POESIA
DARLAN DE MATOS CUNHA
POESIA
El lent o claudic ar de horiz ontes
y su amar ga
c aída
ADA SAL AS
1.
vasca
VASCA
Sem nada
fora do real
o mundo
de anamorfoses
se atrofia mais
sem o ulo
atualiza-se o mito
único
a todos, único
mesmo os
de flor
termos assim
tão excelsos
como os ousara
de anda em anda
subir e vazar
anas e adas ?
não uma
coisa: mais
que uma
infinidade
delas
não um pré
ângulo, um presságio
não: caminho
silente
outro zen
urro abaixo
(Non una cosa. Mille cose insieme.
Non un paesaggio,
ma innumerevoli paesaggi)
encontros ferozes
o roaz querendo
dobrões de ouro
nas dobras
do rubi
hora do peixe
assar
horda assim
há muito se havia
sala de estar
que o mundo
fundo das coisas
são jeitos
o meu e o teu
e outros
cravos
vieram antes
dos espinhos,
segundo
o roseiral
a primeira menção
a nós
fê-la de um imaginário
barco
a gratuidade do marinho
vitimado depois
por cicatrizes
de jardim, cinzas
cá estás
que te pões
à mesa
frutas
retardadas
ar esporrante
fundo de algo
de páginas artísticas
encetadas
alguém se arrasta
para outros
sumos
à cor da sombra
outra inquietação
baralha
maneira indolor
de se conhecer
castiga por algo
por alguém
o braço
avesso
alheio
castiga-o do alto
do manancial
ambos ao mesmo
tempo: dois
bumbos
tombos na floresta
negra tez
verdes
sempre de viva
voz se metem
ambos
de onde se pode
ver o branco
esmalte
de uma unha
banheira
semeação
atira-se à boca
como nunca antes
a enguia
sobre o peixe
cuja parcimônia
mexe
a água o suficiente
volta para si
o quanto soa
consigo
fora de extremos
[e dentro]
que se liguem
ao não provado
por ambos
remói fatos
de que prescinde
desde ontem
holotramas
mostram
conhecida face,
não o rosto inteiro
de um
fado sequer
tu és de vir
diminuta, sei
que o quanto
a goiva recorta
e a estucha refaz
em circo e pão
ou fusão
de voçorocas
onde ambos
pequenos senhores
de sua fidalguia
prazos expiram
expiram
subir
até onde se possa
medir bem as coisas
do homem
a pauta do nexo
sombra requer:
suba
detalhes do objeto
tinha-o antes
se excluíra
do mundo, ora, só
expressões artísticas
em minha pele
ficaram
veio
com catáfase
e carfologia
veio falante
alto relevo
em suas minúcias
armoriais
no chão
a advertência faz rabiscos
em seu cabelos
vitrificados já
pela morte
do ator
um olhar sobre
a experiência ceifa
valores
tu resistes, és
de cepa
os galgos
e a mente
do enxadrista [outras
pedras cospem
a sina geral]
livre exercício
de inquietação
fá-lo tu
quando o assoreias
com os cabelos
tudo
à mostra
nesta feira suma
de amostras
situação não há
sem o troco
dos ganhos
vítima e algoz
macunaíntima de mim
a alucinação
teu, sei-o
arguindo a lenda
mete nela fogo
tira
do rescaldo
não só o monumento
ao amor
brinca de roda
com detergentes
conciliando o sono
ao amor à língua
bífida
derretendo-lhe
portos e manhas
as anteras
regozijos
a praia a nada
se liga
a praia
a nada se enforma
de todo
sempre tu
eu alguém
mordendo os pés
da praia
braços de mar nas línguas
descascadas
dos abricós
e ambos lá
os noivos
o pão em obras
conceito fálico
do talvez nem
para os temperos
necessitam
antes que o possível
entre e se estenda
pela cidade
arrumemos-lhe
sala e quarto
banho
de zéfiro
bífidas línguas
no rosto
o inferno sacerdotal
2.
areia
netas e mães
do espanto, saras
prosseguem
de pratos feitos
ao largo de sonhos
possíveis
e impossíveis
pensando talvez
se as ofensas
devem se fazer
todas de uma vez:
as do futuro e as
que pertencem já
à amnésia, pensam
filhas e noras
anfitriãs de sustos
ariel, cinzas
para ti
cômodas sessões
de pavor diante
do que não
se tem mais
de uma
vez
ariel, carrego pedras
para pô-las
no eito
a que me fazes
jus
fui, Said, álacre certeza
em tuas mengas
de sabotador
contumaz, mas fí-lo
crente
que te acenderia
no pasmo uma chama
tivesse acesso
sim, Fuad, contigo
me avim ao me despir
de tanta areia
acumulada
de páscoa: pétreos
levantei-me para longe
de ti, Zair (zaino
fostes e o serás)
apalpando-me lembranças
do rio num dia qualquer
perdição, Mustafá
agora que te ti
me fiz ao largo
tão a gosto
de quem, muslim ?
contar comigo
foi-te letal, Sharon
tu és belicoso
guerreiro sem furna
onde não tente
pôr coisas
que o nariz desconhece,
eras só
rei tribal estendido
mal saí da tua tenda, Aníbal
gritaste que eras
mais
meu, Khaled
foste tu, Aranzel
parente dos aracnídeos,
o primeiro
a pentear-me as mãos
após a arena de Alepo
a passar-me
através
do muro
de onde caí
sem me lembrar
de farturas
nem de fraturas
contigo vi primeiro
o que a luz do deserto
faz
com o gentio
faz com os eleitos
assentes em sofás
que o meu inferno acolhe
as abra
ainda nestas sandálias,
Habib,escovo o solo
dos bons
e maus momentos
logo na primeira
caravana
pediu-me subisse
com ele
dunas
após fender os pés
em lonjuras
desertas
pregações
de sabre em riste, enfim,
sempre um copo
de cólera
numa arcaica lavoura
desajustada
para os teus
acordos
de mel
e azeite
vim-me, Youssef,
perder peso
ganhar
novas atrofias
que pelo menos
respirar
minha própria
loucura
me concedam
teu peso ficou
está em mim
e nada nele
me faz roer
unhas nem cambar
o barco
mais do que deve
em tal
tempo de tempestade
no deserto
uma grávida
este deserto
esta instabilidade
é atemporal, Abu Inan
logo me livrarei
do que de ti
carreio
entre fagulhas
olhares de homens
e sultões, de cães
e corvos
mas como
se deixá-lo
já foi feito ?
laceram-me ainda
[é de se dizê-lo]
as pragas do egito
condenam-me
às baixas resoluções
o estio ancestral
entre os núbios
fartam-me de sofrer
certas notícias
de estrangeiro de alva
fronte, pêlos
que certamente
eriçarei, mal me dê
as costas o emir
entre nós habite
o poeta al-mutannabi
também aben guzman
e nazim hikmet
suas folhas
de riso e risco nos alcance
nus, dados
a todos
os tipos de
céus e infernos, sortimentos
a que Alá não terá vez
joga forte
no deserto
fama de ave
alta, rastros
mede
mesmo se a noite
existe, cala
fundo na cova
seu homem
algum nome
há de ter
martírio posto
em fio de seda
o gosto
pelo olfato
do tunisiano
tijolos falsos
abrem perspectivas de fuga
nestes longes de velha
competência
entre arado e ábaco
lembra
que um dia a camela
será arguída
mesmo aqui
me valho de entendimentos
que não são usuais
mesmo qui
assomo preferências
recolho das maõs
de outras mulheres
os fios até seus homens
unhas sobre unhas
o dedal da manhã
se esfarinha:
cunha sobre cunha
os amantes
se matam de tempo
o califa me disse
após usar e abusar
do estreito de gibraltar
disse-me o califa
estudar as curvas do universo
junto aos seus
astrônomos e astrólogos,
mas o que sabem tais
judeus
ou cristãos-novos
de curvas ?
castiga-me com expulsão
o sol se faz maior
cada dia
o vejo
menos
mas dele não
me afasto por nada
até que a silhueta amada
se perfile fora
da ilusão,
cada passo seja cruelmente
real
desqualificado animal
sobre mim pôs os pés
sem tirar
sequer
as botas: pôs no convite
a própria assinatura
falseou
na entrada ao mastigar
de leve um rumor
de vinho bom
e me adivinho
bem onde me caiba
sutaches
adegas os seios
da alta à baixa
costura nos leva
a loucura
assegura para mim
a louça de seus
antepassados
critério algum
o fará soltar-me
à lei
de inquilinatos
que por trás destas muralhas
favorece desesperados
comprarem-me
sal e cal
eu os vejo assim
e já não os tomo
meus
nada a sério
lhes aprova o tino
se um se vai
mal chegada a manhã,
o outro vem
atordoados, limpos
de sálvia e prata
deu-me duas
estrelas cadentes
o sultão
forçou-me os olhos
rumo às estrelas
o califa
e mas deu
de presente: todas
entrou comigo
no pátio
e tirou-me
estrelas
estranho jardineiro
jardim, cinzas
mais vezes lá
estivera
retirou-se
quando no brasil
talvez em goa
já era fim
o mundo
mas voltou
celebrando côncavos
vou-me contigo, disse
cinzelado idioma
condição
Ibrahim nomeia
família de areia
filhos
deu-mos depois
do árak
após a noite
perder galáxias
atenuantes
e nunca mais
achar o rumo
de casa a noite
numa curva do líbano
próxima de onde
fugiam-me as primeiras
sombras dando lugar
às melhores loucuras
eu o vi mais ancho
esmalta e cinzela
uma mulher, o desgraçado
o paxá me chama
do nada refaço-lhe
a luz de adega
frouxa mão adormece
o paxá me acha
de vez com cognição
maior do que pode
a sua chã filantropia
de dar-me o que quero
onde quero e quanto
quero, o paxá
se deita com as galinhas
e eu me vou
absorta, cálida, roendo
punhos de gatos e cães,
calando fundo
em seus decoros
um grito cediço
transfixou a manhã
duas oitavas acima
do normal
mas dentro do que ouvem
os conterrâneos
dos amantes
por trás das muralhas
coisas mesmo
de propriedade do califa
do vizir do sultão
enfim, uma ponte levadiça
o grito
o muezim se cumpre
chamando fiéis
chama-me
sob sigilo mortal
chama-me o muezim
que todos pensam
a mando de alá
e nenhuma surata
rompe lágrimas
o czar
se lhe digo
o mundo é
redondo, minto
não
o mundo se esfalfa
fora de mim o quero
mais
dentro de mim
não posso contê-lo
arranca os olhos
ao bicho singular
chegado à praia
o ciúme
és tu, Salim
dando de ombros
toda vez que o sol
pede passagem
às tempestades
de areia
assim é: antes
do amor
com os piores adjetivos
me abres o balanço
vem, Sadam
abusar de mim
cansar-se de ti
solamente
cansar-te de títulos
do títere tu
vem, Salmam
abrasar-me o mar
de antojos
sargaços e parcéis
no meu corpo
o azul-siba é coisa
pouca, vem
Amim, ser
o que nunca serás
não venho pelo que pensas
impor-me, mal desfeitas
as palavras
da chegada, Samir
ou não ?
e o teu encanto
é o meu salto, Isaac
e os teus grãos
de centeio, Judas
a mim me dão
cócegas nos ombros
de nada, Barrabás
nosso assunto maior
língua recheada
o boi põe na vaca
uma draga
flui do brahmaputra
que se atormenta
de que lhe façam
caso as cerimônias
e tantas crenças
e que adagas
lhe aviltem as curvas
como se donzela
não fosse
a prometida
de um longínquo
senhor de terras, vijay
digo-te isto e mais
vem de lá a eleita
embora não o saiba
vem comendo
o que encontra
e assim a saibas
faminta sempre
mais e mais,
mesmo que tu, marajá
ou mahatma,
lhe dê duas ou mais
mostras de amor
como este taj mahal,
lhe ponha no leito
o que deus não
concebe nem no diabo
circunlóquio
ponho nele
timbres do nunca
paletas
do nada
ínguas reais
faço dele
meu mustafá predileto
por hoje
mais dia
menos hora
mando-o de volta
não pede
passagem, vem
corrige em mim
algum estio
sol é clínico
geral
e já o vejo
pondo-me pressão
corte
sem sutura o vejo
aliviando-me
da fala
inútil paisagem
entra e cinde
vai de leve
argumento de jardim
essa casca
moa azos
de que se pôs ao largo
meu vil
senhor
entram noite adentro
o padeiro
meus temperos
o trigo
a caminho do pão
a verve da teia
em sua tez
os meios esperam
vez, Ayad
comece logo
a repartir as coisas, vender
alma
a crentes, deixar-me
a maneira indolor
de conhecer
datar maravilhas
que a parte mais
quente está
fora de onde a vemos
riscando pedras
em madalenas
marias
cara sunita
órfãos de babel
retomam membros
anteriores, coligem
marcam pulsars
os de nabucodonosor
extremam-se
os caminhos
enchendo os poros
com dialetos
vindos de antes
de babel
abrisse cavas
no jardim suspenso
da babilônia
assombro algum nestas
palavras de discórdia
quedou demarcado
pelos olhos do estranho
sabidamente
de muitos reinos
com e sem poços,
não te amoldes
a uma possibilidade
sequer, Al-Bakhatti
Massud e outros
entranham-se
curvas afegãs
e como tal me dá
rebanho e burka
e silêncio
'breve arquitetura
do choro' foi dito
a respeito da lágrima
levemente tardia
sobe num coração
ainda agreste
capaz ainda de meter
pelas mãos os pés
a oferta se mescla
à hortelã também
à ladeira íngreme
do hortelão
ainda nos vemos
por trás
de sombra em sombra
contamos
passos e tropassos
amealhamos
o nariz apronta-me
para o mar
nada o detém
rasgada a tenda
fuça o entorno todo
ele grita resenhas
antigas quanto tições
ardendo espantando
lobos do deserto
raposas do deserto
beduínos amanham
genuína lição sobressai
para me lembrar
de como se deve ser
e estar entre tais
que por nada se detêm
mesmo ávidas
mesmo grávidas
as camelas
mitridatizada
contra os teus
parcos filamentos
de oração
avanço
cobra
em punho: imunizada
dias consagrados
ao que pensávamos fosse
realidade construída
para dois, valentim, talvez
o seja, menos para nós, nosso
quarto de âmbar
deve esperar
cola-se a mim
um visitante
espera-me
atiçar-lhe o caminho
natural
3.
tantos
uma vez cumpridos
ao cerne
embora diminuídos
pela metade
sabedores
foi outro o que rendeu
disfarce de segunda voz
fazendo-se alto
veredicto, foi outro
que não este
que não fala senão por
ângulos tardios, ainda agora
grava absurdos
que o carcereiro cobrará
limo na placa
parece que o que
aqui havia
não há mais
não diria em vão
o que se fez
de tantos caminhos
se disse bastante
desde que a água
cobrou a primeira passagem
raspa o fundo
dá no coração
com inaudita
maldita vontade
que baque é este
rendendo disfarces
se cada um fica cego
sem se dizer velho
para gerir assombros
ao retecer histórias
de chuvas e pássaros
sem calendário ?
prega na aderência
possível no homem
uma duas três
dá-lhe de quatro
a cinco tempos
para que se cumpra
como tal e lhe dá
voz de cego, ícone
o nome do cão
cuidado
em placa
retido a um zênite
e dois quasars
do aeroposto
o pomo adâmico
gesta conversas
que nunca, pertos,
tiveram
soezes, homens
se falam e sorriem
postas de peixe
a garota ferve
come salada bebe
pelo meio o que deveria
ser sobremesa
a restinga apalpa
a cega entoando reptos
o arbítrio está sempre
armando e vendendo
fados onde não são bem
vindos de jeito algum
essa fruta fica sem boca
essa boca se sacrifica
sozinha
algum fastio à frente
há de se medir
ao proposto, mas
se deve tomar cuidado
com os nomes usados
e os que se usa
após o fastio comer
orlas e fundos
que a partir de tanto
tudo reste simples
quase simples
a partir do fundo
também pelas costas
tudo reste simples
e suba e sopre
até e além de onde
se possa achar
quem descreia de algo
realmente irreal, duplo
dispendeu himalaias
para chegar ao martírio
e todos os meus brincos
a tão loucas alturas
lhe pareceram irreais
e não menos intocados
pareceram-lhe todos
os meus pedregulhos
lenta e harmoniosamente
calcados em seus pulsos
e impulsos de quem
vira enfim o que o mar
não pode
falou de alfarrábios
línguas usadas
para fins
urgentes
qual molinetes
em busca de peixes
aves pepitas
falo de mim
que me sei
no meu nu elemento
mandei-o ir-se
mal a condição se fez
parco sol
enviei-o no lombo
do que não se olvida
mesmo se catatônico
dorme ao lado a astúcia
da sínfise, mímica e esteios
se acomodam nos ombros
possíveis, dormem
caçoando de si
retalhando o sono entre
o cortador de unhas e o zelo
do tempo nos azulejos
dorme seu varejo o silêncio
mais próximo a ti, ao nada
de uma devolução
a que o deserto
pusesse asas estamos, El-Allawi
que de nós já nos cansáramos
o bastante para cortamos
o pescoço
de nova rês, sacarmos
das pupilas outra moringa
de vinho, nova cabaça
onde junto às azeitonas fluíssem
flores sírias e espinhos
de além-fronteiras quaisquer
que o passado é coxo
mas anda por si