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RIZAR AS CULTURAS INDIGENAS PORQUE FAS SE CONSTITUEM, POTENCIALMENTE, EM UM RVATORIO DE TECNOLOGIAS UTEIS PARA 0 SENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL” DA AMAZONIA DEIXA DE SER UMA INSTRUMENTALIZAGAO DE RELACAO COM ESSES POVOS, FRUTO DE UMA DE UTILITARISTA E ETNOCENTRICA, QUE PARECE "ADMITIR 0 DIREITO A EXISTENCIA DOS OUTROS SE 'S SERVIREM A ALGO PARA NOS ‘muito hoje em dia em “conhecimentos tradicionais” sna: que devem ser valarizados,assimilados, incorporados sso estoque de conhecimento e, na medida do posse, ios, so €, eciprocados. Todos conhecesnos esse discurso. x vou problematizar alguns de seus aspects. Primeiro, 0 ¢ pelos chamados conhecimentos tradcionais se apoia ude em tuma concepeio, de nossa parte, completamente cional, no mau sentido, do conhecimento, ou sea: a nolo hhecimento tradicional no mudou nem um pouco o que entendemos por conhecimento. Segundo, 0 discurso sobre thecimentos tradcionais enfatiza os contetidos desse co- Imento, separando tals conteides de sua forma. Ora, 0 ue gue os conhecimentostradicioais indigenas dos noss0s ¢o- imentos —traicionais ou cientificos ~€ muito mais forma © contetido , além disso dela mesma de conhecimento: gem de quem conhece, a imagem do que hia conhecer,e estio de para que, ou melhor, por que se conhec. ENS EQUIVOCADAS nossa imaginacio — de brancos, brasileiros ¢ ocidentais -, povos indigenas so como personagens ambiguos, a repre- acto de uma forma de vida humana que seria radicalmente iGEM NO BRAS 2008 2010-NSTITTO SOCORNBINTAL CONHECIMENTOS TRADICIONAIS + A Natureza em Pessoa: Sobre Outras Praticas de Conhecimento Ctra snae ate | crn tt diferente da nossa porque stariaem sintonia natural com a natu- ‘rez, Essaimagem ni € privilégio dos lig, ou da mia incuta, porque uma parcca significatia ds estudos antropolgicos, por ‘exemplo, sobretudo daquels parcela que ¢tributaria de um certo naturalism simplista,tende a apresentar 0s povos amazénicos como se fossem populagies animais reguladas — do ponto de vista de sua composigSo,distribuigio e atividade — por parime- tros naturais independentes de qualquer atvidade constituinte propriamente humana ~ parémetros termodinsmics,essenck mente sintoniaindigena com a natureza, nessa imagem, seria ‘uma espécie de sintonia ins, imanente, inconscente organic. Estaria “no sangue”; seria uma cosa “natural” ‘Ao mesmo tempo, nds, de uma maneira contraditGria, também ‘costumamos imaginar os povos indigenas como possuidores de ‘uma quantidade de segredos da floresta inacesseis & ciéncia ‘ocidental. Nesse caso a sintonia ds indios com a natureza nfo seria mais algo passivo ou natural, mas seria alguma coisa ativa, ‘ranscendente, cognitiva —seriaquase sobrenatural. Mais uma vez isso tem recebido o apoio bem intencionada de vrios estudiosos ‘empenhados em fazer reconhecer 0 valor justo, ¢0 just valor, dos conhecimentos nativos. ‘Meu ponto € queas duas imagens esto profundamente erradas E ‘certo que os povos amazniens encontraram, a longo de milenios, estratégias de convivéncia com seu ambiente que se mostraram ‘com enorme valor adaptativo; que, para isso, eles desenvolveram tecnologiassoisticadas que so infinitamente menos disruptivas das regulagbes ecoldgicas da floresta que os procedimentosvio- lentos grosseiros utilizaos pela sociedade ocidental. Também & certo que esse saber indigena tem que ser estudado, difundido ¢ ‘alorizado urgentemente; ¢ 6 ainda mais certo que ele pode se, em titima andlse,o passaporte para a sobresivéncia no mundo ‘moderno dessas soviedades que o produziram. Mas hd aspectos problemiticos em todas essas representagbes, que rsidem nos {ermios mesmos em que eas se exprimem. uessugio | a dea de que ossaberes indgenas so “naturalmente” ecoliglns, ou “culturalmente” ecolGgics, e que equivalem aos ensinamen- tos da evologia moderna, quando mesmo nao os uperam, uma ‘dia que se encontra em trabalhs de antropologia desde que 2 ecologia ~a palara,o tema eo pinico —entrou naondem do dia do imagindtio ocidental. Ui exerplo famoso dessa concepeio do saber indigena como sendo essencialmente andlogo a0 que ensinam as lies da ecologia moderna é um artigo pioneiro de Gerardo Reichel-Dolmatoff (Cosmology as ecological anabsis:a view fom the rainforest. Man, 23), 1976,307-318),actrop6logo que é um dos herds fundadores da antropologia amazénica. Foi ele quem apresentou 0 mundo o pensamento rionegrino ‘aupesino. Pois bem, G. Reiche-Dolmatoffavanca,nesse artigo a que me refiro, a tese segundo a qual a cosmologia Desara seria uma espécie de codificago, ou ciframento, de uma concepeio do Cosmos como um vasto ciruito de trocas energticas ~con- ‘cepgio que seria em tudo comparvel ao modelo ermodinamico ‘que subjaz As noges modernas da ecologia, como um sistema complexo de circulaclo energética. ois bem; quero explorar uma outra relagdo possivel entre 0 pensamento indigena amazinico — e americano em geral — e certs prnetpios fundamentas também paraaecologia, mas um pouco diferentes dessa concepcao da ecologia como redutivel & idefa de um sisterna de trocas energéticas entre componente de um “ambiente”. Quero chamar a atengéo para um fato que a.evologia também ensina: ndo hd ambiente sem ambientado, ‘Nao existe ambiente em abstrato, no absoluto, Todo o ambiente é ambiente de um determinado organismo ou espécie para quem, ‘ou de quem, oambiente€ ambiente. Desse ponto de vista, anogio de ecossistema € uma abstracio relativa: um ecossistema seria ‘algo como o horizonteteGrico dos mltplos ambientes corres- pondentes aos diferentes sujetos possieis que habitam aquele Jugar; que coexistem, os miltiplos ambientados, as diferentes espécies de sujeitos possiveis coexistentes no “ambiente”; na verdade, diferentes ecossistemas em superposicio. Aideiade que nao ha ambiente sem um sujeito de quem ele é0 ambiente, que uma ideia ecoligica, me parece extremamente préxima de uma nogo indigena fundamental, que eu batizei de perspectivismo, sobre a qual jd eserevi mito, Em vez de falar nela, queria na verdade me ater 20 problema da forma do conhecimento in ‘gna, isto é, as condigdes em que se constitu o que charmamos “conhecimento” para os indios. ADAPTACAO A, DE, OU COM? Em primeiro lugar, a relagio entre as sociedades indigenas € ‘ ambiente amazénico nfo é a de uma adaptacio passiva das primeiras ao segundo — que contrastaria com a destruico ativa levada a cabo pela sociedade nacional, plo capitalismo ¢ suas téenicas mirabolantes ~ mas a de uma histéia comum, onde sociedade ambiente evwram em conjunto.AAmazinia éuma regkio ocupada milenarmente por povos indigenas,e secularmen- ” | essucho te por segmentas da populacio nacional de origem europeia e africana, que se acostumaram, em todos os sentidos da palavra, 420s ritmos e exigncas da floresta. Antes da enorme catéstrofe a invasio europeia que dizimou seus ocupantes orgindrios do Continente ~, a Amazbnia era uma regio densamente powoada por sociedad que modificaram o ambiente tropical sem destruir suas grandes regulagBes ecoligcas. ideia de ‘mata virgem tem ‘muito de fantasia: como hoje se comeca adescobrir, boa parte da cobertura vegetal amazdnica, com sua dstibuigio ¢ composicio specifica, ¢ 0 resultado de milénios de intervengéo humana; 2 ‘maioria das plantas tes da regio proifraram diferencialmente em fungio das écnicas indigenas de aproveitamento do territrio; porcGes nada desprezfveis do solo amaz6nieo— alguns falam em 12% ou mais — so antropogénicas,indicando uma ocupagio intensa e antiga da regi. Isso que chamames ‘natureza’, sobretudo quando olharnos para ‘2AmazOnia, 6 pare e resultado de uma longa histria cultural © de uma aplicada atividade humana, Dat no se segue — tavez ‘fo seja preciso repetir — que qualquer aividade humana o3 ‘qualquer intervenco cultural seja compativel com o ambiente amazSnico; para dizé-lo de maneira cru, ofto de floresta nao ser mais virgem no autoriza ninguém a estupré-la Em segundo lugar, a ‘ecologizaeo’positva dos indios desconsi- deraas relagesintrinsecas entre esse saber téenio indigena © suas condigdes socias de emergéncia, de dstibuicao ede exer- cfcio ~o problema mais sutle interessante. Nem natural ness sobrenatural, a sinfonts dos fndios com a natureza 6 social, i 6, mediada por formas espectficas de organizacio sociopoltica: ‘uma vez que naturera é natureza para uma sociedade determi- nada, fora da qual se redusz2 uma abstracko vazia. Dessocalizae= ‘ssh indigena iss , purificélo em laboratério ~ num sentide no real, mas metafrico do termo — pasteurizéo, retirar impurezas cosmol6gicas contidas nele para lierar a sua sul tinciaepistemolGgica ava € expropri-lo teoramentee, pen en, inutlizé-o praticamente, Além disso, valorizar as culturas indigenas porque essas) constituem, potencialmente, em um reservatdrio de tecn Gteis para o ‘desenvolvimento sustentével’ da Amaz6nis deixa de ser uma instrumentalizagéo de nossa rlago com: povos,fruto de uma atitude uilitarista e tnocéntrica, que 6 admitr o drei & exist8ncia dos outros se estes serv algo para nés. E, portanto, enim, & com um certo gosto ‘na boca que temos que dizer que as tecnologias indi fundamentais para o deserwolvimento sustentive a. Parece que, se assim ndo o fosse, se 0s indios nfo so de nada interessante para nés, entio poderamos ‘ac todos eles porque esto atrapathando — e tem gente justamente isso. As relagbes com a natureza néo so nunca, tratan ciedades humanas, relagbes naturas, mas relagbes as dos indios sio tZo ou mais humanas que as nos avos noises wo east 2067010. stro orgue essas relacdes se travam a partirde formas sociopoliticas| Eterminadas, como também porque elas pressupdem disposit- conceit, simblios ecognitivos especiticos,instrumentos ceituais de sntonia com o rea, ou de apropriagio da natureza. o instrumentos que tém por caractristica distintia ofato de cles sio culturalmente especificados, isto é, que slo reati- ente arbitrdrios e nao determinados univocamente por pa- etros extraconceituais; caso contririo,ndo haveria diferencas sociedades indigenas dentro de um mesmo ambiente. se aspecto fundamentalmente social das relacdes entre socie- dee naturera estd na origem da reflex cosmol6gicaindigena.

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