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RECRUTAMENTO E FoRMACAO DE MAGIsTRADOS. O Sistema IraLiaANo NO AMBITO DOS PRINCiPIOS INTERNACIONAIS SOBRE O EsTAaTuTO DOs MAGISTRADOS E DA INDEPENDENCIA DO PODER JUDICIARIO* Giacomo OBERTO Professor da Universidade de Turim-Itilia e magistrado do Tribunal local 1. Os METODOS DE RECRUTAMENTO DE MAGISTRADOS E SEUS PRINCiPIOS INTERNACIONAIS A historia das instituigdes juridicas modernas, no que se refere a selegdo ¢ ao recrutamento de magistrados, conheceu e conhece ainda hoje 0s sistemas os mais dispares', que podem ser clasificados grosso modo em quatro categorias fundamentais que serao enunciadas a seguir. Evidentemen- te, cada um desses métodos possui vantagens e desvantagens, estreitamente ligadas ao assunto crucial que € a independéncia do Poder Judicidrio em * Comunicagio apresentada & convengdo sobre o tema “O sistema judiciério dos paises membros da Unido Européia”, organizada pelo Conselho Superior da Magistratura italiano, no ambito do programa ‘Grotius” da Unido Européia, realizada em Roma, 8 a 12 de maio de 2001. Artigo publicado em francés, Tradugdo: Maria Beatriz Pontes de Carvalho. ' Pata um historico dos sistemas judiciérios europeus cf. Meyer, Espirito, origem e progresso das insti- icdes judicidrias nos principais paises da Europa, Parte antiga, Tomo I, La Haye, 1818; Parte ‘moderna, Tomo I, Paris, 1819; Parte moderna, Tomo V, Amsterdam, 1822. Para um resumo compara- tivo dos sistemas modernos de recrutamento, nomeagio ¢ formagio de magistrados nos paises filiados: Unio Internacional dos Magistrados, ef. Unido Intemacional dos Magistrados ~ Fundagao “Justiga no Mundo”, Tratado de organizagao judiciiria comparada, I, Ziirich-Bruxelles, 1999. Sobre esses assuntos, ef. também Borgna e Cassano, Il giudice e il principe. Magistratura e potere politico Italia e in Europa, Roma, 1997, p. 107 e seguintes; Oberto, Verardi e Viazzi, II reclutamento e la formazione professionale dei magistrati in Italia e in Europa, in Dogliotti, Figone, Oberto et al., Lresame di uditore giudiziario, Milano, 1997, p. 41 e seguintes. Para um resumo bem recente dos sistemas judiciarios da Europa, ef. a obra editada pelo Conselho Europeu com o titulo A Europa jud ciiria, Strasbourg, 2000 (0 livro contém também — em relagdo a alguns paises — informagdes sobre 0 recrutamento ¢ a formagao de magistrados). Sobre as particularidades do recrutamento de magistrados italianos ef. Oberto, “Recrutamento, formagao e carreira dos magistrados na Itélia”, 0 artigo esti dispo- nivel desde 29 de junho de 1999 na seguinte pagina da Internet: ; Oberto, “Recrutamento, formagao e carreira dos magistrados no sistema Revista da EMERJ, v. 5, n. 20, 2002 15 relacdo aos outros poderes do Estado. O primeiro tipo de procedimento consiste em recrutar magistrados escolhidos pelo Poder Executivo ou pelo Poder Legislativo: se, por um lado, isto reforca a legitimidade do juiz, por outro existem riscos evidentes de uma grande dependéncia dos outros poderes, assim como da situagao politica. A eleig&o pelo corpo eleitoral ¢ 0 método que confere aos juizes © mais alto grau de legitimidade, proveniente diretamente do povo. Mas esse sistema obriga o juiz a organizar uma campanha eleitoral humilhante e, as veres demagégica, com o inevitivel apoio financeiro de um partido politico que, mais cedo ou mais tarde, poder-lhe-A pedir a retribuigdo do servico. Ademais, o juiz pode ser tentado a emitir julgamentos que venham a favorecer seus eleitores. A cooptagao pela propria magistratura teria a vantagem de se poder escolher juizes tecnicamente preparados, mas existe o grande risco de se cair no conservadorismo e na preferéncia pelos amigos. Finalmente, a designagao por uma comissao de juizes e professores de direito (escolhidos de preferéncia por um 6rgao independente e representativo dos magistrados), efetuada me- diante um concurso puiblico realizado com critérios objetivos e procedimen- tos transparentes, é 0 sistema capaz de assegurar a melhor selegao, baseada exclusivamente no mérito e nas aptiddes profissionais dos novos magistrados. Os quatro sistemas que acabamos de enumerar sao atualmente co- nhecidos e praticados no mundo com miiltiplas variagdes. Essa variedade existe também na Europa, onde se conhecem talvez todas as formas ima- ginaveis de selegaio de candidatos a juiz, inclusive, por exemplo, a eleigao pelo povo, praticada em alguns cantdes da Suiga. Diante dessas alternativas, é interessante observar qual a posic¢ao dos organismos e instituigdes interna- cionais que se preocuparam, ao longo dos tiltimos 50 anos, com 0 tema da independéncia da magistratura?. Com efeito, as declaragées, as resolugées e juridico ¢ constitucional italiano”, na obra coletiva, Que formagao para os magistrados hoje?, Lisboa, 2000, p. 185-209; o artigo esta disponivel desde 25 de janeiro de 2000 na seguinte pagina da Internet: -; Oberto, “A autonomia da justiga em sua gestdo: a experiéncia italiana”, desde 9 de novembro de 2000, na seguinte pigina da Internet (texto disponivel no formato .pdf): ; Bartole, “Per una valutazione comparatistica dell’ ordinamento del potere giudiziario nei paesi dell’ Europa continentale”, in Studium juris, 1996, p. 531 ¢ seguintes; Caianiello, “Formazione e selezione dei giudici in una ipotesi comparativa”, in Giur. it., 1998, p. 387 e seguintes. Cf. também as obras citadas na nota 45, mais adiante. * No decorrer da segunda metade do século que acaba de terminar, assistiu-se, a nivel internacional, a ‘uma conscientizagao da importincia do Poder Judiciario, Esse movimento se iniciou com a Declaragao 16 Revista da EMERY, v. 5, n. 20, 2002 0s principios internacionais sobre o assunto parecem querer visar a elimina- ¢do de toda e qualquer influéncia, por parte do Poder Executivo, na nome- agdo dos juizes, que deveria ser efetuada por um organismo independente e através de uma escolha baseada exclusivamente em critérios objetivos. Poder-se-4 mencionar, a esse propdsito, a Recomendagao n° R (94) 12 da Comissao de Ministros do Conselho Europeu, dirigida aos paises Universal dos Direitos do Homem, adotada pela Assembléia das Nagdes Unidas em 1948 que, em seu art. 10, recomenda que “na determinacdo de seus direitos e obrigagdes ¢ de qualquer acusagdo criminal, todos tém o direito de serem julgados por ‘um tribunal independente ¢ imparcial””. Esse ‘mesmo principio foi retomado pela Convencao Européia para a salvaguarda dos direitos humanos € das liberdades fundamentais, assinada em Roma em 1950 (art. 6) Numerosos congressos ¢ coliquios organizados por associagdes ¢ organismos internacionais (entre 8 quais, especialmente, a Unido Intemacional dos Magistrados), se dedicaram a estudar os sistemas existentes, visando a assegurar a independéncia da magistratura. Diversas declaragdes solenes a esse respeito encontram-se nos anais de congressos internacionais, conferéncias, seminérios. Os modelos € 05 principios normativos comecaram a circular em quase toda a Europa e em todo o mundo, de tal forma que hoje se pode falar nao s6 de um direito internacional para a protegao da independéncia do Poder Judiciério mas também de um direito transnacional sobre essa matéria. Eu ousaria mesmo dizer que pouco importa que todos os textos a esse respeito ndo sejam impositivos: a experiéncia prética da vida associativa internacional mostra, por exemplo, que documentos “privados”, como o Estatuto Universal do Juiz elaborado pela Unido Internacional dos Magistrados, serviram para convencer as autoridades politicas de alguns paises a ndo tomarem medidas que viessem a limitar a independéncia da ‘magistratura. Pode-se dizer que os documentos intemacionais que tratam do problema da independéncia do Poder Judicidrio devem hoje ser lidos ¢ interpretados como fazendo parte de uma estrutura como a de um mosaico, como um quadro complexo que constitui um verdadeito “corpus juris internacional e transnacional” sobre 0 Estatuto dos Magistrados. Os resultados mais interessantes desse processo de internacionalizagdo de transnacionalizagao das regras sobre a independéncia da magistratura, oriundas dos principios sobre a protegao dos direitos humanos, esto consolidados nos seguintes textos: - Convengao Européia sobre os Direitos do Homem de 1950, j4 mencionada, - Convengdo Internacional sobre os Direitos Civis e Politicos de 1966; - Principios Fundamentais sobre a Independéncia da Magistratura elaborados em 1985 pela ONU, & Procedimentas para sua implementacdo eficaz (1989), - Estatuto do Juiz.na Europa, elaborado e aprovado em 1993 pela Associagaio Européia dos Magistrados — Grupo Regional da Unido Intemacional dos Magistrados; - Recomendagao n. R (94) 12 da Comissdo de Ministros do Conselho Europeu, dirigida aos estados membros, sobre a independéneia, a eficicia ¢ o papel dos juizes: - Resolucao relativa ao papel do Poder Judiciério num estado de direito, aprovada em Varsévia em 4 de abril de 1995 pelos ministros participantes da Mesa Redonda dos Ministros da Justiga dos paises da Europa Central ¢ Oriental; - Carta Européia sobre 0 Estatuto dos Magistrados, aprovada pelo Conselho Europeu em Strasbourg, de 8-10 de julho de 199 - Estatuto Universal do Juiz, aprovado com unanimidade pelo Conselho Central da Unido Intemacional de Magistrados em sua reuniaio de Taipei (Taiwan) em 17 de novembro de 1999; - Resolucdo do Parlamento Europeu sobre o relatério anual referente aos direitos humanos na Unido Européia (1998 € 1999) (11350/1999 — C5-0265/1999 — 1999/2001(INI), adotada em 16 de marco de Revista da EMERJ, v. 5, n. 20, 2002 7

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