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A crise na segurança pública no Brasil

TEXTO: FERNANDO SALLA*

O
ano de 2006 vai ficar grava-
do na História do Brasil
como o ano que apresentou a
maior crise no sistema de segurança
pública, que atingiu em especial o
Estado de São Paulo, o mais impor-
tante do país. Essa crise teve três
capítulos até o momento. O primeiro
deles, de 12 a 19 de maio; o segun-
do, de 11 a 17 de julho; e o terceiro, Ônibus incendiados pelo PCC em São Paulo
de 7 a 13 de agosto. O sistema peni-
tenciário foi abalado por rebeliões,
mas foram as ações fora do sistema nas de ônibus foram incendiados. por volta de 1993 no interior do
que mais impressionaram: policiais Uma equipe de reportagem da prin- sistema penitenciário e conseguiu,
e agentes penitenciários foram mor- cipal rede de TV do país foi seqües- ao longo destes anos, um grande
tos, prédios públicos, como por trada. controle sobre boa parte da massa
exemplo bases de policiamento carcerária e sobre muitas atividades
comunitário, delegacias, fóruns e Esses atentados, que utilizaram criminosas em diversas cidades do
também instituições privadas, como táticas terroristas, foram ordenados Estado.
agências bancárias, supermercados, por um grupo criminoso de dentro
casas comerciais, foram alvos de das prisões do Estado de São Paulo, As raízes do crescimento da crimi-
bombas, granadas, coquetéis incen- conhecido como PCC (Primeiro nalidade em geral e do fortalecimen-
diários e tiros. Mais de duas cente- Comando da Capital). Ele se formou to desse grupo em particular são

Terror in São Paulo schockiert Brasilianer

Seit drei Monaten führt das organisierte Verbrechen vor allem in der Stadt São Paulo Krieg gegen den Staat. Herausgefor-
dert wird die Regierung von der Drogenmafia PCC (Primeiro Comando da Capital – Erstes Hauptstadtkommando), die als bru-
talste Verbrecherorganisation Brasiliens gilt. Es ist ein blutiger Konflikt, der an Horrorszenen aus apokalyptischen Spielfil-
men erinnert: Sprengsätze auf Polizeireviere, Bomben auf Banken und Gerichte, ausgebrannte Nahverkehrsbusse und Strei-
fenwagen, exekutierte Staatsdiener. Seit Mai kamen bei über 1000 Anschlägen mehr als 180 Menschen ums Leben. Die mei-
sten Opfer waren Polizisten.

Der Soziologe Fernando Salla, Gewaltforscher an der Universität São Paulo, sieht als Gründe der terroristisch geführten
Anschläge u.a. die tiefe soziale Ungerechtigkeit und die damit verbundene Aussichtslosigkeit von Millionen von Jugendli-
chen, die fehlende Integration der verschiedenen (rückständigen) Instititutionen der Justiz, die Mißachtung des Strafvoll-
zugsgesetzes durch den Staat, was zu unmenschlichen Bedingungen in den Gefängnissen führt, sowie schlechte Bezahlung
und Korruption bei der Polizei.

„Der Staat zerfällt und produziert Gewalt“ – sagen bereits kritische Stimmen in Brasilien. Salla plädiert in seinem Artikel für
einen intensiven Dialog und eine bessere Zusammenarbeit zwischen Regierung und Organisationen der brasilianischen
Zivilgesellschaft, um das Problem der öffentlichen Sicherheit in den Griff zu bekommen.

24 Tópicos 3|2006
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muitas: um ambiente social de pro- mídia do que em função das reais


funda desigualdade social, que cer- condições de insegurança urbana nas
ceia as oportunidades de vida digna cidades.
principalmente para milhões de
jovens pobres; um sistema de Justiça É evidente que esses ataques inter-
criminal (polícia, Ministério Público, ferem também no fluxo de pessoas
Poder Judiciário e sistema peniten- que visitam o Brasil para negócios,
ciário) que atua sem integração entre lazer ou atividades culturais. O Bra-
suas instituições e é incapaz de se sil tem no turismo uma importante
modernizar efetivamente para aten- fonte de ganhos – em 2005, o fatura-
der às necessidades da sociedade; o mento do setor foi de U$ 3,8 bilhões.
desconcertante descumprimento da As notícias que circulam pelo mundo
Lei de Execução Penal por parte do sobre o Brasil ocorrem em momen-
Estado, que acaba submetendo mi- tos agudos das crises e também pro-
lhares de presos a condições sub- vocam medo e insegurança em pes-
umanas de encarceramento; níveis soas que buscam o país para o turis-
insatisfatórios do trabalho policial, mo nas suas diversas modalidades.
corrupção, impunidade dos agentes Porém, o que prevalece mais é a
públicos (policiais e agentes peniten- vas em decorrência da crise e poucas desinformação sobre as reais con-
ciários principalmente), que se ligam foram as iniciativas de políticas pú- dições de segurança do país, uma vez
às atividades criminosas do PCC ou blicas mais consistentes para o que a maior parte das cidades não
permitem a sua operação (viabilizan- enfrentamento da criminalidade viveu qualquer tipo de ataque de esti-
do fugas, entrada de celulares nas organizada. lo terrorista e não apresenta riscos
prisões, acobertando crimes, ceden- efetivos para a segurança pessoal.
do armas para bandidos etc.), são Um dos efeitos mais danosos da
outros aspectos essenciais para se crise na área da segurança pública é De qualquer forma, a questão da
compreender a forte presença do ter aumentado a sensação de insegu- segurança pública é muito complexa
crime organizado na sociedade. rança na população brasileira. Pes- para ficar restrita aos órgãos gover-
quisa produzida pelo jornal O Esta- namentais. No entanto, apesar de
Algumas das principais reivindi- do de S. Paulo e pelo IBOPE (divul- haver no Brasil inúmeras orga-
cações desse grupo criminoso estão gada em 29/08/2006) mostrou que nizações da sociedade civil que
associadas à redução das péssimas 26% da população de São Paulo atuam na área de segurança pública
condições de encarceramento alteraram sua rotina de vida em (como a Pastoral Carcerária), lamen-
impostas aos presos, que infelizmen- função dos ataques do PCC. Mas, o tavelmente elas não são chamadas a
te passam despercebidas da maior mais curioso é que em todas as participar diretamente do processo
parte da população. Mas há reivindi- regiões do Brasil essas porcentagens de formulação, implementação e
cações desse grupo que são mais (que variavam de 19 a 28%) pratica- avaliação das políticas públicas.
corporativas e dizem respeito ao mente se repetiram, ainda que os
abrandamento das condições rígidas ataques tenham ocorrido quase que A desarticulção dos órgãos que
de encarceramento a que são sub- exclusivamente no Estado de São atuam na área de segurança pública e
metidos seus líderes, em unidades Paulo. Ou seja, o medo se alastrou o pouco diálogo das esferas governa-
prisionais de segurança máxima, nas por diversos Estados brasileiros, tal- mentais com a sociedade civil indicam
quais são reduzidas as chances de vez como efeito muito mais da que há muito por fazer para superar a
fuga, entrada de celulares e onde as divulgação dos acontecimentos pela crise nesse setor no Brasil.. n
visitas e banhos de sol são bastante
controlados.
Sobre o autor
A crise ganhou cores mais acentu-
adas por conta do processo eleitoral Fernando Salla, doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, é pes-
quisador do Núcleo de Estudos da Violência. Autor do livro As Prisões em São
em 2006. Apesar do debate público
Paulo (1822-1940). Atualmente coordena o projeto "Construção das Políticas de
que vem provocando, a área de segu- Segurança Pública e o Sentido da Punição, São Paulo 1822-2000", desenvolvi-
rança pública no Brasil é considera- do no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo.
da politicamente desgastante pelas
autoridades, que evitam mantê-la O Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo existe há
como centro de suas preocupações. quase vinte anos. Sua agenda de pesquisa é fortemente motivada pelo desafio
Há uma disputa entre as autoridades de desenvolver políticas públicas garantidoras dos direitos humanos no Brasil.
federais e estaduais sobre as razões e Além da área de pesquisa, o Núcleo desenvolve a difusão de conhecimentos
os métodos mais adequados de por meio de cursos, ensino à distância e coopera intensamente com as autori-
dades que atuam na segurança pública, e também com as organizações da
enfrentamento da crise. No entanto,
sociedade civil.
não foram feitas reformas legislati-

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