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Prelego, Na preleco s6 se expliquem os utores antigos, de modo algum os moder- os, De grande proveito sera que 0 profes- yr nao fale sem ordem nem preparacio, as exponha o que escreveu refletidamente fo é a seguinte: Em primeiro lugar leia seguidamente mlavras 0 angumento e, onde for mister, a nexiio com o que precede. Bm terceiro lugar leia cada periodo e, no caso de explicar em latim, esclareca os ‘mais obscures, ligue um ao outro ¢ expla- ie 0 pensamento, ndo com metafrase pue~ ail inepta, substituindo uma palavra latina por outra palavra latina, mas declarando o mesmo pensamento com frases mais inte- ligiveis. Caso explique em vernaculo, con- serve quanto possivel a ordem de colocagio das palavras para que se habituem os ou- vidos ao ritmo. Se o idioma vulgar n&o 0 permitir, primeiro traduza quase tudo pa- lavra por palavra, depois, segundo a indole do vernaculo. Em quarto lugar, retomando o trecho de principio faga as observagdes adaptadas a cada classe, a menos que prefira inseri-las ha propria explicagio. Se julgar que algu- mas devem ser apontadas —e n&o convém sejam muitas — poders dité-las ou a inter valos durante a explicagio, ou, terminada a igo, em separado. E bom que os gramati- cos niio tomem notas sendio mandados. Leonel Franca, O método pedagégico dos jesuttas: o Ra- tin Studion, Rio de Janeiro, Agir, 1952, p. 145, 146, 175 € 186, Atividades Quest6es gerais 1. Dé exemplos de aspectos do huma- nismo renascentista que representam 0 esforgo de secularizacio do pensa- mento. 2. Por que protestantes e catélicos, no século XVI, passaram a se interessar pela ac&o pedagégica? Compare as duas orientacdes em suas linhas principais, in- dicando as coincidéncias e as diferengas. 3. Analise de que perspectiva a ped: gogia dos jesuitas atende as expectativas do novo homem renascentista ¢ como também a elas se opée. 4. Quais sao 0s focos comuns sobre a educacao de Vives, Erasmo, Rabelais ¢ Montaigne? - “Em verdade o homem é de nature- za muito pouco definida, estranhamente desigual ¢ diverso. Dificilmente o julgari- amos de maneira decidida e uniforme.” a) Compare essa afirmaciio de Mon- taigne com 0 intuito dos missionarios de catequizar 0s indios. b) Explique como esse aspecto re- presenta uma das muitas contradicdes vividas no Renascimento, 6. O dropes | contém trechos de um li- vro de Rabelais, em que 0 pai (o gigante Gargantua) faz recomendagoes ao filho (Pantagruel). Responda as questoes: Renascimento: humanismo, Reforma e Contrarreforma 137 a) Identifique os elementos que indi- cam oposic&o a tradigao medieval. b) Embora a frase muito citada de Rabelais “Ciéncia sem consciéncia nao é senao ruina da alma” no contexto se refira ao amor a Deus, de que forma po- deriamos aplicd-la para compreender os problemas atuais decorrentes do desen- volvimento cientifico ¢ teenolégico? 7. “Nao menos que saber, duvidar me apraz” (Dante Alighieri). Ainda que 0 po- eta italiano tenha vivido no século XII, de certa forma antecipa algumas idéias do Renascimento: relacione a citacdo dele com © pensamento de Montaigne e dis- tinga-a da proposta religiosa dos jesuitas. Questées sobre a leitura complementar 1. Compare o comentario de Montaig- ne (dropes 2) sobre a meméria com a_| valorizacaio que dela fazem os jesuitas. 2. Discuta a importancia da individuali- | dade no Renascimento, baseada em Mon- taigne. Como a ela se opdem as Regras? 3. Como poderiamos defender a pro- Ps P posta do Ratio Studiorum como documen- to inserido em seu contexto hist6rico? A partir desse capitulo, intercalamos na segunda parte a histéria da educagdo no Brasil. No entanto, desde o presente ca- pitulo até 0 oitavo, s6 veremos os topicos Contexto histérico e Educagao, por n&o poder- mos tratar de uma pedagogia brasileira propriamente dita, j4 que estivemos todo esse tempo atrelados ao pensamento es- trangeiro. Essa situago se atenua no final do século XIX, quando ja é possivel exa- minar expressdes mais atentas sobre os te- mas pedagégicos. Por fim, no século XX, dado o grande volume de informagées, preferimos estudar o Brasil em capitulo se- parado da historia europeia. Brasil: catequese ¢ intcio da colonizagao Cronologia da educacao no Brasil Colénia + Fase heroica: de 1549 a 1570 — catequese. + Fase de consolidacio: de 1570 a 1759 — expansio do ensino se- cundirio nos colégios. + Reformas pombalinas: de 1749 a 1808 — instruc&o publica. + Periodo joanino: de 1808 a 1822. 138 Historia da Educagao e da Pedagogia — Geral e Brasil histérico ria do Brasil no século XVI nao svinculada dos acontecimentos a, ja que a colonizagao resultou lade de expansio comercial da nriquecida com a Revolucao al. As colénias valiam nao sé para odo comércio, como também por produtos tropicais e metais precio- metrépoles. 480 do Brasil, a colonizagao assumiu que dependeram da forma pela gal e Espanha se situaram no do desenvolvimento econémico e J europeu. Como vimos na primeira quanto Franca ¢ Inglaterra incen- am as manufaturas, a burguesia portu- permaneceu atrelada aos interesses olutismo real, que ainda refletiam a ciéncia medieval. Por ser um pais cat6- ‘que resistiu ao movimento protestante Contrarreforma e a Inquisicao, Por- condenava os juros, 0 que restringiu a nulacdio de capital ¢ retardou a implan- jo do capitalismo. Por outro lado, por nter seus privilégios, a nobreza onerava scofres pitblicos ¢ dificultava a alianga do om a burguesia. Além disso, enquanto opa renascentista se preparava para o pensar que se consolidaria no Tlumi- smo do século XVIII, Portugal permane- ja cioso da heranga cultural clssico-me- , preservando 0 latim, a filosofia e a "Por levar mais tempo para encontrar metais no Brasil, de inicio a agio dos por- fugueses restringiu-se A extracdio do pau- brasil ¢ a algumas expedigdes exploratorias. A partir de 1530 teve inicio a colonizagao, com o sistema de capitanias hereditarias e a monocultura da cana-de-acticar. Enquanto na Europa os ventos da mo- dernidade exorcizavam a tradigao medie- yal, no Brasil implantavam-se formas de economia pré-capitalistas, com grandes proprictarios de terra. A economia colonial expandiu-se em torno do engenho de ag car, recorrendo ao trabalho escravo, inicial- mente dos indios e, depois, dos negros afri- canos. Latifiindio, escravatura, monocultura, eis as caracteristicas da estrutura econdmica colonial que explicam o carater patriarcal da sociedade, centrada no poder do senhor de engenho. Convém nao esquecer que o Brasil era uma colonia de economia agricola, cujo l- cro ficava com 0s comerciantes na metr6po- le, © que caracteriza uma economia de mo- delo agrério-exportador dependente. No entanto, ainda que Portugal tivesse 0 monopélio da producio de agticar brasileiro, as refinarias no eram construidas naquele pais, mas na Holanda, Inglaterra e Franga. Nesse contexto, a educagio nao cons- tituia meta prioritaria, j4 que o desempe- nho de fungdes na agricultura nao exigia formacio especial. Apesar disso, as metré- poles europeias enviaram religiosos para 0 trabalho missionario ¢ pedagdgico, com a finalidade principal de converter 0 gentio € impedir que os colonos se desviassem da fé catélica, conforme as orientagdes da Con- trarreforma. A inteng&o dos missionarios, porém, nao se reduzia simplesmente a difundir a religiio. Numa época de absolutismo, a Igreja, submetida ao poder real, era ins- trumento importante para a garantia da unidade politica, j4 que uniformizava a fé e a consciéncia. A atividade missiona- ria facilitava sobremaneira a dominagao metropolitana ¢, nessas_circunstanci: a educagéo assumia papel de agente colonizador. No Brasil, segundo a historiografia tra~ dicional, foram os jesuitas que, em maior niimero ¢ atuacio efetiva, obtiveram re- sultado mais significative, porque se em- penharam na atividade pedagdgica, para Renascimento: humanismo, Reforma e Contrarreforma 139 eles considerada primordial. No entanto, estudos recentes tém mostrado que outras ordens religiosas foram importantes — mas que nao deixaram o mesmo volume de do- cumentagio da Companhia de Jesus —, tais como os franciscanos, os carmelitas ¢ 0s beneditinos. Educacdo 1. A chegada dos jesuitas Para melhor compreender a ago dos je- suitas no Brasil é conveniente rever a primei- ra parte deste capitulo, em que analisamos a Companhia de Jesus no seu contexto histori- co. Vimos que, apés a Reforma, 0 Concilio de Trento empreendeu a Contrarreforma, destinada a impedir a propagagio da dissi- déncia religiosa representada pela religiio protestante. Além dos jesuitas, com agao mais intensa, eficaz e duradoura, outras or- dens empenharam-se nesse trabalho. Quando 6 primeiro governador-geral, Tomé de Sousa, chegou ao Brasil em 1549, veio acompanhado por diversos jesuitas en- cabegados por Manuel da Nobrega. Ape- nas quinze dias depois, os missionarios ja faziam funcionar, na recém-fundada cidade de Salvador, uma escola “de ler ¢ escrever”. Era 0 inicio do processo de criagao de es- colas elementares, secundarias, semindrios © missdes, espalhados pelo Brasil até 0 ano de 1759, ocasiaio em que os jesuitas foram expulsos pelo marqués de Pombal, Nesse periodo de 210 anos, os jesuitas promoveram macigamente a catequese dos indios, a educagio dos filhos dos colonos, a formacio de novos sacerdotes ¢ da elite " colégio instalado no planalto nao se chamava § dito, "4 culture brasileira: introducio ao estudo da cultura no Brasil. 4. ed. rev. ¢ ampl, Brasilia, p. 505, ‘io Paulo, como se costuma di: Inacio; vale lembrar que funcionava mais como uma “casa de meninos” ¢ n&o como colégio propti telectual, além do controle da fé e da dos habitantes da nova terra. Era dificil a empreitada de instalar a sistema de educac&o em terra estranhae povo tribal. De um lado, os indigenas d gua € costumes desconhecidos ¢, de 0} 0s colonizadores portugueses, que pi vieram sem suas mulheres ¢ familias, rudes e aventureiros, com habitos critica pelos religiosos, Embora os jesuftas recebessem formag diorum (rever primeira parte deste capit enfrentaram sérios desafios para se ada as exigéncias locais. E bom lembrar qui Ihes valia, nesses casos, a sua tio conhed flexibilidade. daram 0 Colégio de Sao Vicente, no lito depois transferido para Piratininga, nop nalto, onde, a partir do Colégio"', em surgiu a cidade de Sao Paulo. Com espirito empreendedor, o padre nuel da Nobrega organizou as estrutu ensino, atento as condicdes novissimas encontradas. O primeiro jesuita a ap a lingua dos indios foi Aspilcucta Nava também pioneiro na penetracao nos set em missio evangelizadora. A essas duas fi ras veio se juntar, em 1553, 0 novigo Jos Anchieta, de apenas 19 anos, que mais ta se destacaria no trabalho apostélico. Fernando de Azevedo, historiador bra leiro da educagao, refere-se a essa “trin espléndida — Nobrega, o politico, Nava © pioneiro, e Anchieta, 0 santo” — con simbolo da “atividade extraordinaria dos, suitas no século XVI, a fase mais bela e réica da historia da Companhia de Jesus” er, mas sim Colégio 140 Historia da Educacao e da Pedagogia — Geral e B ante das criticas e defe da agao Iuética dos jesuitas no Novo Mundo, é demais relembrar que, embora a logia contempordnea tenha uma com- nsao diferente sobre 0 contato de cul- tio diversas, aqui vamos enfocar essa (0 a partir do conceito que dela tinham réprios missionarios. Desse modo, retomemos 0 impacto pro- ido nos curopeus por povos tao “rudes”, sar na impossibilidade de conseguir al- sucesso no processo “civilizatério” dos ivos, enquanto para outros, incluindo ai missiondrios, os indigenas cram como os menores, uma “folha em branco” que se poderia inculcar os valores da jlizago cristi curopeia. Nesse sentido, nvictos de que o cristianismo represen uma vocagdo humana universal que plica integrag&o e unidade, langaram-se mm empenho na incorporacio territorial eppiritual dessas etnias, na esperanga de mntuar as semelhangas — todos eram se- humanos — e apagar as diferengas. Comegam entio a tentar conquistar 0 chefe da tribo ¢ a desmascarar o pajé. Logo ‘percebem que a ado é mais eficaz sobre os filhos dos indigenas, os curumins (também columins ou culumins), alunos prediletos, porque sobre eles ainda nfo se sentia de maneira arraigada a influéncia do pajé. A fase herédica da missao jesuitica vai dos anos de 1549 a 1570, data da morte do padre Nobrega. Nesse periodo, os padres aprenderam a lingua tupi-guarani e clabo- raram textos para a catequese, ficando a cargo de Anchieta a organizacio de uma gramatica tupi. Inicialmente os curumins aprendiam a ler e a escrever ao lado dos filhos dos colo- nos. Anchieta usava diversos recursos para atrair a atengao das criangas: teatro, misi- ca, poesia, didlogos em verso. Pelo teatro € danga, os meninos, aos poucos, aprendiam amoral ea religido crista. Logo teve inicio 6 choque entre os valo- res da cultura nativa e os do colonizador. O socidlogo brasileiro contemporanco Gil- berto Freyre, na obra Casa-grande ¢ senzala, diz que os primeiros missiondrios substitu- fam as “cantigas lascivas”, entoadas pelos indios, por hinos a Virgem e cantos devo- tos, condenavam a poligamia, pregando a forma crista de casamento. Dessa mancira comegaram a abalar o sistema comunal primitivo. Tornara-se tao comum falar na “lingua geral” — mistura de tupi, portugués ¢ latim — que os padres a usavam até no pilpito. O procedimento perdurou por algum tem- po, até que as autoridades pas gir exclusividade para a lingua portuguesa, temerosas de que a lingua nativa predomi- nasse. O fato € que o indio se encontrava a mer- S de trés interesses, que ora se complemen- tavam, ora se chocavam: a metrépole dese- java integra-lo ao process colonizador; 0 jesuita queria converté-lo ao cristianismo e aos valores europeus; e 0 colono queria usd- -lo como escravo para o trabalho. ssem a exi- 3. As missdes Apés um periodo de pregacao em que permaneciam um tempo nas tribos e reali- zavam batismos, 0s religiosos seguiam para outro local. Mas logo descobriram que as conversdes nao se consolidavam, além de se tratar de empreitada perigosa. Para realizar a ago missionaria com menos riscos e consolidar as conversdes, foram entao criadas as missdes, localizadas no sertao, longe dos colonos avidos de es- cravos. As principais ficavam ao norte do México, na orla da floresta Amazénica no interior da América do Sul, em que se Renascimento: humanismo, Reforma e Contrarreforma 141 firmaram jesuitas portugueses ¢ espanhdis. Mas, além destas, 0s religiosos constituiram outras no territério brasileiro de norte a sul. Aqui, as primeiras ¢ varias delas aparece- ram na Bahia. Vejamos o que os missionarios se propu- nham mudar, para curopeizar ¢ cristianizar 0s nativos. Surpreenderam-se de inicio com © fato de cem a duzentas pessoas viverem na mesma oca, sem divis6es que preservas- sem a intimidade das familias nem reparti- cao de fangdes ¢ tarefas, porque ali dentro tudo se fazia, Por isso, os jesuitas deslocaram os nativos para outras areas, onde criaram as aldeias reunindo varias etnias, designadas por eles, de modo homogéneo, como o “gentio”. Ali se construiram as casas, onde se alocava cada familia, a unidade social. Assim diz Baéta Neves: “Na aldeia cada coisa deve ter seu lugar e sua hora, Ha um local para o tra- balho, outro para o descanso, outro para 0 culto, outro para a familia”. Mudaram as praticas némades, consideradas barbaras, ¢ estabeleceram um sistema agricola restrito a dreas determinadas, onde se fazia a divi sao de tarefas ¢ observavam-se os “momen- tos de semear, podar, Dess estar prestando um servigo colher, queimar” modo 0s missiondrios_pensavam iliza t6rio, ao retirar os nativos da “ociosidade”, da “pre- guia”, da “indisciplina” da “desorganiza- ao”. Introduziram regras de higiene, manei- ras de comer, condenaram a antropofagia, a embriagués, 0 adultério. Lutaram também contra a nudez, suprimindo aos poucos os adornos considerados “deformadores” ¢ de- finindo uma “geografia do corpo” segundo a qual havia partes que poceriam ser mostra- das ¢ outras a serem cobertas, Por considerarem que os nativos viviam a “infancia da humanidadc , 05 jesuitas se achavam no direito de agirem como devendo, portanto, corrigir ¢ proteg Como 0 uso de sangoes violentas era hii europeu naqueles tempos, esse costume trazido para ca. As penalidades varia conforme a gravidade da culpa, usan O agoite, o tronco e até mutilagdes, cuja: cugo devia ser publica ¢ exemplar. construgio de templos. Tudo administra pelos jesuitas, sem interv Porém, a segregacdo de tribos inteiras missdes, esse “ambiente de estula”, frag wa ainda mais 0s indios. O confinamen facilitava aos colonos capturar tribos intel ras, Durante o século XVII, os bandeitan tes realizaram diversas expedigées de apn samento € destrufram muitas povoagoes, in clusive as dirigidas por jesuitas espanhéi Depois da expulsdo dos jesuitas a XVIID, desmoronou-se a estrutura cria da pelos padres, e 0s indios aculturadg nao conseguiram mais subsistir moral economicamente. | 4, Periodo de consolidagéi da elite a instrugd Vimos que as primeiras escolas reuniat 08 filhos dos indios ¢ dos colonos, mas tendéncia da educagao jesuitica que se cor firmou foi separar os “catequizados” €« “instrufdos”. A ago sobre os indigenas 1 sumiu-se ent3o em cristianizar ¢ pacific tornando-os déceis para o trabalho nasa deias. Com os filhos dos colonos, porém, educago podia se estender além da esco clementar de ler ¢ escrever, o que ocorreu partir de 1573 "8 0 combate dos soldados de Cristo na Terra dos papagaios: colonialismo ¢ repressio cultural, p. 130 142 Historia da Educacao e da Pedagogia — Geral e Bra Para enfrentar o senhor da casa-grande, 0s jesuitas conquistavam seus elementos passivos: a mulher e a crianga. Educando 0 menino, conseguiam manter viva a religio- sidade da familia. Era tradigéo das familias portuguesas orientar os filhos para diferentes carreiras. O primogénito herdava o patriménio do pai e continuava seu trabalho no engenho; 0 segundo, destinado para as letras, fre- quentava o colégio, muitas vezes concluin- do os estudos na Europa; o terceiro enca- minhava-se para a vida religiosa, Como se vé, 0s jesuitas agiam sobre os dois iiltimos. Mesmo quando os filhos nfio eram envia- dos aos colégios e recebiam educagao na propria casa-grande, ficavam aos cuidados dos capelies e tios-padres. Outro modo de agdo cumpria-se no con- fessiondrio. O padre ouvia os pecados ¢ assim modelava 0 pensar dos colonos. Em casos ex- tremos, negar a absolvicao dos pecados reve- lados no confessionario era uma maneira de pressionar a mudanga de algum comporta- mento considerado imoral ou impio. No campo da educagio propriamente dita, desde 0 século XVI 0s jesuitas mon- laram a estrutura dos trés cursos a serem seguidos apés a aprendizagem de “ler, es- crever ¢ contar” nos colégios: a) letras hu- manas; b) filosofia ¢ ciéneia (ou artes); c) teo- logia € ciéncias sagradas. Esses trés cursos cram destinados respectivamente a forma- cao do humanista, do filésofo ¢ do tedlogo. No curso de humanidades, de grau mé- dio, ensinavam latim e gramatica para os meninos brancos e mamelucos (mestigos de branco ¢ indio). Em alguns colégios, como ode Todos os Santos, na Bahia, e o de Sao Sebastiio, no Rio de Janeiro, eram ofereci- dos também os outros dois cursos, de artes ede teologia , ja de grau superior Terminado 0 curso de artes, apresenta- vam-se ao jovem duas alternativas: * estudar teologia, opgao que ajudava a manter viva a obra dos jesuitas no tempo, formando-se padre ou mestre; + preparar-se para as carreiras profanas das profissOes liberais, como direito, filo- sofia e medicina; neste caso, encaminha- va-se para uma das diversas faculdades europeias — os brasileiros procuravam so- bretudo a Universidade de Coimbra, em Portugal. Para esse programa, os jesuitas foram apoiados oficialmente pela Coroa, que também 0s auxiliou com generosas doacdes de terras. O governo de Portugal sabia 0 quanto a educagao era importante como meio de dominio politico e, portanto, nao intervinha nos planos dos jesuitas. 5. Outras ordens religiosas Embora tenha sido costume enfatizar-se a aco dos jesuitas na educagao da colonia, outras ordens aqui estiveram com 0 mesmo propésito, tais como franciscanos, carmeli- tas, beneditinos. Para alguns estudiosos que se debrugam sobre o assunto nio deixa de ser estranho o relativo siléncio sobre essas contribuigdes. O professor Luiz Fernando Conde San- genis"* nos esclarece que em 1585 foi criada a Custédia de Santo Anténio do Brasil, em Olinda, Pernambuco, onde, no ano seguin- te, franciscanos recém-chegados fundaram| um internato para os curumins. Ali era ensinado 0 catecismo, bem como a ler, es crever ¢ contar. Depois se estenderam pelo Rio Grande do Norte, Alagoas, Paraiba, Grio-Para e Maranhio. Na regiao Sul, fa- ziam miss6es-volantes, nao estabelecendo: residéncia permanente nas aldeias. “Franciscanos na educagio brasileira”, in Maria Stephanou ¢ Maria Helena Camara Bastos (orgs.), Histirias ememirias da educagda no Brasil. v. Y: Séeulos XVE. VII, p. 93-107 Renascimento: humanismo, Reforma e Contrarreforma 143 A pouca informagao que temos sobre as outras ordens deve-se a diversos mo- tives. Lembramos que a Companhia de Jesus deixou abundante documentasio, porque os padres deviam prestar contas freqiientes aos seus superiores © suas car- tas permaneceram como registros impor- tantes, inclusive pela imprensa. Acresce 0 fato de que os jesuitas nado sé atuavam nas misses, convertendo os indigenas, mas também nas cidades e junto aos engenhos de agiicar, ocupando-se, portanto, com a educacio da elite. Enquanto isso, as demais ordens reli- giosas nao preservaram da mesma forma a sua memiéria. Entre elas, os franciscanos procuravam “os povoados dependentes da caridade dos filhos de Sio Francisco”, com menor visibilidade de sua atuagdo. Além disso, privilegiavam os cursos das primeiras letras ¢ s6 voltaram a atengiio ao ensino se- cundario no século XVII, apés a expulsio dos jesuitas. Adiantando um pouco o que veremos em. outros capitulos, os franciscanos também se dedicaram ao ensino superior, fundando no século XVII um convento de altos estudos de teologia ¢ filosofia, que antecipou a ins- tituigao dos cursos superiores ocorrida no século seguinte. Concluséo Por mais que tenham sido admiriveis a coragem, 0 empenho ¢ a boa-fé desses missiondrios, hoje, a luz dos estudos de antropologia, é inevitével admitir que desintegracgio da cultura indigena inici com eles. z Lembrando os versos irreverentes Oswald de Andrade — em que o poeta! menta 0 fato de o descobrimento do Bra nio ter sido em um dia de sol, para que indios despissem os portugueses — os dres vestiram literalmente os indios, pi que se envergonhassem da nudez. Tambii os “vestiram” simbolicamente de outros lores, de cultura diferente: impuseram-h outra lingua, outro Deus, outra moral ¢ at outra estética. Convém, no entanto, considerar a at verténcia feita na primeira parte desk capitulo, sobre a percepg’o que os & ropeus tinham naquela época sobre povos “selvagens” € 0 intuito de homoge neizagdo que comandava todo proces educacional. Para eles, civilizar os pov cra fazer 0 possivel para igualé-los ao “melhores”, por isso desenvolyeram ul processo de silenciamento das cultur “estranhas”. Pela atuagdo constante até o sécul XVIII, nao sé entre os nativos, mas soby tudo na sociedade colonial, podemos dizé que os jesuitas imprimiram de modo ma cante 0 idedrio catélico na concepgio mundo dos brasileiros e consequentemen te introduziram a tradigao religiosa doen sino que perdurou até a Repitblica. Voltaremos a analisar a influéncia d Companhia de Jesus no capitulo 8, por oca sido de sua expulsao das terras brasileiras. Iei, que thes hiio-de dar, é defen- hes comer carne humana e guer- sem licenga do Governador; fazer- S ter uma s6 mulher, vestirem-se Hs tém muito algodao, ao menos de- § de cristdos, tirar-Ihes os feiticeiros, €-los em justica entre si e para com istios; fazé-los viver quietos sem se udarem para outra parte, (...) tendo as repartidas que Thes bastem, ¢ ym estes Padres da Companhia para doutrinarem. (Trecho de uma carta p padre Nobrega, enviada a Lisboa em = Padre Cardim, que foi reitor do Golégio da Bahia, visitou varias missdes entre os anos de 1583 ¢ 1590. Relata gue, no comum das aldeias, “ha esco- de ler e escrever, aonde os padres sinam os meninos indios: ¢ alguns, is habeis também ensinam a con- ar, cantar ¢ tanger; tudo tomam bem, cha ja muitos que tangem flautas, vio- Jas, cravos ¢ oficiam missas em canto orga, coisas que os pais estimam muito, Estes meninos falam portugués, cantam @ noite a doutrina pelas ruas, € encomendam as almas do purgat- rio”. (Adaptado de Darcy Ribeiro.) 3 - O colégio [dos jesuitas] estava, com feito, situado numa. socieda- de religiosa, que se concretizava em habitos e valores, praticas e devo- ges, instituigdes e organizagao. (...) Assim, toda a vida social era perme- ada de simbolismos cristaéos, desde o nascimento de uma crianga, com o batizado, até a morte, com o viatico, com confissio, ungio dos enfermos, béngao do corpo na Igreja, enterro acompanhado do clero, com canti- cos ¢ oragdes, cemitério religioso etc. As repartiges pitblicas traziam 0 cru- ixo ou imagens de santos. As ruas se encontravam oratérios. O calenda- rio era balizado pela liturgia. O clero tinha destaque em qualquer cerimé- nia. As festas do lugar tinham a mar- ca religiosa, a procissio se fazendo o ato de exibigdo social por exceléncia. O priblico estava impregnado de sagrado ea “Igreja” estava por toda parte pre- sente. (José Maria de Paiva) @ Leitura complementar [A maloca indigena] No inicio do século XX, 0 monsenhor descreve: “Refiro-me a destruic: Jo que, auxiliados por um grupo de indios ¢ de rapazes, pu- demos fazer da grande (20 x 40 metros) e velha maloca taracud (...) Sabe V. Rvma. que para o indio a maloca é cozinha, dor- , refeitério, tenda de trabalho, lugar de reunidio na estado de chuvas e sala de danga nas grandes solenidades. onde nas- ce, vive € morre 0 indio; é 0 seu mundo... Amaloca é também, como costumaya dizer 0 zeloso dom Bazola, a ‘casa do diabo’, pois, que ali se fazem as orgias infernais, maqui- nam-se as mais atrozes vingangas contra os brancos ¢ contra outros indios: na maloca mitori Renascimento: humanismo, Reforma e Contrarreforma 145 transmitem-se os vicios de pais a filhos mundo do indio, essa casa do diabo nao existe mais em Taraucé: nés Ora bem: ess a desencantamos e substituimos por um discreto mimero de casinhas, cobertas de folhas de palmeira ¢ com paredes de bar- ro. Nao se mostraram descontentes os in- dios por causa do arrasamento da maloca: antes ficaram satisfeitos, reconhecendo a grande utilidade de cada familia ter sua casinha, seu lar, especialmente para evitar © contagio. Foi-se, pois, a maloca dos tu- canos!”, Curt Nimuendajw", etndlogo que convi- veu com diversas tribos na mesma época, também descreve no relatério para o SPI’® (): “As malocas so em geral muito bem construidas, suas cobertas oferecem inteira garantia contra o mais violento aguaceiro; o chao é enxuto e limpo e de tarde reina em sua penumbra uma frescura agradavel. As casinhas modernas, pelo contrario, s 0 mais das vezes quentes e mal acabadas. Quanto ao prejuizo que a convivéncia de diversas familias na maloca dizem acarre- tar é simplesmente falso. Devido a rigorosa exogamia!’ nao existem relagdes amorosas entre os filhos de uma mesma maloca... O principal motivo, porém, da aversio do missionario contra a habitagao coletiva é 0 outro; vé nela, e com toda raziio, o simbo- lo, o verdadeiro baluarte de organizagao € tradigio primitiva, da cultura pagi que tanto contraria seus planos de conversao, ° Gurt Nimuendaju (188: seu proprio lar”. "© SPI: Servigo de Protegao do Indio, 6rgio de defesa dos inte! ho Nacional do indio (Fun: de dominio espiritual e social. A nidade maloca é a unidade da primit organizacio semicomunista dessas | bos. Levantada pelos esforcos conjugal de seus habitantes, todos tém parte sua posse, sujeitos, porém, a direcao triarcal do tuxaua’®. Devido ao parent co de sangue ¢ A estreita convivén laco que une esta comunidade é muito te. A arquitetura da maloca esta intei mente de acordo com o primitivo sist familial e social. Ela se divide em cin zonas (uma de cada lado) pertence as diversas familias que nelas fazem s compartimentos, duas aos trabalhos 6 muns € 0 espago grande do meio as ¢ riménias piblicas religiosas e profan Na maloca condensa-se a cultura p pria do indio; tudo ali respira tradigio independéncia € € por isso que elas t8 de cair”. Essas duas descrigdes da maloca d Tukano, nag&o que hoje habita o alto d rio Uapés no Amazonas, represent duas vis6es contrarias. No entanto, ¢ tribo praticamente j4 abandonou esse tip de construgao, devido & reducao de st populagdo ¢ a desorganizagao provoc pela invasio de garimpeiros ¢ mine res, principalmente a partir da décad de 70. Katsue Hamada e Zenun ¢ Valeria Maria Adissi, Ser indio hoje: a tensSo territorial. 2. ed. Paulo, Loyola, 1999, p. 70 € 71 945), etndlogo autodidata, nasceu na Alemanha e seu verdadeiro nome era Kul Unkel, Morou muito tempo entre os nativos e adotou o nome que em tupi-guarani signific ‘aquele que fa es indigenas, substituido em 1967 pela Funds ” Exogamia — ex (fora) gamia (unidio): casamento com pessoas de fora da tribo ou entre familias diferentes, ™ Tuxaua: chefe de familia. 146 Histria da Educacao e da Pedagogia — Geral e Brasil ‘Que interesses econdmicos e religio- ‘da metrépole justificam a coloniza- Como a agao catequética dos je- s contribuiu para o alcance dessas Por que a educagao nao é assunto fioritario no Brasil colonial? Por que os religiosos resolveram senvolver 0 trabalho de catequese n misses? Quais suas caracteristicas Hincipais ¢ os riscos da empreitada? Que influéncias os jesuitas exerce- am sobre os colonos? E em que medi- foram importantes para a constitui- da cultura brasileira? Com base no dropes 3, responda as questdes a seguir: a) Explique qual era a relacao entre a lgteja ¢ a sociedade em Portugal, no séoulo XVI, ¢ como essa ligacdo se pro- iongou até recentemente no Brasil. | b)Discuta com seu grupo como ainda hoje se colocam questdes desse tipo mes- mo nos Estados laicos: por exemplo, cru- o em sala de aula de escola publica, a polémica sobre a proibicio, na Franca, mulheres Arabes frequentarem aulas (0 véu que cobre os cabelos etc. 6. Retome a segunda leitura comple- mentar “Américo Vespticio tinha ra- 2802” do capitulo | € responda as ques- tHes a seguir: a) Explique como a avaliagao de Américo Vespicio era opiniao corrente na Europa do século XVI. b) Como poderiamos hoje, com os conhecimentos da etnologia contempo- ranea, contradizer o navegador? 7.. Faca uma pesquisa para desenvolver a avaliacdo critica sobre © processo de genocidio e exterminio da cultura indi- gena. Sio possiveis linhas de trabalho: + pesquisa em livros de histéria; * consulta de noticias recentes em jornais ¢ revistas s bre a politica indige- nista do governo; + levantament’ de estudos feitos por antropélogos sobre o processo de aculturagao; + andlise de artigos de leis de prote- cho de povos indigenas. Questées sobre a leitura complementar 1. Compare os dois relatos, produzidos na mesma época, ¢ indique suas discre- pancias. 2. Posicione-se pessoalmente sobre 0 assunto. fscimento: humanismo, Reforma e Contrarreforma

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