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DUAS CULTURAS

30-09-2007

+ Marcelo Gleiser

Duas culturas

Como teorias tão especulativas e tão difíceis de testar podem


ser tão populares?

MARCELO GLEISER,
é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover
(EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo".

Quando a expressão "duas culturas" é mencionada, pensa-se logo


no físico e escritor inglês C. P. Snow, que no final da década de
1950 argumentou que a rixa entre as culturas científica e
humanística ameaçava a produção acadêmica. Esta poderia tornar-
se estéril, destituída de idéias verdadeiramente novas. Hoje, quero
abordar uma outra rixa que, apesar de mais interna à física,
repercute em várias áreas. Trata-se da disputa entre os físicos que
trabalham na teoria das supercordas e, essencialmente, todos os
outros.

Antes de mais nada, um esclarecimento. "Supercordas" é o nome


dado às teorias da física de altas energias que visam mostrar que
tudo que existe na natureza é manifestação de uma única força. A
física descreve o mundo natural em termos de interações entre os
vários tipos de força. Após 400 anos de pesquisa e experimentação,
a versão atual dessa narrativa resume tudo que percebemos e
medimos em termos de quatro forças: as forças gravitacional e
eletromagnética, que conhecemos bem, e as forças nucleares forte
e fraca que, como diz o nome, só atuam dentro do núcleo atômico.
Albert Einstein passou os últimos 30 anos de sua vida tentando
encontrar uma formulação na qual as forças gravitacional e
eletromagnética fossem, na verdade, uma única força, capaz de se
manifestar de dois modos.

Apesar de ter falhado na empreitada, a idéia persistiu, em parte


porque a maioria dos físicos vive numa cultura monoteísta, em parte
pelo sucesso que outras unificações tiveram na física e em parte
porque a função da física é tentar obter a descrição mais simples
possível dos fenômenos naturais.

Milhares de físicos continuam tentando encontrar essa força


unificada. A idéia mais promissora é, sem dúvida, a das
supercordas, a teoria que substitui o elétron e outras partículas
fundamentais da matéria por tubos de energia – as supercordas –
que existem em nove dimensões espaciais (seis a mais do que as
que vemos) e cujos efeitos se manifestam a distâncias muito
menores do que as que podem ser medidas experimentalmente, ao
menos no futuro próximo.

Nada de errado em construir teorias especulativas sobre o mundo.


A maioria das grandes idéias científicas surge exatamente assim,
por meio de especulações. Mas o que vem ocorrendo é um
ressentimento crescente entre os físicos que trabalham em outras
áreas, que afirmam que as supercordas atraem gente e dinheiro
demais.

Dinheiro, aqui, significa financiamento para pesquisa e o número de


empregos nessa área, tanto em pós-doutorados quanto em vagas
para professores. "Como teorias tão especulativas, que jamais
foram demonstradas e que têm chances apenas remotas de serem
testadas com a tecnologia atual, podem ser tão populares e bem-
sucedidas?" – perguntam os físicos de outras áreas. O problema é
de natureza filosófica, já que a essência da física é a construção de
teorias "testáveis" sobre o mundo. Se uma teoria não pode ser
testada, ou se pode ser modificada a cada vez que é demonstrada
incorreta, feito um peixe escorregadio que ninguém consegue
agarrar, o que essa teoria explica? Ela é uma teoria física ou
apenas especulação metafísica? Essa é a rixa.

O sucesso das supercordas vem do seu apelo mítico: a teoria das


teorias, o mundo numa equação, a "mente de Deus" etc. Mas não é
por isso que devem ser desmerecidas. Mesmo se erradas, muito se
aprende com elas.

Se certas, serão a coroação de quase três milênios de platonismo.


Nesse meio-tempo, o ideal não seria cortar o financiamento dessa
área de pesquisa, mas ampliar o das outras. Um bolo maior
alimenta mais gente.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth
College, em Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do
Mundo".

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe3009200704.htm

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