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Este artigo resume o livro "Os intelectuais e a política no Brasil: entre o povo e a nação", escrito por Daniel Pécaut. O autor analisa a posição dos intelectuais brasileiros entre 1920-1982, mostrando como sua percepção mudou ao longo do tempo, de apoiar o Estado a questioná-lo após o golpe militar de 1964. Pécaut explora como os intelectuais se viam como responsáveis por educar o povo e defender a nação.
Deskripsi Asli:
Daniel Pécaud - Os Intelectuais e a Política No Brasil: Entre o Povo e a Nação
Judul Asli
Daniel Pécaud - Os Intelectuais e a Política No Brasil: Entre o Povo e a Nação
Este artigo resume o livro "Os intelectuais e a política no Brasil: entre o povo e a nação", escrito por Daniel Pécaut. O autor analisa a posição dos intelectuais brasileiros entre 1920-1982, mostrando como sua percepção mudou ao longo do tempo, de apoiar o Estado a questioná-lo após o golpe militar de 1964. Pécaut explora como os intelectuais se viam como responsáveis por educar o povo e defender a nação.
Este artigo resume o livro "Os intelectuais e a política no Brasil: entre o povo e a nação", escrito por Daniel Pécaut. O autor analisa a posição dos intelectuais brasileiros entre 1920-1982, mostrando como sua percepção mudou ao longo do tempo, de apoiar o Estado a questioná-lo após o golpe militar de 1964. Pécaut explora como os intelectuais se viam como responsáveis por educar o povo e defender a nação.
R. Histria, SSo Paulo, o. 127-128, p. 187-234, ago-dez/92 a jan-jol/93.
PCAUT, Daniel. Os intelectuais e a poltica no Brasil: entre o povo e a
nao. So Paulo: Editora tica, 1990, 335p.
Cludio Roberto da Silva *
Antes de reconhecer qualquer definio sobre o lugar que o intelectual
ocupa na estrutura social, Daniel Pcaut, socilogo francs e especialista em problemas polticos da Amrica Latina, afasta tal possibilidade por considerar esse exerccio incuo, salvo se a definio comportar a problemtica do reconhecimento social do estatuto da intelectualidade e de sua produo numa sociedade e num momento dados. a partir dessa perspectiva que o autor, atravs de seu trabalho, busca delimitar a posio social dos intelectuais, o lugar que os intelectuais atribuem a si prprios, as representaes do fenmeno poltico e as articulaes entre o campo intelectual e a esfera poltica. A obra recupera a trajetria da intelectualidade no Brasil entre 1920 e 1982. Contudo preciso lembrar que ele, autor, reconhece os limites de sua anlise, ao estabelecer como critrio restritivo a trajetria poltica dos intelectuais que se vinculam a sociologia, visto sua preocupao em no conseguir abarcar os amplos domnios da cultura. Pcaut tambm reconhece ter mencionado a intelectualidade brasileira como um todo, porm deixa claro que os intelectuais tratados em sua obra so aqueles instalados em So Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Estes pontos do conta da delimitao do campo de sua reflexo. O autor trabalha criteriosamente, sua obra organizada em duas partes. A primeira dividida em dois momentos, onde o fato dos intelectuais terem sido solidrios construo de uma cultura poltica, pela qual se responsabilizavam e de onde derivava sua prpria legitimidade, define a primeira parte do trabalho. Em poucas palavras, o autor se detm num primeiro momento sobre a politizao dos intelectuais da primeira gerao, definida entre 1920-40, Departamento de Histria/USP.
R. Histria, So Panlo, D. 127-128, p. 187-234, ago-dez/92 a jan-jul/93.
construindo no decorrer do texto a relao pela qual os intelectuais reclamam
para si prprios a autoridade, perante o Estado, para executar sua misso poltica, basicamente definida por duas tarefas: forjar a "conscincia nacional" e promover a "organizao" social. O acesso dos intelectuais a posio de elite dirigente qualificava-se por sua capacidade em captar e interpretar os sinais que demonstravam a existncia de uma nao inscrita na realidade. Nesse sentido, a intelectualidade, alm de fazer um jogo seguro ao lado do Estado que lhe reconhecia tal direito, destinava-se a fazer as massas amorfas adquirirem progressivamente seus direitos de cidadania. O carter explicitamente poltico dos intelectuais ao lado da esquerda ressaltado pelo autor no segundo momento da obra, o qual abrange a gerao entre 1954-64. Pcaut detm-se mais especificamente sobre instituies e movimentos intelectuais determinados, ao ISEB, CP Cs (Centros Populares de Cultura), MEB (Movimento de Educao de Base), apontando o deslocamento de interesses por parte da intelectualidade que busca apagar as marcas de sua origem "pequeno-burguesa", inclinando-se para as classes populares. Difunde-se unia certa vulgata marxista, cabendo aos intelectuais o papel de conscincia do povo e da nao, com o objetivo de despertar as massas pr-conscientes e reconhecer a legitimidade de sua atuao enquanto intrpretes das massas populares. Para Pcaut a noo de cultura poltica destina-se a dar conta do fenmeno pelo qual ambas as geraes, tendo como base a crena no Estado, aderiram a mesma concepo de "formao" do social. Tanto uma quanto a outra se consideravam responsveis pela reorganizao racional da esfera social, devido ao fato de se situarem num plano acima do social, e de se considerarem co-autoras da produo das representaes do poltico. Pcaut considera que a cultura poltica se fundamenta no encontro das duas geraes, manifestando-se mais precisamente na viso da evoluo histrica, do povo e da nao. Esses elementos, da reflexo de Pcaut, tornam-se importantes a medida que na segunda parte da obra o autor mostra o deslocamento que se realiza nas concepes da esfera poltica, com o advento do golpe de Estado de 64, apontando os caminhos percorridos pela intelectualidade at 1982. Desfaz-se a cultura poltica, sobretudo, deixando como principal marca a convico que a intelectualidade tem por vocao situar-se, em relao a sociedade, no mesmo plano que o Estado. O autor apresenta a progressiva redefinio do campo intelectual, mostrando como o professor universitrio, principalmente o cientista social, assume esse lugar com a expanso das universidades, assim como da burocratizao que estabelece um controle pelo reconhecimento institucional de uma elite formada a nvel de ps-graduao. -194-
R. Histria, Sio Paulo, n. 127-128, p. 187-234, ago-dez/92 a jan-jul/93.
A coeso e evidncia adquirida pelos intelectuais muitas vezes com o
apoio do Estado, passa a ser mantida contra o Estado autoritrio. Passado o perodo subsequente ao AI5, a intelectualidade encarrega-se de elaborar uma nova simbologia poltica, tornando-se sua porta voz, chama a sociedade a se autoconstruir pela via democrtica. Neste ponto, o autor observa como a democracia deixa de ser propcia ao meio intelectual, colocando em cheque sua identidade e gerando a impossibilidade da categoria monopolizar a representao da nao. Frente s mltiplas divises da sociedade, presentes agora em seu meio, j no podem se projetar facilmente acima da sociedade e nem se instalar na dianteira da histria. A leitura da obra de Pcaut remete-nos a um notvel exerccio de interpretao histrica. Nesse sentido, o autor move sua reflexo, fugindo de anlises e concluses prvias, sobre o lugar que o intelectual ocupa em relao a sociedade. Conduzindo-nos, passo a passo, a conhecer seu trabalho com a especificidade de cada contexto histrico, no qual se insere a gerao de intelectuais abordada. Pcaut sugere anlises, reveladas a luz da pesquisa, sobre a maneira como a intelectualidade brasileira se posicionou, durante sua trajetria, nas lutas polticas e sociais do pas. E antes mesmo de determinar os pontos, reconhece os limites de sua reflexo, deixando a seus leitores referncias importantes sobre as relaes intrnsecas entre o saber e o poder.