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Anogao mitica de Khdos na Teogonia de Hesiodo Jaa Torrano* universo, os deuses, os homens (2003) e as memérias intitu- ladas Mito e politica sio os tiltimos liveos publicados por Jean -Pierre Vernant, ¢ tém o trago comum, que os distingue dos ou- tros livros anteriores do mesmo autor, de apresentar de certo modo programaticamente uma autointerpretacio. Em O universo, os deuses, os homens 0 autor se apresenta como um contador de mitos gregos, primeiro para 0 neto Ju- lien e depois para um seleto grupo de amigos isolados numa certa ilha, como se contar e ouvir mitos gregos ainda pudessem fascinar como um entretenimento repetido e repetitivel. Esse traco de contador de mitos e esse pressuposto de que estes pos- sam ser um entretenimento repetido e repetitivel so, a nosso ver, essenciais a compreensio do que este livro & e se propée, a saber, reatualizar os mitos gregos. [A persona do contador de mitos gregos confere ao escritor esse liveo algo do inefével poder caracteristico dos antigos con- tadores de mito ~ 0 poder de mostrar mediante a narrativa (pro- priamente dita “mito”) como o mundo se estrutura e se explica «em seus aspectos fundamentais. © av6 contador de mitos nao est apenas contando histdrias para o neto antes de dormit, mas trans- mitindo & geragio seguinte 0 conhecimento do mundo. Assim, ainda que por profissio fosse eminente helenista, 0 av6 transmitia a0 seu neto niio s6 0 conhecimento dos mitos contados, mas © conhecimento do mundo em tempos vividos pelo av6. esse sentido, O universo, os deuses, os homens rflete,a nosso ver, a imagem do mundo nos tempos vividos por Jean-Pierre Ver nant. Parece-nos que poderiamos distinguis, na imagem do mundo descrita pela narrativa vernantiana do mito, o que pertence aos tem- pos vividos por Jipé (como 0 neto Julien o chamava) e 0 que perten- «ce ao pensamento mitico documentado na Teogonia de Hesiodo. Para 0 propésito dessa distingao, retomemos a descrigao da nogio mitica de Caos na narrativa vernantiana e 0 que podemos ler ecolher da nogio mitica de Ca0s no texto da Teogonia (2006) de Hesiodo, tentando comparar e distinguir 0 que ha a mais e a menos por um lado nessa narrativa e, por outro, nesse texto (We SiopAiNo. 2564) 29-38 suuNosr ‘cor vtinat 20 & * Profesor tla de Lingua ¢ Li seratuea Groza da Universidade de Sho Paulo, tadutor de Hesiodo, Esguloe Euripides, autor dea Es ert eos Diss: poemas (So Paulo ‘Snnablae, 2009), v \o 30 Jean-Pierre Vernant aceita de Paul Mazon a tradugio de Khéos por “Abismo” e entende “Abismo” no mesmo sentido que Tirtaro, com 0 que se compromete a compreensio da relagio entre Khdos e Gaia, euja tradugio por “Terra” no nos parece to questionvel quanto a de Khéos por “Abismo”. Parece-nos que esse compromisso na compreensio da relagio entre Khdos e Gaia se deve antes 20s tempos vividos por Jipé do que ao pensa- mento hesiédico documentado na Teogonia. Teocando em mit dos, examinemos as razies de nossa suspeita de que o “Abismo” vvernantiano possa nao ser 0 Khos hesiédico. “Abismo", por via do latim abyssus, vem do grego dbyssos, que significa literalmente “sem fundo”, formado do prefixo ne- gativo “a.” e de btissos, “fundo (do mar)”. Isso corresponde a descrigio do Tirtaro na Teogonia, mas, a nosso ver, nio neces- sariamente A de Khéos. Pressupomos uma distingio de Kisios e Tirtaro, porque sto dois nomes distintos, com conotagées e evocagbes distintas a da que sejam associados. Hi na Teogomia quatro ocorréncias do nome Klvios, em cada ‘ocotréncia uma nova associagio confere um valor novo a essa nogio. 1) © poema comega com a invocagio as Deusas Musas, que se desdobra num hino descritivo da natureza e atribuigées dessas Deusas e que conclui com a stiplica as Musas de que cantem a origem dos Deuses e digam “quem dentre eles primeiro nasceu” (115). A primeira ocorséncia do nome Khdos é justamente a resposta A questio “quem dentre eles primeiro nasceu”, a saber: Sim, bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo seio, de todos sede ieresvalivel sempre, dos imortais que tém a cabeca do Olimpo nevado, e Tartaro nevoento no fundo do chao de amplas vias, ¢ Eros: 0 mais belo entre os Deuses imortais, solta-membros, dos Deuses todos e dos homens todos ele doma no peito o espirito e a prudente vontade. (T116-122) Faz-se necessirio considerar esses sete versos como um conjun- 10, porque do ponto de vista da sintaxe é constituido por um tinico periodo cujo verbo principal génet’,“nasceu”, tem 0 sujeito com: posto de quatro nomes, a saber: Khdos, nesta citagio no traduzido mas vernaculizado “ “aos”, Gaia, traduzido por “Terra”, Tartana, vernaculizado “Titaro”, ¢ Eros, vernaculizado “Eros”. Observe-se que o nome Caos responde & questio “quem dentre eles primeiro nasceu” com a substituigio do geau nor- mal do advérbio préton, “primeito”, pela forma superlativa do advérbio prétista “bem primeiro” (ou mais literalmente, “primeirissimo”) sobrecarregada por trés particulas de énfase ‘que reforcam asseveragies é foi men (“Sim”) Essa énfase superlativa na prioridade de Caos o distingue € contrapie aos outros tr2s sujeitos do mesmo verbo. © que significa essa enftica prioridade atribuida a Caos? Se devemos buscar a resposta a essa pergunta na perspectiva do pensamen to mitico hesiédico, devemos entio recusar todas as formula ges que recorrem a nogies préprias do pensamento abstrato posterior e estranhas ao pensamento mitico hesiddico, nota- damente as que apelam as categorias abstratas de espago e de tempo. Nao se trata, pois, nem de uma anterioridade cronolé- gica nem de uma telagio de primazia espacial ‘A natureza dessa prioridade atribufda a Caos a nosso ver se w 4 revela nessa relagio em que se encontram os quatro nomes que compaem 0 sujeito do verbo génet’, “nasceu”. Para compre- ender-se a dindmica dessa relagio, € necessirio compreender ae ‘que significa cada um dos quatro nomes, cujas nogdes esto implicadas nessa relagio. Em contraste com 0 Deus Caos, que nestes versos inaugurais dda Teogonia se descreve unicamente pelo nome e pela énfase na prioridade, 0 nome da Deusa Terra se desdobra em um epiteto (eurysternos, *de amplo seio"), um aposto (“de todos sede irres- vakivel sempre"), uma oragio adjetiva (“dos imortais que tém a cabega do Olimpo”). Esse desdobramento em que se explicita a natureza da Deusa Terra como fundamento inconcusso de tudo e de todos os Deuses Olimpios por sua vez se desdobea em seu contrério com a nomeagio do terceiro nome, Tattato. [A secio da Teogonia que se pode intitular “descrigio do Tér- taro” (T. 722-819) descreve Tartaro como khdsma még’, “vasto abismo” (T. 740) e como lugar da queda sem diregéio e sem fim (7. 740-743). 0 desdobramento em que se explicita a natureza dda Deusa Terra, pois, conclui com a paradoxal inclusio de sua contra-natureza, a saber, a privagio de fundamento, o lugar da queda cega e sem fim, (© termo com que se descreve o Deus Titaro, Kdsma, “abis- mo” (T. 740), tem a mesma raiz do nome Khdos, “Caos”, ¢ do verbo khaino, que significa “abrirse, entreabrir-se; fender-se”. A (We SiopAiNo. 2564) 29-38 suuNosr co etna 31 & nae war 32 palavra kbdsma & formada dessa raiz verbal e do sufixo “ma de- signativo de objeto ou resultado da agio. A simetria entre Caos, 6 primeiro dos quatro termos que compiem o suite do verbo _génet’, “nasceu”,e Eros, 0 quarto termo dessesujeto composto, permite-nos entender Khios como o nome da ago de entreabrie- -see fender-se,e assim entender Tértato, dito Khdsma, como 0 re- sultado dessa agio de enteeabrinse e fender-se. A simettia entre Caos ¢ Eros como nomes de ago permite-nos pensar que descre- vem as duns formas de proctiagio pelas quais se desdobram as ge- nealogias divinas da Teogonia, Caos nomeando a proctiagio por cissiparidade, ¢ Eros nomeando a proctiaglo por un Essa simetria entre Caos e Eros e os versos 740-743 da Teo- ‘gonia descritivos do Deus Tirtaro nos permitem compreendet a relagio entre Caos e Tirtaro mediada por Terra nos versos 116-119 como uma relagio entre khdos - entendido como a agio de entreabrirse e fenderse ~ e khdsma ~ entendido como o resultado dessa agio ~ compreendendo-se assim o nascimento do Deus Tirtaro como uma procriagio da Deusa Terra presidida por Caos, o que se diz por cissiparidade. Nessa presidéncia da proctiago e do nascimento por cissiparidade reside a priorida- de ontogenética ~ no espacial nem temporal ~ de Caos. © verso 119 localiza o Deus Tistaro, dito eerdenta, “nevo- nto” (ie. invisivel), “no fundo do chao de amplas vias", como se 0 lugar da queda cega e sem fim constituisse um élkimo ¢ abscéndito aspecto da sede sempre irresvalivel de tudo e de todos, a saber, o aspecto da privagio, © par antitético constituido por Terra e Tartaro ~o ser do fundamento inconcusso universal e, como o silkimo termo da sua primeira explicitagao, a total negagio e privagio de todo fundamento ~ preenche por sua vez a condigio necessaria da possibilidade de nascer 0 Deus Eros, 0 Deus que preside a procriagio por uniio amorosa, ¢ cujo ses, portanto, tem por condigio necesséria a preexisténcia do par amoroso, 0 qual, por sua vez, peessupse a diiplice preexisténcia da mie pri- mordial e da ago cujo nome é Caos. Visto que a mie primor- dial somente vem a ser mie primordial mediante essa agio de Caos, assim se explica a enfatizada prioridade de Caos sobre 0 primeiros nomeados. (Os versos 120-122 descrevem o Deus Eros, o quarto nome do sujcito composto do verbo genet’, “nasceu”, também com um su- perlativo, kallistos,“o mais belo (entre os Deuses)”, e ainda com dois tracos aparentemente contradit6rios, a languides (Iysinlés, “solta-membros") e o poder universal sobre mortais imortais, (Os quatro nomes do sujeito composto do verbo géner’, “nas- eu”, constituem, pois, uma unidade complexa cujo centro ma fr gura da Deusa Terra, mie universal, integra os outros txé8 como aspectos necessérios do proprio ser-fundamento universal: as duas formas de procriagio descritas na Teogontia ~cissiparidade € unio amorosa, dos € Eros ~ ¢ o aspecto sombrio da negagio e da auséncia de todo inios opostos e complementares de Caos fandamento,descrto na figura nevoenta (.e invisivel) de Tirtaro, Esse conjunto dos sete versos inaugurais da Teogonia (T. 116-122}, recortados pela simplicidade do periodo sintiti- co que retine os quatro primeiros nomeados como o sujeito quidruplo de um Gnico verbo principal - génet’, “nasceu”, 0 verbo por exceléncia genealdgico e teog6nico ~ & emblemti- co da configuragio propria da percepeio peculiar a0 pensa- uma percepgio sinética, concreta e imediata, ‘que conteasta com a percepgio caracteristica do pensamento abstrato, abstrata e analitie 2) Na sua segunda ocorréncia na Teogonia, 0 nome Caos, declinado no genitivo-ablativ (Khdeos, T. 123), se associa & sua descendéncia imediata, com 0 que se explicita a sua natureza: Do Caos Erebos e Noite negea nasceram. Da Noite aliés Eter e Dia nasceram, gerou-os fecundada unida a Brebos em amor. (7. 123-125) © nome Erebos, vernaculizado “Erebos”, tem a mesma raiz ‘que 0 verbo erépho, “cobrit",e designa as trevas subterrineas Nascidos de Caos, necessariamente por cissiparidade, Erebos e Noite negea, unidos em amor, eram Eter e Dia. © nome Aithér, vernaculizado “Eter”, tem a mesma raiz.que 0 verbo aitho, “acender”, “queimar”, “brlhae”,e designa o ful- g0r diurno e noturno do céu Os nomes femininos Hemére, traduzido “ ia”, e Nyx, traduzido “Noite”, associados aos nomes masculinos Ere- bos e Eter, compdem dois pares anttéticos, sendo o par te- nebroso gerado por cissiparidade ¢ 0 par Iuminoso gerado por unio amorosa. Assim se explicita a nacureza sombria de Caos ea sua confinidade © complementaridade com a natureza luminosa de Eros (We SiopAiNo. 2564) 29-38 suuNosr cor vtinal 33 & w w 34 Os versos 126-133 da Teogomia, explicitando a natureza da Deusa Terra mediante catilogo dos descendentes imediatos dela, nascidos por cissiparidade, ressaltam a presenga de Caos = no nomeado sendo pela litotes “sem o desejoso amor” (dter philétetos ephimérou, T. 133) ~ na procriagao e nascimento dos Deuses presentes na paisagem do Mediterraneo: TTerea primeiro pariu igual asi mesma Céu constelado, para cereé-la toda ao redor € ser aos Deuses venturosos sede irresvalével sempre. Pariu altas Montanhas, belos abrigos das Deusas ninfas que moram nas montanhas frondosas. E pariu a infecunda planicie impetuosa de ondas, © Mas, sem 0 desejoso amor. Depois pariu do coito com Céu: Oceano de fundos remoinhos. (et) (7. 126-133) esses versos, a geracio por cissiparidade dos Deuses Terra, Céu, altas Montanhas e Mar ~ os Deuses visiveis na paisagem do Mediterraneo ~ aponta ¢ delimita a confinidade e associagio de Caos com 0 luminosos Deuses siiperos. A nomeagio de “Céu” (Ourandn, T. 126) nesse catilogo dos primeiros gerados da Deusa Terra reitera a unidade e identida- de dos Deuses Céu e Terra como “sede irresvalivel sempre” (T. 117, 128). Considerando-se que Céu e Olimpo sio equivalents como domicilio dos Deuses stiperos, essa unidade e identidade dos Deuses Céu-Olimpo e Terra ja se mostra nos versos 117-118 da Teogonia, segundo os quais Terra é “sede irresvalivel sempre dos imortais que tém a cabega do Olimpo nevado” 3) Na sua terceira ocorréncia na Teogonia, na descrigio das consequéncias da Titanomaquia, 0 nome Caos, declinado no caso acusativo (Khdos, T. 700), marca o termo do movimento do “calor prodigioso” (Katima dé thespésion, T.700) da confla- gragio universal resultante da luta de Zeus e seus aliados contea seu pai Crono e seus aliados, dita “titanomaquia” porque “Ti- 1s" é 0 epiteto comum dado por Céu a Crono ¢ seus irmios (cf. T. 207-210), 4) Na sua quarta ocorréncia, o nome Caos ~ declinado no caso genitivo-ablative no regime da preposigio péran “além de", “do outro lado de” ~ no sintagma “além do Caos sombrio” (péren Khéeos zopberoio, T. 814) indica o Tértaro como lugar dos Titas, determinado por Zeus, a0 vencé-los na titanomaquia. Portanto, se Tértaro se situa “além do Caos sombrio”, essa si- tuagio distingue lugar de Tirtaro do lugar de Caos, e Caos ¢ ‘Tirtaro no sio o mesmo lugas, nem esto no mesmo lugar. Em ambas, as segunda e quarta ocorréncias, 0 caso genitive -ablativo confere ao nome Khdeos o valor de dupla refe no sentido de Caos sombrio a seus luminosos descendentes Exer € Dia (Khdeos, T. 123), e no sentido da exclusio de toda parti- cipagio nos Deuses stiperos Iuminosos e na soberania de Zeus, “alm de Caos sombrio” (péren Khdeos zopheroio, T. 814), As associagdes de Caos produzidas por essas quatro ocorrén- cias do nome na Teogonia, portanto, incluem a titanomaquia ¢ a vitdria e a soberania de Zeus por um lado e, por outro, 0 confi rnamento dos inimigos vencidos de Zeus no Tartaro. © mito principal da Teogonia narra os combates pela sobe- rania, primeiro entre Céu e Crono e depois entre Crono e Zeus; cesses combates decidem a sucessio das soberanias de Céu, Cro- no e Zeus; a narrativa desses diversos combates e © contraste centre essas diversas soberanias explicitam a natureza de Zeus e ae de sua soberania. Para compreendermos, pois, o sentido dessa associagio entre Caos e Zeus e da relacio que se estabelece nes- sa associngio entre Caos e Zeus, examinemos os mitologemas = como se dizem em grego as sequeéncias narrativas ~ que com- em essa narrativa eo seu imaginétio: 1) 0 mitologema do Céu edo combate entre Céu e Crono, 2) 0 mitologema de Crono e de sua soberania, 3) os quatro mitologemas dos combates de Zeus pela soberania,e 4) a aclamagao de Zeus rei pelos Deuses acon- selhados por Terra e a partilha presidida por Zeus das honras entre os Deuses (T. 881-885). we wn 1) Terra primeiro por cissiparidade gerou igual a si mesma Céu constelado para cobri-la toda e para ser aos Deuses venturosos sede ieresvalivel sempre (T. 126-127), € depois, unida em amor a0 Céu (autar épeita / Ourandi eunetheisa, T. 132-133) getou os flhos que © pai Céu ~ vido de e6pulas ~ impedia de virem a luzs Terra eon: cebe 0 plano doloso e © ago grisalho, pde ron, 0 filho mais novo dela ¢ do Céu, em emboscada; Crono castra 0 Céu; € dos salpicos sangrentos sobre a"Terra nascem as Erinias punitivas, ¢ 0s belicosos Gigantes, € as ninfas dos freixos, de que se fazem as langass ¢ da espuma do pénis luruando no Mar nasceu Afrodite, dita philom- (We SiopAiNo. 2564) 29-38 suuNosr cor vin 35 & nae war -medéa, “amor-do-pénis”, por trocadilho com philomeid 1 “amiga -do-sortiso”; castrado, Céu impreca os filhos com o epiteto de Titas € previsio de castigo por serem to altivos (T. 126-210), 2) Crono, unido a sua irma Reia, gerou as Deusas Héstia, De- éter € Hera e os Deuses Hades, Posidon ¢ Zeus, mas sabendo de Terra ¢ Céu constelado que the era destinado por designios do grande Zeus ser vencido por seu filho, ainda que poderoso, engolia os filhos tao logo nascidos; entretanto, quando Reia ia parir Zeus, suplicou aos pais dela, Terra e Céu constelado, que concebessem um ardil para que ela parisse as ocultas e Crono fosse punido pelas Erinias de seu pai e de seus filhos engolidos, cles a atenderam ¢ através da Noite negra a levaram a Licto, fem Creta, onde ela pariu Zeus, escondeu-o numa geuta ¢ dew a Crono uma pedra envolta em cueiros em vez do filho, Zeus, que eresceu répido ¢ com violéncia o expulsou da honea ¢ reina entre 0 imortais (7. 453-506), 3) Os quatro mitologemas dos combates de Zeus pela soberania: 3.1) O jogo de asticia entre Prometeu e Zeus, com o qual se estabelece a condicio mortal e sexuada dos homens, o sacrificio cruento como reunio dos Deuses ¢ dos homens, o castigo impos to a Prometeu por sua tentativa de enganar Zeus, ea superiorida e-em asticia de Zeus sobre Prometeu (T. 507-616}. 3.2) A titanomaquia, na qual Zeus conta com os conselhos da Terra (T. 626), coma alianga dos Centimanos Briareu, Coto © Giges, filhos da Terra e do Céu (I. 147-153, 626-675, 713: 717), com a alianga dos Deuses Olimpios, ditos “doadores de bens”, filhos de Reia ¢ Cronos (T-633-634), ¢ com o seu proprio furor (T. 687-711}; em consequéncia da vit6ria de Zeus, os Tits slo excluidos de toda participagio no ser-fundamento, langados e encarcerados no Tirtaro (T. 617-721), 3.3) A luta contra Tifeu: filho de Terra e Tértaro, com cem cabegas de serpente-vidente, com olhar flamejante e com vores virias, Tifeu representa a asticia infernal, mas Zeus o surpre ende, fulmina em outra conflagracdo universal (outra que a da titanomaquia) ¢ 0 atira ao Tértaro (T. 820-880), 3.4) As niipcias de Zeus e Asticia (Mets): avisado por conselhos de Terra e Céu constelado que sua esposa Asticia geraria primeiro ‘uma filha igual a0 pai no furor ena pradente vontade, ¢ depois um fiho que suplantaria o pai, Zeus a enganou com ardil e palavras sedutoras,eengoliuva ventre abaixo para que Asta Ihe indicasse 0 them e 0 mal assim se explica o epiteto de Zeus Metieta,“Sapiente” ou “Astucioso”, T. 886-900). Essas sinopses nos permitem observar nos versos supracitados: 1) Terra concebe o plano vitorioso; a soberania de Céu, gerado para cobrir a Deusa Terra e ser sede irresvalivel sempre de todos os imortais, descrita por imagens de vida intrauterina e no manifesta 2) A soberania de Crono reside na reiteragio da vida intraw terina € no manifesta, na vigildncia enganada em tentativa cega de evitar o inevitavel (Ze. a uta contra os designios de Zeus}, € n0 ‘cumprimento da punigao das Erinias do pai e dos flhos engolidos. 3) A soberania de Zeus se afiema na superioridade em asticia sobre 3.1) Prometeu, cuja arte dolosa na tentativa de trapacear Zeus serve aos designios de Zeus, 3.2) Crono e seus aliados, su Ww N plantados pelas aliangas mais poderosas de Zeus, 3.3) Tifeu, de cem ccabesas de sexpente-vidente, surpreendido por Zeus onividente, ¢ 3.4) Asticia mesma, a mais sabia que os Deuses ¢ os homens mor. ae tais, surpreendida e subsumida por Zeus astucioso. 4) Em contraste com contraimagens de soberania de Cé ¢ de Crono, a soberania de Zeus reside no mundo manifesto ~ segun do o plano doloso e os conselhos oraculares da Deusa Terra, mie universal ~ ¢ entre os Deuses imortais e homens mortais preside a partlha das honras e da participagdo no ser-fundamento. Se diante dessas sinopses da Teogomia de Hesiodo retornamos 4 narrativa vernantiana do mito grego, ao depararmos com um “Abismo” no lugar de Caos, surpreende-nos como, no capitulo intitulado “A origem do universo”, do livro O universo, os deu- ses, 0s homens, a imagem vernantiana do mundo reproduz e con: serva 0 sentimento de inseguranga e de instabilidade do mundo depois da bomba de Hiroshima e Nagasaki e durante a chamada Guerra Fria, (© retorno imediato dessas piginas de Jean-Pierre Vernant a0 tex: to de Hesfodo nos permite constatar que o contador de mitos, que na segunda metade do século passado reatualizava os mitos gregos contando-os a seu neto & a seus amigos, transmite em sua narrativa algo mais inquietante e perturbador do que havia no texto hesiddico, (We SiopAiNo. 2564) 29-38 suuNosr cor vtinat 37 & nae war REFERENCIAS resume | sumAAY Patavens-chave | KEyWoRDS ecenine 01.04.2012 earo 20.04.2012, Bally, A. (2000). Dictionnaire grec francais. Paris: Hachette. Denniston, J. 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Sao Paulo: Companhia das Letras. ‘A nogio mitica de Khiéos na Teogonia de Hesiodo Sobre a no- 0 mitica de Caos se formulam e se analisam tr questées, a saber, 1) em que e 2) por que 3) 0 que se lé no livro O universo, 10s deuses, os homens de Jean-Pierre Vernant se distingue e di- fere do que se pode ler no texto da Teogonia de Hesiodo? | The ‘mythical notion of Khaos in Hesiod’s Theogony On the mythi- cal notion of Khaos, we can ask three questions: 1) in which and 2) why 3) what can be read in the book Liunivers, les diewx, les hommes by Jean-Pierre Vernant is distinct and different from what can be read in Hesiod’ Theogony? Pensamento mitico. A nogio mitica de Caos. Teogonia. Hesio- do. Hiroshima. Nagasaki. Guerra Fria. | Mythical thought. The mythical notion of Khaos. Theogony. Hesiod. Hiroshima. Naga- saki, Cold War. JAA TORRANO Rua Edgard Machado Santana, 290, apto. 33 05587 000 - Sao Paulo - SP tel: 11 3726+ 6383 jtorrano@usp.br.

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