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A Teoria Sociobiológica

A Teoria Sociobiológica tenta aplicar a biologia evolutiva na compreensão das


causas distais dos comportamentos sociais humanos. Assim, e como consequência
do seu estudo acerca da existência do double-standard (as atitudes permissivas da
sociedade para com a promiscuidade masculina e a intolerância para com a
promiscuidade feminina) os sociobiólogos apresentam esta teoria.
Tal como Oliver e Hyde (19939) referem, os sociobiólogos salientam que os
espermatozóides são abundantes (o corpo masculino produz milhões por dia)
enquanto que o óvulo (em comparação com os espermatozóides) é bastante raro (é
produzido apenas um por mês). Assim, faz sentido evolutivamente que o homem (o
macho) insemine muitas mulheres (fêmeas) enquanto que estas sejam
particularmente cuidadosas com os genes (espermatozóides) que fecundam o seu
raro óvulo. Aliás, na maior parte das espécies é a fêmea que finalmente decide se
acasala ou não (in Gleitman, 1993); além disso, é a fêmea que arca com os maiores
custos da reprodução e têm maior responsabilidade biológica que o macho.
As previsões da sociobiologia acerca das diferenças de género no comportamento
são, então, claras: os homens deverão ser mais permissivos relativamente a sexo
fortuito e deverão ter um maior número de parceiros sexuais diferentes, enquanto
que as mulheres deverão ser menos permissivas relativamente a sexo fortuito e
deverão ter um menor número de parceiros diferentes.
Os sociobiólogos defendem que, embora os homens possam ser um pouco mais
permissivos que as mulheres relativamente ao sexo extra-conjugal praticado por si
próprios, eles mostram uma particular desaprovação do envolvimento das mulheres
neste. Uma vez que a certeza de paternidade é menor que 100%, uma gravidez
resultante de uma relação extra-conjugal poderá querer dizer que o cônjuge está a
utilizar os seus recursos para criar a criança de outro homem, e não a transmitir
eficazmente os seus próprios genes à próxima geração. Estas são, então, origens do
ciúme sexual dos homens, e dos seus esforços para controlar a sexualidade das
mulheres (Smuts, 1992; cit. in Oliver e Hyde, 1993).
A selecção natural para os padrões de comportamento sexual ocorreu em
sociedades muito diferentes da actual. Neste sentido, é provavelmente impossível
testar devidamente as predições da sociobiologia na sociedade actual, tão diferente
das sociedades ancestrais, nas quais a selecção natural presumivelmente ocorria.
Buss e Schmitt (1992; ibid.) desenvolveram uma teoria da evolução dos padrões de
acasalamento mais adaptada com a sua Teoria das Estratégias Sexuais. Trata-se de
uma teoria da psicologia evolutiva que toma em consideração tanto padrões
estabelecidos pela evolução como padrões estabelecidos no presente contexto
cultural. Estes autores defendem que os homens e as mulheres têm diferentes
estratégias sexuais e, ainda, que as estratégias diferem para cada um, dependendo
do facto do contexto ser de acasalamento a curto-prazo (ex: sexo fortuito) ou a
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longo-prazo (ex: casamento). O acasalamento a curto-prazo constituirá uma maior
componente da estratégia sexual masculina do que da feminina (i.e., os homens
concordam mais com e estão mais interessados em sexo fortuito do que as
mulheres), e as mulheres, de uma forma geral, necessitarão de sinais mais fiáveis
de que um homem está comprometido com elas a longo-prazo como um pré-
requisito para acontecerem relações sexuais (i.e., no geral, as mulheres não estão
interessadas em sexo fortuito porque nesse contexto elas não podem estar certas
dos recursos do homem ou da disponibilização desses recursos para a mulher).
Por defenderem que as diferenças de género são controladas pelo património
genético resultante de gerações de selecção natural, os sociobiólogos não
conseguem lidar com a mudança desenvolvimental ao longo do ciclo vital. Contudo,
algumas tentativas mais recentes de aplicar os seus princípios têm defendido que a
selecção natural das estratégias reprodutivas com mais sucesso poderá ter
diferentes efeitos em diferentes etapas do desenvolvimento e em diferentes
contextos sociais (ex., Belsky et al., 1991; ibid.).
Com base no estudo de Oliver e Hyde (1993), as grandes diferenças entre sexos ao
nível do número de parceiros sexuais defendidas por esta teoria parecem esbater-se
um pouco na actualidade. Uma possível explicação passa pela existência de
contraceptivos altamente eficientes, os quais poderão muito bem ter mudado a
natureza das estratégias reprodutivas das mulheres. Quando a actividade sexual
não envolve reprodução, e segundo o quadro de leitura da sociobiologia, as
mulheres poderão ter tantos parceiros sexuais quanto os homens sem fazerem
investimentos parentais insensatos. Isto assume, como é óbvio, uma perspectiva
cognitiva relativamente às decisões acerca do comportamento sexual que está
omissa na teoria sociobiológica.
A Teoria Psicofisiológica
A principal diferença entre a sexualidade humana e a sexualidade animal diz
respeito à flexibilidade do comportamento sexual. Comparados com os animais
somos muito menos automáticos nas nossas actividades sexuais, muito mais
variados e muito mais influenciados pelas experiências anteriores (...) sobretudo as
experiências precoces (Gleitman, 1993).
Esta diferença entre comportamento sexual humano e comportamento sexual
animal é particularmente nítida no que respeita ao efeito das hormonas. Em
ratazanas e gatos o comportamento sexual está, sobremaneira, dependente dos
níveis hormonais: Machos castrados e fêmeas ovariectomizadas deixam de copular
alguns meses depois de lhes terem sido retiradas as gónadas (Gleitman, 1993). Na
nossa espécie, no entanto, a actividade sexual pode persistir durante anos ou
décadas após a castração ou a ovariectomia desde que a operação se tenha
realizado depois da puberdade (Bermant e Davidson, 1974; in Gleitman, 1993)

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A autonomização do sexo relativamente ao controlo hormonal é evidente nas
fêmeas humanas. É verdade que as mulheres se encontram sujeitas a um ciclo
fisiológico, mas este tem relativamente pouco impacto no comportamento sexual,
pelo menos se comparado com os efeitos profundos observados nos animais.
Embora a nossa espécie não seja, como outras, escrava das próprias hormonas, isto
não significa que os factores hormonais não tenham efeito. Injecções de
androgéneos em homens que tenham níveis hormonais excepcionalmente baixos
aumentam, em geral, a sua motivação sexual.
Outra demonstração dos efeitos das hormonas provém de estudos sobre o ciclo
menstrual. Apesar de as mulheres se encontrarem sexualmente receptivas durante
todo o ciclo, existem algumas variações dentro desse período. A apetência e a
actividade sexuais tendem a ser mais elevadas durante a fase média do ciclo,
quando ocorre a ovulação (Hamburg, Moos e Yalom, 1968; in Gleitman, 1993).
Um dos principais argumentos para o facto dos homens serem vistos tão
frequentemente como mais agressivos que as mulheres são as presumidas ligações
testosterona - agressão e androgénio-agressão. Assim, é também importante
reflectirmos sobre este mito, e pensarmos se ele é ou não verdade.
A ligação entre o nível de testosterona presente no soro sanguíneo humano ou na
saliva e a agressão não está estabelecida, e a ligação testosterona – agressão é
muito incerta, no que diz respeito ao homo sapiens (Björkqvist, 1994). É verdade
que em vertebrados não humanos os machos são, de uma forma geral (fisicamente)
mais agressivos que as fêmeas. Em alguns mamíferos, esta diferença na
combatividade é evidente mesmo nas brincadeiras infantis (in Gleitman, 1993). Isto
não é, contudo, verdade para todas as espécies, tal como Adams (1992; cit. in
Björkqvist, 1994) mostra.
Os resultados respeitantes aos humanos são inconsistentes: alguns autores
afirmam que pode ser estabelecida uma ligação (por ex., Donovan, 1985; ibid.);
níveis altos de testosterona no sangue dos machos estão relacionados com uma
maior agressividade, enquanto que níveis de testosterona inferiores correspondem
a uma menor agressividade. Esta generalização parece ser verdadeira não só para
mamíferos, tendo sido estudada sobretudo em ratos, macacos e machos da nossa
espécie (Davis, 1964; in Gleitman, 1993).
Pelo contrário, outros autores, tais como Benton (1983a, 1983b, 1992; cit. in
Björkqvist, 1994) são da opinião de que, com base nos dados existentes, não há
nenhum motivo para sugerir que a agressão humana esteja relacionada com o nível
de testosterona. Benton (ibid.) salienta que a defesa de uma relação entre
testosterona e agressão está baseada primariamente em dados animais. Nos
humanos, os mecanismos sociais e cognitivos desempenham um papel muito
superior ao dos factores fisiológicos. Quanto mais perto do homem está o animal,
menor a influência da testosterona na agressão. No homem, afirma Benton (1992;
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ibid.), o comportamento agressivo é um reflexo da história psicossocial e as
diferenças na agressividade pouco podem ser atribuídas ao nível de testosterona.
Björkqvist et al. (1993a; ibid.) salientam que os estudos que sugerem uma relação
entre testosterona e agressão podem ter a ver com a nossa cultura, onde se
partilha o já referido "mito" acerca da agressividade masculina e da mulher
submissa, estabelecendo-se relações de causalidade, uma vez que o homem
apresenta maior taxa de testosterona no soro sanguíneo.
Os investigadores tendem também a discordar da ligação androgénio - agressão:
enquanto alguns estudos encontraram uma relação entre o nível de androgénio e a
agressividade (por ex: Olweus et al., 1980; ibid.), outros não (por ex.: Lindman et
al., 1992; ibid.). Foram relatadas recentemente quatro experiências nas quais eram
induzidos androgéneos a sujeitos masculinos e o nível era medido com diferentes
instrumentos. Três destes estudos não detectaram um aumento na agressividade
como consequência da toma de androgénio (Björkqvist et al., 1993; ibid.), enquanto
que no outro estudo (Hannan et al., 1991; ibid.) foi detectado um aumento. Neste
sentido, uma vez que os resultados nulos são menos susceptíveis de serem
publicados é possível, e mesmo provável, que o número de estudos conduzidos com
um resultado negativo ultrapasse largamente aqueles com resultado positivo.
As diferenças sexuais na agressão são mais susceptíveis de serem desenvolvidas
através de mecanismos de aprendizagem e não estarem ligadas directamente a
hormonas. Tal como foi salientado atrás, não existe nenhuma relação óbvia entre
hormonas e agressão nos humanos – talvez porque o desenvolvimento de funções
cerebrais superiores nos humanos tornou possíveis outros estilos de agressão além
dos físicos: métodos mais subtis mas, ainda assim, altamente eficazes, nos quais o
poder físico directo não é um pré-requisito (Björkqvist, 1994).
Assim, e uma vez que a sexualidade humana é muito mais flexível e menos
automática do que a dos animais, devemos tomar em consideração esta teoria
como um contributo para o presente trabalho, devidamente relativizada pela força
que os mecanismos de socialização têm.

A Teoria da Aprendizagem Social


Segundo a Teoria da Aprendizagem Social as diferenças de género são moldadas
através dos reforços positivos que são dados aos comportamentos compatíveis com
o papel de género definido, enquanto que os comportamentos não compatíveis são
ignorados ou talvez punidos, tornando-se, assim, menos frequentes.
Assim, a teoria da aprendizagem social faz duas predições acerca dos padrões das
diferenças de género no comportamento sexual. Primeiro, é defendido que pode
haver mudança ao longo do tempo nas diferenças de género em função da
mudança das normas para o comportamento sexual e em função da mudança das
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imagens veiculadas pelos média, as quais fornecem modelos para imitação.
Segundo, é apresentada a double-standard (Sprecher et al., 1987; ibid.) a qual, em
termos de aprendizagem social, significa que as mulheres são punidas por
actividades sexuais tais como ter numerosos parceiros sexuais ou envolver-se em
sexo fortuito, enquanto que os homens não tendem a ser punidos mas, pelo
contrário, recompensados (através de admiração, ou superior status social) por
esses comportamentos. Neste sentido, a teoria da aprendizagem social prevê um
menor número médio de parceiros sexuais para as mulheres do que para os
homens. Também prevê que as mulheres apresentam atitudes mais negativas
acerca do sexo fortuito do que os homens. Finalmente, defende que existe uma
diferença de género na permissividade sexual, mais concretamente no sentido da
menor permissividade das mulheres.
A Teoria do Guião
Os guiões (sociais) normalizam as interacções para minimizar o risco nas fases
iniciais de uma relação (Holmes, 1981; cit. in Semonsky e Rosenfeld, 1994),
definindo de forma eficaz quem as pessoas são e os papéis que desempenham
(Holzner & Robertson, 1980; ibid.).
Embora existam numerosos guiões normalizadores dos nossos comportamentos e
posturas nas mais diversas esferas da nossa vida, os guiões sexuais são
particularmente importantes. Assim, podemos encontrar uma articulação clássica
da Teoria do Guião aplicada à sexualidade na obra de Gagnon e Simon (1973; ibid.)
"Sexual Conduct". Estes autores utilizam o termo "guião" (script) de duas formas:
Uma lida com o interpessoal, no qual o guião organiza as convenções partilhadas
que permitem que duas pessoas participem num acto sexual complexo que envolve
interacção mútua; a outra lida com os estados internos e motivações onde o
indivíduo tem certos guiões que produzem activação e predispõe para a actividade
sexual.
A teoria do guião enfatiza o significado “simbólico” dos comportamentos. Gagnon e
Simon afirmam que o significado da sexualidade está bastante ligado ao prazer
individual nos homens e à qualidade da relação nas mulheres.
Mosher e Tomkins (1988; ibid.) desenvolveram a teoria do guião no seu trabalho
sobre o “Macho Man” e a personalidade de “macho” nos homens. Segundo estes
autores, a personalidade “macho” consiste na crença de que a violência é “de
macho”, e a crença de que o perigo é excitante. Nem todos os homens,
obviamente, se tornam “Macho Man”, mas a existência do guião significa que ele
influencia todos os homens, alguns mais, outros menos (Oliver e Hyde, 1993).
A Teoria do Papel Social
A articulação entre a Teoria do Papel Social e a sua aplicação aos papéis de género
e às diferenças de género foi efectuada por Eagly (1987; cit. in Oliver e Hyde, 1993)
e Eagly & Crowley (1986; ibid.).
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Esta teoria assenta, basicamente, no facto de não existirem dúvidas de que os
comportamentos sexuais são governados por “papéis” e “guiões”. Assim, a
heterossexualidade é vista como fazendo parte de ambos os papéis masculino e
feminino (Bem, 1981; ibid.), à medida que, e segundo esta teoria, a
homossexualidade será vista como uma violação mais séria dos papéis para
homens e mulheres, já que entra em nítida contradição com esses guiões.
Também à luz desta teoria se pode enfatizar a double-standard sexual atrás
discutida (Sprecher et al., 1987; ibid.), já que esta se mostra crítica na definição dos
papéis masculinos e femininos no reino da sexualidade.
Com base em tudo isto, a teoria do papel social, à semelhança da teoria da
aprendizagem social, pode compreender e prever a mudança, ao longo do tempo,
dos padrões das diferenças de género, à medida que os papéis de género mudam.
Os papéis de género e as atitudes
As diferenças dos papéis de género (estereótipos) entre homens e mulheres
parecem ser uma das possíveis explicações tanto para as diferentes percepções de
situações de abuso por parte dos dois sexos, como para as diferentes atitudes e
comportamento entre sexo masculino e sexo feminino.
Parece existir uma tendência para percepcionar os homens de forma mais negativa
do que as mulheres quando estes transgridem o seu papel de género (Jackson &
Sullivan, 1990; Martin, 1990; Moller, Hymel, & Rubin, 1992; cit. in McCreary, 1994).
Pais, pares e professores mostram mais preocupação quando os homens (tanto
crianças como adultos), ao contrário das mulheres, se desviam das suas prescrições
de papel de género tradicionais (Lytton & Romney, 1991; ibid.). Os homens
descritos como tendo atitudes ou comportamentos tradicionalmente femininos são,
ainda, percebidos como sendo menos atraentes e menos populares do que os
homens descritos como tendo atitudes tradicionalmente masculinas (Jackson &
Sullivan, 1990; Martin, 1990; ibid.).
Estas atitudes parecem estar relacionadas com os dados que mostram que os
homens têm maior tendência para ser punidos por actuarem como “maricas”,
enquanto que as mulheres que actuam como “maria-rapaz” tendem a ser toleradas
e mesmo recompensadas pelos outros (Archer, 1984; 1993; Hemmer & Kleiber,
1981; Maccoby, 1986; ibid.). Ficou demonstrado que as acções dos pais e dos pares
afectam significativamente a demonstração que as crianças fazem dos
comportamentos “típicos” do seu género. Os pais, especialmente os progenitores
masculinos, compensam mais os rapazes que as raparigas por demonstrarem
formas de brincar congruentes com o seu género. Também tendem a punir os
rapazes de forma mais severa do que as raparigas pelos desvios às normas de
papel de género (Langlois & Downs, 1980; Lytton & Romney, 1991; ibid.).
Similarmente, os homens influenciam os seus pares do mesmo sexo8 através da
recompensa e punição sociais; aqueles que actuam de uma forma
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estereotipicamente feminina serão mais provavelmente gozados ou, num extremo,
rejeitados pelos seus grupos de pares masculinos (Moller, et al., 1992; ibid.).
As reacções dos pares às raparigas que se desviam do seu papel feminino
tradicional é bastante diferente; o seu comportamento tende a ser ignorado e
algumas vezes mesmo recompensado com alto estatuto social nos seus grupos de
pares femininos (Thorne, 1986; ibid.).
A punição e reforço qualitativa e quantitativamente diferenciados para as
transgressões do papel de género conduzem muitos homens a evitarem aquilo que
a sociedade prescreveu como sendo femininamente valorizado. O “evitamento da
femininidade” emergiu como um factor significativo em todos os estudos que
tentam compreender as dimensões subjacentes à masculinidade e ao papel de
género masculino (Thompson, Pleck, & Ferrera, 1992; cit. in McCreary, 1994).
Porque evitam o papel feminino, falta aos homens a capacidade para experienciar
tanta “femininidade” quanto as mulheres experienciam a “masculinidade”, e como
resultado encontram um maior grau de restrição no desenvolvimento e expressão
do seu papel de género. Este conceito foi referido como a rigidez do papel de
género masculino (Archer, 1993; cit. in McCreary, 1994).
Estes dados deverão fazer-nos pensar acerca da forma como o abuso sexual é
compreendido na investigação, assim como sobre a operacionalização das relações
possuidoras ou desprovidas de situações de abuso.
Um dos possíveis modelos que tentam explicar o desenvolvimento da referida
rigidez do papel de género masculino é a Hipótese da Orientação Sexual. Esta
hipótese assume que as características e comportamento de papel de género
observadas estão intimamente ligadas à orientação sexual percebida nos homens,
mas não nas mulheres. Logo, a assimetria das percepções das pessoas aos desvios
de papel de género masculinos e femininos é motivada, em parte, pelo pressuposto
implícito de que as transgressões masculinas são sintomáticas de uma orientação
homossexual. Uma vez que a sociedade é homofóbica no global (mas
especialmente para com os homens), ser homossexual é um resultado negativo e
deverá ser evitado (ex: Herek, 1984; cit. in McCreary, 1994).
Quando se descreve um homem ou uma mulher que actua de uma forma contra-
género, os sujeitos atribuem mais frequentemente uma maior probabilidade do alvo
ser homossexual. O estudo de Antill (1987; cit. in McCreary, 1994) acerca das
crenças parentais sobre a sexualidade e os papéis de género mostra que, mesmo
embora acreditassem que a homossexualidade tinha uma base biológica, os pais
mesmo assim tenderiam a considerar um comportamento contra-género como um
sinal de homossexualidade nos rapazes mas não nas raparigas. Isto leva estes pais
a demonstrarem um maior grau de preocupação acerca do comportamento contra-
genéro dos rapazes.

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Estas observações assumem uma dimensão ainda maior dentro do tema deste
trabalho quando interpretamos a maior frequência de abuso masculino à luz de um
cruzamento entre esta hipótese e a socialização mais estrita e reduzida, e a menor
liberdade para se desviar do seu estereótipo que os homens parecem viver
(Harrison, 1978; Morin & Garfinkle, 1978; Hatfield, 1983; cit. in Semonsky e
Rosenfeld, 1994).
A Teoria do Estatuto Sexual e a “Cultura de Violação”
Segundo a literatura acerca do sexo e estatuto aplicados a estas situações, os
homens têm mais apoio que as mulheres para se afirmarem em situações sexuais:
é esperado que os homens iniciem as relações, desempenhem os avanços sexuais
(Blumstein & Schwartz, 1983; cit. in Semonsky e Rosenfeld, 1994); e estejam numa
posição de controlo, poder e dominância (Hendrick et al., 1985). Por outro lado,
existem dados que indicam que os homens estão mais limitados pela socialização
do papel sexual do que as mulheres (O’ Leary & Donoghue, 1978; cit. in Semonsky
e Rosenfeld, 1994).
A socialização dos agressores masculinos e as pacifistas femininas contribuem para
a "cultura de violação" que encoraja os comportamentos de abuso (Bart, 1979;
Wood, 1993; cit. in Semonsky e Rosenfeld, 1994). Também contribui para a "cultura
de violação" a tendência da sociedade para colocar a culpa nas vítimas em
oposição aos agressores (Burt, 1980; Calhoun et al., 1976; Giocopassi & Dull, 1986;
ibid.), fenómeno que também é conhecido pelo “não”9 que significa “sim”, o
denominado mito da violação que, segundo Scully & Morolla, (1984; ibid.), é usado
frequentemente por violadores para justificarem as suas acções.
Numa estrutura social onde é dado tradicionalmente o controlo aos homens, seria
lógico que estes tivessem mais apoio social na determinação do seu
comportamento sexual. Porque é suposto, na sociedade norte-americana, que
sejam os homens a iniciar os encontros sexuais, e porque as pessoas que iniciam
maior intimidade têm maior poder e controlo nas relações (Henley & Freeman,
1984; cit. in Semonsky e Rosenfeld, 1994), os homens deveriam ter mais apoio
social do que as mulheres para a sua auto-determinação sexual.
Surpreendentemente, o estudo de Margolin (1990; ibid.) acerca dos apoios sociais
disponíveis para a auto-determinação sexual em relação a violações sexuais
"menores" detectou o oposto. Neste sentido, Margolin (ibid.) afirma que “os homens
recebem menor apoio social para determinarem e afirmarem o seu comportamento
sexual do que as mulheres”, já que este autor observou um fornecimento de menor
apoio social aos homens do que às mulheres para afirmarem ou reivindicarem a sua
sexualidade (i.e. violar o consentimento e não dar consentimento relativamente a
um abuso “menor”, nomeadamente “dar um beijo”). Apesar de não pretenderem
estudar os apoios sociais disponíveis para a auto-determinação sexual, Semonsky e
Rosenfeld (1994) também observaram esta diferenciação do apoio social.
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Embora a sociedade coloque os homens na posição dominante, eles são
socializados de forma mais estrita e reduzida, e têm menos liberdade para se
desviar do seu estereótipo do que as mulheres (Harrison, 1978; Morin & Garfinkle,
1978; ibid.). Os papéis sexuais definem o homem como ansioso por sexo (Hatfield,
1983; ibid.), como dominante e em controlo (Maccoby & Jacklin, 1974; ibid.) e como
iniciadores sexuais (Axelrod, 1993; ibid.).
Margolin (1990; ibid.) considera a possibilidade deste menor apoio social para a
acção em abusos sexuais “menores” ter a ver com os seus papéis dominantes
masculinos, os quais são reforçados socialmente, o que faz com que sejam
percebidos como ameaçadores. Também, se os homens estão mais limitados pela
socialização do papel sexual do que as mulheres (O´ Leary & Donoghue, 1978;
ibid.), então um desvio das normas sociais (i.e., não dando consentimento para um
beijo) poderá relacionar-se com uma correspondente perda de confiança para os
homens, mas não para as mulheres.
No seguimento dos trabalhos de Margolin, Semonsky e Rosenfeld (1994)
observaram que, na sociedade americana, por um lado se verificava intolerância
relativamente aos comportamentos de abuso e violação, (independentemente do
sexo do violador), enquanto que por outro, e apesar disto, existiam fortes diferenças
sexuais nas percepções das violações e abusos sexuais e duplos critérios no apoio
social para determinar o comportamento sexual.
Em primeiro lugar, as avaliações dependiam da severidade percebida das situações
e do tipo de comportamento do abusador. De facto, observou-se que quando uma
situação de potencial abuso sexual se caracterizava por “dar um beijo” (situação
sem consentimento explícito mas de severidade ligeira), os sujeitos não viam esse
comportamento como se tratando de uma verdadeira situação de abuso (Margolin,
1990; cit. in Semonsky e Rosenfeld, 1994).
Outra conclusão importante do estudo de Semonsky e Rosenfeld (1994) é a
diferenciação de percepções dos comportamentos abusivos quando estes são
efectuados por indivíduos do sexo masculino ou do sexo feminino. Quando as
situações de abuso são promovidas por uma mulher estas são vistas como menos
previsíveis, mais elogiosas do abusado, menos ameaçadoras e menos agressivas do
que quando é um homem a ter este comportamento. Inclusive, esta diferenciação
em função do género do abusador poderá fazer a diferença entre considerar-se a
presença ou a ausência de uma situação de “abuso”. Esta realidade é, ainda,
apoiada pelas diferenças de sexo observadas por Björkqvist (1994) na maior
utilização de estratégias agressivas directas (físicas, verbais) nos homens, e
indirectas (verbais, manipulação social) nas mulheres, sendo as primeiras aquelas
socialmente associadas ao abuso.
A explicação base para esta diferenciação de cenários é o desvio dos papéis
sexuais. Os papéis sexuais criam um modo normativo para interacção e fornecem
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uma base de identidade para a acção em situações de dating (Wood, 1993; ibid.).
Desviando-se dos guiões sociais para uma interacção determinada socialmente, os
interactores desenvolvem dúvida quanto à sua identidade social, uma identidade
que é vital para a existência da confiança (Goffman, 1959; ibid.).
Outro motivo poderá ser o facto das mulheres e homens serem percebidos de forma
diferente quando iniciam o toque. Quando as mulheres iniciam o toque são vistas
como aumentando a intimidade, enquanto que os homens são vistos como
exercendo poder e controlo (Hall, 1984; ibid.).
Uma terceira explicação é, como Margolin (1990; ibid.) refere, os homens
geralmente serem vistos como mais ameaçadores do que as mulheres, em virtude
de, principalmente, terem mais força física. Assim, o cenário Mulher Agressora não
contém o mote da ameaça presente no cenário Homem Agressor, o qual está mais
perto do paradigma da violação comum (Semonsky e Rosenfeld, 1994).
Também ao nível do género dos indivíduos que emitem uma percepção da provável
situação de abuso se verificam diferenças: Os homens, mais do que as mulheres,
consideraram o desvio da mulher relativamente à socialização do seu papel sexual
como menos ameaçador, menos agressivo, mais elogioso do abusado, e mais
aceitável do que o desvio de um homem das suas expectativas do papel sexual
(Semonsky e Rosenfeld, 1994).
Um motivo possível para os homens avaliarem as mulheres de forma mais positiva
como agressores poderá ser, tal como Margolin (1990) defende, a existência de
uma fantasia de violação masculina. Outra explicação poderá passar pelo facto do
sexo ser central para o auto-conceito masculino (O´ Neil, 1981; cit. in Semonsky e
Rosenfeld, 1994): os homens são socializados para serem sexualmente activos e
sempre ansiosos por relações sexuais (Gagnon & Simon, 1973; ibid.), enquanto que
as mulheres são limitadoras da actividade sexual (Hatfield, 1983; ibid.). Aliás, esta
explicação é reforçada não só por os homens mostrarem maior apoio do que as
mulheres para as acções que conduzem à actividade sexual, mas também pelo
facto dos homens fornecerem menos apoio do que as mulheres para os
comportamentos sexuais limitativos (recusa explícita) (Semonsky e Rosenfeld,
1994).
Por sua vez, no estudo de Katz et al. (1996) as mulheres pareceram ser menos
tolerantes às situações de abuso ou “assédio” sexual do que os homens,
apresentando-se mais susceptíveis de interpretar interacções hipotéticas como
“assédio sexual”, sendo as avaliações dessas perseguições superiores quando o
abusador era um homem. Surpreendentemente, isto mostrou-se verdade também
quando o abusador e observador eram mulheres. A divergência de percepções
segundo a variável “interacção abusador-vítima” sugere que os homens aplicam
uma medida diferente para definir o “assédio”, dependendo de ser o homem a
importunar a mulher, ou a mulher a importunar o homem, mesmo embora o
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comportamento em questão seja o mesmo. Em contraste, as mulheres parecem ser
mais consistentes e equilibradas nas suas interpretações, independentemente do
sexo do abusador (Katz et al., 1996).
O facto de homens e mulheres não diferirem nas suas percepções quando se
tratava de uma situação hipotética de abuso masculino é uma descoberta
potencialmente importante porque contradiz os postulados de outros investigadores
que vão no sentido de que as mulheres são menos tolerantes do que os homens
acerca da perseguição sexual por homens (Charney e Russell, 1994; Jones e
Remland, 1992; cit. in Katz et al., 1996).
Em contraste, nas situações onde a mulher é a abusadora e o homem a vítima, os
sujeitos masculinos e femininos do estudo diferiram nas suas percepções.
Independentemente da situação os homens avaliaram a perseguição pelas
mulheres de forma menos negativa que as mulheres. Este dado sugere que os
homens poderão estar mais inclinados para interpretar a perseguição por mulheres
como lisonja ou sedução (Shea, 1993; ibid.). Muitos homens poderão também não
acreditar que um homem possa ser perseguido por uma mulher, ou, poderão
considerar de forma menos séria esse comportamento porque as mulheres são
normalmente consideradas como fisicamente menos poderosas. Ainda, por
oposição à publicidade que é frequentemente dada aos abusos masculinos, tem
sido feita uma menor divulgação pública dos abusadores femininos, com particular
relevo para a excepção que o livro de Michael Crichton (1992; ibid.) constituiu, e o
qual acabou por originar o filme “Disclosure” (com Michael Douglas e Demi
Moore).
Por sua vez, existem várias interpretações possíveis para as mulheres responderem
de forma semelhante em ambas as situações de perseguição masculina e feminina:
uma é a de que as mulheres poderão estar mais sensíveis aos comportamentos de
"abuso sexual" porque, historicamente, a perseguição sexual tem sido uma ofensa
cometida por homens contra mulheres (MSPB, 1988; ibid.). Neste sentido, elas
poderão ter tido um acesso mais frequente a informação sobre este tipo de abuso
sexual (ou mesmo tê-lo experienciado), ou serem capazes de se identificarem com
as potenciais vítimas independentemente do género da vítima (Charney e Russell,
1994; ibid.).
A teoria da atribuição (Kelly e Michela, 1984; ibid.) é utilizada frequentemente para
explicar estes dados. Segundo Pryor (1985; ibid.), por exemplo, ver-se (ou não)
determinado comportamento como “assédio sexual” depende da informação
contextual, das expectativas do observador e, em particular, do quanto o
comportamento é visto como excessivo para o abusador. Por exemplo, em situações
heterosociais, os homens são, mais que as mulheres, socializados para iniciar a
actividade sexual (Crooks e Baur, 1993; ibid.). São frequentemente encorajados
para serem sexualmente agressivos, para serem dominantes e fortes fisicamente.
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Como resultado, as diferenças perceptivas entre homens e mulheres poderão
reflectir um processo de atribuição causal que os homens aplicam selectivamente
aos outros homens mas não necessariamente a outras mulheres na mesma
situação.

F I M – THE END

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