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Santos da casa não fazem milagres ou...

em tempos, havia os torneios.

— Mestre, preciso falar-lhe - pediu humildemente o aprendiz, receando utilizar o


precioso tempo do seu mentor. Ele sabia que a resposta seria muito provavelmente
positiva, e a forma do pedido nada tinha de subserviência, mas revelava-se de um
profundo respeito e reconhecimento.
— Sim meu rapaz, entra! - o velho olhou-o de alto a baixo, estranhando o seu
nervosismo. - Conta! O que te traz por cá?
— Grande Mestre, estou confuso!...
— Acalma-te e... - fez uma pausa apontando para a única cadeira que havia do outro
lado da sua velha secretária repleta de livros. - Senta-te!
O rapaz respirou fundo.
— O que te confunde?
— As pessoas... - o velho olhou-o por cima dos óculos. -... as suas acções e
reacções. - Acrescentou prontamente.
— Podes dar-me mais pormenores?
— O Mestre sabe como tenho tentado esmerar-me no trabalho que me confiou...
— Sim. E a propósito, como vão as coisas na estalagem? E o teu trabalho como
preparador dos cavalos dos torneios?
— Pois... os visitantes e os donos dos cavalos parecem dar muito mais importância
aos bobos e aos saltimbancos do que àquilo que digo sobre como devem subir as
estribeiras ou, noutros casos, porque as devem trocar.
— Mas, já alguma coisa aconteceu por não seguirem o que indicavas?
— Sim... - abanou afirmativamente com a cabeça. - De certa forma. Alguns dos donos
dos cavalos trocaram de fabricante de sela. Mais propriamente para aquele
correeiro que eu tenho dito fazer as selas do melhor e mais fiável couro.
— Trocaram?!... Mas, isso é óptimo meu rapaz!
— Nem por isso. - disse, decepcionado. - Esses são aqueles que nem sequer falam
comigo e duvido mesmo que a minha mensagem lhes tenha chegado através dos seus
pajens.
O velho levantou o sobrolho à espera que o rapaz completasse.
— Eles próprios devem ter chegado a essa conclusão quando faziam torneios em
terras distantes. Aí parece que dão muito mais importância a pessoas com as minha
funções. - concluiu.
— Há aí uma diferença...
— Mas, Mestre, o que mais me magoa é ouvir alguns comentários directos ao meu
trabalho, culpando-me quando um cavalo não dá o rendimento que deveria ou morre em
plena prova... - O velho ouvia-o com atenção. - Confesso que, de tudo o que me
ensinou, a matéria sobre a qual ainda tenho alguma dificuldade é a mente... o
espírito humano.
O velho levantou-se e rodou sobre si próprio.
— Olha à tua volta! - disse, abanando com a bengala no ar. - Diz-me um único livro
daqui que não tenhas desfolhado pelo menos uma vez!... Meu jovem, sabes tanto
sobre tanta coisa e aquilo que mais te apoquenta são as opiniões dos outros. Mas
isso é bom... - Voltou-se e, apoiado na bengala, balançou o indicador em direcção
ao rapaz. - ...isso revela que te interessas, que há algo no interior de ti que
gostaria de fazer ver a essas pessoas o quão erradas estão. Oh, a justiça... a
injustiça!...
O rapaz abanou afirmativamente com a cabeça e um sorriso começou a desenhar-se no
seu rosto. O Mestre estava a perceber.
— Pois escuta o que te digo! - aproximou-se e olhou-o nos olhos. - Não é fácil!
— Será uma cruzada inglória?
— Sim, talvez. Mas, isso não quer dizer que estejas errado ao tentar. Nunca penses
que o teu esforço é em vão, só por alguns comentários ou acções menos favoráveis.
O espírito humano é demasiado complicado para concluíres que tudo tem a ver com o
teu trabalho. - Aproximou-se do rapaz, agarrou-lhe os ombros e, sem esforço,
levantou-o. - De uma coisa podes ter a certeza, por cada um que não te ouve há dez
a quererem ouvir-te.
O velho acompanhou-o à porta e acrescentou.
— Não é fácil mudar o pensamento humano do dia para a noite. Aquilo que tu sentes,
outros antes de ti também sentiram... e acredita que mais sentirão. Por uma razão
ou por outra, haverá sempre quem não compreenda o que estamos a fazer. Levar uma
sopa quente ao leito do nosso moribundo vizinho, que antes nos roubava os ovos,
pode parecer tão absurdo como profundamente generoso. Tudo isso faz parte de algo
que uns compreenderão, outros aprenderão a compreender, mas outros jamais
alcançarão. Se juntares os que compreendem aos que têm vontade de aprender, verás
que tens muita gente por quem valha a pena continuar.
O velho sorriu-lhe e o olhar do jovem brilhou. A esperança tinha voltado. A forma
estranha como algumas mentalidades faziam rimar senso comum com fundamentalismo
deveria ser confrontada em vez de ignorada. Porque isso faria parte da grande
Obra, e da diferença entre ignorância, estupidez e incompetência.

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