Teorias da arte
moderna. 2 ed. So Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 28
MINHA PINCELADA NO TEM SISTEMA
A mile Bernard, Arles, abril de 1888 (B3, p. 478).
No momento, estou absorvido pela florao das rvores frutferas, rseos
pessegueiros, pereiras amarelo e branco. Minha pincelada no tem qualquer
sistema. Eu ataco a tela com toques irregulares do pincel, que deixo como
saem. Empastes, pontos da tela que ficam descobertos, aqui e ali pedaos
absolutamente inacabados, repeties, brutalidades; em suma, estou
inclinado a pensar que o resultado demasiado intranquilizante e irritante
para que isso no faa a felicidade dessas pessoas que tm ideias
preconcebidas fixas sobre a tcnica. Alis, eis aqui um desenho, a entrada
de um pomar provenal com suas cercas amarelas, com sua proteo
(contra o mistral) de ciprestes negros, seus legumes caractersticos de
variados tons de verde: alfaces amarelas, cebolas, alho, alho- por cor de
esmeralda.
Trabalhando diretamente no local, procuro fixar no desenho o que
essencial mais tarde, encho os espaos delimitados pelos contornos
expressos ou no, mas de qualquer modo sentidos com tons que tambm
so simplificados, no sentido de que tudo que vai ser solo ter o mesmo tom
parecido com violeta, que todo o cu ter um tom azul, que a vegetao
verde ser verde- azulada, ou verde- amarelada, exagerando
deliberadamente os amarelos e azuis nesse caso.
Em suma, meu querido camarada, nada de iluses de tica.