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Historiografia cognitiva e historiografia normativa Masayuki Sato E caracteristico da histariografia nao estar determinada pela combinacao de seus elementos. Pelo contrario, a natureza de cada parte e até a natureza da combinacao dessas partes estdo determinadas pela posicao e pelo papel da historiogratia no ambito da totalidade de uma cultura. Mesmo se ocorrer mudanga em alguma delas, 0 carater do todo pode ser preservado. Como exemplo desse principio, a historiografia européia manteve sua nalureza fundamentalmente cognitiva ao longo dos quatro ultimmos séculos, enquanto a historiografia do Extremo Oriente preservou, durante o ultimo século e meio, seu cardter normativo, oficialmente sustentado, apesar de ter adotado os mélodos cognitives da historiografia moderna ocidental. Historiografia: o Ocidente chega ao Oriente Costuma-se pensar que hd dois modos genéricos de estudar a historiografi Um ala-a em termos puramente teéricos, enquanto 0 outro discute-a utilizando as diferengas culturais como ponto de partida. > stone escrita A abordagem terica da historiografia esta baseada na tradigao do que chamamos de filosofia da historia. Mais recentemente, recorreu-se ao que se designa como “filosofia analitica da histéria”. Nessa abordagem, o nivel de abslracao é, habitualmente, muito alto. Por conseguinte, a reflexdo 6 apresentada sob a forma de argumentos teéricos. No entanto, 6 de se reconhecer que essa tradligav & plenamente ocidental: “teorico” nao quer dizer, necessariamente, “transcultural”. A suposigao de que a teoria (ocidental) tanscende, de fato, as culturas nasceu com a revolucao cientifica iniciada no século xvi europeu. A aceilagav. mundial da ciéncia ocidental, interpretada cm sentido amplo, trouxe consigo a aceitacao da universalidade do modo ocidental de aprender, em geral. E se pensarmos a histéria da historiografia como parte da histéria social da ciéncia, temos que a revolugao na historingrafia teve lugar dois séculos depois dessa revolucao nas ciéncias naturais. Mais precisamente, na segunda metade do século xix, a histéria positivista de inspiragao alema, conjugada com o surgimento da universidade, deu lugar ao historiador profissional. Os métodos histéricos ocidentais espalharam-se entao por areas culturais nao-ocidentais. Pelomundo afora, comecou-se a utilizar esses métodos para construir seu proprio passadv como histéria.’ Surpreen- dentemente, a China que possuia uma tradigao historiografica propria, com dois mil anos de existéncia — também se converteu a historiografia ocidental. Ométodo ocidental de pesquisa histérica que se espraiou por todo. o mundo no século xix, era, antes de mais nada, a técnica da historiografia. Com cfcito, 0 livro responsével pela difusdo dos métodos historiograficos ocidentais na Asia foi Einleitung in die Geschichtswissenschaft (Introdugao a ciéncia da Histéria), de Bernheim, mais propriamente um livro de técnicas de pesquisa histérica do que de teoria ou de filosofia.? Os historiadores do Extremo Oriente interessaram-se, sobretudo, pelo capitulo 2,“O campo de aplicacao da pesquisa historica”, e pelo capitulu 3, “As etapas da pesquisa historica”. Por exemplo: Kumczo Tsuboi e Liang Qicha tomarast us capitulos 2 e 3 do livro de Bernheim © os transpuscram para o Japao e para a China, respectivamente, adotando-os sem restrigdes eincorporando os em seus préprios trabalhos averca da pesquisa hist6rica.* No Japao, o estilo empregado nesse livro continuou a ser utilizado até o aparecimento da histéria social no inicio da década de 1970. Entretanto, muito antes disso, o estudo da historiografia no Extremo Oriente comecara com o Shin Tong (A historiografia compreensiva), de Liu Zhi, 158 Historiagrata cogattva e nistorugratia war watice escrito na China no século vit (708). Com algumas poucas excecdes,* contudo, essa obra cai: no esquecimento. Por qué? Sempre que penso nessa questiv, vem-me a lembranca a compara¢ao entre La Popeliniére e Liu Zhi-ji. E quando oscomparo, vejona Histuriogrufiu compreensicu, de Liu, uma postura mais tedrica do que na L’hisivire des hisloires, de La Popeliniére, com a idéia de uma historia realizada (1599). Isto é, o argumento de La Popeliniére acerca da objetividade surgiu como um triunfo historiografico por sobre uma realidade histérica peculiar do Ocidente: 0 conflito religioso entre catélicos e protestantes. Diversamente, o argumento de Liu Zhi-ji é mais universal, pois esta centrado na mentalidade atual do historiador. Por exemplo, o argumento de Liu acerca escrita da “objetividade” lida com categarias como “classificagao e avaliagao”, verossimil”, “falsificacdo”, “discernimento” etc.? Como os enunciados deste capitulo indicam - e esse é um ponto crucial a tet presente -, a teoria depende da cultura. Desde nossa perspe Historiografia compreensiva, de Liu, temos provavelmente a impressao de que a ““universalidade” da teoria da historia de Liu estava, afinal, baseada simplesmente “no mundo do Extremo Oriente circunscrito pelo estilo chinés de fazer historia”. Ou seja, uma “universalidade” de fato limitada no tempo eno espaco. Com outras palavras: nao conseguimos nos liberar da particularidade de nossa geografia e de iva, av lermos a nosso passado. “Particularidade geogréfica”, no caso de Liu, significa que 0 proprio vocabulério histérico estava prescrito por seu universo hist6rico. “Particularidade do passado” significa que o sistema de mundo, contra cujo pano- de-fundo a Historiografia compreensiva foi composta, desapareceu ha muito O que quero demonstrar é que 0 complexo de politica, cultura, sociedade, pensamento e modo de viver, que chamamos de “sistema ocidental”, difundiu-se mundo afora na segunda metade do século x1. A histuriografia ocidental se espraiou como parte desse complexo. Tornuu-se necessario, por conseguinte, que as diversas regides do mundo, tendo situado sua nova referéncia nesse novo modu de ser, reconstruissem seus passados. Um perfeito exemplu dessa reconstrugao é 0 predominio da discussao acerca do “sistema feudal” no Japao e na China do pds Guerra” A conversao do sistema de mundo préprio ao Extremo Oriente ao ocidental nao se deu sempre sem atritos, Ha uma série de exemplos da fricgdo cultural e da discérdia que é digna de mencao, alguns dos quais subsistem do século passado até hoje. Destarte, para examinar a consciéncia ea cognicao histdricas é necessdrio utilizar uma abordagem antropoldgica. 159 B histérie asenta Contribuigées metodolégicas para uma historiografia intercultural comparada “A fim de investigar a historia comparada do pensamento hist6rico, muitos pesquisadores confrontaram o fundador da historiogratia do Extremo Oriente, Si-ma Qian, com os fundadores da historiografia européia, Herodoto e Tucidides. Cabe, contudo, perguntar a histéria tinha a mesma importancia e desempenhava o mesmo papel no contexto cultural do Extremo Oniente ¢ na Europa. Por isso é necessério pensar primeiramente na Importancia e no papel da historiografia em cada cultura particular. Apenas apos tal balanco taz sentido comparar a historiografia de culturas distintas. Na maior parte dos casos, a tarefa da compilagao historica no Extremo Oriente foi realizada por iniciativa do Estado. A “histéria oficial” produzida por essa cuutpilacao tornou-se o cerne da historiografia. A historiografia foi o projeto cultural origindrio no Extremo Oriente. Por conseguinte, ao se comparar a importancia e a posicau relativas da historiografia em diferentes culturas, 6 preciso questionar se existiu, em vutras regides culturais, “um projeto cultural originario” cquivalente a compilacao hist6rica ocorrida no Extremo Oriente Abordemos essa questao a partir do caso chinés. Ao longo de dois mil anos, a historiografia chinesa, centrada na “histéria oficial”, fui promovida pelas Sucessivas dinastias como uma missao publica. As geragoes pusteriores classiticaram 0 Shih Ji (A crénica do grande historiador), de Si-ma Qian, como a primeira historia oficial, apds a qual 24 histérias oficiais foram compiladas. Uma caracteristica marcante dessas histérias oficiais 6 seu tom enciclopédico. Ou seja, pode-se dizer que 0 corpo do trabalho elaborado por Si-ma Qian produziu a estrutura unificada de toda uma cultura: sua politica, sua economia, sua sociedad, sua cultura, sua tecnologia e assim por diante. A histéria foi escrita como um meio de descrever compreensivamente todo o sistema cultural’ Em diferentes graus, é fato que paises fura do Extremo Oriente também promoveram compilagées histéricas como um empreendimento do Estado. No Ocidente, 0 comentario da Biblia e v direito romano sao talvez oO equivalente a um tal “projeto cultural originario”. Se o pensarmos desde a perspectiva da acumulagao de uma tradigao de grandes comentarivs (ou de uma tradicao haseada na acumulacao de grandes comentarios), a sacralidade da narrativa presente nos grandes comentirios a Biblia rivaliza por certo com as histérias oficiais chinesas. Na mesma forma, no meu entender, o Corpus 160 Historograti cognitivae historingrafia normativa Iuris lustianianum (compilado sob o imperador Justiniano) também rivaliza com as histérias oficiais da China, na medida em que abrange todos os aspects da vida, transcendendo os limites do mero direito e tornando-se uma descricdo enciclopédica da sociedade romana como um todo. Na India, ademais, nao possuiriam as Leis de Manu, redigidas a mesina época da Cronica historica, de Si-ma Qian, um estatutu equivalente ao das hist6rias oficiais da China? Essa obra da fndia antiga toca em tudo, da sociedade de castas, passando pela vida de Brahma, até Deus, a salvagao e a redengao. Conseqiientemente, em vez de o caracterizar apenas como um cédigo juridico, mais vale vé-lo como uma enciclopédia, uma descricao compreensiva da India antiga como um “sistema” Nomundomucgulmano,oCordo tem uma posicao comparavel. Comeca falando do conceito de Deus e passa a tratar de todos os aspectos do mundo, do casamento A heranga e ao comércio. De modo semelhante, as leis do Isla, elaboradas com base nas normas coranicas, falam-nos exaustivamente do “sistema” islamico. Como se pode constatar, inesme quando o projeto cultural origindrio, em muitas culturas, coincide com o direito, no Extremo Oricnte essa posicao esta ocupada pela historiografia. E crucial que se preste atengao a essa peculiaridade. td claro que no Ocidente anterior ao século x1x o projeto cultural origindrio no estava na historiografia. Na realidade, ironicamente, foi ocolapso do direito romanocomo “projeto cultural originario” da sociedade européia que tornan posstvel a “revolucao historica” na Europa do século xvi. Comparando historiografias: um exercicio pratico Passo agora a anilise da historiografia, de fato. Nos elementos da historiografia tradicional japonesa (assim como da chinesa, da coreana ou ainda de outros paises do Extremo Oriente) encontram-se analogias com os dez. elementos historiograticos definidos por Peter Burke.” Burke considera que a combinacao desses elementos ¢ mais importante que aqueles tomados isoladamente. Eis aqui um ponto importante, & nao se deve negligenciar o fato de que essa consideracau permile que se consiga ver 0 papel desempenhad pelo passado no nosso presente. No entanto, quando se lida com o contexto do Extremo Oriente - ou, mais exatamente, com o do Japao -, tenho a impressdo de que ha ainda um componente mais importante cm jogo, por tras dessa combinagao de 161 historia esceta elementos. Diversamente da Europa, por exemplo, os conceitos de “histéria” e de “julgamento”, no Japao, nunca se combinaram para produzir a nogéo dy historiador como juiz. Se nos perguntarmos por que, nao 6 necessdrio ir além do fatu de que a historiografia esta inextricavelmente vinculada ao Papel que desempent em uma dada sociedade ou cultura Creio que posso resumir minha tese da seguinte maneira: a tinica caracteristica da historiografia é a de nao estar determinada pela combinacaio de seus elementos. Antes, a natureza de cada parte, assim como a natureza da combinagao dessas partes, esti determinada pela importancia e pelo papel da historiografia na cultura como um todo. Mesmo se a natureza das partes se modifica, o carter do todo pode ser preservado Deve-se perguntar, em primeiro lugar, pelo papel social, cultural, politico, desempenhado pela historiografia, na medida em que o papel desempenhado pelo “passado” nas diferentes culturas é muito diverso. Dito isso, importa agora comparar casos individuais. Ao fazé-lo, precisamos comecar pela constatagao de que “histéria” ou “passado” tiveram importancia e papel totalmente distintus no Japao e na China em relacao ao Ocidente. Devo comegar por expor duas caracterfsticas dos estudos histéricos tradicionais na China, que formaram o prototipo da historiografia do Extremo Oriente. Antes de nada mais, a historiografia foi, sobretudo, uma iniciativa estalal, cujas hist6rias foram escritas pelo Instituto de Compilagao Histérica, uma entidade governamental. Amissio de promover uma nova compilacaohistérica acada dinastia sucessiva comegou coma colegaoea preservagode documentos historicos. A cada sucessao dindstica, essa responsabilidade era assumida pelanova dinastia. Usando essa documentacio, pois, 0 Instituto de Compilacao Hist6ria produziria a historia oficial da dinastia precedente. Comecada com a Cronicu historica do século i a.C., essa pratica continua — sem interrupcao — até os dias de luje. Contam-se agora 24 dessas historias oficiais. Em segundo lugar: com que finalidade historias so escritas? Para esclarecer fatos histéricos e para registrar luda agao humana. E essa cronica do agir humano cra importante porque funcionava como referéncia para 0 juizo humano. Diferentemente da socicdade crista, a China — uma sociedade confucionista ~ nao era monoteista; por isso, somente o fato historiografico servia de base para qualquer juizo humano. Fssa era uma idéia comum a todos os paises do Fxtremo Oriente que adotaram 0 confucionismo como 162 Historografia cognitive e historingratia nnemativa ideologia de Estado. Conseqiientemente, a historiografia tinha de ser acurada € objetiva. Essa concepgao esta de maneira clara expressa nas palavras de Confticio (552-479 a.C.): “Todas as palavras vazias que quero escrever nao sao tao claras e absorventes quanto [seu significado] em aco." Esoa idéia foi adotada também no Japao, como se pode ver na seguinte passagem clo Taiheisaku (Lim politica paraa grande paz), de Sorai Ogyu (1666-1728): Nada supera o estudo para produzir homens de talento. A via para v estudu eo conhecimento das letras, e para isso é necessarto que se dediquem ao estudo das historias sucessivas. [_] Pois elas contém os fatos das sucessivas dinastias, 0 modo de governar o pais, os fatos das [grandes] campanhas militares, os acontecimentos do mundoem paz assim comoodesempenho dos leais ministros edos aplicados funcionérios, Prestar [apenas] atencao|... a0prineipio[decomo governar o munde) nada modifica. [...] E melhor observar 0s efeitos [das aces e dos acontecimentos |... pela leitura da historia.” Nesse sentido, a histéria ocupou uma posicao crucial no Extremo Oriente. No caso da China e da Coréia, valia a regra de destruir todo o material coletado pelo Instituto de Compilagdv Histérica apés 0 término de cada historia oficial. Tal regra destinava-se a evilar que se reescrevesse ou mudasse qualquer iota dessa histéria oficial, nica, sagrada, publicada sob a responsabilidade dircta do governo. Com efeito, a fim de conferir um estatuto semelhante ao biblico 4 histéria oficial, destruir o material original era um método eficaz. Na Coréia da dinastia Yi, o material era mesmo incinerado apés 0 término da compilacao. Porém, observa-se no Jap3o um fendmeno curioso que, & primeira vista, parece contraditério: um forte cuidado com a preservago do material primario. O exemplo mais marcante disso é 0 Gunsho ruiju (colecdo classificada dos classicos e dos documentos japoneses), reunindo 1.680 volumes, publicados de 1786 a 1822 por Hanawa Hokinoichi. Nao ha exagero em dizer que essa obra rivaliza com a Monumenta Germaniae Historica e com a Rerum Malicarum Scriptores. Dentre os patses do Extremo Oriente, 0 Japao 6 0 unico a ter cultivado a idéia de preservar 0 material hist6rico primério. Existem varias interpretagdes porque o Japau, dentre todos os paises do Extremo Oriente, foi o primeiro a adotar os métodos histéricos alemaes modernos. No entanto, um fator ébvio esté em uma espécie de pré-requisito latente: 0 Japao vinha reunindo colecdes de grande porte desde muito antes de ser introduzida a pratica ocidental da pesquisa. Essa tradigao veio suscitar 0 surgimento de um campo importante da histéria, o da “pesquisa documental”.” 163 avans- xs Nesse ponto, podemos dizer que o Japa pré-moderno possuia uma experiéncia historiogréfica semelhante a européia do século xx. Ademais, encontramos nas vastas compilacdes de fontes primarias eno amplo campo de pesquisa documental do Japao uma inesperada semelhanca comas “técnicas de gestao documental” que constitujarn um ponto de honra para a historia positivista alema moderna. Tradigdes historiograficas normativa e cognitiva Desde as diversas perspectivas apresentadas anteriormente, tentarei discutir alguns dos argumentos de Peter Burke no contexto do Extremo Oriente, especialmente do Japao. Pesquisa historica e julgamento Como Burke bem o diz, a analogia entre a pesquisa histérica ¢ 0 julgamento toi provavelmente idéia de um ocidental. Se um historiador do Extremo Oriente anterior ao século xx pudesse ter lido Il giudice e il storico (Turim, 1991), de Carlo Ginzburg, que descreve 0 historiador como alguém que forma um juizo sobre os assuntos mundanos da sociedade, certamente teria passado seu caminho falando com seus botdes: “A historiografia nao pode ser essa coisa boba!” logo em seguida, porém, seria levado a reconsiderar, dizendo: “O historiador.. julga os povos da historia? Hum... Ele tem de ser alguém que, investido pela autoridade governamental, emite juizos sobre os grandes homens da histéria”. Em particular porque, no Japao - e ainda mais na China -, a historingrafia era tarefa muito mais importante do que a de um julgamento. A histéria era a reconstrucao do passado. Eis af algo muito maior do que 0 banal ato de julgar individuos ou grupos envolvidos em algum incidente Se lermos as obras dos primeiros historiadores japoneses, a analogia entre historiador e juiz néo aparece e dificilmente se encontraria qualquer influéncia dessa idéia em suas pesquisas. Como a pesquisa histdrica japonesa nessa época dispunha de clara nogio de que buscar as relagdes de causa e ereito era como resolver um mistério, pode-se imaginar que surgiria a analogia com o julgamento. No entanto, nda se encontra nem sinal dessa analogia no Japao como na China. 164 MMMM TTT Historiagratia coyiiiva e historiogratia normatwa A longa tradicao do sistema japonés de processo penal poderia ter suscitado a expectativa de encontrar-se tal analogia entre v juiz e o historiador. Essa tradigéo vem do século vu. Mais: no século xii, oS veredictus em conflitos fundiarios eram lavrados com base na autenticidade das. provas documentais (uma vez que, a época, corriam muitos documentos falsos). Essa prdtica, todavia, jamais foi relacionada conceitualmente A pesquisa histérica."* Somente apés a restauracdo Meiji em 1868, quando a historiografia japonesa passou da abordagem histérica chinesa tradicional & de tipo ocidental, segundo o modelo de Ranke, surge pela primeira vez a nocao do “historiador como juiz do passado”. Um exemplo tipico dessa nogao encontra-se em Shigeno Yasutsugu, apelidado de “Doutor Massacre” ou “Doutor Obliteragao”. Aplicando 0 método do “historiador como juiz” a histéria japonesa, ele retomou 0 Tuiheiki (Cronica da Grande Paz), de 1370-71, e demonstrou que o comandante militar Kojima Takanori, do século xiv, nunca existira." Tal tipo de referéncia ucorrida apés a introducao dos métodos histéricos ocidentais tem a ver coma redugao do papel oficial desempenhado pelo Estado na produgao historivgrafica e a limitacdo da histéria a uma especialidade académica no ambito da universidade. Em outras palavras: para sobreviver nesse novo sistema “universilériv”, cada historiador precisava afirmar-se com uma “especialidade” propria. Assim, de modo a se diferenciar das historiadores amadores, os historiadores universitarios criaram as especialidades dos “estudos documentais”, da “causa e efeito” e da “critica das fontes”. O surgimento da “pesquisa documental” como parte da pesquisa histarica foi um fenémeno que ocorreu apos a introducdo da pesquisa hist6rica em estilo ocidental, No Ocidente, a “profissionalizacaio” da pesquisa hist6rica teve como resullado a mera transformacao da historia em um campo académico auténomo. No Extremo Oriente, contudo, a introdugao da pesquisa histérica ocidental moderna fui o arauto do fim da historiogratia de estilo asidtico, cujo objetivo era uma descrigao compreensiva do mundo inteiro. Hermenéutica Tomando-se a apresentagdo da hermenéutica por Burke, tem-se que a pesquisa histérica tradicional do Extremo Oriente era semelhante a essa tradigao interpretativa do Ocidente. 165 = Dou sobre isso um exemplo, recorrendoa tradigao historiogréfica japonesa. Comno na China, a compilacao das obras histéricas desenvolveu-se no Japao mediante a aco direta dos governos. Essa tradig&o comegou com o Nihon shoki (Crénicas japonesas), em 720, e mantém-se desde entdo. Mesmo a dinastia Meiji, que se instalou em 1868 como uma era “moderna”, buscou continuar essa tradicao, criando um ministério de estudos histéricos no governo.'* Pode-se observar, nessa tradigao, diversas similaridades com os estudos hermenéuticos ocidentais, em particular nas “Conferéncias sobre as Crénicas Japonesas”. Essa série de conferéncias e debates sobre as Crénicas japonesas, organizada no inicio do século vim até o final do século x, era um evento publico da corte imperial, do qual participavam muitos corlesdus ¢ funciondrins do governo. O foco dessas conferéncias nao estava no questionamento da veracidade das Crénicas japonesas ou 1w debate de seu significado ou importancia. Antes, tratava-se de estabelecer uma leitura autorizada, fixa, do texto. Ao se examinar os trés vuluines dos Comentarios particulares as Crénicas japonesas, em que essas corferéncias estao reunidas, pode-se ver que 0 foco efctivamente nao estava em uma investigacao critica das Crénicas japonesas, porém se assemelhava mais a um comentario exegético ocidental, 4 busca de atribuir As Crénicas japunesus uma autoridade unica e de interpretar suas verdades fundamentais."* No entanto, o cstudo hermenéuticu das historias oficiais {como no caso dos Comentarios) nao deve ser considerado propriamente “historia”, mas sim, dentro da tradicéo do Extremo Oriente, “leitura da historia”. Com efeito, a tarefa de construir a historia oficial era muito mais do que hermenéutica: tratava-se da construcao permanente do passado. Ao escreverem a historia oficial da época precedente, os compiladores puiblicos do Extremo Oriente tinham a intencdo de estabelecer um corpo de fatos histéricos. Ao destrufrem 0 material historico utilizado para escrever tal historia oficial, us historiadores efetivamente impediam qualquer acesso futuro av fatu historico e o substituiam por uma histéria oficial a que pensavam poder conferir o mesmo estatuto ontolégico de fato histérico. Tudo o que restava era a historia oficial. Toda referéncia ao mundo dos fatos historicos era definitivamente rompida tao logo a histéria oficial estivesse terminada. O objetivo da historiografia do Extremo Oriente nao 166 Historigratia cognitive e historiogratia normative se resumia, todavia, 4 mera interpretagao ou descuberla do passado, mas destinava se a construi-lo ¢ a evitar qualquer recorstruga0 no futuro. Por conseguinte, o estudo dessas histérias oficiais viria a ser relegado ao status de mera hermenéutica, de uma “leitura da historia” Objetividade Para a tradigao historiografica du Extremo Oriente, a objetividade (ou a “imparcialidade”, a “isengao” etc.) era procurada com todo vigor. E preciso recordar, entretanto, que, assim como a historiografia esté regulada pela civilizacao particular de que provém, tampouco a concepsio de objetividade é absoluta, Também na tradicdo normativa da historiografia do Extremo Oriente “objetividade” depende do contexto cultural e historiografico em que é utilizada. Por exemplo, nas histérias oficiais do Extremo Oriente, 0s compiladores das biografias relatavam, em primeiro lugar, o que consideravam ser “fatos” Em seguida, esses fatos eram seguidos do comentdrio do historiador. As duas atividades — relatar fatos e acrescentar comentario — eram rigidamente distinguidas uma da outra em categorias epistemologicas separadas. De acordo com esse principio, a historiografia compreensiva e a historia do grande Japao estariam nitidamente caracterizadas de modo a que se identlificasse cada parte como comentdrio, de forma a nao confundir a natureza “factual” da historia oficial com a interpretagdo do historiador. Era essa a via propria empregada pela hislorivgrafia du Extremo Oriente para demonstrar sua imparcialidade. Inversamente, a tradigao cognitiva da historiografia no Ocidente moderno considerava a objetividade a libertacao do partidarismo religioso c/ou politico. No Extremo Oriente, porém, é fundamental a regra de nao usar a hist6ria como instrumento da disputa politica. Na China, a historia tratava de dinastias extintas; no Japao, a histéria nada tinha a ver com a atualidade. No Extremo Oriente, 0 ethos da objetividade exigia muita do historiador individual. O espirito da objetividade para o Fxtremo Oriente pode ser exemplificado com o seguinte episédio da Coréia medieval. Em 1437, pouco antes de ser terminada a Thae-Jong-Sil-Rok (A verdadeira cronica do primeiro imperador), 0 imperador Se Jong queria vé-la. Um ministro, porém, adverti-o: “Essa obra de historia foi escrita para narrar, ao futuro, as coisas do passado. Sao todas falos. Se Vossa Majestade a ver, nao poderemos reescrevé-la 16/ aware ss A historia eserta Se os futuros soberanos mantiverem essa Ppratica, os historiadores se tornarao incapazes de escrever conforme a verdade. Se isso acontecer, como se podera lansmitir os fatos as geracoes futuras?” Tendo escutado essa admonigao, o imperador abriu mao de sua exigéncia.” Além de “literatura ou historiografia” Consagro algum tempo a responder a queslao pusta por Burke: “Ressaltam os historiadores japoneses a ‘nobreza do fracasso’, um dos temas favoritos da literatura japonesa?” Essa discussao serviré também de comentario ao livro de Ivan Morris sobre o assunto, The Nobility of Failure.* Preliminarmente, contudo, desejo fazer algumas consideragées acerca das formas literdrias na historiografia. Tendo em vista as relagdes entre literatura ¢ historiografia no Japao, deve-se recordar um ponto fundamental: a histéria era escrita em chinés, e a literatura em japonés. Essa tradicao se mantove até o século xix. No campo da literatura, o Japao produziu muitos romances — a comegar, por certo, com U conto do Genji. Nentre esses romances, muitos tomam a historia por tema. Com efeito, alguns dos géneros literdrios na historiografia (como as cr6nicas militares ou de guerra etc.) surgiram nessa tradigao literéria. O que se deve lembrar a propésito dessas obras, todavia, 6 que, mesmo de hossa perspectiva, so elas espléndidas obras de historiografia, em uma épaca em que ainda nao eram consideradas pertencentes a esse campo. A épaca, a hist6ria era o dominio exclusivo das cronicas dos assuntos Publicos dignos de registro. No sentido estrito em que era concebida entao, a historia era uma “historia oficial”, e sua forma narrativa estava definida. Nao obstante, a ficgéo historica desenvolveu-se muito em paralelo a essas obras. As relagées entre a historiografia literaria e a “oficial” dependem diretamente da nogao japonesa da “nobreza do fracasso”. O ethos de admirar 0s que fracassam permeia, ainda hoje, o cardter japonés. HA mesmo uma expressio japonesa propria para expressar esse cunceitu: hangan biiki (ou hogan biiki). Hangan diz respeito aos detentores de cargos publicos no antigo Japao e remete explicitamente ao heréi tragico Minamoto no Yoshitsune. Hoje em dia, a expresso é utilizada para indicar a simpatia para com o herdi tragico e/ou para com o fraco.!” Yoshitsune fora um personagem do século x, morto por seu irmao mais velho, Minamoto no Yorimoto, 0 168 Vistorigratia cognitive histurivyraia nurmativa primeiro shogun japonés a unificar o pais e a instituir o governo Kamakura. Ivan Morris trata dessa histéria no capitulo 5 de seu livro. No Japao, os fracassados e os vencidos (como Yoshitsune) eram admiradus. Por vezes chegava-se mesmo a construir altares em honra de tais fracassados © a 0s adorar como deuses. Nao foi por acaso que trés das obras-primas do teatro japonés de marionetes (0 conhecido Joruri, um dos tipos tradicionais do teatro japonés) tratam da nobreza do fracasso: Yoshitsune Senbonzakura, Kana Tehon Chushingura e Sugateara Denyu Tenarai Kagami. Cada pega cabre dois séculos. A imensa popularidade delas da testemunho da “estética do fracasso”, {40 profundamente enraizada na alma do povo japonés. No entanto, é interessante como objeto de pesquisa para historiadores universitdrios que Yoshitsune tenha sidu objeto de apenas algumas poucas biografias. Por outro lado, os teatros Joruri e Kabuki, em que o personagem principal é Yoshitsune Senbonzakura, tiveram imenso sucesso. E uma das pegas Kabuki que mais atrai publico. Eis aqui um tema interessante para ser estudada desde a perspectiva hist6rica. As origens dessa diferenga de tratamento estao na profissionalizagao da historia, que tem inicio na segunda metade do século xix. De acordo com a historia positivista praticada a época, de inspiracao alema, os historiadores buscavam especificar, diligentemente, 0 que consideravam ser os “fatos”. Dissa resultou que se devia descartar 0 que nao pudesse ser minimamente remetido ao mate- rial hist6ricu, conquanto assim tenha comegado a formacao da investigacao historica moderna. Ora, uma das dreas provavelinente mais negligenciada por esses historiadores profissionais foi a do estudo biografico individual. Causa principal dessa negligéncia refere se 4 popularidade do marxismo, que deu lugar a “fé” em que os nomes préprios deviam ser riscados da hist6ria “académica”. A rapida diminuigao do peso da pesquisa biogréfica entre os historiadores universitarios 6 caracteristica marcante dos estudos histéricos japoneses modemos. No entanto, na medida em que os nomes proprios eram descartados pelos historiadores profissionais, historiadores “nao-profissionais”, externos ao sistema universitdrio, ocuparam esse espaco. As relaciies entre os historiadores profissionais e ndo-profissionais remetem diretamente a outra das perguntas de Burke: “Os géneros literdrios locais desempenham 0 mesmo papel de modelos conscientes ou inconscientes do trabalho dos historiadores, como White sugere a respeito de Ranke, Burckhardt, Tocqueville etc.?” Os historiadores japoneses 169 ‘a nistona eserta formados nesse molde moderno de estudo histérico estavam profundamente influenciados por historiadores como Ranke, Burckhardt e Tocqueville, ¢ efetivamente seguiam em suas pesquisas 0 modelo desses europeus. Na realidade, porém, a historiogratia japonesa caminhou na diregdo oposta. Isto 6, quando a historiogratia japonesa comegou a dividir-se, na segunda metade do século xix, entre “historiografia académica” e “historiografia nao- académica” (ou, em outros termos, entre “historiografia puiblica” e “histo- riografia privada”), a “historiografia néo-académica” aderin aos modelos historiograficos de autores como Guizot e Buckle. Mas comoa maior parte desses historiadores nao era assalariada da universidade, seu trabalho foi qualificado, depreciativamente, como hist6ria “nao-académica”. Apés a Segunda Guerra Mundial, essa tradicao ndo-académica foi continuada pela produgao dos entaéo chamados “romancistas hist6ricos”. Os cenarios realistas que se encontram no Mimesis, de Erich Auerbach, eram 0 tipo de palco em que esses romancistas se destacavam. Comparados, porém, com os escritores considerados “romancistas histéricos” no Ocidente, us romancistas histéricos japoneses mantiveram padrées estritos de pesquisa histérica documental e fidelidade a realidade ibilidade japonesa, obras como a de Jules Michelet, considerado um historiador pelos ocidentais, eram telegadas ao plano dos romances histéricos. Com efeito, os rumancistas histéricos japoneses objetivavam descrigdes mais proximas dos fats histGricus do que as de Michelet, Segundo os padres ocidentais, ¢ talvez mais seg urv afirmar que us romancistas hist6rica. De acordo com a sen: hist6ricos japoneses podem ser considerados histwriadoures, vu quem sabe ensaistas histéricos. Foi apenas a tradigao normativa do Extremo Oriente que os situou fora do dominio da historia académica. Ironicamente, foram esses romancistas histdricos que, ao longo do ensino de histéria recebido pelos japoneses na escola primaria e secundaria, influenciaram profundamente a consciéncia historica e a sensibilidade de maior parte dos japoneses. Ahistoriografia no horizonte da sociedade Uma diregio em que todos esses diversos argumentus cunvergem esta no papel social, cultural e politico desempenhado pela historiografia. Esse & um ponto incontornavel quando se compara a historiografia do Extremo Oriente com a da Europa ocidental. 170 Historigratiacognitivae hstorioaralia normativa Ao se pensar no papel da historia dentro de uma cultura particular, volta- se sempre a questao posta por Marc Bloch: “Para que serve a histéria?”" Para colher a percepgao japonesa dessa questao, distribu questiondrios a 126 graduandos em Historia, com a seguinte pergunta: “Por que estudamos historia?” Em resposta, 38 disseram: “Para aprender sobre 0 passado”. Desses 38, 19 responderam citando Conficio. O Pprovérbio reza: “Tenta encontrar um guia no futuro aprendendo sobre 0 passado’”2! O interessante nessa idéia, proposta pelos estudantes japoneses de Historia, é que a historia existe “para beneficio do futuro”. Desde o final do século xix, todavia, o estudo da histéria havia sido instaurado como uma disciplina autonoma justamente para se distinguir da visio moralista da historia. E mesmo atualmente, esses estudantes nao sio capazes de justificar sua disciplina de outra maneira E certo que “o passado” é entendido, no Extremo Oriente como na Europa ocidental, em termos de “espelho”. Isso forma uma corrente poderosa na nossa consciéncia da histdria, e seria um equivoco nao levar em conta esse sentido particular da histéria. No entanto, 6 muito arriscado aplicar ao Extremo Oriente 0 quadro interpretativo da “histéria como espelho da humanidade”, tal como moldado por uma sociedade ocidental baseada na religiao revelada do cristianismo.” Isso 6 arriscado porque, como foi dito anteriormente, a histéria, no mundo do Extremo Oriente, era o tinico fundamento do juizo humano. Em suma, “o. espelho tinico da humanidade”.” No Japao tradicional, antes das mudangas em meados do século xix, nao ha exagero em dizer que mais de 90% dos intelectuais eram historiadores. Resumo agora meu argumento referente a transformacao da antiga visio moralista da histéria em um novo quadro histérico de referéncia. A confrontagao entre os dois é 0 que desejei enunciar com o titulo “Histu- riografia cognitiva e historiografia normativa”. Antes dessa cunfrontagao, havia um campo cognitivo de estudo na histéria ocidental, enquanto no Oriente tinha-se um campo normativo. No entanto, berm depuis dessa confrontagao, a historiografia do Extremo Oriente continua fundamen- talmente presa a seu cardter normativo. Ahistéria, no Extremo Oriente, sempre elaboruu normas politicas, sociais e culturais. Assim, sempre que uma forma particular de trabalho histérico 171 A histisiaeserita surgia (como a biografia ou a cronologia), era logo regulada; e os escritos hist6ricos das geracées succssivas caminhavaim pelas mesmas trilhas. Esses modelos foram preservados c sustentados publicamente pelos governos, justamente porque eram vistos como normas. Daf resulta que essa tradicdo normativa persiste, apesar de os japoneses terem adotado sislematicamente as técnicas cognitivas ocidentais de Pesquisa, desde meados do século xix. Minha tese inicial dizia: “Mesmo se ocorrer mudanga com alguma de suas Partes, 0 carater do todo pode ser preservado”. No caso do Japao, malgrado as mudancas na historiogratia ao longo do tiltimo século e meio, a tradigao das compilacGes histéricas feitas por instituicdes ptiblicas e a tradic&o da historiografia normativa em geral prosseguiram sem interrupgdes e sao praticadas ainda hoje. Para constatar esse fendmeno, hasta tomar os manuais de histéria ou as histérias regionais produzidas hoje em dia, cam seus formatos rigidamente fixados e a “autorizagao” explicita recebida dos governos centrais (no caso das hist6rias regionais, do respectivo governo). Inversamente, a pesquisa histérica nv Ocidente se constituiu, desde o século XvI, como um campo cognitivo de estudo, por oposicao aos demais campos académicos da época. O novo “método cognitivy”, que objetivava descobrir 0 sentido dos acontecimentos de cada €poca em seu contextu historico, surgiu na Alemanha do século xx. Se pensarmos no surgimento das obras sobre historingrafia (entre as quais a de La Popeliniére é pioneira), como um primeico passo da visio cognitiva da histériano Ocidente, ntioa maré de obras sobre teoria da historia na Alemanha do século xix pode ser vista como sinal do estabelecimento da historia como uma disciplina auténoma, definida cognitivamente2* © Extremo Oriente era a cultura da palavra escrita e seu cerne a historiografia. Mas por que as obras de historiografia cognitiva sao tao poucas, em relacao ao grande ntimero de estudos histéricos produzidos no Extremo Oriente? Venho pensando constantemente nessa questao nos ultimos vinte anus. Minha resposta hoje é: as normas reforcam a forma e a forma previne a possibilidade de cognitivismo. No entanto, a historiografia do Extremo Oriente no século « € 0 palco da confrontacao entre a historiografia normativa e a historiogralia cognitiva. Creio que uma andlise metahistorica da historiografia normativa esclarecerd o caminho em. direcao a um horizonte novo na histéria cognitiva. (tradugao: Estevao C. de Rezende Martins) Histonogratia cognitive hstorigrafia normativa Notas (coats G. Iggers, Geschiclitswissenschatt im 20. Jahrhundort Einige Cberlegungen, em Shakar Keizai Shigaku, pp. 60-2,1-23, en Primeira tradusao ’ Haponesa foi publicaca ens 1922, mas amda antes o Lehrburh der hristorischen. Methode, de Bernheim (Berlim, 1889), era amplamente conhecido dos historiadores japoneses, il Tsuboi Kumezo, Shigaku kokyuho, Téquiv, Kyobunsha, 1903; iang Qichao, Zhongguo lijiufa, 1922, Dake Konan, Shina shigakushi. Toquin 1949; Tanaka Suiichiro, “Liang Quchao no rekishi Kenkyuhoh’, em Tanaka Sniichiro, Shigaku ronbuisiva, Toquio, 1900, pp. 347-85. Cf. volume 7 du Shit Tong de Liu, * Burton Watson, Ssuma Chien: Grand Llistorian of China, New York, 1958, p. 104 Suzuki Shun/Nishyma Sadao (eds.), Chugokushi no jidai kubun, ‘Toquiv, Iwanami Shoten, 1957. Tsuneo Matsui, Chugokushi, Taquio, Sanseido 1981. Fol necessario esperar, porém, até a primeira metade du século xix para surgir a abor- dagem quantitativa “ Ver Si-ma Qian, Shih Ji, cap. 70, Sorai Ogyu. “Taiheisaku", em Ogyu Surai, Nikon Shiso Taikei, Téquio, Iwanami Shoten, v. 36, 1973, p. 485. Juichi Igi, Nihon komonjagaku, Tsquio, 1995, pp. 18-37 |; Shin'ichi Satu, Komonjogaku nyumon, Téquio, Hose’ Daigaku Shuppankyoku, 1971, pp. 4-5. * Yasutsugu Shigeno, “Kojima Takanori”, eut Shigeno hakase shigaku ronbunshu, Téquio, 1938, v 2, pp. 577-90, ry ¥ Toshiaki Okubo, Kindai nihonshigaku no seiitsu (Toyuiv: Yoshikawa Kobunkan 1988), p. 70. * " Shojiro Ota, “Jodai ni okeru Nihonshoki kokyu”, em Honpo shigakushi ronso, Téquiv, 1939, i pp. 367-422, i ® Sulichiro Tanaka, Tanaka Suiichiro shigaku ronbunshu, Toquio, 1900, pp. 500-12. "Ivan Morris, The Nobility of Failnre, London, 1975, * Tadao Sato, Nihonjiin 10 shinjyo, Toquio, 1976 Marc Bloch, Apologie pour Vhistoire ou Métie: Whistorten, Paris, 1949 Apud Analectus de Confucio. No entanto, o mais interessante & que o sentido o1 iginal do proverbio : Efe ai8e come: “se alguém estudar sempre mais e mais o que aprenden eo passado, pode chekar a uma nova interpretagio. Essa pessoa poate talvez tornar-se am mete’. eon passagem transmite a idéia de que a intexpretagao ¢ a primeira tarefa do académico Esco significado original desapareceu das mentes da maior parte dos japaneses * Cl, por exemplo, J. H_ Plumb, Death of the Pasi, London, 1969 «| Bsofaz pensar no Over historische Levensidealen, de] Huizinga (Verzamelde Werken 1, pp. 411-32). ® Jorn Riisen, Studies in Metahistory, Pretoria, 1993, pp, 97-128. Bibliografia Beawneim, Ernst, Einleituny in die Geschichtswissenschaft. Rerlim, 1905 ut Lehrbuch der historischen Methode. Berlin, 1889, Buoctt, Marc. Apologic pour l'histoire ou Métier d'historien. Paris, 1919, HevZiNca, J. Over historische Levensidealen (Verzumelde Werken w), 73 Iccers, Georg G. Geschichtsw Keizui Shigaku, 60-2,1-23. Icy, Juichi. Nihon komonjogaku. Toquio, 1995. KoNaN, Naito. Shina shigakusht, Toquio, 1949. Kumz0, Tsuboi. Shigaku kokyuho. Taquio: Kyobunsha, 1903. Matsul, Tsuneo. Chugokushi. Téquio: Sanseido, 1981 Moan, Ivan. 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