A guerrilheira urbana Hlasete anos Elisabete Franca esté na espinhosa trincheira de favelas, loteamentos Hai corticos e éreas de manancials, Ela é responsAvel na prefeitura de S30 Haul por uidar de habitagso social, um dos mais graves problemas de metropole. Bsucesso de seu desempenho esta baseado na combinagao de um orgamento ais robusto (cresceu 12 vezes em oito anos) e uma metodologia de trabalho que, Pentre outras coisas, valoriza a atuagao dos arquitetos. 0 trabalho da equipe de Bele — como ela é chamada por todos os que a conhecern ~ desperte a atengao DFeimando Serepiao 40} Bete, vocé ja leu 0 Ditirio Offciab” A per- gimta de Eduardo Jorge, secretério do Verde @do Meio Ambiente da cidade de Sao Paulo TharkoU o inicio do expediente de Elisabete Frangsem uma manha de novemabro passado Aoouvir a negativa, Jorge teve 0 prazer de ser Oporta-voz da boa nova que sua colega de go- Nerno secretaria adjunca e superintendence de Hebitacao Popular da Secretaria Municipal de Habitacio (Sehab), esperava receberhavia cin- fo meses Finalmente, estava publicada aauto: Hiaeioparao corte dervores queimpediama fonstrucao de um echo de um conjuntohabi tationalnafavela do Real Parque (ou,em nome do politicamente correto, a construgao de um fonjunto ce habicaco de inreresse social na comunidade do Real Parque), © fatoéqueabu- Meracia porencializada pelo tema ecolégico e atéo de vizinhos endinheirados atrasaram 0 inlio das obras, “Cinco meses! Tem d6! Ba ar Worenem é nativa, é um ficus exético",disse- ‘aie Bete, no mesmo dia em que recebeu auto- Heagioparaccortara falsaseringueira, Morando ha 30 anos em Sao Paulo, Bete io perdet o sotaque paranaense, Nascida em Curitiba, pele, cabelos olhos claros denocam a peculiar miscigenacao que, no Sul do Bra si mesclou matizes europeus ~ no caso dela, falignos, portugueses e alemaes. O pai era Professor de portugués e liveratura em escola Piblica e, vilivo, casou-se com a mae de Bete Hlesonhave rer uma filha advogada, mas, apés tetminar um curso preparatorio para o magis- {étio, falou mais alto na jovem a paixo des: péttada pelo avé materno. Filho de italianos de Treviso, eleera mestre de obras e construit de tecnicos estrangeiros ao transformar So Paulo ern um laboratorio para uma QUest20 que feta um quinto da populacdo mundial casaseaigrejadobairro curitibano das Mercés, nicleo da famflia, “Gomcincoanosen jaia para as obras com ele. Carregava tijolos, misturava massa, Bu adorava aquilo’, lembra Bete, que entrou em 1975 no curso de arquitetura da Universidade Federal do Parand, A escola era rigida, com s6lida formagao técnica aplicada por uma geracao de arquitetos paulistas, a maioria deles mackenzistas. Quando 0 pai dela recebeu a lista de materiais, isse:"Voce vai ter que trabalhar para ajudar a pagar’ Por isso, Rete fez estégios em varios érgaos puiblicos e reve a sorte de participar do fértil ambiente que fez de Curitiba um modelo in: ternacional de urbanismo ‘No Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc}, drgao criado em 1965 e que implantou os equipamentos pibli- 05 que trouxeram bem-estar paraacidade sob a batuta de Jaime Leer, o chefe de Bete era Cissio Taniguchi (que 20 anos depois veioa ser prefeito). Mas se 0 momento urbanistico era interessante, a nota negativa era politica, com a repressio e os militares no poder. Engajada, Bete participou “terrivelmence” do movimen- 19 estudantil ecriou com colegas de faculdade uum grupo de urbanizacao de favelas ligado a0 Partido Comunista, “Imagina s6, Curitiba ti- nha duas ou trés favelas”,ironiza, pensando na ingenuidade da juventude. Bete estava no quarto ano de arquitecura quando sua turma reve que desenhar um conjunto habitacional paraa disciplina de projeto. Em parceria com dois colegas, seu trabalho recebeu um pré- mio do Banco Nacional da Habitacdo (BNH). Foi a melhor coisa que fiz na escola’, avalia. Elisabete Franga na ccobertura do edificio Mattineli fotografeds ‘por Ana Ottoni Elisabete Franga on the roof terrace of the Martinelibuilding. Photo by Ana OttoniEstudantes estrangeiros de arquitetura visitam com frequéncia os trabalhos ‘ealizados pela Sehab Foreign architecture students frequently visit the works of Sehab © premio em dinheir the rendeu um grande prazer:entrou em uma loja e comprou um cla rinetea vista,conta,orgulhosa ‘Ao se format, no inicio dos anos 1980, Bere centou tima vaga no mestrado da USP,em Sho Paulo. A ambicao dajover sem padrinhos esbarrou na pergunta dla moca tris do balcio: ‘Quem estéindicando vocé?”. A opeio foi ten- tara Universidade Federal do Rio de Janeiro, quieestavaabrindo mestradoem planejamento urbano. Passouem primeitolugare icou coma ‘nica bolss, masamudanca s6 fo possivel por que ela morou deis anos na casa da mae do en {Go namorado, hoje professor da Archicectural Association, em Londres, Bete conta que ocur- so era muito deologizado. "Na primeira aula 98 professores mandaram ler O capical o que 2u js tinha feito, Esse era o espirito do curso, que aeabei nfo coneluinde, Casei com um pau listaemudei:medo Rio. Sempre quismorarem Sio Paulo. im Higiendpolis’ esclarece No inicio da man’, 0 motorista que acompanha Bete apanhou-a em casa (ela nao dirige) © guiou menos que txés quilometros, comela sentadanobaneodetris atéarua Libe- ro Badaré, no centto de Sio Paulo, O carro pa- rouapoucos metros do cruzamentocomaave- nida Sao Joao. Bete desceu e entrou no edificio Martinelli, construfdonosanos 1920econside- rade oprimeiroatranha-céudacidade,com 130 metros de altura. Ela cumprimentou recepcio. nistas e segurancas na estteta portaria da his rico prédio e subiu até o 11° andar. Pisando firmeno piso emborrachado,cruzoua portade ‘vidio que marca a entrada de sua superin dncia, abriu mais duas portase adentrouse QG:umamplo espagoem forma de L onde balham 14 pessoas. Sua sala, que sempre el coma porta aberta,é mobiliada com umames de trabalho grande, em L, sobrecarregadacan pilhas de documentos livros e revista, mesa de reunidescom oito lugares. Bete comunicou a secretiria que suit para oauditéri, para primeira compromise oficial do dia: uma reuniae com uma comida de arquitetos sulafticanos, de Durban, qi vvieram conhecer a experigncia paulistatade urbanizacio de favelas. O encontto comegie pouco depois das 10 horas, com 19 pessuis sentadas a uma mesa em U, E rendeu fut semanas depois, foi firmado um acorda deo operagio entreas duas cidadese, pela princi vez, haverd um projeto-piloto em Durban as ordenado por uma equipe brasileira O trabatho desenvolvido pela secretata ros tltimos oito anos tem atraidoa atengio ds alunos, professores e profissionais de aqui tura eurbanismo, principalmente dos Estalos Unidosedauropa, quevéma cidadeconhcr ‘que esté sendo feito, A Sehab, porsua ve, fz parcerias com universidades como Cokimtig ¢ Harvard, nos FUA, e BTH, na Suica, Oc Paulistano ja integrou publicagSes, exp Oss e eventos. Em novembro, por exempla éenguanto os afticanos estavam em Sao Pauly Vanessa Padi de Souza- arquiteca da equipe da Sehab responsavel pela utbanizacio de He ligpolis-estavaem Nova York discursandom ONU. Simulraneamente, uma mostra sobre secretaria ocupava parte do subsolo da Oca,n9 parque Ibirapuera,na Bienal de Arquiteturade So Paulo, ondeocorreu também olancamenta de-um livro sobre o tema. E no final dejaneiro serd aberta uma exposigo no Gentro Cultural Sio Paulo, “Depois, a exposiclo, dentzo de contHBinees, vai percorrer cinco comunidades de IS Paulo, Em cada comunidade se faré uma Pamee com problemas paralelos que ocorrem fm outras sete cidades, como Nairdbi, Mum- Tate Medellin, Além disso, havera exibigoes Patalelas das boas priticas da favela,ediscus- Slo entre especialistas’, deralha Lorenza Ba- Toncelli,quecrabalhow na exposicio Sio Paulo Galling como assistente de Stefano Boeri, ex Seditor das revisiastalianas Domus e Abitare. Bletambém é o idealizador do Festarch, festi- Wald: iquitetura anual que ocorre em abril fm Perugia, do qual js participaram Rem Ko- Ghaas, Peter isenman e Kazuyo Sejima. “Foi Meolegal cidade entra no clima da arquite- Ht’ disse-me Beteaposvvoltardesuaapresen- {i;30, no ano passaco, na cidade ialiansa, onde fia nica palestrance brasileira. Dixlos do IBGE divulgaclos em dezem- Iho timo revelam que 11 milhées de brasi- Ieiosvivem em favelas, mas o niimero é um #f80 em um areal quando comparado 20 bi Thio de pessoas lo planeta na mesma situacao. “specialises, om suamaioriaconcentradosem pafsesondeoproblemaépequeno,avaliamque asituagzo cende 20 dramético nos préximos ah0s segundo dados da ONU, 0 niimero de favelados cresce 25 mithdes anualmente, En- Manto autores pessimistas como o marxista Totteamericano Mike Davis dizem nao haver eno fim do tine! (no seu livto Planeta favela elecondenou a urbanizacto de comunidades), SioPauloencrou no radarintetnacional por se Mostarsolofértil paraa discussto. Dhis fatores contribuiram para o flores- ‘era experiencia paulistana em habitacao so- Galdinheiroe técnica. Em 2005, quando Bere Aum, a5 verbas anuais de sua seeretaria estavam na casa dos 150 milhdes de reais por ano; sete anos depois, em 2012, chegarama 1,8 bilhio, um aumento de mais de 12 vezes, en- ‘quanto o orgamento da cidade multiplicou-se por2,5 no mesmo petiodo. E ha participagies estaduaise federais, viaconvénios comCDHU (rgio ¢stadual de habitacao social), Caixa Econdmica Federal e do Programa de Acele- taco do Crescimento (PAC). Isso sem contar recursos indiretos, como do Fundo Munici pal de Saneamento e das operacaes urbanas, instrumentos urbanfsticos que permitem au- mentar 0 coeficiente construtivo em algumas ‘reas mediante o pagamento de taxas que sio revertidas, em parte, para a habitacao social De forma geral, 60% do montante ver dos coftes da prefeltura, 20% do governo estadu- al e outros 20% do Federal, E sao distribudos, {g10880 modo, 10% para intervengdes em lote- amentos irregulares, 40% para urbanizagaode favelas.e50% para éreas de mananciais, Quanto a técnica, podemos dizer que a cidade absorveu a experiéncia brasileira no Aassunto. Diferentemence de paises como Riis- sia, China, fndia, Africa do Sul ou Turquia, 0 Brasil tem técnicosdiscutindo edesenvolven: do projetos sobre esse tema, com altos e bai- quase um século. Para chegarao mode- lo atual, Fundamental foi a semente plantada tno Rio de Janeiro por Carlos Nelson Ferreira dos Santos através do estudo realizado para @ bairro do Catumbi, Ao observar o valor do ambiente construfdo sem projeto, quebrou o paradigma moderno de destruiras ocupagoes irregulares e erguer bairros nas periferias. Se océlebre Pedregulho, desenhado por Affonso Eduardo Reidy, era a pérola do pensamento moderno, a0 criar um bairro com laminas de apartamentos, clube esportivo, escola etc, a situagio mais frequente foi (e ainda é) algo como a Cidade de Deus, bairro na periferia Favelas for export: ‘em 2002, Pedro Cury, Ricardo Ohtake, Bete Carlos Bratke no pavlhao do Brasitna Bienal de Veneze, na 8 Mostra de Arquitetura, quando ela foi curadora dda exposiao Favela Upgrading: Maria Teresa Diniz, J6rg Stolimen e Bete em Rotterdam: e exposicso ‘em Berlim sobre 0 trabalho da secretaria Favelas for export in 2002, Pedro Cury, Ricardo Ohtake, Bete ‘anc Carlos Bratke at the Brazil pavilion, Venice Biennial on the ‘occasion of the sth Architecture Exhibition, ‘where she acted as curator ofthe piece Favela Upgrading: Maria Teresa Dini, Jérg Stoliman and Bete in Rotterdam: and an ‘exposition in Bertin on the work of the city hal department‘Trabalho de autoria de Hector Vigliecca, em Holidpolis,intervém ‘em antigo conjunto de torres de habitacso social cujos recuos foram invadides. A proposta cria um ‘novo blaco, 20 redor dastorres e mais, baixo, para abrigar ‘os moradores dos barracos Work created by Héctor Vigliecca in Heliépolis is an intervention on an old social housing tower complex whose setbacks had been ‘invaded. The proposal creates a new block ‘around the towers; lower in order to shilter the residents of the slums cariocaeternizado no livrode Paulo Lins (ena consagrada pelicula de Fernando Meirelles) Depois da teoria de Carlos Nelson, duas experineias concretas mudaram o enfoque, tratando favelacomoalgoa sertransformado © nfo destrufdo. Flas ocorreram simultanea- ‘mente, em 1993, ambas financiadas com recur- sos de organismos internacionais de crédito, comooBanco Mundial (Bird) eo Banco Intera- mericano de Desenvolvimento (BID). A mais significativa foi implantada no Rio de Janeiro, quando o governo langou um programa ambi- ioso batizadio de Favela Bairro, idealizado por Luiz Paulo Conde e Sérgio Magalhaes. 0 plano ganhou visibilidade internacional e foi trans- formado em bandeira politica A segunda experiencia concreta foi ide. rada por Bete, que implantou em Sio Paulo um programa nos mesmos moldes, “Eu cra- balhava na Secretaria do Planejamento e no inicio do governo Maluf 0 ambiente ficou muito chato”, ela relembra, Bete conta que entdo pediu para Odon Pereira, na época as- ‘sessor de imprensado prefeito, para sertran ferida para a Secretaria de Habitacao, Seu desejo era trabalhar com mananciais no Pro- grama Guarapiranga, que estava sem dono na prefeitura, “Nao era de grande importan cia no governo Maluf, mas foi significativo, pois comecamos estruturar as diretrizes paraa urbanizacao de favelas, uma novidade imundial estimulada por um grupo histérico que comecou com essa linha no Banco Mun- dial’, ela prossegue. Antes disso, na gestao da prefeita Luiza Erundina (1989/93), ocor- reram urbanizacdes, mas a linha priorizada por Nabil Bonduki era o mutirao, na qual os préprios moradores, apés participarem da slaboracdo do projero de arquitecura, cons- trufam suas unidades, Com viés ideoldgico,a linha do mutirao era dominante no ambi académico de esquerda paulista,influex da pelo pensamento de Sergio Ferro gut no projeto de arquitetura um instrumental dominacio), Essa linha ainda hoje prevalt nicos do Partido dos'Trabal dores, mesmo com muitas baixas pés-ten lo, Por consequéncia, também influent agdes do Ministério das Cidades. Apos analisar a atuag Joan Villa, arquiteto historicamente enn vido com habitagao social, disse-me em ut raciocinio, Héctor Vigliecca, que rabalhai vel, que estamos perdendo uma baira opa nidade”. Cama retérica de que o import construir cidades ¢ nao unidades, ele firm sentado na sala de reunives de seu esis em umedificio comercial nos Jardins quenia consegue entender como 0 governo feet continua estimulando a construcio de ‘ass de pombo" na periferia, como ninguém i veste em tecnologia. Entre os projetos quel est desenvolvendo para Bete, destaca-seum conjunto em Heli6polis em terreno onée fi construida ma torre de apartamentos dG hab cujos recuos foram invadidos pele fava © projeto retira a invasdo e implanta boca baixosao redor da edificacfo existente No Programa Guarapiranga — a semen te direta daquilo que é realizado atualmente na Secretaria de Habitagdo ~ Rete comet a criar um método para cuidar do problema dos mananciais através da urbanizacio def vyelas ¢ loteamentos clandestinos. Tratanda CO esgoto que era jogad in natura na repre ela deu especial atenco aos espacos pies e construiu unidades para os casos em quea Temogio era necessaria, Para isso, control experientes arquitetos, tomo Abrahao Sano vicz, Edson Elito, Marcos Carrilho, Eduando Golonelli e Paulo Bastos. Era o contraria de que entfo se fazia na Sehab — 0 foco estava no Projeto Cingapura, que, apesar de manter © morador na mesma gleba, era tm projet padrao. A municipalidade construiu quase 10 mil unidades,com 40 metros quadrados edo{Apés 18 anos como Funcionaria pablica Bitodosquais dedicadosao Programa Guarapi- Fanga-etendo passado pelas gestes de Mario Goma, finio Quadros, Luiza Erundina, Paulo Malufe Celso Pitta,em2001 Betese exonerou. Mcharam que eu era louca: nenhum funcions- Tio piblico pede demissao”, conta. Bla passou fnésanas como consultora de projetos para ge- fetciadoras, Bird e BID, Acumulou experién- fas internacionais participando de trabalhos Epl2palses,doParaguai ao Timor Leste, Che- ola passar 200 dias no exterior no mesmo apo Sua vida de consultora foi interrompida Guang estava fazenco compras para o Natal 2004 em um supermercado em Higiendpo- Tbeocslulartocou. “Oi, Bete, tudo bem? Ko Gilberto Kassab. Voc8 aceita assumir a Supe finiendéncia de Habitacao PopulardaSehabe”, Peguntonoentaovice-prefeltoeleitonachapa atucano sé Sera eex-colega da arquiterana esto Picta. Bete convocou aequipe que tinha formado durante o Programa Guarapiranga imaturminia que comecou a desenvolver inicio otrabaiho om 1.86 mecro de altura, Marcos Bol: thtini ¢ conhecido pela “turminha” como Marcio, Comoa maioria dos outros, foi aluno de Bete na Braz Cubas e integrou a equipe do Progiama Guarapiranga, Acionado novamen Te pela exprofessora para integrar o governo £12005, ele preferiu seguir como profissional Zusbnomo focado em projetos piblicos. Para a Sehab, cle desenvolveu trabalhos significatt Bits como. parque Cantinho do Céu, menina dos ollios de Bete, Em uma manha de dezem bro, Boldarini circulava pela favela do Jaguai com o arquiteto da Sehab que coordena area. Depois de passar pelo canteiro de obras, onde chamaacopeira pelo nome,ele visitou um tele- centro e uma escadaria de aco recém-construt- dos. “Aprendi como atender ao poder pablico”, disse-me depois, revelando uma das razdes de seu sucesso Stiaobra ja recebeu dezenasdepré- miose foi expostana Bienal de Veneza) ‘Minutos mais tarde, ele pegou o carro © guiou para o outro lado do Jaguaré, em di- regao do Conjunto Alexandre Mackenzie. A primeira vista, o paralelismo e a rigidez dos blocos remetem, imediatamente, as laminas habitacionais modernistas; para 0 pablico em geral, 0 mesmo volume lembra os con juntos convencionais. Uma de suas virtudes, contudo, é a circulacao externa, avarandada “Criei esse projeto depois de visitar um bloco do Cingapura e ter me impressionado nega- tivamente com a circulacao fechada’, revela Enquaito estava em uma das varandas de circulacio ele olhou o terreno ao lado, atual ‘mente ocupado por uma favela e onde sera canstruido outro projero seu, 6 Conjunto Diogo Pires. “Aqui no Alexandre Macken: zie, os espacos livres entre as laminas ficam segmentados. No Diogo Pires nos criamos uum tinico espago central, que teré mais vida. OQ bacana é perceber o que funciona e 0 que no funciona eaplicar no trabalho seguinte’, avalia. Boldarini procurou o representante deum dosprédios para pedira chave e abrir a coberrura, uma rea comum usada para eventos, como churrascos. Os represe tantes fazem curso de sindicos no Secovi Alpes do Jaguaré e Parada de Taipas, projetos ealizades em 2001 para o Programa Guarapiranga por Marcos Boldacini (Guntamente com Gléucia Varandas, Eulalia Portela, Ronaldo Pezzo e Rita Canutti) Alpes do Jaguaré and Parada de Taipas, projects undertaken n2011 For the Guarapirange Program by Marcos Boldarini (with Glaucia Varandas, Euislia Porto, Ronaldo Pezzo and Rita Canutti)sMénica Bergamo, no mesmo jornal, que Hpoliica de babitacao “nao é de higienizacao, amelade evar os moradores das favelas para peiferia No final as aydes foram respondi- Poconjunco seguiu em construcao, Mas 400s pauguissimos vizinhos que apoiam iieatva tf ressalvas, “O arquiteto nio foi cuieexistiam, uma provaca- ib contou-me em dezembro uma moradora 40s ices. Ba desconfianca aHhioucorpodooutrolado:"Umadasmorado- onovo conjunto esta reclamando de falta Piracilade polso pessoal dos prédiosanda pando’ Receescutoudoengenheito Fijunco’ Figueira, Bete foi avisada pelo ema de sua equipe que Eduardo Colo- ide Roch), nao havia sido contratado para fat 0 Cingapura, “Como assim?", ela fionot oengentheiro da obra, responsavel e205 edificios novos e vai fazer a eforma Mbém. Quem vocks estio concratando?” PeBUntou, Aoouviraresposta, disse: “Quem é Sefala? Fu nfoconheco!” Imediacamente it spareColonelidisse quecleinhaque fazer alo quenegoriasse coma construcora eabai- SEM pouco.opreco. Com famadeduronae Becealternarispideze ternura Apideivaro Real Parque, Bete atravessou Brio Pinheitos ¢ seguiu com o arquiteto da sha patao Jardim Edith, onde ha obraque ele icoardena. O conjunto tem muita visi- biiade, pois fica em uma regio de edificios enegdcios."Vamos subir para ver um aparea- ‘Mrenio modelo, sugeriu o arquiceto. Na laje do Hettitoandar, Bere observa queacirculacio fi mito el perguncou, aponrando.o espaco Sb guandaroupa embaixo da janela dos quar- BU Marca disse que cabe’, ele respondeu. Mitta Moreira é uma das aucoras do projeto DP Seriadoescritério MMB, "Desta forma, osar- Tiétos esto fora da rea computével e fazem Peapactamenro car maior’, contou Marca, sen- Tala mesa de reunides de seu escritério, em Simprédio antigo da érea central de Sao Paulo, Mitsaginamos esse corredor entre quatro apar- tamentos como uma espécie de extensao das uunidades. Essas familias vivem juntas em co- munidade, por isso achamos que esses ntcleos podem viver juntos em um andar’, exemplifi- cou. “O projeto possui uma série de estratégias de desenho para que nao se rorne um gueto’, afirmou Milton Braga, sécio de Marta. Ble dé tr exemplos; a auséncia do gradil, com os re- cuos incorporados as calcadas, aumencanda © espago ptblico; a implantacio de servicos piiblicos (uma creche ¢ um posto de saiide}; « talvex o principal item, por sugestio dos ar quitetos, 6 espaco para um restaurante-escola ‘que; se bem gerido, pode atrair um patblico de engravarados. Comoo terreno é pequeno, hou- venecessidade de fazer muitosandareseusaro elevador (geralmente, evitado) Em foruns na internet, coneudo, 0s futu- ros moradores reclamaram da auséncia de va- ‘gasde veiculo privativas. O transporte piblico naregiao ¢abundanteenaohaviaespaco, asva- gas so na rua, responde Braga. Quanto 3 apa- réncia formal um tanto rigida do conjunto, Pa- blo Herefit, séciodo H+ F Arquitetos,escritério quedesenvolvet:o projetojuntocomoMMBB, disse que, quandoapresentado porele em uma palestra em Londres, o desenho foi considera domuico modern. Exatamente na contramao do mercado imobiliario, que buscaaseguranca eaexclusividadea qualquercusto, nos projetos publicos hé uma tendéncia de construir espa- §95 abertos e comuns, diminuindo as areas exclusivas. Nessa polarizacio, muitas vezes as comunidades incorporam a pratica das classes maisaleas etentam, porexemplo, impormuros evagas privativas ou barrar oacesso do restan- teda comunidade area de lazer, Hered também écoautor de outro signi ficativo projetoem curso, Trata-sedo Conjunto Pontedos Remédios, com 1.300apartamentos, que esta criando junto com Marcos Acayaba, nna rea ce uma antiga sidertirgica desativada “Gastamos muito tempo para chegar nesse tema vidrio que pretende incegraro conjun- toa cidade”, contou Hereiiti em seu escritério, localizado em uma loja na Galeria Metropole, no centro da cidade. A estratégia de integragio &semelhante &do Jardim Edith, mas o conjun- toémaioreo desenho, maislivre."A geometria dos blocos responde a situacdes especificas ‘Numa esquina, por exemplo,o prédio pode ser ‘um pouco maisalto, poiséaencrada do conjun- to. Nesta rua olocamoso comércio, imaginan- do que sera a via principal’, aponta Acayaba. A riqueza espacial conseguida pelos autores éAntiga siderdrgica dard lugar 20 Conjunto Ponte dos Remedios, desenado por Marcos Acayaba e HF Arquitetos. ‘Alguns prédios, como a chaminé eacasa de Torca, serd0 mantidos, 6 conjunto gan ‘primeira projeto do aruiteto paraguaio Solano Benitez Brasil (ld steel mill which sull make way to the Ponte dos Remédios complex, designed by ‘Marcos Acayaba and Hef Architects. Some buildings lke the chimney 2nd power ‘house, willbe kept, and the complex will win the first design project of the Paraguayan architect Solane Benitez in Brazil somada & manutencio de alguns prédios de ti jolos existences e ruas de paralelepipedos, que dardo 20 conjunto uma atmosfera tnica. Para completar, haverd também um projeto criado peloarquiteco paraguaio Solano Benitez Depois do Jardim Edith, Bete voltou para o centro e almosou com parte da equipe em uma churrascaria em frente do Anhanga bad. A delegacao sul-africana estava em outra ‘mesa e, naquela altura, jf havia aprendido os princfpios basicos da metodologia da equipe de Bete. A primeira coisa feita pelo grupo de brasileitos, quando comecaram otrabalho em 2005 foi estabelecer uma base de dados con- fidvel. Trara-se de um sistema de prioridades que cruza dados de Sreas de risco (como des- moronamento ¢ inundacao), vulnerabilidade social, satide einfraestrucura Assim, ficaesta- bbelecido onde agir primeiro (em Sao Paulo, ha cerca de mil favelas}. As familias queestioem pior situacio receberam prioridade nos novos apartamentos,construldos, quando possivel, a mesma regiao em que viviam, No periodo entre a demoligo dos barracos eaconsttucto das unidades, reeedem dinheiro para aluga- rem imévels. Quando © novo apartamento festa pronto, comecam a pagar parte do valor do imével (que é subsidiado pelo governoem até 85%). As unidadles possuem SO metrost drados e dois ou ts dormitorios. ‘As comunidades participam das da sdes de projeto.e muitas vezes, como 606 de Helispolis, escolhem 0s préprios an tos (Ruy Ohtake e o escritério Piratining (Osdemais moradores da favela ganas il de propriedade e infraestrucura basica ‘esgoto, pavimentacao deruasevielas, ep piblicos ete, Outro elemento da metodel da Sehab considera as bacias hidrogfid Como merade da verba € destinada area ‘mananciais, é inteligente que o trabalho estabelecido pelo desenho dos rios, ena divisoes geograficasartificiais ‘Além disso, ha um grande mérito no«al a corpo realizacio pela equipe de assisténci cial jantocomas comunidades suas detail ‘Apés oalmoco, Bete se reuniu.commertbm equipe para discutirasituacto da obraem Pia sOpolis, que estava com problemas justamt entre as liderancas e a construtora, Bere vvera trocar um dos interlocutores com aa hidade na esperanca de que a obra avancas Foi naquele local que todo 0 processo come quando assumiua prefeitura em 2008, Jos ravisicou projetos do Favela Bairro no Rio Janeiro e ficou obcecado em transforma: Pati sOpolis em um bairro, Somado a varias agi {nfraestrutura,chamaaatenciour grandest junto, com quase mil apartamentos, desenbidi por Edson Elico, Joana Elito ¢ Cristiane Ta ‘Trata-se do primeiro projeto coordenado i ramente pela gestao de Bete e conta com il série de avangos incorporados posteriori tais como planta livre, janela que abre 100% vio, uso misto com comércio, equipameat plblicos no térreoe gésderua Ouera questao fundamental na meth dologia da Schab é a valorizagao do cabal do arquiteto e utbanista, deixando delat projeto-padrao ¢ criando desenhos espesil cos para cada situagdo. Atualmente, mais da 50 equipes de arquitetos trabalham part secretaria, Algumas vezes, para entiquecdl processo, a Schab solicita que os escrito attiem em conjunto, como na regite do Agi Espraiada, onde 11 equipes estio desenitl vendo projetos. “Mas quase todosconvetsi sobre o projetoe divider asareas,cadaum fy zendo um predinho” decepciona-se Bete Para democracizar (eagiliza’) acontit foi abertoum concursodearquiteturaea™ 2011, batizado de Renova SP, para 22 reas cidade, Trata-se do mais ambicioso certamGearquitetursji realizado no Brasil, comcon- e até 7 milhdes de reais, Inovadora, a ietogologia do concurso, alem de separar H assieas por bacias hidrogréficas, propés que (Gsarguitetostrabalhassem em duas frentes Aime gleba especifica, de grande monta, para Tue fosse odservado o dominio urbanfstico Sobre 0 tema; e trés prédios de habitacao so- Gial para analisar a sensibilidade arquitetd- Tikadaequipe, “Reunimo-nos com outroses- Gfltbrios para discutir entender a proposta €dconenrs0.Depois,cadaum apresentou um Aaballo diferente’ conta Catherine Otondo, Sicla do estidio Base 3, Sua equipe, que ven- $e 2 dispute em uma das areas, jé estava fa Gendoum projeto para a secretaria, na favela “WoSapé no Bucanca, Para solucionar o proble Unialocérrego do Rio Pequeno, que frequen- Temente alagava, a equipe propds criar um “Pargue linear e implantar novos prédios para Tas familias removidas, "Dentro da favela, “quate seabreespaco para passarinfraestru- ura criam-se bezos maiores, com desenho Tiregulas Fizemos desenhos com variados Tisosparaque essesespacos sejam ocupados”, ia Marina Grinover, s6cia do Base. {Apis sait 0 resultado do concurso, os Honttatoscom os vencedoresdemoraramaser Fiimados Houve um receio generalizado en- Se 0s ganadores em relacdo a responsabili- “kidedos projeros 1550 porque se definiaoes- " sritériodearquiteturacomoliderdoprocesso, Tendo que coordenaras equipes, de projeros omplementares, como estrutura ¢ drena- “gon “Esse Gum tipo de contrato que, em ge Tal feito com gerenciadoras’, avaliou Fabio "Yalentim, s6cio do Una Arquicetos, enquanco ostravaseu crabalho, vencedor em uma das reas, Enfurecida comademoranaassinatura dos contratos — que, inclusive, pediam garan- tias patrimoniais em contrapartida -, Bete, emuma roda de arquitetos durantea noite de Jancamento de um livro em novembro, ques- tionou: “Masnaoéessalideranga que todosos arquitecossempre lutaram parater?”, Ummés depois, elaabriu um sorriso quando perguntei sobre a situagao dos contratose disse-me que estavam todos assinados. ‘ASehab planeja langar,nos primeitos me ‘ses de 2012, a segunda fase do concurso Reno: va SP. Emcinco areas nac houve vencedores temos mais cinco éreas para concursos. $6 em Heliépolis, na reada Petrobras, hi espaco para 4 mil unidades’, Bete adianta, Mas o principal desafio em 2012 € aprovar o Plano Municipal da Habitacio, um projeto de lei que precisa passar na Camara dos Vereadores, Com vota- (8o prevista para Fevereiro, o plano 6 “revolu- cionério”, na defini¢ao de Bete. “Pela primeira vez teremos instrumentos péblicos para gerir a questo da habitacZo, com critérios claros de andlisee prioridade esob oconceitodeagdo por bacia hidrogréfica’,avalia, “Ea habitacao trata- dacomo prioridade e com verba definida.” Nas duasaudiéncias pablicas por que passou, otex to recebeu sinal verde de todas as comissoes. Com programacio de implantagio em quatro quadrignios, o plano, se aprovado, deve facili- taro trabalho das futuras Betes. Casadae sem fillos, ela diz nao tera menor ideia do que vai fazerquando acabaressa gestio, "Estou cansa- da, sioeventos, inauguracéese reunides quase todas os finais de semana Nao fago planos em longo prazo, mas a cada oito anos é born dar uma paradla. Quem sabe eu no fago um pé: outorado na Suga?” sonia. w No ia da inaugurasio {dos volumes circulares ‘em Helidpols, os moragores encantram Ruy Ohtake ea coordenadora da Sehab - Vanessa Padié de Souza On the inauguration day ofthe circular volumes in Heidpolis, the residents met Ruy Ohtake and the coordinator of Sehab = Vanessa Padis de Souza