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CONSENSO SOCIAL SOBRE O MÓRBIDO

Nós somos os heróis de nossa própria existência. Lembramos diariamente o que somos
para honrar a simples felicidade de tentar ser ó que um dia já fomos. Nossos filhos perderam
as referências do pai como herói. Devido à nossa própria omissão, o herói dos brasileirinhos é
construído num estúdio de cinema estrangeiro, veste capacete e roupa colorida e se comporta
como um ciber-otário, fala só asneiras e, no final do espetáculo, os adultos e crianças são
condicionados a bater palmas de pé. E a bizarra estética dó consenso social sobre o mórbido.
Os ciber-otários têm espaço em horário nobre infantil na televisão e, enquanto geram
empregos fora do Brasil e enriquecem cineastas inescrupulosos, empobrecem culturalmente
nossas crianças com enredos babacas e sem sentido, reforçando as cores do rótulo terceiro-
mundista que nos forçam a engolir diariamente. Os mitos televisivos ganharam um terreno
que antes era dos pais. As crianças são criadas pela televisão. A babá tecnológica os deixa
plugados em tudo o que eles, os ciber-heróis, têm para vender. Nós éramos heróis fantásticos
e gratuitos. Hoje as crianças nos acham babacas e sem graça nenhuma.
A lógica da adoração alienígena é a mesma nas tribos indígenas. Nos deram espelhos
e, nos espelhos, vimos o retraio de um mundo doente. Nas periferias das grandes cidades, a
mesma coisa. O Estado, o super-herói do cidadão contribuinte, omitiu-se na prática de seus
deveres mais básicos: saúde, educação, segurança. Inverteu-se a lógica. Prefere-se a proteção
dos bandidos, invés da polícia. Você pára o seu automóvel na rua e logo aparece uma meia
dúzia de dezenove pessoas pedindo para cuidar. Se você parar umas dez vezes, eleve as
gorjetas ao nível da progressão geométrica e acabará chegando à conclusão de que olhar
carros será sua nova profissão. Mas o quê fazer com os pais de família desempregados que
estão no meio do bolo da mendicância social? Nos semáforos, se você pára, é assaltado, perde
a vida, se você não o respeita, o Estado lhe presenteia uma multa que o faz se matar de
trabalhar para pagar. Pela lógica do consenso mórbido a solução é simples. Já que o Estado
não nos salva mais mesmo, acabaremos ficando amigos dos bandidos, aceitando um assalto
aqui, um seqüestro ali, uma violência acolá e, quando avistarmos algum delinqüente pela rua,
nós acabaremos lhe pedindo um autógrafo.
Parece que o capitalismo está mesmo dando certo. Todos nós compramos do Estado,
com os impostos, uma mercadoria com defeito – o bem-estar coletivo -, e não temos pra quem
reclamar. Enquanto reclamamos uma solução temos de tentar nos manter vivos, e isso implica
certa conivência e aceitação do caos. Lembramos da caixa de Pandora. Nessa caixa, reza a
lenda mitológica, estavam guardados todos os males do mundo por ocasião de sua criação.
Acidentalmente ela foi aberta e os males escaparam. A tampa foi fechada subitamente, a
tempo de restar dentro apenas um item: a esperança.
A nossa consciência migrou do estado encantatório da admiração do pai-herói para a
admiração do ciber-otário. Agora percebemos a migração da admiração ingênua do ciber-
otário para a malandragem assustadora que personifica o bicho papão nas ruas das cidades.
Logo, ficamos com a impressão de que o homem finalmente conseguiu retirar o último
elemento restante da caixa de Pandora.

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