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V FATOS E IDEAIS FM 81a Critica do Julgamento, Kant indaga se & pos- sivel descobrir um ertério geral com o qual possa- mos deserever a estrutura fundamental do intelecto hhumano e distingui-la de todos os outros modes pos- siveis de conhecimento, Apés profunda anilise chega 2 conclusio de que semelhante ertério deve ser bus- ado no earéter do conhecimento humano, que é de tal indole que o entendimento se vé na necessidade de fazer uma distingio nitida entre a realidade e 2 possi= Dilidade das coisas. Esse carter do conhecimento hu ‘mano & que determina o lugar do homem na cadela eral do ser. A diferenca entre 0 “real” e 0 “possi= vel” no existe nem para os seres que Ihe estio aba xo nem para os que estio acima. Os que estao abaixo ‘do homem se encontram eonfinados dentro do raundo de suas poreepgoes sensoriais; suscetiveis nas estima les fisicos presentes, reagem a cles sem poderem for ‘mar idéia de coisas “possivois". Por outro lado, 0 in- telecto sobreshumano, a mente divina, no conhece distingio entre realidade e possiblidade. Deus ¢ actus purus, Tudo o que concebe 6 real, “A inteligéncia de Deus 6 um intellectus erchetypus ou intutus origina ‘ius: niio pode pensar numa colsa sem eriéla e pro- duzicla pelo préprio ato do pensamento, Apenas no hhomem, om sua “inteligénela derivativa” (intellectus ectypus) surge o problema da possibilidade. A dife- songa entre a reslidade e a possibildade nio é metafi- Sica, mas epistemolégica. Nao denota nenhum ear‘ {er as coisas em si mesmos; aplica-se apenas 20 n0s60 conhecimento delas, “Kant nlo pretendeu afirmar, de ancira positiva e dogmética, que exista realmente Um infelecto divino, um intuitus originarius; apenas fempregou 0 conesito de semelhante “entendimento Intuitivo” a fim de descrever a natureza ¢ os limites do intelecto humano, Este fltimo & um “entendimen- to discursivo", que depende de dois elementos hetero- fineos; no podemos pensar sem imagens, nem intuit fem conceitos, "Conceitos sem intuigGes sio vazios; ntaigbes sem conceites slo cegas.” Este dualismo nas ‘condigies fundamentais do conhecimento & 0 que, se- fgundo Kant, encontra no fundo da nossa distingto fentre possibilidade ¢ realidade.* ‘De ponto de vista do nosso problema presente, cesta passagem de Kant — ma das mais importantes mais dificeis em suas obras criticas — reveste e- pecial interesse. Assinala xm problema eruelal para ‘qualquer filosefia antropologica. Em lugar de dizer (que o intelecto humane é um intelecto que “necessita Geimagens”®, melhor dirfamos que necessite de sim- olor, Em sua essincia, © conhecimento humano é Simbélleg — trago que earacteriza, ap mesmo tempo, fun forga e limitagées. para 0 pensamento simbélico @ indlspensével estabelecer nitida distingéo entre 0 real e 0 possivel, entre coisas reas e ideals, Um sim- ‘bolo no postui existincia real como parte do mundo fisieo, sim um “significado”. No pensamento primi- tivo ainda é muito difell distinguir entre as duas ¢s- eras do ser e do signifier, por se encontrarem cons- tantemente confundidas:_o simbolo 6 considerado co- ino se fosse dotado de poderes magicos out fisicos, Mas Foe Kant, Cite do genet, 8 78, 2 TS Ets Satie veranda. antrootoia Pwston * ho progresso ulterior da cultura humana sente-se cla Tomente a diferenga entre coisas e simbolos, o que ‘quer dizer que a distingfo entre a realidade e @ possi= Dildade também se tora cada vez mais promunciada. Esta interdependéncia pode ser provada por via indireta, Verfieamos que, em condigdes especinis, nas (quais a fungio do. pensamento simbélico & impedida ‘ou obscurecida, a diferenca entre a realidade e a pos- Sibilidade também se torna incerta; j& mio pode ser Claramente percebida, A patologia da linguagem pro- jetow uma Tuz interestante sobre este problema. Em ‘casos de afasia se constatou, com muita freqiiéncia, que ‘os pacientes haviam néo x6 perdido o uso de classes fespeciais de palavras mas também, ao mesmo tempo, mostravam curios deficitucia na’ atitude intelectual eral. Praticamente falando, virios destes pacientes Zio se afastavam muito do comportamento das pes soas normals, Mas quando enfrentavam um problema ‘que exigia um modo mals abstrato do pensar, quando pprecisavam pensar em meras possiblidades em lugar {de realidades, viam-se Imediatamente is voltas com fgrandes dificuldades, Nio conseguiam pensar nem falar de coisas “irreais". Um paciente que sofria de hemiplegia, de uma parslisa da mio dizeita, nio po- dia, por exemplo, pronunciar as palavras: “Posso es ferever com a malo direita”. Recusava-se até a repe- ‘las quando pronunciadas pelo médico; mas diziafa- ccllmente: “Posso escrever com a mio esquerda”, por ‘que isto, para ele, era a comprovacio de um fato € ‘io de um caso hipotitico ou izreal.? “Ustes e outros exemplos remethantes", declara Kurt Goldstein, ‘Sei, “ntylo evar cd ——_—— ‘a ong ee "ur nao face, pate Go Po tar pizer ats cone requ, a0. ql puree, nado de aor es dass cttan GS Reta oats sacle Tels SSSI lata “Gb fst coments pade‘wve © Ae ‘Aqui tocamos num problema universal, de suma importineia para o caréter global e desenvolvimento a cultura humana. Os empiristas e positvistas sem- pre sustentaram que a tarefa mais elevada do conhe- céimento humane consiste em proporeionar-nes os fa tos e nada mais que es fatos. Uma teoria néo baseada ‘eaments acon. Por ep Pa Una foes Ba TE anal we a Er Pr TR tn, Naar mee & a8 Ppt feeece ty) Aniromlogia Rloséies mo com fatos seria, sem dlivida, um castelo no ar, Mas festa ndo 6 resposta para 0 problema de um verdadel- +0 método cientifico; pelo contrario, & © proprio pro- Dlema. Qual é, entdo, o significado de “fato eientfi- co”? Esta visto que uma observacio fortuita ow um simples actimulo de dados sensoriais no nos fornece ‘um fato de tal espécie, Os fatos da clgnela implica sempre um elemento tedrico, Isto é um simblien Muitos ou senio a maioria destes fatos cientificos, ‘que mudaram por completo todo 0 curso da histéria dda cigneia, foram hipotéticos antes de se tornarem ob- servavels.. Quando Galileu fundou sua nova eiéneia dda dindmica, precisou comecar com a concepgio de lum corpo inteiramente isolado, que se movesse sem 2 influéncia de nenhume-forea externa. Um corpo nes- sas condigses nunca fora observado e nunca poderia ser observado, Nao era um corpo real, sendo win coo po possivel — e, em certo sentido, nem possivel era, ois a condigio em que Galileu baseava sun conlusio, 4 ausincia de todas as forsas exteriores, nunca se rea liza na natureza, ‘Tem sido destaeado com razio que nenhuma das eoncepgées que conduziram ao descobri- mento do principio da inércia 6 evidente ou natural; f que para os greges como para os homens da Idade Média, tais concepsées se teriam afigurado evidente- mente falsas, e até absurdas.? Nao obstante, sem & ajuda destas eoncepeées totalmente irzeais, Gablew ‘no teria podido propor sua teoria do movimento; nem, ‘teria podido eriat “uma nova ciéncia, que tratava de lum sssunto muito antigo”. Eo mesmo se aplica a quase todas as outras grandes toorias cienfias. ram, a primeira vista, invariavelmente, grandes pa rradoxos, euja proposigio € defesa exigiam inusitada ‘coragem intelectual. ‘Nao hi, talver, melhor mancira de demonstrar este ponto do que considerar a histéria da. matematica, ‘Um dos seus conceitos fundamentals é o niimero, Des- ‘de o tempo dos pitagoristas, 0 niimero tem sido reeo- Inhecido como o tema central do pensamento matemé- ‘ico, Bncontrar tama teorla compreensiva e adequa~ {da do nimero tomou-se a maior e mals urgente tare- fa dos estudiosos nesse campo, Mas a eada passo que davam nesta diregio, matemétieos e filésofos tropeca- vam corm a mesma dificuldade. Viam-se constante~ mente na necestidade de alargar seu campo e introdu- i “novos” wimeros, todos de cardter altamente pa Fadoxal. Seu primelro aparecimento desperion as mais profundas suspeltas de matemiticos © Iigicos e Yoram considerados absurdos ow impossiveis. Pode ‘mos acompanhar este desenvelvimento na historia dos ‘imeros negatives irracionais e imagindrics. O pré- prio fermo “irracional” (suse ) signifiea uma coisa Mnpensével, sobre a qual nio se pode falar. Os nti- eros negatives eparecem, pela primeira vez, no sé- culo XVI, na Arithmetica integra de Michael Stifel — Sendo chamados “nimeres ficticios” (numeri fet) Duranie muito tempo, até os maiores mateméticos consideraram idéia dos aiimeres imaginérios como {im mistério insolivel, © primeiro a apresentar uma ‘extlicagdo satisfatdria e uma teoria sélida acerca dos tes mimeros foi Gauss, As mesmas divides e hesita- (fee se repetiram no campo da geometria, quando os Primeinos sistemas nao euclidianos — os de Lobat- Echevek, Bolyai ¢ Riemann — principiaram a aparece. Bim todos os grandes sistemas do racionalism femética tem sido considerada o orgulho da razio bu mana — a provineia das idéias “claras e distintas”. ‘Mas logo esta reputagio pareceu vavilar. Longe de serem daros e distntos, og conceites mateméticos fun- rrr Antropotogia Pilosstica 103 anes serena hi deen ac pene nn Sirs ao sete ste daw te cnotn screenees us msetabecs ep amas g ant eaten man esmb de gut penn mht poe sis tine conte» cada aerate ue ime ca, rt ch ete "A mice SoS iass es cen pe cae Bes cere ce ane A mae we SETS Seine dee pn sen wee ete aes no ae stn Sete dca iu” oe ce "te feet indore 0 heii inclle Angie cace rene © seen? vee, ate cg on ee mal Se elt war oben pvr dade acerca da razio pritica. E caracteristico de todos ete dates El ne nmr termes Spe sede Suw ds nn inser tcc fee son wale ener SDT musi Deis de poe re a ee te mene se le poids gi, tapesmat ¢ Se ls sce de Rat ce eo pis noe cea Sate gue ts ot ite Sarees ties one ame se cee cece hones Sree TN Sete “knee Sina tte Hat cede Rasio Bre vn ymin et em ein rat Sacer ecs Seles SAE isice amet ante 2 me ‘She, em lager" rejestio por tay ob © preato mie, 0 Ernst Cosirer vel © celmente perignso de min praia Peis SSS jeder net et lz a itt {SRLS Eaten i formar concord com eta io. ‘ni taco gromtnaeconcpotes qu por ceive aoa Syne rate tosses Yas tent, ‘As teorias éticas © politicas modemas, modeladas pela Repiibliea de Plato, foram concebidas no mesmo fatilo de pensamento. Quando eserevea sua Utopia, ‘Thomas More expressou este ponto de vista no proprio titulo da obra. Uma Utopia nao é 0 retrato de um mun- do real, nem da ordem politica ou social reais. Nao existe em momento algum do tempo e em nenhum ponto do espago — é um “nenhures”. Mas foi exats- Iente esta eoneepeio que suporio a prova e provou sua forga no desenvolvimento do mundo moderne, Se- gue-te da propria natureza e carter do pensamento ‘Hico que ele nunca pide condescender em aceltar “odado”. O mundo étieo nunca é dado; estd sempre em formagao, “Viver no mundo ideal”, disse Goethe, XG tratar o impossivel como se fosse possivel”.! Os grandes reformadores politicos e socais véem-se cons tantemente na necessidade de tratar o impossivel co- rio se force possivel. Em seus primeiros eseritos po- lticos, Rousseau parece falar como um resoluto na- turalsta; deseja restaurar os direitos do bomem e tra- zi-lo de volta ao seu estado original, estado da natu rem. O homem natural (homme de nature) deve Substituiro convencional, o homem social (Thomme de Thomme). Ms se acompanharmos o desenvolvimento ulterior do pensamento de Rousseau, veremos elara- mente que até este “homem natural” esta longe de ser tim eoneeito fisco, por ser, na realidade, um eon cnito simbélica — fato que ele proprio no péde dei ston ce mito wive™ Gant, Sprache Prony, "Werke (ea Betray. Ruts pep Antropotogia Mosca 105 xar de admitir, “Comecemos”, diz ele, na Introdugio, fo seu Discours sur Vorigine et les fondements de Vinégalté parmi les hommes, age gee Gee ee eee ee Bare tar nature ‘san ‘iat ‘do que pare monrar un Ista fare todos or dias sobre’ a formagho do Com estas palavras, Rousseau tenta introduzir, no campo das cidneias morals, 9 método hipotético em= pregado por Galileu no esiudo dos fendmenos natu- Tals; e estf convencido de que s6 por meio deste “ra clocinio hipotético e condicional” (des raisonnements hhypothétiques et concitionelles) podemos chegar a suma verdadeira eompreensio da natureza do homen. ‘A deserigia do estado de natureza, feta por Rousseau, ‘ado pretendia ser uma narrativa historia do passado, Bra uma constragao simbélica destinada a retratar Jum novo futur para a bumanidade. Na histéria da civilizagio, a Utopia sempre cumpriu esta tarefa. Na filosofia do Thaminismo eonvertew-se num género"li- terdria genuino, revelando-se ua das armas mais po- derosas om todos of ataques & orem politica social existentes. Com esta finalidade foi utlizada por Mon- tesquieu, por Voltaire e por Swift. No séeulo XIX, Samuel Butler fer dela uso semelhante. A grande ‘misséo da Utopia ¢ abrir lugar para o possivel em contraposicio & aquiesedncla passiva ao estado atual dos assuntos humanos, E o pensamento simbélico que supera a inéreia natural do homem, conferindo-the nova eapacidade, a de arquitetar constantemente seu ‘universe humano,

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