2. OS CONTRATOS DE ADESÃO
Não é uma nova espécie (tipo) contratual. É uma compra
e venda, prestação de serviço, etc. É apenas um instrumento
impresso e elaborado unilateralmente, sendo que o consumidor
tem sua autonomia restrita, cabendo apenas aceitá-lo ou não.
Os contratos são homogêneos em seu conteúdo.
Na Alemanha, ele chama de: condições gerais dos
contratos; em Portugal: Cláusulas contratuais gerais; na França:
contrato por adesão. Hoje em dia, é tudo sinônimo.
São aqueles que resultam de uma adesão pelo adquirente
(consumidor) das cláusulas gerais estabelecidas
unilateralmente pelo proponente (fornecedor). Contudo,
podemos encontrar contratos de adesão fora da relação de
consumo, como no âmbito das empresas, nos escritórios
advocatícios, nas relações de trabalho, etc.
A principal diferença entre os contratos paritários (entre
iguais) e de adesão não está no ato de formação, pois ambas
são adesivas, a diferença está na fase pré-contratual, já que
não há negociação de cláusulas na de adesão, enquanto nos
paritários há essa possibilidade. Os contratos de adesão não
possuem uma fase pré-negocial decisiva (muitas vezes nem há
tratativas negociais, debate prévio). O que resta ao consumidor
é aceitar ou rejeitar as cláusulas em bloco.
4. ART. 46 DO CDC
Tem por objetivo a proteção do consumidor na fase de
formação do contrato, buscando evitar o beneficio exagerado
ao fornecedor e a excessiva onerosidade ao consumidor pela
adesão de cláusulas unilaterais. É a concretização do princípio
da transparência (art. 4, caput), pois a informação dever clara e
correta sobre o produto e contrato de modo a permitir que o
consumidor faça uma boa escolha
O contrato deve ser feito entre partes bem informadas, se
não ocorrer isso, não haverá vinculação do consumidor com o
contrato. Assim, o CDC afastou as práticas abusivas de não-
informar (esconder os efeitos do contrato), evitando que o
consumidor fosse vinculado no escuro.
O fornecedor tem o dever de informar o consumidor do
conteúdo do contrato, portanto, sob pena de não vincular o
consumidor. Isso depende do caso concreto e o fornecedor é
que prova que deu todas as informações devidas, pelo princípio
da conservação do contrato (adotado pelo CDC), aproveitando
as cláusulas não abusivas desse contrato.
O princípio da conservação do contrato é no sentido de
que, mesmo que alguma cláusula ou algumas sejam abusivas e
nulas, isso não prejudica o resto do contrato.
5. ART. 47 DO CDC
Determina como será a interpretação dos contratos de
adesão. Uma vez que as cláusulas são elaboradas
unilateralmente pelos fornecedores, o contrato vai ser
interpretado de maneira mais favorável a parte que não teve a
chance de discutir as cláusulas e manifestar livremente sua
vontade.
Aplicam-se, ainda, todos os princípios de interpretação de
contrato, não só as cláusulas dispostas no CDC (ex.: art. 112 do
CC – a execução do contrato deve atender mais a vontade do
que a literalidade, ou seja, se estiver escrito uma coisa
diferente do que foi a intenção do contrato, se favorece a
intenção; 113, in fine, do CC – usos e costumes são relevantes
na interpretação de cláusulas contratuais; 114 do CC).
Ainda, uma cláusula não pode ser analisada de forma
isolada, ou seja, o contrato de consumo deve ser analisado
como um todo (assim como o CDC). As cláusulas ambíguas
devem ser interpretadas ao que pode ser exigível, pelo princípio
da conservação do contrato, e de forma mais favorável ao
consumidor também.
Não só as cláusulas ambíguas são interpretadas contra
aquele que redigiu o contrato, mas todo o contrato. O CC, no
art. 423, dispõe de algo semelhante. O art. 424 do CC pode ser
analisado com o art. 51, I do CDC. Se preserva mais a intenção
das partes do que a escrita, também.
Quando houver discussão de cláusulas (quando não se
tratar de adesão, portanto), ocorrendo negociação particular, a
cláusula que não foi previamente escrita vai valer em relação a
previamente estabelecida na adesão, prevalecendo e
derrogando (é parcial, não de todo o contrato) as cláusulas do
formulário padrão. Essas cláusulas discutidas podem estar no
mesmo documento, ou no documento em anexo.
Sempre se deve observar a boa-fé objetiva em todos os
casos – agir de acordo com um padrão de conduta voltada a
uma cooperação que varia de acordo com o tipo de relação
entre as partes. A boa-fé objetiva não cria apenas deveres
negativos, mas também positivos, para que ambas as partes
façam que o contrato seja cumprido conforme o pacto
(obtenham o resultado que tinham intenção, a partir da
cooperação mútua).
6. ART. 49 DO CDC
Uma das grandes inovações do CDC. Inicialmente foi
interpretado de forma equivocada, pois entendia-se que era
comodato (empréstimo da mercadoria), ou compra e venda a
contento, mas não, é um contrato perfeito e acabado.
Consagra o direito de arrependimento do consumidor e
estipula um prazo para tal (7 dias), sempre que o consumidor
comprar fora do estabelecimento comercial – por telefone ou a
domicílio são apenas exemplos, abrangendo, o artigo, todas as
vendas externas, como pela internet, por correspondência, etc.
O consumidor não pode se arrepender quando o contrato é
firmado no estabelecimento comercial do fornecedor.
Se for serviço, o prazo conta a partir da instalação do
serviço; se for produto, é desde o momento do recebimento do
produto.
É um direito unilateral (potestativo) do consumidor de
desfazer o contrato, a que o fornecedor fica submetido por lei,
não criando nenhuma obrigação em contrapartida. Esse
arrependimento não precisa ser justificado e, a partir do
momento em que o consumidor expressa o arrependimento, o
fornecedor só tem um caminho: aceitar a desistência. A
manifestação é ônus do consumidor e pode ser efetuado por
qualquer meio, mas que deve ser de possível comprovação.
Se o produto estiver defeituoso, por exemplo, pode-se
trocar a mercadoria e o prazo começa de novo, a partir do
recebimento da nova mercadoria. Se a coisa adquirida perecer,
for furtada, etc., não há como se arrepender (res perit domino).
8. PRÁTICAS ABUSIVAS
ART. 39, IX, XII; Art. 51, §1º.
Características da internet:
-É uma rede aberta (qualquer um pode ter acesso a ela).
-Interativa (usuário gera dados, navega e estabelece
relações (contratuais ou não).
-É internacional (permite que o usuário transponha as
barreiras nacionais).
-Multiplicidade de operadores.
11.CLÁUSULA DE NÃO-INDENIZAR X
CLÁUSULA LIMITATIVA DE DIREITO
Cláusula limitativa de direito – art. 54, §4º do CDC – O
CDC expressamente vedou a cláusula limitativa de
indenização, mas não proibiu que o fornecedor
estabelecesse cláusula limitativa de direito (por exemplo –
prazo de garantia
-Cláusula de não-indenizar – é excluir ou restringir o dever
de indenização de uma obrigação assumida pelo fornecedor.
-Cláusula limitativa de direito – restringir a própria
obrigação a ser assumida a obrigação (ninguém é obrigado a
assumir uma obrigação maior que possa querer). Contudo,
devem ser redigidas com destaque para se resguardarem no
direito de informar.
1. ACIDENTES DE CONSUMO
O CDC determinou uma revolução na responsabilização
contratual, com o surgimento da boa-fé objetiva, enquanto
antigamente (CC-16) só havia a boa-fé subjetiva fundada na
culpa. Os artigos 12 e 14. O CDC são os mais importantes nessa
parte da matéria. O CDC também inaugurou a teoria do risco do
empreendimento, transferindo o risco da atividade para o
fornecedor.
2. O RISCO EMPRESARIAL
Antes do CDC, o risco era assumido pelo consumidor, após o
CDC, tal risco foi transferido para o empresário – teoria do risco do
empreendimento, que também foi adotado pelo CC/02 (art. 927,
§único do CC). Todo fornecedor tem o dever de responder por
eventuais defeitos e vícios do produto independente de culpa.
Assim, isso está de acordo com os princípios estruturantes do CDC
(da boa-fé, da segurança, da transparência, etc.).
Art. 3 do CDC conceitua fornecedor, estabelecendo toda a
cadeia de fornecimento e todos aqueles que integrarem essa
cadeia serão solidariamente responsáveis. Tanto comerciante,
como fabricante, como distribuidor, antes do CDC, iriam tentar se
isentar de responsabilidade, agora, todos respondem.
O fornecedor passa a ser o garante de produtos e serviços
oferecidos no mercado, respondendo pela qualidade e segurança
deles. Cabe ao fornecedor, através do preço dos seus produtos,
distribuir e socializar os custos do dano (justiça distributiva) – ex.:
se o produto possui um alto risco para o consumidor, esse risco vai
refletir no seu preço.
3. A SISTEMÁTIA DO CDC
O CDC divide a responsabilidade entre o fato (art. 12-14 do
CDC) e o vício (art. 18-20 do CDC) do produto ou do serviço.
A palavra chave para diferenciar fato de vício é DEFEITO.
FATO => Para caracterizar uma responsabilidade civil pelo
fato (mais grave), o defeito tem que gerar um acidente de
consumo, estando ligado, portanto, a falta de segurança do
produto ou serviço.
VÍCIO => Para caracterizar o vício (menos grave) é um
defeito que implica na quantidade ou qualidade do produto ou do
serviço, gera apenas um mau funcionamento ou não
funcionamento do produto ou do serviço.
Tanto fato como vício decorrem de defeito, mas, no fato, o
defeito é tão grave que atinge a pessoa na sua integridade física
ou moral. É importante considerar o consumidor por equiparação,
em caso de vítima de acidente de consumo (ou seja, mesmo não
sendo consumidor, se a pessoa sofreu dano em razão de uma
relação de consumo, ela é equiparada ao consumidor). Um
exemplo: se o carro fica sem freios, mas ele consegue parar e não
ocorre acidente, é vício do produto, mas se não consegue parar e
gera acidente, é fato do produto.
6. O QUE É DEFEITO?
Art.12, §1º do CDC – é a falta de capacidade do fabricante
de eliminar os riscos de um produto sem prejudicar sua
utilidade. Produto é defeituoso quando ele não oferece a
segurança de que o consumidor legitimamente espera, ou seja,
que ele não fere as expectativas legítimas (ex.: eu tenho a
expectativa legítima de que um creme hidratante não vá
queimar minha pele, já, em relação ao revólver não pode ser
esperado que eu não venha a morrer caso atire contra mim
mesmo).
O risco, por si só, não gera o dever de indenizar – por
exemplo, bungie jump, que tem um risco (é perigoso, mas não
gera, por si só, dever de indenizar). Esses produtos e serviços
só tem o dever de informar que seus produtos/serviços
possuem determinado risco e aí, não haveria responsabilidade,
contudo, se houver falta de informação, aí há surge o dever de
indenizar caso haja algum fato do produto.
7. DEVER DE SEGURANÇA
A violação é do dever jurídico de segurança, e cada vez
que for violado, dará ensejo a responsabilidade civil pelo fato do
produto. Quanto maior o risco do produto, maior o dever de
segurança do fornecedor. Art. 12, §1º do CDC é uma cláusula
geral, com conceitos jurídicos indeterminados, para que esse
dever de segurança fosse aplicado ao maior número de casos
concretos possíveis.
Cria, portanto, um dever de produzir sem defeito. A
segurança também está prevista em outros dispositivos do
código, como no art. 4. A segurança tem de estar de acordo
com o risco do produto, sendo sempre considerada a
expectativa legítima do consumidor.
O direito só atua quando o patamar de insegurança
ultrapassar a previsibilidade, portanto.
Dois elementos a serem considerados nesse dever de
segurança, portanto:
-Desconformidade com a expectativa legítima do
consumidor.
-Capacidade de causar acidente de consumo.
AULA 17/11-CONTINUAÇÃO
10. OS RESPONSÁVEIS
Art. 3 do CDC está conceituado fornecedor de uma forma
abrangente, abarcando todos os integrantes da cadeia de
fornecimento. No art. 12, contudo, não está incluído o
comerciante. Há três modalidades de responsáveis:
-Real
É o fabricante, produtor e construtor
-Presumido
Importador
-Aparente
Comerciante
4. Os responsáveis
Diferente do que acontece com o fato do produto/serviço,
o legislador não deixou de fora o comerciante (não terá
apenas uma responsabilidade subsidiária), ou seja, ele é
igualmente e solidariamente responsável com os demais
produtores da cadeia de consumo pelo vícios de qualidade
ou quantidade do produto/serviço (art. 18, 19 do CDC – e ver
a cadeia de fornecimento no art. 3 do CDC).
Consumidor pode exercer seu direito contra quem achar
mais conveniente (diferente quando for fato, que ele deve
procurar o produtor, inicialmente), podendo, portanto,
demandar já de início contra o comerciante (que vai arcar
com a indenização e tem direito de regresso contra o
fornecedor, se não for o responsável).
Exceções – quando responde exclusivamente o
comerciante:
-Art. 18, §5º - responsabilidade exclusiva do
comerciante, a não ser quando identificado o produtor
(ex.: pede água de coco, mas ela vem com areia)
produtos in natura;
-Vício de quantidade decorrente de produtos pesados
em balança desregulada (ex.: 1kg de feijão que não é
1kg). Responsabilidade exclusiva do comerciante.
5. Vício de qualidade
O art. 18 prevê dois tipos de vícios – de qualidade e
quantidade.
Art. 18, caput. Vícios de qualidade - que tornam os
produtos duráveis ou não duráveis impróprios para a
utilização ou diminuem seu valor (geladeira que não gela,
motor que não funciona, etc.).
Doutrinariamente, recomenda-se a solidariedade entre
fabricantes e comerciantes pela responsabilização por vícios
de qualidade. Só se pode inserir no mercado produtos que
tenham a qualidade para atingir os fins a que se destinam,
caso contrário, isso é fato gerador de responsabilização.
Art. 18, §6º - Traz exemplos de vícios de qualidade (rol
exemplificativo).
7. Vício de quantidade
Produtos embalados com a quantidade não estando de
acordo com aquilo descrito no frasco – art. 19 do CDC.
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
1. Distinção 3
2. Sistemática do CDC
5. A prescrição no seguro
Cavalieri entende como seguro é contrato de consumo,
teria que ser a regra do art. 27 do CDC, contudo isso não é o
entendimento adotado pela jurisprudência.
Adota-se o art. 206, §1º, II do CC. – Prescrição de um ano.
6. Decadência
Ocorre DECADÊNCIA quando se tratar de vício do produto
e do serviço (e não do fato, pois aqui é prescrição).
Art. 18, §1º e Art. 20 são os direitos potestativos do
consumidor que podem ser exercidos no prazo do art. 26, I e
II do CDC que vale tanto para vício oculto como para vício
aparente (o que diferencia é o início do prazo).
Quando for vício aparente, o prazo se inicia da entrega do
produto ou término da prestação do serviço (art. 26, §1º).
Quando for vício oculto, o prazo só começa a ocorrer
quando evidenciado o problema (a prova é dificílima).
Produtos/Serviços duráveis – 90 dias (móveis, roupas) e
não duráveis – 30 dias (alimentos e medicamentos).
O CDC prevê duas hipóteses de suspensão do prazo
decadencial (art. 26, §2º, I e III) – que também vale como
causa de suspensão da prescrição.