do Gato
Fico
Poncio Arrupe
Parte II
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Imprio
A lotao est quase totalmente preenchida. A msica
gritada em badaladas pelos megafones, mais uma vez, f-lo
emergir do estado de quase ausncia de conscincia de si
prprio e do local em que est. Encontra-se sentado na zona
de trs do auditrio improvisado com uma longa srie de filas
de cadeiras, na maior sala de reunies do hotel, junto
parede do lado esquerdo, a mais prxima da porta. Escolheu
deliberadamente um lugar ladeado por outros dois tambm
desocupados. Nunca gostou da proximidade fsica de
estranhos e assim sente-se mais -vontade para adotar as
posturas que bem lhe apetecer. Tem os ps francamente
afastados, as plantas totalmente assentes no solo. Est
dobrado sobre si com os cotovelos apoiados perto dos
joelhos e a cabea segura pelas palmas das mos, que
ocultam quase totalmente a face. Olha, imvel, o cho que
est debaixo da cadeira ocupada que se encontra sua
frente. Deste modo procura passar incgnito para que
ningum repare no facto de no intervir.
Mas agora j no consegue abstrair-se do que vai ouvindo
das intervenes de alguns dos presentes, situados
maioritariamente bem mais frente, perto da mesa de honra
onde se encontra sentado, virado para a assembleia,
ladeado por mais trs homens engravatados, o conferencista,
um historiador de nomeada. Est-se no perodo de perguntas
e respostas e de debate. Um conflito interior assola-o e toma
inteiramente conta da sua mente. Divide-se entre conter-se
para no intervir de forma abrupta, irreverente e contestatria
radical, e o medo que sempre lhe bloqueia a iniciativa
quando se v na iminncia de se sujeitar a alguma exposio
pblica. Mas acaba por se limitar a elaborar a sua
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