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O CONCEITO DO POLITICO Carl Schmitt @ Colegao CLASSICOS DO PENSAMENTO POL{TICO ‘Volumes publicados: 4, TRATADO SOBRE A CLEMENCIA - Seneca ‘A.CONJURAGAO DE CATILINA / A GUERRA DE JUGURTA - Salistio 7. SOBRE O PODER ECLESIASTICO - Egidio Romano 8, SOBRE O PODER REGIO E PAPAL Jodo Quidort 9. BREVILOQUIO SOBRE OPRINCIPADO TIRANICO- Guilherme ‘de Ockham. 10. DEFENSOR MENOR - Marsilio de Pédua ‘TTRATADO SOBRE O REGIME E 0 GOVERNO DA CIDADE DE. FLORENGA - Savonarola 16. OS DIREITOS DO HOMEM - Thomas Paine 29. AREVOLUCAO RUSSA ~ Rosa Luxemburg 33, 0 CONCEITO DO POLITICO — Carl Schmitt 40. 0 SOCIALISMO HUMANISTA - “Che” Guevara Préximos langamentos: 12. O PRINCIPE - Maquiavel 13. DE CIVE - Thomas Hobbes 14. DO CONTRATO SOCIAL / SOBRE A ECONOMIA POLITICA ~ J.J. Rousseau 15, A TEORIA DO DIREITO / PAZ PERPETUA — Immanuel Kant 21. SOBRE A CAPACIDADE POLITICA DAS CLASSES ‘TTRABALHADORAS — PJ. Proudhon 23. REFLEXOES SOBRE A VIOLENCIA ~ Georges Sorel 25. FACUNDO ~ Sarmiento z 31. SOBRE 0 ESTADO / 0 ESTADO E A REVOLUGAO - Lénin 35, 0 CONCEITO DA REVOLUGAO PASSIVA ~ A. Gramsci Carl Schmitt DEDALUS - Acervo - FFLCH-HI © conceito do politico. INA 21200032590 220.4 358bp O CONCEITO DO POLITICO Apresentagao de HANS GEORG FLICKINGER Tradugdo de ALVARO L. M. VALLS © Duncker & Humblot, Berlin 41, 1979 ‘Titulo original alemao: Der Begriff des Politischen Direitos de tradugéo em Iingua portuguesa: Editora Vozes Ltda. Rua Frei Luis, 100 25689 Petropolis, RJ Brasil ISBN 3.428.01331-X (Edigao original alema) ISBN 85.326.0688-1 (Edicéo portuguesa) Colegio Cléssicos do Pensamento Politico CONSELHO EDITORIAL Presidente Neylor José Tonin ‘Membros do Conselho Octavio Tani Mauricio Tragtemberg José Cavaleanti Souza Maria Helena Capellato Marco Aurélio Nogueira Secretério José Cardonha Copidesque Névio Fiorin Diagramasdo Daniel SantAnna Est livo fol composto impresio nas ofcinas gréfeas da Edtora Vozes Lida ‘em fevereiro de 1992. SUMARIO ‘Aluta pelo espaco aut6nomo do politico - apresentago de Hans Georg Flickinger, 9 O coneeito do politico ~ Carl Schmitt, 27 Tentativa de resposta, 34 Prosseguimento da resposta, 38 0 Conceito do politico (texto de 1932), 41 1. Estatal e politico, 43 ritério do politico, 51 10 da hostilidade, 54 isfo sobre a guerra e a designacao do inimigo, 71 6. 0 mundo néo é uma unidade politica e sim um pluriversum Pollo, 80 Gorolério 1: Quadro sinético das diversas significagées fungbes do conceito de neutralidade do Estado quanto & politica interna (1931), 123 Apresentagao ALUTA PELO ESPAGO AUTONOMO, DO POLfTICO ‘Poucos anos apenas depois de sua morte (em 1985), liga-se ao nome de Carl Schmitt a impressio de um mito que se criou, naverdade, nas décadas dos anos sessenta e setenta. Raras vezes surgiu, em nosso século, pensamento igualmente disciplinado, sagaz ¢ abrangente como o deste autor, que veio perturbar ‘rientacGes fixas do olhar intelectual aos fatos e as perspectivas davida politica do século vinte. De fato, o poder de andlise critica de Schmitt, enraizado em amplo conhecimento da historia e cultura modemas, ndo poderia ser enquadrado no esquema ireita-esquerda. Provocou, ao contrario, discussio polémica ‘quanto & sua filiagdo politica. Foram as préprias atividades deste homem que contribuiram a esta imagem ambigua: critico vee- ‘mente do sistema politico da Reptiblica de Weimar, tornou-se ‘conselheiro do governo quando da intervengio do poder federal na Prissia —em 1932 — e, um ano de ‘a eminéncia parda de cfreulos importantes dentro do nazismo; desde 1937 ignorado pelo mesmo regime, internado pelos Americanos depois da Se- gunda Guerra Mundial e tornado tabu, em seguida, como pen- sador ultraconservador, Carl Schmitt foi redescoberto pelo ‘movimento estudantil dos anos sessenta. Contradigdes aparentes, poderiam ser ainda acrescentadas 0 que, ent {86 depois de sua morte, sua obra toro! menos preconceituosa devido ao potenc fandlises e argumentages embora, até hoje, nao tenha sido evalorizada a finalidade de sua obra: a manutengao do lugar do 9 politico na época moderna, quer dizer, na época do crescimento do parlamentarismo demoerético, ao qual Schmitt se opés com insisténcia. Grande é a dificuldade de apresentar obra tao complexa e vaso ou, para melhor dizer, a recuperagao da area do dentro das comunidades modernas, cujas caracterfsticas tiram, segundo Schmitt, no debate sem fim, forma de desrespon- sabilizagéo dos agentes politicos frente as necessidades de decisio concreta.’ Filho mais velho de uma familia rigorosamente catélica, Carl Schmitt, nascido na Alemanha, em 1888, terminou os seus estudos de Direito com tese de Doutorado intitulada Sobre a culpa © 0s géneros de culpa (em 1910). Apresentou, em 1914, tese de livre-docéncia na Universidade de Strassburgo sobre 0 valor do Estado e a significagdo do individual”, tese esta que discutia a smo Romano ¢ Forma Politica (1923) e Hamlet e |. Pode-se dizer que a sua produtividade, com 1. Ver Poitsche Theologie (Feologia Politica), 4 ed, Berlin, 1985, p. 75. quase cingiienta livros e mais de duzentos e cingiienta ensaios, abrange ampla rea do mundo politico ¢ espiritual sem, no entanto, desembocar em qualquer diletantismo. Como jurista, Carl Schmitt contribuiu, antes de tugo, a0 desenvolvimento da doutrina da constituicéo moderna,” cuja base encontra-se na atenta releitura da tradigo européia: Mac- chiavelli, Hugo Grotius, Jean Bodin e os revoluciondrios conser- mnald, de Maistre, Donoso Cortés fundamentaram seu pensamento, destacando-se, porém, Thomas Hobbes como autor preferido, no qual Carl Schmitt enraizou sua critica ao sistema politico de Weimar. Com esta orientagéo opés-se ele aos outros {e6ricos contemporéneos do Estado, como por exemplo Otto Kirchheimer, Hermann Heller ou Hans Kelsen e Gerhard Ans- chiitz. Levando em conta esta orientagio i parlamentar. Encontra-se af uma brilhante andlise dos paradoxos do parlamentarismo democratico e de sua tendéncia de substituir a decisio politica pela exclusiva valorizagio da maioria quanti- tativa dos votos. Ao meu ver nao existe, até hoje, argumentagéo superior nem igualmente hicida quanto & r representativo do parlamentarismo, que, alids, viu-se nitidamen- te diferenciado da idéia da democracia na obra de Carl Schmitt; tal diferenciaco revelar-se-ia essencial para a idéia da consti- tuigo politica. A repreensio do liberalismo na forma de democracia de ‘massas, motivo basico da critica schmittiana ao parlamentarismo moderno (colocado, pela primeira vez, no esbogo A situacdo espiritual do parlamentarismo atual), atou-se aos principios rous- seaunianos da democracia direta, defendendo a tese da incom- 2. Verfessungtehre(Doutrina de Conti 48. Bm Poltiche Romantik (Romantismo 16. ed, Berm, 1982. ‘Berl, 1982, p. 4, Ver Die geistegeschichliche Lage des heutigenParlamentarismus (A slkuago spiritual do parlamentarsmo atual). 6 ed, Berlin, 1985, p14 u patibilidade da democracia com o sistema de representagio parlamentar. O parlamentarismo, por sua ver, teria perdido seu lidade no momento em que a livre discuss publica entre cidadaos independentes arruinou-se pelo 0 tético dos partidos fazendo desaparecer, assim, © ico no processo de decisio politica, dando lugar as negociagdes em comissées fechadas etc. Esta perversio do parlamentarismo moderno teria cortado, segundo Schmitt, 0s lagos com os princfpios constitutivos das {déias iberais da tradigdo, isto €, com o necessério ser publico seqiigncia dsto, o parlamentarismo, enquanto mero formalismo de decisio politica, poderia ser falsficado por qualquer outro tipo de deciséo formalmente legitimada: “Se o parlamento en- quanto instituigSo da verdade evidente virar meio meramente pritico-téenico, precisar-se-4 apenas demonstrar, via facti,atra- vvés de qualquer procedimento (por exemplo, @ ditadura), a possibilidade de um caminho diferente”. Em outras palavras, a questiio da democracia e a do parla- ‘da necesséria homogeneidade do pov, parlamentarismo de massas pressuporia a contradicao existente dos interesses particulares entre as camadas da sociedade. Tal opinigo, fundamentada nas idéias tradicionais da de- mocracia, marca a oposigao espectfica do pensamento de Schmitt em relagio aos principais tedricos do Estado na época de Weimar. O interesse dominante de Carl Schmitt dirigiu-se, em pri- meira linha, aqueles processos sécio- até aceleram a dissolugdo da homog outra que tente colocar, como niicleo, a idéia da necesséria 5. Idem, p. 10 6. Idem, p. 13. integracdo da sociedade, seja esta integrasao intencionada pelo planejamento e a organizacdo sécio-politicos (como foi defendi- da por Hermann Heller), seja ela empreendida pelo fortalecimen- to das regras coi jonais querendo solucionar as contradigées sociais e econémicas (como foi propagado pelos chamados “positivistas” Hans Kelsen ou Richard Thoma). Carl ‘Schmitt, na verdade, representou o papel do intelectual eritico, assumindo a tarefa de analisar, sem piedade, os momentos fracos de uma ordem constitucional, 0 que provocaria, a seguir, o fracasso da Repiiblica de Weimar. Seria inadequado, portanto, ‘chamar Schmitt de conservador, no sentido negativo da palavra, tendo em vista a sua preocupacdo com a possibilidade de evitar ‘a destruigio da ordem constituefonal do Estado de Weimar. Este iiltimo motivo evidencia-se na sua obra talvez mais “jurfdiea” no senso estrito da palavra, ou seja, na sua Doutrina Guerra Mundial, escolhido a constituigo do Estado do Direito liberal recusando, assim, uma repiiblica soviética, escolha esta que exclufa a reversibilidade da constituigdo através de legisla- fo parlamentar. A suspeita de que esta doutrina teria sido élaborada por Carl Schmitt frente ao perigo de uma poss majoria qualificada dos socialistas, 20 inicio dos anos stificada devido ao fato de que esta limitagdo teria impossi- bilitado se tivesse sido respeitada — a usurpacio legal do poder pelos nazistas, ou seja, pela maioria do NSDAP em 1933. A coeréncia da posigao schmittiana convenceu de tal modo, em 1949, A constituinte da nova Repiiblica Federal da Alemanha, que esta fez deste posicionamento um de seus fundament inegadveis: os, 38 basicos do “Grundgesetz” de 1949 (isto 4 a constituigao da Repiblica Federal da Alemanha) — como por exemplo a democracia, o Estado do Direito, os direitos humanos ete, foram, na trilha de Carl Schmitt, submetidos & garantia de inalterabilidade. Voltando & crise econémica mundial, de 1929, ou seja, & jo de uma quase guerra civil na Alemanha, e ao mituo Dloguelo politico entre os partidos da esquerda e da direita no fe da douitrina da constituiglo de Carl Schmitt. Pela p Jurfdica e sociolégica de suas andlises dos anos vinte, Schmitt através de um tiltimo esforco desesperado, ou seja, por meio de uma ditadura presidencial representada pela figura de von Hin- vvigoroso, o presidente deveria garantir a substan tuigdo vigente contra a neutralidade de valores formal. Como se sabe, 0 exp seria um erro fundamental atribui sabildade pelos acontecimentos histéricos posteriores. Sua tese do “Estado vigoroso” deve ser respeitada enquanto tent talvez retardada, de salvar a ordem constitucional da Rep de Weimar frente ao perigo de sua subversao tanto pela di quanto pela esquerda. Carl Schmitt foi, como document ‘oponente radical & entrega do poder a Adolf Hitler, fato este que se enquadra, de modo consistente, nas suas consideragées teéri- cas. ‘Uma das provas mais concludentes da clareza com a qual timidade (de 1932), cuja argumentacao exibe Sescciade de andlise critica e estilo puro insuperdveis. Na véspera da nomea- io de Adolf Hitler como chanceler, esta contestagao ao sistema do “Estado de legislago parlamentar” ee rentes os paradoxos do transformagio de questées politico-substanciais em pro io de votos sem que se possa impedir a tomada de decisbes irracionais. 7. Compare Legace und LgiimitieCLegalidadee Legitimidade), 3° ed, Berl, 1980, p.7. Em outras palavras, o sistema de legalidade parlamentar contenta-se com o respeito as formas legais do procedimento, aceitando 0s resultados como contetido por si legitimo. $6 para dar uma idéia das conseqiiéncias deste tipo de convicgdo consti- deverfamos pensar, a partir do ponto de vista de uma Se ee ee enquanto legitima, embora a idéia da democracia se fundamente na igual chance de todas as correntes politicas de chegar ao poder. Quantas vezes jé se percebeu o abuso da maioria parlamentar visando manter-se no poder! Existem intimeros 8505 nos quais o paradoxo exposto por Car! Schmitt redundow na repressdo maciga da vontade politica minor Dentro do contexto histérico dos anos trinta, Legalidade e Legitimidade deveria ser lida como diagnose profética dos even- de sua posig&o, veementemer “nazista” depois da Segunda Guerra Mundial: “Vocé nao deveria esquecer que ndo me posso integrar de novo entre os jovens, como se nao estivesse consciente da vergonha que me foi feita"®. Schmitt a integrar-se no ambiente nazista dos primeiros anos deste regime nio foram, até hoje, suficientemente esclarecidos. Parece-me mais provavel que Carl Schmitt tenha comegado a ‘gostar, desde o fim dos anos vinte, da participagio no poder Politico, calculando com uma certa inoeéncia do novo regime ‘quanto ao exercicio do poder governamental. Esta pressuposicéo fé-lo acreditar que o movimento nazista no poder sua pessoa na qualidade de jurista esperanga no o enganou, pelo mer anos 1933 até 1936, quando H. Goerin adeséo ao anti-semitismo e outras exigéncias ideoldgicas do ‘8. Em ears inédita do dia 10/03/1949. 15 regime nazista. Sem diivida, a interpretagdo desta trajetéria tem que ser feita em dois niveis diferentes: naquele do tedrico e clentistae, por outro lad na politica. |. Mesmo que os seus trabalhos daquela época, exemplo, A Ordem Global do Direito Internacional, de jam ser ligados a elementos de legitimagao referente & Este/Oeste no pés-guerra: Nomas da Terra, de 1950. Embora contemos ainda com poucas avaliagées fundamentadas sobre o perfodo compreendido entre 1933 e 1948, a linha argumentativa de Carl Schmitt enquanto tedrico politico nunca perdeu itagao de uma Teoria dos guerrilheirs (1963) ou a discussio do Euro-comunis- mo espanhol em A Revolucdo Mundial Legal de 1978, sendo este Liltimo esbogo também a sua ultima publicagdo. Em 1985, Carl ‘Schmitt morreu na pequena cidade de Plettenberg, onde nascera, rnuma fase em que a sua fama ultrapassara jé 0 individuo. acesso ao espfrito propriamente dito da obra de Carl Schmitt, aproximando-me do cerne por ele mesmo nunca contestado de sua teoria. Nzo igo de sua elaboragao; de qualquer modo, seu la-se a quem nio se limita as interpretagées que se atém a andlise baseada em conceitos ‘meramente juridicos. Mais ainda, defenderei, em seguida, a tese de que 0 pensa- iugio juridica, tese esta que io que categorias do direito, Epis veal ogica © lees ol tagictae" San tad ene 16 fundo de hist6ria espiritual em seu questionamento, nfo nos seria possivel compreender a esséncia desta teoria ‘Minha finalidade visa, em tiltima instanc do politico nos tempos modemos. Expresso de outra maneira, trata-se da tarefa de procurar~ frente & diagnose do desencan: tamento do mundo moderno (Max Weber) ~ 0s tragos reprimidos de pensamento. Da perspetiva atual, o mito é considerado cor conceite opesto 20 uminism quanto a coisificagdo das relagdes lista e a superioridade de uma cién¢ causalidade e da autonomia da razio. Embora ndo se conteste i-se este do horizonte do saber Esta conotagdo negativa do mito nos tempos modemnos é conseqiiéncia de um processo histérico do desencantamento do paar proceso ene ao lougo do qual s perde ua cura Hissin noah, Sree cae ‘mitos gregos, por exem- plo aquele de Edipo ou da carat de homem, mas de ages e de vida", tragédia, nao agem as personagens para assumem caracteres para efetuar certas a pretensio normativa, prescrita a tragédi ‘que foi sugerido pela tradugio da mimesi ‘mito enquanto resultado de uma composigao formalmente rigida 9. Arsttcles, Potice, Lisboa, 1986, p11 (pg. orig: 1450, 16). 7 da. Atese de Carl Schmit, segundo a qual “a eriago de um mito politico ou histérieo nasee da atividad. histéria do surgimento do iluminismo e do dominio da razo, © ponto crucial da argumentacdo schmittiana é precisa- ‘mente apontar & impossibilidade de encontrar um tltimo funda- mento de legitimagao dentro da racionalidade politica m« A conviesao de que sé na guerra real constitui tipo de fonte raciona- ‘mais, por critérios ssado por Schmitt nesta passagem do texto: a palavra “emanagao” d4, também, a enten- der a perda do dom{nio de normas tiltimas sobre o processo da criagio dos novos mi Como ja disse, 0 pr podemos esclarecer politica de Carl Schmi tos no uso modemo da palavra soberania. Esta tarefa exige a referéncia as préprias consideragdes de Schmitt, sobretudo aque- 10. Ver Poltische Romanti, 11. Idem. it, p. 225. las ligadas com a questo da secularizacio por ele reconsiderada. Tanto i trabalho sobre O Conceito do Pol finalmente, surge a indicagao no contexto ao trabalho de Peterson, intitulado O que é a trabalham, em larga extenstio, com conceitos estruturalmente compativeis’.|" Hé por vezes referéncias a estas passagens, na literatura secundaria, embora nio sejam esclarecidas as conota- Como se sabe, Hans Blumenberg argumentou, de modo convincente, contra a falsa interpretagio do sentido do conceito da secularizacao. Cito “O que passou, na maioria dos casos, pelo pprocesso chamado secularizagio... nfo pode se to transformagio de contetidos autenticamente teolégicos em ‘suia auto-alienagdo secular, sendo enquanto sul sigbes esvaziadas daquelas respostas, cujas respecti ‘nndo puderam ser eliminadas”.'® Na sua Teologia Politica Schmitt refere-se explicitamente a esta tese de seculari apresentada por Blumenberg. Nao interessado em expor a Pontos criticados por Schmitt, prefiro, neste momento, sublinhar 12. Compare Polische Teologie, op cit, p. 49. 13. Ver Der Begriff des (© Conceito do Politico), Reproducio {naterada do texto de’ 1932, Benim, 1979, p. 64 14.Ver Plizsche Theologie I (Teologia Plea I), segunda edigko, Beri, 1904, p. 98. 15. Compare Hans Blumenberg: Sdkularisierung und Selbtbehaupeung (Gecularizagio e Autoafirmagio), Frankfurt, 1974, p. 77 4 base comum, a partir da qual ambos autores argumentam. Segundo esta, o processo de secularizagio néio pode ser inter- vis de categorias da racionalidade moderna; pelo contrério, 0 ito de “substituicio”trazido por Blumenberg ~ e adaptado por Carl Schmitt significa uma retomada de perguntas sistemé- do ndo colocadas de modo suficiente pela conceit lidade teolégica. Nao surpreende, pois, a conclusio de Carl ‘Schmitt, segundo a qual a secularizagdo “nfo transforma, sendo esconde apenas 0 qu¢,e mundo nio suporta e- 0 que no pode suportar o qualifica’."° Tomando a sério esta sua posigo defen- sora da secularizagdo enquanto representante de um problema met6dico-sistemético de legitimacio dos conceitos usad ra-se0 esclarecimento do conceito moderno da sobera pelo recurso & sua fundamentacio originalmente teo curarei, por isto, esclarecer a génese teolégica deste conceito. Oacesso a esta génese dé-se na confrontagio de dois textos do Velho e do Novo Testamento: o texto que contém a auto-re- velagio de Deus no momento da designagio de Moisés (Bxodo, cap.3) €0 do inicio do Evangelho segundo Sio Jodo. Sem querer me estender quanto as diferengas centrais dos dois textos, cabe- me sublinhar o fato de o Novo Testamento opor ao Deus histori- camente presente, do povo de Israel, um Deus Transcendente, ppara o qual, ao invés do intervir histérico, a palavra, o logos tomou-se o meio por exceléncia de sua auto-revelagio. Foi aesta concepsio crist que Carl Schmitt aderiu feito homem, através da ‘Mais do que isto, no logos divino azo inerente ao mundo quanto submissa a esta razdo. O Evangelho, segundo Sao Jogo, e, portanto, do seguinte modo: “No prinesy feitas por ele; e nada do que foi a vida, e a vida era a luz dos hom ‘0 os dois momentos legitimadore: 16, Compare Poitsche Theologie I, op cit, p. 112. 20 instancia, da soberania do Deus cristo. O primeiro momento ‘manifesta-se pela decisdo origindria quanto & criagio do mundo, decisdo esta que, renunciando a qualquer fundamentagao argu, iva iltima, pée-se espontaneamente como soberana, exi- irrestrito. © segundo momento legitimador da soberania divina tornar-se-4 mais importante ainda para a com- Preensao posterior do conceito schmittiano da soberania politica. ‘Ao logos divino pertance o vigor de constituit a ordem objetiva, contendo-se nele a sua capacidade criadora desta ordem. Sa0 exatamente estes dois momentos constitutives que Schmitt reto- maré, seguindo esta tradigio teolégico-crista, para reforgar sua erftica ao conceito moderno da soberania, esvaziado de seu sentido verdadeiramente politico: 0 cardter do logos divino ia, por sua vez néo mais fundamentd- ceriador da ordem objetiva aparecerd, de novo, no contexto de sua interpretacio da esséncia da soberania politica. Pergunta-se, no entanto, como ele conseguiu fazer a transposigdo de seu contexto teoldgico para o politico, ‘Aproximamo-nos da resposta a esta pergunta tomando a sério um incémodo inerente & obra de Carl Sc Por esta. Este incdmodo tem sua origem na i ‘Schmitt de querer seguir uma idéia anti-raci réprio paradigma do iluminismo, o qual exige al validade de uma ordem politica por razées imanentemente fun- damentadas. Em outras palavras, na época do iluminismo nio poderia ser aceita uma ordem poiftica que nio fosse legitimada em prinefpios racionais desta ordem. A dificuldade, assim colo- cada, percebe-se pela fungio dupla do falar de um fundador. A efetividade de um prinefpio racio ela exclusiva validade objetiva e pela sua ca ‘unidade da ordem objetiva. Na tradiga fungées toraram-se constitutivas & compreensao da soberania divina. A idéia da soberania no contexto jluminista, em contra- Partida, abandonou o sentido do prinefpio, enquanto principio eriador da ordem politica, abandono este que provocaria espago livre do principio racionai em vigor. & exatamente pela falta de normas fundamentadoras, ca- pazes de justificarem o ato soberano de criagdo da ordem que se rimagio da 2 perde, segundo Schmitt, 0 espago auténomo do politico na democracia parlamentar-representativa nos tempos modernos. Se nés nos contentssemos com a descoberta do prinefpio ima- ordem politica estabelecida, entenderiamos tinica e jente a facticidade desta ordem sem saber nada de sua ‘tomando-se a ordem concreta como resultado da historia de conflitos pelo poder; ou reconhecer o fato de este momento “irracional” ter carter de condigo constitutiva da normalidade objetiva, mesmo que este momento nao possa ser deduzido dentro da racionalidade desta ordem. A primeira perspectiva seria conseqiiéncia do principio da democracia parlamentar-re- presentativa, quando aquela excl cas de excegao como inda perspectiva, pelo titutivos na criago da ua vez, exigiriam funda- i politico em vigor. Aliés, evitar uma argumentagéo foi o caso na Alemanha de 1932/3. contrério, insistiria em momentos ‘ordem objetiva, momentos que, px mentagao fora do alcance do pri esta iltima concepgio seria a circular, pela qual 6 prineipio politico da constituigao da ordem seria fundado nas determinagées deste mesmo prineipii Nao tenho diividas quanto & adesdo de Carl Schmitt & segunda hipétese mencionada, jé que ele sempre se interessava em levantar a questo dos critérios do caso de excecao. f claro que com esta incluso do irracional para dentro da ordem racional-poltica das democracias ocidentais, Schmitt antecipava, os motivos principais da argumentagio na Dialética do Muminis- mo, de Horkheimer/Adorno. 17, Baitada pela primeira vex em 1944, Compare, também, Helmut Spin © enraizamento das teses schmittianas na convicgéo da presenga simultdnea e inevitével de um momento constitutivo, alheio a prépria razdo politica vigente, manifesta-se, sobretudo, nna sua Teologia Politica. Sendo “a concatenagao do supremo poder facticio e juridico o problema base do conceito da sobera- nia’, ® “o racionalismo do iluminismo tinha que recusar 0 ¢aso de excegio (na politica, HGF) em todas as suas formas”."” A decisdo da ordem politica precede a ldgica de sua normalidade objetiva, ficando, assim, inacessivel a qualquer legitimagio pelo -vigente. Esta deciséo “é considerada, pela perspectiva da ordem, como criada de um Nada’.”” A indicagao deste “abismo” torna mais compreensfvel a impressdo de um anti-racionalismo apa- rente na posigio de Schmitt. Faco questo de afirmar, contra esta aparéncia enganadora, o agudo espirito analitico a investido: pelo questionamento da razdo-de-ser da légica interna da nor- ‘malidade, Schmitt descobriu a base néo mais legitimavel dentro » Chegamos, finalmente, ao ponto de referéncia central que liga a idéia da soberania divina com a politico-secular, descobrin- jtico em analogia ao questio- namento teoldgico. Trata-se, em ambos os casos, de uma unidade & qual o principio organizador e a decisfio origindria desta ordem pertencem inegavelmente como condi- {gdes necessérias. Tanto a distingao referente a teoria de Jean Bodin, em relago ao qual Schmitt afirma que “a base de seu sucesso encontra- to de ele ter introduzido a decisiio no it indicagdo referente a muia (a saber, sna “monés” divina ena “mia arché” artistotélica™”) demonstram- 18, Bm Poitche Theologie, op. cit, p27. 19. idem, p. 49. 20, Idem, p. 42. 21. Idem, p27. 2. Bn “Pollsche Tealogie I, op. cit, p 9. ciedade civil. A “privatizagao” do espago do politico, o estigma do sistema parlamentar-democrd- 23, Ellen Kennedy, em: Quaritch (Org), Complexio Oppostorum, op. cit, 24, Ver Der Begriff des Plitischen, op ct, p. 26. tico, desembocaria, segundo a propria razdo politica.” A alte 7 ou ighorar este momento néo fun« teria que ser encontrada fe Chegando, com 25. Ver U.J. Wenzel: Die Disoaation und thr Grund (A dissociago e seu fundamento), em: Die Autonomic des Politichen — Carl Schmitt: Kampf um einen Beschidigten Begriff (A Autonomia do Poltico ~ a lta de Carl Schmitt por im ‘oncito mutilado), org. por FLG. Flickinger Ea lade politica na sociedade da democracia de massa ndo se basearia mais em convicgdes de valores principals, sendo nica e exclusivamente na legaidade fr edimento. por esta concordancia surpreendente -as de Karl Marx e de Carl Schmitt, que a teoria do ultimo, desde sempre, oscilaria entre sua imagem ultraconservadora ¢ rogressista Hans Georg Flickinger 26 O CONCEITO DO POLITICO “Dedicatéria” Em meméria do amigo August Schaetz, de Munique, morto em combate em 28 de agosto de 1917, no ataque a Moncelul. Prefacio © DESAFIO © campo de relagées do politico encontra-se em constante alteragdo, conforme as foreas e poténcias que se coligam ou se divorciam para afirmar-se. Desde a antiga pélis,Aristételes obte- vve conceituagdes do politico diferentes das de um escoléstico 31 ‘medieval que tenha assumido literalmente as formulagSes aris- totélicas tendo, ndo ob: a oposicéo espiritual- Aparcela européia da humanidade vivia atéhé pouco numa €poca cujos conceitos juridicos eram estabelecidos unicamente pelo Estado, o qual era pressuposto como modelo da unidade\ Pollca, A époea do Estado chega agora ae seu final, nada mals \ ‘cabendo dizer a respeito. Com ela, extingue-se toda a superes- trutura de conceitos relatives ao Estado, que um labor de pensa. mento de direito internacional piblico e estatal eurocéntrico no mais das vezes, amb{guo e ambivalente, para nao dizet irénico. = Realmente houve um tempo em que fazia sentido identi- ficar os conceitos estatal e politico, pois o Estado europeu classico havia conseguido algo completamente inverossimil: estabelecer @ paz em seu interior e excluir a inimizade como conceito Juridico. Ele havia conseguido eliminar a guerra privada, uma Instituigdo do direito medieval, acabar com as guerras civis confessionais dos séculos XVI e XVII, conduzidas por ambas as. partes como guerras especialmente justas, conseguindo promo- ver a tranqiilidade, a seguran da corte, rivalidades, tenta scontentes, entfim, “perturbac de politica. Tal emprego do termo “politica” naturalmente tam- bém ¢ possivel, e seria uma disputa em torno de palavras a discussio sobre sua correcdo ou incorrecdo. Cumpre, entretanto, observar que ambas as palavras, politica e policia, derivam da mesma palavra grega, pdlis. A politica no sentido lato, a alta politica, naquela época era somente a politica externa, realizada por um estado soberano enquanto tal, diante de outros estados soberanos reconhecidos por ele como tais, no plano deste reco- mhecimento, decidindo acerca da amizade, inimizade ou neutra- lidade mituas. (© que é que constitui o elemento cléssico em tal modelo de unidade politica emergente fechada e apaziguada para o seu interior, fechada para o exterior como soberano diante de sobe- ranos? 0 eléssico & representado pela possibilidade de estabele- cer distingGes mais claras e inequivocas. fa guerra e a paz e, durante a guerra, 0 neutralidade ou a ndo-neutralidade, nido separado endo propositalmente confundido. Também na guerra, seu status definido. Também 0 inimigo, na guerra do direito internacional entre Estados (cwis- do, jé implica o reconhecimento do © reconhecimento como inimigo de tem o seu status: ele ndo € um crimin delimitada e cercada de cuidados de cional. Ela podia, em conseqiiéncia dis ‘com um acordo de paz, 0 qual normalmente continha uma ‘léusula de anistia. Somente nestes moldes ¢ possivel uma clara distingdo entre guerra e paz, bem como uma neutralidade limpa inequivoca. © resguardo e a clara delimitagio da guerra contém uma relativizagdo da inimizade. Qualquer relativizagio deste tipo grande avango no sentido da humanidade. & claro clo, pois aos homens é dificil nfo considerar 0 direito piiblico internacional euro- peu da guerra nacional entre Estados, nao obstante, consegui realizar tal avango. De que modo outros povos que, em sua historia, apenas conhecem guerras civis e coloniais, conseguirao realizé-lo, fica por ser visto. Em hipétese alguma representa um avanco no sentido da humanidade desprezar a guerra resguar- ‘dada do direito publico internacional europeu como reaciondria ‘ecriminosa e, ao invés dessa, liberar inimizades revolucionérias 33 de classes ou ragas, que nfo mais conseguem, nem querem distinguir entre inimigo e criminoso, ia so os fundamentos das delimitagées, internacional piblico entre guerra e inimi- rofissionais como Lénin e Mao Tsé-Tung o sabiam. Muitos juristas profissionais ndo o sabem. Eles nem sequer dio-se conta de como os tradicionais conceitos da guerra resguardada so uitilizados como armas da guerra revolucionéria de modo pura. ‘mente instrumental, descompromissada e sem obrigacoes para com a reciprocidade. Bis a situagio. Uma tio confusa situaglo intermediria entre forma e deformidade, guerra e paz, levanta questdes inc6- modas e inevitdveis e contém um genuino desafio. A palavra alemi Herausforderung (desafio/provocacio) expressa aqui tan 10 0 sentido de challenge quanto de provocagdo, ‘TENTATIVA DE RESPOSTA © estudo sobre 0 conceito do politico representa uma tentativa de fazer jus &s questées recentes, sem menosprezar 0 aspecto de desafio nem o de provocagao. Enquanto que a confe- réncia sobre Hugo Preuss (1930) e os ensaios O guardido da Constituigo Der Hiiter der Verfas 1) ¢ Legalidade e Legitimidade (Legalitit und Legitimitat) (1932) examinam a nova problemética intra-estatal e de direito constitucional, agora 8 temas de teoria do Estado se encontram com os de direito piiblico internacional interestatal; nfo se trata apenas da teoria Pluralista do Estado ~ na Alemanha de entao ainda completa- mente desconhecida -, mas também da Liga das Nacdes de Genebra. O estudo responde ao desafio de uma situacio inter- mediéria. O desafio, que brota desta, dirige-se, em primeira linha, 0s constitucionalistas e aos juristas do direito internacional piblico. Bisa primeira proposigo: “O coneeito do Estado pressupde © conceito do politico”. Quem ha de compreender uma tese formulada de modo téo abstrato? Ainda hoje tenho diividas, se hhavia sentido em iniciar uma exposigéo de maneira tao abstrata, A primeira vista opaca, pois muitas vezes jé a primeira frase de ‘uma publicagao decide o seu destino. Nao obstante, a proposigao conceitual quase que esotérica nio se encontra da, neste contexto. Devido ao seu provocante formato de te a que destinatérios, em primeira linha, se conhecedores do jus publicum Europaeum, conhece destinatérios é que 0 posfécio adquire seu sentido, pois tanto a intengéo do “enquadramento de um problema incomen- surdvel”, quanto o caréter estritamente didatico da exposigao. Um relato acerca dos efeitos do presente estudo no interior do campo de seus genuinos destinatérios precisaria levar em Kriegsbegriff), 1938, o livro Nomos da Terra (Nomos der Erde), a ‘também deveria abranger o desenvol politica ~ nfo somente econdmica ou técnica ~ do mundo se incluiria neste contexto, Nao obstante, gostaria de citar aqui dois, artigos de direito internacional piblico, dentre a multiplicidade de manifestagSes, artigos estes que se ocupam critica e desapro- vadoramente com minhas idéias, sem perder de vista, entretanto, a objetividade do tema: as duas tomadas de posisio publicadas, pelo Prof. Hans Wehberg, Genebra, em sua revista Friedenswarte, em 1941 e 1951, Uma vez. que o estudo sobre o conceito de politico, como qualquer discussdo de ciéncia juridica acerca de conceitos con- ceretos, trata de material historic ele se dirige ao mesmo tempo 0s historiadores, e principalmente aos conhecedores da época da reptblica européia e da transicdo do sistema de contendas (guerras privadas) medieval ao Estado territorial soberano com sua distingdo entre Estado e sociedade. Neste contexto, cumpre grande historiador, Otto Brunner, que, em tério e Dominacdo” (Land und He- resentou tuma importante verificagao do politico. Ble também leva em conta este opisculo, ainda que o registre apenas como um “terme extremo”, ou sea, o termo extremo do desenvolvimento de uma Aoutrina da razto de Estado. Ao mesmo tempo, evanta a objecio critica de que este colocaria o inimigo, e nfo 0 amigo, como marco conceitual propriamente positive. Mediante a designacio "termo extremo”, este estudo 6 remetido & era imperialista,e seu autor, classificado como epf- gono de Max Weber. A maneira pela qual se comportam meus escrtos em relagio a uma doutrina tipleamente impe Estado e direito internacional piblico depreende-se ciente clareza a partir da nota9, que serefere a um tipico produto desta era, A acusagao de uum suposto primado do conceito de inimigo ¢ universaimente difundido e estereotipado, Ele no que qualquer movimento de um conceito juridico com uma necessidade dialétiea, da negagao. Na vida ‘mesma forma que na teoriajurfdica, a incluséo da hnegaglo consti algo que nada tem a ver com ‘um “primado” daquilo que & negado. Um processo, enquanto procedimento Jurdico, soment se tra pensive apart da nesagto de um uni Independente disto, o historiador para o qual a histéria nao é s6 passado levaré tam confusas e & moderna guerra ;. Como se poderé compreender alcar da consciéncia cientifica a {inimizade entre os homens? Nao podemos 36 aprofundar aqui esta discusséo; lembremos apenas que 0 desafio para 0 qual buscamos respostas entretanto néo foi esquecido, ‘mas sua forga. insisténcia eresceu de modo imprevisto. Deresto, © segundo corolério acrescentado em 1938 fornece um quadro sinético da relagio entre os conceitos de guerra e inimigo. Contudo ndo apenas juristas e historiadores, mas também. importantes tedlogos efildsofos t8m-se ocupado com o conceito do politico. Também neste caso, caberia um relato critico espe- lum quadro medianamente completo. dda época estatal aos tedlogos de guarda seus efeitos. A apressada jesquisa e ensino das nossas ciéncias de conceitos como amigo e inimigo, uma itio in partes torna-se ‘quase inevitadvel A orgulhosa presuncéo manifestada naquele silete! do infcio da época estatal de juristas do final da mes natural teolégico-moral, ou até em de valores. O positivism juridico do século XIX nao é mais suficiente, e o abuso revolucionério do conceito de uma legalidade classic piiblico vé-se, — O justificado interesse no teor auténtico de uma proposigao vale ainda mais para campos extracientificos, para o jornalismo € para o piblico dos meios de comunicagio de m: setores, tudo é adaptado aos fins imediatos da luta ‘um campo conceitual num slogan primitivo, numa assim chama- da teora do amigo nimigo, a qual apenas se conhece por ouvir De resto, ele precisa ter conseqiléncias de suas publ seu controle. Escritos menores, principalmente, seguem se proprio caminho, e o que de fato seu autor conseguitt com eles, “somente o dia seguinte dira”. PROSSEGUIMENTO DA RESPOSTA A situagdo inicial persiste e nenhum de seus desafios foi superado. A contradi¢ao entre o emprego oficial dos conceitos classicos e a realidade efetiva dos objetivos e métodos de revolu- do mundial apenas se intensificou. A reflexio acerca de tal desafio nao pode cessar, e 0 ensaio de busca de uma resposta deve ter prosseguimento. Gome isto pode suceder? O tempo dos sistemas acabou. Quando a época da estatalidade européia teve sua grande ascen- s4o, hé trezentos anos, surgiram magnificos sistemas de pensa~ mento, Atualmente, nao é mais possivel construir desta forma. Hoje 36 € po ara mim, como jurista, é impe dilema entre sistema e aforismo resta apenas uma safda: néo perder de vista o fendmeno e testar segundo seus critérios as ‘questdes que sempre e repetidamente voltam a se por acerca de situagées sempre novas e tumultuosas. Destarte, um conhecimento aglutina-se aos demais e surge uma série de corolérios. Destes, jd existem muitos, mas nao seria nada prético onerar com eles a reimpresséo de um 1932. Somente levamos em conta, aqui, uma categoria especial destes corolérios, a qual possibilita um quadro sinético das relacdes de um campo con las cireunscrevem um campo conceitual em que 0s conceitos informam-se mutuamente através de sua posigao no campo conceitual. Tal panorama poderd ser articularmente uiil aos objetivos didéticos deste escrito, 38 A reimpressio do texto de 1932 precisava ser apresentada enquanto documento, de forma inalterada e com todas as suas deficiéncias, dentre as quais reside em queas diversas al ou absolute — no sio sma prossegue inresistivelmente e realiza um auténtico progresso na consci- éncia, pois as novas e modemas modalidades e métodos da guerra forcam-nos a meditar acerca do fenémeno da Em um ensaio independente e simultdneo a esta rei “Teoria do guerrilheiro” (Theorie des Partisanen), apres situagéo com um exemplo particularmente agudo e atual. Um segundo exemplo, particularmente marcante, é oferecido pela assim chamada guerra fria. Na atual guerra de gu forma como se desenvol- , oposta & rangeira pela populagdo de um pais, e além disso 0 -omando de tal resisténcia por terceiros interessados, iundialmente agressivas. O guerrilheiro, que para a ica ndo passava de um mero “irregular”, mera figura Fginal, tansfortaouee, cntrementcs scnfo mime figura oan. tral, pelo menos numa figura-chave da guerra revoluciondria ‘mundial. Lembremo-nos da cléssica maxima com que os exérci- tos prussiano-alemaes esperavam derrotar os guerrilheiros: a tropa combate o inimigo; a policia dé eabo dos desordeiros. eae sends epic mii da goss so ‘conseqiténcia I6gica cor Néo é de espantar que a antiga palavra inglesa foe tenha sido despertada de seu sono arcaico de quatrocentos anos e hd duas décadas venha sendo novamente utilizada ao lado de ua origem e esséncia, 39 enemy. Como seria possivel, numa época que produz meios de aniquilamento guerra, e esta ou Jight, ou & uma auto-iluséo va, ‘05 lados, a uma relativizagdo da ir 0 prefécio & reimpressio de um opiisculo nfo pode ter 0 propésito de tratar destes problemas exaustivamente, nem de tituir qualquer novo livro que io deve contentar-se com algumas : clarecam o interesse persistente na obra e que sugeriram sua Margo de 1963 Carl Schmitt O Conceito do Politico (Texto de 1932) 1. Estatal e politico QO conceito do Estado pressupte 0 sgundo o uso lingiistico atu de partida Estado, conforme o sentido da palavra ¢ de Tepresentagao ~ status € povo - adquirem outro marco caracteristico, o do politi reensiveis, se entendermos mal a Raramente nos deparamos com uma definigdo clara de politico. Na maior parte das vezes, a palavra é empregada apenas, Na literatura jurfdica especializada encontramos muitas destas parifrases do politico, as quais, no i que no possuem um sentido politico pol uma crater ec, segunamente ete poder tsa por exe cn a Winer" paricaco ne ina distribuigso do | ieee 2 se define como n30-po- leo (sto & aqui: cientfic, justo, objetivo, imparcial ete). ‘medida em gouvernement) ¢ atos administrativos “nlo-politicos”, para ex- luir os primeiros do controle do direito administrativo. Tais determinagdes que vém ao encontro das necessidades da prética juridica buseam, fundamentalmente, apenas um meio prético para a delimitacao de variados fatos que se apresentam no interior de'um Estado, em sua prética jurfdica; néo visam a qualquer definicéo do politico como tal. Portanto, saem-se bem com sua referéncia ao Estado ou ao estatal, enquanto 0 Estado e (Sobre oconesito centfco da pol Fidges Statswisenschot Revs eral do Estado representa realmente uma clar grandeza, e se defronta com grupos Jastamente por isso mesmo, “no Estado ainda detém o monopélio di © Estado ou (como no século XVI tal=politico mostra-se ‘em que Estado e socie- untos até entiio politicos -versa, todos os assuntos até ento “ape- uum marco distintivo espectfico do “pol Esta evolugio vai do Estado absoluto do século XVIII, também desaparecer as contraposigies € as separagdes que correspondem & situacao do século XIX, notadamente as seguin- tes: como oposto 20 politico como oposto ao politico como oposto 2o politico como oposto 20 politico como oposto 20 politico e muitas outras antiteses, tavelmente polémicas ¢ por Burckhardt, Weltgeschichtliche Betrachtungen (Consideragées s0- brea histéria do mundo), lé por volta de 1870, encontram-se as smocracia: “Esta concepgo do mundo ferentes varia muito segundo a forma- num ponto ela é conseqitente: para ela a contradigéo iberal: fe portanto, por uma parte, ser a realizago ¢ ia cultural de cada partido, e por outra parte ‘a vestimenta visivel da vida burguesa, e 6 ‘ele é onipotentel Ele deve ser capas de fazer tudo 0 que as nada mais lhe serd permitido, sobretudo nao Ihe defender sua forma existente contra qualquer crise todo mundo, por sua vez, gostaria de participar de uum jeito ou de outro no exerefejo de seu poder. Assim se torna ‘Adoutrina alemd do Esta Estado de Hegel, ndo renunciou frente a sociedade, é algo de ‘que transcendia a sociedade no de total no sentido de a economia a legilasdo econtmica ram ep ps algo de tico. Contudo, a diversidade qualitativa entre Estado e Estado e sua posicdo na doutrina alema do Estado), 11930, acaba seguindo, embora com muitas restrigGes, reservas € compromissos, o desenvolvimento histérico rumo a identidade demoeritica de Estado e sociedade. ‘A. Haenel um interessante estégio interme- especifica da delimitagao e da esertsracan as reer a nna fungdo especifica do direito (Studien pana em Seka espe: ‘que o Estado teria ao menos potencialmente ‘também como seus préprios fins; para ele o corporativo alemdo apareceu em 1868), porque esta teoria con- cebe 0 Estado como, uma corporagao da mesma natureza das ddemais associagbes. & verdade que ao lado dos elementos corpo- rativos também devem pertencer ao Estado outros elementos, relativos & dominacio, que ora sdo acentuados com mais forga, ora com menos forga. Mas justamente porque se tratava de uma teoria das corporacées e nio de uma teoria da dominagéo do Estado, as conseqiiéncias democraticas eram inelutéveis. Conse- giiéncias que foram tiradas na Alemanha por Hugo Preuss e K. Wolzendorff, enquanto que na Inglaterra elas conduziram a teorias pluralistas (ver mais, a respeito, no cap. 4, abaixo). Quanto a Rudolf Smend, sua teoria da integragao do Estado, ‘me parece, salvo esclarecimentos ulteriores, corresponder a uma ‘no mais se integra em um ia alema no Estado monér- de H. Trescher sobre Montesquieu e a doutrina hegeliana da separagao dos poderes significa “a mais viva impregnacdo de todas as 49 esferas sociais pelo Estado, com a finalidade geral de conquistar todas as forgas vitais do corpo popular para a totalidade do Estado”. Aqui observa Smend que este seria “exatamente 0 integragao” de seu livro sobre a constitui¢ao. Trata- absolutamente apolitico e que exige a abolicio das despolitiza- ‘gGes do século XIX e liquida especialmente o axioma da economia livre em relagdo a0 Estado (nio-politica) e do Estado livre em relagio & economia. ’” 50 oma neo 2. A distingao amigo-inimigo, critério do Politico [7 determinagao conceitual do politico 6 pode ser obtida ‘mediante a descoberta e identificacao das categorias especi- ficamente polticas. £ que o politico tem seus eritérios préprios, ‘que de maneira peculiar se tornam eficazes diante dos dominios, diversos e relativamente independentes do pensamento e do agir humano, especialmente o moral, 0 estético e o econdmico. O politico precisa, pois situar-se em algumas distingSes iltimas, as se toda ado especificamente politica. Admi- tingdes tltimas no ambito moral sejam bom e belo e feio; no econémico, itil e prejudicial ou, tavel € ndo rentdvel. A questio, ento, é se também existe uma distingdo peculiar nao semelhante ou anlo- gas demais, porém independente delas, auto-suficiente, e como tal evidente, como critério simples do politico, e em que ela consiste. A distingdo especificamente politica a que podem reportar- se as agbes e 0s motivos politicos ¢ a discriminagao entre amigo critérios, corresponde, para o politico, aos critérios relativamente 51 independentes das demais contrap bom emau, no moral; belo e feio, no estético ete. Em to >, ela & independente, no no sentido de um novo ambito préprio, mas na maneira em que ndo se fundamenta nem em alguma das demais oposigdes, ‘em tampouco em varias delas, e nema elas pode ser reportada. Se a contraposicéo de bom e mau ndo é simplesmente idéntica de belo e feio ou title prejudicial endo pode ser imediatamente a elas reduzida, entio, menos ainda pode a contraposicéo de ‘amigo e inimigo ser confundida ou misturada com uma das demais. A diferenciagio entre amigo ¢ inimigo tem o sentido de \ designar o grau de intensidade extrema de uma ligagio ou separagio, de uma associagao ou dissociacao; ela pode, teérica ‘ou praticamente, subsistir, sem a necessidade do emprego simul- is, estéticas, econdmicas, ou outras. O tconémice, podendo talves até mostarae proveltoo fazer negs- cios com ele, Pois ele & justamente 0 outro, o estrangeiro, bastando a sua esséncia que, num sentido particularmente inten- sivo, ele seja existencialmente algo outro e estrangeiro, de modo que, no caso extremo, ha possibilidade de conflitos com ele, os quais ndo podem ser decididos mediante uma normatizagio Apossibilidade do reconhec e, com isto, a competéncia de opins julgar dé-se, aqui, apenas pela participacao e pelo interesse existenciais. O caso extremo de conflito sé pode ser decidido pelos préprios interessados; a saber, cada um deles tem de decidir por simesmo, sea alteridade do estrangeiro, no caso conereto do conflito presente, representa anegacio da sua prépria forma de existencia devendo, portanto, psi , 0 inimigo facilmente vem a ser tratado como mau e feio, pois cada uma das distingSes, e na maioria naturalmente, a politica, enquanto a mais forte invoca em seu auxilio todas as demais que sejam ut em nada altera a autonomia de tais contraposigdes. Por conse- ‘guinte, vale também o inverso: o que é moralmente mau, esteti- 52. ‘camente feio ou economicamente prejudicial nao precisa, s6 por isto, ser inimigo; 0 que é moralmente bom, esteticamente belo e ‘economicamente iti ainda no se constitui em amigo, no sentido amigo-inimigo de outras diferenciacdes e de compreendé-la como algo independente. 53 3. A guerra como o fenémeno da hostilidade de amigo e inimigo devem sei condendvel ou néo, e, talvez até um vestigio atdvico de épocas de barbarre, ofato de que os povos continuam ainda, realmente, 54 gundo o antagonismo amigo-inimigo, que este antagonismo também hoje ainda est4 dado realmente e como possibilidade toma-se, por isto, piibl igo hostis, e nio inimicus no sentido lato; polémios, nao ekhthrés®, gite hostes vestros"; ndo se fala do inimigo politico. Mesmo no combate milenar entre cristandade e islamismo, jamais ocorreu ‘um cristo aidéia de que por amor aos sarracenos ou aos turcos se deveria entregar a Europa ao Isla em vez de defendé-la. O Bris ns ssi pli no pein ser odio pcaoeaty de bem e mau ou belo e feio. Nao afirma, sobretudo, que se

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