Não queria mais participar desse cotidiano de cidade grande e, com esse
realidade: pedi demissão no banco no qual trabalhava – isso foi um alívio imediato;
vendi meu possante pela metade do preço – isso foi um desespero absurdo; vendi
minha casa para o filho da puta de um professor de história - isso foi uma baita dor
de cabeça; cancelei todas as assinaturas de serviços em meu nome – isso foi uma
novela global protagonizada pelo mocinho indefeso, que sou eu, e pelos vilões sem
compaixão, que são os atendentes de telemarketing; dei meu melhor amigo para a
minha mãe – isso foi uma escapatória de grandes porções de cocô, porém com a
aparelhos de tecnologia – isso foi loucura, mas pelo menos o notebook sobreviveu a
para Pribearandi. Ainda não sabia ao certo, em qual cidade iria morar
nada sobre aquelas poucas pessoas denominadas como caipiras da gema. Toda
cidade pequena tem uma legitima Igreja Matriz, certo? Pois bem, corri para a praça
onde ficava a tal igreja, assim, poderia analisar o comportamento dos caipiras
pribearandianos, e saber se aquela cidade era ideal para desenvolver meu nobre
projeto.
uma praça muito arborizada e repleta de pombas cagonas; cinco bancos com
idosos; dois pipoqueiros disputando o território aos berros; quatro pintores dando
outro.
momento senti uma apreensão muito forte, jamais passei muito tempo numa
pergunta veio a calhar: Como seria a porra do meu dia-a-dia naquele lugar? Só
próximo à praça da terceira idade, sendo assim, despachei o táxi, e caminhei até o
local tranquilamente.
que, sem pestanejar, fez a questão de iniciar um diálogo pouco acolhedor, afinal,
diária é 60,00 reais, por semana fazemos 360,00, e mês cheio fica 1380,00. Vai
querer, senhor?
naquele momento. Ao adentrar no quarto, fiquei bastante surpreso com o que vi:
II
propósito algum. Conseguir um digno agente literário era uma tarefa quase
mais esplêndido que fosse seu texto, a dificuldade de encontrar uma editora ou um
diferente do que encontrei ao longo da vida, ainda mais por possuir um descolado
Assim que pedi meu primeiro café debruçado no velho balcão engordurado, a
garçonete.
– Você deve ser o escritor que está hospedado no Sant Etiene Brasil,
acertei?
– Nossa, sou tão esquisito assim para ser reconhecido como um não cidadão
– Então, você não é daqui, afinal, olhe pra mim, eu também não pertenço a
– Mas estou aqui, fazer o quê. Meu nome é Paloma, muito prazer!
professora disse que tinha que seguir seu rumo para a escola onde lecionava,
sendo assim, tomei a coragem necessária para perguntar como ela sabia cada
– Só mais uma coisa: Como você adquiriu todas essas referências sobre o
cidadão aqui?
True Bank angariou essas informações, beleza? Ah, outra coisa, eu conheço um
Que filha da puta! Essa professora toda descolada trabalhou naquela merda
de banco onde fui escravo por 12 anos. Talvez, ela sabia muito mais do que eu
pudesse imaginar, ou quem sabe, ela já foi minha companheira em algum dos
setores que trabalhei, ou pior ainda, ela pode ser uma das 22 pessoas que mandei
Comercial!
Mas, dane-se tudo isso! Ela conhecia um agente literário que trabalhava
para uma das maiores editoras do país, se eu tivesse – ou não - cometido alguma
absolutamente nada.
III
amoroso ou simplesmente casual –, mas naquele dia algo estava errado com o meu
organismo. Uma baita dor de cabeça me fez passar a noite em claro, revirando de
um lado para o outro na cama e resmungando sem parar com o meu próprio eu.
assim, decidi tirar um breve cochilo que, na verdade, se estendeu até às 16h45,
minha enxaqueca que ela não apareça na noite anterior, e que me deixe dormir
– Ok, se não acredita, tá tudo certo! – afirmei meio atordoado, ainda com a
Com um olhar fixo e desacreditado, Paloma disse que o meu encontro com o
agente literário seria no próximo fim de semana, e que seria bom eu preparar um
bom rascunho sobre o que livro iria abordar, um currículo profissional e acadêmico.
revelados.
– Eu trabalhei no True Bank por seis meses, fui assistente na época que
você era Superintendente da área Comercial. Meu tio é dono do Sant Etiene Brasil,
seu nome era Nico Gomes. Como eu sou professora de Português, logo me
interessei, e alguma coisa me dizia que esse nome não era estranho . Quando eu te
antes de tomarmos o café que, naquele instante, seria o da tarde. Após tomar um
– Opa, opa! Pensei que você estava com fome, que dizer, na verdade está,
mas fome de outra coisa, né? – perguntou Paloma com uma voz tremula ao me ver
– Calma, não tenho culpa que você não bate na porta e não me deixa
aquela fartura. Com a mesma rapidez que coloquei a roupa, fiquei bêbado com
tanta cerveja e champanhe. O mesmo aconteceu com Paloma – pelo menos era o
que eu achava.
acordar, tudo parecia estar no seu devido lugar, porém não estava.
armário, meus sapatos e tênis não estavam na mala, muita coisa havia sido
Quando fui dar queixa na delegacia, constatei que não existia nenhuma
na verdade, era dona, uma senhora de 78 anos. Porém, até hoje não descobri
nome que aquela senhorita possuía – sabia que eu era um ex-funcionário do True
Bank, um aspirante a escritor e o mais instigante: o meu pobre nome Nico Gomes.
No final das contas, após este incidente, voltei a morar com a minha mãe
com ela, tive duas filhas lindas, Carol e Lara. Depois de outro tempo, me separei de
Luiza, passei a ver as minhas filhas a cada 15 dias e, novamente, voltei a morar
com a minha mãe. E, o desvairado sonho de escrever um livro foi ficando de lado,
até que, mais uma vez, eu realizei a mesma loucura de largar tudo, com mais
Hoje, faz três anos que o livro foi publicado, por uma editora pequena do