6 Tópicos em Debate
O Conhecimento do Estudante e do Pesquisador Brasileiro sobre a
Legislação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN.
Mendes, F. R.; Duarte-Almeida, J. M.; Mattos, P. E. O.; Pires, J. M.; Carlini, E. A.
18 Artigo Original
Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil: 40 anos de História.
Alves, L. F.
37 Artigo Original
Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia.
Boorhem, R. L.; Lage, E. B.
56 Artigo Original
Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais
da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações
Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos.
Cardoso, C. M. Z.; Silva, C. P.; Yamagami, K.; Lopes, R. P.; Santos, F.;
Bonassi, I.; Jesuíno, I.; Geres, F.; Martorie Jr., T.; Graça, M.; Kaneko, B.;
Pavani, E.; Inowe, C.
70 Artigo Original
Novo Paradigma Produtivo: Utilização Racional dos Recursos
Naturais para Obtenção de Fitoterápicos.
Oliveira, M. B. S. C.; Frutuoso, V. S.
81 Artigo Original
Atividades Antimicrobiana e Antioxidante da Própolis
do Estado do Ceará.
Gutierrez-Gonçalves, M. E. J.; Marcucci, M. C.
87 Estado da Arte
Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase Reversa do Vírus HIV.
Gonçalves, R. S. B.; Barreto, M. B.; Gomes, C. R. B.; Souza, M. V. N.
6 Debate
The Knowledge of Brazilian Students and Researchers About the
Legislation of Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN-
Mendes, F. R.; Duarte-Almeida, J. M.; Mattos, P. E. O.; Pires, J. M.; Carlini, E. A.
18 Original Article
The Symposium on Brazilian Medicinal Plants: 40 years of History.
Alves, L. F.
37 Original Article
Herbal Drugs and Extracts Used in Phytoterapy.
Boorhem, R. L.; Lage, E. B.
56 Original Article
Elaboration of a Primer for all Health Professionals,
Containing Information on Interaction Between Drugs
and Phytoterapics.
Cardoso, C. M. Z.; Silva, C. P.; Yamagami, K.; Lopes, R. P.; Santos, F.;
Bonassi, I.; Jesuíno, I.; Geres, F.; Martorie Jr., T.; Graça, M.; Kaneko, B.;
Pavani, E.; Inowe, C.
70 Original Article
New Productive Paradigm: The Rational Use of Natural Resourc-
es in Order to Obtain Phytotherapics.
Oliveira, M. B. S. C.; Frutuoso, V. S.
81 Original Article
Antimicrobial and Antioxidant Activities of Própolis
from Ceará State.
Gutierrez-Gonçalves, M. E. J.; Marcucci, M. C.
O Conhecimento do Estudante e do
Pesquisador Bras��������������������������
ileiro sobre a Legislação
do Conselho de Gestão do Patrimônio
Genético – CGEN
* Correspondência: Abstract
E-mail: carlini@psicobio.epm.br
The Convention on Biological Diversity established that each coun-
Unitermos: try should create laws and mechanisms to preserve its biodiversi-
CGEN; Conhecimento Tradicional, ty, as well as regulate the access to it and the sharing of benefits
MP 2.186, Legislação de that result from its industrial exploration. The MP 2.186 established
Fitoterápicos, Patrimônio Genético, norms for the access to the genetic resources and the associa-
Pesquisa da Biodiversidade. ted traditional knowledge. However, this law had high fees to the
scientific community due to the large number of bureaucratic requi-
Key Words: rements to pass projects in the Conselho de Gestão do Patrimônio
CGEN, Traditional knowledge, MP Genético - CGEN (Council of Management of Genetic Resources).
2186, Legislation on Phytotherapics, The objective of the present work was to evaluate, among the au-
Genetic Resources, Biodiversity thors of posters presented in the XX Symposium of Brazilian Medi-
Research. cinal Plants, the level of knowledge they have regarding legislation.
We also aimed at assessing how many of those conservação de sua biodiversidade, bem como
works were submitted to the CGEN, and whether regular sobre seu acesso e repartição de benefí-
they were approved. Out of the 449 authors who cios advindos de sua exploração industrial (LAIRD,
answered the questionnaire, the great majority 2002; VAN OVERWALLE, 2005; FERRO, 2006). A
(84%) had worked with native plants. Half of the proposta da CDB era diminuir a exploração preda-
works (50%) involved access to traditional know- tória das riquezas naturais, especialmente nos pa-
ledge, and the plants were obtained by collection íses megadiversos, estimulando o uso sustentável
in 68% of the studies. On the other hand, only 9.6% da biodiversidade, com benefícios diretos para as
of the works had been authorized by the CGEN, comunidades tradicionais.
and 5.1% were waiting for authorization. Among
the graduate students, 54.7% declared not even No Brasil, a proteção legal pertinente ao patrimônio
knowing the CGEN (a number that dropped to genético já constava no artigo 225 da constituição
27.3% among post graduates and to 13.1% among de 1988, no entanto restava fazer uma lei definindo
the researchers). This survey corroborates the tho- regras para instrumentar a proteção, a fiscalização
rough lack of knowledge the scientific community e o uso da biodiversidade no país. Esta regulamen-
has on the Brazilian legislation regarding the ac- tação foi primeiramente realizada por medida provi-
cess to genetic resources and traditional knowled- sória (MP 2.052 de 29/06/2000) após a celeuma
ge, mainly among graduate students. ocasionada por políticos e ambientalistas por causa
das cláusulas do contrato firmado entre uma empre-
sa farmacêutica estrangeira com uma associação
Introdução local para fins de bioprospecção (BENTES, 2006).
Em 2001 o Brasil editou uma nova medida provisória
O Brasil é um dos países com maior biodiversidade (MP 2.186 de 23 de agosto de 2001) estabelecendo
no mundo, possuindo pelo menos 5 grandes biomas normas para o acesso ao patrimônio genético e ao
definidos que, somados à sua diversidade cultural, conhecimento tradicional associado, e criando o Con-
contribuem com um enorme potencial para a des- selho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN)
coberta de novos medicamentos de origem natural como órgão encarregado de análise das solicitações
(CARLINI et al., 2007). Ainda hoje, cerca de ¼ dos de acesso. Esta MP foi elaborada basicamente no
medicamentos modernos são desenvolvidos a partir âmbito restrito do Ministério do Meio Ambiente
de plantas (LIU; WANG, 2008); um mercado de mais (MMA), sem contar praticamente com a participa-
de 60 bilhões de dólares ao ano, com taxa de cres- ção dos setores acadêmico e produtivo. O resultado
cimento de 5 a 15% (KARTAL, 2007). Cerca de 80% desta ausência de diálogo foi uma legislação extre-
da população dos países em desenvolvimento recor- mamente restritiva e impositiva; contendo normas
re ao uso de plantas medicinais para o tratamento praticamente impossíveis de serem seguidas.
de problemas primários de saúde, muitos possuindo
apenas esta alternativa (VIGO, 2008). Diante des- A MP 2.186 prevê que todo acesso a componente do
te quadro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) patrimônio genético nacional ou conhecimento tradi-
reconhece o uso de plantas medicinais como prática cional associado para fins de pesquisa científica, bio-
complementar ou alternativa nos cuidados básicos prospecção e desenvolvimento tecnológico, deverá
de saúde e tenta incentivar políticas para regulação ser previamente encaminhado ao CGEN para obten-
e registro de plantas medicinais assegurando a qua- ção de autorização (uma norma geral posteriormen-
lidade destes produtos (WHO, 1998). Uma recente te flexibilizado por resoluções internas do CGEN).
valorização das plantas medicinais tem sido obser- A MP 2.186 e as resoluções posteriormente publi-
vada em todo o mundo seja o vegetal in natura, na cadas pelo CGEN tentam definir os critérios para
forma de fitoterápicos tradicionais, ou como matéria classificação de cada tipo de acesso, assim como os
prima e protótipo para o desenvolvimento de novas trâmites para solicitação de licença; contudo o gran-
drogas. A Comunidade Européia é exemplo disto, de problema persiste no excesso de exigências para
com uma política que procura simplificar o registro aprovação dos pedidos. Azevedo (2005) e Ferro et al.
de produtos tradicionais, dentro das garantias de (2006) destacam que entre as principais críticas da
eficácia e segurança (SILANO et al., 2004). comunidade científica sobre a MP 2.186 estão:
A Convenção sobre a Biodiversidade Biológica • o período para análise dos projetos, que pode
(CDB) prevê que os seus países signatários de- ser demasiadamente longo, com idas e vindas
vem elaborar normas e leis como mecanismos de até que todas as exigências sejam cumpridas,
o que termina por inviabilizar a realização de so pelo qual ocorre apropriação do conhecimento
teses e projetos com cronogramas definidos; tradicional pela comunidade médico-científica e in-
• a definição precisa de alguns termos, como dustrial. Classicamente, o conhecimento tradicional
acesso ao patrimônio genético e bioprospec- tem sido investigado e traduzido para a linguagem
ção, entre outros; científica, sendo revalidado para obtenção de legi-
• a necessidade de indicar antecipadamente o timidade. Em seguida, o conhecimento tradicional
local de coleta, o que nem sempre é possível passa a ser marginalizado, transmitindo-se a idéia
prever, já que isto leva ao encarecimento da de que o produto industrial é puro, seguro, validado,
pesquisa, pela necessidade de idas adicionais enquanto a preparação popular é impura, insegura e
ao campo (para certificar-se da existência da ineficaz. Esse embate – conhecimento acadêmico x
planta); conhecimento popular – é conhecido pela sigla DIA,
• a necessidade de anuência prévia do titular onde: D – Desqualificação do uso popular (“coisa de
da área de coleta, dado a dificuldade tanto em ignorante”); I – Ilegalização (torna ilegal o exercício
definir o local como seu titular e comprovação da medicina popular); e finalmente A – Apropriação
de posse (muitas vezes a autorização é verbal, do conhecimento popular, isolando e agora comer-
dada por voto de confiança); cializando um princípio ativo.
• a exigência de depósito de amostra em insti-
tuição fiel depositária, embora muitas institui- Como se pode observar, a necessidade de políticas
ções não estejam preparadas para exercer esta de valorização e proteção ao conhecimento tradi-
função, e muitas vezes sequer demonstrem cional é inquestionável. A questão que deve ser
qualquer interesse em receber este material; colocada é: como chegar a este objetivo sem pre-
• o contrato de repartição de benefícios com judicar a pesquisa científica? Está claro para toda a
o proprietário ou detentor do conhecimento academia, e mesmo para o governo, que os meca-
tradicional. Este é ponto crítico, pois embora nismos de proteção do conhecimento tradicional e
a comunidade científica reconheça a importân- de repartição de benefícios previstos na MP 2.186
cia de garantir benefícios para as comunidades são ineficientes e equivocados. O fato é que a MP,
tradicionais, raramente a pesquisa reverterá ao exigir autorização de acesso e contrato de re-
em benefícios financeiros; além disso, há um partição de benefícios para a pesquisa acadêmica,
desconhecimento da comunidade científica so- ainda que o potencial econômico seja uma possi-
bre os moldes de um contrato de repartição de bilidade remota, age como entrave e desestímulo
benefícios; este mais um ônus burocrático ao para o estudo da nossa biodiversidade. Tanto isso
pesquisador, pois demanda tempo e recursos é verdade, que novas resoluções têm sido publica-
para tal. das seguidamente, no sentido de flexibilizar e des-
burocratizar as exigências para coleta de material
Quanto a este último ponto, pode-se ainda acres- biológico, especialmente nos casos onde não existe
centar como um evidente obstáculo a dificuldade acesso ao conhecimento tradicional. Portanto, a re-
que muitas vezes existe para definir o detentor do gulamentação dos estudos envolvendo acesso ao
conhecimento tradicional, já que este conhecimento conhecimento tradicional continua sendo o ponto
muitas vezes tem um caráter difuso. Mesmo quando crítico. Questões como o indivíduo ou a comunida-
uma pesquisa etnofarmacológica aponta uma comu- de detentora de um conhecimento tradicional, ou
nidade tradicional como detentora de um conheci- quem deveria ser o favorecido de eventuais bene-
mento ainda não publicado (por exemplo, o uso de fícios advindos de exploração econômica, têm sido
um chá de uma determinada planta para uma enfer- amplamente debatidos sem que se observem opi-
midade), não se pode descartar que outros povos niões consensuais para estes pontos. A carência de
não pesquisados façam o mesmo uso, sendo, por- modelos adequados ou mesmo suporte legal para
tanto, co-detentores tradicionais nos direitos de re- contrato de repartição de benefícios e pagamento
partição de benefícios. Um dos grandes obstáculos de royalties para comunidades tradicionais, espe-
para a legitimação destes direitos é que o conheci- cialmente indígenas, são outros pontos cruciais a
mento tradicional, diferentemente do conhecimento serem considerados. Há inclusive uma corrente,
científico, é transmitido verbalmente de geração em apoiada por boa parte da comunidade científica,
geração, não existindo, portanto prova documental que é favorável ao pagamento de royalties, quando
que ateste sua propriedade intelectual, como fazem cabível, a um “fundo administrado pelo governo” e
a comunidade científica e o setor industrial. Vascon- que seria especificamente utilizado para projetos
celos et al. (2002) discutem que este é o proces- de valorização e preservação do conhecimento tra-
dicional, investimento em educação, saúde e me- com dois ou mais trabalhos sendo apresentados re-
lhorias da condição de vida destas comunidades. ceberam um questionário por painel, desde que es-
tivessem presentes no local. Os questionários foram
À parte de toda esta discussão conceitual, o Brasil recolhidos depois de 10-30 minutos e foram separa-
possui corpo científico e competência para estu- dos de acordo com o setor onde foi feita a pesquisa,
dar sua biodiversidade, faltando, entretanto apoio correspondendo aos setores do XX SPMB: 1. Agro-
e “know-how” para o desenvolvimento de produtos nomia; 2. Botânica / Etnobotânica; 3. Etnofarmaco-
(CALIXTO, 2005; VIGO, 2008). As políticas públicas logia; 4. Saúde Pública; 5. Química de Produtos Na-
brasileiras são contraditórias, pois ao mesmo tempo turais; 6. Farmacologia / Toxicologia; 7. Tecnologia
em que se desenvolvem programas de incentivo ao Farmacêutica; 8. Registro, Legislação e Patentes.
uso e pesquisa de plantas medicinais, como a Polí- Não houve separação por dia de apresentação.
tica Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos
(PNPMF), o mesmo governo que a instituiu amor- Tabulação dos resultados
daça a própria pesquisa neste campo utilizando a
ferramenta da MP 2.186. Criada para tentar coibir Os dados obtidos nos questionários foram tabula-
a biopirataria no país, esta MP acabou por trans- dos e analisados no programa Microsoft® Excel, uti-
formar o cientista brasileiro em biopirata, uma vez lizando-se códigos numéricos para cada resposta.
que sua extrema burocracia tem levado os pesqui- Questionários com rasuras e aqueles cuja questão
sadores a trabalhar na clandestinidade. A legislação número 4 estava em branco foram eliminados (ao
brasileira deveria ter postura justamente contrária, todo 12 questionários), já que o principal objetivo
incentivando e valorizando a pesquisa de sua bio- da pesquisa era avaliar a resposta dos participantes
diversidade, como procura fazer o PNPMF, pois é a esta questão (autorização do CGEN). Ao final da
sabido que só se pode proteger o que se conhece. tabulação, foram contados os números de respostas
de cada alternativa e em seguida cruzados os dados
Infelizmente, o que tem sido notado nos congres- das principais questões. Os dados foram expressos
sos, palestras e cursos na área de plantas medici- em números absolutos ou porcentagem de resposta,
nais, é que poucos estudantes, e mesmo pesqui- dentro de cada categoria.
sadores, possuem conhecimento suficiente sobre a
legislação em vigor e suas exigências para o es- Limitações da pesquisa
tudo de plantas medicinais e conhecimentos tradi-
cionais. O objetivo deste trabalho foi avaliar, entre Os questionários foram distribuídos durante as ses-
os participantes que apresentaram seus trabalhos sões de painéis do XX SPMB e recolhidos até o fim
em painéis (pôsteres), no XX Simpósio de Plantas da sessão. Devido à curta duração destas sessões
Medicinais do Brasil, realizado em 2008, o grau de frente ao volume de trabalhos apresentados, não foi
conhecimento sobre o CGEN e a legislação vigen- possível aplicar os questionários individualmente e
te; pela medida inicial de quantos destes trabalhos tampouco responder as dúvidas dos participantes.
foram submetidos ao CGEN e se obtiveram ou não Por se tratar de questionários de autopreenchimen-
autorização para pesquisa. to, é possível que alguns participantes não tenham
entendido algumas questões ou as tenham interpre-
tado erroneamente. Ainda assim, espera-se que o
Material e Métodos resultado da pesquisa reflita, de maneira geral, o
grau de conhecimento da população estudada quan-
Aplicação dos questionários to ao CGEN, servindo de amostragem quanto aos
pedidos solicitados e aprovados naquele órgão.
Foram entregues questionários impressos com per-
guntas de múltipla escolha (Quadro 1) aos autores
de painéis presentes no local de exposição do tra- Resultados e Discussão
balho, durante a sessão de painéis do XX Simpósio
de Plantas Medicinais do Brasil (SPMB), nos dias Foram entregues 449 questionários, sendo 192 res-
17, 18 e 19 de setembro de 2008. A pesquisa foi pondidos por graduandos, 183 por pós-graduandos,
realizada apenas com congressistas brasileiros. Os 61 por pesquisadores ou profissionais e 13 por parti-
autores recebiam os questionários com a instrução cipantes que se declararam como “outra categoria”
de responder anonimamente às perguntas, em rela- ou não responderam a questão. Do total de partici-
ção ao trabalho que estavam apresentando. Autores pantes, aproximadamente 80 % se declararam vin-
culados a instituições públicas e 20% a instituições (84%) trabalhou com planta nativa, e metade dos
privadas. Estes números, embora surpreendentes trabalhos envolveu acesso ao conhecimento tradi-
pelo grande número de graduandos, refletem a parti- cional (50%); porcentagem que foi maior no setor
cipação da comunidade científica nos congressos da de Etnofarmacologia (75%), e menor no setor de
área básica, onde há um nítido predomínio de estu- Agronomia (35%). A forma predominante de obten-
dantes (graduação e pós-graduação), especialmen- ção das plantas (entre todos os setores) foi por co-
te aqueles ligados a instituições públicas de ensino. leta (68%), número que sobe para 81% no setor de
Dado o seu caráter multidisciplinar, o tema “plantas Química de Produtos Naturais. A segunda principal
medicinais” costuma ser abordado nos programas forma de obtenção entre os trabalhos dos setores
de pós-graduação das áreas de botânica, química, de agronomia, botânica e química foi por cultivo, en-
farmacologia, entre outras. quanto no setor de farmacologia recorreu-se ao co-
mércio. Cinco entrevistados do setor de etnofarma-
A Tabela 1 traz um apanhado geral dos principais re- cologia (21%) responderam “não se aplica” à forma
sultados obtidos, separados de acordo com o setor de obtenção do material botânico, provavelmente
do Simpósio. A tabela mostra os setores com maior porque estes trabalhos não envolveram coleta.
número de questionários respondidos, forma de ob-
tenção do material botânico para os estudos, se uti- A Figura 1 mostra a relação entre o total de traba-
lizou planta nativa brasileira e se houve acesso ao lhos apresentados no SPMB e a obtenção ou não de
conhecimento tradicional. Houve maior número de autorização do CGEN. Pode-se observar que ape-
questionários respondidos nos setores de Química nas 9,6% dos trabalhos apresentados no SPMB pos-
de Produtos Naturais e Farmacologia / Toxicologia, suem autorização do CGEN, enquanto 5,1% aguar-
justamente por serem os dois maiores setores do dam resposta à solicitação, ou seja, apenas 14,7%
SPMB. Do total de participantes pesquisados (úl- estão em situação legal. Ao se excluir da pesquisa os
tima linha da tabela), a grande maioria dos autores trabalhos cujos autores declararam que seu trabalho
Setor e número Houve acesso Estudo com planta Forma de obtenção do material botânico:
de questionários ao conhecimento nativa?
tradicional?
Agronomia (51) 18 (35%) 33 (65%) 38 (75%) 13 (25%) 34 (69%) 10 (20%) 4 (8%) 1 (3%)
Etnofarmacologia (24) 18 (75%) 6 (25%) 18 (75%) 6 (25%) 17 (71%) 1 (4%) 1 (4%) 5 (21%)
Química de produtos 68 (53%) 59 (47%) 114 (91%) 12 (9%) 102 (81%) 19 (15%) 4 (3%) 1 (1%)
naturais (127)
Farmacologia / 79 (47%) 90 (53%) 142 (84%) 27 (16%) 104 (63%) 17 (10%) 39 (24%) 5 (3%)
Toxicologia (169)
Total (inclui setores 224 (50%) 225 (50%) 377 (84%) 71 (16%) 297 (67%) 58 (13%) 65 (15%) 20 (5%)
não mostrados)1
1
Demais setores não mostrados: Saúde pública (12 questionários); Tecnologia Farmacêutica (18 questionários); Registro, Legislação e
Patentes (3 questionários). O total inclui também 11 questionários onde o setor não foi especificado. Porcentagens (arredondamento)
calculadas considerando cada questão do questionário (ver Quadro 1), descontadas as respostas em branco de cada questão.
não envolvia o estudo de planta brasileira observam- Estes resultados mostram que apesar da MP 2.186
se números semelhantes, com apenas 16,2% de tra- ter sido criada em 2001, regulamentando as normas
balhos com autorização ou aguardando autorização de acesso ao patrimônio genético e conhecimento
do CGEN, segundo informação dos autores (dado tradicional, ela continua desconhecida por boa parte
não mostrado). No outro extremo, 36,8% dos parti- da comunidade científica envolvida com a pesquisa
cipantes desconhecem o CGEN ou nem sabem do de plantas medicinais. Mais gritante é o fato de que
que se trata o assunto (Figura 1). Quando a cate- mesmo entre os que conhecem a legislação, o nú-
goria do entrevistado é levada em consideração (Ta- mero de trabalhos apresentados sem autorização do
bela 2), observa-se que o desconhecimento sobre a CGEN é enorme. Foram considerados nesta catego-
legislação e o CGEN é maior entre os graduandos e ria os trabalhos cujos autores responderam a alter-
pós-graduandos (54,7% e 27,3%, respectivamente; nativa 3 da questão 4 da pesquisa (não obteve li-
contra 13,1% entre os pesquisadores). Entretanto, cença ou não submeteu o projeto), já que as alterna-
o número de autores que conhece o órgão e não so- tivas 4 e 5 deveriam ser respondidas por quem não
licitou autorização possui freqüência inversa: 55,7% conhecesse a legislação do CGEN ou cuja questão
(pesquisadores / profissionais), 48,1% (pós-gradu- não se aplicasse ao seu trabalho (ver Quadro 1).
andos) e 21,9% (graduandos).
1) O trabalho que você está apresentando envolveu acesso ao conhecimento tradicional (pesquisa
com população tradicional)
- SIM - NÃO
- SIM - NÃO
4) Você obteve autorização do CGEN (Conselho de Gestão do Patrimônio Genético) para acesso ao
patrimônio genético (planta coletada) ou ao conhecimento tradicional referentes ao trabalho que está
apresentando no Simpósio?
- graduando - Pública
- pós-graduando - Privada
- pesquisador / profissional
-outro
Oficialmente, os trabalhos com plantas brasileiras ou Tabela 3 mostra que mesmo entre os trabalhos apre-
conhecimento tradicional sem autorização do CGEN sentados no setor de Etnofarmacologia, que propor-
(cerca de 77% do total) estão sendo conduzidos na cionalmente são os que mais envolveram o acesso
ilegalidade, conforme protesta a comunidade cien- ao conhecimento tradicional, o número de autores
tífica desde a criação da MP 2.186 (RODRIGUES; que declarou não conhecer o CGEN é bastante ele-
CARLINI, 2005; MENDES et al., 2007). A ilegalida- vado (41,7%). Agronomia foi o setor com a maior
de dos trabalhos e o desconhecimento sobre a exis- proporção de trabalhos com autorização do CGEN:
tência do CGEN e da legislação de acesso ao recur- 15,7%. Uma possível explicação é que neste setor
so genético mantém-se elevada, independente do muitos trabalhos são realizados em fazendas expe-
setor do SPMB onde o trabalho foi apresentado. A rimentais, sem a necessidade de coleta de campo
Tabela 3 – Solicitações de licenças ao CGEN, de acordo com o setor onde o trabalho foi apresenta-
do no XX SPMB. Os valores representam o número de trabalhos com as respectivas porcentagens
entre parênteses.
Setor do Simpósio1
Licença do CGEN
Agr Bot Etn SP QPN Far TF
Obteve 8 3 3 1 17 9 0
(15,7%) (8,8%) (12,5%) (8,3%) (13,4%) (5,3%) (0,0%)
Obteve 31 9 1 1
(10,4%) (15,5%) (1,5%) (5,6%)
Total 297 58 65
18
Dois entrevistados responderam não saber a origem do material estudado e nove não assinalaram nenhu-
ma alternativa nesta questão.
para os trabalhos que acessaram conhecimento ficiente em atingir seus objetivos, já que uma gran-
tradicional (Tabela 5), quando comparados aos tra- de parcela da comunidade científica envolvida com
balhos que não acessaram conhecimento tradicio- a pesquisa de plantas medicinais desconhece sua
nal (11,6% contra 7,6%, respectivamente). Mesmo existência, e mesmo entre os que a conhecem, ape-
assim a proporção de trabalhos sem autorização do nas uma fração tem submetido seus projetos para
CGEN ou cujos autores desconhecem o órgão se aprovação pelo CGEN. Fica evidente, portanto, que
mantém semelhantes. Os resultados desta pesqui- o caminho escolhido pelo governo não tem sido o
sa mostram que a atual legislação brasileira é ine- mais adequado.
Tabela 5 – Solicitações de licenças ao CGEN, entre os trabalhos que envolveram ou não o acesso
ao conhecimento tradicional.
*
Alves, L. F. Resumo
Abstract
Therapeutic value of Brazilian medicinal plants has been discussed in
many international and national congresses. Among them, The Brazil-
ian Symposium of Medicinal Plants deserves special attention. In the
last 40 years they have consolidated of the most important scientific
national meeting in this area. The goal of this article is to trace a little
of its history, through an analysis of the abstract on the subjects, pub-
lished thereafter.
Introdução
Para o cientista atuando em qualquer aspecto da pesquisa com plantas
medicinais, a oportunidade mais adequada para a troca de informações
é durante a realização dos Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil
(SPMB). A sua história já foi tema de uma tese de doutorado, na qual
FERNANDES (2004) analisou detalhadamente cada um dos Simpósios
realizados no período 1967-2002, avaliando o número de comunicações
em cada encontro, as instituições presentes em cada um deles e pro-
duzindo uma série de entrevistas com 17 pesquisadores atuantes na
área de plantas medicinais. Mais recentemente, Carlini e Siani (2007)
relembraram o primeiro desses Simpósios. Assim, abordo algumas
*Correspondência: questões não levantadas naquele minucioso trabalho, como a presença
E-mail: grande.timoneiro@terra.com.br das instituições estrangeiras, as atividades terapêuticas das plantas
estudadas, e a questão da colaboração entre os pesquisadores das
Unitermos: diferentes áreas que fazem parte do estudo das plantas medicinais.
Plantas Medicinais Brasileiras,
História. O 1º SPMB ocorreu em 1967, na Faculdade de Ciências Médicas da
Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Organizado pelos profes-
Key Words: sores J. R. Magalhães, E. A. Carlini e A. Kraemer, o Simpósio reuniu
Brazilian Medicinal Plants, History. 103 pesquisadores, dos quais 12 apresentaram trabalhos nas áreas de
18 Revista
Revista
Fitos
Fitos Vol.3 Vol.4
Nº02 Nº01
junhomarço
2007 2009
Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais
Artigo Original/Original Article da Área da Saúde,
Simpósios Contendo
de Plantas Informações
Medicinais sobre
do Brasil: Interações
40 anos de História
Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos
farmacologia, fitoquímica e botânica. Esses 12 pro- medicinais], um dos únicos talvez capaz de apre-
fissionais representavam oito instituições: a Escola sentar para a Indústria Brasileira conseqüências de
Paulista de Medicina, o Instituto Biológico, o Insti- monta, mesmo a curto prazo’ (MAGALHÃES et al.,
tuto de Botânica e o Instituo Butantã, no estado de 1968, p. 7). Este ponto foi ressaltado por vários dos
São Paulo, o Jardim Botânico, o Centro (atual Nú- palestrantes. Por exemplo, no discurso de abertura
cleo) de Pesquisas de Produtos Naturais da UFRJ o professor Moussatché, do Instituto Oswaldo Cruz
e o Departamento de Química da UFRRJ, no Rio disse (MOUSSATCHÉ, 1968, p. 9):
de Janeiro e o Departamento de Química Orgânica
e Inorgânica da UFCE. Apesar de ter contado com “Temos uma flora tão vasta que o que resta ainda
apenas 7 trabalhos, 3 em farmacologia, 2 em botâ- por fazer é quase tudo. Desse modo, é bastante
nica, 1 em fitoquímica e 1 misto (fitoquimica e far- oportuna a idéia de promover essa reunião, com
macologia), esse primeiro encontro foi o ponto de o fim de coordenar os diversos núcleos já existen-
partida para outros que vêm ocorrendo a cada dois tes e trabalhando isoladamente. Sabemos muito
anos em diferentes cidades do Brasil. bem das dificuldades existentes para promover
algum estudo coordenado, multidisciplinar. O ob-
Em alguns casos, a palavra ‘palestra’ talvez seja jetivo principal desse Simpósio é exatamente o
mais adequada do que ‘trabalho’ para explicar o levantamento dessas dificuldades”
que houve naquela reunião histórica, há quarenta
anos, pois quatro deles estavam relacionados com Para o professor Gottlieb. ‘nós os químicos orgâni-
os problemas enfrentados pelos pesquisadores de cos vivemos sós dentro do nosso campo, enquanto
cada uma das áreas presentes. Assim, o professor o farmacológo não sai do dele. Nós não sabemos o
Carlos Rizzini, do Jardim Botânico do Rio de Janei- que o farmacólogo faz e publica, e o farmacólogo
ro, e Luiz Fernando Labouriau, do Instituto de Bo- não sabe o que nós fazemos. Essa situação, é claro,
tânica de São Paulo, falaram, separadamente, so- precisa mudar e já está mudando’. Entretanto, ele
bre as dificuldades do ponto de vista da botânica. continua afirmando: ‘É minha opinião que a diferen-
O primeiro se manifestou sobre a importância da ça de mentalidade entre o farmacólogo e o químico
identificação do material vegetal e sobre a ‘falta de hoje, ainda é profunda demais para que uma medi-
interesse da juventude para esse trabalho’ (RIZZI- da oficial possa resultar em uma colaboração eficaz’
NI, 1968), enquanto que o segundo expôs a ques- (GOTTLIEB, 1968, p. 19). Para ele, os esforços in-
tão da cultura de plantas de interesse farmacológico dividuais deveriam ser tentados em primeiro lugar;
(LABOURIAU, 1968). O professor Otto Gottlieb, pois em seguida, viria o apoio oficial. O professor
do Instituto de Química da USP discursou sobre os Ribeiro do Vale referiu-se à qualidade dois traba-
problemas da química como a manutenção, a ope- lhos desenvolvidos pelos fitoquímicos, mas ‘a parte
ração e a manutenção do equipamento necessário farmacológica é, ou falha, ou deficiente, ou mesmo
para o isolamento e a identificação das substâncias inexistente’. E conclui: ‘tem que haver uma relação
químicas de origem vegetal (GOTTLIEB, 1968). Os mais estreita entre o químico e o farmacologista, se
problemas enfrentados pelos farmacólogos foram possível até next-door’ (RIBEIRO DO VALE, 1968,
apresentados pelo professor José Ribeiro do Vale, p. 38; grifo no original). Os participantes do Simpó-
do Departamento de Farmacologia da Escola Paulis- sio adotaram as seguintes recomendações:
ta de Medicina (RIBEIRO DO VALE, 1968). Em sua
palestra, ele lembrou do tempo em que trabalhava 1. Publicação dos trabalhos do Simpósio.
no Instituto Butantã (em 1936), que era, nas suas 2. Envio de sugestões e/ou planejamento para
palavras: ‘um laboratório de química e farmacologia pesquisas específicas em Produtos Naturais de
que causaria inveja mesmo aos pesquisadores de Interesse Farmacológico para a Comissão de
1967’. Esse laboratório, entretanto, foi desmante- Estudo de Produtos Naturais do CNPq e da FA-
lado ‘e transformado em laboratório de química do PESP.
tempo de Lavoisier’ (RIBEIRO DO VALE, 1968, p. 3. Levantamento das linhas de trabalho e das
37). Finalmente, o professor Raymond Zelnick, da possibilidades imediatas de cooperação dos vá-
Seção de Química do Instituto Butantã, proferiu rios laboratórios, em equipamentos e pessoal.
uma palestra sobre as plantas utilizadas na medicina 4. Divulgação deste cadastro ainda em 1967.
e nos rituais pelos índios da Amazônia (ZELNICK, 5. Envio, pelos pesquisadores, à Comissão de
1968). O objetivo principal do Simpósio era ‘estabe- Estudo de Produtos Naturais do CNPq, de to-
lecer um real espírito de colaboração entre os vários dos os resultados de trabalhos, passados e
pesquisadores, nesse campo de pesquisa [plantas futuros, que a Comissão deverá divulgar perio-
‘o termo planta medicinal é um tanto vago, porque Michler, João Batista de Lacerda, Rodolpho Albino,
potencialmente toda planta pode ser usada em me- Adolpho Ducke, Carlos Hoehne João Geraldo Kuhl-
dicina’. Deste modo, os seus objetivos eram naquele man, além, é claro, da importância do Instituto de
momento ‘inicialmente e acima de tudo a formação Química Agrícola para o desenvolvimento da fitoquí-
de pesquisadores em química orgânica’. Entretanto, mica no Brasil (MORS, 1970b). Pela primeira vez,
logo em seguida ele conclui: ‘nenhum dos nossos houve a participação de instituições estrangeiras;
objetivos pode ser considerado secundário’ (ALVES, fato que viria a se repetir ao longo dos anos.
1970, p. 30). Inexplicavelmente, não foi feito qualquer
comentário a essas declarações. O tema da coope- O IV Simpósio, organizado por Carlini e Ribeiro do
ração entre os cientistas foi novamente abordado, Vale, voltou a ser realizado em São Paulo, em 1972,
na longa conferência proferida por Luiz Gouveia La- e a partir daí a cada dois anos. Dos 29 trabalhos
bouriau. Segundo ele, ‘há pouca cooperação porque apresentados, 14 se referiam à química, botânica
há pouca gente’. Este fato levava as seguintes con- e farmacologia da Cannabis sativa. Como parte da
seqüências: a) muitos trabalhos de fitoquímica e de Mesa Redonda sobre Drogas Alucinógenas de Ori-
farmacologia não são reproduzidos por falta de apoio gem Vegetal, parte integrante do encontro, o pro-
botânico sólido; b) muitos trabalhos de botânica não fessor Richard Evans Schultes, do Jardim Botânico
alcançam maior precisão por falta de apoio da quími- de Kew, apresentou uma longa palestra sobre dro-
ca; c) muitos trabalhos de farmacologia com plantas gas alucinógenas da América Tropical (SCHULTES,
medicinais não são realizados por falta da droga em 1973), enquanto o professor Ribeiro do Vale rela-
quantidades suficientes (LABOURIAU, 1970, p. 49). tou a excursão farmacológica ao Parque Nacional
Ainda durante esse II encontro, na Discussão Final, do Xingu, realizada no ano anterior (RIBEIRO DO
Bernardo Guertzenstein propôs a instituição de um VALE, 1972). O Simpósio seguinte só se realizou
prêmio (na época no valor de NCr$ 10.000,00) para seis anos após, em 1978, e, mais uma vez, São Pau-
o melhor trabalho de fitoterapia. Foram feitas várias lo foi a sede do encontro. Ao final foram aprovadas
sugestões sobre a maneira de escolha do vencedor, as seguintes propostas (DISCUSSÃO DAS RECO-
mas o assunto não foi adiante. MENDAÇÕES, 1978):
O III Simpósio teve lugar na Academia Brasileira 1. a concretização efetiva e prioritária do Projeto
de Ciências, no Rio de Janeiro em 1969, como um FLORA do CNPq, inclusive com levantamento
apêndice ao Simpósio sobre Produtos Naturais da de linhas de trabalho e possibilidades imediatas
América Tropical. O Simpósio foi dividido em quatro de cooperação entre vários centros de pesqui-
seções: fitoquímica, química de animais invertebra- sas nacionais;
dos, farmacologia de produtos naturais e plantas 2. a realização, a cada dois anos, de simpósio
medicinais com 26, 9, 12 e novamente 12 trabalhos sobre plantas medicinais do Brasil, de preferên-
respectivamente, além de três conferências. Esta cia na Semana da Pátria, em local a ser definido
última seção, plantas medicinais, constituiu o SPMB no simpósio anterior;
propriamente dito, com trabalhos em botânica, far- 3. o apoio e o estímulo prioritários dos órgãos
macologia e fitoquímica. À parte a seção ‘química de amparo à pesquisa sobre plantas medicinais
de animais invertebrados’, é difícil, senão impossí- e produtos naturais para grupos que abordem o
vel saber porque os trabalhos não fizeram parte do problema, de preferência de forma integrada;
SPMB como um todo. Em Plantas Medicinais: Me- 4. o apoio prioritário à realização de convênios
mória da Ciência no Brasil, FERNANDES (2004, p. interinstituições a fim de estimular projetos mul-
75), sugere ter se tratado de um encontro técnico tidisciplinares em plantas medicinais e produtos
científico, não havendo no programa a previsão de naturais;
discussões plenárias com temas de política institu- 5. que seja reiterada aos poderes públicos a re-
cional’, fugindo assim, às propostas que haviam sido comendação nº 7 do I Simpósio de Plantas Me-
discutidas nos encontros anteriores. dicinais, em 1967, que diz o seguinte: “preocu-
pação com a carência de núcleos autênticos de
No discurso de abertura, o professor Walter Mors pesquisa em farmacologia clínica”;
lembrou os nomes de diversos naturalistas que con- 6. apoiar a formação de grupos muldisciplinares
tribuíram para o conhecimento da história natural capacitados a realizar estudos pré-clínicos de
brasileira, tais como Piso, Marcgrave, Saint-Hilaire, inocuidade e eficácia de medicamentos;
Martius, Frei Velloso, Arruda Câmara, Frei Leandro 7. que se faça veemente apelo aos poderes pú-
do Sacramento, Peckolt, Domingos Freire, Wihelm blicos a fim de permitir a reintegração às institui-
ções científicas brasileiras dos cientistas afasta- SPIGUEL, 1978, p. 56). Para ele, esse argumento
dos por atos de exceção; era improcedente, pois só entrariam nesta coletânea
8. apoio aos grupos de investigação sobre plan- as informações publicadas. Desta maneira o próprio
tas medicinais destinadas a resolver os proble- Farnswoth não teria informação sobre uma planta se
mas de saúde da população; o autor não publicasse a respeito. O professor W.
9. interesse em se reeditar, revistas e ampliadas, Ladosky, da Universidade Federal de Pernambuco,
obras úteis sobre plantas medicinais do Brasil. aceitou essa idéia, observando que o projeto era fi-
nanciado e mantido pela OMS, e não por Chicago,
Como se vê; muitas dessas propostas são uma mera assim ‘nós só temos a ganhar’ (TEIXEIRA; SPIGUEL,
repetição daquelas que foram feitas no I Simpósio 1978, p. 57). O professor Carlini, por outro lado, se
11 anos antes. A palavra ‘nacionais’, referente ao opôs, e perguntou: ‘quantos milhões o CNPq gas-
Projeto Flora, não constava da proposta original, ta neste projeto? Então, repentinamente, depois
tendo sido introduzida na discussão final por propos- de tudo organizado, nós darmos isso em troca de
ta do professor Carlini, como forma de se excluir a outras informações!’, de mão beijada?’ (TEIXEIRA;
cooperação com instituições estrangeiras. O Projeto SPIGUEL, 1978, p. 57).
foi realmente implantado para atuar em três áreas
distintas, herbários, bibliotecas e campo, com os se- O Projeto Flora foi dividido em cinco áreas, de acor-
guintes objetivos (TEIXEIRA e SPIGUEL, 1978): do com a região geográfica do país. No período
1976-1986, o projeto permitiu a contratação de 52
1. Estabelecer competentes centros científicos botânicos iniciantes que, sob a orientação de profis-
no país sobre inventário e avaliação dos recur- sionais experientes proporcionaram a modernização
sos naturais vegetais, sobre a utilização desses dos herbários dessas regiões (FERNANDES, 2004;
recursos, assim como sobre problemas ecológi- TEIXEIRA, 1984). Infelizmente, da mesma maneira
cos e de conservação dos recursos naturais e do que a CEME, que o financiou, e como o IQA, o
meio ambiente; Projeto foi desativado. Quanto ao apoio à pesquisa
2. Produzir um inventário, o mais completo pos- com plantas medicinais de forma integrada (itens 3
sível, dos recursos naturais vegetais do Brasil, e 4 das Recomendações), o professor Ladosky dis-
estabelecendo os meios eficientes de consulta a se textualmente: “Temos o nosso Departamento e o
esse inventário, de modo a tornar disponíveis as Grupo de Antibióticos, de altíssima categoria. Ago-
informações concretas sobre plantas nativas; ra, é difícil estabelecer um entrosamento entre estes
3. Promover treinamento e aperfeiçoamento dois grupos, pois nos dois casos há interesses espe-
científico de pessoal nas áreas de botânica e cíficos de pesquisa que não se misturam” (DISCUS-
de sistemas de tratamento de dados botânicos, SÃO DAS RECOMENDAÇÕES, 1978, p. 231). De
através de estágios intensivos e cursos de pós- acordo com Fernandes (2004), uma desavença no
graduação em níveis de mestrado e doutorado. interior da Faculdade de Farmácia da UFCE, fez com
que o grupo de pesquisas em plantas medicinais,
Assim, o Projeto visava privilegiar a área de Botâni- coordenado pelo professor Francisco José de Abreu
ca. Entretanto, estava também em fase de estudo Matos, migrasse para o Departamento de Química,
um formulário para levantamento de informações apesar de a sua proposta estar mais próxima da área
sobre plantas tóxicas e medicinais, para a formação da saúde e, portanto da Faculdade de Farmácia. Se
de um Banco Satélite de Dados sobre farmacologia esses problemas ocorrem entre os departamentos
de produtos naturais. Os representantes do CNPq de uma mesma instituição, é possível imaginar os
afirmaram que até o final de 1978 o Banco de Da- que pode ocorrer entre Universidades diferentes.
dos do Projeto teria armazenado informações de
170.000 plantas da Amazônia e do Cerrado, e que O item 7 pedia a reintegração dos cientistas cas-
num prazo de cinco anos esse número seria superior sados pelo regime militar (ainda em vigor naque-
a 2.000.000 (TEIXEIRA e SPIGUEL, 1978). Durante la época), A proposta original fazia menção direta
a discussão que se seguiu, o professor Walter Mors às universidades e, especificamente, ao Dr. Haity
defendeu a associação dos pesquisadores brasilei- Moussatché, que se encontrava na Venezuela. Fran-
ros com o professor Farnsworth, da Universidade de cisco Paumgarten, da Escola Paulista de Medicina,
Chicago, responsável por um programa computado- sugeriu que a moção fosse de anistia ampla, geral e
rizado de química e farmacologia de produtos natu- irrestrita, uma vez que ‘não foram apenas os cientis-
rais, uma vez que ‘o argumento contra isso é que há tas atingidos pelos atos de exceção. Foi toda a so-
entrega de informações a um outro país’ (TEIXEIRA; ciedade brasileira’. Carlini disse que ‘como cidadão,
eu até apoio muito do que foi dito’, mas ‘nós esta- quisa de Produtos Naturais da UFRJ, em 1986. Os
mos em um ambiente científico e temos um caso es- Departamentos de Farmacologia e Psicobiologia da
pecífico que é o do Professor Moussatché. Eu acho Escola Paulista de Medicina promoveram o X Encon-
que para não dar um tom carregado, político a este tro, realizado em 1988. O XV Simpósio também teve
documento, eu sou contra a proposição do colega’ lugar em São Paulo; desta vez em Águas de Lindóia,
(DISCUSSÃO DAS RECOMENDAÇÕES, 1978, p. dez anos depois. Deste modo, a região sudeste abri-
232). A discussão se tornou acalorada, para dizer o gou 9 Simpósios, dos 19 realizados até agora, sendo
mínimo, quando o Dr Orlando Gonçalves, represen- 6 no Estado de São Paulo (cinco na capital), 2 no Rio
tante da CEME, votou contra a proposta, fosse ela de Janeiro e 1 em Belo Horizonte. Apesar da biodi-
irrestrita ou não, pois ‘como funcionário do gover- versidade da região Amazônica, foi apenas em 1984,
no’ não poderia prejulgar os atos que levaram esse treze anos após o I Simpósio, que ali ocorreu um en-
mesmo governo a adotá-los. Assim, ‘eu, infelizmen- contro dessa natureza, que foi o VIII, realizado em
te, embora aceitando em tese qualquer apelo nes- Manaus. A cidade receberia novamente os partici-
se sentido, não posso subscrevê-lo’ (DISCUSSÃO pantes do XVIII Simpósio em 2004. Os Simpósios só
DAS RECOMENDAÇÕES, 1978, p. 232). É claro chegaram ao Sul do país em 1992. Curitiba foi o local
que, como bem lembrou o professor Jorge Guima- escolhido. Quatro anos mais seria a vez de outra ci-
rães, da UFF, todos eram funcionários do governo. dade do Sul, Florianópolis, sediar o XIV. A realização
Entretanto, eles só poderiam ser afastados de suas desses Simpósios só ocorreu na região centro-oeste
funções por um ato de exceção, o que naquela épo- uma única vez, foi o XVII, em Cuiabá, em 2002. A
ca não era tão difícil assim, enquanto o Dr Orlando partir de uma sugestão realizada já nos dois simpó-
poderia ser dispensado a qualquer momento, qual- sios iniciais (e constantemente iterada posteriormen-
quer que fosse o regime. O representante da CEME, te), pelo principal idealizador do SPMB, Dr E. Carlini,
sem o microfone, protestou, pois ‘fui convidado para a comunidade acadêmica acatou o compromisso da
tratar de plantas medicinais. Não vim tratar de ide- realização do evento no Estado de São Paulo, a cada
ologia’. Carlini lançou ‘um protesto em cima do pro- ciclo de dez anos (ou seja, cada 5 simpósios), o que
testo’, e instalou-se uma pequena discussão entre vem acontecendo regularmente (ver: http://www.
os dois (DISCUSSÃO DAS RECOMENDAÇÕES, plantasmedicinais.unifesp.br/hist.htm).
1978, p. 234). A proposta acabou sendo aprovada,
com exceção do voto do representante da CEME, Na Sessão de Abertura do VII Simpósio, ocorrido em
com a substituição da palavra ‘universidade’ por Belo Horizonte em 1982, a professora Alaíde Braga
‘instituições científicas brasileiras’, e com a retirada referiu-se ao ‘pequeno número de projetos integrados
do nome do Professor Moussatché. A última reco- em andamento no Brasil’ e à ‘falta de uma coordena-
mendação dizia respeito sobre a reedição de obras ção nacional que se faz necessária, sobretudo para
úteis de plantas medicinais do Brasil. A única obra evitar a duplicação de trabalhos’ (BRAGA, 1982) e,
mencionada foi o Dicionário de Plantas Úteis do no seu discurso proferido na mesma ocasião, o pro-
Brasil, de Pio Correa, mas não saiu do papel. Assim, fessor Ribeiro do Vale lembrou como ele, Walter Mors
passados 30 anos desde aquele encontro, a única e Elisaldo Carlini apresentaram, em 1977, ao CNPq,
recomendação realmente posta em prática foi a de um projeto de estudo integrado das plantas brasilei-
que os Simpósios se realizariam a cada dois anos. ras, com o objetivo de estimular a indispensável cola-
boração entre botânicos, químicos e farmacologistas,
O VI Simpósio teve lugar em Fortaleza onde, em tom e lamentou que o projeto não tivesse ido adiante (RI-
de brincadeira, o professor Ribeiro do Vale disse que BEIRO DO VALE, 1982). Os dados levantados neste
poderia passar 15 dias, em vez dos 3 ou 4 previstos trabalho mostram que as colaborações entre os de-
para cada encontro. O XIII Simpósio também ocorreu partamentos e/ou institutos de uma mesma institui-
naquela cidade. O Nordeste viria ainda a sediar mais ção foram, quando ocorreram, em número superior
quatro Simpósios; o XI em João Pessoa, em 1990, o ao de colaborações entre instituições diferentes. O
XVI em Recife, em 2000 e o XIX, em Salvador, em mesmo vale para a relação das colaborações entre as
2006. Durante o II Simpósio, em 1968, o professor mesmas regiões ou regiões diferentes.
Herbert Magalhães Alves sugeriu Belo Horizonte
como sede do IV encontro. Contudo, isso só veio a Os textos dos trabalhos apresentados nos sete pri-
acontecer em 1982, quando a UFMG recebeu os in- meiros Simpósios foram publicados na íntegra nos
tegrantes do VII Simpósio. O Rio de Janeiro foi pela Arquivos do Instituto Biológico (I e II), Anais da Aca-
segunda vez o anfitrião de um desses Simpósios, o demia Brasileira de Ciências (III), Ciência e Cultura
IX, realizado nas dependências do Núcleo de Pes- (IV, V, e VI) e na revista Oreades (Revista do De-
I 6 1 0 0 0 0 7
II 19 3 0 0 0 0 22
III 6 3 1 2 0 0 12
IV 22 6 1 0 0 0 29
V 28 11 2 1 0 0 46
VI 17 17 2 0 0 0 38
VII 42 19 5 0 0 0 67
VIII 67 43 10 1 0 0 121
IX 58 39 7 2 0 0 106
X 106 37 17 3 0 0 166
XI 130 85 17 3 0 0 235
XVII * * * * * * 870
XIX * * * * * * 766
* Indisponível. Em alguns casos (V, VI, VII, X, XV, XVI e XVIII Simpósios) existem trabalhos sem a menção a qualquer instituição. Daí
a discordância com o número total de comunicações. No XX Simpósio houve uma comunicação com a participação de 7 institutos ou
departamentos
A Tabela 1 mostra claramente que o número de queles referentes à ‘química de produtos naturais’.
comunicações isoladas tem sido sistematicamen- Existem ainda as comunicações abrangendo mais
te superior àquelas apresentadas em colaboração de uma área, aqui incluídos na coluna ‘multidiscipli-
em todos os Simpósios realizados até o momento. nar’, e aquelas que não puderam ser agrupadas em
Deve-se notar ainda que essas colaborações fo- nenhuma dessas áreas, como controle de praga em
ram com bastante freqüência realizadas entre áre- plantas medicinais, algas, liquens, química de orquí-
as idênticas de instituições diferentes. A partir do deas, banco de dados, padronização, produção de
VIII Simpósio, os livros de resumos foram divididos fitoterápícos, aromas de frutas tropicais, a possível
em diversas seções como farmacologia, fitoquímica, utilização de plantas medicinais por primatas, bio-
botânica, agronomia etnofarmacologia, toxicologia tecnologia e plantas utilizadas em doenças de ani-
e farmacognosia, embora essas separações nem mais. É interessante, e surpreendente observar, que
sempre tenham sido observadas. Além disso, não durante o XVIII Simpósio foi apresentado um traba-
raro, essas áreas estão superpostas em uma mesma lho sobre a ‘Arte do Pêndulo’. No Livro de Resumos
seção, como botânica junto com etnofarmacologia correspondente ao XX Simpósio, realizado em 1008,
(XIV Simpósio) ou etnofarmacologia junto com far- em São Paulo, as comunicações de agronomia, botâ-
macologia (XII Simpósio). A farmacognosia só teve a nica e etnofarmacologia foram separadas em áreas
sua própria divisão em 3 simpósios (XVI, XVII, XIX), distintas e a toxicologia foi novamente incorporada à
apesar de ter estado presente em vários outros sim- farmacologia. Tudo isso dificulta uma avaliação pre-
pósios, com resumos espalhadas pelas demais áre- cisa sobre o número de comunicações apresentadas
as. O mesmo pode ser dito para a toxicologia e para em cada sessão. Todavia, independente do critério
a etnofarmacologia. No XIV, XVI e XVII Simpósios, utilizado na classificação dos trabalhos, o fato é que
as seções de agronomia e botânica estão separa- a área de farmacologia, seguida pela de química de
das, mas no XIX elas estão agrupadas na única área produtos naturais, superaram, de maneira constan-
de ‘Agronomia’. No Livro de Resumos do XI Simpó- te, as outras áreas, como pode ser visto na Tabela 2,
sio, os trabalhos de ‘síntese de produtos naturais’ na qual a coluna ‘outros’ engloba botânica, agrono-
e ‘quimiossistemática’ estão colocados à parte da- mia, etnofarmacologia, toxicologia, controle de qua-
I 3 1 3 7
II 6 4 12 22
III 2 3 7 12
IV 14 3 12 29
V 14 9 23 46
VI 17 7 14 38
VII 23 13 29 67
VIII 66 31 24 121
IX 54 35 17 106
X 101 24 41 166
XI 86 89 60 235
Tabela 3 – Instituições que participaram de pelo menos 50% dos SPMB com o respectivo nº de trabalhos (1967-2008)
INSTITUIÇÃO* I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII XIII XIV XV XVI XVIII XX Total
1. FOC/CPRR 0 0 0 0 0 0 1 2 1 0 6 6 2 0 6 6 1 02 33
2. IBIO 1 11 2 2 5 2 0 1 3 1 1 2 2 3 4 1 6 02 49
3. IBOT 1 5 0 4 2 0 0 1 5 1 0 1 0 5 5 0 5 21 56
4. UENF/SQPN 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 10 14 0 9 39
5. UFBA/FF 0 0 0 0 0 0 1 0 3 2 1 3 2 2 2 11 4 03 34
6. UFCE/DF 0 0 0 0 0 0 1 2 1 1 0 0 2 5 5 16 8 04 45
7. UFCE/DFISIOLFCO 0 0 0 0 0 3 5 7 8 10 6 10 29 23 15 37 21 36 210
8. UFCE/DQOI 1 0 0 0 1 4 4 11 12 13 15 27 42 30 34 30 16 15 255
9. UFJF/ICB 0 0 0 0 0 0 2 2 2 4 0 2 0 4 4 9 8 13 50
11. UFPA/DQ 0 0 0 0 0 0 1 2 3 1 0 4 2 6 9 7 2 05 42
14. UFPE/DFISIOLFCO 0 0 0 0 0 1 2 1 0 0 2 3 4 9 12 13 9 12 68
15. UFPI/NPPM 0 0 0 0 0 0 0 2 1 2 6 2 3 0 1 9 7 10 43
16. UFPR/DF 0 0 0 1 0 1 0 0 3 3 2 14 2 11 7 4 19 03 70
17. UFRJ/DFCO 0 0 0 0 0 6 1 3 1 2 0 0 3 5 11 9 0 04 45
19. UFRRJ/DQ 1 0 1 1 2 1 1 2 2 1 3 6 4 4 6 10 7 06 58
23. UFSCAR/DQ 0 0 0 0 0 0 2 2 1 0 4 3 5 1 5 2 5 09 39
24. UNESPBOT/IBIOC 0 0 0 0 0 0 1 0 1 1 3 2 2 8 5 7 4 51 85
26. UNICAMP/IB 0 0 0 0 2 0 1 3 0 2 0 1 7 12 15 18 6 15 82
27. UNICAMP/IQ 0 0 0 0 2 0 0 2 1 2 0 2 2 4 10 6 4 08 43
29. UNIFESP/ 5 2 1 0
1 0 0 2 0 8 0 0 1 7 7 12 1 15 62
DPSICOB
32. USP/IQ 0 0 1 0 7 0 2 6 7 4 11 0 5 9 6 2 10 20 90
TOTAL 6 19 7 26 39 37 46 108 106 137 136 248 277 412 468 456 257 641
OBS: Os dados referentes aos XVII e XIX Simpósio não estão disponíveis
* Instituições que participaram de pelo menos 50% dos SPMB após suas criações.
Tabela 4 – Número de trabalhos apresentados em pelo menos 50% do SPMB (por Estado)
SP 884 13
CE 510 3
SC 405 3
RJ 340 4
PB 312 1
PE 216 2
MG 160 3
RS 166 2
PR 70 1
PA 42 1
PI 43 1
BA 33 1
TOTAL 3181 35
Tabela 5 – Número de trabalhos apresentados em pelo menos 50% do SPMB (por região)
SE 1384 20
NE 1114 8
S 641 6
NO 42 1
TOTAL 3181 35
A análise geográfica dos dados da Tabela 3 é mos- ou Institutos listados na Tabela 3 também participa-
trada nas Tabelas 4 e 5 e nos gráficos das Figuras ram de pelo menos a metade das Reuniões da SBPC
1 e 2. Entretanto, essa situação deve ser vista com e da SBQ, na área de química de Produtos Naturais,
cautela, quando se considera o número de Institutos apesar da grande diferença no número de comu-
ou Departamentos envolvidos nesse processo. A re- nicações apresentadas em cada uma delas, como
gião Sudeste foi responsável por 1384 distribuídos mostra a Tabela 6. A participação do Departamento
por 20 Departamentos e/ou Institutos, enquanto de Química Orgânica e Inorgânica da Universidade
a região Nordeste apresentou 114 comunicações, Federal do Ceará foi bastante equilibrada nos três
distribuídas por 8 Institutos e/ou Departamentos. Encontros analisados. Por outro lado, para os de-
Vale ainda notar que a região Norte, apesar de toda mais exemplos mencionados, houve uma tendência
a riqueza da sua biodiversidade, se fez representar, em se privilegiar um Encontro sobre os demais. Este
nessas tabelas, apenas pelo Departamento de Quí- fato é mais notável nos trabalhos apresentados pelo
mica da Universidade Federal do Pará. Departamento de Química da Universidade Federal
de São Carlos, com apenas 30 comunicações nos
A título de comparação, alguns dos Departamentos SPMB, mas 376 nas Reuniões da SBQ.
Figura 1 – Variação no número de trabalhos apresentados em pelo menos 50% do SPMB (por Estado)
Figura 2 – Variação no número de trabalhos apresentados em pelo menos 50% do SPMB (por Região)
Tabela 6 – Total de trabalhos em Química de Produtos Naturais nas Reuniões da SBPC, SBQ e SPMB
Os Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil tam- ilustra a Tabela 7, o que evidencia o seu grau de
bém têm contado com a presença de instituições internacionalização.
das três Américas, Europa, Ásia e Oceania, como
A Tabela 8 e o gráfico da Figura 3 mostram de manei- mento do número de trabalhos apresentados nos Sim-
ra resumida o vertiginoso, e quase constante, cresci- pósios de Plantas MedIcinais ao longo de 40 anos.
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Introdução
37
Revista Fitos Vol.4 Nº01 março 2009 Revista Fitos 37
Vol.4 Nº01 março 2009
Artigo Original/Original Article Drogas e Extratos Vegetais Utilizados em Fitoterapia
Achyrocline 3 a 6 g (2)
Antiespasmódica, carminati- Não relatadas
Rasurado
Satureoides va, sedativa (1),(2)
Flos Achyrocline Tintura 20% (1)
a 2 mL (2)
Satureoides
Marcela
Aesculus hippocastanum Ext. seco pad. em 20 a 200 a 600 mg (1) Venotônica, adstringente, Não é recomendado o uso
22% de saponinas hemostática. Indicada para em crianças com idade
(aescina) varizes, insuficiencia venosa inferior a 10 anos, em
dos membros inferiores e gastrite, insuficiência renal
Semen Aesculi
2,5 a 15 mL (1) hemorróidas (1),(14) ou hepática, gravidez e
Hippocastani Tintura 10%
lactação, e tratamento com
Uso ext.: Creme ou gel
anticoagulantes (1),(3)
c/ 20% de extrato fluido
Castanha da Índia ou glicólico
Agaricus blazei Rasurado Recomenda-se o con- Imunoestimulante, anti-mu- Pode ocorrer diarréia
sumo de 5 g diárias tagênico, temporária no início do
como prevenção. antitumoral, reduz a resis- tratamento.
tencia a insulina. Indicado na Como todo imunoestimu-
Recomenda-se o prevenção e como auxiliar no lante não deve ser utilizado
Cogumelo do Sol
consumo de tratamento da diabete tipo 2 em patologias autoimunes
20 a 40 g para pa- e do câncer (9) ou em tratamento com
cientes com câncer imuno-supressores. Pode
(SRC). interagir com drogas hipo-
glicemiantes (9)
Anacardium occidentale Rasurado 2 a 5g (4) Adstringente, antidiarreico, Cuidado com super dosa-
anti-inflamatório, gem devido ao alto teor de
hipoglicemiante, anti-hemor- taninos (5)
Cortex Anacardii
rágico(4)
Occidentale
Cajueiro Tintura 20% 5 a 25 mL (4)
Angelica sinensis Ext. seco pad. 450 a 900 mg Antiespasmódica uterina, Gravidez e lactação
mín. 1% de ligustilídeo (SRC) reguladora da menstruação Uso cuidadoso em pacien-
Radix Angelicae Sinensis e antidismenorreica. Ações tes com fluxo menstrual
no metabolismo lipídico e na abundante e utilizando
Dong quai ou Angelica aterogênese. medicação anticoagulante
chinesa 4,5 a 9 g (7) Antianêmica, anti-inflamató- e antiplaquetária (13)
Rasurado
ria e sedativa suave (13)
Arctostaphylos urva ursi Rasurado 4,5 a 12 g (3) Anti-séptica urinária, anti- Gravidez, lactação.
Equiv. a 400 a 840 bacteriana e Não utilizar por períodos
Folium Arctostaphyli
mg de arbutina (8) antiinflamatória (1) prolongados devido ao alto
Uvae Ursii teor de taninos (3)
Extratos pad. em
Uva Ursi arbutina
Arnica montana Uso externo 2-4 % em forma de Antiinflamatoria, analgésica, Uso externo pode produzir
compressas embebi- cicatrizante, antiséptica, reações alérgicas cutâneas.
Infuso das (1) antimicrobiana antifúngica, Contra-indicada para uso in-
Flos Arnicae Montanae
5 a 25% em água, antihistamínica (1) terno devido a toxicidade (1)
Arnica Tintura 10% cremes, géis (1)
Boswelia serrata Ext. seco pad. mín. 600 a 1200mg Antiinflamatória, analgésica, Não relatadas
de 60% de ácidos imunomoduladora
Bosvelia boswelicos Uso tópico: 5 a 8% Indicada no tratamento da
artrite reumatóide, artrites
Creme crônicas, asma e condições
broncoconstritivas (9)
Calendula officinalis Tintura 20% 2 a 10 % em gel, Uso externo: antinflamato- Não relatadas
Flos Calendulae creme ou pomada (11) ria, reepitelizante, cicatri-
zante (1)(9)
Calendula
Ext. seco pad. 240 a 320 mg de Antioxidante, antineoplási- Evitar uso noturno.
Camellia sinensis
Polifenóis totais 50 a polifenóis (9) ca, gastroprotetora, hipoli- Pode causar constipação
97% pemiante, termogênica intestinal em consumi-
Folium Camelliae (12)
dores habituais. Reduz a
Sinensis
absorção de ferro e outros
nutrientes (6),(14)
Chá verde
Casearia sylvestris Rasurado 1 colher de chá fol- Gastroprotetora. Cicatrizan- Não relatadas.
Folium Caseariae has secas duas vezes te e hemostática em traumas
ao dia (6) (uso local) (6)
Sylvestris
Guaçatonga
Cassia angustifolia Ext. seco 250 a 500 mg Ação laxativa ou purgativa Uso prolongado pode cau-
C. Senna 5,5 a 8 % de senosídeos (15 a 30 mg de seno- conforme a dose (1),(14) sar dependência; lesões no
sídeos) (9) IG; dor abdominal, diarréia.
Folium Sennae Contra-indicada em obstru-
Rasurado 0,5 a 2 g (3)
Sene ção intestinal, enterites e
hemorroidas (1),(14)
Cassia nomame Extrato pad. mín. 8% de 200mg a 600mg divi- Ação inibidora da enzima Contra-indicada na gravidez
fenóis didos em 3 tomadas lipase com redução da e lactação.
Fructus Cassiae antes das refeições absorção de gorduras. Pode inibir a absorção das
Nomame (SRC) Auxiliar nas dietas de perda vitaminas lipossolúveis
de peso. Reduz a pressão como A, E, betacaroteno e
arterial e os niveis séricos outras. Recomenda-se uma
Cassiolamina de colesterol e ácido úrico suplementação das mes-
(SRC) mas, incluindo a vitamina D
Tomar pelo menos duas ho-
ras antes ou após o uso dos
inibidores da lipase (SRC)
Centella asiatica Ext. seco pad. 5% de 130 a 270 mg (11) Uso externo: reepitelizante, Contra-indicada na gravidez
asiaticosideos adstringente, antiséptica e e lactação
Herba Centellae Rasurado 0,6 g a 1,8 g (3) antipruriginosa Uso cuidadoso em gastrite,
Asiaticae Uso interno: venotônica, úlcera gastroduodenal (1),(14)
Preparações ativadora da microcirculação
(1),(14)
Centela Creme ou pomada 1 a 2 % do extrato (11)
Cimifuga racemosa Ext. seco pad. mín. 40 a 320 mg, cor- Age na hipófise reduzindo Evitar o uso em crianças
2,5% de glicosídeos resp. a 1 a 8 mg do os picos de LH (14), antiin- menores de 12 anos, na
Rhizoma Cimicifugae triterpênicos marcador (8) flamatória (14), auxiliar na gravidez e lactação (14)
Racemosae expressos como 27 osteopenia.
– deoxiacteína Indicada em Síndrome Cli-
Uso cuidadoso por tempo
Black Cohosh Rasurado matérica (9)
0,3 a 2 g (3) prolongado (9)
Tintura 10% 2 a 4 mL (3)
Obs. Pericarpium Citri Reticulatae, casca de tangerina, é utilizada na MTC para os mesmos fins que Folium Citri Aurantii, com
componentes e atividades similares e dosagem diária de 3 a 9 g (7),(13)
Coix lachryma- jobi Rasurado 9 a 30 g (7) Diurética, antiinflamatória, in- Não relatadas
Semen Coicis dicada em edema e artrite (7)
Lágrima de Nossa
Senhora
Coleus barbatus Ext. seco pad. 10% 500 mg *src Ativa a adenilato-ciclase, Possível interação com
forskolin AMP cíclico e os canais de drogas vasoativas (9)
Folium Coleus Barbati calcio, com efeitos cardio-
3 a 9 g (5) tônicos e relaxantes da
Falso Boldo Rasurado musculatura lisa (9)
Commiphora wightii Ext. seco pad. min. 2 a 6 g (9) Inibe a sintese de coleste- Pode causar cefaleia,
2,5% de gugulsterois rol, anti-lipoperoxidante, nausea, vômitos, diarreia e
Guggul antiinflamatoria, indicada em dermatite.
hipercolesterolemia e acne Possível interação com
nódulo-cística (9) drogas antiadesivas pla-
quetárias (9)
Crataegus laevigata Ext. seco pad. 2% 250 a 900 mg (9),(11) Cardiotônica, vasodilatadora Disturbios gastro-intesti-
C. monogyna de vitexina e 20% de coronariana, antiarrítmica, nais, palpitações, cefaleia e
procianidinas hipotensora, hipocoleste- vertigens (9)
Folium, Fructus e Flos rolemiante, antioxidante,
Crataegi Tintura 10% sedativa leve (9)
3 a 6 mL (11)
Crataego
Zedoária
Cymbopogum citratus Rasurado das folhas 7 a 30 g (15) Expectorante, antiespasmó- Ausência de efeitos muta-
Folium Cymbopogonis frescas dica, sedativa leve, antimi- gênicos e carcinogênicos.
crobiana, diurética leve (15) Pode bloquear o efeito do
Capim-limão retinol (Vit. A) (15)
Cynara scolymus Ext. seco pad. 375 a 625 mg (11) Colerética, colagoga, reduto- Gravidez e lactação
2% de cinarina ra do colesterol e trigliceríde- (reduz a secreção do leite).
Folium Cynarae os, hepatoprotetora, laxativa, Uso contra-indicado em obs-
Alcachofra Rasurado 3 a 12 g (3) diurética (3) trução das vias biliares. (11)
Dioscorea villosa Ext. seco pad. 250 a 750 mg (SRC) Sensibiliza positivamente os Contra-indicada na gravidez
receptores estrogênicos. e lactação (9)
Rizoma Dioscoreae mín. 6% de diosgenina Eficácia na Síndrome Cli-
Villosae matérica não comprovada
clinicamente (9)
Inhame mexicano
Garcinia camboja Ext. seco pad. mín. 1 a 3 g (9) Teoricamente reduz a síntese Pode causar náusea, des-
Fructus Garciniae 50% de AHC (ácido de gorduras (9) conforto gastro-intestinal e
hidroxicítrico) cefaleia.
Não há dados seguros
Cambojae sobre o uso na gravidez e
Garcínia lactação (9)
Gimnema sylvestris Ext. seco pad. 75% de 150 a 400 mg (9) Hipoglicemiante, reduz a ab- Gravidez
ácidos gimnêmicos sorção intestinal de glicose Uso cuidadoso com hipogli-
e estimula as cels. beta e a cemiantes (9)
Folium Gymnemae
secreção de insulina (9)
Sylvestris
Gimnema
Ginkgo biloba Ext. pad. mín. 24% de 80 a 240mg (1),(9) Neuroprotetora, vasodilata- Contra-indicada na gravidez
glico-flavonóides e 6% dora periférica, protetora ca- e lactação
Folium Ginkgo Bilobae de terpenos pilar (aumenta a resistencia Evitar uso concomitante
e diminui a permeabilidade), com vasodilatadores,
venotônica, antiagregante aspirina, varfarina,
Ginko biloba
plaquetaria (1),(9) diuréticos tiazídicos, trazo-
dona.
Pode reduzir a ação de
diversas drogas, devido a
indução hepática. (1),(9)
Glicyne max Ext. seco pad. 40% de 100 a 250mg Moduladora de estrogênio, Evitar o uso em pacientes
isoflavonas Deve ser tomado pela antioxidante, antiproliferativa utilizando tamoxifeno (9)
Semen Glycine Max manhã, em jejum; ou e antimutagênica. Protetora
entre refeições (9) vascular e óssea. Imuno-
Soja estimulante, redutora do
colesterol (9)
Humulus lupulus Pó 500 a 1500mg (1),(3) Sedativa e anafrodisíaca. Contra indicado na gravi-
Indicado em insônia, inquietu- dez, lactação e depressão
Strobulus Lupuli de, cefaléia tensional, colite (3),(14)
Huperzia serrata Ext. pad. mín. 1% de 40 mg divididos em 2 Potente inibidor da acetilco- Pode ter efeito aditivo com
huperzine A tomadas (9) linesterase; melhora a me- drogas inibidoras da coli-
Radix Huperziae mória e a cognição. Indicado nesterase e antagônico com
Serratae para quadros de demência (9) drogas anticolinérgicas(9)
Huperzia
Hypericum perforatum Ext. seco pad. 600 a 900mg Antidepressiva, levemente Contra-indicado na gravidez
min. 0,3% de hipericina divididos em 2 a 3 ansiolítica e reguladora do e lactação.
tomadas (11) sono Pode reduzir as concen-
Antiviral trações plasmáticas de
Herba Hyperici Perforati Ativadora de sistemas varfarina, ciclosporina, teo-
hepáticos de metabolização filina, contraceptivos orais,
Hipérico de drogas (citocromo P450) antidepressivos tricíclicos,
(3),(11)
anti-retrovirais e outras
drogas metabolizadas por
essa via (11)
Linum usitatissimum Semente 10 a 40 g (9) Reduz os níveis sanguíneos Em altas doses pode cau-
de colesterol e trigliceríde- sar diarréia.
Semen Lini Usitatissimi os. Hipoglicemiante leve. Contra-inidcada em este-
Antioxidante. nose esofágica e pilórica
Oleum Lini Leve atividade estrogênica, ou obstrução intestinal e
indicada para Sindrome abdome agudo. (1),(9)
Climatérica e osteoporose.
Linhaça Óleo da semente 15 a 30 mL (9)
Constipação intestinal (1),(9)
Malpighia glabra Ext. seco 26,5% de De acordo com as Fonte natural de vitamina C, Não relatadas.
Vit. C doses usuais de vit.C antioxidante (6)
Fructus Malpighia
Glabrae
Acerola
Matricaria chamomilla Rasurado 3 a 12 g (4), (11) Carminativa, antiespas- Deve ser usada com cau-
modica, sedativa leve, tela por gestantes, possui
50 a 60 g/l em com- ansiolítica, antiinflamatória, ação emenagoga.
Flos Matricariae Infuso p/ uso externo pressas e cataplas- gastroprotetora. Indicada Em indivíduos sensíveis
Chamomillae mas (1) em dispepsias, patologias pode causar náuseas e der-
inflamatorias e espasmódi- matite de contato (1),(3),(11)
Camomila Tintura 20% 10 a 30 mL (4) cas do sistema digestório,
ansiedade (1),(6),(8),(11)
Maytenus ilicifolia Ext. seco pad. em % de 60 a 90 mg de taninos Antiulcerogênica, antibacte- Contra-indicada na gravi-
M. aquifolium taninos (8),(11) riana, antitumoral, analgé- dez, lactação e crianças
Folium Mayteni sica, aumenta o volume e o menores de 6 anos (11)
Rasurado 5 a 20 g (4) ph do suco gástrico (6)
Espinheira Santa
Melissa officinalis Ext. seco 5:1 330 a 900 mg (14) Carminativa, eupéptica, Contra-indicada no hipoti-
Herba Melissae Rasurado espasmolítica, antiséptica, roidismo,
Officinalis 1,5 a 4,5 p/ xícara, de sedativa, anti-herpes em gravidez e lactação (11)
1 a 3 x/dia (17) uso tópico (11),(17)
Melissa
Mentha pulegium Rasurado 500mg a 2g (4) Expectorante, antigripal, an- Contra-inidicada na gravi-
tibacteriana, antifúngica (1),(6) dez, lactação, e crianças
Herba Menthae Pulegii 1 a 10 mL (4) menores de 6 anos.
Contra-indicada a inalação e
Poejo Tintura 10% o uso prolongado, devido a
toxicidade da pulegona (1),(6)
Monascus purpureus Ext.seco pad. a 0,4% de 2,4 a 3,2 g (12) Reduz as concentrações Pode causar irritação gástri-
monacolinas totais de colesterol. ca, desconforto abdominal
Reduz os níveis de colesterol e elevação das enzimas
Red Yeast Rice LDL e triacilglicerol. hepáticas.
Eleva o nível de colesterol Teoricamente pode causar os
HDL (12) mesmos efeitos adversos que
a lovastatina (dor, fraqueza
muscular); contra-indicada
na gravidez, hepatopatias e
menores de 18 anos (12)
Nasturtium officinalis Planta fresca 20 a 30 g (17) Antioxidante, inibe carcino- Excesso pode causar
gênicos do tabaco (6) irritação do estomago e vias
Herba Nasturtii Planta seca 4 a 6 g (17) Tradicionalmente indicado urinárias (1);
Officinalis Sumo 60 a 150 g (17) para afecções catarrrais do contra-indicado em úlceras
trato respiratorio (6), (17) gástricas e intestinais e para
crianças abaixo de 4 anos (17)
Oenothera biennis Óleo pad. 8% de GLA 3 a 8 g p/ adultos Tensão pré-menstrual, mas- Contra-indicado em epilép-
2 a 4 g p/ crianças (3) talgia cíclica, endometriose, ticos.
Oleum Oenotherae eczema atópico, neuropatia Uso cuidadoso durante a
Biennis diabética, hiperatividade em gravidez (3)
crianças (3)
Prímula
Panax ginseng Ext. seco pad. 100 a 600mg (8) Adaptôgenica, tônica, regu- Evitar o uso na gravidez e
mín. 5% de ladora do SNC, aumenta a lactação por falta de dados (3)
resistencia inespecífica às Uso cuidadoso em pacientes
ginsenosídeos enfermidades. com disturbios cardiovascula-
3 a 9 g (7) Levemente hipoglicemiante e res, usuários de IMAO e em
Radix Ginseng Rasurado (decocto) 1 a 2 g (17) hipocolesterolemiante, esti- casos de antecedentes de
mulante dos sistemas imune úlcera gastroduodenal.
e hematopoiético, antianê- Interage com hipoglicemian-
2,5 a 10 mL (1) mica, antifadiga, anti-cancer,
tes, anticoagulantes (aumen-
Ginseng Tintura 20% antienvelhecimento, eleva o
ta o TP e o TPT), imunossu-
numero e a motilidade dos
pressores, diuréticos (9)
espermatozóides (13)
Passiflora incarnata Ext. seco pad. a 3,5% 200 a 300mg (11) Sedativa, Evitar o uso na gravidez e
P. alata de isovitexina ansiolítica, hipnótica suave, lactação e a associação com
4 a 8 g p/ P. Incarnata miorrelaxante e espasmo- depressores do SNC (3)
Folium Passiflorae Rasurado
(17) lítica,
Passiflora Tintura (1:8 em alcool estabilizadora do SNC (3),(12)
1,5 a 6 mL em 3
45%)
tomadas (3),(11)
Paullinia cupana Pó 0,5 a 2 g (8) Estimulante do sistema Pode causar insônia, nervo-
nervoso central, antioxi- sismo, inquietude, irritação
dante, relaxante muscular, gástrica, náuseas, vômitos,
Semen Paulliniae Ext. seco pad. em 15 a 70 mg de cafeína antiagregante plaquetaria, taquicardia, tremores, delí-
Cupanae cafeína (8) antidiarreica (6) rios, convulsões, e diurese,
bem como potencializar a
ação de drogas estimulantes
do SNC e simpaticomimé-
Guaraná Tintura 10% 2,5 a 10 mL (8)
ticas (9)
Contra-indicada em hiperten-
são arterial, gastrite, úlcera
péptica, hiper-tireoidismo (1)
Peumus boldus Ext. seco pad. Correspondente a 2 a Colerética, colagoga, Contra-indicado em hepatites,
em alcalóides totais 5 mg de boldina (8) antiespasmódica, aumenta a obstrução das vias biliares,
expressos como boldina secreção gástrica (3),(17) gestação, lactação, crianças
e uso contínuo e prolongado.
Folium Peumi Boldi Rasurado 3 g (17) Devido a ação antiplaquetária,
. pode interagir com varfarina.
Pode potencializar drogas he-
patotóxicas e, em altas doses
Tintura 20% ser nefrotóxico por conter
Boldo do Chile 1,5 a 6 mL (3),(9)
ascaridol no O.E. (3),(9),(17)
Phaseolus vulgaris Ext. seco 250mg a 1000mg/dia Inibe a enzima alfa-amilase Pode interagir com hipogli-
de faseolamina, sem- bloqueando a absorção cemiantes (9)
pre 30 minutos antes de parte dos carboidratos
Faseolamina ingeridos na dieta, na forma
das refeições (SRC)
de glicose. Reduz a absorção
de gorduras. Levemente
hipolipemiante e hipoglice-
miante (9)
Phyllantus spp. Rasurado (infusão) 10 a 20g/ lt Tem ação diurética, antibac- Uso cuidadoso na gravidez
P. niruri, P. Amarus, P. (6),(15) teriana, analgésica, relaxante devido às ações purgativa e
Tenellus, P. urinaria dos ureteres, antiinflama- abortiva em altas doses (15)
tória. Aumenta a filtração
30 a 40g/ lt (6),(15) glomerular e a eliminação
Herba Phyllanthi Planta fresca (Infusão)
de ácido úrico, antiviral p/
hepatite B (6),(15)
Quebra pedra Tintura 20% 5 a 20 mL (4)
Piper methysticum Ext. seco pad. 30% de 200 a 700mg, dividi- Sedativa, ansiolitica, anal- Contra-indicada na gravidez
kavalactonas dos em 3 x ao dia gésica, antinflamatoria e e lactação e hepatopatias.
Rizoma Piperis Methystici (9) antiespasmódica. Interações com álcool,
Reduz o quadro de abstinen- benzodiazepínicos e outros
Kava kava cia de benzodiazepínicos (9) depressores do SNC (9)
Plantago psyllium Pó 10 a 30 g divididos Laxativo mecânico suave, Pode causar flatulência, po-
em 2 ou 3 doses com emoliente e demulcente. tencializar a ação de hipogli-
Semen Plantaginis bastante líquido (9) Levemente hipoglicemiante cemi-antes orais, e reduzir
Psyllii e hipolipemiante, pois reduz a absorção de lítio; ferro,
a absorção de glicídeos e carbamazepina e digoxina;
lipídeos (9) contra-indicado em cólicas
Psyllium
abdominais de origens
desconhecidas, estenose
esofágica ou intestinal (9)
Psidium guajava Rasurado 5 a 10g (15) Antidiarréica, espasmolítica, Não utilizar por mais de
antimicrobiana, antiviral, 30 dias, nem na gravidez e
Folium Psidii Guajavae Tintura 10 a 50mL (4) hemostática, hipoglicemian- lactação (15)
te, antiinflamatória analgé-
sica, protetora da mucosa
Goiabeira
intestinal (15)
Pygeum africanum Ext. seco pad. 75 a 200mg (15) Atividade antiinflamatória Evitar o uso na gravidez e
mín. de 13% de es- antiproliferativa, estimulante lactação.
Cortex Pruni Africanae teróis da secreção prostática (9) Pode causar náuseas e
Pigeum dores abdominais (15)
Rhamnus purshiana Ext. seco pad. 250 a 375mg Laxante em doses baixas, Gestantes, lactantes e
mín. 8% de hetero- 20 a 30 mg de casca- purgante em altas doses (1) crianças menores de 12 anos
Cortex Rhamni sídeos antracênicos rosídeo A (8),(17) e na obstrução intestinal.
Purshianae (cascarosideo A) Não utilizar em períodos
prolongados, mais de 1
a 2 semanas, nem para
Cáscara Sagrada Pó 250 a 750 mg (1) tratamento de constipação
intestinal crônica. Uso pro-
longado pode causar lesões
no intestino grosso (1),(17)
Rhamus frangula Pó 0,5 a 2,5 g ao dia, Laxante ou purgante (1),(3) Mesmos efeitos adversos,
como laxante, e 4 a 5 precauções e contra-indica-
Cortex Frangulae g como purgante (1),(3) ções da cáscara sagrada,
apesar de ser considerada
Frangula um pouco menos tóxica (1),(17)
respiratorio, antitussígena
e expectorante. Estimula a
contração uterina e a pro-
dução do esperma. Indicada
para hepatites crônicas e
tradicionalmente para tosse,
gripe, neurastenia, disenteria,
dispepsia e fraturas ósseas (13)
Sesamum indicum Sementes tostadas e Indicado para tonteiras, Sem relatos de efeitos ad-
Semen Sesami Nigrum rasuradas (7) 9 a 15 g (7) visão turva, acúfenos e cons- versos e contra-indicações
tipação intestinal (7) na literatura consultada.
Gergelim preto
Salsaparrilha
Taraxacum officinalis Rasurado Colerético, orexígeno, anti- Oclusão das vias biliares (1)
2 a 10 g (1),(4) dispéptico. Laxante suave e
Herba Taraxaci cun diurético. Indicado tradicio-
Tintura 10%
Radici nalmente para furunculos,
2,5 a 15 mL (1)
Dente de leão abscessos, psoríase (1),(3)
Thuja occidentalis Tintura 20% Uso externo, hemorroidas, Deve ser utilizada preferen-
Ramulus Thujae Aplicar 2 vezes ao dia condilomas, papilomas, cialmente por via externa,
Occidentalis sobre as lesões (11) verrugas (11),(14) devido ao alto teor de
Tuia tuionas (11)
Tribullus terrestris Ext. seco pad. a 40% de Estudos clínicos não Contra-indicada na gravidez
Fructus Tribuli Terrestris saponinas esteroidais 750 a 1500 mg (SRC) demonstraram ações hormo- e lactação (9)
Tribulus nais ou adaptogênicas (9)
Trifollium pratensis Ext. seco pad. mín. Estrogênica, antioxidante, Contra-indicada na gravi-
de 8% de isoflavonas 40 a 80 mg de isofla- utilizada na Síndrome Cli- dez, lactação e em crianças
totais vonas (9) matérica para controle dos pacientes que fazem uso de
Folium Triflori Pratensi
fogachos e sudorese (11) anticoagulantes
Usar com cautela durante
Trevo vermelho, Red a terapia de reposição
clover hormonal (9),(11)
Uncaria tomentosa Ext. seco pad. min. Ação antiinflamatória, Contra-indicada na gravi-
U. guianensis de 1,3% de alcaloides 750 a 3000 mg (11) antioxidante, imunomodula- dez, lactação e em crianças
totais dora antiviral, antitumoral. menores de 3 anos, e em
Cortex Uncariae Indicada para o tratamento pacientes candidatos a ou
de osteoartrites, incluindo transplantados ou em uso
Unha de gato artrite reumatoide e outras de imunossupressores (11),(15)
colagenoses (11),(15)
Vitis vinifera sp. Ext. seco pad. em pro- Antioxidante, antilipoperoxi- Não relatadas
antocianidinas 150 a dante, antiadesiva plaquetá-
Semen Vitis Viniferae 300 mg de proanto- ria, vasoprotetora, antiinfla-
Semente de uva cini-dinas (9) matória (9)
Zea mays Rasurado Diurético e hipotensor leve Não deve ser utilizado na
(13)
Stigma Maydis 12 a 24 g (3) gravidez e lactação, por
provável ação ocitócica (3),(14)
Cabelo de milho
Os (números) na tabela referem-se às: (1) GARCÍA, 1998; (2) MATOS, 1994; (3) NEWALL et al., 1996; (4) COIMBRA, 1958; (5) MA-
TOS, 2000; (6) LORENZI; MATOS, 2002; (7) FARMACOPÉIA CHINESA, 1992; (8) BRASIL, 2004; (9) MEDICINA NATURAL, 2007;
(10) OFFERMANN, et al., 1996; (11) ROCHA et al., 2005; (12) HANSEL et al., 2002; (13) HUANG, 1999; (14) ALONSO, 1998; (15)
GILBERT et al., 2005; (16) ROTBLATT; ZIMENT, 2002; (17) BLUMENTHAL et al., 1998. [ver seção ‘Referências’]. SRC = Sem Refe-
rencias Científicas.
Dentre as 138 drogas abordadas, 45 (32,6%) delas diferentes fontes, de forma geral, apresenta alto
dispunham de extratos padronizados, e somente 30 índice de coerência quanto à segurança e eficácia
(21,7%) possuíam posologias definidas em ensaios das mesmas, propiciando sua utilização racional,
clínicos. É freqüente o fato dos extratos utilizados desde que respeitados os limites internacionalmen-
nos estudos pré-clínicos e clínicos não estarem pa- te aceitos para drogas vegetais de uso tradicional.
dronizados; além do que, muitas vezes, a padroni-
zação de extratos disponíveis no mercado difere da
Referências
utilizada nos estudos. Para a maior parte das amos-
tras pesquisadas, foi necessário recorrer ao cruza-
ALONSO, J. Tratado de Fitomedicina - Bases clíni-
mento de informações de duas ou mais fontes utili-
cas y farmacológicas. ISIS Ediciones S.R.L. Argen-
zadas na pesquisa para seleção das informações e
tina, 1998, 1039 pp.
inclusões na tabela. As maiores dificuldades foram
encontradas com as drogas derivadas de espécies
ARRECHE GARCÍA, A. Fitoterapia. Vademecum
nativas do Brasil, devido à escassez de informa-
de prescripción. Plantas medicinales. Ed. Masson,
ções científicas sistematizadas, obrigando a utili-
S.A., 1998, 1148 pp.
zação freqüente de informações de uso tradicional,
alem do reduzido numero de extratos disponíveis,
BLUMENTHAL M.; BUSSE, W.R.; GOLDBERG, A.
principalmente os secos padronizados.
(eds). The Complete German Commission E Mo-
nographs: Therapeutic Guide to Herbal Medicines.
Na definição das apresentações, foram privilegia-
Austin: American Botanical Council and Boston:
das as amostras representadas pelo maior nível de
Integrative Medicine Communications, 1998, 684
validação científica, e com padronização quantitati-
pp.
va de marcadores; enquanto que, para aquelas que
não dispunham de extratos padronizados, optou-se
BRASIL. Resolução RDC ANVISA/MS nº. 89, de
pela droga vegetal e respectivas doses, permitindo
16/03/2004. Determina a publicação da Lista de
o calculo das doses dos diferentes extratos dispo-
registro simplificado de fitoterápicos. Diário Oficial
níveis através da relação extrato:droga (E:D). De
da União, Brasília, 2004. Disponível em: http://e-le-
forma geral, as apresentações em forma de tintura
gis.bvs.br/leisref/public/showAct.php?id=10241.
não foram incluídas no trabalho, devido às freqüen-
tes incoerências na posologia, quando comparadas
COIMBRA, R. Notas de Fitoterapia. Ed. Laborato-
às das drogas vegetais correspondentes. A consul-
rio Clínico Silva Araujo S.A., 2ª ed., 1958, 429 pp.
ta a alguns laudos de qualidade dos extratos forne-
cidos pelos fabricantes resulta geralmente insufi-
FARMACOPÉIA CHINESA. Pharmacopoeia of the
ciente em informações relevantes, como por exem-
People’s Republic of China. English edition. Che-
plo, quanto ao método de extração utilizado e à re-
mical Industry Press, Beijing, China, 1992, 886 pp.
lação E:D, que influenciam diretamente a atividade,
e que, quando presentes, contribuem para orientar
GILBERT, B.; FERREIRA, J.L.P.; ALVES, L.F. Mono-
a manipulação e a prescrição dos mesmos.
grafias de Plantas Medicinais Brasileiras e Aclima-
tadas, Ed. ABIFITO, 2005, 250 pp.
Apesar dos inúmeros recursos terapêuticos à dis-
posição para a fitoterapia, as dúvidas e incoerên-
HANSEL, R.; TYLER, V.; SCHULZ, V. Fitoterapia
cias permanecem, principalmente naquelas drogas
Racional (trad.); 4ª ed. Ed. Manole, Barueri, 2002,
e extratos com processo de validação científica in-
386 pp.
completo para as diversas formas farmacêuticas e
indicações propostas.
HUANG, K.C. The Pharmacology of Chinese Her-
bs. 2nd ed., CRC Press, Lincoln, 1999. 512 pp.
Adicionalmente, não há estudos suficientes sobre
biodisponibilidade para as diferentes formas far-
LORENZI, H.; MATOS, F.J.A. Plantas Medicinais
macêuticas de fitoterápicos, principalmente nas di-
no Brasil: nativas e exóticas cultivadas. Instituto
ferenças entre infusão/decocção, formas mais tra-
Plantarum, 2002, 544 pp.
dicionais de uso, e drogas pulverizadas e tinturas.
Por outro lado, o cruzamento de informações tradi-
MATOS, F.J.A. Farmácias Vivas: sistema de uti-
cionais e científicas acerca das drogas vegetais em
lização de plantas medicinais projetado para pe-
Unitermos:
Interações Medicamentosas; Fito-
terápicos; Plantas Medicinais; Chás. Introdução
56 Revista
Revista
Fitos
Fitos Vol.3 Vol.4
Nº02 Nº01
junhomarço
2007 2009
Elaboração de uma Cartilha Direcionada aos Profissionais
Artigo Original/Original Article da Área da Saúde, Contendo Informações sobre Interações
Medicamentosas Envolvendo Fitoterápicos e Alopáticos
O presente trabalho procurou como objetivo listar Segundo a OMS, 80% da população mundial fize-
as possíveis interações medicamentosas encon- ram ou fazem uso de medicamentos derivados de
tradas na literatura com a finalidade de informar plantas medicinais (NICOLETTI et al., 2007). No
e conscientizar, principalmente os médicos, das Brasil, pesquisas demonstram que 91,9% da popu-
conseqüências da administração e uso concomi- lação já fizeram uso de alguma planta medicinal,
tantes de diferentes fitoterápicos ou destes com sendo que 46% da população mantêm um culti-
medicamentos alopáticos vo caseiro dessas plantas (VEIGA JÚNIOR et al.,
2005). A partir dessas estatísticas, os integrantes
do projeto Farmácia Verde da Faculdade de Ciên-
Metodologia cias Farmacêuticas e Bioquímicas das Faculdades
Oswaldo Cruz elaboraram a presente cartilha “In-
Os levantamentos bibliográficos foram realizados terações Medicamentosas com Fitoterápicos
nas bases de dados do Chemical Abstracts (des- e Plantas Medicinais”.
de 1986), Scielo, Bireme, Google Acadêmico e na
Base EBSCO, assim como nos anais de eventos O objetivo dessa apresentação é disponibilizar
sobre plantas medicinais. Os resultados encon- aos profissionais da área da saúde as possíveis
trados foram organizados numa tabela com cinco interações medicamentosas entre fitoterápicos
colunas: a primeira destinada ao nome popular, e alopáticos (medicamentos sintéticos), visando
a segunda ao nome científico, a terceira com as evitar complicações geradas a partir do uso in-
substâncias com as quais ocorrem interações, a correto e concomitante dos mesmos, uma vez que
quarta coluna cita os efeitos e a última está desti- como qualquer outro medicamento, o fitoterápico
nada a observações complementares (Tabela 1). apresenta efeitos curativos e colaterais (NICO-
LETTI et al., 2007). O papel do profissional da tema médico completamente diferente daquele
área da saúde é orientar o paciente e a popula- alopático ou fitoterápico que conhecemos. Ele
ção quanto às possíveis interações e riscos que estabeleceu a teoria em que a energia vital dos
os fitoterápicos possam oferecer, e a Cartilha é indivíduos poderia ser recuperada, por diluições
uma ferramenta de fácil entendimento e rápida homeopáticas, a partir de substâncias que cau-
consulta, e ainda, a parte anterior à tabela pode sassem os mesmos sintomas no homem (SILVA,
ser distribuída à população. 2007).
Acônito crua (9) Aconitum napelus L. Pinellia crua Reações tóxicas / efeitos -
colaterais
Alcachofra (22) Cynara scolymus L. Diuréticos de alça e tiazídicos O volume sanguíneo poderá -
diminuir drasticamente,
gerando queda de pressão
arterial por hipovolemia, in-
cluindo a grande excreção de
potássio (alcachofra também
é diurético)
Alecrim-pimenta (23) Lippia sidoides Cham. Antibióticos (Ampicilina, Ação potencializadora pelo Destaca-se o efeito sinér-
Cefalotina e Cloranfenicol) óleo essencial do efeito gico exercido pelo óleo es-
antibacteriano sencial de L. sidoides sobre
cefalotina na interação com
S. aureus. (bactéria Gram
positiva)
Clorpropamida Hipoglicemia -
Varfarina Sangramento -
Paracetamol - -
Aloe (9) Aloe ferax Miller Glicosídeos cardioativos e Potencialização pela redução -
agentes antiarrítmicos dos níveis de potássio ia
laxativa
Angélica chinesa (30) Angelica sinensis Varfarina e outros inibidores Aumento da protombina e -
Avé-Lall. da agregação plaquetária dos valores internacionais
normalizados (INR), aumento
de hemorragias
Boldo do Chile (22) Peumus boldus Molina Anticoagulantes Boldina causa inibição da -
agregação plaquetária
Buva (13) Conyza bonariensis L. Antibióticos Efeito sinérgico com o óleo A alcoolatura desta planta
essencial tem sido usada topicamente
no tratamento de dermatoses
Insulina Hipoglicemiante -
Efeitos antagônicos (a
Centela (22) Centalla asiatica L. Dexametasona dexametasona exerce função -
de agente supressor no pro-
cesso de cicatrização)
Efedra (9,29) Efedra sinica Stapf. Fenotiazidas hipotensão e aumento dos Fenotiazinas podem bloquear
batimentos cardíacos diminui os efeitos estimulantes alfa
a estimulação e energia. da Efedra.
Eucalipto (22) Eucalyptus globulus Medicamentos que atuam Pode intensificar os efeitos -
Labill. no SNC
Funcho (20) Foeniculum vulgare Mill. Barbitúricos Pode potencializar o sono Infusão das folhas ou decoc-
induzido por barbitúricos ção das sementes
Agentes hiperglicêmicos - -
Tiazida diurético -
O anticoagulante diminui os
níveis de INR sanguineos e
aumenta a ação psicoativa
do ginseng, causando insô- -
Varfarina nia e dores de cabeça.
O ginseng pode interagir
com a cafeína causando
hipertensão. Isso pode dimi-
nuir a eficácia da varfarina
Ciclofosfamida, Tamoxifen,
Taxol e Etoposídeo
Imipramina, Amoxapina E
Amitriptilina
Malvarisco (23) Plectranthus amboinicus Antibióticos (ampicilina, cefa- Efeito sinérgico Sinergia observada, princi-
(Lour.) Spreng lotina e cloranfenicol) palmente, na interação com
S. epidermidis
Os (números) na tabela referem-se às referências: (1) ALBERT, 2002; (3) ARAÚJO et al., 2007; (4) BAUREITHEL et al., 2007; (5)
BIFFIGNANDI et al., 2000; (6) BUTTERWECK et al., 1997; (7) BUTTERWECK et al., 2001; (8) DE MAAT et al., 2001; (9) DHARMA-
NANDA, 2000; (10) ERNEST , 2008; (11) FRANECK et al., 2005; (12) FUTURO et al., 2004; (13) HECK et al., 2000; (14) HENDER-
SON et al., 2002; (15) IOANNIDES, 2002; (16) IZZO; ERNST, 2001; (17) JENSEN et al., 2001; (18) LAMBRECHT et al., 2000; (19)
LIMA et al., 2005; (20) LONDRINA, 2006; (21) MARYLAND; 2008; (22) NICOLETTI, 2007; (23) OLIVEIRA et al., 2006; (24) RODRI-
GUEZ et al., 2003; (25) SANTANA, 2006; (27) SINGH, 2005; (28) SPARREBOOM et al., 2004; (29) VALE, 2002; (30) JUNIOR et al.,
2005; (31) WADA, 2002; (32) WINTERHOFF et al., 1995.
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1
Oliveira, M. B. S. C.; Resumo
2
*Frutuoso, V. S.
A utilização das plantas como alimentos, medicamentos e cosméticos
está relacionada à própria existência humana. O presente trabalho
discute como um país que detém quase um terço da flora mundial,
com atividade medicinal presente em inúmeras plantas, pode utilizar
esse arsenal terapêutico para produção de medicamentos fitoterápi-
Laboratório de Educação Profissional cos, dentro da filosofia do desenvolvimento sustentável. Através de
em Saúde (LATEC), Escola Politéc- levantamento bibliográfico foram identificados os diversos passos
nica de Saúde Joaquim Venâncio, da produção deste tipo de medicamento com o objetivo de analisar
Fundação Oswaldo Cruz, Avenida o fluxograma, utilizando como ferramenta a Produção mais Limpa.
Brasil 4365, Manguinhos, 21040-900, Dessa forma, postula-se que a utilização racional dos recursos natu-
Rio de Janeiro, RJ, Brasil. rais passa pela necessidade de se evitar o desperdício, melhorar o
aproveitamento, e diminuir a geração de resíduos.
Departamento de Imunofarmacolo-
2
Introdução
Unitermos: Bases Conceituais
Medicamentos Fitoterápicos,
Produção mais Limpa, Ao longo de toda história, percebe-se que, através da intuição e da
Desenvolvimento Sustentável. observação, o homem se apropriou dos princípios ativos das plantas
e passou esse conhecimento de geração em geração. Após a desco-
Key Words: berta dos antibióticos e seus derivados sintéticos, e com o avanço do
Phytotherapic, Cleaner Production, desenvolvimento tecnológico, principalmente na indústria farmacêuti-
Sustainable Development ca, o uso de plantas como medicamentos foi delegado a um segundo
plano, mas começou a ser recuperado na década de Presidência da República; Ministério da Agricultura,
70. Isso se deu, por vários motivos, mas podemos Pecuária e Abastecimento; Ministério da Ciência e
destacar dois pontos importantes. O primeiro foi o Tecnologia; Ministério do Desenvolvimento Agrário;
surgimento de uma tendência popular em substituir Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
os remédios alopáticos, que produzem muitos efei- a Fome; Ministério do Desenvolvimento, Indústria
tos colaterais, por medicamentos mais “naturais”; e Comércio Exterior; Ministério da Integração Na-
e o segundo foram as iniciativas institucionais e os cional; Ministério do Meio Ambiente e Ministério
incentivos governamentais na área da fitoterapia, o da Saúde. Ao Ministério do Meio Ambiente caberia
que induziu a um aumento da confiança dos usuá- como responsabilidade principal a elaboração de
rios, dado o suporte científico oferecido pela ciência parcerias com o Ministério da Agricultura, Pecuá-
e tecnologia, principalmente aquele voltado para o ria e Abastecimento, tendo como foco o cultivo e
controle de qualidade das drogas e medicamentos o manejo sustentável das plantas medicinais. Ao
de origem vegetal (MIGUEL; MIGUEL, 2004). mesmo tempo, colaboraria com outros órgãos afins,
no sentido de subsidiar a elaboração de regras e
Planta medicinal, segundo definição de Ferreira regulamentos relacionados ao manejo sustentável
(1998) é qualquer vegetal que tem atividade bio- de plantas medicinais nativas da flora brasileira e
lógica possuindo um ou mais princípios ativos úteis estabelecer ações conjuntas, visando promover o
à saúde humana. Fitoterápicos são medicamentos uso sustentável da agrobiodiversidade.O Minis-
que só podem ter vegetais em sua composição, tério da Saúde, além de coordenar o processo de
como substância ativa à qual pode ser, entretan- acompanhamento e avaliação da Política Nacional
to, adicionado um corante, solvente ou adoçante, de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, deve promo-
mas nunca poderá estar misturado com princípios ver a articulação intersetorial e interinstitucional
ativos sintéticos, conforme a Resolução 17 da An- para o fomento à pesquisa e ao desenvolvimento
visa (ANVISA, 2006). Nesse contexto, em junho de de plantas medicinais e fitoterápicos; assim como a
2006, o Governo Federal lançou a Política Nacional criação de redes de pesquisa desenvolvimento tec-
de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF, De- nológico, produção de bens e serviços, com vistas
creto 5.813) (BRASIL, 2006) que estabeleceu dire- à incorporação de novas tecnologias.
trizes e linhas prioritárias para o desenvolvimento
de ações pelos diversos parceiros envolvidos na Diante dessas ações, é necessário ressaltar que a
garantia do acesso seguro e uso racional de plantas industrialização e comercialização de diversas es-
medicinais e fitoterápicos no país. pécies de plantas devem obedecer a critérios téc-
nicos baseados principalmente nos teores quanti-
Segundo o Decreto, pouco se investe nas potencia- tativo e qualitativo de princípio(s) ativo(s). Nesse
lidades do uso das plantas medicinais, o que é um aspecto, convém mencionar que, dada a dimensão
descompasso dentro da filosofia produtiva baseada territorial do nosso país, a diversidade de sua flora
nos novos paradigmas de desenvolvimento econô- sofre diretamente os efeitos das “variáveis edafo-
mico e social sustentado. Villas Boas e Gadelha climáticas” (MIGUEL; MIGUEL, 2004); o que obri-
(2007) vão além, apontando que o Brasil possui ga, no processo de desenvolvimento de produtos a
quase um terço da flora mundial apresentada em partir de matéria-prima vegetal, que haja uma pa-
dez diferentes biomas, sendo o detentor da maior dronização e normalização das tecnologias envolvi-
parcela da biodiversidade, em torno de 15 a 20% do das no plantio de espécies medicinais, assim como
total mundial e pouco tem sido feito para transfor- na produção de fitoterápicos. Nesse sentido, para
mar esse potencial em vantagem competitiva, uma que um princípio ativo extraído de um vegetal seja
vez que esse desenvolvimento poderia gerar uma transformado em fitoterápico são necessárias vá-
forma de proteção e manutenção desses ecossis- rias etapas. O presente estudo procurou detalhar
temas. cada uma delas, desde o plantio, passando pela
comprovação da bioatividade, até a produção do
O documento do Ministério da Saúde ressalta que medicamento observando-se neste fluxograma de
a implementação desta política transcende os limi- atividades, a proposta de se utilizar a ferramenta
tes do setor saúde, e depende de uma articulação da Produção mais Limpa.
intersetorial “em virtude da abrangência da cadeia
produtiva de plantas medicinas e fitoterápicos” (MS A Produção mais Limpa (P+L) é definida como sen-
Decreto 5.813/2006, p.33). Entre as Instituições do a utilização contínua de uma estratégia técnica,
que fazem parte desta rede, estão: a Casa Civil da ambiental e econômica integrada aos processos,
produtos e serviços, com a finalidade de aumentar tal deste encadeamento do processo produtivo,
a eficiência no uso de matérias primas e recursos foi realizada, à luz dos parâmetros que definem a
naturais, reduzir a geração de resíduos, promoven- Produção mais Limpa (P+L). Os resultados foram
do a produção de benefícios ao meio ambiente, à discutidos à luz do referencial teórico, utilizando a
área da saúde e, finalmente, para a economia do análise de conteúdo que, segundo Triviños (1987,
país. A P+L passa pelo conceito de ecoeficiência, p.162), trata-se de aprofundar a análise desven-
que significa “a real necessidade de produzir mais dando o “conteúdo latente” que os documentos
com menos recursos, ou seja, o importante não é possuem. O autor coloca ainda, a importância de
apenas re-utilizar ou reciclar, e sim reduzir o con- se ter presente na análise, o contexto e o momen-
sumo dos produtos naturais de origem extrativista, to político e econômico, em que os documentos
e assim, o impacto negativo ao meio ambiente ex- foram produzidos.
terno” (BARATA, 2006). Segundo Silva e Medei-
ros (2006) a P+L pode ser implantada em qual-
quer setor de produção e constitui uma importante Resultados e Discussão
ferramenta para uma análise técnica, econômica e
ambiental do processo produtivo com vistas a iden- Como toda atividade produtiva, a produção de
tificar oportunidades que possibilitem melhorar medicamentos fitoterápicas passa por um conjun-
a eficiência, sem aumentar os custos para a em- to de atividades que envolvem diferentes profis-
presa. Sendo assim, a P+L embute basicamente sionais, que vão desde técnicos de nível médio até
uma abordagem preventiva de gestão ambiental, profissionais altamente especializados da esfera
evitando o desperdício, melhorando o aproveita- acadêmico-científica. Entretanto, a presente pro-
mento, e impedindo ou minimizando os impactos posta não visa abordar a rede de trabalhadores
ao meio ambiente. que participa de todas as etapas do processo pro-
dutivo, mas sim se limitar a analisar o fluxograma
da produção, tendo como enfoque o sistema de
Metodologia P+L, detalhando as etapas com seus desdobra-
mentos, e os possíveis impactos ambientais por
O estudo proposto é uma pesquisa descritiva, com eles produzidos.
abordagem qualitativa, apoiada em estudos teóri-
cos da produção de fitoterápicos, desde o plantio Figura 1 – Quadro que aponta as três Áreas
até a produção do medicamento, e foi realizado Mestras disciplinares envolvidas no desenvolvi-
através de levantamento bibliográfico e documen- mento e produção de fitoterápicos
tal e está fundamentado no conhecimento apro-
fundado do que já se produziu a respeito do tema
da pesquisa. A pesquisa descritiva tem como ca- B
racterística o levantamento de componentes de Levantamento Botânico-agronômica
um processo e elementos já conhecidos. Guba e
Lincoln (1981 apud LUDKE; ANDRÉ, 1986) des- Coleta
tacam como vantagens do uso de documentos na Manejo
pesquisa, o fato de que esses constituem uma fon-
te estável e rica, além de poderem ser consulta-
dos várias vezes, inclusive servindo de base para Química Químico-farmacêutica
diferentes estudos, o que segundo os autores dá
mais estabilidade aos resultados obtidos. Formulação
1. Área Mestra: BOTÂNICO-AGRONÔMICA A coleta inclui várias etapas. São elas a coleta para
herborização, para propagação, coleta de amostra
1.1. Levantamento e coleta para material genético (SIANI, 2003), ob-
servando-se ainda que alguns autores incluem a co-
A primeira etapa para a produção de um medica- leta dentro da etapa de levantamento. Entretanto,
mento fitoterápico é obter e garantir a identidade ressaltando a importância de se fazer um inventário
botânica da matéria prima vegetal. Nesse processo, de plantas medicinais utilizados em todo país, e op-
o pesquisador lança mão da confecção de uma exsi- tando pelo esquema de Siani (2003) na coleta para
cata, feita em uma cartolina de tamanho padrão (45 propagação é importante avaliar as informações
x 30 cm), onde a parte do vegetal é de preferência provenientes do ecozoneamento da espécie e de
costurada (podendo ser, também, colada) acompa- bancos de germoplasma, enquanto na coleta para
nhada de uma etiqueta com dados sobre o nome material genético a ferramenta utilizada é a identi-
científico (nomenclatura binária de Lineu); descrição ficação por marcadores genéticos. A atividade que
da planta; local e ambiente de coleta; coletor e data Siani (2003) denomina de Manejo Sustentado prio-
de coleta (OLIVEIRA; AKISSE,1989). Dessa forma, riza a preocupação com o meio ambiente, ao mesmo
podemos dizer que a exsicata é a unidade básica de tempo em que promove importantes estudos sobre
coleção de um herbário, pois constitui material tes- a freqüência e intensidade das espécies, além das
temunho referencial para futuros estudos. Ela deve relações ecológicas dos vegetais. Isso vai se refle-
ser registrada e numerada antes de ser incorporada tir de maneira direta na domesticação e cultivo, de
ao acervo e é preciso ter cuidados especiais em ter- maneira a não ferir as exigências legais relativas à
mos de uniformidade de secagem como a perfeita exploração da biodiversidade e obter matéria prima
exposição das folhas, frutos e/ou flores porque des- vegetal de qualidade. Dessa forma, segundo Sia-
te procedimento vai depender a qualidade da futura ni (2003, p.38) “as informações históricas, a con-
exsicata. Esta etapa pode gerar resíduos, como pa- dição cultural e os hábitos ambientais dessas co-
pelão, cartolina, barbante que, no entanto, podem munidades, integrados aos dados de fenologia, das
ser reduzidos quase a zero, se um trabalho bem re- características morfológicas e da possibilidade de
alizado utilizar a filosofia do reaproveitamento e da manejo das espécies são extremamente relevantes,
reciclagem. Deve-se evitar a utilização de plásticos, quando se objetiva a obtenção de matéria prima de
optando sempre por produtos biodegradáveis. qualidade uniforme”.
do esses autores (ibid, 2004, p.30) à luz da ética e Segundo Scheffer (1992 apud MIGUEL; MIGUEL,
valorização moral, não seria possível admitir “estilos 2004) na etapa do plantio alguns fatores são funda-
e formas de desenvolvimento que prejudiquem seg- mentais e requerem monitoramento constante, den-
mentos sociais e ou áreas geográficas, no intuito de tre eles, destacam-se as necessidades nutricionais
exploração e esgotamento de recursos naturais”. do vegetal, a ocorrência de pragas e enfermidades,
Para se evitar o menor impacto possível ao meio a densidade das plantas e interações específicas en-
ambiente, seguimos o modelo de cultivo de Matos tre elas. O plantio orgânico implica na não utilização
(1998). de agrotóxicos e fertilizantes químicos. São utiliza-
dos fertilizantes naturais, como o adubo orgânico, e
• O solo deve ser revolvido de modo que possi- pode ser feita uma cobertura de palha sobre os can-
bilite a penetração de uma vareta de madeira teiros, para evitar que a luz solar chegue até as ervas
em aproximadamente 40 cm de profundidade. invasoras, impedindo assim, o seu desenvolvimento
O espaçamento utilizado normalmente é de excessivo. É uma preocupação atual a contaminação
20 cm entre as plantas de espécies de porte das substâncias químicas provenientes da agricultu-
baixo e de 30 cm entre sulcos. Para plantas ra que, do solo, migram para rios e mares, causando
mais altas, que atinjam 1 m de altura, deve-se sérios prejuízos tanto para os ecossistemas quanto
usar 35 cm entre as plantas e 50 cm entre as para o homem. Em pesquisa divulgada pelo Instituto
linhas. Para as plantas que chegam a 2 m de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2002), o
altura, usar 50 cm entre as mesmas e 70 cm uso de agrotóxicos e fertilizantes é apontado como
entre sulcos. a segunda causa de contaminação da água no país.
• Antes do plantio, cada m2 solo deve ser tra- Na pesquisa sobre o perfil dos municípios brasilei-
tado com uma xícara (tipo de chá) de calcário ros (IBGE, 2002) a poluição dos rios e enseadas já
agrícola, uma colher (do tamanho das de sopa) foi detectada em 38% das cidades brasileiras e em
de NPK, e um quilo de esterco bem curtido 77% das do Rio de Janeiro, o estado mais atingido.
e solto ou húmus de minhoca. Molha-se toda A P+L considera então, a preocupação com os re-
terra tratada, sem precisar encharcar, o sufi- cursos naturais utilizados, a redução de resíduos e a
ciente para umedecer toda terra e depois de minimização dos impactos ambientais, objetivando,
um dia, faz-se o plantio. nesse contexto, atender o paradigma do desenvolvi-
• Deve-se manter o horto bem regado e livre de mento sustentável.
ervas daninhas, de formigas cortadeiras e de
lagartas. É importante fazer um cultivo orgâni- 1.3. Coleta e Manejo
co, evitando-se agrotóxico e, periodicamente,
adubar com esterco curtido ou, preferencial- O cuidado com o manejo na hora da colheita pos-
mente, com húmus de minhoca ou composto sui relação direta com a qualidade do medicamento
vegetal preparado no próprio horto. fitoterápico (MIGUEL; MIGUEL, 2004). O manejo
inadequado dos vegetais, freqüentemente carreia
O solo é a base do trabalho orgânico e é preciso ter contaminantes como fragmentos de madeira, restos
cuidado, uma vez que vários resíduos vão ser reinte- de outros vegetais e insetos. Dessa forma, deve-se
grados ao solo. Esterco, restos de verduras, folhas, fazer desde o momento da coleta, a triagem dos
aparas, etc., são devolvidos aos canteiros para que fragmentos que possam proceder de outras plantas
sejam decompostos e transformados em nutrientes e não coletar plantas ou partes de plantas que não
para as plantas. Essa fertilização ativará a vida no estejam rigorosamente limpas. Outra preocupação
solo e os microorganismos além de transformar a é o treinamento básico periódico dos operadores
matéria orgânica em alimento para as plantas, tor- quanto à higiene pessoal (op. cit., 2004), e o cuida-
narão a terra porosa, solta, e permeável à água e do de não permitir a entrada de animais no horto.
ao ar. O grande valor da horticultura orgânica é pro- Pode-se coletar como matéria prima de uma planta
mover a melhoria do solo. Ao invés de mero supor- as raízes, o caule e/ou folhas. Todas as espécies
te para a planta, o solo será sua fonte de nutrição. devem ser identificadas por canteiros, para que não
Utilizando a Produção mais Limpa, o plantio deve haja o risco de se coletar outra planta, uma vez que
priorizar os procedimentos mais próximos daqueles existem muitas plantas tóxicas que são nocivas ao
que ocorrem naturalmente evitando-se o adubo ar- homem. Outro cuidado é o de coletar dentro do pe-
tificial, os agrotóxicos e os ambientes artificialmen- ríodo cíclico do vegetal, sendo assim uma colheita
te construídos. das folhas é feita antes da fase de floração, as flo-
res ou as sumidades floridas devem ser recolhidas vos vegetais em canteiros de espécies diferentes
no início da floração; e as raízes devem ser retiradas ou que se alastrem pragas por conta de excesso de
do solo quando o talo murchar, ou no começo da restos de folhas.
primavera, antes que haja rebrotado. Um cuidado
relativo a minimizar o impacto ambiental produzi-
do por este procedimento é o de não retirar todas 2. Área Mestra: QUÍMICO-FARMACÊUTICA
as folhas de um mesmo ramo para permitir que a
planta continue seu crescimento e nem retirar a raiz 2.1. Química
principal, para não comprometer a sobrevida do ve-
getal (GONSALVES, 1989). A primeira análise a ser feita visa à comprovação
da matéria prima, isto é, verifica-se se houve troca
Após a coleta é feita a secagem que tem por ob- de mercadoria na remessa. A análise morfológica
jetivo retirar água do vegetal, sem modificar as é feita pelas caracterizações macroscópica, micros-
propriedades farmacológicas da planta. A secagem cópica, e organoléptica (propriedade que pode ser
pode ser feita de maneira natural, quando o vegetal percebida com os sentidos humanos) (MIGUEL;
é secado sem utilização de nenhum equipamento, MIGUEL, 2004). Analisa-se também a presença
podendo ser feito no sol ou na sombra e de maneira de contaminantes, como bactérias, fungos, ovos de
artificial, utilizando estufas. Entretanto, quando o helmintos e resíduos de inseticidas. Existem limites
processo é feito de maneira natural, deve-se cuidar estabelecidos para contaminantes, dentro das nor-
para que não aconteça em presença de calor ex- mas internacionais para testar o material botânico.
cessivo e nem de umidade muito alta. Em relação à Caso este limite seja excedido, o lote da planta é
secagem em estufas, Melo e colaboradores (2004) descartado. Aqui, deve-se cuidar para que amostras
postulavam como paradigma de temperatura ideal, vegetais não se tornem lixo, impactando o meio am-
valores até 40o C, entretanto no mesmo trabalho biente, e sejam corretamente descartadas. Dessa
(ibid, 2004, p.8) os autores concluíram que as “tem- forma, o reaproveitamento deve estar previsto, in-
peraturas do ar de secagem entre 50 e 60oC mos- clusive utilizando-o como adubo orgânico. A utiliza-
tram-se viáveis para secagem de grande numero de ção de meios de cultura para cultivo de bactérias e
plantas medicinais estudadas”. Nesse ponto, vale fungos deve ser feita de maneira racional, evitando
a pena observar se realmente há necessidade de desperdícios e geração de resíduos para descarte.
se elevar a temperatura de 40o C para 60o C, uma Após o período de incubação, havendo crescimento
vez que esse procedimento aumentará o gasto de de bactérias patogênicas ao homem, o lote deve ser
energia, no caso de se manter o mesmo tempo para descartado (MIGUEL; MIGUEL, 2004). Outra preo-
a secagem do mesmo material. cupação é com o material contaminado proveniente
das técnicas, que deve seguir o procedimento de
Uma preocupação válida, nessa etapa é que, uma descarte de resíduos, proposto e validado pela Ins-
vez coletados, folhas, caules e raízes devem ser tituição.
dessecados separadamente. O processo de seca-
gem deve ser feito com muita atenção, pois se for Depois de aprovado pela análise, o material vegetal
feito de maneira imprópria, a matéria prima pode é moído para o processo subseqüente de extração
perder qualidade ou ser contaminada por fungos, do(s) princípio(s) ativo(s). Nessa fase são levados
prejudicando dessa maneira a qualidade do medi- em consideração as características do material ve-
camento fitoterápico. Dentro dessa fase, ainda há getal, o seu grau de divisão, o meio extrator (sol-
poucos estudos sobre a relação da velocidade do ar vente) e a metodologia (SIMÕES, 2000). As princi-
de secagem com o princípio ativo. Na pesquisa de pais técnicas de extração são: maceração, infusão,
Melo (2004), os autores recomendam o valor de 0,5 decocção, percolação, soxhlet e microondas. Todas
ms-1 como valor de partida em dimensionamento elas utilizam solventes, sendo que, em algumas de-
de secadores. Numa produção dentro da filosofia las, o único usado é a água. A escolha do solvente
P+L procura-se, dentro do possível, utilizar a se- está relacionada à sua seletividade já que o poder
cagem natural com intuito de economizar recursos de penetração do solvente depende, principalmen-
naturais, aproveitando a energia solar. Outro ponto te, da consistência dos tecidos que formam o mate-
importante é o cuidado com o meio ambiente, evi- rial vegetal a ser extraído devendo possuir a capa-
tando, assim, que se espalhem pedaços de vegetais cidade de retirar apenas a(s) substância(s) que se
para outros locais, impedindo o crescimento de no- procura, e na maior quantidade possível (SIMÕES,
2000). Em outros testes, as extrações de princípios em conta “os aspectos de segurança, eficiência
ativos estão associadas a um gradiente de polarida- extrativa, toxicidade, agressão ao meio ambiente
de, e de um modo geral, são utilizados solventes de e seletividade, constata-se que o poder extrati-
baixa polaridade, como o hexano. Já as substâncias vo varia muito pouco de um solvente para outro”
polares são extraídas mais facilmente com solven- (ibid, 2006, p.370). Ainda nesse trabalho, sobre a
tes, como o metanol (PARCARELLI, 2006). otimização do processo de extração e isolamento
do princípio antimalárico artemisinina, os autores
Segundo Simões (2000, p.167), na escolha de um concluem que o hexano empregado para extração
solvente, além da disponibilidade e do custo do sol- do princípio ativo eleva em muito o conteúdo de
vente, existem outros fatores relacionados a uma impurezas apolares; e por isso o substituem por
boa qualidade do processo extrativo. Ainda devem etanol, uma vez que, este se revelou ter um poder
ser considerados “a toxicidade e/ou riscos que seu extrativo comparável aos demais, porém com me-
manuseio representa, e a estabilidade das substân- nor toxicidade e custo. Também foi testado o em-
cias extraídas”. Em relação à toxicidade e/ou riscos prego da tradicional sílica gel para purificação dos
do solvente devem-se observar o problema por três extratos, e o resultado mostrou que esta utilização
ângulos. O primeiro se refere ao produto, que deve se tornou incompatível pelo custo, uma vez que se
cumprir os critérios científicos e metodológicos para visava à escala industrial. Uma solução encontrada
assegurar a qualidade das preparações. O segundo neste estudo foi a aplicação do Zeosil em substitui-
tem como foco o trabalhador que o manipula, e está ção à sílica gel tradicional. Dentro desse raciocínio,
relacionado aos fatores de riscos e toxicidade que verifica-se que os autores fizeram uma avaliação
desencadeiam as doenças ocupacionais. Por último, simultânea entre a obtenção de matéria prima de
mas não menos importante, existe a preocupação qualidade, custo e impacto ambiental. Este exem-
com o meio ambiente, uma vez que resíduos e po- plo ilustra como a P+L deve ser utilizada, apontan-
luentes provenientes da fase de extração podem do que dentro de cada etapa, esses três parâme-
ocasionar contaminações no solo, na água e no ar, tros devem ser identificados e avaliados de modo
às vezes de maneira irreversível. No processo de a evitar o desperdício, melhorar o aproveitamento
extração através da Produção mais Limpa, este úl- e impedir ou minimizar os impactos ao meio am-
timo item deve ser levado em consideração, além biente. Outro ponto importante, a ser abordado na
do custo dos solventes, e a utilização racional de etapa de isolamento e purificação é o do consumo
recursos naturais. de recursos naturais, uma vez que a maioria dos
equipamentos utiliza energia elétrica. Segundo Di
2.2. Formulação Stasi (1996) não existe uma técnica única capaz de
resolver todos os problemas envolvidos durante a
Após o processamento de extração, começa-se a separação de componentes de uma mistura e, por
fase de isolamento e purificação do princípio ativo. isso, deve-se combinar duas ou mais técnicas cro-
Nesta fase são utilizadas metodologias complexas, matográficas para se obter um melhor resultado.
com equipamentos de última geração, tais como
cromatografia gasosa, HPLC (High Performance
Liquid Cromatograph) e Cromatografia Líquida 3. Área Mestra: BIOMÉDICA
acoplada ao Espectrômetro de Massas. Em relação
a essas metodologias, devem-se avaliar dois pon- 3.1- Farmacologia
tos importantes: o preço e o impacto ambiental.
No trabalho de Rodrigues e colaboradores (2006) Os estudos toxicológicos e farmacológicos com-
os autores apontam as preocupações nas etapas põem o estudo de verificação da atividade, aplica-
de extração e separação por cromatografia em co- bilidade terapêutica e grau de toxicidade do vegetal
luna, concluindo que algumas técnicas de extração (MIGUEL; MIGUEL, 2004). Isso é muito importan-
e purificação, descritas em literatura, são simples, te, uma vez que muitas plantas medicinais apresen-
contudo utilizam solventes caros (como acetonitri- tam substâncias que podem desencadear reações
la), ou agressivos ao meio ambiente (como diclo- adversas, seja por seus próprios componentes, seja
rometano). Nesse sentido para se determinar o pela presença de contaminantes nas preparações
melhor solvente, testaram os seguintes solventes: fitoterápicas, exigindo um rigoroso controle de qua-
tolueno, diclorometano, tetracloroetileno, metanol, lidade desde o cultivo, coleta da planta, extração
hexano e etanol, e afirmaram que, quando se levam de seus constituintes, até a elaboração do medi-
camento final (TUROLLA; NASCIMENTO, 2006). relevantes são, a experiência da equipe executora,
Sendo assim, quando chega nessa fase, já foram as condições dos laboratórios, a qualidade dos ani-
realizados estudos farmacológicos e toxicológicos mais e a definição clara dos objetivos dos testes.
de extratos brutos e de substâncias ativas isola-
das e purificadas. Aqui, deve-se proceder segun- Para a avaliação de bioatividade são utilizados dois
do os protocolos listados pela Portaria nº 116 da tipos de testes. O primeiro conhecido como bioen-
Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS, saio faz uma análise comparativa através de siste-
1996) e pela Resolução nº 90 da Agência Nacional mas-teste com a atividade biológica de uma subs-
de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2004 – Anexo 1) tância já conhecida, que é denominada de padrão.
para os ensaios pré-clínicos. Os bioensaios farma- A utilização de bioensaios para o monitoramento
cológicos e toxicológicos realizados in vivo e in vitro da bioatividade de extratos, frações e compostos
vão definir a eficácia, mecanismos de ação e po- isolados de plantas tem sido frequentemente in-
tencial toxicológico de determinado medicamento corporada à pesquisa fitoquímica (NOLDIN, 2003).
fitoterápico objetivando contribuir para a validação O outro tipo é o ensaio clínico; que representa a
da droga vegetal e do fármaco. “A etapa pré-clíni- eficácia em seres humanos, e onde se compara,
ca deve ser realizada em três espécies de animais de maneira objetiva, os resultados de um grupo
de laboratório, uma das quais não deve ser roedor” teste com os do grupo controle, sendo que neste
(MIGUEL; MIGUEL, 2004, p.37). Nesse contexto, tipo de teste não se pode quantificar a potência da
a equipe desempenha um papel fundamental, visto substância e nem obter um gráfico em relação à
que, mesmo seguindo a Legislação Sanitária e a dose-resposta (PASCARELLI, 2006). Nessa etapa
Farmacopéia Brasileira existe sempre a possibilida- do fluxograma, a preocupação em relação a P+L
de de se escolher a melhor alternativa em termos é em relação aos produtos químicos utilizados. A
de custo e cuidado com o meio ambiente (RODRI- equipe deve listar todo procedimento dos testes
GUES, 2006) sem perder o rigor técnico e conse- de bioatividade com o objetivo de substituir, dentro
quentemente a qualidade do produto. Outro ponto das normas da farmacopéia, os solventes e reagen-
importante diz respeito ao uso de animais em expe- tes que apresentam comprovado efeito de poluição
rimentações científicas, que ora suscita um debate ambiental. Caso isso não seja possível, deve-se
ético, onde se apregoa a substituição por testes in proceder corretamente o ou verificar a possibilida-
vitro, sempre que possível, sem perder a qualidade de de reciclagem dos solventes. Para isso, o depar-
e descumprir a legislação sanitária vigente. tamento ou a Instituição deve instituir Normas de
Coleta e Tratamento de Resíduos, dentro de proto-
As plantas medicinais são muito importantes como colos devidamente padronizados e validados. Den-
fonte natural de fármacos, pois contêm o complexo tro dessa visão, Calia e Guerrini (2006) concluíram
fitoterápico, que é um aglomerado de substâncias em seu trabalho, que o líder de projeto, juntamente
naturais que atuarão em conjunto, desta maneira com a sua e equipe, devem fazer um diagnóstico
existirá uma grande chance de obter-se uma molé- das causas da poluição e dos desperdícios, visando
cula protótipo devido à diversidade de constituintes definir soluções e novos procedimentos.
presentes nestas (NOLDIN, 2003). No entanto,
inúmeras plantas que são usadas em preparações Em relação aos testes de toxicidade, estes com-
fitoterápicas precisam “de um maior controle de plementam a eficácia do fitoterápico, e devem dar
qualidade, uma vez que a literatura científica indica aos experimentadores as provas sobre a segurança
que muitas destas podem apresentar substâncias das doses a serem administradas, para o sucesso
tóxicas ou composição química variável” (ibid, 2003, na terapêutica sem riscos de danos aos pacientes.
p.332). Para isso, são feitos testes de bioatividade Estes estudos podem ser divididos em: Dose Letal
e toxicidade em laboratórios de farmacologia, com 50% (DL50); Toxicidade aguda – doses simples; To-
a finalidade de avaliar a atividade biológica do prin- xicidade aguda – doses repetidas; Toxicidade sub-
cípio ativo vegetal e identificar e avaliar os efeitos crônica e Toxicidade Crônica (Di Stasi, 1996). Vale
tóxicos relacionando-os com a dosagem utilizada, ressaltar que os testes de toxicidade são feitos in
respectivamente. Sendo assim, “os testes de toxi- vitro e in vivo, o que acarreta, logo de início, dois
cidade geral devem guardar relação dose-efeito sa- problemas. O primeiro está relacionado aos testes
tisfatória e permitir estabelecer relação causa-efei- em animais e, conseqüentemente, aos problemas
to” (SIMÕES, 2000, p. 189). Outros fatores que levantados pelos Comitês de Ética em Experimen-
os autores (Ibid, 2000) consideram extremamente tação Animal; e o segundo envolve a percepção das
indústrias do setor farmacêutico no que se refere como abordado ao longo do trabalho, e o processo
à gestão ambiental, os problemas com efluentes e produtivo de qualquer medicamento é complexo,
resíduos gerados no desenvolvimento, e a produ- rigoroso e tecnicamente muito especializado. Os
ção dos medicamentos. Apresentam-se assim os ensaios clínicos têm como objetivo identificar efei-
temas que, na atualidade, constituem os maiores tos colaterais e caracterizar toxicidade dos produ-
desafios para o setor farmacêutico, a substituição tos fitoterápicos, assim como de quaisquer outros
do modelo animal nos testes farmacológicos e a medicamentos. Segundo Miguel e Miguel (2004,
minimização do impacto ambiental, gerado pelos p.43) “o protocolo clínico deve atender a Resolução
produtos químicos envolvidos nas análises. 08/88 do Conselho Nacional de Saúde (CIPLAN,
1988), bem como ao princípio ético, científico, com
Poder-se-ia listar diversos ensaios toxicológicos, padrões internacionais de aceitação para ensaios
entretanto cada estudo possui várias possibilida- desta natureza”. Os ensaios devem seguir as Di-
des de métodos. Por exemplo, Noldin (2003) utiliza retrizes Internacionais Ética e Pesquisa em Seres
a técnica de Meyer 17, onde 2mg/ml dos extra- Humanos (WHO, 1993), que apresentam os prin-
tos hexânico, diclorometano, butanólico, acetato cípios gerais – condensados em quinze diretrizes
de etila, e também dos compostos cinarosídio e – com a finalidade de proteger os direitos e o bem
cinaropicrina e do controle positivo (sulfato de qui- estar dos voluntários que participam da pesquisa
nidina), preparados em solução aquosa de sal ma- (MIGUEL; MIGUEL, 2004). Segundo os mesmos
rinho sintético (38g/L) com 1% DMSO (v/v), são autores (ibid, 2004, p 48) está prevista ainda no
incubados em placas “multiwell” durante 48 h com protocolo, a execução de “dois tipos de ensaios,
Artemia salina (n=10) a 30o C. Os solventes or- definidos como ensaios agudos e ensaios subagu-
gânicos de baixa polaridade como o diclorometano dos ou crônicos. Todos os produtos fitoterápicos
e o acetato de etila apresentam um alto índice de serão testados no mínimo em ensaios agudos”. Em
impacto ambiental, uma vez que não são miscíveis relação, aos testes laboratoriais adotados, a mes-
em água e não são biodegradáveis. Por sua vez, ma filosofia da Produção mais Limpa, discutida ao
por serem facilmente dissolvidos em gordura, são longo do trabalho, deve ser seguida.
altamente tóxicos, pois ultrapassam a membrama
plasmática. A maioria é neuro-tóxica. Em relação
ao ensaio in vivo, o uso da Artemia salina apresen- Considerações Finais
ta um problema irreversível ao meio ambiente, uma
vez que é uma espécie em vias de extinção. O presente estudo não inclui a parte final do flu-
xograma, denominada Produto, devido à comple-
Não há aqui a pretensão de entrar no mérito e xidade das atividades realizadas nessa etapa, tais
detalhamento de cada técnica, nosso objetivo ao como: tratamento e purificação de água para inje-
colocar esse exemplo é apresentar a dificuldade e táveis; lavagem, secagem e esterilização dos fras-
complexidade que uma equipe vai enfrentar ao uti- cos e rolhas utilizados para envase; envasamento
lizar a ferramenta da P+L nessa etapa do processo (líquido ou comprimido); liofilização (quando ne-
produtivo. Essa constatação, não deve ser encara- cessário), recravação, rotulagem e acondiciona-
da como um obstáculo ou uma visão pessimista na mento do produto final. A aplicação da P+L nessa
implantação dessa filosofia de produção, mas sim, etapa, merece considerações aprofundadas, prin-
como um desafio e principalmente um olhar de es- cipalmente no uso de recursos naturais e na pro-
perança, na possibilidade de se obter medicamen- dução de resíduos e poluentes. Estes temas serão
tos de qualidade que causem menos impactos ao abordados num trabalho posterior.
meio ambiente.
Outro ponto a ser destacado é a falta da práxis
Os ensaios clínicos constituem uma ferramen- nesta pesquisa, que se propôs a ser um estudo
ta importante para a avaliação de produtos para basicamente teórico dos procedimentos, técnicas
a saúde. Todo medicamento que vai ser colocado e testes aplicados neste processo produtivo. En-
no mercado passa por diversas etapas de pesqui- tretanto, nesse momento impõe-se uma reflexão
sa, produção e testes, até ser aprovado pelo ór- sobre a necessidade de se incluir aspectos prá-
gão competente do país de origem do fabricante ticos da rotina de produção, com o objetivo de
que, no caso do Brasil, é o Ministério da Saúde. enriquecer as discussões em relação à Produção
A avaliação clínica é a ponta final do fluxograma, mais Limpa. E finalmente, mais do que apresentar
BRASIL. Aprova a Política Nacional de Plantas Me- OLIVEIRA, F.; AKISSUE, G. Fundamentos de Far-
dicinais e Fitoterápicos e dá outras providências. macobotânica. Atheneu Editora, São Paulo, 1989.
Decreto Interministerial no. 5.813 de 22/06/2006.
Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/ PASCARELLI, B.M.O.; ROCHA, M.E.N.; FRU-
Abstract
81
Revista Fitos Vol.4 Nº01 março 2009 Revista Fitos 81
Vol.4 Nº01 março 2009
Atividades Antimicrobiana e Antioxidante
Tópicos em Debate/Debate
da Própolis do Estado do Ceará
pação em fazer uso de produtos menos agressivos, tipos foram separados, identificados e quantificados
de origem natural, ou o mais próximo possível des- por faixas de concentração. Isto é, a classificação é
ta origem. Por tal motivo, remete-se à pesquisa de quantitativa. Todos os dados relatados sobre o teor
produtos extraídos de plantas medicinais e outros dos marcadores empregando-se a cromatografia lí-
produtos naturais com valor conhecido, comprova- quida de alta eficiência (CLAE), foram comprovados
do ou não, que são ofertados à indústria. Um dos por CLAE-EM (espectrometria de massas) empre-
melhores exemplos, são produtos que contenham gando-se também uma análise por fingerprint de
em seus constituintes, flavonóides, como é o caso massas (SAWAYA et al., 2004). O outro fator impor-
das própolis (BURDOCK, 1998). Os flavonóides tante da tipificação é que será possível confeccionar
são compostos polifenólicos naturais largamente produtos farmacêuticos, cosméticos e de higiene
distribuídos principalmente nos vegetais superiores oral, conhecendo-se o tipo de própolis empregada e
(angiospermas). Muitos deles apresentam ativida- as quantidades dos componentes bioativos presen-
de biológica como, por exemplo, podem-se citar as tes, características não relatadas anteriormente em
atividades antioxidante, antiinflamatória, antibac- publicações e patentes sobre própolis.
teriana que têm um grande potencial de exploração
na área cosmética (PIETTA, 2000). O objetivo deste estudo foi o de verificar a ativida-
de antimicrobiana e antioxidante, e analisar a com-
A própolis é utilizada popularmente no tratamen- posição das própolis coletadas nos municípios de
to de infecções, em problemas de pele e, também, Beberibe, Crato e Parambú, localizados no Estado
como antiviral e antiúlcera (DOBROWOLSKI et do Ceará, região nordeste do Brasil, nunca antes
al., 1991). Estimula o sistema imunológico, é cica- estudadas para a sua inclusão na tipificação.
trizante em escaras de decúbito e apresenta ativi-
dade antibiótica frente às bactérias gram positivas
(MIORIN et al., 2003). A própolis possui também Material e métodos
atividades, como anti-séptica, antifúngica, antipi-
rética, adstringente e antiinflamatória; e também Própolis
possui ação comprovada frente ao Bacillus subti-
As amostras de própolis utilizadas neste trabalho
lis e Candida albicans (SALOMÃO et al., 2008).
foram coletadas em três diferentes regiões do es-
Foi descrita a sua ação contra bactérias endodôn-
tado do Ceará, a saber: Beberibe, Crato e Param-
ticas (FERREIRA et al., 2007). Krol e colaborado-
bú localizadas, respectivamente nas microrregiões:
res (1993) relataram o efeito sinérgico da própolis
Litoral de Fortaleza, Cariri e Inhamuns. As amos-
associada a antibióticos, contra Staphylococcus
tras cedidas pelo SEBRAE/Ceará e foram armaze-
aureus.
nadas em sacos plásticos na geladeira.
Tais informações serviram como estímulo para de-
Processo de extração
senvolver um processo de controle de qualidade
deste produto, já que o melhor indicador da origem A própolis em estado bruto foi extraída em soxhlet,
botânica da própolis é a análise da sua composição acoplado a manta aquecedora para balão de fundo
química comparada com a provável fonte vegetal. A redondo, contendo 250 mL de álcool etílico (Eci-
determinação da origem geográfica e, principalmen- bra). Um cartucho de papel de filtro foi preparado
te, a origem vegetal aliada às suas características e pesado, onde foram adicionados 8 g da amostra,
fisico-químicas, se faz importante no controle de que por sua vez permaneceu no soxhlet até sua
qualidade e até mesmo na padronização das amos- total extração pelo solvente. Após esta etapa foi
tras de própolis para uma efetiva aplicação terapêu- realizada uma filtração simples para a retirada da
tica (MARCUCCI, 1995). Recentemente, Marcucci cera. As amostras foram transferidas para rotae-
(2006a) mostrou a tipificação da própolis brasileira. vaporador, até que todo solvente se evaporasse,
A principal característica desta tipificação é que restando apenas a própolis pura, denominada de
possibilitará a agilização do mercado deste produto “extrato mole”. Em seguida, foram preparados ex-
apícola, desde o campo até à indústria farmacêutica tratos etanólicos na concentração de 10% (m/V).
e cosmética, favorecendo a estas utilizarem a tipifi-
cação para a confecção dos seus medicamentos e Determinação do teor de sólidos solúveis
cosméticos, com controle de qualidade estabeleci-
do, já que os marcadores principais dos diferentes Para cada um dos extratos, foi determinado o teor
de sólidos solúveis, pesando-se um becker e no-
tando-se o seu peso. Foram pipetados 5 mL do A figura 1 mostra um exemplo de cinética de des-
extrato obtido em soxhlet no becker levando-o à coloração do DPPH, empregando-se a própolis de
estufa a 60 ºC até a secura. Retirou-se o becker, Beberibe.
deixando-o atingir a temperatura ambiente em
dessecador. Em seguida, este foi pesado, repetin- Análise de fenóis totais em própolis bruta
do-se a operação até se obter um peso constante.
Foram pesados 0,1 g do extrato seco (mole) de
Desta forma, foi possível calcular a quantidade de
própolis obtida na determinação de teor de sólidos
sólidos solúveis no extrato. O procedimento foi re-
solúveis. Dissolveu-se com um pouco de etanol,
alizado em triplicata.
em seguida, transferiu-se para um balão volumé-
trico de 50mL, completando-se o volume com água
Atividade antioxidante
destilada (solução estoque). A partir deste ponto o
procedimento foi realizado em triplicata.
A atividade antioxidante foi analisada pelo método
de seqüestro de radicais de DPPH (radical dife-
Transferiu-se uma alíquota de 200 mL da solução
nilpicrilidrazila) (HATANO et al., 1989; BANSKO-
estoque de própolis, para um balão volumétrico de
TA et al., 2000) que se baseia em uma reação de
10mL, contendo aproximadamente 5mL de água
óxido-redução. Os extratos etanólicos de própolis
destilada. Foram adicionados 800 mL do reagente
foram diluídos a 0,01% (V/V). Em seguida, 8 tubos
Folin-Ciocalteau (Merck, Darmstadt, Alemanha)
foram enumerados de 0 até 7. Adicionaram-se os
agitando-se o balão por alguns segundos em um
volumes de etanol (Ecibra), correspondentes às
intervalo de 1 a 8 minutos. Em seguida, foram
diluições do teste. Em seguida, foram adiciona-
acrescentados 1,2 mL da solução de Carbonato-
dos os volumes de própolis para se obter as con-
tartarato de sódio (Carbonato de sódio e Tartarato
centrações finais desejadas. Um volume de 1000
de sódio da Ecibra) completando-se o volume com
μL de DPPH (radical difenilpicrilidrazila, Sigma,
água destilada até próximo ao menisco. A solução
St.Louis, USA a 60 mM) foi adicionado no 1º tubo
foi mantida em banho-maria a 20 °C por 2 horas.
e o cronômetro ligado, desligando-o depois de um
Decorrido este tempo, acertou-se o volume final.
minuto. O mesmo volume de DPPH foi adicionado
A leitura foi realizada em espectrofotômetro em
nos outros tubos a cada 1 minuto. A leitura foi re-
760nm. Este método foi validado pela empresa Na-
alizada em espectrofotômetro (Cary 50 da Varian,
tural Labor (2007a).
EUA) em 517 nm após 30 minutos da adição do
DPPH no 1º tubo. Foi construído um gráfico (em
Análise de flavonóides na amostra bruta pró-
%) de DPPH versus concentração de própolis (mg/
polis
mL) e calculada a CE50 (concentração de própolis
que elimina 50% dos radicais livres) pela planilha, Foram utilizados 0,05 g do extrato mole de própo-
empregando-se o método dos mínimos quadrados. lis, onde se adicionou uma pequena quantidade de
Própolis Fenóis totais % (m/m) Flavonóides totais % (m/m) DPPH (CE50 mg/mL)
Beberibe 5,17 0,18 8,09 0,30 14,83
Crato 9,49 0,26 6,68 0,23 15,53
Parambú 3,71 0,03 1,17 0,05 56,29
Figura 2 – Parâmetros analisados para as três Figura 3 – Correlação entre a atividade antioxidan-
própolis do Ceará. te e o teor de flavonóides nas própolis do Ceará.
A própolis Beberibe apresentou uma CIM (con- os apicultores do Estado do Ceará, podem agregar
centração inibitória mínima) de 400 μg/mL con- valor a essas própolis, investindo em aplicações de
tra S. aureus e de 550 μg/mL para C. albicans. melhores técnicas de manejo, de tal forma a produ-
A bactéria E. coli não foi inibida por nenhuma zi-las em escala comercial, conquistando mercado
própolis, como já constatado na literatura (FER- nacional e internacional, gerando aumento no nú-
NANDES JR. et al., 1995). A própolis não tem mero de empregos e melhoria na qualidade de vida
ação antimicrobiana sobre bactérias Gram ne- da população cearense.
gativas. As própolis de Crato e Parambú não
inibiram os microrganismos em nenhuma das
concentrações. Todos os resultados foram nega- Agradecimentos
tivos.
As autoras agradecem ao SEBRAE-CE na pes-
A própolis de Beberibe apresentou os melhores re- soa do Sr Vandi Matias Gadelha pelo envio das
sultados para a atividade antioxidante e a antimi- amostras e aos apicultures do projeto Apis-CE
crobiana, inibindo S. aureus e C. albicans. Portanto, (SEBRAE).
Resumo
Gonçalves, R. S. B.; Barreto, M. B.;
Gomes, C. R. B.; *Souza, M. V. N. Atualmente, os fármacos disponíveis no combate ao vírus da AIDS
podem ser classificados em seis categorias: (a) inibidores da trans-
criptase reversa análogos de nucleosídeos (ITRNs), (b) inibidores da
transcriptase reversa não nucleosídeos (ITRNNs), (c) inibidores de
protease (IPs), (d) inibidores de fusão (IFs), (e) inibidores de entrada
(IEs) e (f) inibidores da integrase (IIs). Devido à rápida disseminação
do vírus HIV resistente aos diversos fármacos disponíveis no merca-
do, é necessário e urgente o desenvolvimento de novos fármacos na
luta contra a AIDS. Neste contexto, o objetivo desse artigo é desta-
car promissores produtos naturais capazes de atuar na enzima tras-
criptase reversa, a qual é essencial para a replicação do vírus HIV.
Introdução
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Revista Fitos Vol.4 Nº01 março 2009 Revista Fitos 87
Vol.4 Nº01 março 2009
Produtos Naturais Inibidores da Transcriptase
Estado da Arte/State of the Art
Reversa do Vírus HIV
Produtos Naturais no Desenvolvimento Até o início do século XX, 80% dos medicamentos
de Fármacos utilizados eram obtidos a partir de raízes, folhas
e sementes (McCHESNEYet al., 2007), e ainda
Durante milhares de anos, as plantas vêm sendo hoje esses produtos representam uma das prin-
utilizadas pelo homem com fins medicinais, alivian- cipais ferramentas no desenvolvimento de novas
do sintomas e auxiliando no tratamento de doenças. moléculas bioativas. Isso é devido à imensa diver-
Relatos históricos mostram que nos primórdios de sidade estrutural e a enorme variedade de grupos
nossa civilização, no antigo Egito, doenças de pele funcionais e centros estereogênicos presentes
já eram tratadas com a ingestão de macerados de nestas moléculas, bem como pela capacidade de
plantas seguida por exposição ao sol (GALINIS et al., interagir com diferentes alvos terapêuticos (VIE-
1996). Hoje, sabe-se que a substância ativa trata- GAS et al., 2006; PINTO et al., 2002). O plane-
se de um psoraleno (Figura 1), uma furanocumarina jamento de novos fármacos a partir de produtos
que ainda é utilizada no combate a doenças de pele naturais pode ser feito de diferentes maneiras.
como a psoríase e o vitiligo. A psoríase é uma doença Essas substâncias podem ser utilizadas direta-
bastante freqüente, ocorrendo na mesma proporção mente, como são encontrados na natureza, como
em homens e mulheres e caracterizada pelo apa- é o caso da daunorubicina (Figura 2), uma naf-
recimento de lesões avermelhadas e descamativas toquinona que apresenta atividade antineoplási-
na pele (CESTATI et al., 2001). Já o vitiligo é uma ca, extraída do fungo Streptomyces peucenticus
doença não contagiosa que atinge de 0,5% a 2,0% (FERREIRA et al., 2003). Também podem servir
da população mundial e caracteriza-se pela perda da como protótipos, como os exemplos dos nucleo-
pigmentação da pele (STEINER et al., 2004). sídeos espongouridina, espongotimidina, de ori-
gem marinha (Figura 3), isolados a partir da es-
Figura 1 – Esqueleto básico dos psoralenos ponja Cryptotethya crypta (=Tectitethia crypta)
para o combate às doenças de pele (BERGMANN; BURKE, 1955), que resultaram
em fármacos de grande importância clínica, para
o tratamento de infecções virais, tais como Ara-
A (vidarabina), Ara-C (citarabina), ACV (aciclo-
vir) e AZT (zidovudina) (Figura 4) (DE CLERCQ,
No trabalho publicado por Newman, Cragg e Snader naturais; já em 2001 houve uma queda para 24%, e
(2003), é possível verificar a relevância do estudo de em 2002 este patamar se manteve em 26%. Apesar
produtos naturais para a descoberta de novos fárma- da queda nesses dois últimos anos, o primeiro e o
cos. Dentre as substâncias lançadas no mercado no terceiro lugares foram ocupados por derivados de
período entre 1981 e 2002, mais da metade eram de produtos naturais em 2001, sendo esses a atorvas-
origem natural ou derivaram dessas fontes de algu- tatina e a sinvastatina (Figura 7) (BUTLER, 2004),
ma forma. Desses, 5% eram produtos naturais sem utilizadas no combate ao colesterol (AINSWORTH,
sofrer nenhuma modificação, 23% eram derivados 2007). Já em 2002, a atorvastatina manteve-se na
semi-sintéticos, 4% sintéticos, mas com grupos far- primeira posição e a sinvastatina ocupou o segundo
macofóricos baseados em produtos naturais, e 20% lugar. Em 2007, a atorvastatina continuou a liderar o
eram produtos naturais “mimetizados” (BUTLER, ranking, gerando um lucro de 13,5 bilhões de dóla-
2004) . No ranking dos 35 fármacos comercializados res para a empresa que detém sua patente (FORTI;
sob prescrição médica em 2000, 40% eram produtos DIAMENT, 2004).
O desenvolvimento de novas tecnologias vem con- formado por duas subunidades: a p66, onde estão
tribuindo ainda mais para o destaque da química localizados os sítios responsáveis pela atividade
de produtos naturais no âmbito farmacêutico. Es- enzimática; e a p51, que não contribui diretamen-
tas permitem contornar determinadas dificuldades te para as funções catalíticas. Essas subunidades
como a de obter produtos puros, altos rendimen- juntas são semelhantes a uma mão direita e seus
tos, e suficiência para atender à demanda do mer- diferentes subdomínios são conhecidos como de-
cado. Alguns exemplos de avanços nesta área são dos, palma e polegar (SALA; VARTANIAN, 1998;
listados abaixo: GÖTTE; WAINBERG, 2000).
• O desenvolvimento de técnicas analíticas
como a cromatografia líquida de alta eficiên- A transcrição reversa é o primeiro passo do ciclo de
cia (CLAE), que permite a separação de subs- replicação do HIV após o conteúdo do capsídeo vi-
tâncias orgânicas com rapidez e eficiência; ral ser liberado na célula hospedeira. Durante esse
• Os avanços nas técnicas espectroscópi- processo, a TR realiza diferentes funções. Inicial-
cas, como a ressonância magnética nucle- mente, essa enzima atua como uma DNA-polime-
ar (RMN) uni e bidimensional, que permite rase dependente de RNA. A TR utiliza o RNA viral
a elucidação estrutural em curto espaço de como molde para a síntese de uma fita de DNA,
tempo; chamada de fita “menos” e o primer utilizado pela
• O aperfeiçoamento das fontes utilizadas enzima para a síntese dessa fita é uma seqüên-
para a obtenção de novos produtos naturais, cia de RNA transportador da célula hospedeira.
como por exemplo os microorganismos, os Na segunda etapa, a TR desempenha a função de
quais são fontes renováveis e podem ser cul- RNAse H, degradando a fita molde de RNA. Entre-
tivados mais facilmente, quando comparados tanto, determinados segmentos conhecidos como
a plantas e animais; segmentos de polipurina (PPT da sigla em inglês)
• O avanço da síntese orgânica, que permi- são mantidos. Esses segmentos apresentam uma
te a síntese de substâncias complexas com seqüência não usual que os protege da degrada-
altos rendimentos e em um número reduzido ção, e servem como primer na etapa seguinte do
de etapas; processo, onde a TR funciona como uma DNA-
• Desenvolvimento da biossíntese combina- polimerase DNA-dependente, então sintetizando
torial, que permite a modificação estrutural uma segunda fita de DNA - a fita “mais”, que tem
de substâncias obtidas a partir de microorga- como molde a fita “menos” (Figura 8). Por fim, a
nismos e a introdução de novos grupos fun- dupla fita de DNA é incorporada ao genoma da cé-
cionais a essas substâncias, que normalmen- lula hospedeira a partir da ação de outras enzimas
te não é possível a partir da síntese orgânica virais (DE CLERCQ, 2001b; ARNALD; SARAFIA-
tradicional; NOS, 2008).
• Inovações no seqüenciamento de molécu-
las de DNA e em tecnologias de bioinfomá- A importância da TR no ciclo de replicação do HIV
tica, que auxiliam na identificação de genes tornou essa enzima um dos principais alvos far-
responsáveis pela produção de substâncias macológicos explorados no combate a esse vírus.
bioativas. Dessa forma, é possível identificar Dentre os 24 anti-retrovirais disponíveis no mer-
espécies com o potencial de produzir subs- cado, 11 são inibidores da TR, dentre eles o AZT,
tâncias de interesse farmacológico e predi- um análogo de nucleosídeo descoberto na década
zer a estrutura de determinadas substâncias de 60, que foi o primeiro fármaco aprovado para o
(McCHESNEY et al., 2007; LAM, 1007). combate à AIDS. O desenvolvimento desse com-
posto foi uma importante contribuição da natureza
Produtos Naturais Inibidores que forneceu o protótipo utilizado para o seu de-
da Transcriptase Reversa senho (BERGMANN; BURKE, 1955; ARNOLD;
SARAFIANOS, 2008). Atualmente inúmeras subs-
Como qualquer retrovírus, o HIV replica-se trans- tâncias isoladas de plantas, fungos e organismos
formando seu material genético, uma fita simples marinhos que apresentam atividade anti-retroviral
de RNA, em uma fita dupla de DNA, que poste- são descritas na literatura. Muitas delas ainda são
riormente é incorporada ao genoma da célula hos- pouco exploradas, demonstrando que a química
pedeira. Esse processo, denominado transcrição de produtos naturais tem muito a contribuir para
reversa, é catalisado pela enzima viral conhecida o desenvolvimento de novas terapias contra essa
como transcriptase reversa (TR), um heterodímero, doença. A seguir, são listadas diferentes classes de
metabólitos secundários que apresentaram resul- O xantohumol (Figura 10) é uma prenilchalcona, iso-
tados expressivos frente ao HIV e foram capazes lada do Humulus lúpulos, constituinte presente na
de inibir a atividade da TR em ensaios in vitro. cerveja, que contém uma vasta fonte de flavonóides.
Além de apresentar atividade antineoplásica em linha-
Figura 8 – (a) Síntese da fita “menos” de DNA gens de células de câncer de mama, colum e ovário;
tendo como molde a fita de RNA viral. (b) A TR antioxidante e inibitória frente à proliferação dos vírus
atua como RNAse H degradando a fita molde HSV-1 e HSV-2, causadores do herpes, o xantohumol
de RNA, porém, os segmentos de polipurina demonstrou resultados bastante sugestivos em con-
(PPT) são mantidos. (c) Síntese da fita “mais” centrações não-tóxicas em relação ao HIV-1, com um
de DNA. A enzima utiliza os PPTs como primer EC50 igual a 3,21 μM e inibindo a produção de TR em
linfócitos C8166 com um EC50 de 1,22 μM (WANG et
al., 1994).
como o farnesol ou conter anéis, que apresentam ído da planta E. agallocha, mostrou-se um potente
atividade antimicrobiana. Os diterpenos consistem inibidor da TR com IC50 igual a 6 μM (ERICKSON
em vinte átomos de carbonos (quatro unidades de et al., 1995). Obtidos a partir do extrato da raiz da
isopreno) como o cembreno e o retinal, que dão ori- Maprounea africana, os triterpenos pentacíclicos:
gem aos hormônios de crescimento vegetal, e os tri- ácido 1-β-hidroximaprounico 3-p-hidroxibenzoato e
terpenos consistem em trinta átomos de carbonos o ácido 2α-hidroximaprounico 2,3-bis-p-hidroxiben-
(seis unidades de isopreno), como os esteróides, e zoato exibiram IC50 igual a 3,7μM (PENGSUPARP,
apresentando inúmeras funções biológicas. O áci- 1994), já os triterpenos ácido betulínico, lup-20(29)-
do nigranóico (Figura 11) é um triterpeno isolado ene-3β,30-diol e o ácido-3β -hidroxi-up-20(29)-en-
da Schisandra sphaerandra, uma planta distribuída 30-óico (Figura 11), isolados das folhas e galhos de
pelo sul da China utilizada pela medicina tradicio- Cratoxylum arborescens, apresentaram valores de
nal chinesa no tratamento de distúrbios estomacais, IC50 8,7 e 8,9 μg/mL (REUTRAKUL et al., 2006).
seu IC50 foi igual a 99,4 μg/ml frente ao HIV-1 e Diferentes sesquiterpenos inibidores da TR foram
76,7 μg/mL frente ao HIV-2 (SUN et al., 1996). O isolados a partir do Eucalyptus globulus. Essas
gênero Excoecaria é conhecido pela produção de substâncias são denominadas como macrocarpais, e
metabólicos tóxicos. Dados históricos reportam a caracterizam-se pela presença de unidades floroglu-
utilização de suas folhas e látex como veneno de cinol em sua estrutura. O macrocarpal B apresentou
flechas utilizadas para a pesca por povos da Ma- o resultado mais expressivo, com um IC50 de 5,3 μM.
lásia, da Caledônia, uma possessão francesa na Os macrocarpais A, C, D e E (Figura 11) apresenta-
Oceania, e de Goa, um estado da Índia na Costa do ram os respectivos IC50 de 10, 8, 12 e 8 μM (NISHI-
Mar da Arábia. No Paquistão, plantas desse gênero ZAWA et al., 1992). Os garciosaterpenos A e C (Fi-
eram utilizadas como purgativo, abortivo e no tra- gura 11), triterpenos isolados da Garcinia speciosa,
tamento de úlceras, reumatismo e lepra. O 13-(3E, apresentaram os significantes IC50 de 15,5 e 12,2
5E-decadianoato)-12-deoxiforbol (Figura 11), extra- mg/mL (RUKACHAISIRIKUL et. al, 2003).
Conclusão Referências
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cos, estratégias e tratamentos que apresentem 20/11/2008.
maior potência, menores efeitos colaterais, amplo
espectro de ação contra diferentes variações do AINSWORTH, S.J. Firms invent new strategies to
vírus e custo reduzido, faz-se necessário. Tendo deflect generic competition and stem growing safe-
em vista a importância dos produtos naturais no ty concerns, Pharma adapts. Chemical & Enginee-
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*Silva-Lopez, R. E. Resumo
*Correspondência: Abstract
Email : rlopez@far.fiocruz.br
Proteases and their inhibitors are found in all living organisms. The-
se enzymes have crucial functions and their activities are regulated
by many mechanisms, including inhibitors, but if their activities are
not under control they can develop diseases and ultimately death.
Natural inhibitors are variable sized peptides and are classified by
the inhibited protease type. Serine protease inhibitors are among
the major and most important inhibitors expressed in plants, and will
Unitermos: be the focus of this revision. They are classified as: canonical inhi-
Inibidores de Proteases de Plantas; bitors, non-canonical and Serpins, according to their structure and
Peptídeos; Serino-Proteases mechanism of action. Plants can express inhibitors constitutively or
are induced by external stimuli and they confer resistance against
Key Words: parasites, insects, larval, microorganisms, plagues and pathogens.
Protease Inhibitors; Peptides, They are mainly expressed in seeds and grains, killing or repelling
Serine Protease invader organisms. Many investigations are been conducted in or-
der to purify, characterize the plant serine prote- maquinaria gênica para a síntese do inibidor da re-
ase inhibitors and to evaluate their effects on the ferida atividade proteolítica. No campo da agricul-
treatment of a large number of human pathologies. tura, algumas plantas geneticamente modificadas,
In addition, some inhibitors have already been tes- expressando inibidores de enzimas proteolíticas
ted in phase II clinical studies, such as soybean digestivas de insetos, pragas e pestes, têm sido
BBI. introduzidas em culturas; e os resultados obtidos
apontam para um aumento considerável na resis-
tência destas plantas aos agentes agressores em
Introdução questão (RAWLINGS et al., 2004).
segundo o banco de dados MEROPS (versão 7.6), característico de cada família é o que dá o nome
contém informações de proteases, suas estruturas, a ela; este inibidor é via de regra o melhor carac-
características cinéticas e bioquímicas; assim como terizado bioquímica, cinética e estruturalmente, e
seus inibidores (RAWLINGS; MORTON, 2008). A geralmente é o primeiro membro descoberto (RA-
Tabela 1 é uma compilação de todas as famílias de WLINGS; MORTON, 2008). Estas famílias são ain-
inibidores de proteases com seqüências peptídicas da agrupadas em grandes clãs. O clã designa uma
depositadas em bancos de dados, como SWISS- linha evolucionária de inibidores que é definida pelo
PROT, TrEMBL e PDB. tipo de enovelamento. Um clã contém uma ou mais
famílias completas, desde que todos os membros
Uma família é um conjunto de inibidores com se- destas famílias assumam o mesmo tipo de estrutu-
quências homólogas e esta é dada por uma signi- ra tridimensional (RAWLINGS; BARRET, 1993). A
ficante similaridade da estrutura primária com um maior família de inibidores são as Serpinas (I4) com
exemplar de uma família. Uma família pode conter mais de 500 inibidores com sequências determina-
um ou vários inibidores, e um simples produto gêni- das, resolvidas e depositadas em banco de dados,
co pode possuir diversos domínios inibitórios. Cada Por outro lado existem famílias como I5, I24, I34,
família é denominada pela letra “I” e pode ainda I36, I40, I44 e I46, que são representadas por ape-
ser dividida em subfamílias quando existir ances- nas um único inibidor (RAWLINGS et al., 2004).
tral divergente na família. O representante mais
de enxofre na sua estrutura primária (Figura 2) e, mama, cérvix, cabeça, pescoço, pulmão, de su-
por conta desta grande estabilidade, os BBI de- primir o crescimento de tumores enxertados em
monstram possuir grande potencial de aplicação camundongos, de bloquear a tumorigênese indu-
clínica (QI et al., 2005). São utilizados em plantas zida por estrogênios em células de mama, dentre
transgênicas para conferir defesa contra insetos outros efeitos em outras linhagens tumorias e em
e para o tratamento de enfermidades humanas. tumores sólidos (CLEMENTE; DOMONEY, 2006).
As larvas de Diatraea saccharalis alimentam-se Estudos in vivo mostraram que os BBI previnem
das folhas de cana-de-açúcar e crescem sobre e suprimem o desenvolvimento de cânceres como
ela. Experimentalmente, quando se introduzem os adenocarcinoma anal e de cólon, esôfago, pulmão,
genes do BBI e Kunitz da soja nesta gramínea, o linfosarcoma e carcinoma oral, em diferentes mo-
crescimento da larva é drasticamente reduzido, e delos animais induzidos por distintos agentes car-
a produção de cana bastante aumentada (FALCO; cinogênicos (LOSSO, 2008). É importante ressal-
SILVA-FILHO, 2003). tar que muitos BBI naturais ou modificados como
Os BBI de leguminosas possuem uma importan- seqüências ativas do BBI, resultantes da hidrólise
te atividade anticarcinogênica e radioprotetora. da sua estrutura primária, como os loops que se
Adicionalmente, tem sido observado que as po- ligam diretamente à enzima, já se encontram em
pulações com dietas ricas em leguminosas e em estudos clínicos de Fase I e II para o tratamento
gramíneas apresentam baixa incidência de cânce- de vários tipos de neoplasias (CLEMENTE; DO-
res de cólon, próstata, orofarígeo, mama e pele MONEY, 2006; LOSSO, 2008). Os BBIs também
(KENNEDY, 1998). Este efeito possivelmente é demonstraram grande potencial de aplicação em
resultante da inibição da proteólise provocada dengue, pois foi reportado um importante efeito
pelas células transformadas já que necessitam inibitório na protease viral NS3, essencial na repli-
das proteases para os eventos de metástase, cação do vírus do Dengue (SAMPATH; PADMA-
angiogênese, crescimento tumoral e proliferação NABLAN, 2008). Além disso, os BBIs e seus res-
(DELL’AICA, 2007). Estudos in vitro têm demons- pectivos esqueletos canônicos (porção estrutural
trado que os BBI, em concentrações nanomolares, do inibidor responsável pela inibição; ver Figura
são capazes de suprimir a transformação de célu- 2) são inibidores potentíssimos da atividade das
las malignas induzidas por raios-X, de inibir a pro- serino-proteases humanas Triptase, Matriptase e
dução do radical livre ânion superóxido por células Elastase leucocitária – que são enzimas envolvi-
humanas leucêmicas de linhagem de pro-mielóci- das em várias desordens inflamatórias, alérgicas
to, de potencializar a morte induzida por radiação e degenerativas como asma, esclerose múltipla,
e cisplatina em vários cânceres humanos como de artrite reumatóide, enfisema pulmonar, fibrose
e a antitripsina, que são proteínas plasmáticas es- é derivado do grego, que se referia à queda das
senciais na regulação das cascatas de coagulação folhas das árvores no outono - um exemplo de mor-
e de inflamação e suas deficiências resultam em te programada fisiológica (WILLIAMS; DICKMAN,
tromboses e em enfisema pulmonar, respectiva- 2008). É importante destacar que a apoptose parti-
mente (RAWLINGS et al., 2004). Enquanto que cipa da diferenciação dos órgãos da planta, desde a
a grande maioria das Serpinas controla cascatas senescência à resposta ao estresse como hipóxia,
proteolíticas, outras não inibem a atividade enzi- temperaturas extremas e oxidação (ROBERTS; HE-
mática, mas exercem uma diversidade de funções. JGAARD, 2008). As Serpinas de origem humana e
São armazenadoras de proteínas, como a ovalbu- de outros animais têm sido utilizadas com grande
mina; proteínas de transporte de hôrmonios, como sucesso na terapêutica de muitas patologias. Plan-
as globulinas de ligação da tiroxina e do cortisol; ou tas transgênicas que carregam genes que codificam
são supressoras de genes tumorais com a maspina Serpinas são amplamente utilizadas na agricultura,
(ROBERTS; HEJGAARD, 2008). São proteínas de mas apenas recentemente os estudos de Serpinas
médio tamanho (cerca de 400 aminoácidos), cuja de plantas apontam para uma aplicabilidade clínica.
estrutura terciária consiste de três β-hélices (A, B Um exemplo disto é a expressão de um Serpina de
e C), nove α-hélices e um loop central reativo que é um arroz trangênico que se mostrou bastante efe-
exposto na superfície do inibidor (RCL), com cerca tiva na redução e no controle da pressão arterial
de 25 resíduos entre as A e C (Figura 4). Ao rea- (YANG et al., 2006).
gir irreversivelmente com o sítio ativo da enzima
através do RCL, a enzima cliva o inibidor e esta Figura 4 – Modelo de estrutura tridimensional
clivagem induz uma profunda alteração conforma- de uma Serpina. O inibidores são formado por
cional tanto do inibidor quanto da enzima. De um três β-hélices (em setas), nove α-hélices (espi-
modo geral, as Serpinas são inibidoras irreversíveis ral) e um “loop” na porção superior que é a RCL
das serino-proteases da família quimiotripsina, mas (OTLEWSKI J et al., 2005).
outras enzimas são também inibidas como tripsina,
trombina, elastase, fatores da coagulação, e tam-
bém algumas cisteíno-proteases (OTLEWSKI et
al., 2005).
dade, estes inibidores são facilmente administra- tors from Stichodactyla helianthus. Toxicon, v.34,
dos oralmente. A observação de que são eficien- p.1367-76, 1996.
tes contra microorganismos e parasitos, apontam
estes inibidores de proteases de plantas com um DELL’AICA, I.; CANIATO, R.; BIGGIN, S.; GARBI-
enorme potencial para o desenvolvimento de novos SA, S. Matrix proteases, green tea, and St. John’s
fármacos, sugerindo uma maior eficiência e efeitos wort: Biomedical research catches up with folk
adversos menos agressivos para o hospedeiro. No medicine. Clinical Chimical Acta, v.381, p.69–77,
entanto, as pesquisas sobre os inibidores de pro- 2007.
teases provenientes de plantas são relativamente
recentes, e é necessário que as investigações nes- FALCO, M.C.; SILVA-FILHO, M.C. Expression of
ta área sejam intensificadas para a melhor com- soybean proteinase inhibitors in transgenic sugar-
preensão destas estruturas. O entendimento do cane plants: Effects on natural defense against
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empregada como sedativa, antiinflamatória, anties- les (SIMÕES et al., 1984) e alcoólico das inflores-
pasmódica e contra desordens intestinais (LOREN- cências (LANGELOH; SCHENKEL, 1982) apresen-
ZI , 2000; ROCHA et al., 1989). Na forma de chá, tam atividade antiespasmódica, que pode justificar
as inflorescências também são utilizadas contra seu uso no tratamento de certos distúrbios do trato
náuseas, cólicas e dores epigástricas (LANGELOH; gastrointestinal (SIMÕES et al., 1984; LANGELOH;
SCHENKEL, 1982). O extrato das flores apresen- SCHENKEL, 1982). Esta característica pode ser atri-
ta atividade antibacteriana e analgésica (POLI et buída, pelo menos em parte, à presença de querceti-
al., 1988). A planta tem ações anti-séptica, diges- na (II) e 3-metoxiquercetina (SIMÕES et al., 1986).
tiva (SONAGLIO et al., 1992) e é usada em casos A quercetina também é um dos componentes majo-
de bronquite, dor de barriga e para facilitar o parto ritários nos extratos hidroetanólicos de comprovada
(MARQUESINI, 1996). No Paraguai é utilizada como ação antiinflamatória (SONAGLIO et al., 1986). O
agente antiinfeccioso (LIMA et al., 1990). O extrato extrato etanólico de suas folhas e flores promove a
aquoso de folhas e caules de Achyrocline satureioi- lise das formas sanguíneas do Trypanosoma cruzi
des é usado na medicina popular para o tratamento (ROJAS DE ARIAS et al., 1995). Sua propriedade
de distúrbios gastrointestinais (KREIN et al., 1996; antitumoral foi verificada, mostrando que o extrato
MORS et al., 2000), epilepsia, reumatismo, nevral- de flores de macela inibe in vitro o crescimento de
gias, dores articulares e musculares (LORENZI; MA- células carcinogênicas em 67% (LORENZI; MA-
TOS, 2002). As partes aéreas da macela produzem TOS, 2002). A atividade antiviral dos flavonóides da
um chá aromático e amargo, estomáquico e antide- Achyrocline satureioides pode ser identificada frente
sentérico, muito usado para má digestão e gastrites à replicação do poliovírus e de alguns vírus herpéti-
(MORS et al., 2000). cos. Já outros compostos similares aos flavonóides
são inibidores da replicação do vírus da influenza (gri-
Uso em cosméticos: Pedidos de patentes suge- pe), do vírus do HIV, do citomegalovírius e do rinovírus
rem que Achyrocline satureioides tem potencial (SIMÕES et al., 1990; AMOROS et al., 1992; CHE,
para diferentes usos em cosméticos. A planta pos- 1991). Pesquisadores americanos demonstraram que
sui propriedades que permitem sua utilização como o extrato aquoso quente de suas flores secas apre-
clareador vegetal para cabelos em formulações sentou propriedades antivirais in vitro contra célu-
cosméticas (MARQUES, 2005). O extrato das fo- las T-linfoblastóides infectadas com HIV(13). Estudos
lhas, galhos, raízes, sementes ou da planta inteira, é realizados revelaram que o extrato etanólico da se-
utilizado para prevenir a oxidação dos componentes mente de Achyrocline satureioides apresenta capa-
lipídicos e para desordens oxidativas da pele, atu- cidade inibitória significativa contra Bacillus subtilis
ando como um agente antioxidante na composição e Staphylococcus aureus (MARTINS et al., 1988).
de preparações de uso tópico. Essa extração pode O extrato diclorometano da folhas de A. satureioides
ser feita utilizando um álcool de baixo peso mole- apresentou também componentes bioativos distintos
cular (WADA et al., 1998). A macela é utilizada em contra Bacillus subtilis (UCHIMA et al. 1999), já o
formulações para os cabelos. A empresa Ecologie óleo volátil obtido das sumidades floridas por arraste
Cosméticos utiliza a planta em xampus, visando o a vapor, apresenta ausência de atividade antimicro-
seu poder de redução da fragilidade dos fios (ECO- biana contra Staphylococcus aureus, Escherichia
LOGIE COSMÉTICOS, 2008). A sua capacidade de coli e Candida albicans, sugerindo que as atividades
clareamento de cabelos é aproveitada pela Amend antissépticas e antibióticas observadas pelo uso po-
Cosméticos em formulações de complexos ilumina- pular e em testes farmacológicos, seja proveniente de
dores da cor (AMEND COSMÉTICOS, 2008). Já a outros compostos presentes nas partes aéreas das
sua ação antiinflamatória e calmante é utilizada em plantas e que não são destiladas por arraste à vapor
tônicos capilares da Daasz Cosméticos Orgânicos (SONAGLIO et al., 1992). O extrato de suas flores
(DAASZ COSMÉTICOS, 2008). apresenta significativa atividade repelente (98,5%),
sugerindo, segundo os autores, possibilidades de seu
Farmacologia e Atividade biológica: O interesse uso como repelente de insetos (DAL MAGRO et al.,
clínico da macela é recente, seus usos na medici- 1998). Outras pesquisas corroboram o uso do extra-
na natural têm sido avaliados desde 1980. Estudos to de A. satureioides como inseticida (ROJAS DE
da macela em animais demonstraram propriedades ARIAS et al., 1995). Extratos aquosos apresentam
analgésicas, antiinflamatórias e relaxantes, poden- atividade genotóxica em organismos procarióticos.
do explicar seu uso em problemas gastrointestinais, Essa atividade está relacionada com a presença de
e problemas respiratórios como a asma (LORENZI; quercetina e ácido cafeico no extrato (VARGAS et al.,
MATOS, 2002). O extrato aquoso das folhas e cau- 1990; FACHINETTO et al., 2007). O extrato metanó-
lico revelou atividade contra carcinoma hepatocelular planta no tratamento da obesidade, merecendo então
humano, porém há necessidade de estudos comple- estudos posteriores (DICKEL et al., 2007). Extratos
mentares (RUFFA et al., 2002). Diferentes extratos, aquosos da A. satureioides têm um potente efeito
com diferentes composições de ativos, obtidos das contra a oxidação do LDL humano in vitro. A capaci-
inflorescências da A. satureioides, apresentam gran- dade antioxidante é dependente da concentração do
de potencial antioxidante, porém extratos com altas extrato, indicada como 4 μg/ml. Até agora a hipóte-
concentrações de flavonóides revelaram um efeito se é de que esse efeito antioxidante ocorreria in vivo
pró-oxidante em estudos realizados com culturas de (GUGLIUCCI; MENINI, 2002). Segundo um pedido
células de Sertoli, induzindo aumento na peroxidação de patente, o extrato da A. satureioides possui efei-
de lipídeos (efeito citotóxico) (POLYDORO et al., to neuroprotetor in vivo que é obtido principalmente
2004). Na investigação da propriedade sedativa da por mecanismos antiapoptóticos. O extrato pode ser
macela em camundongos, usando o extrato aquoso usado na prevenção e no tratamento de isquemia
(chá) de macela, verificou-se a redução da locomoção vascular, doenças neurodegenerativas e lesões cere-
dos camundongos e o aumento da porcentagem de brais causadas devido ao envelhecimento (HEIZEN;
quedas, sugerindo que o extrato de macela apresenta DAJAS, 2003). A macela pode ainda servir como
efeitos característicos de substâncias depressoras do “bioindicador” revelando contaminação ambiental por
sistema nervoso central (POLI et al., 1988). Foram metais pesados, como o zinco e chumbo (PIVA; POR-
isoladas frações polissacarídicas de extratos aquosos TO, 1998).
ou alcalinos aquosos de A. satureioides que conforme
testes em granulócitos (WAGNER et al., 1984), apre- Composição química: A análise fitoquímica da
sentaram uma significante atividade imunoestimula- macela mostra que é fonte rica de flavonóides sin-
dora (MORS et al., 2000; WAGNER et al., 1984), po- gulares. Muitas de suas atividades são atribuídas
rém, de acordo com outros estudos, o extrato aquoso aos flavonóides, assim como aos terpenos (mono
da Achyrocline satureioides apresentou propriedades e sesquiterpenos) isolados da planta (LORENZI;
inibidoras da ativação linfocitária, sendo demonstra- MATOS, 2002). As partes aéreas da planta contêm
da pela diminuição da secreção de IL-2 (SANTOS et óleo essencial com alfa e beta-pineno, flavonóides e
al., 1996). Estudos farmacológicos de A. satureioides outros compostos fenólicos, além de polissacarídios
mostraram que os extratos aquosos a frio e a quente (MORS et al., 2000). Os extratos são também ricos
e o extrato etanólico a frio, apresentam atividade an- em compostos fenólicos não flavonóicos como o áci-
tiinflamatória, reduzindo significativamente o edema do caféico e ácido clorogênico e flavonóides como
da pata do rato induzido por carragenina. Este efeito flavonas, luteolina (I) e quercetina (II) (GUGLIUC-
antiinflamatório poderia estar vinculado à presença CI; MENINI, 2002; SAITO et al., 2005). Do extrato
de compostos flavonoídicos (SIMÕES; BAUE, 1984). acetônico das folhas secas de A. satureioides, foram
Dados pré-clínicos indicam que a planta possui poten- isolados três flavonóides, que já haviam sido obtidos
cial no controle de condições associadas à obesidade, de fontes naturais ou de síntese (LIMA et al., 1990)
como altos níveis de glicose sangüínea, indicando uma (Figura 1). Os componentes responsáveis pelo gosto
possível utilidade para o tratamento de certas obesi- amargo e pela adstringência característica do chá da
dades, contudo, os dados científicos encontrados são marcela são os glicosídeos e os flavonóides (FER-
insuficientes para garantir a eficácia e segurança da NANDES et al., 1996).
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Botânica: Erva com muitos ramos prostrados com pêlos longos e es-
branquiçados. Folhas cilíndricas, suculentas de aproximadamente 2 cm.
Flores localizadas nos ápices de ramos, rodeadas por pêlos longos. As
*Correspondência: pétalas são de coloração púrpura à amarelada. Frutos maduros arre-
E-mail: lbarata@iqm.unicamp.br dondados de cor marrom, abrindo-se por uma fenda circuncisa e com
muitas sementes (BAILEY, 1949; STEYEMARK, 2004). Espécie com
muitas subespécies, variedades e formas devido a sua plasticidade fe-
notípica. Utilizada também como ornamental (BAILEY, 1949).
Unitermos:
Portulaca pilosa, Portulacaceae, Produ- Distribuição Geográfica: América tropical e subtropical (STEYEMA-
tos Naturais, Planta Medicinal, Cosmé- RK, 2004).
ticos, Amor-crescido
anos, tendo passado de um faturamento líquido de et al. 2000) e por isso encontrado nas boticas e
impostos sobre vendas de R$ 6,6 bilhões em 1999 feira do Ver-o-Peso em Belém na forma de cremes
para R$ 13,1 bilhões em 2004 e US$ 8,1 bilhões em e loções. Segundo o fabricante Artesanato Juruá,
2006. Entre as quase 1.500 indústrias de Cosméticos o xampu de Amor-crescido apresenta propriedades
apenas 15 são consideradas grandes, na sua maioria para o fortalecimento das raízes do cabelo, esti-
empresas multinacionais que faturam 2/3 de todo o mulando seu crescimento, além de conferir brilho e
mercado, as outras, 1.485 empresas são médias, pe- maciez ao cabelo, o que facilita a escovação (NA-
quenas e, sobretudo micro empresas. São nestas pe- TURELE COSMÉTICOS, 2008). A Universidade
quenas e micro-empresas, principalmente aquelas do Federal do Pará possui uma formulação de xampu
Norte e Nordeste, que as plantas brasileiras, muitas contendo Amor-crescido, produto utilizado como
delas medicinais, têm sido crescentemente utilizadas, tônico capilar, e o condicionador com extratos des-
e que as tornam competitivas. Outros fatores têm ta planta, utilizado para desembaraçar os cabelos
contribuído para o excelente crescimento do setor de (UFPA, 2008). O extrato da Portulaca pilosa pro-
cosméticos, principalmente, a participação crescente move a inibição in vitro da tirosinase de cogumelo
da mulher brasileira no mercado de trabalho e o au- a níveis acima de 90%. Esta característica pode di-
mento da expectativa de vida, que traz a necessidade recionar o desenvolvimento de agentes para o cla-
de conservar uma impressão de juventude. reamento da pele e preparações antiescurecimen-
to, sendo necessário porém estabelecer testes em
Uso Etnomédico: O amor-crescido (Portulaca pi- melanócitos humanos (BAURIN et al., 2002).
losa) é uma planta utilizada popularmente por todo
o Brasil, principalmente no Norte, como estomáqui- Farmacologia e Atividade Biológica: A Portulaca
ca, diurética, cicatrizante, analgésica, em casos de pilosa é usada pela medicina popular como diuréti-
doenças hepáticas, malária, úlceras (DA SILVA et co. Entretanto, estudos verificaram que os extratos
al., 1998), diarréia, disenteria, cólica, nas hemopti- hidroalcoólicos desta planta possuem efeitos re-
ses, nefrites e como vermífugo (REVILLA, 2002). nais, aumentando a excreção de potássio, mas não
As folhas são usadas em compressas para serem apresentam ação diurética ou mudança na excreção
aplicadas topicamente no tratamento de queima- de sódio como acreditado pela população (ROCHA
duras, erisipelas (MORS et al. 2000), feridas, erite- et al., 1994). A atividade de inibição da tirosinase
mas e icterícia (REVILLA, 2002). O chá das folhas de cogumelo in vitro pode vir a ser aplicada contra
de amor-crescido pode ser usado para desinfetar melanomas, se realizados os testes em melanóci-
chagas e fortalecer o sangue (MORS et al. 2000). tos humanos para a confirmação dessa atividade
Seu uso tópico como cicatrizante, no tratamento (BAURIN et al., 2002).
de queimaduras, em erisipelas, feridas e eritemas,
e desinfetante tópico, lhe indica como candidata ao Composição Química: Foram isolados da parte
uso em Cosmética. aérea da Potulaca pilosa os diterpenos majoritários
pilosanona A, B (OHSAKI et al. 1987), e o diterpe-
Uso em cosméticos: No norte do Brasil esta planta no minoritário pilosanona C (OHSAKI et al. 1995).
é empregada em xampus para queda de cabelo e Da raiz foram isolados pilosanol A, B, C (OHSAKI
como fortalecedor de crescimento capilar (MORS et al., 1991).
*Correspondência:
E-mail: lbarata@iqm.unicamp.br Família: Malpighiaceae.
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Revista Fitos Vol.4 Nº01 março 2009 Revista Fitos Vol.4 Nº01 março 129
2009
Plantas Medicinas Brasileiras.
Estado da Arte/State of the Art
III. Heteropterys aphrodisiaca Machado (Nó-de-cachorro)
utilizadas pela população matogrossense ten- nação motora e o tempo de sono, demonstrando
do, como veículo, bebidas alcóolicas. A planta é uma possível ausência de efeito tóxico (GALVÃO
usada no tratamento de ácido úrico, debilidades et al., 1998). Estudos mostraram que o extrato
nervosas, doenças venéreas, males uterinos, das raízes de H. aphrodisiaca apresenta proprie-
antidisentérica, tônico e como afrodisíaco (AR- dade antioxidante cerebral, sendo usada como
RUDA; CAMARGO, 2000a; 200b). Benzedeiras, protetora de lesões oxidativas em cérebros de
parteiras e raizeiras utilizam partes desta planta, ratos jovens, por inibir a interação dos radicais
como as folhas, em chás e banhos. Estas formas livres com as biomoléculas presentes no cérebro
de uso são indicadas para males e enfermidades (MATTEI et al., 2001). Este mesmo extrato foi
como: depurativo do sangue, diarréia, reumatis- capaz de melhorar a memória e o aprendizado de
mo, estimulante sexual (MACEDO; FERREIRA, ratos idosos (GALVÃO et al., 2002). Pesquisas
2000; NETO et al., 2000), estimulante do SNC revelaram que o nitrocomposto 2,3,4,6-tetra-O-
e energético. No cerrado do Mato Grosso, a raiz (3-nitropropanoil)-ß-D-glicopiranose obtido do
e folhas jovens da planta são utilizadas para extrato BST-0402 das raízes de H. aphrodisiaca,
irritação e inflamação ocular, assim como para possui atividade antibacteriana contra Staphylo-
agravos da catarata (MACEDO et al., 2004). coccus aureus e Bacillus subtilis, atividade an-
Utiliza-se o cálice das flores na forma de chás, tifúngica contra Candida albicans, C. parapslo-
e estes tem ação antiespasmódica, diurética, di- sis, C. krusei e C. tropicalis e atividade antiviral
gestiva, laxante suave e aromatizante. A planta contra o Poliovírus Hep2 (ROMAN JR., 2003; DE
é também empregada na indústria alimentícia; MELLO et al., 2005). A partir do extrato BST-
para a fabricação de geléias, licores, vinhos e 0298 também se obteve um nitrocomposto com
molhos picantes (GALVÃO et al., 1998). A plan- atividade antiviral contra o Poliovírus e contra o
ta é sobretudo utilizada com fins medicinais e a BHV-1 (herpes bovino tipo 1), além de uma fra-
sua importância é refletida pelas três patentes ção aquosa com atividade virucida, por inibir a
solicitadas ao INPI (CARLINI, 2003; BIOSIN- formação de plaques (MELLO, 2004).
TETICA; UNIFESP, 2000) duas sobre processos
de obtenção, uma delas por uma empresa far- Composição Química: Em H. aphrodisiaca foi
macêutica e outra que indica suas propriedades detectada a presença de flavonóides, antracenos,
farmacológicas de ação virucida, antifúngica e polifenóis, taninos e cardiotônicos. O isolamento
antibacteriana de substâncias fenólicas do extrato total de H.
aprodisiaca foi feito por cromatografia em colu-
Farmacologia e Atividade Biológica: Foi ve- na, onde foram isoladas três substâncias identi-
rificado que H. aphrodisiaca, após tratamento ficadas como sendo dihidroflavonóides astilbina,
agudo em camundongos, apresentou efeito es- neoastiobina e isoastiobina (Tabela 1) (PIERI et
timulante por via oral, não alterando a coorde- al., 2000; MARQUES et al., 2007).
Uso etnomédico: A eficácia e segurança das pre- muricata é rica em compostos bioativos que apresen-
parações populares com a Annona muricata não fo- tam atividades antitumoral, antifúngica, antiviral e de
ram ainda comprovadas cientificamente, apesar das inibição de enzimas, cujas funções estão intimamente
folhas, ao contrário da fruta, serem consideradas relacionadas com a conformação molecular destes ci-
potencialmente tóxicas para o homem. O decoto das clopeptídeos (WU et al., 2007); além de outras ativi-
folhas é muito utilizado contra diarréia e espasmos, dades como antibacteriana, antiparasitária, antiespas-
e o chá é empregado como agente emagrecedor e módica, citotóxica, hipotensiva, vasodilatadora (DE
como medicação contra alguns tipos de câncer. Suas CARVALHO et al., 2000), imunossupressora (KIM et
sementes são usadas com função emética e adstrin- al., 1998) e pesticida (KIM et al., 1998; ABDULLAH;
gente, e suas cascas como antidiabéticas e espasmo- SINA, 2003). A lectina, uma glicoproteína isolada
líticas (LORENZI; MATOS, 2002). As flores e tam- das sementes da A. muricata, é capaz de aglutinar
bém as folhas são utilizadas para tosse e problemas eritrócitos humanos e inibir o crescimento de alguns
no trato respiratório inferior (MORS et al., 2000). As fungos, como Fusarium oxysporum, Fusarium sola-
folhas da A. muricata são utilizadas na medicina po- ni e Colletotrichum musae (DAMICO et al., 2003).
pular por possuírem ações parasiticida, anti-reumáti- O extrato etanólico das folhas da Annona muricata
ca, antinevrálgica, adstringente e emética (DE CAR- possui uma potente atividade antioxidante in vitro, o
VALHO et al., 2000). O chá das folhas de graviola é que lhe confere um importante papel na captação de
utilizado como sedativo, expectorante e broncodilata- radicais livres, aumentando o seu efeito terapêutico
dor (QUEIROZ et al., 1988). Emprega-se a fruta na (BASKAR et al., 2007). Em experimentos realizados
indústria alimentícia para a elaboração de sucos, sor- com camundongos e suínos, avaliou-se o efeito tó-
vetes e doces (MAUL et al., 2000). O suco da fruta é xico do chá das folhas de graviola, administrado por
utilizado como diurético. Acredita-se que ele melhora via oral, sobre parâmetros sanguíneos, urinários e
males do fígado e lepra. Seus frutos imaturos, por se- histopatológicos. No que se refere ao hemograma,
rem adstringentes, são utilizados contra disenteria. A constatou-se um grande aumento na porcentagem
raiz da planta é utilizada como vermífugo (MORTON, de linfócitos nos animais, o que poderia sugerir a pre-
1987). Na América Central é utilizada pela medici- sença de substâncias capazes de induzir a síntese
na tradicional como anti-séptico, cicatrizante, contra ou inibir a degradação de hormônios tireoidianos ou
dermatose e febre da malária (WÉLÉ et al., 2004). ainda deprimir a produção hormonal da adrenal. Nos
camundongos os resultados ainda revelaram uma
Uso em cosméticos: Pedidos de patentes sugerem diminuição significativa dos níveis séricos de proteí-
que a Annona muricata tenha uso em cosméticos. nas, diminuição do volume de urina e diminuição da
A graviola foi selecionada, juntamente com outras eliminação de creatinina (QUEIROZ et al., 1988). A.
plantas como Calophyllum brasiliense Cambess., muricata apresenta atividade citotóxica sobre células
Cleome hassleriana Chodat e Myrcia sphaerocarpa tumorais de diversos tipos de câncer, demonstrando
DC, para a obtenção de um produto que previna a um efeito citotóxico 10.000 vezes maior que a adria-
degeneração e diminuição do colágeno, ou seja, um micina, usada como fármaco de referência. O extrato
produto com atividade inibidora da colagenase, en- da A. muricata foi capaz de produzir supressão dose-
zima esta que influencia no envelhecimento da pele dependente no crescimento de colônias de precurso-
(KOBAYASHI; UMISHIO, 2001). Outra formulação res hematopoéticos para granulócitos/macrófagos, o
cosmética, baseada nesta mesma ação biológica que permite sugerir que a A. muricata possui poten-
da planta (inibição da atividade da colagenase) su- cial mielotóxico in vitro (MINAMI et al., 2004). São
gere uso contra o envelhecimento da pele atuando principalmente as acetogeninas que possuem este
na diminuição das rugas e no aumento da firmeza potencial antineoplásico (YU et al., 1997; LI et al.,
da pele (NONOGAWA, 2001). Pesquisas também 2001). As acetogeninas, muricoreacina e murihexo-
revelam que um produto de uso externo, obtido da cina C, ambas isoladas das folhas, mostraram-se ci-
mistura de Annona muricata com outras plantas totóxicas contra adenocarcinoma de próstata. A mu-
como Calophyllum brasiliense Cambess., Quas- rihexocina C também revelou citotoxidade contra o
sia amara L., Fleurya aestuans (L.) Gaud., Myrcia carcinoma pancreático (KIM et al., 1998). Já as ace-
sphaerocarpa DC e Hyptis crenata Pohl ex Benth, togeninas anocatacina A, anocatacina B (CHANG et
possuem atividade inibidora da gelatinase, promo- al., 2003), anocatalina, muricina I (LIAW et al., 2002),
vendo também a prevenção do envelhecimento da muricinas (A-G), longifolicina, corossolina, corossolo-
pele (KOBAYASHI; UMISHIO, 2001). na e uma mistura de muricatetrocina A e B (CHANG;
WU, 2001) apresentaram citotoxidade seletiva in vi-
Farmacologia e Atividade Biológica: A Annona tro frente ao hepatoma celular humano (CHANG et
al., 2003; LIAW et al., 2002; CHANG; WU, 2001). plex vírus-1) em células vero (linhagem de células
Algumas patentes solicitadas requerem as acetoge- experimentais de rim de macaco), em uma concen-
ninas isoladas da A. muricata como citotóxicas para tração mínima de 1 mg/mL (PADMA et al., 1998).
várias linhagens de células tumorigênicas humanas Extratos etanólicos das folhas de Annona muricata
(WU, 2003). A anonacina, uma acetogenina contida foram ensaiados com o caramujo Biomphalaria gla-
na A. muricata, é um inibidor lipofílico do complexo I brata adulto e sua desova. A atividade moluscicida
da cadeia respiratória mitocondrial. Em estudos reali- apresentada pelo extrato foi bastante significativa,
zados em camundongos, esta acetogenina provocou com DL50 11,86 (DE CARVALHO et al., 2000; DOS
lesões cerebrais similares às lesões presentes em pa- SANTOS et al., 1998a) e de DL90 inferior a 20 ppm
cientes com o Mal de Parkinson atípico. Estes dados para o molusco adulto, indicando a faixa de atividade
são compatíveis com a teoria de que acetogeninas dentro do preconizado pelas normas da Organização
de anonáceos podem implicar na etiologia do Mal de Mundial de Saúde (WHO, 1995) (DOS SANTOS
Parkinson de Guadalupe e suportar a hipótese de et al., 2000). Esta atividade é devida às seguintes
que algumas formas desta doença podem ser indu- acetogeninas: anonacina (90 %), isoanonacina (6%) e
zidas por toxinas ambientais (CHAMPY et al., 2004; goniotalamicina (4%) encontradas no extrato (LUNA
CHAMPY et al., 2005). Como indicação do potencial et al., 2006). O extrato etanólico bruto das folhas de
de toxicidade, um adulto que consuma uma fruta de Annona muricata também se revelou tóxico para lar-
Graviola por dia, em um ano ingere uma quantidade vas do mosquito Aedes aegypti (LUNA et al., 2003)
de anonacina equivalente à que foi capaz de induzir e efetiva nos bioensaios com larvas de Artemia sa-
lesões cerebrais em camundongos que receberam lina (LUNA et al., 2006; LUNA et al., 2003; DOS
esta substância por via intravenosa (CHAMPY et SANTOS et al., 1998b).
al., 2005). Outro estudo realizado demonstra que a
anonacina promove a morte de neurônios dopaminér- Composição Química: No fruto da A. muricata são
gicos, por diminuição da produção de energia, sendo encontrados açúcares, taninos, ácido ascórbico (vita-
também ressaltado neste artigo seu possível papel mina C), pectinas e vitaminas A (beta-caroteno) e do
na etiologia de algumas formas do Mal de Parkinson complexo B. O óleo obtido do fruto contém ésteres
atípico de Guadalupe (LANNUZEL et al., 2003; LAN- e compostos nitrogenados como as substâncias res-
NUZEL et al., 2003). ponsáveis pelo aroma. Estudos fitoquímicos revelam
que as folhas contêm até 1,8% de óleo essencial rico
O pedido de patente relativo à obtenção de um ex- em gama-cadineno e alfa-elemeno (LORENZI; MA-
trato útil para o tratamento de insuficiência cardíaca TOS, 2002). Foram identificados como componentes
com alta segurança, devido à sua baixa influência na voláteis liberados pelos frutos da graviola três éste-
pressão sanguínea, por extração das folhas da A. res: hexanoato de metila, 2-hexenoato de metila e
muricata L, sugere sua utilidade em problemas cardí- 2-hexenoato de etila (SILVA et al., 1997). Nas folhas,
acos (KOUBOU; NIIJIMA, 1981). casca e raiz; encontram-se diversos alcalóides como
reticulinas, coreximina, coclarina e anomurina. Nas
O extrato de acetato de etila do pericarpo da Anno- sementes são encontrados ciclopeptídeos como ano-
na muricata revelou uma interessante atividade anti- muricatina B (LI et al., 1998), hexapeptídeos cíclicos
leishmania, sendo mais efetivo que a Glucantime®, como anomuricatina A (WU et al., 2007) e C (WÉLÉ
usada como fármaco de referência (JARAMILLO et al., 2004) e diversas acetogeninas que também
et al., 2000).O extrato etanólico possui capacidade são encontradas nas folhas, casca e raízes (LOREN-
para inibir o efeito citopático do HSV-1 (Herpes sim- ZI; MATOS, 2002).
As acetogeninas são uma série de derivados de dificulta a extração de acetogeninas e outros prin-
ácidos graxos C35/C37. Essas são classificadas cípios ativos pelo processo clássico de extração por
em cinco tipos principais de acordo com a posição solventes. A extração por CO2 supercrítico pode
dos anéis tetrahidrofurano (THF), como non-THF, ser uma alternativa para a obtenção de extratos li-
mono-THF, adjacente bis-THF, non-adjacente bis- pídicos de acetogeninas das sementes de graviola,
THF e tri-THF (WU et al., 2007). A anonacina é a porém estudos ainda estão sendo realizados para
acetogenina majoritária (CHAMPY et al., 2004) e que esta extração tenha aplicabilidade farmacoló-
também a mais ativa presente na planta (LOREN- gica (MAUL et al., 2000). As estruturas químicas
ZI; MATOS, 2002). Além disso, as sementes da das acetogeninas farmacologicamente ativas estão
graviola são ricas em ácidos graxos neutros, o que na Figura 1 (*).
Figura 1 – Acetogeninas que apresentam atividade farmacológica
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A Revista FITOS é um periódico dedicado à publicação de trabalhos científicos originais, e artigos de divulgação,
revisão e atualização, de trabalhos científicos em Fitoterapia com aproveitamento da biodiversidade brasileira. A
Revista custeará integralmente os trabalhos de até 15 páginas, incluindo tabelas e figuras. Acima deste número
de páginas, as despesas correrão por conta do(s) autor(es). Não serão aceitas fotografias coloridas, a não ser que
o(s) autor(es) custeiem sua publicação, independente do número de páginas do trabalho.
3.6 Unitermos: deverão identificar/representar o conteúdo 4.2 As Referências seguirão as normas da ABNT (NBR
do artigo. Observar o limite máximo de 6 (seis). São impor- 6023/agosto de 2002), e serão ordenadas alfabeticamente
tantes para levantamentos em banco de dados, com o obje- pelo sobrenome do primeiro autor, em caixa alta e em ordem
tivo de localizar e valorizar o artigo em questão. Deverão vir crescente de data de publicação. Deve-se levar em consid-
separados por ponto e vírgula. eração as seguintes ocorrências:
3.7 Abstract: versão do resumo para a Língua Inglesa. Evitar 4.2.1 Livro com um autor (nome do livro em itálico):
traduções literais. Quando não houver domínio deste idioma, COSTA, A.F. Farmacognosia. Lisboa: Fundação Calouste
consultar pessoas qualificadas. Providenciar também versão Gulbenkian, 1996.
do título para a língua inglesa.
4.2.2 Livro com dois autores (nome do livro em itálico):
3.8 Key words: unitermos em inglês. Também em número de SANTOS, I.F.; PEREIRA, F.L. Criando um novo mundo. São
6 (seis) e separados por ponto e vírgula. Paulo: Atheneu, 1995.
3.9 Introdução: deverá estabelecer com clareza o objetivo 4.2.3 Capítulo de livro (nome do livro em itálico):
do trabalho e sua relação com outros trabalhos na mesma FARIAS, C.R.M.; OURINHO, E.P. Restauração dentária.ln:
área. Extensas revisões da literatura deverão ser substituí- GOLDAMAN, G.T. (org.) A nova odontologia. 5.ed. Rio de
das por referências à publicações mais recentes, onde estas Janeiro: Guanabara Koogan, p.95-112, 1999.
revisões tenham sido apresentadas.
4.2.4 Tese ou Dissertação (nome da tese ou da dissertação
3.10 Materiais e Métodos: a descrição dos materiais e dos em itálico):
métodos usados deverá ser breve, porém suficientemente LIMA, N. Influência da ação dos raios solares na germina-
clara para possibilitar a perfeita compreensão e a reprodução ção do nabo selvagem. Campinas, 755p. Tese (Doutorado)
do trabalho. Processos e técnicas já publicados, amenos que - Faculdade de Ciências Agrárias, Universidade Estadual de
tenham sido extensamente modificados, deverão ser refer- Campinas, 1991.
enciados por citação.
4.2.5 Artigo de periódico (nome do periódico em itálico):
3.11 Resultados: deverão ser apresentados com o mínimo VARGAS, T.O.H. Fatores climáticos responsáveis pela morte
possível de discussão ou interpretação pessoal e, sempre de borboletas na região sul do Brasil. Revista Brasileira da
que possível, ser acompanhados de tabelas e figuras ade- Associação de Entomologistas, v.11, n.4, p.100-105,1996.
quadas. Os dados, quando pertinentes, deverão ser submeti- 4.2.6 Citação de citação (nome das fontes em itálico, por
dos a uma análise estatística. extenso):
WAX, E. T. Antimicrobial activity of Brazilian medicinal plants.
3.12 Discussão: deverá ser restrita ao significado dos dados Journal of Brazilian Biological Research, v.41, p. 77-82, 1977 apud
obtidos e resultados alcançados, evitando-se inferências não Natural Products Abstracts v.23, n.8, p.588- 593, Aug., 1978.
baseadas nos mesmos.
Obs.: Eventualmente, Resultados e Discussão poderão ser 5. Encaminhamento dos Artigos
apresentados num único item.
Os trabalhos deverão ser enviados, inicialmente, em duas có-
3.13 Agradecimentos: este item é opcional e deverá vir an- pias impressas, utilizando-se o programa Word for Windows.
tes das Referências. Quando da aceitação do trabalho, após as devidas correções,
deverão ser enviados um disquete contendo o arquivo do tra-
4. Referêcias balho e uma cópia impressa. Toda correspondência deverá
ser enviada ao Coordenador de Edição, cujo endereço en-
4.1 Referência dentro do texto: contra-se na primeira página.
No início da citação: autor em caixa baixa, seguido do ano 6. Encaminhamento dos Gráficos e Imagens
entre parênteses. Ex. Pereira (1999)
Gráficos e imagens devem ser enviados desvinculados do ar-
No final da citação: autor em caixa alta e ano -ambos quivo do artigo, nos formatos TIFF ou JPEG com resolução
entre parênteses. Ex. (SILVA, 1999) ou (SILVA; SOUZA, de 300 dpi. Porém, os mesmos devem compor o arquivo no
1998) ou (SILVA; SOUZA; DIAS, 2000) ou (SILVA et al., programa Word for Windows, na resolução de 96 dpi, para
1999) ou (SILVA et al., 1995a,b) que seja feita a leitura completa do trabalho.