curtas, incisivas, dispostas segundo um paralelismo que Ihes
comunica um ritmo notável. Abstracáo feita dos w. 6 e 8, dir-se-ia
que se trata de fórmulas estereotípicas, forjadas pelo ensinamento
oral e destinadas a ser freqüentemente repetidas. Nesses versículos
encontram-se varias expressóes que nao ocorrem em outras cartas
de Sao Paulo: assim "conforme as Escrituras', "no terceiro dia", "aos
doze", "apareceu" (expressio que só ocorre sob a pena de Sao Paulo
num hiño citado pelo Apostólo em 1Tm 3,16).

Estas indicacóes dáo a ver que Sao Paulo em 1Cor 15, 3-8
reproduz uma fórmula de fé que ele mesmo recebeu já definitivamente
redigida poucos anos (dois, cinco, oito anos?) após a Ascensáo do
Senhor Jesús. O v. 6, quebrando o ritmo do conjunto, talvez tenha
sido introduzido posteriormente; quanto ao v. 8, é, por certo, noticia
pessoal que Sao Paulo acrescenta ao bloco.

Vé-se, pois, que desde os primeiros anos da pregacáo do


Evangelho já existia entre os fiéis uma profissáo de fé na ressurreicáo
de Cristo formulada em frases breves e pregnantes; tais frases eram
transmitidas como expressóes exatas da mensagem dos Apostólos.

Ora essa fórmula de fé antiqüíssima professa a ressurreicáo


corpórea de Cristo como realidade histórica. Para a comprovar, havia
testemunhas oculares, das quais, diz Sao Paulo, muitas ainda viviam
vinte e poucos anos após a ressurreicáo do Senhor.

110
"O JESÚS HISTÓRICO" 15

Tal depoimento de primeira hora é um texto pré-paulino, concebido


e transmitido pelos discípulos ¡mediatos do Senhor como expressáo
da fé comum da Igreja nascente. - É de notar que Sao Paulo insiste
no peso das testemunhas oculares; muitas ainda viviam e podiam ser
interpeladas pessoalmente; nao diz que "creram", mas que "viram"
(Jesús apareceu-lhes ressuscitado).

O texto de 1Cor 15,1-8 é por Bultmann e sua escola reconhecido


como obstáculo serio á sua teoría racionalista (obstáculo fatal,
segundo a expressáo usada pelo próprio Bultmann em Kerygma und
Mythos I). Paulo terá sido incoerente consigo mesmo:

"Só posso compreender o texto de 1Cor 15, 1-8 como tentativa


de apresentar a ressurreigao como um fato objetivo, merecedor de
fé. Apenas posso dizer que Paulo, levado por sua apologética, caiu
em contradigSo consigo mesmo" (Glauben und Verstehen I
Tübingen 1964, 54s).

Crossan cita o texto de 1Cor 15, 3-8 á p. 435 e atribui-lhe a data


de "invernó de 53 a 54 d.C". Infelizmente, porém, foge ao tema
"ressurreicáo", que é central nesta passagem, e se detém em
considerares secundarias sobre a hierarquia da Igreja: Apostólos,
líder específico, grupo de lideranca, comunidade geral - o que é muito
distante do que o texto quer dizer: a ¡ntencáo do autor sagrado,
depreendida do contexto de 1Cor 15, é firmar e fundamentar a fé na
ressurreicáo dos cristáos como conseqüéncia da ressurreicáo de
Jesús, que a comunidade crista nao póe em dúvida.

2.2. O Reducionismo Cristológico

Chama-se "reducionismo cristológico* a tese que reduz Jesús á


figura de mero homem, apagando o seu caráter transcendental. -
Ora, em conseqüéncia do que foi dito, vé-se que enfatizar a missáo
de Jesús como se fosse a de um pregador social "cínico", desejoso
de remover os privilegios e instaurar a igualdade entre os homens,
servindo-se, para isto, de um curandeirísmo populare de comensalidade
(refeicóes em casas de familia) é empobrecer enormemente a figura
de Jesús. A igualdade de todos os homens que Jesús veio apregoar,
é conseqüéncia de outro tema, que é central na pregacáo do Mestre:
Deus é Pai, o Primeiro Amor, e chama todos os homens á perfeicáo
ou á imitacáo (táo próxima quanto possível) do Pai celeste, que é
santo; cf. Mt 5, 44-48. Jesús veio, antes do mais, revelar-nos o Pai e
o misterio da vida divina, que se comunica aos homens mediante a
Encarnacáo do Filho e um grande designio de salvacáo. As normas
étnicas que daí decorrem, nao podem ser consideradas sem esta sua

111
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

fundamentacáo profunda. Jesús veio instaurar um reino que está neste


mundo, mas nao é deste mundo; cf. Jo 19, 36.

2.3. lnseguran$a do autor

As teses de Crossan relativas a Jesús sao pessoais e subjetivas,


como se depreende do grande número de expressóes que revelam
certa inseguranca do autor quando este tenta esbocar o perfil de Jesús
histórico. Sejam registrados os seguintes tópicos:

p. 393: "Creio que a frase *e ninguém será capaz de reconstrui-


lo' é um acréscimo secundario";

p. 396: "Na minha opiniio, essa modificacáo indica que houve


algum problema com essas duas unidades';

p. 397: "Proponho que a seguinte trajetória esteja por tras de


todo esse desenvolvimento";

ibidem: "Nao tenho dúvidas de que esta análise está correta, mas
nao tenho tanta certeza de que essa acáo/sentenca tenha levado
diretamente á prisáo e execucáo de Jesús".

ibidem: "Creio, no entanto, que as unidades dos Evangelhos dos


Sinais... davam urna atencáo especial a Jerusalém".

p. 399: "Nao acredito numa refeicáo que tenha sido desigual de


antemio e preparada ritualisticamente como a última ceia".

p. 428: "É impossível, na minha opiniao, superestimar a


criatividade de Marcos*.

p. 434: "Sugiro que havia urna única corrente da tradicáo".

ibidem: "Nao creio que seja por que se sentisse á vontade com
aparicóes".

ibidem: "Se estou correto ao afirmar que Marcos tomou a


aparicáo de Jesús e dos seres celestiais no Evangelho da Cruz*.

p. 435: "A minha primeira hipótese retoma a discussio sobre


os milagres de Jesús... A segunda hipótese trabalha com a
distincio... entre os milagres de cura e os milagres de natureza. Sugiro
que o segundo tipo de historia... nao tinha... o objetivo de demonstrar
o poder de Jesús sobre a natureza".

p. 436: "Essa hipótese é confirmada pelas eucaristías com pao


e vinho*.

112
"O JESÚS HISTÓRICO" 17

p. 437: "Essa divergencia provavelmente aponta para duas


correntes diferentes dentro do cristianismo*.

p. 441: "Creio que, ao ritualizar o conteúdo da comensalidade


aberta de Jesús..."

p. 452: "Proponho que existiam apenas duas verso es de Marcos".

p. 453: "A minha teoría é que o Marcos canónico desmembrou


a historia da ressurreicáo".

ibidem: "A minha sugestao é que a versáo original do Evangelho


de Marcos terminava com a confissáo do centuriáo"... "Tenho plena
consciéncia de que nao há indicio externo ou manuscrito para
comprovar esta hipótese".

p. 460: "Creio que diferentes visóes do Jesús histórico estáo


sempre... numa dialética com interpretacóes teológicas".

p. 461: "Talvez o cristianismo seja urna 'traicio' inevitável e


necessária de Jesús*.

Como se vé, as hipóteses do autor se multiplicam - o que bem


mostra que a tese de seu livro, insegura e subjetiva como é, está
sujeita a críticas válidas, que a póem em xeque.

2.4. A Estratigrafía subjacente

A estratigrafía dos escritos cristáos do Novo Testamento e do


século II é assaz discutível.

1) No tocante ao estrato de 30 a 60:

- o autor menciona "o Evangelho das Sentencas Q", em que


ele distingue tres carnadas sucessivas: urna carnada sapiencial (1Q),
urna apocalíptica (2Q) e urna introdutória (3Q). Ora a existencia mesma
dessa coletánea de sentencas é duvidosa; é um postulado; Crossan,
alias, reconhece-o dizendo que está inserida nos Evangelhos de
Mateus e Lucas; nao há vestigio dessa fonte Q como tal; quem lé os
Evangelhos, é que julga que utilizaram a pretensa fonte Q;

- Colecáo de Milagres, agora inserida nos Evangelhos de


Marcos e Joáo. Faca-se a propósito análoga observacáo: nao há um
vestigio dessa colecáo como tal. A sua existencia nao passa de mera
hipótese;

- Relato do Apocalipse e Evangelho da Cruz, agora inseridos

113
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

respectivamente em Didaqué e Mateus 24 (o primeiro) e em Evangelho


de Pedro (o segundo). A existencia de ambos esses documentos é
hipotética.

2) No tocante ao estrato de 60 a 80:

- o autor se refere ao Evangelho Secreto de Marcos e ao


Evangelho de Marcos, datando-os da década de 70, sem levar em
conta a descoberta do papiro 7Q5 de Qumran, que alguns papirólogos,
com muita verossimilhanca, datam da década de 40. Ver PR 321/1989
pp. 50-54.

- Evangelho dos Sinais ou Livro dos Sinais, agora inserido


no Evangelho de Joáo. Nao há vestigio da existencia deste documento;
vem a ser mais um postulado.

3) Estrato de 80 a 120

- Crossan menciona o Evangelho de Mateus, escrito em tomo


de 90. Nao leva em conta a descoberta papirológica que data o
Evangelho de Mateus da primeira metade do século I Ver PR 398/
1995, pp. 290-294.

- a primeira Epístola de Pedro (1Pd) é datada de 112


aproximadamente - o que é muito discutido; parece ter características
do Apostólo Pedro, que morreu em 67; o autor recomenda a submissáo
•ao rei, ao soberano, a toda instituicio humana' (1 Pd 2, 3s), o que
nao se entendería após 64, quando Ñero decretou a perseguicáo aos
cristáos.

4) Estrato de 120 a 150

- Evangelho de Joáo II, com seu acréscimo de Jo 21, que


sobreveio á primeira edicáo redigida no inicio do século II. A datacáo
é arbitraria. É costume atribuir o Evangelho de Joáo, com suas partes
todas, ao final do século I ou aos primeiros anos do século II.

- Atos dos Apostólos. Já se foi o tempo em que os críticos


datavam os Atos de época táo tardia;

- prímeira e segunda Epístola a Timoteo. Crossan nao leva


em conta os varios indicios de que tais epístolas sejam da autoría de

114
"O JESÚS HISTÓRICO" 19

Sao Paulo. A segunda a Timoteo é o testamento do Apostólo, como


um atento exame do texto dá a ver. Ademáis até o século passado a
trad¡9áo atribuiu ao Apostólo, e nao a um discípulo do século II, as
epístolas ditas "Pastorais";

- segunda Epístola de Pedro, datada do segundo quarto do


século II, ou seja, do periodo de 125 a 150. Esta sentenca, que teve
sua voga entre os críticos do século passado, já en contra poucos
defensores em nossos días.

Em suma, verifica-se que John Crossan, em sua estratificacáo,


nao somente é arbitrario ao dissecar os escritos do Novo Testamento,
mas parece nao acompanhar a crítica contemporánea, que, ao invés
do que fazia a do século passado, tende mais e mais a aproximar de
Jesús (ano 30) os escritos do Novo Testamento.

Nao nos deteremos em ulteriores observacóes sobre um livro que


é rico em dados informativos de ciencias profanas, mas distante de
sera última palavra a respeito do Jesús histórico. O bom cristáo afirma
a identidade entre o Jesús da fé e o Jesús da historia, nao so por
motivos de fé, mas também por razóes fundamentadas em textos
mesmos do Novo Testamento, como tivemos a ocasiáo de mostrar em
PR 311/1988, pp. 152-157; 317/1988, pp. 466-470; 309/1988, pp 50-
66; 294/1986, pp. 482-497.

O outro Lado do Esplritualismo Moderno. Para com-


preender a Nova Era, por Ricardo Sasaki, Ed. Vozes Petrópolis 1995,
160 x 230 mm, 277 pp.

O autor aprésenla um panorama das diversas correntes religiosas


existentes em nossos dias fora do Catolicismo: assim Protestantismo,
Espiritismo, Ocultismo e Orientalismo. Estuda os múltiplos ramos
derivados desses quatro grandes troncos, esclarecendo o leitor a
respeito da origem e dos principáis pontos doutrinários de cada
corrente. O livro é altamente interessante; mostrase assaz crítico em
relagSo ao pulular de crengas religiosas de nossos tempos e sabe
por em relevo o que há de específico e transcendente no Catolicismo.
Ricardo Sasaki revela erudigáo decorrente de assidua leitura da
respectiva bibliografía; é estranho, porém, que á p. 19 fale da
"divindade de María". Nao podemos concordar com as críticas que
faz á RenovagSo Carismática Católica (pp. 45-48); sSo falsas e
injustas. Como quer que seja, a obra é recomendável como fonte de
informacóe* sobre os atuais Credos religiosos.

115
Urna Declaracáo importante:

VASSULA RYDEN:
PRONUNCIAMENTO OFICIAL DA IGREJA

A Congregacáo para a Doutrina da Fé, órgáo da Santa Sé


encarregado das questóes atinentes á fé católica, publicou urna Nota
que desabona as mensagens atribuidas por Vassula Ryden a Jesús
Cristo. Tal pronunciamento dissipa as interrogacóes que pairam sobre
o assunto, propondo aos fiéis urna atitude correta diante dos
fenómenos alegados pela vidente.

NOTA DA CONGREGACÁO PARA A DOUTRINA DA FÉ

"Muitos Bispos, sacerdotes, Religiosos, Religiosas e leigos


dirigem-se a esta Congregacáo para obter um juízo abalizado sobre a
atividade da Sra. Vassula Ryden, greco-ortodoxa residente na Suica,
que vai difundindo, nos ambientes católicos do mundo inteiro, com a
sua palavra e os seus escritos, mensagens atribuidas a presumidas
revelacóes celestes.

Um exame atento e sereno de toda esta questáo realizado por


esta Congregacáo e destinado a 'colocar á prova as inspiracóes para
saber se vém realmente de Deus' (cf. Uo 4,1) revelou - juntamente
com aspectos positivos - um conjunto de elementos fundamentáis que
devem ser considerados negativos sob a luz da doutrina católica.

Além de evidenciar a índole suspeita das modalidades em que


ocorrem as presumidas revelacóes, é imperioso apontar alguns erros
doutrinários nelas contidos.

As revelacóes falam em linguagem ambigua das Pessoas da SS.


Trindade, a ponto de confundir os nomes próprios e as funcóes das
Pessoas Divinas. Anunciam um iminente período de predominio do
Anticristo no seio da Igreja. Profetizam em chave milenarística urna

116
VASSULA RYDEN: PRONUNCIAMENTO OFICIAL DA IGREJA 21

intervencáo final e gloriosa de Deus, que estaría para instaurar na


térra, antes mesmo da definitiva vinda de Cristo, urna era de paz e
bem-estar universal. Prevéem o advento próximo de urna Igreja que
seria urna especie de comunidade pan-cris*tá, em contraste com a
doutrína católica.

O fato de que, nos escritos posteriores de Vassula Ryden, tais


erras nao aparecem mais, é sinal de que as presumidas mensagens
celestes sao apenas o fruto de meditacóes particulares.

Além disto, a Sra. Ryden, participando habitualmente dos


sacramentos da Igreja Católica, embora seja greco-ortodoxa, suscita
em diversos ambientes da Igreja Católica nao pouca surpresa; parece
colocar-se ácima de qualquer jurisdicáo eclesiástica e de todas as
normas canónicas; cria, na verdade, urna desordem ecuménica, que
irrita nao poucas autoridades, ministros e fiéis da sua própria Igreja,
colocando-se fora da disciplina eclesiástica greco-ortodoxa.

Visto que, apesar de alguns aspectos positivos, o efeito das


atividades desenvolvidas por Vassula Ryden é negativo, esta
Congregacáo solicita a intervencáo dos Bispos a fim de que informem
adequadamente os seus fiéis, e nao se conceda espaco no ámbito
das respectivas dioceses para a difusáo das idéias de Vassula. Esta
Congregacáo também convida todos os fiéis a nao considerar como
sobrenaturais os escritos e as intervencóes da Sra. Vassula Ryden e
a conservar a pureza da fé que Cristo confiou á Igreja.

Cidade do Vaticano, 6 de outubro de 1995

(Extraído da edicáo cotidiana de L'Osservatore Romano, 23/


24-10-1995, p.2)

Comentando... Este documento tem sido contraditado pelo fato


de nao aparecer assinatura alguma debaixo da Notificacáo. Há quem
espere urna quase retratacáo da parte da autoridade eclesiástica. -
Observemos, porém, que foi emitido pela Congregacáo para a Doutrina
da Fé, que é o órgáo oficial da Igreja para dirimir dúvidas atinentes a
temas de fé. Foi outrossim publicado pelo jornal L'OSSERVATORE
ROMANO, que publica todas as manifestacóes da Santa Sé de caráter
pastoral. Ademáis os argumentos aduzidos para dissipar as
credenciais de Vassula sao plenamente válidos.

117
Aínda a respeito da Notificacáo...

RESPOSTA Á ASSOCIAQÁO
"A VERDADEIRA VIDA EM DEUS1

O Sr. Bispo de Ponta Grossa (PR), D. Murilo S.R. Krieger, enviou


a PR um artigo em que responde a uma carta assinada pelo Pe.
Michael O'Carroll, Presidente da Associacáo "A Verdadeira Vida Em
Deus". Esta Associacáo pretende negar o valor da Notificacáo da Santa
Sé e combate o conteúdo de tal documento, de maneira que pode
deixar perplexos alguns leitores. Daí a conveniencia de publicarmos,
a seguir, o trabalho de D. Murilo, a quem a Redacáo de PR muito
agradece a valiosa colaboracáo. O Sr. Bispo refuta os argumentos da
Associacáo e apregoa fidelidade á Santa Sé com total exclusáo de
qualquer "magisterio paralelo".

Aos Párocos da Diocese de Ponta Grossa

COMENTARIOS A CARTA DA
ASSOCIAQÁO "A VERDADEIRA VIDA EM DEUS"

Presidente: Pe. Michael O'Carroll

enviada aos "Caros amigos leitores de


'A Verdadeira Vida em Deus' "

Chegou ás minhas máos copia de uma carta com o título


Associacáo "A Verdadeira Vida em Deus", sem assinatura, mas
com o nome de seu presidente, Pe. Michael O'Carroll, e sem data,
mas escrita recentemente (em seu interior há uma referencia a uma
mensagem de 15.11.95). Como varios párocos a receberam e pediram
minha opiniáo, julguei ser necessário fazer as seguintes observacóes:

Custa-me crer que a carta seja mesmo do Pe. Michael O'Carroll.


Li varios trabalhos seus e sempre o considerei uma pessoa culta e
um teólogo de vasta formacáo teológica. A citada carta, pelo contrario,
demonstra, em alguns momentos, uma visáo muito pobre a respeito
da Igreja, do Magisterio e da "Congregacáo para a Doutrina da Fé".
Se nao, vejamos (os textos entre aspas sao da própria carta):

1o) "Sentimo-nos, portanto, na obrigacáo de Ihes revelar a verdade

118
RESPOSTAÁASSOClAgÁO"A VERDADERA VIDAEM DEUS" 23

sobre os fatos. (...) Urna Notificacáo foi expedida por alguém do


Vaticano, que nao se identificou. Disseram que se originava da
Congregacáo para a Doutrina da Fé, entretanto nao existe assinatura
e nem o selo daquela Congregacáo. Trata-se, portanto, de um
documento apócrifo, o que nos leva a duvidar de sua origem."

Quem acompanha de forma sistemática a vida da Igreja, tem


conhecimento nao só de Notificares, mas até de Declaracóes da
"Congregado para a Doutrina da Fé" sem selo ou assinatura de
ninguém. E, desde que publicadas no jornal "L'Osservatore Romano",
passaram a ser aceitas pacificamente, até por pessoas contrarías á
Igreja.

Cito dois exemplos:

1) Na edicáo de "L'Osservatore Romano" em língua italiana de


14-15.06.74, foi publicada urna Notificacáo da "Congregacáo para a
Doutrina da Fé" a respeito de "Pretensas Aparicóes de Nossa Senhora
em Amsterdá" (Holanda), sem selo ou assinatura. - Ninguém, na
época, argumentou: "o autor nao se identificou"; "nao existe assinatura
nem o selo da Congregacáo", "é um documento apócrifo, o que nos
leva a duvidar de sua origem";

2) Na edicáo portuguesa de 08.03.81, p. 2, há urna Declaracáo


importantíssima a respeito da Maconaria, também sem selo ou
assinatura. Como a recente Notificacáo a respeito de Vassula, tem
somente o titulo "Congregacáo para a Doutrina da Fé" e a data. Nem
os macons duvidaram da autenticidade dessa declaracáo, que era
contra eles.

Gostaria de lembrar, agora, a importancia da "Congregacáo para


a Doutrina da Fé" na vida da Igreja:

a) Ela é táo importante que os Papas tém colocado á sua frente


pessoas de sua inteira confianca. Por sinal, foi a essa Congregacáo
que Joáo Paulo II confiou a preparacáo do Catecismo da Igreja Católica,
um dos trabalhos mais importantes de seu pontificado;

b) Recebendo em audiencia, recentemente (24.11.95), o Cardeal


Joseph Ratzingereos principáis membros dessa Congregacáo, o Papa
assim expressou-se a respeito do trabalho que realizam:

"Desejo, emprímeiro lugar, manifestar-vos a alegría por me poder


encontrar convosco... Esta é urna ocasiáo propicia para vos exprimir
o meu reconhecimento. O vosso trabalho, em muitos aspectos difícil e
empenhativo, é de importancia fundamental para a vida Cristi. Com

119
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

efeito, ele tem por objetivo a promogao e a defesa da integridade e da


pureza da fé, condigóes essenciais para que os homens e as mulheres
do nosso tempo possam encontrar a luz para entrar na vía da
salvagáo."

E terminou seu discurso com estas palayras:

"Ao alegrar-me, caríssimos Irmaos em Cristo, pelo intenso,


laborioso e precioso ministerio que desempenhais ao servigo da Sé
Apostólica e em favor da Igreja inteira, dou-vos o meu encorajamento
para prosseguirdes com firmeza e confianga a tarefa que vos foi
confiada, a fim de contríbuirdes deste modo para intmduzir e conservar
todos na liberdade da verdade" ("L'Osservatore Romano", edigSo em
língua portuguesa, 16.12.95, p. 14).

Como se vé, o Papa tem em alta estima o Cardeal Ratzinger e a


Congregacáo que ele dirige. Por ¡sso, nao tém sentido as perguntas
feitas pelo Pe. Michael O'Carroll (se é que feitas por ele): "Quem a
redigiu? Quem a enviou? Nao se sabe..." - Sabe-se, e isso é que é
importante, que é da "Sagrada Congregacáo para a Doutrina da Fé".
É bom lembrar que a Notificacáo a respeito de Vassula foi publicada
na edicáo italiana do "L'Osservatore Romano" do dia 24 de outubro
de 1995. Se a "Congregacáo para a Doutrina da Fé" nao concordasse
com o texto, certamente teria tomado alguma atitude após sua
publicacáo. Por exemplo: teria emitido urna nova Notificacáo, assinada,
deixando claro que a primeira nao expressava seu pensamento; ou
nao teria permitido a sua publicacáo, quatro dias depois, ñas edicóes
semanais em varias línguas (a edicáo portuguesa, que a reproduz, é
de 28.10.95).

2o) "Essa Notificacáo acusa Vassula de erros muito discutíveis e


a condena sem Ihe dar o direito de explicacáo e de defesa, o que é
¡nadmissível dentro dos criterios de justica e carídade cristas."

Na primeira parte dessa frase de Pe. O'Carroll (se é que é mesmo


dele), lé-se que a Notificacáo acusa Vassula de erros muito
discutíveis. Na citada Notificacáo lemos o seguinte:

"Entre outras coisas, com urna linguagem ambigua, fala-se das


Pessoas da Santíssima Tríndade, até confundir os específicos nomes
e fungóos das Pessoas Divinas. Preanuncia-se nessas presumíveis
revelagdes um ¡mínente período de predominio do Anticristo no seio
da Igreja. Profetizase em chave milenarista urna intervengSo resolutiva
e gloriosa de Deus, que estaría para instaurar sobre a térra, antes
aínda da vinda definitiva de Cristo, urna era de paz e de bem-estar

120
RESPOSTAAASSOCIACÁO"A VERDADERA VIDAEM DEUS" 25

universal. Anunciase, além disso, o futuro próximo de urna Igreja que


seria urna especie de comunidade pancristé, em contraste com a
doutrina católica."

Fiquei na dúvida quanto á frase de Pe. O'Carroll: "Essa Notificacáo


acusa Vassula de erros muito discutíveis" (o grifo é meu). O que
ele quer dizer com isso? 1) Que os erros apontados pela "Congregacáo
para a Doutrina da Fé" nao sao erras e que as afirmacóes de Vassula
sao corretas?... (Ai, sim, estaríamos diante de urna afirmacáo muito
grave!); 2) ou ele quer dizer que ela nao escreveu isso em seus livros?
(Nesse caso seria fácil com pro va r que Vassula estaría sendo
injustamente acusada: bastaría provar que tais afirmacóes nao sao
encontradas em seus livros...).

Já a observacáo: "a condena sem Ihe dar o direito de explicacáo


e de defesa" me parece um tanto ingenua: quem escreve um livro se
expóe ao público. Se urna idéia é repetida pelo autor, e de modo claro,
significa que ele pensa daquela maneira. A partir daí nao há explicacáo
que explique, por exemplo, um erro doutrinárip. - Depois, nao se pode
deixar de levar em conta que a "Congregacáo para a Doutrina da Fé"
escreve para católicos, orientando-os a respeito da verdade e do erro.
Vassula tem dito e repetido que é greco-ortodoxa. Que direito tena,
pois, a "Congregacáo para a Doutrina da Fé" de chamá-la para pedir-
Ihe explicacóes? Que obrigacóes teria ela, como greco-ortodoxa, de
ir ao Vaticano para explicar-se?...

3°) "Também nao foi permitida aos grandes teólogos da Igreja


Católica Apostólica Romana que apóiam Vassula e nela créem sem
restricóes, que a defendessem e esclarecessem a verdade."

Vale recordar que Pe. Michael O'Carroll e alguns teólogos que


apóiam Vassula, escreveram varios livros e artigos sobre ela; para
conhecer seu pensamento, nao era necessário, pois, chamá-los ao
Vaticano.

4° "Admitamos, porém, apenas por hipótese, que a Notificacáo


seja auténtica. Ainda assim, nada proibiría. Eis, no original em italiano,
o trecho que se refere á orientacáo aos Bispos: "... questa
Congregazione sollecita l'intervento dei Vescovi...". "Sollecita"
(SOLICITA), apenas solicita. Assim sendo, nao OBRIGA a qualquer
coisa, nao PROfBE qualquer coisa..."

Lastimo que tenha sido truncada a frase da Notificacáo. Tomarei


como base o texto em sua edicáo portuguesa (traducáo fiel do texto
italiano): depois de dizer que, "nao obstante alguns aspectos positivos,

121
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

o efeito das atividades exercidas por Vassula Ryden é negativo", a


Notificacao completa: "esta Congregacáo solicita a intervencáo dos
Bispos, a fim de que informem adequadamente os seus fiéis, e nao
seja concedido nenhum espaco no ámbito das próprias dioceses á
difusáo das suas idéias".

O que significa isso? O verbo solicita ("sollecita", em italiano)


refere-se aos bispos. E o que a "Congregacáo para a Doutrina da
Fé" nos solicita é muito claro: que informemos adequadamente
nossos fiéis a respeito dessa Notificacao e do efeito negativo
das atividades exercidas por Vassula Ryden; mais: que nao
concedamos nenhum espago no ámbito das próprias dioceses
á difusáo das suas idéias. A carta deturpa, pois, a frase da
Notificacao.

5o) "E nem deveria proibir, urna vez que dois Papas, Urbano VIII e
Paulo VI, deram a nos o seu consentimento para divulgar "revelacóes"
e "aparicóes" mesmo antes da constatacio de sua sobrenaturalidade
pela Igreja. Vejamos: "De acordó com o decreto de Urbano VIII, declara
se que aos fatos narrados ou apresentados nao se dá, oficialmente,
qualquer valor sobrenatural enquanto a Superior Autoridade
Eclesiástica nao houver formulado seu jufzo" (o grifo é meu).

Como nao levar em conta que a Notificacao da "Congregacáo


para a Doutrina da Fé" expressa um juízo da Superior Autoridade?
Como nao o aceitar? Querer que o Papa assíne todo e qualquer texto
da Santa Sé é ignorar o papel próprio dos diversos órgáos que o
assessoram. O Papa Paulo VI, referindo-se justamente a respeito da
"Congregacáo para a Doutrina da Fé", lembrava: "Sao de competencia
desta Congregacáo todas as questóes que dizem respeito á doutrina
da fé e dos costumes e que tém urna ligacáo com a própria fé"
(07.12.65 - AAS 57 [1965], 952-955).

6o) "Depois de terem sido ab-rogados os cánones 1399 e 2318


do CDC, mercé da intervencáo de Paulo VI em AAS 58 (1966) 1186,
os escritos referentes a novas aparicóes, manifestares, milagres
etc., podem ser espalhados e lidos pelos fiéis mesmo sem licenca
expressa da autoridade eclesiástica, contanto que se observe a moral
crista geral."

Nao entendí o motivo por que a frase ácima está entre aspas. Se
é citacáo, qual seu autor? - A propósito, em AAS 58 (1966) 1186,
encontramos urna nota da "Sagrada Congregacáo para a Doutrina da
Fé", aprovada pelo Papa Paulo VI, onde está claro que é preciso, em
qualquer publicacáo, levar em conta o valor das leis moráis, tendo-

122
RESPOSTAÁASSOCIAgÁO-AVERDADEIRAVIDAEM DEUS" 27

se o cuidado para nao se colocar em perigo a fé e os bons


costumes (o grifo é meu).

Pensó nao ser necessário um comentario sobre os últimos


parágrafos da carta de Pe. O'Carroll, porque, de certa forma, já Ihes
respondí nos ítens ácima. Apenas acrescento que é muito perigosa e
falsa a maneira como a carta opóe Santo Padre x "Congregacáo
para a Doutrina da Fé", como se essa trabalhasse indepen-
dentemente dele ou até contra ele, a tal ponto que só teria valor o
que tivesse a assinatura papal. Pode até parecer que o autor da carta
esteja querendo elevar a figura do Papa; na verdade, nao leva em
conta o que esse mesmo Papa pensa a respeito de urna Congregacáo
que existe porque ele quer, e é dirigida por quem ele ali colocou.
Mais: o final da carta induz o leitor ao erro, ao dar a entender que
tudo o que provém do Papa é infalível: "Esta Notificacáo, que de modo
algum provém do Santo Padre, é publicada nao em nome do Papa,
mas apenas em nome da Congregacáo para a Doutrina da Fé. Isto
mesmo sublinha o caráter nao infalível do documento...". Pensó ser
desnecessário lembrar aqui em que circunstancias um ensinamento
papal é infalível...

Por fim, tenho a dizer que fico triste por ver que urna carta que
tem em táo pouco valor a "Congregacáo para a Doutrina da Fé" e
que, portanto, nao expressa a yerdadeira comunháo com o Papa,
esteja sendo distribuida nesta Diocese. Nosso amor á verdade nao
permite sua divulgacáo (e a divulgacáo de cartas semelhantes!), pois
estaríamos prestando um desservico á Igreja.

Ponta Grossa, 26 de dezembro de 1995.

Dom Murilo S.R. Krieger, scj


Bispo de Ponta Grossa

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123
Que Conclusóes?

A CONFERENCIA DE PEQUIM-
RESULTADOS

Em síntese: A Conferencia de Pequim (4-15/09/95), que abordou


os direitos da muiher no mundo contemporáneo, suscitou calorosos
debates a respeito de conceitos fundamentáis, como o de género
humano, o de familia, o de igual relacionamento homem-mulher...
Alguns movimentos extremados empenharam-se pelo reconhecimentó
do homossexualismo, da prática lésbica, do abortamento... Os
documentos fináis do Congresso nao correspondem plenamente ao
modo de pensar dos Estados ditos "religiosos", pois deram prevaléncia
ao conceito ocidental de muiher, inspirado na sociedade de consumo
e de permissividade do Primeiro Mundo. A Santa Sé, representada
por urna Delegagéo chefíada pela Sra. Profa. MaryAnn Glendon, emitiu
suas restrígoes em discurso que vai publicado ás pp. 125-130 deste
fascículo.

* * *

O mundo inteiro acompanhou com grande ¡nteresse os


preparativos (que duraram dois anos) e o decurso da Conferencia de
Pequim relativa aos Direitos da Muiher no mundo contemporáneo ou,
como diz o titulo oficial, Conferencia sobre a Igualdade, o
Desenvolvimento e a Paz da Muiher. Cento e oitenta e nove Estados
se fizeram presentes mediante um total de 4.995 delegado(a)s (sendo
a maioria mulheres) e estudaram a temática de 4 a 15 de setembro de
1995, sofrendo pressóes em sentidos diversos. Tres mil Organizacóes
Nao Governamentais, mediante mais de 30.000 Delegado(a)s,
constituiam um cédame paralelo ao Congresso oficial a 60 km de
Pequim; emitiram varías declaracóes, manifestos e protestos.

O objetivo dos trabalhos era chegar a redigir e publicar um texto


que expusesse o pensamento da humanidade de nossos dias sobre o
papel da muiher. Na verdade, foram dados ao público dois documentos
que pretendem complementar-se mutuamente: urna Declaracáo, que
compreende 38 artigos referentes aos Direitos das Mulheres, e urna
Plataforma de Acáo, que desenvolve doze áreas de acáo com
"objetivos estratégicos' e "medidas a ser tomadas".

A elaboracáo destes textos teve inicio dois anos antes de comecar


a Conferencia de Pequim e suscitou acaloradas discussoes, que nao

124
CONFERENCIA DE PEQUIM: RESULTADOS 29

lograram sempre atingir o consentimento geral dos Delegados; havia,


entre outras, dificuldades de traducáo do inglés para as diversas
línguas e para o contexto cultural dos^diversos povos. Tais textos nao
tém valor obrigatório para os diversos países signatarios, que fazem
questáo de guardar sua soberanía frente á Conferencia; como quer
que seja, gozam do poder de sugerir e inspirar novas leis em cada
país que se disponha a rever a sua legislacáo. Sem dúvida, sao
documentos que manifestam certa evolucáo das idéias, urna tomada
de consciéncia de situacóes problemáticas e o rumo que muitos
preconizam para promover a muiher na sociedade contemporánea.
Alias, pode-se notar queja houvera, antes de 1995, tres Conferencias
mundiais sobre a temática da muiher, atendendo a postulados sempre
mais ampios e exigentes; assim no México (1975), em Copenhague e
em Nairobi (1985). Em 1994 no Cairo a Conferencia mundial sobre
Populacio e Desenvolvimento abordou, a partir da explosáo
demográfica, varias questóes relativas á muiher, á procriacáo, á
sexualidade, á fecundidade, á familia á regulacáo da natalidade, ao
abortamento...

Ñas páginas subseqüentes, passaremos em breve revista os dois


documentos resultantes da Conferencia de Pequim: a Declarado,
que, após remanejamentos diversos, foi unánimemente aprovada na
sua quase totalidade e a Plataforma de Acáo, que nao obteve o
mesmo éxito, pois Ihe fizeram serias reservas mais de quarenta
Delegacóes, inclusive a da Santa Sé.

1.ADECLARACÁO

Em seus 38 artigos, a Declaracáo apresenta alguns principios


de valor básico. Assim

"Os direitos das mulheres sao parte integrante e indivisívei dos


dire¡tos humanos e das liberdades fundamentáis, no espirito da
DeclaragSo Universal dos Direitos do Homem e das Conveng&es
Internacionais".

"A religiao e a espirítualidade desempenham um papel central na


vida de milhóes de mulheres. O direito á liberdade de pensamento,
de consciéncia e de religiao é inalienável, de modo que todo individuo
deve poder exercé-lo".

A alusáo á familia suscitou controversias, pois tem caráter ambiguo,


já que fala da "familia sob todas as suas formas", abrindo as portas
(como na Conferencia do Cairo) aos pares de homossexuais e de
lésbicas, aos grupos poligámicos e ás unides livres. Nao há referencia

125
3° "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

á institucionalízacáo da familia, ou seja, ao casamento (civil ou religioso)


que é condícáo de estabilidade do casal, necessária á educacáo dos
filhos e ao bem da própria sociedade. Eis um dos tópicos respectivos:

"As mulheres toca urna fungáo crítica na familia. A familia é aa


unidade fundamental da sociedade e deve ser, enquanto tai, reforgada.
A familia toma formas diversas, segundo os sistemas cufiarais políticos
e sociais".

Muitas Delegacóes quiseram introduzir na Declaracáo "os direitos


sexuais da mulher" e também a expressáo "Direito á orientacáo sexual0,
expressáo que acobertaria todo tipo de liberdade no exercício da
sexualidade: fora do casamento, em qualquer idade, com qualquer
parceiro (heterossexual ou homossexual). Todavía varios
representantes (católicos e islámicos, inclusive a Santa Sé)1 opuseram-
se a tal expressáo. Em conseqüéncia, na Declaracáo nao se fala de
"direitos sexuais da mulher". Todavía a mesma expressáo se encontra,
um tanto modificada, na Plataforma de Acáo quando esta aborda a'
saúde, especialmente a saúde sexual da mulher:

'Os direitos humanos das mulheres compreendem os seus direitos


de controlar e decidir, de modo Iivre e responsável, ñas questoes que
tocam a sua sexualidade, ñas questoes que dizem respeito a
sexualidade, inclusive á saúde sexual e reprodutora, fora de qualquer
coagáo, discriminagao e violencia".

O tema da "saúde sexual", já abordado na Conferencia do Cairo


em setembro de 1994, voltou em Pequim com muita énfase. A
Plataforma de Acáo o aceitou nos termos ácima. A Santa Sé, porém,
o recusou por causa da sua ambigüidade.

Nota-se, alias, que nos debates e nos Documentos fináis da


Conferencia de Pequim o conceito de sexualidade é muito
individualista, egocéntrico, sendo a pessoa individual o criterio para
uso da sexualidade - o que redunda em liberdade sexual completa,
colocada a servico da satisfacáo subjetiva do individuo. O papel da
mulher foi considerado mais no contexto da grande sociedade civil do
que na sua funcáo dentro da familia, onde a mulher é máe e
educadora. A maternidade foi um tanto deixada de lado ou nao
devidamente prestigiada. Na antropología crista, ao contrario, á
sexualidade é sempre abribuída a funcáo de relacionamento entre as
pessoas; é urna modalídade do encontró do individuo com pessoa de

Mais precisamente: a Santa Sé, a Argentina, o Perú, Venezuela, Honduras, Irá,


PaquistSo, Sudán se manifestaran} contrarios ás fórmulas ambiguas.

126
CONFERENCIA DE PEQUIM: RESULTADOS 31

outro sexo, suscitado nao apenas por um impulso sensual ou um


desejo biológico, mas também por um sentimento mais profundo e
mais forte, que é o amor; a sexualidade tende a transmitir a vida e
servir á vida. Chama a atencáo o fato de que nos Documentos de
Pequim jamáis é mencionado o amor. Este silencio é característico;
talvez se explique porque os redatores preferiram recorrer a palavras
tidas como equivalentes a amor; como quer que seja, o amor está no
coracáo do Evangelho, onde ele toma significado muito ampio,
significado que ultrapassa as dimensóes da sexualidade-genitalidade.

2. A PLATAFORMA DE AQÁO

A Plataforma de Acá o foi o documento mais controvertido. A última


reuniáo preparatoria de Pequim, realizada em Nova lorque, de 15/03
a 7/04/1995, nao conseguiu o acordó dos participantes sobre urna
quarta parte do texto. Foi esse texto, discutido sem obter
consentimento geral, que foi apresentado aos Delegados reunidos
em Pequim para ser de novo estudado no breve período de 4 a 15 de
setembro de 1995.

Quando apresentado, constava de 164 páginas. Após urna


Declaracáo preliminar sobre os principios e os objetivos respectivos,
o Projeto considerava, no seu capítulo 55 (que compreendia 126
páginas), doze áreas que interessam as mulheres: pobreza, educacáo,
saúde, violencia contra as mulheres, efeitos das perseguicóes e dos
conflitos armados, participacáo ñas estruturas económicas,
participacáo nos poderes de decisáo, direitos humanos, os meios de
comunicacáo social, as mulheres e a ecología e o tema mais específico
referente ás meninas e adolescentes. Cada qual desses setores
compreendia breve exposicáo da situacáo e o enunciado de objetivos
estratégicos e de medidas concretas a tomar. No total, foram propostos
cinqüenta objetivos estratégicos e mais de quatrocentas medidas a
tomar, em tom um tanto repetitivo; as diferencas culturáis e religiosas
nao foram devidamente levadas em conta. Dado que o grande objetivo
da Conferencia de Pequim era "Igualdade, Desenvolvimento e Paz",
pode-se dizer que a perspectiva da igualdade predominou sobre as
demais. Essa igualdade foi, por vezes, entendida em sentido radical,
pois varías feministas quiseram apagar a nocáo de complementaridade
entre o homem e a muiher, complementaridade resultante das
diferencas biológicas e psicológicas do masculino e do feminino. Seria,
em conseqüéncia, plenamente lícito á muiher tentar comportar-se como
homem e vice-versa.

Já ñas sessóes preparatorias do Congresso, que, como dito,


ocuparam dois anos, notavam-se tendencias explícitas ou implícitas

127
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

(subjacentes) que vieram á baila também nos dias do Congresso em


Pequim. Eis os seus traeos principáis:

O conceito de género humano (em inglés, gender). Principalmente


na sessáo preparatoria de Nova lorque (marco-abril de 1995) e depois,
foi candente a discussáo em torno do assunto. Alguns grupos
feministas querem incluir no conceito de gender nao somente a
clássica distincáo entre homem e mulher, mas também outras
modalidades humanas: o homossexual, a lésbica, o transexual, aos
quais seríam conferidos os mesmos direitos que aos demais seres
humanos. Para fundamentar esta reivindicacáo, as feministas recorriam
a argumentos antropológicos: a distincáo entre o homem e a mulher
se devería a um fenómeno cultural ou a urna ¡mposicáo da sociedade
(apesar de ser urna distincáo baseada na fisiología e na anatomía).
Alguns grupos ayancados reunidos na Argentina em abril de 1995,
também em preparacáo do certame de Pequim, declararam que urna
reflexáo psicanalítica leva a aceitar a homossexualidade; a
heterossexualidade nao seria sugerida pela natureza do homem e da
mulher, mas sim por um processo psicológico reformável; em suma,
heterossexualidade e homossexualidade seriam comportamentos
equivalentes entre si.

Urna Comissáo Internacional dos Direitos Humanos dos Gays e


das Lésbicas reivindicou "o direito de controlar o próprio corpo,
especialmente no tocante á procura de relacóes íntimas, assim como
o direito de escolher se, quando e com quem a pessoa terá e educará
filhos*. Isto implicava o direito, para homossexuais e lésbicas, de obter
filhos mediante a fecundacáo em proveta.

Em suma, nao devería mais haverfeminilidade nem masculinidade


específicas, mas um todo indistinto unisex; a feminilidade seria
simplesmente o produto de um condicionamento cultural e social.

As feministas americanas Ann Ferguson e Nancy Felbre definiram


quatro setores-chaves para a emancipacáo das mulheres:

1) um movimento em prol da educacáo coletiva das changas, sem


se levar em conta o papel específico da mulher em relacáo ao
respectivo filho, como também em prol dos direitos de reproducáo. A
palavra 'aborto* é suprimida em favor das expressóes "integridade
corporal" e 'tomada de decisáo";

2) reivindicacáo de liberdade sexual, incluindo o direito á


preferencia sexual (direito dos homossexuais e das lésbicas);

128
CONFERENCIA DE PEQUIM: RESULTADOS 33

3) controle feminista da "producáo cultural e ideológica";

4) ajuda mutua das muiheres, o que compreende um sistema de


pensóes alternativas que favorecem a mulher em qualquer das suas
opcóes sexuais (lésbica, parceira nao casada, esposa legítima...),
comissóes de muiheres nos Sindicatos para defender os direitos das
muiheres no tocante ao salario e outras reivindicacóes. É de notar
que tais movimentos nao visam a reforear a posicáo das muiheres na
sociedade como ela é hoje constituida, mas tém em mira separar dos
homens as muiheres e apagar a vinculacáo dos interesses da mulher
aos interesses da familia.

Em Pequim os debates foram calorosos e nunca chegaram a


conclusóes aceitas por todos no tocante aos pontos mais delicados,
como os conceitos de familia, género humano, saúde sexual...
Concepcóes antropológicas radicalmente diversas impediram que
ocidentais e orientáis, Delegacóes religiosas e Delegacóes liberáis
ou nao religiosas se entendessem plenamente. Parece ter prevalecido
o modelo ocidental de mulher, inspirado por concepcóes individualistas
e permissivas, sem levar em conta as diversas culturas e o respeito
devido as crencas religiosas dos povos representados no Congresso.

Quanto ao Brasil, deve-se dizer que assumiu a posicáo liberal,


como atesta um Re lato rio Geral sobre a Mulher na Sociedade
Brasileira enviado pelo Governo ás Nacóes Unidas em dezembro de
1994, á guisa de preparacáo para a IV Conferencia Mundial sobre a
Mulher:

"A proibigáo legal do aborto impede sua prática gratuita pela rede
pública hospitalar, fato que sacrifica duplamente as mulhres pobres.
Estas, alóm de se submeterem a técnicas precarias e de alto risco,
quando sobrevivem ao aborto, ainda podem ser denunciadas á Justiga
ejulgadas porcríme contra a vida, ao qual se aplica pena de detengho
de um a tres anos".

Algumas posicóes do Congresso de Pequim, principalmente em


sua Plataforma de Acáo, mereceram da Igreja Católica reservas,...
reservas expressas pela Sra. Profa. Chefe da Delegacáo da Santa
Sé, em discurso proferido no final do certame e parcialmente transcrito
no artigo seguinte deste fascículo.

129
Em Pequim:

AS RESTRIQÓES DA SANTA SÉ

Em síntese: Ñas páginas subseqüentes sao publicados os


trechos de um discurso proferido pela Sra. Profa. Mary Ann Glendon,
no final do Congresso de Pequim (4-15/09/95) a fím de expor as
reservas da Santa Sé aos documentos do referido Congresso. Tém
em vista os conceitos de género humano, familia, relacionamento entre
homem e mulher...

* * *

No decorrer do Congresso de Pequim, mencionado ñas páginas


anteriores deste fascículo, esbocou-se, com nitidez crescente, a
distincáo entre "Estados religiosos" e "Estados liberáis', aqueles
tachados de tradicionalistas, fundamentalistas, adversarios da
evolucáo do estatuto das mulheres, enquanto os liberáis eram tidos
cbmo vanguardeiros da emancipacáo da mulher e da modernidade
de amanhá. Houve quem quisesse fundir o Estado do Vaticano e os
países árabes numa "Santa Alianca" ou numa "Náo-santa Alianca",
culpada de um compló contra as mulheres. Na verdade, tal pretensa
fusáo nao existiu nem pode existir, pois a Igreja e os muculmanos
diferem entre si num ponto fundamental, que é a poligamia, aceita
pelo Isla.

Houve também, da parte de certas Organizacóes nao Govemamentais,


um movimento que contestava o direito, da Santa Sé, de se fazer
presente em Pequim como Estado-membro, sob a alegacáo de que a
Santa Sé - como também a Suíca- na ONU nao é um Estado-membro,
mas um Estado observador. - Nao há dúvida quanto a este último
ponto, mas o fato é que, por ocasiáo das Conferencias extraordinarias
convocadas pela ONU, a Santa Sé tem sido convidada a participar,
podendo entáo comparecer como Estado-membro ou como um Estado
observador ou nao comparecer. Assim está firmado um direito da Santa
Sé pela prática internacional. Na verdade, como se sabe, a Santa Sé
participou muito ativamente dos preparativos como também do decurso
da Conferencia de Pequim. Era chefe da delegacáo vaticana a Sra.
Mary Ann Glendon, Professora de Direito da Universidade de Harvard
(U.S.A.), católica fiel,1 acompanhada por doze mulheres católicas de
diversos continentes e culturas, assim como por dois sacerdotes -

Mais precisamente: a Profa. Mary Ann Glendon tem 56 anos; é máe de tres
fílhos e avó de dais netos. Membro da Pontificia Academia de Ciencias Sociais.
é autora de nove livros. entre os quais Aborto e Divorcio na Legislagáo Ociden-
tal, obra contraria ao aborto.

130
AS RESTRIQÓES DA SANTA SÉ 35

Mons. Renato Martirio e Mons. Diarmuid Martín -, chefes adjuntos da


delega9áo.

No dia 15 de setembro de 1995, por ocasiáo do encerramento da


Conferencia de Pequim, a Profa. Mary Ann Glendon pronunciou um
discurso, que exprimiu nítidamente a posicáo da Santa Sé frente aos
documentos promulgados pelo Congresso de Pequim.1

I. O TEXTO

Após consideracóes de ordem geral, lé-se quanto segué:

"A minha Delegacáo seria negligente no seu dever para com as


mulheres, se nao indicasse também diversas áreas críticas, onde ela
discorda profundamente do teor do texto.

A minha Delegacáo lastima muito observar no texto um


individualismo exagerado, onde sao subestimadas varias afirmacóes
fundamentalmente importantes da Declaracáo Universal dos Direitos
Humanos como, por exemplo, a obriga^áo de oferecer especial
cuidado e assisténcia á maternidade. Assim, este caráter seletivo
assinala um ulterior passo no caminho rumo á colonizacáo da vasta e
rica linguagem dos direitos universais, por parte de um empo-
brecimento e livre dialeto dos direitos. Este encontró internacional
certamente poderia ter oferecido mais as mulheres e ás jovens do
que deixá-las sozinhas com os seus direitos!

Decerto devemos fazermais pelas enancas de sexo feminino, ñas


nacóes pobres, do que prometer oferecer acesso á educacáo, á
assisténcia á saúde e aos servias sociais, enquanto subtilmente
procuramos evitar qualquer compromisso concreto no sentido de
oferecer, com esta finalidade, novos e ulteriores recursos.

Decerto podemos fazer mais do que simplesmente debater acerca


das necessidades sanitarias das jovens e das mulheres, dando
desproporciona! importancia á saúde sexual e reprodutiva. Além disso,
uma linguagem ambigua acerca do controle improprio da sexualidade

1 Já antes da Conferencia de Pequim. em entrevista concedida ao periódico


Newsweek da 4/9/59. a Sra. Mary Ann Glendon observava que faltava equilibrio
nos documentos fináis a ser proposlos á Conferencia: ñas secedes sobre a saúde
da mulher. quase toda a atengéo estava voltada para as questoes reprodutivas, ao
passo que eram apenas mencionados os temas 'desnutricáo. higiene e doencas
infecciosas', que afetam 850 milhdes de pessoas por ano. principalmente nos países
pobres. Afirmava também que os documentos subestimavam o matrimonio a
matemidade. a familia e a religiio.'que sao centráis na vida da maioria das mulheres
do mundo, mas que eram apresentados como obstáculos á sua realizacao.
Asseverava outrossim que a mulher deve ter a escolha de trabalhar em casa e que
esperava que se reconhecesse que o divorcio e a ruptura da estrutura familiar
acarretam a feminizagáo mundial da pobreza; as mulheres. dizia, nao terao a
verdadeira igualdade do mundo enquanto nao houver um apo/'o á matemidade e á
educacáo dos fílhos.

131
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

e da fertilidade poderia ser interpretada como promotora do


reconhecimento social do aborto e da homossexualidade.

Um documento que respeite a dignidade da mulher, deveria


abordar a saúde da mulher toda. Um documento que respeite a
inteligencia da mulher, deveria dedicar pelo menos igual atencáo ao
alfabetismo e á fertilidade.

Senhora Presidente,

Em última análise, porque a minha Delegacáo espera que destes


Documentos, que num certo sentido estáo em desacordó entre si,
sobressaia no fim o bem das mulheres, ela deseja associar-se ao
consenso apenas nos mencionados aspectos dos Documentos que a
Santa Sé considera positivos e ao servico do concreto bem-estar da
mulher.

Infelizmente, a participacáo da Santa Sé no consenso só pode


ser parcial, devido aos inumeráveis pontos presentes nos Documentos,
que sao incompatíveis com o que a Santa Sé e outros Países
consideram favorável para o verdadeiro progresso das mulheres.
Estes pontos sao indicados ñas reservas que a minha Delegacáo
anexou a esta declaracáo.

A minha Delegacáo está convencida de que as próprias mulheres


háo-de superar os limites destes Documentos, haurindo deles o que
há de melhor. Como Joáo Paulo II justamente diz, 'o caminho que se
nos apresenta será longo e dicícil; contudo, devemos ter a coragem
de comecar a percorré-lo e de chegar ao seu termo'.

Eu desejaria solicitar que o texto desta intervencáo, as reservas


formalmente indicadas embaixo e a declaracáo da interpretacáo do
termo 'género' sejam incluidos no relatório da Conferencia.

Reservas e declaracdes interpretativas da Santa Sé

A Santa Sé, em conformidade com a sua natureza e missáo


particulares, ao associar-se parcialmente ao consenso sobre os
Documentos da IV Conferencia Mundial sobre a Mulher, deseja
expressar a sua posicáo no que se refere aos mencionados
Documentos, e apresentar reservas concementes a alguns conceitos
neles utilizados.

1. A Santa Sé quer reafirmar a dignidade e o valor das mulheres

132
AS RESTRIgÓES DA SANTA SÉ 37

e os iguais direitos dos homens e das mulheres, e lamenta muito por


a Plataforma de Agáo ter deixado de reconfirmar este conceito.

2. A Santa Sé, em conformidade com a Declara9áo Universal dos


Direitos Humanos, salienta que a familia é a unidade básica da
sociedade e que está fundamentada sobre o matrimonio, como uniáo
igualitaria entre marido e mulher, aos quais foi confiada a transmissáo
da vida. Ela lastima muito o fato de a "Plataforma de Acáo" nao ter
feito referencias a esta fundamental unidade social, a nao ser com
uma superficial linguagem qualificativa (cf. Objetivo estratégico L.9).

3. A Santa Sé só pode interpretar os termos: 'o direito que as


mulheres tém de controlar a própria sexualidade, o direito que as
mulheres tém de controlar (...) a própria fertilidade', ou 'os casáis e
os individuos', como relacionados ao uso responsável da sexualidade
dentro do matrimonio. Ao mesmo tempo, a Santa Sé condena
firmemente todas as formas de violencia e exploracáo das mulheres e
das jovens.

4. A Santa Sé volta a afirmar as reservas expressas na conclusáo


da Conferencia Internacional sobre Populacáo e Desenvoívimento,
realizada no Cairo, de 5 a 13 de Setenbro de 1994, ás quais estáo
incluidas no Relatório daquela mesma Conferencia, referentes á
interpretacáo dada aos termos 'saúde reprodutiva', 'saúde sexual' e
'direitos reprodutivos'. Em particular, a Santa Sé reitera que nao
considera o aborto, ou os servifos que promovem o aborto, uma
dimensáo da saúde reprodutiva ou dos servicos que tém em vista a
saúde reprodutiva. A Santa Sé nao dá o próprio consenso a quaiquer
forma de legislacáo que reconhece o aborto.

5. A propósito dos termos "planificacáo familiar' ou 'urna mais


vasta gama de servaos de planificacáo familiar', bem como outros
termos concernentes aos servi?os de planificacáo familiar ou á
regulacáo da fertilidade, as intervencóes da Santa Sé durante esta
Conferencia nao devem absolutamente ser interpretadas como uma
mudanca da sua conhecidíssima posicáo no que se refere aos
métodos de planificacáo familiar, que a Igreja Católica considera
moralmente inaceitáveis, ou com relacáo aos servicos de planificacáo
familiar que nao respeitam a liberdade dos cónjuges, a dignidade
humana ou os direitos humanos das pessoas interessadas. A Santa
Sé nao aceita de modo algum a cohtracep9áo ou o uso de
preservativos, nem como medida de planificapáo familiar, nem como
parte de programas de prevencáo contra o HIV/SIDA.

6. A Santa Sé reitera que nenhuma parte da Plataforma de Acáo,


ou das referencias a outros documentos nela citados, deve ser

133
38 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

interpretada como urna exigencia imposta aos agentes no campo da


saúde ou ás estruturas sanitarias, para que trabalhem, cooperem, se
refiram ou predisponham servicos contrarios á sua crenca religiosa
ou ás suas conviccóes moráis ou éticas.

7. A Santa Sé interpreta todas as referencias ao termo "gravidez


forcada' como um instrumento específico do confuto armado, assim
como este termo aparece na Declaracáo de Viena e no Programa de
Acáo (II § 38).

8. A Santa Sé interpreta o termo 'género' como é descrito na


declaracáo que foi anexada a estas reservas.

9. A Santa Sé nao se associa ao consenso sobre todo o capítulo


IV, secáo 'C, concernente á saúde; ela deseja estabelecer urna reserva
no que se refere a toda esta secáo, e pediría que a reserva geral
fosse anotada no capítulo. Esta secáo dedica urna atencáo
completamente desproporciona! á saúde sexual e reprodutiva, em
comparacáo com as outras necessidades sanitarias das muiheres e,
inclusivamente, os modos de abordar a mortalidade materna e a
enfermidade. Além disso, a Santa Sé nao pode aceitar urna
terminología ambigua a propósito do controle improprio da sexualidade
e da fertilidade, particularmente no caso em que ela pode ser
interpretada como urna aceitacáo social do aborto ou da
homossexualidade. Todavía, a reserva neste capítulo nao comporta
qualquer reducáo no compromisso da Santa Sé em relacáo á promocáo
da saúde das muiheres e das criancas de sexo feminino.

10. A Santa Sé nao se associa ao consenso e exprime urna reserva


a propósito do par. 232 (f), com a sua referencia a um texto (par. 97)
sobre o direito das muiheres ao 'controle da própria sexualidade'. Este
termo ambiguo poderia ser compreendido como aceitacáo do
relacionamento sexual fora do matrimonio heterossexual. Ela pede
que esta reserva seja anotada no parágrafo. Por outro lado, contudo,
a Santa Sé deseja associar-se á condenacáo da violencia contra as
muiheres, como é afirmado no par. 97, e á importancia da reciprocidade
e da responsabilidade conjunta, do respeito e do livre consentimento
ñas relacóes conjugáis, como é afirmado nesse mesmo parágrafo.

A Santa Sé, a propósito de toda a secáo sobre os direitos


humanos, com excecáo das citacóes ou referencias originarias de
outros documentos sobre os direitos humanos, exprime a sua
preocupacáo no que se refere ao excessivo individualismo no seu
tratamento dos direitos humanos. Além disso, a Santa Sé recorda que

134
AS RESTRIgÓES DA SANTA SÉ 39

o mandato da IV Conferencia Mundial sobre a Mulher nao incluí a


afirma cao de novos direitos humanos.

11. Com relacáo á frase: 'Os direitos das mulheres sao direitos
humanos', a Santa Sé interpreta-a como se as mulheres tivessem que
gozar plenamente de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentáis.

12. Quanto a todas as referencias aos acordos internacionais, a


Santa Sé reserva a própria posicáo neste sentido, em particular no
que se refere a qualquer acordó internacional já realizado, mencionado
nos Documentos, em conformidade com o seu modo de os aceitar ou
de nao os aceitar.

A Santa Sé pede que estas reservas, juntamente com a anexada


declaracáo de ¡nterpretacáo acerca do termo 'género', sejam incluidas
no relatório da Conferencia.

Declaracáo interpretativa da Santa Sé


sobre o termo 'género'

Ao aceitar que a palavra 'género' neste Documento seja


compreendida em conformidade com o seu uso ordinario no contexto
da Organizacáo das Nacóes Unidas, a Santa Sé associa-se ao comum
significado de tal palavra ñas línguas em que esta existe.

O termo 'género' é compreendido pela Santa Sé como


fundamentado na identidade sexual biológica, masculina ou feminina.
Além disso, a própria Plataforma de Acá o (cf. n.193c) utiliza claramente
a expressáo 'ambos os géneros'.

Deste modo, a Santa Sé exclui ¡nterpretacóes dúbias, baseadas


em perspectivas mundanas segundo as quais a identidade sexual pode
ser adaptada indefinidamente, a fim de se ajustar a novos e diferentes
objetivos.

Ela também nao se associa á nocáo determinista biológica,


segundo a qual todos os papéis e relacionamentos dos dois sexos
sao estabelecidos num único padráo estático.

O Papa Joáo Paulo II insiste sobre o caráter distintivo e a


complementarídade das mulheres e dos homens. Ao mesmo tempo,
encoraja as mulheres a assumirem novos papéis, póe em evidencia
como os condicionalismos culturáis tém representado um obstáculo

135
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

para o progresso das mulheres e exorta os homens a participar no


'grande processo de libertacáo da mulher' (Carta ás Mulheres, 6).

Na sua recente Carta ás Mulheres, o Papa explicou a visáo


matizada da Igreja, da seguinte forma: 'É possível acolher também,
sem conseqüéncias desfavoráveis para a mulher, urna certa
diversidade de papéis, na medida em que tal diversidade nao é fruto
de arbitraria imposicáo, mas brota da peculiaridade do ser masculino
e feminino' (Carta ás Mulheres, 11)°.

II. EM SUMA ...

Em suma, podem-se apontar oito ítens sobre os quais a Santa


Sé ou faz nítidas restricóes ou deseja maior clareza:

1) a familia, estorturada sobre o matrimonio, é o fundamento da


sociedade, devendo a maternidade merecer apoio decidido (n° 2 do
discurso atrás transcrito):

2) As expressóes "saúde sexual, saúde reprodutora, direitos


reprodutores* sao ambiguas, podendo encobrir homossexualismo e
libertinísimo sexual (n° 3).

3) O planejamento familiar há de ser promovido por vías naturais,


ficando excluidos os meios artificiáis e os preservativos (n° 4).

4) Toca ao pessoal sanitario o direito de objecáo de consciéncia


a práticas moralmente ¡licitas (n° 5).

5) Seja dito Nao ao abortamento e ao homossexualismo (n° 9).

6) Seja dito Nao ao sexo fora do matrimonio heterossexual (n°


10).

7) Seja dito Nao ao uso do sexo concebido em termos


individualistas e hedonistas (n° 10).

8) A expressáo género humano designa homem e mulher


colocados em papel de complementaridade, respeitadas as diferencas
biológicas e psicológicas existentes entre o masculino e o feminino.

136
Um Milagre... Urna Conversáo

"A VIAGEM DE LOURDES"

por Alexis Carrel

Em síntese: Tornou-se famoso o caso do médico francés Dr. Alexis


Carrel, agnóstico, mas pesquisador sagaz e curioso, que fot a Lourdes
em 1903 para averiguar os fatos portentosos que lá ocorriam, conforme
se Ihe dizia. Seguiu viagem com um grupo de cem enfermos
aproximadamente, acompanhados por familiares, enfermeiro(a)s e
sacerdotes. Especialmente a jovem Marie Bailly, de 22 anos de idade,
mereceu os seus cuidados, pois sofría de peritonite tuberculosa, que os
médicos de Liáo haviam recusado operar, porque a julgavam em fase
terminal da molestia. A enferma sofreu muito durante as doze horas de
viagem de trem lento e agitado; pensavam os acompanhantes que nao
chegaria a Lourdes. Urna vez nesta cidade, pensavam que nao chegaria
até a gruta das aparigóes; estava totalmente desengañada. B's, porém,
que Ihe fizeram logóes do abdomen com agua da piscina de Lourdes,
após as quais a'jovem, em pqucos minutos, foi recuperando a saúde.
Meia-hora depois, dizia-se curada. O Dr. Carrel, agnóstico, examinou-a
repetidamente assim como outros méditos. Perplexo, Carrel procurava
urna explicagáo para o portento, que finalmente ele encontrou admitindo
a intervengao da Virgem SS. e o milagre. Converteu-se á fé católica e
tornou-se dentista cristáo Premio Nobel em 1912. Faleceu em 1944,
com 71 anos de idade.

Em nossos dias proclamam-se muitos milagres... O público pouco


crítico é impressionado e propenso a crer sem investigar. Em
conseqüéncia, certos intelectuais tendem a desacreditar o conceito de
milagre; a ciencia hoje explica fatos portentosos outrora atribuidos a urna
intervencáo do além, e parece deixar pouca ou nenhuma margem para
milagre.

A Igreja continua a crer na possibilidade de milagres realizados por


Deus. Todavía, a fim de evitar ¡lusóes, ela submete a rigorosos exames
os fatos alegados e as pessoas tidas como agraciadas; em caso de
doenca, a Igreja pede o laudo de médicos, erentes e nao crentes, aos
quais toca pronunciar-se tio somente sobre a possibilidade ou nao de
explicara cura por via científica, depois de haver investigado como estava
137
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

o(a) paciente antes da cura e como se acha anos depois de a haver


experimentado.

Entre os mais famosos casos de auténtico milagre, está aquele que


0 médico francés Dr. Alexis Carrel (1873-1944) narra em seu livro "Le
Voyage de Lourdes (A Viagem de Lourdes)". Embora nao seja obra
recente (editada que foi em 1949, París), parece referir um fato realmente
inexplicável também pela ciencia de nossos dias, fato que impressionou
Carrel, agnóstico e resistente ao transcendental, a ponto de o levar á
conversáo e á fe. É de notar que Carrel obteve o Premio Nobel de
Fisiologia e Medicina em 1912 por ter desenvolvido urna técnica de sutura
dos vasos sanguíneos, abrindo caminho para o transplante de órgáos e
a transfusáo de sangue.

O médico escreveu o relato dos fatos que Ihe demonstraran! a acáo


de Deus, usando estilo impessoal ou recorrendo ao pseudónimo Lerrac.
Eis em síntese a historia dos acontecimentos.

I. O PORTENTO

Aos 26 de maio de 1903 partía de Liáo (Franca) para Lourdes um


trem portador de mais de trezentos enfermos e peregrinos, que iam rezar
e pedir a intercessio da Virgem SS. no seu santuario. O médico que
devia acompanhar os doentes, nao pode participar da viagem, de modo
que pediu ao seu colega Alexis Carrel que o fizesse. Este aceitou com
prazer o convite, nao porque fosse um homem religioso, mas porque era
um pesquisador muito interessado em averiguar a veracidade dos fatos
pretensamente milagrosos relacionados com Lourdes. Com efeito; havia
dois anos, Carrel terminara seu Doutorado em Medicina com a nota "Muito-
Bem" e se tomara conhecido nos ambientes de sua regiáo como estudioso
das anastomoses1 vasculares e dos transplantes de órgáos. A respeito
de Lourdes lera obras de crentes e incrédulos; ponderara as sentencas
de uns e outros, mas nada o convencerá nem pro nem contra o
transcendental dos fenómenos; a sua curíosidade ficava insatisfeita; só
confiava em si, ou seja, na sua pericia de investigador. De resto, nao
acred'rtava que o filósofo pudesse chegar a detectar pelo raciocinio as
causas dos fenómenos que o pesquisador descrevia em seu laboratorio;
só Ihe interessava a averíguacáo dos fatos, numa atitude genuinamente
positivista segundo a escola de Augusto Comte; mesmo assim, no seu
íntimo, sentía o desejo de saber mais e de atingir a plena verdade.

Entre os enfermos do comboio estava urna jovem de 22 anos de


idade chamada Marie Bailly ou Mane Ferrand (menos exatamente),
estendida num vagáo de terceira classe sobre um colcháo, doente de
peritonite tuberculosa em fase terminal; os médicos em Liáo nao a

1 Anastomose ó a comunicagáo entre dois vasos sanguíneos ou outras fotma-


gdes tubulares.

138
"A VIAGEM DE LOURDES" 43

quiseram operar por causa de seu estado geral extremamente


enfraquecido; nao obsante, Marie havia pedido instantemente que a
levassem a Lourdes, apesar das contra-indicares de médicos e
enfermeiras. O pai e a máe dessa jovem haviam morrido tuberculosos;
desde os quinze anos de idade, ela tinha hemoptises ou escarrava
sangue; com dezoito anos fora atingida por pleurisia tuberculosa; em
conseqüéncia retiraram-lhe do lado esquerdo dois litros e meio de líquido.
Nos seus pulmóes havia cavernas. E nos últimos oito meses via-se
atacada de peritonite tuberculosa, que a deixava no grau extremo da
caquexia ou desnutricáo profunda; estavam lívidos o seu semblante e as
máos; o coracáo batía em taquicardia e a respiracáo era ofegante.

O trem avancava lentamente, sacudindo milito e parando


freqüentemente, numa jomada de temperatura elevada - o que tornava
a viagem de doze horas especialmente cansativa e tormentosa para os
enfermos.

Porocasiáo de certa parada, urna enfermeira foi procurar o Dr. Cairel


t para atender a Marie Bailly, que parecia desfalecer sob a pressáo de
' dores atrozes. O médico deu-lhe urna injecáo de morfina, que a acalmou
um pouco. Os sacerdotes e as enfermeiras do trem receavam que ela
nao chegasse a Lourdes. Perguntou entáo o Dr. Cairel: "Quando um
doente falece em viagem, que fazem com ele?". Ao que responderam:
"Isso acontece raramente. Quando ocorre, deixamos o cadáver na
primeira estacáo. E continuamos".

As tres horas da madrugada de 27 de maio, o Dr. Cairel foi mais


urna vez chamado para ver Marie, que dizia: "Nunca conseguirei chegar
a Lourdes". O doutor examinou-lhe o ventre, que estava inchado por
massas sólidas e urna bolsa de líquido existentes no abdomen. Marie
estava na última fase de evolucáo da doenca.

Finalmente a paciente aturou a viagem muito penosa e, chegando


a Lourdes, foi levada para o Hospital de Nossa Senhora das Dores. Carrel
foi visitá-la sem demora, curioso como estava para ver o desenrolar do
drama; a enferma havia piorado: mal falava, estava inerte, desfigurada,
com a respiracáo acelerada e difícil; o pulso estava a 150 por minuto
com intermitencia. O ventre continuava entumescido; as pernas inchadas
até os joelhos; as máos e o nariz fríos, os ouvidos, as orelhas e as unhas
roxas. Um outro médico, o Dr. Geoffroy de Rives-de-Giers, presente na
sala, examinou, por sua vez, a enferma e disse em voz babea: "É a agonía!
... Ela pode morrer diante da gruta".

Bateram as quatorze horas do dia 27 de maio no relógio da Basílica,


momento em que se costumavam levar os doentes á piscina próxima á
gruta de Lourdes. Embora os médicos julgassem inútil transportara jovem
até lá, a Religiosa enfermeira o pedia, porque tal fora o desejo expresso

139
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

insistentemente por Maria: "Essa jovem nada tem a perder... Que morra
hoje ou dentro de alguns días, isto nao faz diferenca... Seria cruel recusar-
Ihe a suprema alegría de ser levada á gruta; todavia duvido de que ela
consiga chegar lá°, dizia a enfermeira. Carrel quis acompanhar a enferma,
após ter afirmado: "Vamos tentar o impossível prodigio da ressurreicáo
de urna pessoa morta. Talvez assistamos a isso... Se ela for curada,
acreditarei em milagres... Se ela for curada, eu me farei monge". Ao
dizer isto, Carrel corría um risco... Poucos anos antes, o Visconde Charles
de Foucauld, jovem oficial incrédulo e de vida devassa, fora colhido pelo
Senhor Jesús repentinamente e tomara-se monge num mosteiro trapista
em Nazaré na Térra Santa...

Antes de entrar na piscina, a enferma foi deixada á margem da


mesma. Carrel a contemplou mais urna vez prestes a morrer, táo
desfigurada estava. Sentiu, porém, um certo abalo interior, talvez devido
ao contagio da multidáo que rezava fervorosamente, e prorrompeu
também ele numa oracáo que o próprio Carrel consigna em seu relato:

"Ah, como eu quisera, á semelhanga de todos esses infelizes, crer


que nao sois apenas urna fonte excelente criada por nossos cerebros, ó
Virgem María! Cura/, pois, essa jovem; ela sofreu demais. Permiti-lhe
que viva um pouco e fazei-me crer!... Se essa jovem for curada, o que
parece absurdo, fazei que eu possa crer, encontrando-a realmente viva
ao sair da piscina".

Finalmente a maca de María Bailly foi levada com as dos demais


enfermos que se destinavam a entrar na piscina. Carrel considerou-a
novamente: semblante esverdeado, corpo mirrado, ventre entumescido...
Dentro em pouco, apareceu a enfermeira, que declarou a Carrel:
"Fizemos-lhe apenas algumas locóes sobre o abdomen; as assistentes
nao a quiseram banhar. Vamos levá-la para a frente da gruta de
Massabielle".

O médico, muito curioso do que acontecería, acompanhou a enferma.


Ao considerá-la diante da gruta, ficou estupefato, pois o seu aspecto se
modificara; os reflexos de lividez tinham desaparecido, a pele estava
menos pálida. E exclamou: "Estou alucinado. É um fenómeno psicológico
interessante, que tenho de anotar*.

Olhou o relógio; eram 14h 40m, dez minutos após Mane ter sido
tocada pela agua da piscina. Carrel tomou o pulso da enferma, observou
a respiracáo e disse: "A respiracáo se fez mais lenta". Um colega, ao
lado, incrédulo, acrescentou: "Parece-me que ela vai morrer*. Carrel nao
respondeu. Observava melhora evidente e rápida do estado geral. Algo
estava acontecendo... O rosto de Marie se modificava sempre mais, seus
olhos brilhavam, fixos na gruta. De repente, Carrel empalideceu; com
efeito, á altura do ventre, a coberta de Marie ia baixando, e tomava o

140
"A VIAGEM DE LOURDES" 45

nivel de um abdomen normal; eram 15 horas... O entumescimento parecía


ter desaparecido por completo. Carrel colocou os dedos debaixo da
coberta e apalpou o abdomen, que cedía normalmente á pressáo dos
seus dedos:

"Creio realmente que estou ficando fouco!", exclamou.

Observando que o coracáo pulsava regularmente, perguntou Carrel


a Mane:

"Como é que se senté:?"

"Estou muito bem, nao muito forte, mas sinto que estou curada",
respondeu Marie.

Nao havia como duvidar: o estado de saúde da enferma estava cada


vez melhor. Carrel nao falava mais, nao raciocinava maís... O evento era
táo contrario as suas previsóes que ele julgava estar sonhando.

A enfermeira levou urna xicara de leite a Mane; esta foi bebendo


devagar, levantou a cabeca, olhou em tomo de si, virou-se sobre o colcháo
sem exprimir sensacáo de dor. Carrel, perplexo, retirou-se do local, sem
saber o que pensar...

Marie foi levada de novo ao Hospital, onde Carrel a foi mais urna vez
visitar. Encontrou-a sentada na cama, com o olhar brílhante no seu rosto
ainda descamado; irradiava paz e alegría, ao dizer: "Sr. médico, estou
completamente curada. Sinto-me muito iraca, mas parece-me que, se
eu quisesse, eu conseguiría andar". Carrel segurou-a pela máo, o pulso
e a respiracáo estavam normáis. Todavía ainda hesitava, pensando:

"Nao se trata de urna cura aparente?... de urna estranha melhora


funcional? ... de urna chicotada infligida ao organismo por urna intensa
auto-sugestáo? Ou será que as lesóes desaparecerán)? Será este um
fenómeno raro, mas reconhecido, ou um fato novo, urna coisa impossível,
surpreendente, um milagre?"

Examinou entáo, mais urna vez, o ventre da jovem, apalpando-o, e


verificou que era o abdomen sadio de urna jovem de vinte anos muito
emagrecida. Tudo voltara ao normal; apenas as pernas estavam
inchadas. A cura era total.

Carrel suava. Tin ha a impressáo de haver recebido um soco na


cabeca. Pediu a um colega que examinasse a jovem, enquanto dizia
consigo mesmo:

"Estajovem está completamente curada; é indiscutível. Nunca vi coisa


tño interessante... É a realizagao do impossível. Mas talvez eu tenha
feito um diagnóstico falso; podía ser urna peritonite nervosa. Mas todos
os síntomas eram de peritonite tuberculosa; nao é lícito, em sa razio,

141
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

pensar de outro modo. Seus país morreram tuberculosos; seus irmños


também. Ela teve urna pleurisia tuberculosa, e os médicos Ihe retiraran)
dois litros e meio de líquido. Sofreu de tuberculose pulmonar com
hemoptises. Os médicos e cirurgióes diagnosticaran! peritonite
tuberculosa. Ninguém podía dizer outra coisa após haver apalpado o
seu ventre. É absolutamente certo que o seu estado geral era
extremamente grave. Ela está curada.

Eis o milagre, o grande milagre...

Vejo-me envolvido numa historia de milagre. Pouco importa! Custe o


que custar, irei até o fím, como se se tratasse de urna experiencia com
um cSo. Quero ser aqui apenas um instrumento que registra com
exafidéo.

E, se realmente houve um milagre, é preciso reconhecer o poder


sobrenatural... Nada compreendo!"

Um colega Ihe disse: "Estavas muito convencido de que ela se achava


afetada por urna doenca orgánica a ponto de me afirmares que, se ela
fosse curada, tu te tomarías monge".

Respondeu Carrel: "Infelizmente reconheco ter dito urna palavra


imprudente; mas isto significa apenas a minha boa fé, e nao a minha
infalibilidade. Eu pude enganar-me".

Carrel se encontrava no quarto de Maríe juntamente com tres outros


médicos, que examinavam a jovem e verificavam o estado normal. Havia
também enfermeiras que a cercavam, a ela que irradiava alegría,
transmitindo a todos a sua felicidade. Perguntou-lhe entáo Carrel:

"Que fará vocé agora que está certa do milagre e da sua cura?"

"Irei ter com as Religiosas de S. Vicente de Paulo. Serei recebida


por elas, e tratarei dos doentes", respondeu Afane.

Carrel saiu do aposento para que ninguém percebesse a sua


emocáo. O seu raciocinio nao Ihe obedecía; ele quisera apenas registrar
os fatos sem procurar causas; todavía a sua sede de saber nao Ihe
permitía contentar-se com táo sobria atitude. O dentista procura explicar
os fenómenos pelas respectivas causas; como esclarecer que urna jovem,
moribunda as 14 horas, estivesse sadia e irradiante de alegría as 19
horas do mesmo dia?

Depois de refletir intensamente sobre o ocorrido, já á noite Carrel


entrou na Basílica, onde os peregrinos rezavam e cantavam; sentou-se

142
"AVIAGEM DE LOURDES" 47

ao lado de um camponés idoso, e, com a cabe9a ñas máos, proferiu no


íntimo do sen coracáo a seguinte prece:

"Virgem suave, que socorréis os infelizes que vos imploran)


humildemente, guardai-me. Creio em vos. Quisestes responder á minha
dúvida mediante um espléndido milagre. Eu nao o sei ver, e aínda duvido.
Mas o meu maior desejo, e o alvo supremo de todas as minhas aspiragóes
é crer, crer sem restricdes, cegamente, sem mais discutir nem criticar.

Vosso nome é mais suave do que o sol da manha. Tomai o pecador


inquieto e de coragSo agitado, de fronte enrugada, que se esgota ao
procurar quimeras. Debaixo dos conselhos profundos e duros do meu
orgulho intelectual, jaz, infelizmente aínda sufocado, um sonho, o mais
sedutor de todos os sonhos: o de crer em vos e vos amar, como os
monges que tém a alma pura".

Voltando para o seu aposento no hotel, Cairel encontrou paz. Parecía


ter descoberto a certeza da verdade sob a tutela da Virgem, e adormeceu
tranquilamente já na madrugada de 28 de maio de 1903. Tornou-se um
fiel católico, deixando de lado os seus principios positivistas e agnósticos.
Aos 39 anos de idade, ganhou o Premio Nobel e encerrou a sua carreira
de dentista crístáo aos 71 anos de idade em 1944. Pouco antes de
morrer, ou seja, aos 29/03/1944 escreveu:

*A santidade nao deve destruirá vida. A tarefa da ciencia é permitir


á mística que se incorpore na vida, sem a desviar da sua estrada".

Aos 22/03/1943 havia notado:

"A fínalidade da vida é a santidade e nao a ciencia. Mas a santidade


nao pode, sem a ajuda da ciencia, organizar e conduzir a vida. A tarefa
da ciencia é permitir aos homens que atinjam a santidade".

Quanto a Mane Bailly, restaurada em sua saúde, voltou á piscina de


Lourdes antes de voltar para casa; mergulhou na agua gelada. A seguir,
enfrentou as doze horas de viagem de trem para retornar a Liáo; os
familiares e amigos que a abracaram, julgavam estar vendo Lázaro
ressuscitado. Um ano mais tarde, o Dr. Boissarie, que a havia
acompanhado durante a enfermidade, confirmou a cura completa; a jovem
já se encontrava entáo no convento das Filhas da Caridade desde 28/
08/1903, conforme o seu ardente desejol

II.REFLETINDO...

O milagre narrado com tantas minucias (abreviamos o relato ñas


páginas atrás) por Carrel nao pode ser comprovado pelos recursos

143
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 406/1996

modernos da radiografía, da ultra-sonografia, da tomografia... Todavía


sao favoráveis á autenticidade do mesmo os seguintes (atores:

1) O estado mórbido ou terminal de Marie Bailly, averiguado pelos


médicos do ano de 1903, parece que seria reconhecido também pelos
médicos dos nossos dias. Os síntomas descritos por Alexis Carrel sao
realmente de grande significado.

2) Carrel resistiu á conclusáo de que se tratava de milagre. Admitiu


a hipóte se que hoje também se admite em muitos casos de cura
"prodigiosa": a molestia em foco nao seria urna molestia orgánica, mas
urna doenca nervosa funcional, que se curaría pela sugestáo. O relato
de Carrel, no livro mencionado, aponta casos, ocorridos em Lourdes, de
auto-sugestáo. Isto quer dizer que o médico agnóstico considerou
realmente tal hipótese, mas nem ele nem seus colegas a puderam aplicar
ao caso de Marie Bailly; os síntomas mórbidos desta ultrapassavam a
esfera do meramente funcional e do nervoso.

3) A instantaneidade ou quase instantaneidade da cura propicia a


noció de milagre. Curas maravilhosas podem ser obtidas pela medicina,
principalmente em nossos dias, em ritmo lentamente progressivo. O
caráter repentino de urna cura de paciente em fase terminal já nao é
explicável pela medicina.

Eis por que se pode, hoje em dia, ter como auténtico o milagre de
Lourdes descrito por Alexis Carrel. Este, revirado em seu modo de pensar,
passou de agnóstico á fé lúcida e adulta de um dentista crístáo Premio
Nobel.
Estéváo Bettencourt O.S.B.

Mística e Erótica, por Marcial Macaneiro SCJ. - Ed. Vozes,


Petrópolis 1995, 135 x 210 mm. 116 pp.

O livro tem por subtitulo 'Um Ensaio sobre Deus, Eros e Beleza" e
por autor um jovem teólogo de 30 anos de idade. Apresenta o amor
conjugal como imagem do amor que deve existir entre Deus e a criatura.
Explana esta tese a partir do Cántico dos Cánticos e de textos de místicos
cristSos. Este procedimento é válido; todavía, da maneira como é
desenvolvido pelo autor do livro, corre o risco da ambigüidade ou mesmo
do exagero. Em algumas passagens o autor nao é bastante preciso;
tenha-se em vista o que se lé ás pp. 86-92, onde parece sugerir que o
impulso sexual está ativo no éxtase místico. De modo especial, o autor
preconiza *a danqa litúrgica", 'orar e celebrar com nossos corpos",
realizando assim "a inculturagño do Evangelho" (cf. p. 114).

O livro pode ser bem entendido por quem tenha a mente equilibrada,
mas pode servir a desvíos na espiritualidade de outros leitores.
E.B.

144
PARAOANOLETIVO:

Que livros adotar para os Cursos de Teología e Liturgia?

A "Lumen Christi" oferece as seguintes obras:

1. RIQUEZAS DA MENSAGEM CRISTA (2a. ed.), por Dom Cirilo Folch


Gomes O.S.B. (falecido a 2/12/83). Teólogo conceituado, autor de
um tratado completo de Teología Dogmática, comentando o Credo do
Povo de Deus, promulgado pelo Papa Paulo VI. Um alentado volume
de 700 p., best seller de nossas Edicóes R$ 34,80.

2. O MISTERIO DO DEUS VIVO, P. Patfoort O.P. O Autor foi examinador


de D. Cirilo para a conquista da láurea de Doutor em Teología no
Instituto Pontificio Santo Tomás de Aquino em Roma. Para Professo-
res e Alunos de Teología, é um Tratado de "Deus Uno e Trino", de
orientacáo tomista e de índole didática. 230 p R$ 16,80.

3. LITURGIA PARA O POVO DE DEUS (4a. ed., 1984), pelo Salesiano


Don Cario Fiore, traducáo de D. Hildebrando P. Martins OSB. Edicáo
ampliada e atualizada, apresenta em linguagem simples toda a dou-
trina da Constituicáo Litúrgica do Vat. II. E um breve manual para uso
de Seminarios, Noviciados, Colegios, Grupos de reflexáo, Retiros etc.,
216 p R$ 7,20.

4. DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temas controvertidos. 3a. Edicáo.


Seu Autor, D. Estéváo Bettencourt, considera os principáis pontos da clás-
sica controversia, entre Católicos e Protestantes, procurando mostrar que
a discussáo no plano teológico perdeu muito de sua razáo de ser, pois, nao
raro, versa mais sobre plano teológico perdeu muito de sua razio de ser,
pois, nao raro, versa mais sobre palavras do que sobre conceitos ou propo-
sicñes - 380 páginas.
SUMARIO: 1. O catálogo bíblico: livros canónicos e livros apócrifos - 2.
Somente a Escritura? 3. Somente a fé? Nao as obras? 4. A SS. Tríndade,
Fórmula paga? 5. O primado de Pedro - 6. Eucaristía: Sacrificio e Sacra
mento. - 7. A Confissao dos pecados - 8.0 Purgatorio - 9. As indulgenci
as -10. María, Virgem e Máe -11. Jesús teve irmáos? -12. O Culto aos
Santos - 13. E as imagens sagradas? - 14. Alterado o Decálogo? - 15.
Sábado ou Domingo?-16-666 (Ap. 13.18)-17. Vocé sabe quando? -18.
Seita e Espirito Sectario - 19. Apéndice geral: A era Constantiniana.
'■ R$ 16,80.

EdicSec "Lumen Christi"


Pedidos pelo Reembolso postal ou conforme tndicacao na 2a. capa

V
Liturgia da íVlissa

ORDINARIO
para celebracáo da Eucaristía com o povo
25a. edicáo íatualizada)

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tendo 11 Oracoes Eucarísticas, inclusive a mais recente "Para diversas circuns
tancias" (8 novembro 91). com acréscimc de aclamacóes e novos textos. Impres-
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RITOS DE COMUNHÁO
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compilados por Dom Hildebrando P. Martins OSB. 8a. edicáo. 68 págs
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3a. edicáo em latim-portugués, com anotacóes por Dom Joáo Evangelista Enout
OSB. A Regra que Sao Bento escreveu no século VI continua viva em todos
os mosteiros do nosso tempo, aos quais nao faltam vocacóes para monges e
monjas, 210 págs ••••,■ R$ 11.50 ,
PERSPECTIVAS DA REGRA DE S. BENTO
Irma Aquinata Bóckmann OSB.
Comentario sobre o Prólogo e os capítulos 53, 58, 72, 73 da Regra Benediüna -
Traducáo do alemáo por D. Mateus Rocha OSB.
A Autora é professora no Pontificio Ateneu de Santo Anselmo em Roma (Monte
Aventino). Tem divulgado suas pesquisas nao só na Alemanha, Italia, Franca,
Portugal. Espanha, como também nos Estados Unidos, Brasil, Tanzania, Coréia
e Filipinas, por ocasiao de Cursos e Retiros. 364 págs. R$ 10.20-
SAO BENTO E A PROFISSÁO DE MONGE
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O genio, ou seja, a santidade de um monge da Igreja latina do século VI (480-540)
- SAO BENTO - transformou-o em exemplo vivo, em mestre e em legislador
de um estado de vida crista, empenhado na procura crescente da facete da
verdade de Deus, espelhada na trajetória de um viver humanó renascido do
sangue redentor de Cristo. - Assim, o discípulo de Sao Bentcróuvé o chama
do para fazer-se monge. para assumir a "profiss§o de monge".

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