ARTIGO ARTICLE
no Programa Saúde da Família no Estado de Minas Gerais
Abstract The objective of this study was to analyze Resumo O objetivo deste estudo foi analisar aspec-
the administrative and operational aspects of Oral tos administrativos e operacionais das Equipes de
Health Teams (OHT) at the Family Health Pro- Saúde Bucal (ESB) no Programa Saúde da Família
gram (FHP) in Minas Gerais State, Brazil. Two types (PSF) no Estado de Minas Gerais. Foram encami-
of questionnaire were sent to 310 cities, and 53.5% nhados a 310 municípios dois tipos de questioná-
were answered until June/2004. From the total of rios, dos quais 53,5% retornaram os questionários
the respondents, 66.9% reported unstable forms of até o final do primeiro semestre de 2004. Destes res-
hiring and 82.5% of the dental surgeons receive wage pondentes, 66,9% relataram formas de contratação
9 times lower than minimum wage for full-time job instáveis, com 82,5% dos cirurgiões dentistas rece-
(8 hours); 75.9% of the cities presented an average bendo salário abaixo de nove salários mínimos por
of 4000 inhabitants for OHT. In average, 79.6% of oito horas diárias de trabalho; 75,9% dos municí-
all OHTs attended all ages group; 48.9% of dental pios relataram uma proporção de até 4.000 habi-
surgeons reported not having participated in any of tantes por ESB e 74,1% utilizavam mais de uma
the courses offered. The integration between OH forma de agendamento dos usuários. Em média,
and FHP teams could be seen in 76.2 %, however 79,6% das ESB atendiam todas as faixas etárias;
only 54% organize regular meetings. The positive 48,9% dos cirurgiões dentistas relataram não ter
points observed were that FHP teams follow the prin- participado de nenhum curso de capacitação. A in-
ciple of universality, the eight-hour shift and the tegração entre ESB e Equipes de Saúde da Família
quantitative extension allowing a higher access to (ESF) foi verificada em 76,2 %; todavia, apenas 54%
oral health services. As negative points, it was ob- realizam reuniões frequentes. Como pontos positi-
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Departamento de served the lack of qualification of the OHT, the ex- vos, observou -se o princípio da universalidade, a
Odontologia Social, cessive demand, the precarious work relations and jornada de trabalho de oito horas e a ampliação
Faculdade de Odontologia
the lack of involvement between OH and FH teams. quantitativa, possibilitando maior acesso aos servi-
de Piracicaba, UNICAMP.
Av. Limeira 901 Caixa Key words Oral health team, Family Health Pro- ços de saúde bucal e, como pontos negativos, a falta
Postal 52. 13414-903 gram, Universality de capacitação das ESB, a demanda excessiva, a pre-
Piracicaba SP.
eloisio@matrix.com.br
carização das relações de trabalho e a falta de envol-
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Departamento de vimento entre ESB e ESF.
Odontologia Social, Palavras-chave Equipe de saúde bucal, Programa
Faculdade de Odontologia
de Piracicaba,
Saúde da Família, Universalidade
Universidade Estadual de
Campinas.
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Lourenço EC et al.
da. Deve ser realizado por profissional da saúde atendimento às famílias; no entanto, esta intera-
que identifica os usuários que necessitam de aten- ção não se manifesta no planejamento e/ou na tro-
ção priorizada22. ca de saberes, pois, das ESB que relataram realizar
Em relação à priorização, constatou-se um reuniões periódicas entre todos os componentes
baixo número de ESB (26,9%) utilizando a tria- do PSF, apenas 27% as realizavam em curtos espa-
gem de risco, que seria uma forma de incorporar ços de tempo (semanais ou quinzenais), as demais
aos serviços o princípio da equidade, além do que, equipes realizavam reuniões mensais, esporádicas
mesmo estes, admitem outras opções de organi- ou não as realizavam, sendo que a maior parte das
zação da demanda, relatando na opção “outras ESB (69%) não utilizava prontuários únicos com
formas de agendamento” que realizavam, por as ESF. Assim, pode-se observar que, embora hou-
exemplo, consultas nas escolas como forma de vesse um contato entre os profissionais, não se
agendamento, com evidente priorização do aten- podia classificar este de interdisciplinaridade e/ou
dimento da população em idade escolar, fato este multiprofissionalismo. Esta falta de interação tam-
confirmado por 34,2% dos cirurgiões-dentistas que bém pode ser notada nos relato dos CDs: Deveria
afirmaram que as ESB no PSF continuam repro- haver mais ações conjuntas, entre SB e ESF. O paci-
duzindo a clínica particular no serviço público ou ente deveria ser tratado como um todo. Todas as ações
estão voltadas apenas ao atendimento de crianças educativas e preventivas deveriam ser juntas e não
em idade escolar, o que se poderia definir como segmentadas (sic).
sendo o “velho travestido de novo”18. Apesar das Observa-se, portanto, uma necessidade de evo-
dificuldades em relação à demanda, a universali- lução na integração entre os vários profissionais
dade pode ser constatada, pois, em média, 79% do PSF; este distanciamento talvez possa ser expli-
das ESB relataram atender a toda população (to- cado por fatores como a inserção tardia das ESB
das as faixas etárias). no PSF, pela formação excessivamente individua-
No presente estudo, pode-se observar que a lista e tecnicista dos profissionais de saúde bucal
maior parte das ações são voltadas ao atendimento que dificultam a abordagem do indivíduo como
clínico, mas há a participação em outras atividades um todo e pela demanda excessiva que toma gran-
(Tabela 5). Na distribuição das tarefas, o Ministé- de parte do tempo das ESB, impedindo-a de inte-
rio da Saúde recomenda que, para maior resoluti- ragir com os demais profissionais.
vidade do serviço, deve-se disponibilizar tempo de A atuação da equipe de saúde bucal (ESB) não
consulta suficiente e adequado à complexidade do deve se limitar exclusivamente ao campo biológico
tratamento e sugere que de 75% a 85% da hora ou ao trabalho técnico-odontológico. A equipe deve
clínica do CD seja dedicada à assistência e de 15% a interagir com profissionais de outras áreas, de for-
25% para outras atividades, sugerindo cautela no ma a ampliar seu conhecimento, permitindo a abor-
deslocamento frequente deste profissional (CD) dagem do indivíduo como um todo. A troca de
para ações coletivas e enfatizando que as atividades saberes e o respeito mútuo às diferentes percep-
educativas e preventivas em nível coletivo devem ções devem acontecer permanentemente entre to-
ser executadas, preferencialmente, pelo pessoal au- dos os profissionais de saúde para possibilitar que
xiliar, cabendo ao CD planejá-las, organizá-las, su- aspectos da saúde bucal também sejam devidamen-
pervisioná-las e avaliá-las20. te apropriados e se tornem objetos das suas práti-
Outro aspecto fundamental desta estratégia diz cas. A ESB deve ser — e se sentir — parte da equipe
respeito ao processo de trabalho. Ao colocar ao multiprofissional em unidades de saúde de qual-
setor saúde bucal a proposta de sua inserção em quer nível de atenção20. No trabalho em equipe,
uma equipe multiprofissional, além de introduzir ninguém perde seu núcleo de atuação profissional
o “novo”, afronta valores, lugares e poderes con- específica, porém, a abordagem dos problemas é
solidados pelas práticas dos modelos que o ante- que assume uma nova dimensão. Conhecer, com-
cederam. Esta situação traz o desafio de se traba- preender, tratar e controlar passa a ser uma res-
lhar em equipe20. Embora constituindo a equipe ponsabilidade compartilhada22.
de trabalho de uma Unidade Básica de Saúde, esses A precarização das relações de trabalho dos pro-
profissionais nem sempre estão preparados e com fissionais das ESF é um dos grandes problemas ain-
disposição para agir de forma integrada. Saber li- da enfrentados no desdobramento desta estratégia.
dar com esses encontros é um enorme desafio, pois Segundo o MS23, a seleção dos profissionais para as
além do potencial de integração, é também um lu- ESF deveria ser por teste seletivo interno, concurso
gar de conflitos, de resistências e de disputas22. público ou por recrutamento externo através de
A maior parte dos cirurgiões-dentistas (76,2%) contratação em regime de CLT (consolidação das
relatou haver integração entre as ESB e ESF no leis trabalhistas). No entanto, os resultados deste
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Considerações finais
Colaboradores Referências
EC Lourenço, AC Pereira, ACB Silva e MC Me- 1. Baldani MH, Fadel CB, Possamai T, Queiroz MGS. A
neghin participaram igualmente de todas as etapas inclusão da odontologia no Programa Saúde da Fa-
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grama Saúde da Família - PSF. Brasília: Ministério da
Saúde; 2001.
Agradecimentos 3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria executiva. Pro-
grama Saúde da Família: Equipes de Saúde Bucal. Bra-
sília: Ministério da Saúde; 2002.
À Profª. Márcia Helena Baldani (UEPG), à Profª. 4. Brasil. Ministério da Saúde. Coordenação de saúde
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