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SEMINÁRIO ADVENTISTA LATINO AMERICANO DE TEOLOGIA

O ARREPENDIMENTO DIVINO EM GÊNESIS 6:6.

CACHOEIRA – BA
2009

1
WEVERTON DE PAULA CASTRO

O ARREPENDIMENTO DIVINO EM GÊNESIS 6:6.

Exegese apresentada ao Seminário


Adventista Latino-americano de Teologia
como requisito obrigatório para obtenção
de nota na disciplina de Pentateuco

Orientador Específico: Dr. Joaquim Azevedo

CACHOEIRA – BA

2
2009
SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 4

2- CONTEXTO HISTÓRICO, POLÍTICO, CULTURAL ............................................. 6


3- PERÍCOPE .................................................................................................................. 7
4- ANÁLISE DAS VERSÕES ........................................................................................ 8
5- CONTEXTO LITERÁRIO ........................................................................................ 10
6- ANÁLISE TEXTUAL ............................................................................................... 11
6.1- PALAVRA CHAVE .............................................................................................. 11
6.2- ANÁLISE GRAMATICAL ................................................................................... 11
6.3 – LINGUAGEM ANTROPOMÓRFICA ............................................................... 12
6.4 – O USO DE SHUV E NAHAM ........................................................................... 13
7- COMPREENSÃO DA PASSAGEM ........................................................................ 16
8- CONCLUSÃO .......................................................................................................... 18
REFERÊNCIA .............................................................................................................. 19

1- INTRODUÇÃO

Nesta pesquisa estudaremos o texto de Gênesis 6:6 abordando o arrependimento divino


no contexto da sociedade antediluviana.
A primeira parte do verso, na qual focalizaremos nosso estudo, nas principais versões na
língua portuguesa é traduzida como: “se arrependeu o SENHOR de ter feito o homem na
terra”12. Nesta afirmativa encontra-se a problemática de nosso texto pois, a mesma conflita-se
com outras porções da bíblia, nas quais encontramos relatos de que “Deus não é homem, para
que minta; nem filho de homem, para que se arrependa.” (Números 23:19), e que “também a
1
As citações bíblicas feitas neste trabalho serão baseadas na ARA, as que não o forem serão especificadas em
nota de rodapé.
2
As principais traduções analisadas em português foram: ACF (Portuguesa Corrigida Fiel, 1753/1995); ARA
(Almeida Revista e Atualizada, 1993); ARC (Almeida Revista Corrigida, 1969); BRP (Bíblia Almeida
Portuguesa, 1969); SBP (Tradução da Moderna Linguagem, 2005).

3
Glória de Israel não mente, nem se arrepende, porquanto não é homem, para que se
arrependa.” (I Samuel 15:29), “O SENHOR jurou e não se arrependerá.” (Salmos 110:4), ou
partes em que o próprio Deus afirma a respeito de si mesmo que “Meus olhos não vêem em
mim arrependimento algum.” (Oséias 13:14) e “resolvi e não me arrependo, nem me
retrato.” (Jeremias 4:28), “e não me arrependi…” (Zacarias 8:14).
Temos então diante de nós uma aparente incoerência entre os textos bíblicos, surgindo
consequentemente o questionamento: Deus se arrepende?
Se a resposta à pergunta for não, teremos uma afirmativa aparentemente contrária à
passagem de Gênesis 6 e outros versos que declaram que “se arrependeu o SENHOR do mal
que dissera havia de fazer ao povo” (Êxodo 32:14), “arrependo-me de haver constituído
Saul rei... e o SENHOR se arrependeu de haver posto a Saul rei sobre Israel.” (I Samuel
15:11, 35), “o SENHOR se arrependeu daquele mal” (II Samuel 24:16), “olhou, e se
arrependeu daquele mal” (I Crônicas 21:15), “se arrependeu do mal que falara contra eles”
(Jeremias 26:19, “ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em
benignidade, e se arrepende do mal. Quem sabe se não se voltará e se arrependerá...” (Joel
2:13, 14), “Então o SENHOR se arrependeu disso.” (Amós 7:3, 6), “Quem sabe se se voltará
Deus, e se arrependerá” (Jonas 3:9), “e arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria, e
não o fez.” (Jonas 3:10), contrária também ao que o próprio Deus afirma acerca de si em
quando declara que “estou arrependido do mal que vos tenho feito.” (Jeremias 42:10), “não
tornarei atrás e não pouparei, nem me arrependerei” (Ezequiel 24:14).
Se, porém, a réplica à pergunta for sim, igualmente encontraremos textos que contrariam
esta afirmação como alguns já citados anteriormente e contrariaremos o conceito de um Deus
onisciente. Em síntese, temos diante de nós um paradoxo que se não solucionado apoiará a
idéia que a Bíblia contradiz-se em suas próprias afirmações, não sendo digna de total
confiança.
Crendo na harmonia dos textos sagrados, estudaremos detalhadamente o significado do
arrependimento divino em Gênesis 6.

4
2- CONTEXTO HISTÓRICO, POLÍTICO, CULTURAL

O capítulo 6 de Gênesis narra a multiplicação da população do planeta com proporcional


aumento do pecado, o desagrado de Deus com o homem, Noé encontrando graça aos olhos
divino, sua missão para construir a arca, as especificações de Deus a respeito da arca e a
terminação da construção da mesma.
A narrativa do aumento da raça humana sobre a terra, não representa em primeiro plano
o erro da sociedade antediluviana, pois a habitação do planeta fazia parte do plano original de
Deus (Gn 1:28). A problemática do capítulo seis começa a manifestar-se no verso 2 , o qual
declara que, “vendo os filhos de Deus”, descendente de Sete3, “que as filhas dos homens”,
descendentes de Caim, “eram formosas, tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais

3
MESQUITA, Antonio Neves de. Estudo no livro de Genesis . 5. ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1983. pg. 114.

5
lhes agradaram”. A raça humana aumentou rapidamente não só em maldade senão também
em quantidade.4 Tal corrupção foi tão degradante que Ellen White descreve o cenário deste
período com palavras severas:

“Deus outorgara a esses antediluvianos muitas e ricas dádivas; mas usaram a Sua
generosidade para se glorificarem, fixando suas afeições nos dons em vez de no Doador.
Procuravam tão-somente satisfazer os desejos de seu orgulhoso coração, e folgavam em
cenas de prazer e impiedade... vieram a negar a Sua existência... Adoravam a natureza...
Glorificavam o gênio humano... construíram os altares de seus ídolos.... e todos os
pecados imagináveis foram o resultado. A impiedade do homem era franca e ousada, a
justiça pisada no pó, e os clamores dos opressos chegava até o Céu.... A poligamia fora
logo introduzida,... o crime e a miséria aumentaram rapidamente. Nem a relação do
casamento nem os direitos de propriedade eram respeitados. Quem quer que cobiçasse as
mulheres ou as posses de seu próximo, tomava-as pela força, e os homens exultavam com
suas ações de violência. Deleitavam-se na destruição da vida de animais; e o uso da
carne como alimento tornava-os ainda mais cruéis e sanguinolentos, até que vieram a
considerar a vida humana com espantosa indiferença. O mundo estava em sua infância;
todavia a iniqüidade se tornara tão aprofundada e esparsa que Deus não mais a podia
suportar.”5

Contemplando este quadro da sociedade Deus declara: “meu Espírito não agirá para
sempre no homem” (verso 3), pois este, “era continuamente mau todo desígnio do seu
coração.” Ou seja, os antediluvianos recusaram a atuação do Espírito Santo que os convencia
do pecado, da justiça e do juízo. Como conseqüência,

“Deus Se cansou dessa gente cujos pensamentos eram só de prazer e satisfação própria.
Não buscavam o conselho do Deus que os criara, nem se importavam de fazer Sua
vontade. A repreensão de Deus estava sobre eles por seguirem continuamente a
imaginação de seus corações; e havia violência na Terra.”6

Então, diante dessa situação chegamos ao verso 6, o qual descreve o sentimento divino
ante o quadro que o pecado havia pintado na figura da humanidade, criada “a imagem de
Deus” (Gn 1:27) para ser felizes e perfeita. “Deus viu a maldade do homem como aquele que
4
COMENTARIO biblico adventista del septimo dia: la santa biblia con material exegetico y expositorio. Francis
D Nichol, Victor E. Ampuero Matta, Nancy W. de Vyhmeister. California: Pacific Press Publishing Association,
1981.
5
WHITE, Ellen G. Patriarcas e Profetas . 3.ed. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1966. pg. 91, 92.
6
WHITE, Ellen G. Mensagens escolhidas 2 . São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1967. pg 151.

6
está ferido e abusada por ela. Viu-a como um pai vê a insensatez e obstinação de uma
criança rebelde e desobediente, sentimento que o fez desejar não ter tido filhos.”7

3- PERÍCOPE

Para compreensão do versículo em análise, delimitaremos nosso estudo a partir do


capítulo 5 verso 28 até o capítulo 6 verso 6. Tal perícope iniciará com o nascimento de Noé e
sua missão descrita por seu pai Lameque, e terminará com a descrição do sentimento de Deus
pelo que se havia tornado a humanidade.

4- ANÁLISE DAS VERSÕES

Nas principais versões na língua portuguesa (ARA, ACF, ARC, BRP, SBP)
encontramos a primeira parte do verso de maneira semelhante “Então arrependeu-se o
SENHOR de haver feito o homem sobre a terra” a segunda parte geralmente declara que este
sentimento “pesou-lhe em seu coração”, variando na versão SBP, a qual traduz a segunda
parte como “e ficou muito triste.” Portanto em português não encontramos nenhuma
mudança significativa.
Em inglês portanto temos uma variedade maior de traduções para este verso, ao total
encontramos cinco versões para a primeira parte do verso:

a- Arrepender-se de algo = (WEB , KJV, JPS, GNV, KJG, ERV , RWB , DRA, ASV,
DBY, YLT)
“And it repented Jehovah that he had made man on the earth”
7
HENRY, Matthew: Comentario De La Biblia Matthew Henry En Un Tomo. Miami : Editorial Unilit, 2003.

7
b- Ficar triste = (RSV , NRS , NTL, NKJ , NAU, NAS, ESV, GWN)
“And the LORD was sorry that he had made man on the earth”

c- Ter tristeza = (BBE)


“And the Lord had sorrow because he had made man on the earth.”

d- Lamentar = (CJB, NJB, NAB , TNK, NET , CSB)


“ADONAI regretted that he had made humankind on the earth”

e- Ficar Aflito = (NIV, NIB)


“The LORD was grieved that he had made man on the earth”

Para a segunda parte do verso em inglês, temos também cinco traduções principais:

a- Ficar aflito = (NJB, NAB RSV , WEB , DBY, RWB , NRS , NKJ , NAU, NAS,
KJG, KJV, JPS CSB, EVS, VER, DRA, YLT, BBE)
“it grieved his heart.”

b- Encher-se de dor = (NIB)


“and his heart was filled with pain.”

c- Ser ofendido= (NET)


“and he was highly offended.”

d- Ficar triste= (GNV, TNK)


“and he was sorrie in his heart.”

e- Ficar com o coração quebrado= (GWN, NTL)


“It broke his heart.”

Analisando todas as versões acima, percebemos que embora sejam empregadas diversas
traduções, a idéia que prevalece na maioria é de que o verso está falando de uma mudança de
sentimentos, como se houvesse uma frustração, da parte de Deus em relação ao homem.

8
Se entendermos como se as duas partes do verso funcionam como paralelo, veremos que
a idéia central do texto é expressar uma tristeza profunda ocasionada em Deus pela
humanidade.

5- CONTEXTO LITERÁRIO

Para ampliarmos a compreensão do capítulo seis de Gênesis é necessário voltarmos até


o capítulo 5 e estudarmos o nascimento do homem que fará toda a diferença neste período da
humanidade.

“Lameque viveu cento e oitenta e dois anos e gerou um filho; pôs-lhe o nome de Noé,
dizendo: Este nos consolará...” (Gen 5:28-29).

O contexto em que Nóe nasce (capítulo 5) está inserido na sociedade corrupta que será
destruída pelo dilúvio (capítulo seis). Seu pai, Lameque, parece decepcionado com esta
situação do povo e espera em Nóe uma solução para o problema. Este sentimento de Lameque
é expresso pelo significado de “consolador” que ele dá ao nome de seu filho Noé.

9
No antigo testamento o nome era muito importante pois o mesmo representava o caráter
e a missão de seu portador. Na história do patriarca Jacó temos um exemplo da importância
do nome para uma pessoa.
Jacó significa enganador. Este nome com o seu significado acompanharam por longos
anos o caráter de seu portador. Ele enganou seu irmão e seu pai para conseguir o direito a
primogenitura (Gênesis 27), depois de casado engana se sogro (Gênesis 31). Quando então,
cansado de tantas decisões erradas, em meio a uma intensa luta, Jacó, no vale do Jaboque,
clama pela benção divina. Deus então muda o rumo de sua vida. E com a mudança de caráter
mudou-se também seu nome. (Gênesis 32:22-28). “Ele segurou firme o anjo, até obter a
bênção que desejava e a certeza do perdão de seus pecados. Seu nome foi então mudado de
Jacó, o enganador, para Israel, que significa príncipe de Deus.”8
O significado do nome de Noé quando analisado revela grande relevância, pois o
mesmo o acompanha na missão que ele tem em sua vida. Lameque escolhe o nome de Noé
vinculado à missão de “consolar”. Porém diante deste nome surgem dois questionamentos:
consolar quem de que? Estas duas perguntas se fazem importantes para a compreensão do
texto em análise.

6- ANÁLISE TEXTUAL

6.1- PALAVRA CHAVE.

Na bíblia hebraica9 temos o verso 6 do capítulo 6 de Gênesis escrito da seguinte forma:

ABli-la, bCe[;t.YIw: #r<a'B' ~d"a'h'-ta, hf'['-yKi


hw"hy> ~x,N"YIw:
Deste verso vamos destacar a primeira palavra (~x,N"Y), a qual se torna a chave
para o entendimento do mesmo.

6.2- ANÁLISE GRAMATICAL.

8
WHITE, Ellen G. História da redenção . 2. ed. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1973. pg. 95.
9
ELLIGER, K; RUDOLPH, W. Biblia hebraica stuttgartensia . 4. ed. Alle Rechte Vorbehalten: [s.n.], 1990.

10
~x,N"Y – esta palavra é um verbo, (~xn) naham, que se encontra no Nif’al
imperfeito da 3º pessoa masculina do singular, tendo as seguintes possibilidades de tradução:

“Mudança de sentimento ou atitude, em relação a uma ação ou atitude: arrepender-se,


doer-se, compungir-se, deplorar, lamentar, sentir pesar, consolar-se, aliviar-se, acalmar-
se, aplacar-se; compadecer-se, condoer-se, apiedar-se, sentir pena, compaixão,
piedade.”10

Sua força principal sempre está ligada a uma mudança de sentimento. Este fato pode ser
comprovado quando analisamos todas as ocorrências em que aparece o verbo naham no
Antigo Testamento, classificando-o em três grupos de palavras principais pelas quais o verbo
é traduzido para o português em suas principais versões:

CONSOLAR ARREPENDER COMPADECER


Gen. 5:29, 24:67; Gen. 6:6; 6:7; Dt. 32:36;
27:42; 37:35; 38:12; 50:21; Ex. 13:17; 32:12; Jz. 2:18; 21:6, 15;
Rt. 2:13; 32:14; I Sm. 15:11;
II Sm. 10:2, 3; 12:24; Nm. 23:19; Sl. 90:13; 106:45;
13:39; Dt. 32:36; 135:14;
I Cr. 7:22; 19:2, 3; Jz. 2:18; 21:6,15; Jr 15:6; 20:16;
Jó 2:11; 7:13; 16:2; I Sm. 15 :11, 29, 35; Ez 24:14;
21:34; 29:25; 42:11; II Sm. 24:16; Os 13:14;
Sl. 23:4; 69:20; 71:21; I Cr. 21:15;
77:2; 86:17; 119:52, 76, 82; Jó 42:6;
Ec. 4:1; Sl. 106:45; 110:4;
Is. *1:24; 12:1; 22:4; 135:14;
40:1; 49:13; 51:3, 12, 19; Jr. 4:28; 8:5; 15:6;
52:9; 54:11; *57:6; 61:2; 18:8, 10; 20:16; 26:3, 13, 19;
66:13; 31:19; 42:10;
Jr 16:7; 31:13, 15; Ez 24:14;
Lm. 1:2, 9, 16, 17, 21; Os 13:14;
2:13; Jl 2:13, 14;
Ez 5:13; 14:22, 23; Am 7:3, 6;

10
SCHOKEL, Luiz Alonso. Dicionário bíblico hebraico-português. São Paulo: Paulaus, 1997. pág. 429.

11
16:54; 31:16; 32:31; Jn 3:9; 3:10; 4:2;
Na 3:7; Zc 8:14;
Zc 1:17; 10:2.
*A razão porque alguns versos aparecem em mais de uma coluna, são as suas diferentes traduções em outras
versões.

Estes três grupos, reforçam a idéia de que o verbo naham representa em sua maioria,
uma mudança de sentimento. De alguém que estava feliz, e por algum motivo se torna triste.
Esta mudança de sentimento atribuída à Deus, é o recurso da linguagem antropomórfica
utilizada vastamente em toda a bíblia.

6.3 – LINGUAGEM ANTROPOMÓRFICA.

O Dicionário Aurélio define Antropomorfismo como “Tendência para atribuir, ou a


forma de pensamento que atribui formas ou características humanas a Deus, deuses, ou
quaisquer outros entes naturais ou sobrenaturais.”
Este conceito se faz importante pois verbo naham em Gênesis 6:6 é um exemplo do uso
antropomórfico na bíblia. O verbo é a representação em linguagem humana do sentimento
divino ante as escolhas erradas feitas pela humanidade. O Novo Comentário da Bíblia declara
que “falar de Deus como capaz de arrependimento e de experimentar tristeza é,
admitidamente, o uso de linguagem antropomórfica, mas tal linguagem, a despeito disso, em
realidade fala de uma real experiência da parte de Deus.” Ainda o autor enfatiza que “o
Deus revelado nas Escrituras é capaz de sentir tristeza e de ser entristecido. Ele tem reações
reais para com a conduta humana.”
Esta mesma idéia é apresentada por HOFE, em seu livro O Pentateuco:

“Arrependeu-se o SENHOR”. Não se arrependeu no sentido de mudar suas atitudes


básicas, porém sentia tristeza ao ver o pecado... Amiúde a bíblia atribui a Deus traços
humanos: olhos, ouvidos, mãos, ou atividades humanas. A isto se dá o nome de
antropomorfismo. Não quer dizer que seja corpóreo; antes, a linguagem se acomoda ao
entendimento humano.11

Portanto, entender Gênesis 6:6 como um Deus que fica triste (naham), é apenas
identificar a linguagem antropomórfica utilizada pela bíblia para traduzir o infinito, Deus,
para seres finitos, o homem. Esta expressão "é simplesmente uma indicação, em linguagem

11
HOFE, Paul. O pentateuco. 9º ed. São Paulo: Editora Vida, 1999. pág. 98.

12
humana, de que a atitude de Deus para com o homem ao pecar é necessariamente diferente
da atitude de Deus para com o homem ao obedecer.”12
Quando o autor de Gênesis afirma que “Deus se arrependeu”, segundo KISSLING,
“esta afirmação é encarada como antropomorfismo, ou seja, falando de Deus como se fosse
uma pessoa humana, para que ela O compreenda melhor. Tal linguagem é necessária para
nós, porém não representa perfeitamente à Deus, pois Ele “não experimenta emoções da
13
perspectiva do nosso fluxo limitado e imperfeito de emoções humanas” , então “o
arrependimento de Deus é uma expressão antropomórfica para a dor do amor divino”
(Calvino).14
Portanto, “o arrependimento que aqui é atribuído á Deus, não devidamente pertence a
Ele, mas se torna importante para a nossa compreensão dele.” O antropomorfismo se torna
importante entre a relação homem e Deus já que “não podemos compreender-lhe como Ele é,
é necessário que, para nós que Ele, num certo sentido transforme-se.”15
.
6.4 – O USO DE SHUV E NAHAM.

Se Deus é Onipotente, como pode então arrepender-se de algo? Entender Gênesis 6:6
como Deus voltando atrás é violar a idéia de um Deus que sabe de tudo desde o começo?
Diante destas questões é importante analisarmos duas palavras existentes no vocabulário
hebraico para expressar a idéia de arrependimento. Naham, como já analisamos, geralmente é
usada para atribuir ações divinas, em sua maioria para expressar mudança de sentimento em
relação à algo. Shuv é o verbo sempre usado para expressar ações humanas e nunca é usado
para Deus, analisaremos o mesmo abaixo.

bwv (shuv) –“voltar, tornar-se, regressar, reverter, retroceder, converter-se, voltar


atrás,...”.16
A idéia principal deste verbo é o arrependimento no sentido de alguém que fez ou está
fazendo algo errado, voltar atrás. Esta idéia é apresentada em II Reis 17:13 quando “O
SENHOR advertiu a Israel e a Judá por intermédio de todos os profetas e de todos os

12
DAVIDSON, F. (Ed.) et al. O novo comentário da bíblia . São Paulo: Vida Nova, 1995. Pág. 24.
13
KISSLING, Paul J. Genesis. Joplin, Mo. : College Press Pub. Co., 2004 (The College Press NIV
Commentary), S. 270
14
KEIL, Carl Friedrich ; DELITZSCH, Franz: Commentary on the Old Testament. Peabody, MA :
Hendrickson, 2002, S. 1:88
15
CALVIN, John. Calvin's Commentaries: Genesis. electronic ed. (Logos Library System; Calvin's
Commentaries), S. Gn 6:6
16
DICIONÁRIO hebraico-português & aramaico-português . Nelson Kirst. São Leopoldo; Petrópolis: Sinodal:
Vozes, 1988.

13
videntes, dizendo: Voltai-vos(shuv) dos vossos maus caminhos...”. O povo estava seguindo
por um caminho errado então necessitava voltar para o que era correto.
Ainda em II Reis vemos a mesma ocorrência no capítulo 23 verso 25: Antes dele
(Josias), não houve rei que lhe fosse semelhante, que se convertesse(Shuv) ao SENHOR de
todo o seu coração...”
Esta mesma abstração é encontrada em outros textos: II Cr 6:26; 7:14; 15:4; 30:6; Ne
1:9; Sl 78:34; Is 19:22; 55:7; Jr 3:12, 14, 22; 18:8; Ez 18:21; 33:11, 14; Dn 9:13; Os 14:1, 2;
Jl 2:13; Jn 3:10; Zc 1:3,4; Ml 3:7.
A LXX traduz shuv como ( epistrefwn), “voltar para trás.” Naham é traduzido por (
metamelomai), “mudança de mente, arrepender”.17
A idéia de alguém “voltar atrás” é expressar pelo verbo Shuv, que sempre é atribuída a
seres humanos. Naham, porém, é usado a Deus para representar antropomorficamente a
mudança de sentimento divino em relação a algo ou alguém.
Portanto, precisamos aceitar que “é impossível conceber o Deus onisciente a lamentar-
18
se por algum falso movimento por ele feito.” Gênesis 6:6 não é contrário a esta idéia. Deus
sabia do dilúvio antes de criar o ser humano, mas por causa do livre arbítrio dado aos homens
Ele não os restringiu de suas escolhas. Porém quando o momento do homem tomar a decisão
errada chegou, o Senhor não (Shuv) volta atrás em seu caminho, Ele é Onisciente, mas Deus
(Naham) se entristece pela decisão que seus filhos escolhem.

O Comentário Bíblico Adventista explica que:

“A força das palavras "se arrependeu (Naham) Jehová", pode deduzir-se da declaração
explicativa "lhe doeu em seu coração". Isto mostra que o arrependimento de Deus não
pressupõe falta de conhecimento prévio de sua parte nem variabilidade em sua natureza
ou propósito. Neste sentido Deus nunca se arrepende de nada (1 Sam. 15: 29). O
"arrependimento" de Deus é uma expressão que se refere à dor do amor divino
ocasionado pela pecaminosidade do homem. Apresenta a verdade de que Deus, em
consonância com sua imutabilidade, muda de posição em respeito ao homem que
mudou.”

17
BUTTRICK, George Artur. The interpreter’s dictionary of the bible. Vl. 4. Nashville, New York: Abingdon
Press 1957. pg. 33
18
DAVIDSON, F. (Ed.) et al. O novo comentário da bíblia . São Paulo: Vida Nova, 1995. pg. 24, 25.

14
7- COMPREENSÃO DA PASSAGEM

Gênesis 6:6, no qual declara que o homem era “continuamente mau”, é um contraste
com o capítulo 1:31 do mesmo livro, no qual encontramos a declaração, após o término da
criação do planeta, de que “tudo era bom”. Esta dualidade nos leva a imaginar a resposta de
Deus que “é amor” ao ver um quadro tão distante de Seu plano original. Tal reação é descrita
pelo verbo hebraico naham encontrado no verso seis do capítulo seis.
“Deus se arrependeu (naham)”, o verbo naham, neste contexto de decepção, quer
ressaltar um sentimento de tristeza da parte de Deus pelo que se tornou sua criação. “A
corrupção e violência dos homens doeram a Deus e lhe pesava havê-los criado.” 19

19
DAVIDSON, F. (Ed.) et al. O novo comentário da bíblia . São Paulo: Vida Nova, 1995. pág. 37.

15
Não podemos esperar outra atitude de Deus, a não ser o sentimento inverso manifestado
na criação. Se quando tudo era perfeito Deus ficou feliz, quando então tudo estava mau, Ele se
entristeceu (naham), por ter feito o homem.
Este entristecimento não deve ser entendido como se a ação divina ao ter criado o ser
humano fosse algo errado e isso levasse Deus a se arrepender do que fez. O verbo naham é
uma linguagem antropomórfica para descrever o Criador triste pelo caminho que sua criação
escolheu.
Se entendermos o capítulo seis de gênesis nesta perspectiva, veremos a beleza da missão
de Noé.
Seu pai, Lameque, afirma que Noé viria “consolar” (Gen 29). O verbo no hebraico
usado para consolar é naham. Esta é a primeira vez que aparece este verbo na bíblia. A
segunda vez em que naham é usado é em Gênesis 6:6, para expressar a tristeza de Deus pelo
que se tornou a humanidade.
Assim, como afirma SAILHAMER20 Gênesis 6:6 e 5:29 fazem parte de um paralelo. O
primeiro mostra o profundo entristecimento de Deus (naham), e o segundo mostra a resposta
para o sofrimento divino, Noé, que vem com o propósito de consolar (naham).

“O sofrimento e a dor do pecado humano não era uma coisa que somente os seres
humanos sentiam. Deus mesmo sofria com o pecado do homem... Noé trouxe
conforto não somente para a humanidade, em sua dor, mas também para Deus.”21

Descrevendo esta dor MOODY, declara que,

“Naham na forma nifal descreve o amor de Deus, que sofreu desapontamento de fazer
partir o coração. Literalmente, fala de suspirar devido à dor profunda... Deus
experimentou tristeza que Lhe feriu o coração quando olhou para a trágica devastação
que o pecado produzira. A obra de Suas mãos fora distorcida e arruinada.” 22

20
SAILHAMER, John H. The pentateuch as narrative. Michigan: Zondervan Publishing House, 1992. pág.
124.
21
Idem
22
PFEIFFER, Charles F; HARRISON, Everett Falconer; KRIEVIN, Yolanda M. Comentario biblico Moody .
São Paulo: Impr. Batista Regular, 1993-1995. Pág. 30

16
8- CONCLUSÃO.

Pelo estudo do contexto de Gênesis 6, no qual descreve a degeneração da raça humana


antediluviana, entendemos que a melhor compreensão para o verso 6 é de que “Deus se
entristeceu” e não que “... se arrependeu”. Pois a idéia de que Deus que se entristece
harmoniza-se com o contexto tanto do dilúvio quanto do nascimento de Noé que, segundo o
sentido de seu nome, tem a missão de “consolar” (Gen 5:28-29) a humanidade e Deus.
O conceito de Deus se arrependendo em Gênesis 6, além de contrastar-se com outros
textos da bíblia, contraria a onisciência de Deus e o contexto em que o texto está inserido.
"Arrependido", não sugere que Deus mudou sua mente, porque Ele é imutável [Mal.
3:6]. Pelo contrário, isso significa que Deus estava “triste.” 23

23
WALVOORD, John F. ; ZUCK, Roy B. ; Dallas Theological Seminary: The Bible Knowledge
Commentary : An Exposition of the Scriptures. Wheaton, IL : Victor Books, 1983-c1985, S. 1:37

17
Ao invés de um Deus tirano, que se “arrepende” de ter criado seres tão desobedientes, a
mensagem do capítulo seis de Gênesis, é a de um Pai que está com o coração profundamente
triste, pois seus filhos escolheram o caminho da morte, mas ao mesmo tempo apresenta um
Deus que é consolado quando encontra um homem como Noé, “homem justo e íntegro entre
os seus contemporâneos.” (Gen 6:9).

“A menção da dor divina ante o estado depravado do homem é uma indicação


comovedora de que Deus não odiou ao homem. A humanidade pecadora enche o coração
divino com profunda dor e compaixão. Desperta todo o insondável oceano de simpatia
em favor dos pecadores de que é capaz o amor infinito.” 24

REFERÊNCIA

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24
COMENTARIO biblico adventista del septimo dia: la santa biblia con material exegetico y expositorio.
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18
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