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AS‘MELHORES SYN TBY ASH Ol oe) e aikt THE WHO RAFFIC WeyW AT STONES _LED Fit) 40] Wang DE TODQS*OS TEMPOS TOTALMENTE EM CORES Ler Ly Ue CONSULTAR SEMPRE. Apresenta Triaxial Novik. O primeiro sistema de alta fidelidade para automéveis. Por incrivel que parega, a Ultima palavra em matéria de alto- folantes para automéveis néo é um alto-folante: 6 muito mais do que iso. Estamos folando do Triaxial Triaxial sé existe Id fora, em paises ‘onde se exige o melhor som nos automéveis. Alids, nos EUA, 37% dos vendos de alto-falantes para automéveis sdo de Triaxiais. “Sistema”, porque o Triaxial Novik reéne num sé corpo, trés unidades reprodutoras de som: um tweeter para os agudos, um ‘woofer para os graves e um midrange para os médios. Tudo rigorosamente equilibrado por um divisor de frequéncias, a fim de evitar o constante ajuste no botiio de tonalidade do rédio ou toca- fitas, E “de alt fidelidade”, porque tudo o que a Novik faz 6 assim: tem de reproduzir com @ maxima Perfeigdo, todos os detalhes do som. Na verdade, 0 Triaxial Novik & como se fosse uma caixa acistica. Com a vantagem de que ele, vocé pode instalar no seu carro. Triaxial Novi Uma sonorizagdo menos furada Para seu carro. Fazendo as contas, um Triaxial Novik sai muito mais em conta do ‘que comprar um woofer, um midrange e um tweeter separados. Ena hora da instalagdo, voce também economiza: tempo e buracos. Se 0 seu rddio ou toce-fitas for estéreo, vocé 56 precisa fazer dois ‘0u quatro buracos para sonorizar todo 0 seu carro. Enquanto que, instalando alto-falontes comuns, vocé tem de fazer trés vezes mais furos. E, mesmo assim, sem 0s 100 Watts de som que o Triaxial Novik oferece. L_freqiéncia: 60 a 20.000Hz Novik S.A. Indostria e Comércio Av. Sarg. Lourival Alves de Souzo, 133 - CEP 04674 - Tel 247-1566 - S60 Paulo - SP Pagina 24 ada se compara a fidelidade do roqueiro. Em dois anos e meio, nas suas trinta edigdes, SOMTRES confirmou mais uma vez esta fé: 0 maior nimero de cartas falando de musica falavam de rock. Porque 0 roqueiro esta érfio no Brasil, quase sem programas no radio e tevé, sem publicagées especializadas, sem os discos indispensiveis. E tanta omissio logo com eles, os roqueiros, os amantes mais apaixonados .. . Nem os fas da misica lirica revelam tanta dedicagao ‘quanto 0s roqueiros. Exatamente por isso estamos lancando esta primeira edi¢io especial sobre rock. E convocamos dois roqueiros — evidentemente, apaixonados: Ana Maria Bahiana e José Emilio Rondeau. Eles conhecem tio bem a fiiria do rock que ja estio se preparando para as muitas cartas que vio cobrar a nao inclusio do grupo ... MK (Noite quente no Rio de Janeiro) — Sente 0 abacaxi, Zé: 0 Mauricio quer que a gente es- colha as dez maiores bandas de rock ¢ escreva sobre cada uma delas. ~ Isso € loucura! A gente tem que arrumar algum critério, alga coisa — Bom, de todo jeito, sempre vai haver alguém descon- tente, Sao $6 dez, veja’s6. E melhores... melhores em que! = Olha, Ana, acko que um criterio basico é que 0 grupo deve ter wma atuacdo como grupo, ou seja, cima, além da im- portéincia ou qualidade de cada integrante = Opa, Spa, cuidado com essa “qualidade”. Onde ja se viu rock'n rol ter qualidade, Zé? Rock'n roll ¢, por dei nigéo vulgar, popular, da rua, ruido ~ Vina Zeca Neves! (Gargathadas) — Voltando a vaca fria: acho que essencial é que esses dez tena ficado conhecidos como grupos. — Ummm. Isso deixa de fora um monte de gente. Hen- dix, por exemplo. E Janis Joplin, e Carlos Santana, e Jeff Beck ~EEbis.... — Claro! E David Bowie, Bruce Springsteen, ¢ Jim Morrison... = Bota os Doors... — Os Doors eram Morrison, Zé. £ feito King Crimson — como grupo, zilch. Valeu pelo Bob Fripp, aquela maravi- tha — Quer dizer que a gente vai ter que sugerir pro Mauricio fax er outra especial: os dez maiores sujeitos do rock'n roll? — Acho que sim. = E uma boa. Que outro crtério a gente vai ter pra escolher ddez enare essa multidio de gente? Ai... —Bom, alguns sio Sbvios. Sao 0s fundadores: Beatles Stones, Who. — Esses 1do na cara. E tem as gigantes, também: Led Zep- pelin, por exemplo. Pode néo ter inventado o heavy’ metal, mas ‘Com certeza foi quem elevou 0 genero aos pincaros dos pinca- ~ Entiio, acho que a gente jé tem um sistema, Zé: unida~ des que uncionem como um grupo e que tenham deixado marcos na trajet6ria do rock'n roll. ~ Mesmo assim, é gente paca Ana. Pensa sb: os Yardbirds {foram importantissimos. E 0 Gratefil Dead é a cara do psico- delismo, E tem o Jefferson Airplane —E The Band, ¢ os Kinks, ¢ 0 Credence ... = E Sly & Family Stone... adoro 0 Sly = Bom. Mas ai, 26, pensa sé: todas essas bandas tém ‘um significado muito mais local que internacional. O raio de agao delas vai da América para a Inglaterra, pega al- guns fissuradinhos alm, ¢ babau. Cabou. Terceiro criterio: que o impacto ultrapasse as fronteiras da metropole! — Um brinde ao Tinhorio! = Saiide! (Brindes com cht de erva cidreira gelado. £ étimo.) = Diane deta sel seer, Ana, ns i temox: Beas, ‘Stones, Who e Led Zeppelin. E eu voto no Cream, porque siio on Vardbird clones cima potenca eso dew clas tims. Voto aceito. Eu voto no Crosby, Stills, Nash e Young, ‘que cristaliza uma porrada de tendéncias americanas, soma tad, misura manda, i ~ Beleza. A gente nao pode esquecer dos progressivos. Acho que ai nés temos dois grandes grupos: 0 Pink Floyd que Tanga as bases eo Yes que leva tudo as ultima conseqiéncias e faz a triha sonora dos anos 70. — Estamos quase acabando, Opa! Tem os Pistols, Zé! Porra, os Pistols so essenciais, racharam 0 rock no meio — E 0 Clash, que, como todos sabem, é hoje a maior banda de rock do mundo! i *Deixa eu contar... wuum, ja tém dez. Vamos ligar pro Mauricio. (Interurbano para So Paulo a cobrar. Papos com Guima- ries: blabla) = Confusio na area, Zé: Mauricio pediu pra tirar 0 ‘Clash, que eles vio fazer uma outra edigdo s6 com a turma que esta chegando agora. = ‘Bom... 1830 deixa wn rombo na nossa lista (Sitnco pensativo) = Olha, Zé, tem uma porrada de gente pra essa vaga, ‘mas num voto assim meio instintivo, eu fico com 0 Traflic. Talvez seu impacto internacional nao seja dos maiores, mas em termos de soar como banda ¢ representar uma fase importante da trajetéria rock’n roll, eles sio perfitos. = Sd reparou como sé da inglés nessa lista? Isso deve querer dizer algwna coisa, mas ainda ndo descobri 0 que é. ~E branco. Mas ai, Zé, 0 rock a histéria da maior ex- propriagio cultural de uma raga, em todos os tempos — Papo bravo, Ana. (Outro silencio pensativo). = Vooé acha que tem muito furo nesse listo? — $6 tem, né, Zé. Mas dez, s6 dez = 0s rogueirinhos vao ficar furiosos. = Ser roqueitinho € ser, por definigio, furioso. = Ta cero. Macs & obra? — Maos 4 obra, (Ruido intermindvel de duas miquinas de escrever.) O UNICO CASO Ui RL eresigueorba ce dad CUR CSE CR Clas EON ele £ eg" MY | | Y et. Tarr cee ly Ss Sr ry ee eer Petree See a crue ce ees fer er eue ae eae Pierce ees ee Teun eee eee M eS eRe tg ee ie eee De Oe ree ee etre ee eet ee formada pelo baixo de Paul e a bate- cee ea Te See eee imaginaria, antes deles, que alguns Cer cue sim?), nas botinhas de salto carrapeta, ee eee reser ea ee cesT Preece trier oe en eee meer! pneu recut Sree ene nc ements grifica do pés-guerra, aceetaeeeaeeeeaeeesatel| MUITO MAIS DO QUE SO UMA BANDA Mas seria — e seinpre sera — im- possivel ¢ tolo querer fazer caber num pifio espaco toda a circunstancia ¢ a trajetéria da mais famosa e influente banda de rock'n roll de todos os tem- pos — € nessa categoria inciuo tudo aguem de um tomo de centenas de paginas. Ao mesmo tempo, tudo que J poderia ter sido escrito sobre 0s Bea les ja foi escrito (cito o imperdivel verbete de Greil Marcus no Illustrated History of Rock & Roll como 0 mais proximo do definitivo) e, hoje, qual quer referéncia a John, Paul, George € Ringo fatalmente escapard do ter- reno do fato e cambari para 0 reino de conto de fadas. Parece que foi ha muito tempo, muito rapido, parece mentira. Contudo, uma cronologia re- lampago € indispensivel. E_talvez ajude a firmar no chio 0s pés do nao- iniciado (embora ache impossivel que ‘exista um no planeta Terra). Aqui vai, vertiginosa: 1955 — “Shake, Rattle and Roll”, de Bill Haley, chega is paradas ingle sas. Paul, 13 anos, conhece John, 15 anos, quando este est tocando com seu grupo, 0 Quarrymen. Comega a parceria. 1958 — George, um guitarrista de 15 anos, entra para o Quarrymen logo quando’ o grupo ¢ reabatizado John and The Moondogs. 1961 — Brian Epstein, dono de uma loja de discos em Liverpool, desco- bre 0 compacto “My Bonnie”, pelo novamente rebatizado Beaties ¢ torna-se empresirio do grupo. 1962 — Os Beatles assinam com a Capitol _apds terem sido recusados pela Decca. “Love Me Do”, com- posto por John ¢ Paul em 1957, chega 20 21 posto das paradas. 1963 — A Beatlemania aterrisa na Inglaterra. O primeiro album dos Beatles, Pkase Please Me, permanece por 20’ semanas consecutivas no pri- meiro lugar, sendo substituido por With the Beatles, que mantém a supre- ‘macia por mais 22 semanas. 8 1964 — “I Want to Hold Your Hand” & langado nos Estados Uni- dos, pelo Capitol, com um apoio de 50 mil délares em publicidade e chega a0 primeiro lugar no més seguinte. Meet The Beatles, pouco depois de langado, torna-se 0 disco mais vendido de toda a histéria fonografica até entdo. Dois, meses depois, 0s Beatles ocupam 0 1°, ©, 03%, 04 e 0 5 lugares da parada de compactos da Billboard. 1965 — Os Beatles colocam outros seis dlbuns no 1° lugar. 1966 — Os Beatles fazem seu uitimo concerto, em Sao Francisco. 1967 — Os Beatles langam “Straw- berry Fields”, Set. Pepper's Lonely Hearts Club Band e o filme Magical Mistery Tour. Morce Brian Epstein 1970 — Paul langa seu primeiro al- bum solo e processa a Apple Corp. ra dissolver 0s Beatles. Let It Be — filme, livro € disco — € langado. PORQUE, que tinnam os Beatles? Por que cles nio outro grupo modificaria a Imiisica popular —e, no processo, todo © comportamento do mundo ociden- tal — de forma tio radical? Por que eles, € no outro, rejuvenesceria esse mesmo mundo de maneira tao irre- versivel? Por que, a partir deles, a fa- tia jovem desse planeta passaria a vi- ver seus anos de maior cumplicidade”” Greil Marcus arranhou o cucuruto do iceberg: “No seu miicleo, uma ex- plosio pop junta o individuo a um ‘grupo, 0 fa a um publico, o ermitéo solitirio a uma geragao—¢, essencial- ment, forma um grupo e esabelece novas iealdades — a0 mesmo tempo em que aumenta a habilidade de uma pessoa responder a um determinado artefato pop, ou a milhares deles, com uma intensidade que beira a loucura. Hé, porém, dentro da explosio, um principio de forma, continuidade ¢ valor. Nos meados dos anos 60 esse principio era os Beatles. Era como se © passado parecesse dissolver, 0 fu- turo se tomasse concebivel apenas como extensio do presente e 0 pre- sente fosse definido tio somente por sua expansiva novidade. Os Beatles ‘do apenas pareciam simbolizar a ex- plosio pop ¢ o presente, mas tam- bém, pareciam conté-los em sua tota- lidade — eles faziam histéria no ins- tante em que a antecipavam.” Antes dos quatro garotbes que per- corriam os inferninhos de Hamburgo ‘com seus blusdes de couro em troca de cerveja e alguns cobres nenhum ‘outro artista havia transfigurado tanto ‘a miisica popular — nem mesmo Elvis, luma personagem menor do que a soma das quatro partes dos Beatles. A partir deles o rock'n roll tomar-se-ia lum género corriqueiro ¢ indispensé- vel — embora, através deles, sempre tefrescante — que cles modificavam pelo mero ato de usé-lo como idioma, E, no inicio, ndo havia nada de tio in- ‘comum nas letras dos Beatles — seu trunfo era aquele som to desconhe- ‘cido e, ao mesmo tempo, tio familiar: guitarras estridentes ¢ ferozes propul- sionadas pelo great beat, mais 03 con- tagiantes ié-iéiés ¢ as harmonias s0- berbas, complexas, que eles faziam pareciam to simples: Paul tinha a voz de crooner de dance-hall, quase ferni- hina, que se transformava num rugido little-nchardiano ao comando de seu mestre; John era 0 roqueito, 0 ro- queiro brabo, sempre foi; George era © guitarrista, dos dedilhes @ la Carl Perkins, bastardo de Chuck Berry; Ringo ¢ra um cara como ngo havia igual. KO Cada novo disco dos Beatles, cada cangio que invadia as radios, reunia toda a comunidade jovem ‘que se criou a partir deles, como se fossem tambores tribais. Sgt Pepper, por exemplo: quem ligasse qualquer apa- relho de ridio nos Estados Unidos na noite de 2 de junho de 1967 nao con- guiria escapar de versos como ucy in the sky with diamonds” & woke up, got out of bed”. Como des- creveu 0*critico,norte-americano Langdon Winner, “foi o momento em que a civilizagio ocidental mais se aproxmou da unidade desde 0 Con- gresso de Viena, em 1815”. E assim seria, desde 1964 até 1970, como se todo’ o planeta, por uma sdlida dé- cada, girasse em toro dos Beatles, enquanto eles forneciam a triha- sonora dessa adoraco. Por que 0s Beatles? Eles foram os causadores dessas mudangas ou fo- ram uma das causas de uma série de eventos € convulsdes que convergi- ram num determinado espago de tempo? E se John, Paul, George ¢ Ringo jamais tivessem existido? Teria seu sucesso inicial sido fabricado pela astiicia de Brian Epstein? (mesmo que eles ultrapassassem toda a badalagéo extrapolassem continuamente seus limites criativos, como fizeram os Sex Pistols e como 0 Clash nfo se cansa de fazer). Os Beatles — mesmo depois do grupo desfeito — sempre foi mais do que uma banda de rock'n roll, do gue um conjunto pop. E sua historia e rea de ago foram inscritas numa su- perficie tio ampla, tio mais extensa do que as 12 polegadas de um LP, que se entranharam na propria vida da ci- Vilizagdo contemporiinea. A isso dé-se © nome de genio. E, poder. ‘José Emilio Rondeau DISCOGRAFIA BRASILEIRA DOS ‘BEATLES + Te Bose = sa Pie me Ta a Bw th the Beatles | 0 Brae aw (63)langado no Bi ‘Beales 05. ie ‘20 Brasil como ‘Help ~ (65) langado “+ Rubber Souol — (6). + Rewher — 66). 3 Beatles Older. but Goiies — (6. ‘Peppers Loney Heart Chub a Megat ey Tor 0 gad em ©. rhe Bete he Holywvod Bow (72) +The Beatles Live! At the Star Cub in ONO TUDO: Pode parecer preten justica: eles eram re E A NATA. jo, mas & apenas almente os melhores. G™ooes arrogincia, eles se autono- mearam A Nata, Nenhum deles era modesto. £ 0 proprio tempo.em que vivam no. peda humilade, mas trombetas,O pion, 0 melhor de tudo "que eles esavam cents. Ficaram juntos o tempo esntamente neces Sato para dir oF paloos ingeses © ameri dois anos. Mas depois deles todos os miisicos complexados do planeta pu- deram ir a forra: sim, sim, havia lugar no rock para 0 improviso, 0 solo, a longa cagada ao_acorde ‘definitivo. Mordam-se jazz6filos Vinham os trés da mesma semen- teira comum — a imorredoura cena inglesa de blues, os clubinhos enfuma- " ABRINDO ESPA OS SOLOS DOS GRANDES O PARA ROQUEIR os cados que, alheios a todas as modas ca da época era o pop que sm sonhar eternamente ‘ou Chicago. Ai, eles ja eram a nata, Ginger Baker’e Ja Bruce militavam na_exigentissima Graham Bond Organization, onde apenas misicos de comprovado ta- lento conseguiam tocar. Eric Clapton era 0 sol dos subterraneos, depois de dois estagios ilustrissimos: com os Yardbirds, celeiro de guitarristas fla- mejantes com 0 apostolar John Mayall. Um grafiti das ruas de Lon- dres atestava que Clapton era Deus. Todos os aspirantes a guitarra acredi- tavam nisso, mas sua melhor fase ainda estaria por vir. O niicleo essencial foi Bruce ( Ba- ker — ja tocavam juntos, tinham al- guns projetos em comum, O convite a Clapton foi um caminho natural — quem mais na Londres de 1966 pode- ria encarar 0 desafio? (S6 talvez, Jeff Beck, ¢ € engragado imaginar como o Cream Soaria com ele; ou talvez ainda Jimmy Paje, que tinha a mesma io, a mesma ambicio e a mesma pegada, mas que ainda era muito jovem e, quem sabe, tros pianos.) EXPLOSAO, As origens dos trés faziam prenun- ciar mais um grupo de blues —e a es- colha do material de seu disco de es- teéia, pontuado de Robert Johnson, Muddy Waters, Skip Jones e Willie Dixon, em parie confirmava isso — mas o que se viu no palco do festival de Windsor, sua estrsia oficial em meados de 66, foi muito mais. No apetite com que Clapton se langava 205 solos, no duelo entre o baixo can- tante de Bruce e as viradas de Baker, cava claro que 0 Cream nao preten- dia manter-se na sombra confortavel do. grupo de cult: ambicionavam 0 Pop, o mercadio (dai a larga poredo que 0s vocais de Bruce ocupam desde © primeiro disco, Fresh Cream — jé na- quela época rolava o papo de que “disco instrumental no vende”), Mas com as piores intengdes: queriam subverté-fo (todo bluesista gemuino ¢, no fundo, um apéstolo da boa causa, no caso, a pregagdo universal dos blues como Grande Musica Legitima) deixar patente, nele, que 0 formato rigido do rock ndo podia ser prisio para o talento verdadeiro. Conseguiram. Principaimente a partir de 67, do album Disraeli Gears {um classico para quem quiser en- tender o que foram ostio faladosanos 60) € da Subida vertiginosa do avulso “Sunshine of Your Love” nas paradas americanas (a América, explicavel mente, sempre foi o melhor mercado do Cream), eles so A grande sensa- ao. Se, no’ mesmo ano, ndo tivessem expiodido triunfalmente um certo Jimi Hendrix, ficaria decerto com Bruce, Baker & Clapton a palma de ter reiventado a interpretagdo instru- mental do rock'n roll Seu. formato — cristaizado perfei- tamente em Gears, esilhacado, j4, no lum seguinte, o ambicioso Wheels of Fire — era perfeito. Bebiam fundo no melhor blues, mas nao se limitavam a seu apostolado: quando tocavam Johnson ou Willie Dixon, era com eso na baixaria ¢ vd0 nos solos; e, ada vez mais, apoiavam-se em mate- rial proprio, ‘escrito principalment pela dupla Jack Bruce/Peter Brown coisas de acento pop, mas pesadas Era ao vivo que essa sintese melhor se fazia — € a0 vivo que ficavam ex- postos os nervos frigeis da banda, com és virtuosos engalfinhando-se para brilhar mais. O Cream tocava para mostrar que sabia tocar e tinha prazer nisso, as. platéias adoravam porque seus longos sets eram viagens erfeitas, e a critica torcia-se de fei dade porque eles davam respeitabil dade 20 rock’n roll ( resultado de tanta apoteose em ‘Go pouco tempo foi previsivel: ao fim mesmo de sua primeira excursio costa 4 costa dos Estados Unidos, em dezembro de 67, 0 trio ja da sinais Visiveis de cansago ¢ tensio. Wheels of Fire, gravado os Estados Unidos, herr eters oe =. quando Voce, que canta outocatéo _... quando Vocé liga o Mixer Micrologic bem, ndotemnenhuma orquestrapara_€ as melhores orquestras do mundo rece aot ee « quando Vocé quer darumafestinha _... quando vocé liga o Mixer Micrologice ingteetndaSomrcsmonnpe. ben Eanlo Vock comotes polcpuieeresees deselacurtra Quintade ‘aomesmo tempo as duas coisas? veri a "quando Voc quer fazerumafestade ... quando Vocé liga o Mixer Micrologic ahiversério, um desfiledemoda,um _€ oanimador e amisica de fundo sa bingoeoanimadoreamisicandose —_entramem: ihosaharmonia, ‘entendem? inclusive com eco? et Sa “clicks” da gravaco? suaves (cross-fade)entre as musicas? Desperte para o Mixer Micrologic. ixer MX-I nfo utiliza crcultos Integrados. ‘matura, € ninguém se espanta quando & anunciada sua separacao oficial ‘Como o Band viria a fazer quase dez anos depois, o Cream decide se sepa- rar em grande estilo: com um con- certo de adeus no Albert Hall de Lon- dres, no dia 26 de novembro de 68. ADEUS, Ouvindo “I'm So Glad”, a pri- meira faixa do Album registra esse adeus — Goodbye, ¢ Sbvio — entende- se que 0 Cream era e porque termina- ra_com dois tenros anos de vida: a misica € um tnico e esquizofrénico solo a trés, simultineo e desenfreado, © baixo de Bruce comendo a guitarra de Clapton que foge ¢ cobre 0 baixo de Bruce, Baker infiltrando-se nos es- pacos com a fiiria de uma divisio Panzer, as vozes esgargadas de Bruce © Clapion emergindo € submergindo em ondas sucessivas de eletricidade. “Chegou uma hora em que todos 1nés estdvamos nos exibindo”, Clapton confessaria um pouco depois. “O 4 grupo tinha comecado como uma Coisa e virado outra totalmente dife- rente, Cada um de nés se achava o rei de sew instrumento, Isso era 0 resul- tado de toda a adulacdo que estdva- mos recebendo, do piblico ¢ da im- prensa. Todos somos culpados. Nos ¢ © publico. Ninguém tem o diteito de pensar que ¢ melhor do mundo em alguma coisa: € ridiculo. Mas nds trés chegamos a esse ponto.” ‘Talvez. por isso, por ter sido um cone dessas dimensdes em seu pré- prio tempo — cada disco do Cream vendeu, no ano de seu lancamento, um milhdo de cépias s6 nos Estados Unidos —0 Cream tem sido julgado com extréma severidade pelas revi- bes periddicas que a histéria do rock'n roll nao péra de sofrer. Diz-se, habitualmente, que o trio deixou mais influgncia que misica, mais gléria que substancia. E questdo exclusiva de opinio pes- soal. Influéncia, de fato, o Cream dei- Xow as toneladas. Deve-se a0 trio — € a Hendrix, sem divida — a propaga- 40 do power trio, do grupo exiguo € auto-suficieme. Devese a ele a insti tuicdo publica e notéria do solo como pratica cabivel num concerto de rock. Por causa do Cream, muito roqueiri- nnho afoito passou a saber quem era € 2 gostar de gente como Robert John- son ¢ Muddy Waters. Por causa dele 3 impor tram pectin is zz tiveram que engolir um pouco rock n_ roll em seus cardépios. Com ele, baixo ¢ bateria puderam-se livrar de seus complenos¢ tet seus minutos, <ée gléria, em primeiro plano. E, — Sera posivel exuecer ~ Bruce, Baker & Clapton so pais ciretos do heay me: tal (sera que essa eles podiam prever? Mas a musica que fizeram tem a es- tatura e a corpuléncia dessa influén- cia. E a cara de sua época — €, por causa disso, envelheceu um pouco — mas é magnifica ¢ aventureira. Eles eram A Nata — e tocaram a altura de sua arrogincia ‘Ana Maria Bahiana DISCOGRAFIA DO. CREAM Fresh Cream ~ (6), + Direal! Gears ~ (67 langado no Brasil em 68. FC ": Wheels of Fie — (68) duplo lancado no Bras em 68 como dbum simples, oi relancado no Brasil, em ediglo li smitada, em 30. pe Ode —()ancado no Bras em 70 ‘Best of Cream (69) antologia. Line Cream ~ (10) 20 vivo, antologa. + Live Cream Vol I~ (73) a0 vivo anto- logia FC. “Heany Cream — (72, Of the Top ~ 03) + Pop Giants Vol. 17/The Cream ~ (75) langadg 96,00 Bras FC “The: Great Rock Sensation Vol 3/The Cream = (16) langaco 38 no Brasil FC. ‘OBS: + disco lancado no Bras FC lsco form de eatlogo, ASSINE CET Bea Te Pe pee IY S PTR TES NOVIDADES, eB eller Pl h Va e lel se A CRITICA DISCOGRAFICA, O OleT TP Var Tee +) iter d OnLy eer A PRIMEIRA E UNICA REVISTA PTT VS SOM E MUSICA 'CERTIFICADO , ' ESPECIAL DE 1 ASSINATURA [2 edicées ao assinar por I ano ow 14, assinando por dois. ainda hoje este Certficado Especial de wa, lope fechador@ Ettore Tres Lida, Canna “CEP 01000 1 Sho Paulo. Nio querendo recortar a revista, faa 0 seu pedido em folha parte CS ASU IVT Tayo} 3 COS rem le ly juntos pouco mais de eC Ewer em OS ey ee do ted rate) Rom ALLS oo que ja Rae rene Perec esr r Angeles eletrificando até o impossivel Poe eet) antes de juntar a eles, David Crosby eran eer ets Cea Creer ge ne pet try Soe eee nd Cte ett tetent Crean Sere eg Hollies, uma das primeiras crias da ere a eee eerer crs en omt ener rest id um sujeito comprido, ossudo, de vor Perr reenter kei jam Nash, Ou ainda os Squires, © grupo falk O SOM BEM AMERICANO mais famoso das cercanias de Winni- peg, Canada, de onde desceu 0 so- turno Neil Young nos idos de 66 para temtar a sorte em Los Angeles ¢ en- contrar Stephen Stills, irascivel te- xano que ja rodara um bocado de jo entre Estados Unidos e Canad, entre palquinhos e fundos de estidio &, juntos, criarem o legendirio Bu filo Springield. Nao importa o que existia no principio: de algum modo muito natu- ral — 56 com um pouquinho de ajuda de Ahmet Etegun, a fase final — as ‘quatro maos dessa fua iriam se encon- trar na America do sonho dourado, a América de 1968, ¢ encarnar como poucos, ainda qué por breve tempo, ENCONTRO. Mais interessante do que alinhar quatro biografias que, em si, nada tem de extraordinario a’ ndo Ser terem vindo de cantos vio diversos para se unirem numa noite de Laurel Canyon € observar de onde elas vem, o que elas trazem e 0 que significam, quando se encontram, Graham Nash € um caso fora de es- quadro. O que fazia aquele inglés até 4 meduila no santo dos santos do rock americano? Vinha de Lancashire, ou melhor, de Manchester, patria de seu linico sucesso até aquele verdo de 68, ‘© comportadissimo grupo Hollies, es pecializado em baladas e muitas vozes “a ultima, a mais aguda, era sempre a sua, Os’ Hollies eram a causa de tudo — um beio dia Nash se fartara de viver espremido na luta pela parada de sucessos e simplesmente deixara 0 grupo no meio da estrada. Voara para Los Angeles — fora li, na casa de John Sebastian, que conhecera duas vores em perfeita harmonia com a sua, dois americanos que the falavam da efetvescéncia de uma América em mutagao, David Crosby ¢ Stephen Sil : Os dois encarnavam a prépria anti- 18 tese dos Hollies © & adminivel como se faz facif a harmonia desse trio: Byrds de Crosby ¢ 0 Buffalo Spring- field de Stills (¢ também de Young) ceram a prépria reagdo americana exa- tamente contra grupos como os Hol- lies, A América tolera mal a ideia es- trangeira —e, por mais estranho que isso poss parecer a nds terceiro-mun- distas distantes de ambos, América € Inglaterra, os Beatles eram marcante- mente estrangeiros para a musica americana, mesmo que seu som fosse essencialmente a prépria misica ame- ricana revificada, ‘Os Byrds de Crosby ¢ 0 Buffalo de Suills & Young eram as mais diletas flores da jovem renascenga ameri- cana impulsionada pelo Bob Dylan elétrico dos mid-0s. Eram a recon- quista do mercado interno por gente moga que tocava guitarra com sota- que da terra, que se preocupava com raizes, com 0 folk, com a sonoridade americana — e flertava mais © mais com as carregadas tintas politicas de uma época de dramatica efervescén- (© que surgiu, portamo, daquelas vocalizagdes a toa na casa de John Se- bastian, ndo foi tanto uma amizade (os anos viriam mostrar que os tempe- Famentos mais se chocavam que se misturavam) mas um projeto de su- pergrupo americano — cooptando Nash — para servir de bandeira e oferecer-se como produto definitivo. DESENCONTRO A histOria desse encontro é de can- dura e brevidade impressionantes, Juntos, David Crosby, Graham Nash, Stephen Stills € Neil’ Young ficaram pouco mais de dois anos: depois da- Quele verso em Laurel Canyon vie- ram alguns meses de acertos contra- tuais e uma viagem conjunta a Ingla- terra para limpar a barra de Nash. No inicio de 69, a América ji sabia que ti- nha a sua supernova: Crosby, Still Nash, 0 disco, intensamente aciistico, pensitivo e delicado, subiu vertigino- samente nas paradas (até nos dificeis compactos, com “Marrakesh Ex press”) Era preciso excursionar, a Ahmet Enegum, chefao da Warner/Adantic, sugeriu reforgo de Young, desem- pregado: ele tocaria guitarra, dei- xando Stills livre para ocupar o’piano e completar a base que Greg Reeves no baixo € Dallas Taylor na bateria ja forneciam, Neil Young topou, mas com uma condigao: chega de banda de apoio, seu nome deveria estar li em cima, transformando 0 trio em quarteto. Tanto melhor para todos, pensaram. ‘A ovacio compungida que saudou a reesiréia do grupo em Woodstock — pontuada por muitos pedidos de des- culpas e algumas desafinadas tensas, Uipicas de quem esti-se encontrando nauele momento — fica no tempo como icone de uma era. Por suas qua- tro vores — ¢ Young trazia um peso até entdo desconhecido pelo grupo — celebrava-se triunfalmente, explicita- mente 0 poder da mudanca. A América se acreditava jovem, sorri- dente € capaz de mudar seu proprio Karma: 05 rostos ¢ 0 canto de Crosby, Stills, Nash & Young pareciam-Ihe dizer isso: Depois houve muito pouco. Deja Vu, 0 disco seguinte, jé apontava ten- ses irreparaveis no quarteto, com Stills precisando de espaco instru- mental, Nash & Crosby preocupados com vocalizagdes e ternuras domésti- as e Young querendo tocar fogo em tudo com sua guitarra disritimica Four Way Street cristaliza as fissuras quatro encruzilhadas partem da rua ¢ parecem ndo se encontrar mais. Os tempos mudavam, as décadas se suce- diam. ‘Num futuro imediato, breves en- contros ainda se fariam: entre Stills € Young, mais fugaz, entre Crosby ¢ Nash, mais duradouro. Em parte da semeadura do quarteto, 0 rock ameri- cano emergia revigorado, e Los An- geles se tornava a meca do som bem olido, parado nos cantos, exato € yem-acabado. Depois de algum tempo, Neil Young repés a guitarra fas costas e retomou seu eaminho so- litario, fracionado, agudo, brilhante. Em 76, em pleno ano da irreparavel rachadura punk, Crosby, Stills, Nash e Young se encontraram de novo, ofi- cialmente. Cantaram em estidios. Fa- laram que continuavam os mesmos. Em 77 gravaram um. disco palido, com Stills escondendo a calva ¢ Crosby a barriga, na capa. Neil Young preferiu fear quieto. Dois anos dee pois, diria porqué: a ferrugem nao dorme jamais. Ana Maria Bahiana + Crosby, Sis and Nash ~ (69) relan- «ado em 73. "+ Deja wa — (0) relancado em 77 4 Four way Sireet (71) duplo 20 vivo, 7 Gi scion, aS aco Inga 30 Bre OS CRIADORES DO HEAVY METAL Pe pes ey RT PO mers eee tir) até hoje devem muito a0 Zep, do Cheap Trick a0 Kiss, do Angel a0 Queen. eee dos anos 70 do que o Led Zeppelin. ret Oka eke ee ey SO ey or eens er ec ee ee te een er Cord ree ets See eee até 0 Zep, blues elétrico era mera ex- pressio de retérica. Assim, o Zep per- Soar ie catd eres Bok apenas ras, manipulando hibridos dentro de- Sars Cuca od O REI DA PAULEIRA ethos de metal pesado que estabelecia nao tinha precedentes no rock, no momento em que esse novo subgéne- ro encontrava sua génese € seu apo- geu no Zep, alimentando a industria fonogréfica com discos de ouro e de platina — e, conseqiientemente, pro- ‘vendo 0 showbiz de recordes de lota- gio € espeticulos estupefacientes — 0 Led estava fazendo histéria. E, no rocesso, estava criando os anos 70. 0 Led Zeppelin ¢ filho direto do Yardbyrds, a banda inglesa que trans- formou 0 Solo de guitarra em ponto de honra e pivé do rock contempord: neo, Pelo Yardbyrds passariam trés dos miisicos que mais ajudariam a ampliar © vocabulério da_ guitarra: Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Pa- ge. Com o fim da banda, em 1968, Page — 0 derradeiro guitarrista do Yardbyrds — voltaria @ perambular pelos esttidios, como session musician, (anos antes ele jé havia trabalhado para uma horda de artistas, entre os Stones, 0 Who e 0 Kinks), mas levan- do a tiracolo os direitos’ de uso do nome Yardbyrds e 0 baixista e fotd- grafo Chris Dreja, também do grupo extinto. E com um sério problema: pressionados por orgamentos.sofr- veis, 0s dois haviam fechado shows na Escandinavia, onde apresentariam © New Yardbyrds, mas nao tinham os ‘miisicos para isso, ‘Com um antincio de jornal, Page ¢ Dreja comegaram a réceber as res- postas: veio primeiro John Paul Jones, dedicado misico de estidio, baixista, tecladista e arranjador. Depois veio Robert Plant, iniciante de 20 anos, ex- vocalista do Band of Joy. Plant’ era hippie até a medula — 0 que, na épo- a, jé era um ponto a seu favor ~ mas sua credencial maior era a capacida- de de unir a voz © um feeling negros ao visual de um deus grego. Plant tra- ria do Band of Joy o baterista John “Bonzo” Bonham, um vigoroso per- cussionista cujo estilo muito se apro- ximava do ritmo de uma locomotiva. 2 Duas compactas semanas de ensaios prepararam o New Yardbyrds para a sgravacdo de um primeiro lbum para a Atlantic (feito em 30 horas recorde) € para a tour escandinava. O disco, contudo, s6 seria langado quando 0 NY jd se chamava Led Zeppelin (no- me roubado do grupo alternativo que Keith Moon e John Entwistle haviam planejado para escapar ao despotismo © as brigas de Daltrey e Townshend 1n0 Who) ‘GRANDE VOO- ‘A ascensio desse dirigivel de cchumbo € vertiginosa logo a partir dai: entra em cena o rotundo em- presirio Peter “meu-nome-é-Pe- ter-Grant-e-eu-quero-ganhar-muito- dinheiro-com-vocés” Grant, astuto mas trabalhador, 0 quinto Zep na di- visio de lucros iguais na empresa que se forma. O primeiro disco é langado nos Estados Unidos e, em menos de uum ano, atinge a marca de ouro (S00 mil c6pias vendidas) ¢ platina (1 mi- Tho), em tempo apenas suficiente para que o disco seguinte, Led Zeppe- lin IT, chegue a0 mercado € confirme uma’ férmula extremamente bem- sucedida de sucesso: sempre nas mios de Page — produtor de todos os discos ¢ principal compositor do grupo — 0 Zeppelin pBe-se anos luz a frente da ‘competicdo. Plant era um cantor bem melhor do que Keith Relf — dos Yard- byrds — ¢ 0 Zep, como banda, manti- nha uma coesio e uma interagdo ini- magindveis num universo superlotado de superestrelas. Musicalmente, 0 Zeppelin era tinico: Page usava a dis- torgdo e a economia como sua assina- tura musical, pontuando com convul- sdes de técnica, lirismo ataque bri- Ihantes 0 bombardeio ritmico de Jo- nes ¢ Bonham — a marca-registrada de Page era um fraseado que comeca- va com stacattos © que evoluia para ‘gemidos e silvos, como se a guitarra dele estivesse literalmente tentando ‘ranspor uma muralha de baixo ¢ ba- teria. Led Zeppelin II! ¢ Led Zeppelin IV — ou, como querem alguns, Z0-So — en- cerrariam um ciclo de pauleira pura, enxertando _ metaleira incansivel fartas.porgdes de musica actistica, emprestando as visdes urbanas de age ¢ Plant algo de tradicionalmente folclérico ¢ rural. “Stairway to Hea- Houses of The Holy saiu, 0 Disco de Platina que recebeu foi tio imediato quanto inevitivel: em 1974, 0 sucesso de um grupo jd comecava a ser medi- do nao por seus méritos artisticos, ‘mas por sua capacidade de vendas. E ai o Zep seria tanto causador quanto consequéncia. ACIDENTES Os eventos que se seguiram a esse auge de carreira foram, no minimo, climaticos: com 0 duplo Physical Graf- fiti o Zep inaugura seu selo proprio ‘Swan Song. Logo depois, Plant sofre um acidente automobilistico nas Ilhas Gregas ¢ todas as atividades do grupo do suspensas por quase dois anos, até 1977, quando 0 filme The Song'Re- ‘mains the Same, a trilha-sonora ho ven" foi o exemplo maximo dessa nova direcdo, o primeiro épico em grande escala do Zep, adicionando pi- tadas (que iriam crescer mais tarde) de mitos. Celtas que s6 alimentariam © mistério que jé cercava Page (por ele morar num castelo que antes per- tencera ao ocultista Aleister Crowley) € que, pouco a pouco, acabaria por envolver todos da banda numa aura de azar ¢ infortinio, Isso demoraria a acontecer. A essa altura, em 1973, 0 Zep jé era um gigante nos Estados Unidos, embora na Inglaterra perma- necesse, até o fim de sua carreira com sucesso menor do que na Amér a. Naquele ano, em Tampa, na Fiéri- da, eles foram vistos por 63.700 pes- soas de uma sé vez, dentro de uma tumné que gerou lucros de trés mi- Thdes de dolares. Quando o bum mdnima e um outro disco, Presence, so lancados. Finalmente 0 Zeppelin cai na estrada, depois de uma ausén- ccia dos palcos de quase trés anos, quando Plant recebe a noticia de que seu filho de cinco anos morreu, vitima de grave e misteriosa doenca infeccio- sa. Foi o bastante para por a banda de molho por outros dois pesados anos, Somente em 1979 0 Led Zeppelin voltaria a acdo, com 0 desigual e la- mentivel dlbum Jn Through the Out Door, cujo mérito maior eram as cin- co capas diferentes que, esperavam, cengordaria o borderé de vendas. Mas ‘chegou a ser surpreendente ver 0 Zep — jd um dinossauro proximo a escle- rose completa, impotente ¢ 4 mercé de seu proprio peso de sua “respeita- bilidade” — entrar na lista dos mais vendidos da Billboard logo no 1 lugar, embora ld permanecesse por apenas mais quatro semanas. Mesmo assim, a tumé de retomo — uma biitkrieg bem- sucedida pela Europa — foi conada pelo meio com a morte acidental do baterista John Bonham, durante en- saios na casa de Jimmy Page. Nao ha- via mais como continuar. ‘Com o fim do Led Zeppelin, acaba- ram também os anos 70: 0 escapismo que 0 Zep —e grupos de seu porte ¢ area de ago — representava foi subs- tituido por uma militincia ¢ por um ativismo como jamais houvera no rock. Estilisticamente, a misica que 0 Zep inventou sobreviveu, transmuta- decerto, até certo ponto. Mas se io tivesse sido 0 Zep, provavelmente nao conheceriamos o Cheap Tric April Wine, o Angel, o Queen, 0 Kiss, (© Starz, sob a forma que existem ou existiram. E, como sempre, tudo que veio depois ‘do original chegou com ‘gosto rangoso € cheiro de mofo, Da ‘mesma forma que 0 Stones € os Yard- byrds fizeram R&B e blues a sua ma- neira, 0 Zeppelin estabeleceu um minho de criagdo e nele se aperfe goou a supremacia absoluta. E até hoje ninguém fez metal pesado me- thor do que o Zep. ‘José Emilio Rondeau DISCOGRAFIA DO LED ZEPPELIN ang ed Zarel— (6) rang em 4 "+ Led Zeppein It ~ (6) relancado ex 75 Sr Zapp I~ (0) rela em 7 + Lad Zeppelin IV — (1) relangado em 74 Sas of the Holy ~ (73) ~relangado Pil Graft) dup, laa "esc ~ (16) + The Song Remains the Same — (16) dv en Thrch the cut Dor ~ (7 ‘OBS: + disco langado no Brat 23 Rock para ouvir e ver: sons estranhos, ritmos estranhos, letras que falam de estranhos acontecimentos — viagens luminosas. A TRILHA SONORA DO UNDERGROUND ING soncents Londres de 1964 — embalada por prenintos de Bex tian ris mesmo sum, ind om tregoc a uma coe blast de ie: iki urs des hava puso Me Rope Wet, anos, tee a yar seus dos oles da Pole teens deepen Secs Rechard Wap ¢ Nicholas Mason, ambos de 19 anos, a ndo ser uma profunda aver- so pela Arquitetura que cursavam. E uma paixdo enorme pela musica. Nao 36 a pop que pontilhava as listas de vendagem, mas também jazz — afinal, por que nio? — e blues, que tocavam Juntos, ocasionalmente, embora sem UM SHOW | EXTRA, SO DE LUZES. ‘muito entusiasmo. O trio entitulava-se Sigma 6, nome gauche até hoje. Waters apresentou a seus colegas de universidade outro par de amigos, conhecidos seus da Escola para Rapa: zes de Cambridge: Roger Keith Bar- rett (Syd) e David Gilmour, ambos de 18 anos, ambos guitarristas, As muilti- plas drogas pesadas que Syd tomava Seu gosto voraz pelo rock no combi- navam com 0 existencialismo e 0 jazz do bar The Mill, que costumava fre- quentar, © onde Waters 0 reencon- trou depois de muitos anos. Syd aban- donara a Escola de Belas Artes e que- tia ser como 0s Beatles e os Stones. David, no. Gilmour nao flertava ‘com 0 profissionalismo e preferira trocar tudo pelo sol da Franca e pela estrada, tocando 0 minimo para ga- rantir sua subsisténcia ou posando como modelo. Mas Syd ficou e convenceu os wés do Sigma 6 — todos ja devidamente drop outs — a formarem um outro grupo com ele ¢ mais Bob Close, um ‘uitarrista de jaz local. Nasceria, en- tao, o The Screaming Abdabs — reba- tizado mais tarde The Abdabs e, de- pois, The T-Set — com trés guitarristas (Syd, Bob © Roger), dois vocalistas (Keith Noble e Juliette Cale), um bai- xista (Clive Metcalf), um tecladista (Rick Wright) e um baterista (Nick Mason). E Barrett, sempre o estranho Syd, achou por bem, mais uma vez, mudar 0 nome do grupo, agora para ‘The Pink Floyd Sound, ideia tirada dos dois primeiros nomes de uma du- pia de biuesmen norte-americanos, Pink Anderson e Floyd Council. No comego de 1966, vigoraria a abrevia- ‘ura mais contundente, mais hermé- tica, mais Syd Barrett: Pink Floyd, POLPA Em fevereiro do mesmo ano o Pink Floyd — ja sem Bob Close, os canto- res ¢ Metcalf — comecaria a ter parte ativa_nas mudaneas que viriam a transfigurar a sonolenta capital in 8 glesa_de forma irreversivel, transformando-a no foco gerador de rock mais importante de todos os tempos. Contudo o rock que o Pink Floyd tinha a oferecer pouco ou nada lembrava 0 R&B elétrico dos Yard- byrds ou 0 pop expandido dos Be: tes. O Floyd rebuscava a polpa que havia por debaixo de tudo isso, visi- tava 0 underground ¢ suas alternativas ‘a ponto de logo virar sua trilha sonora oficial, basicamente gragas a shows diurnos no The Spontaneous Under- ground, 0 reduto in da época,e gragas a genuidade de sua musica: sons e3- tranhos costurados por ritmos estra- thos, sem vergonha da reverberacdo € de microfonias, de letras gético /fu- turistas /nonsense, formatos que mui Faramente atinham-se a melodias ou batidas mareadas. Era do melhor que aa Inglaterra podia oferecer de pos- psicodelismo. ‘Quando, por fim, incorporou a seus shows jé usados (ninguem fazia na- quele tempo miisicas de 11 minutos) Outro fator inusitado, meio por dente, — 05 light shows inauguraria toda uma escola cénica de rock na qual mantém-se até hoje na frente da competigao. Iss quando 0 casal norte-americano Joel € Toni Brown, do Instituto Milbrook de Timothy Leary, resolveu projetar alguns slides sobre'o Floyd durante seus shows. O resto foi histéria; ou melhor, pompa audio-visual. Som quadrifonico, ‘vides que se espatifam no palco, por: 603 € polvos gigantes que sobrevoam, a platéia, gongos que se incendeiam, ‘muros que desabam, nada seria de- mais para o Pink Floyd. Mas a essa altura — com o primeiro Album, Pipers at the Gate of Dawn, gra- vado enquanto os Beatles faziam Sige Pepper no estudio 20 lado segura- mente incorporado aos musts de 1967 = 0 Floyd est prestes a sofrer sua maior ¢ irremedivel baixa; Syd Bar- Tett, 0 estranho Syd, depois de ap sionar a namorada por uma semana a bolachas ¢ gua, depois de fica shows inteiros tocando um s6 acorde, depois de subir a0 palco com o cabelo ccoberto por uma pasta feita de goma- lina © mandrix esfarelado, € dado como caso perdido, uma casualty de dicido que, dia apés dia, escorrega para profundezas cada’ vez mais Irresgataveis, ‘CINEMA David Gilmour entra em seu lugar (na verdade os dois tocam juntos por sete semanas) ¢ Waters torna-se a fi- gura central do Floyd, seu compositor mais prolixo, seu Jeme mais firme, A Franca adota o Floyd em seu fragor contestatério de 1968 ea Inglaterra s6 © recupera em parte com 0 lanca- mento de Ummagumma (um album duplo extremamente auto-indulgente mas brilhante por alguns momentos) €, depois, de Atom Heart Mother, ini- cialmente um projeto para balé enco- mendado pelo Ballett du XXéme Sié- cle de Maurice Béjarte entitulado The Body. O “disco da vaca”, como viria a ser apelidado no Brasil, foi um dos al buns seminais do rock dos anos 70, misturando rock, miisica conereta ¢ sinfonias inacabadas de forma plas tica, quase visual, cinematogrifica. O cinema, alids, teria parte preponde- ante nessa fase do grupo — cles com- poriam as trilhas para Zabriskie Point, La Valee — a ponto de pelo menos um. disco ter sido acoplado totalmente a um filme: Meddlee 0 longa Live At Pompeii. Era uma época de namoro com o superesirelato, uma transi inacabada cujo desenlace nao tardou. Em margo de 1973 era langado Dark Side of the Moon (inicialmente chamado Eclipse), resultado de nove meticulosos meses de trabalho, com uma apresentagdo especial no Plane- tario de Londres. Finalmente um disco comercial, mas que comenta ‘com tristesse a chegada da meia-idade € a loucura (uma especie de homena- gem a Barrett, agora obcecado com 0 homossexualismo), uma pequena obra-prima de composigao, execugdo engenharia de som (gragas ao piloto de consoles Alan Parsons) que chega a0 primeiro lugar da Billboard, perma- rece entre os 50 mais vendidos da In- glaterra por dois anos ¢, nos Estados Unidos, fica entre os 100 mais vendi- ddos por quase oito anos. Como ja era de se esperar, tudo que viesse depois de DSOTM ‘seria anticlimético no nascedouro. Tanto assim que Wish You Were Here — com sua elaborada capa e seus corrosives comentarios sobre a indiistria do showbiz — fi re- cebido em 1975 com desapontamento notivel. SOBREVIVENCIA, Animals, o ilbum seguinte, no cau- saria comogao maior do que 0 porco inflavel que soltaram em Londres para fotografar sua capa. A estrutura a fonografia e do proprio rock'n roll nio dava mais primazia a0 contetido musical dos discos e dos grupos (mesmo que Animals ‘no represen- tasse -nenhum rompimento de pa- does, nenhum ganho artistico de porte} vali, sim, 6 produto que traria a platina, o teatrinho que lotaria esté- dios, a tonelagem ou a poténcia das aparelhagens de som. Com Waters, Gilmour, Wright e Mason jé beirando 6s 40 anos, o Floyd parece um paqui- derme prestes a ceder sob seu proprio Se The Wall nio arrematou o ser- vigo de deterioragio iniciado por Animals foi pela pungente autocritica que 0 grupo (nominalmente Waters) fazia, execrando toda a indistria, a imprensa, @ si proprios, dizendo-se aprisionado num mundo confortavel ‘demas para ser abandonado, efémero ‘demais para durar muito mais, E por- que também era um trabalho de enge- nharia aural s6 compardvel a Dark Side of the Moon. E, como este, che- gou a0 primeiro lugar da Billboard. © Pink Floyd dos anos 80 atingiu tuma_exceléncia de performance, um padréo de composico ¢ uma respei- tavel posicao de mercado que 0 co- loca no pantedo dos maiores mons- tros sagrados do rock. No entanto, sua instancia de vanguarda, de culto reduzido, ji foi perdida ha muito tempo, talvez nos sulcos de Meddle, talvez no show do Hyde Park em que penduraram caixas aciisticas em érvo- res, talvez no seu primeiro P.A. ersatz- quadrifonico. Isso porque 0 Pink Floyd foi um produto tipico de sua Epoca ¢ passou a representi-la tio fielmente que por, pouco ndo ficou aprisionado nela. Para aquele tem ele era avant-garde. Hoje ele & me Igo. Por isso 0 fato de ter sobrevivido a década e meia ji € um mérito inegé- vel. E hoje o mundo & muito, mas muito diferente mesmo. José Emilio Rondeau +The Pipe tthe Gates of Down — Jancado no Brasil em 74. is o + A Saucer of — (68) langado no en oe ore ~ (6) iba somes do Bie 1} AN Par — (1) daplo, ois prieiros LPs, langado'no Bras em 75, Fe. Ey ROLLING ISTO E: ROCK 'N ROLL! A dupla, a combinacio perfeita: Mick Jagger e Keith Richard. OOO a ae Oo te também —, concordam: os Stones formaram a maior banda de rock do mundo. Leer rons chard, o franzino garotote que apren- era violdo por incentivo do avo saxo- em Oe renee ero me Ss sendo Chuck Berry; Michael Phillip erg ee aed Treen ema Secure eer arene ea eed eT ee Leg te Brome came Maem tn ecg enna DU catad ccc toe tg COM emer rae steed Pe ne ean ed Br oe ea Mick € Keith conheciam-se desde a infancia, em Dartford, mas $6 se re- ee ETT ee aa Pre eee crores eee ee IS ieee erm Mey ss cs MARGINALIA & SATANISMO parte integrante do Liule Boy Blue and the Biue Boys — junto com o gui- tarrista Dick Taylor —, banda apadri- nhada por Alexis Komer (avo do rock és), quando conheceram Brian Jo- nes, ja boemio calejado e intensa- mente absono no blues rural, tocando no Ealing Jazz Club. A quimica batew ripido ¢ logo os wes estavum en- salando funosamente, noite apos noite, sum conjugado do Chelsea, aiugado ais expensas da boisa de eau" Gos ce Jagger (da qual cie prudeme- mente so ubriria mao em 1963, por- tanto Urés anos mais tarde) e sobrevi- vendo a uma ragdo didria de ovos € batatas, Vez por outra [an Stewart, pianista apaixonado por sua lambret aparecia para uma canja. Faltava a seco ritmica, no entanto. E havia um baterista excelente, que twcava no Blues incorporated de Ale- xis Korner, profissional e — por isso sarssimo: | Charlie Watts, gamado pelo jazz de Charlie Parker e funcio- ano de uma agéncia de publicidade. dado a vestir-se bem, Watts arriscou- se demais ao desistir de seu grupo, 0 Biues By Five, semanas depois, para trabalhar de graga com aquele quar. teto cabeludo, fedorento, cujo R&B eictrificado ficava bem aquem de seu ideal musicial. E que, alem de tudo, nem baixista tinha, William Perks — mais tarde rebatizado Wyman por pura estetica — ex-piloto da RAF, so deixaria os Ciliitons, apés pedidos in- sistentes de Mick ¢ Keith, aparente mente apaixonados ndo por sua habi- jidade musical, mas por seu baixo amplificador Vox, novinhos em folha, A FORMULA Fi batizados The Rolling Stones — por inspiracdo do blues de Muddy Waters, “Rolling Stones” — 0 sexteto faz sua primeira apresentagao paga em janeiro de 1963, no Crawdaddy Club, € 0 contraste de seu R&B feroz, amalucado, com os vigentes baladis- tas pop, foi notivel o bastante para chamar’a atengio do jornalista Peter 32 Jones, cuja eritica extremamente aus- piciosa foi lida por Andrew Loog Old- ham e Eric Easton, dois jovens em- presarios. Oldham tinha sido relacdes-publicas dos Beatles ¢, aos 19 anos, pensava ter encontrado nos Stones a vazao para a criatividade ¢ a fome de notoriedade que uma car- reira frustrada como cantor lhe to- Ihera. Oldham agarrou-se aos Stones ‘como se fossem sua ultima chance de reconhecimento — ¢ de desafio a Brian Epstein, que o demitira suma- riamente, Portamo, Oldham nao se surpreendeu — nem arrefeceu — quando uma demo dos Stones foi re- cusada pela Decca; ele conhecia o jogo bem demais para se preocupar, Pediu a Lennon © McCartney que dessem seu aval a uma cancao, “I Wanna be Your Man”, que chegou a0 ® posto dos mais vendidos na In- Biaterra quando 2 Decea ja havia mudado de idéia — ¢ quando os Sto- nes jd haviam amadurecido o bas- lante para 0 estiidio. idham s6 errou ao dimensionar a frase que cunharia para vender os Sio- es como produto — jé sem 0 feioso ian Stwan. “Os Stones nao so ape- has um grupo — sdo um modo de vida", diria ele, calculando mal o al- cance de sua aventura: desde o inicio, ‘0s Stones representariam nao apenas © rock’n roll mais crue mais proximo do R&B tradicional que a Inglaterra jamais conheceria, mas tambem tudo ‘de abominivel e baixo que o Reino Unido preieria nao ver na explosdo pop dos anos 60, Ndo apenas os Sto- despenteados de toda a historia con- temporanea até entio, como também no se conformavam com modelitos de ternos ou reveréncias a Familia Real, O critico none-americano Ro- ben Chrisigau explicou com clareza a estratégia de que Oldham se aperce- beria iogo. “Os Stones pegaram a rotada porque Oldham {oi astuto 0 bastante para aplicur a Primeira Lei da Cultura Jovem de Lite Richard sua banda qualquer coisa — ele ator- mentava os pais e, assim, conquistava aimeninada, Os Stones representavam, tudo aquilo que os pais sempre teme- ram no rock'n roll, especialment desse bando feio: apocalipse jover.” Por uma década os Stones ganha- Fam manchetes — € ddio/amor subse- Go Head's Soup ~ (73 Lies Only Rack: © Rod ~ (74) 7 No Stone Unwed — (74) attologia, 4 lack and Blue ~ (76, 1 Love you Live — 7}. 4 Some’ Gor = 7. + Eimoonal Rese — (80). 1 Suaking the Sevowtes (81) amtologia. OBS: + disco langado no Brasil A banda daru muito apenas um LP e aprontou dem: brigas, violencia, agitacdo geral. E entrou para a historia do rock. vy ae Ne aaa O RUGIDO DE JOHNNY ROTTEN ac ck cern a caine, Sear ae eee, eli ee an aes se, quem sabe, a alguma grana fic ‘Conceber o produto certo para a época certa. Subir na onda antes que cla se forme. Esta historia jé foi con- tuda antes, duas vezes pelo menos: quando o coronel Tom Parker perce- bbeu que atras da sensualidade de Elvis, havia basicamente um caipira bem- educado, ¢ quando Brian Epstein viu nos Beatles a mistura certa de cabelo ¢ sonoridade para encantar adoles- centes entediadas. Uma vez, a migica funcionou plenamente segundo os designios do encantador, Da outra vez, nai Mas agora tratava-se de fazer o tru= que ao contrario, desfazer 0 conquis- tado, explodir as pontes. Funciona- tia? am an Anti Christ. 1 am an anar- chist. No ffuuauture. No ffuauture. 1975 era rock gordo, flicido e de bem com a vida pelos estidios ameri- ‘canos. Joias de turquesa, limusines € mansoes em Beverly Hills. Woods- tock aparecia em sua exata dimensio um grande especial de TV-cinema- disco concebido ¢ realizado pelo mais, poderoso conglomerado de entreteni- ‘mento da Terra, o grupo Wamer/Kin- ney. Alguém se importava? Sua pla- 36 téia estava toda trancada em seus quartos ouvindo os Eagles numa apa- relhagem digital com quatro caixas, pré-amplficador, equalizador, uma piscina jacuzzi na varanda € uma vodea na mio. 1975 na Inglaterra era desemprego, inflagdo, tensdes raciais, familias re- movidas para conjuntos habitacionais medonhos na periferia das cidades (conhecemos bem esse quadro, nao €2), Malcolm McLaren. sentava-se atris de seus cabides de roupas de couro (sua loja chamava-se Sex e ver: dia caleas com correntes e camisetas Pornogrificas desenhadas por sua mulher, Vivien Westwood) e esperava ue seus anjos da destruigao entras- sem porta a dentro. Ele sabia que vi riam, mais cedo ou mais tarde. As ruas de Londres estavam fervendo. Vieram, é claro: primeiro trés garo- tos de familias operarias que sistema- tivamente roubavam camisetas en- quanto ouviam a juke box-Paul Cook, Steve Jones ¢ Gien Matlock, MeLa en puxou papo: o que eles queriam na verdade era formar um grupo, para matar 0 tédio. Cook estava aprendendo a bater numa batera len Matlock tocava baixo e Steve nao sabia fazer nada, por isso cantava, © coragio de McLaren batew mais rapido: toque guitarra, ele disse, em quinze dias voce aprende; acharemos um 6timo cantor. Ele estava pensando num certo John Lydon, um adolescente patido como a morte, de dentes limosos, pés tortos e corcunda, que se diveria cus- indo nos passantes em frente i loja e se vestia com uma camiseta do Pink Floyd que ele mesmo tinha rasgado e escrito, por cima do logotipo do grupo: 7 Hate, PESADELO Reunidos os quatro anticristos, agora era arombar a festa. Cook ¢ Jones rouburam aparelhagem da banda de David Bowie. MeLaren batizou-os Sex Pistols e eles comega ram a invadir os palcos dos elubes ¢ pubs ~ literalmente — expulsando os grupos € detonando uma magaroca Tuivosa de eletricidade rugido. ‘0 que acontece depois € rapide € fuiminante como um’ pesidelo,, Em novembro de 76 assinam com a EMI ~ a gravadora semi-statal da Gri- Bretanha — iangam 0 avulso “Anar- chy in U.K.” e sio despedidos da gri- vadora por “conduta indecente™. As- sinam com a A&M do lado de fora do Palacio de Buckingham em janeiro de 77, recebem 150 mil libras de adiantae mento ¢ sio despedidos da A&M na semana seguinte, embolsando mais 75 mil pela quebra do contrato. Poem Gien Matlock para correr ¢ em seu jugar John Lydon — alias Johnay Rot- ten — coloca seu amigo Sid Vicious, peea de igual quilate ao seu. Assinam fem maio de 77 com a Virgin Records = a maior gravadora independente da Ingiaterra — embolsando 50 mil libras de adiantamento © iangando “God Save the Queen”, insulto preparado especialmente para o jubileu de prata ‘Seus discos so banidos de 9, das rrigios inglesas. Cook e Rotten’ so itacados na rua, a navalhadas por um erupo de extrema direita, A imprensa, Geieitada com a novidade, cai de boca no “fenomeno punk”, ¢ eles caem de boe prensa, pontuando as en- trevistas com palavroes, atacando emte a rainha, 0 desempreg todos os grupos conhecidos de rock ‘Queremos mais bandas como nés!™, ruge Johnny Rotten. Maicoim MeLaren muda 0 nome su foja para Seditionaires (“Sub- versivos", aproximadamente) © es- frega as mis de contentamento. Em juho de 77 sai o terceiro avulso, Preuy Vacant”, seguido peio tinico LP. Never Mind the Bollocks-Here’s the Sex Pistols, © peta Ingiate Holidays in the Sun” —e Steve Jones ¢ Paul Cook desembarcam anonima- mente no Rio de Janeiro, dois ingle- ses assustadoramente bem- comportados procurando Ronald Biggs e um pouco de sol (0 pornodire tor de cinema Russ Meyer dese barca um pouco depois e, juntos, fil mam aiguma coisa do que viria ser 0 caotico e autodestrutivo unico filme dos Pistols, The Great Rock'n Roll Swindle —"A Grande Trapaga do Rock'n Roll — contando entre outras coisas com a figuragdo espomtinea de alguns apatetados jornalistas brasiieiros). DESPEDIDA Em janeiro de 78 langam-se a uma tumuituada excursio americana, De- pois do ultimo concerto (eu disse con- certo? desculpem) Johnny Rouen cospe para a platéia: “Voces ja se sen- tiram viumas de uma trapaga?” O ‘grupo termina ali. Jones ¢ Cook ainda fangam um compacto com Biggs. Swindle faz carreira brevissima nas meias noites da vida, Rotten reas sume seu nome John Lydon e junta-se {a0 impressionamte Public Image Ltd Sid Vicious ¢ acusido do assassinato de sua namorada no hotel Chelse de Nova lorque mas morre de superdose {de heroina antes do juigamento. Mai- coim MeLaren muda 0 nome de sua ioja para World's End, passa a vender roupas de pirata, babados, turbantes & empresa dois novos grupos: Adam tand the Ants (primeiro lugar na pa rada ingiesa por mais de dois meses) e Bow Wow Wow, the end. Essa € uma historia possivel dos Sex Pistois, Mas ha outras, muitas ou- tris, Leiam o verbete Anarchy in the U.K, escrito por Greil Marcus, na Enctclopédia do Rock da Kolling Stone. Leiam 7/988 de Caroline Coon. Eles expiicam tudo muito methor do que ‘A magica de McLaren funcionou e jo funcionou, De nada adiantou abrir 0 jogo, mostrar as cartas ¢ jogar fa trapaga na cara de todo mundo. A Tria destruidora dos Pistols — que acabou consumindo i eles mesmos, a suas proprias origens — abriu uma Fenda no rock'n roll que nunca mais foi colada, Por eia passaram o diiuvio, a anarquia, um turbilhiao de selos in- ependentes ¢ a maior banda de rock do mundo — The Ciash. Depois dela todos os caminhos se tornaram novos € possiveis, de novo. ‘Mas ai ji é ainda uma outra his- tora Ana Maria Babiana DISCOGRAFIA DO CONIUNTO SEX PISTOLS + Newer Mind the Bollocks, Here's the Sex Pials (7) "The Great Rock Roll Swindle ta sonora 60 fle "Flogging @ Dead Horse — antolopa ($0) Cart on Sex Pisols~ Some Product (80) entrevistinbetas ue + disco langado no Brasil 7 Mais do que qualquer outro grupo, este mostrou tudo o que pode acontecer ‘com o rock quando ele acontece longe de sua patria, os Estados Unidos. Qiere navn de to exraordinario no céu do planeta Terra no ano de 1967 para que_c em baixo se produ- zisse tanta miisica notdvel? Quantos comegos, quantas estradas se abrem em 1967” Quantos encontros. ‘Na Londres de 1967 — a Londres de Sigt. Pepper, de Ruby Tuesday, do Great, na Londres da Jimi Hendrix Experience, de Jeff Beck, do Pink Floyd, do Who — quatro miisicos se cencontravam sistematicamente para A GRANDE SINTESE DE QUATRO muUsicos tocar. pela alegria de tocar juntos: Steve Winwood, que estava saindo do Spencer Davies Group com a fama de menino prodigio ¢ uma voz. ex- traordindria, tingida de Ray Charles; Dave Mason ¢ Jim Capaldi, respect vamente guitarrista € baterista, emi- ‘grados do grupo The Hellions; e Chris Hood, flautista-saxofonista free lancer. A eles proprios a misica que faziam Parecia boa, dtima, extraordinaria 2té. Por isso decidiram fazer 0 que era costume na época: trancaram-se por ‘meses numa cottage no campo e de li emergiram como um grupo dificil de definir e impossivel de esquecer — Trafic. Puristas & Tandticos em geral consi- deram este 0 verdadeiro Traffic- Winwood-Wood-Mason-Capaldi — lum grupo que duraria de 67 a 69 © gravaria trés LPs perfeitamente clissi- cos: Mr. Fantasy, Trafic © Last Exit. Prefiro imaginar que esta é apenas a primeira encarnagdo do Traffic e que = acima ¢ além do talento individual de Winwood, que brilharia em muitos outros projetos, individuais e reparti- dos ~ ele acompanharia suavemente (08 fluxos e refluxos do tempo ¢ evo- luiria com graca ¢ elegdncia, em torn do nucleo Winwood-Wood- Capaldi, com colaboragdes freqien- tes de Mason. A primeira encarnagio, como cos- tuma acontecer com toda estréia ‘mais entusiasmada e mais consistente Num jardim de loucuras variadas no meio de uma competiglo acirrada, 0 Traffic. brilhava pela simplicidade. Nao traziam altos visuais, altos solos, altas transagdes: traziam quatro exce- lentes miisicos de formacées diversas ‘mas harménicas (a pegada de Capaldi tinha tinturas funk, Wood gostava de Jazz, Mason se inclinava para 0 pura- mente pop ¢ Winwood acabava de sair de um estigio de adoraczo pelo soul ¢ comecava a se interessar pela angio folk, tradicional), um cantor extraordinirio, capaz. de passar emo- 40 ‘¢do até se cantasse uma lista telefo- nica. (Winwood, quem mais), e pelo ‘menos dois compositores de primeira linha, com o dom simultineo da in- vengao e da simplicidade (um é Win- wood, € claro, 0 outro € 0 relutante Mason, um talento ainda subestimado nessa geringonea toda de rock), As idas e vindas de Mason datam jé desse primeiro periodo, ¢ aceleram 0 encerramento da primeira encama- 40 do Traffic: sai em 67, volta para ‘dar uma maozinha” no segundo LP (onde assina um hit centeiro, “Feelin’ Allright"), sai de novo em 68 (quando © grupo decide encerrar oficialmente a carreira ¢ grava, sem ele, Last Exit), SEGUNDA FASE Em 69 0 Traffic esti suspenso, Winwood namora o superestrelato no superproduto Blind Faith — e no gosta do resultado, Mason retoma seu trabalho com amigos — Delaney & Bonnie, a banda branca de soul so 5 principais — e grava um disco irre- tociivel € injustamente esquecido: Alone Together. Um ano depois, Win- wood decide entrar em estiidic para fazer um album individual, mas no resiste a antiga amizade com Wood & Capaidi ~c € 0 Traffic, reduzido a seu tio essencial, que acaba assinando 0 esplandecente John Barleycorn Must mente em torno da Winwood-Wo espécie de familia de ciganos, incor porando e deixando no caminho ide de Rick Grech, ex- Jim Gordon, bate- nusicos diferentes, baixista do Family ‘os Dominoes de Clapton ¢ 0 pereus- sionista Rebop Kwaku Baah sio os 6 fitho prodigo Dave Mason o Traflic grava 0 entusiasmado Welcome to the tro de suas andaneas Inglaterra. E. com menos © evasivo Mason — que o pipo Taz Sua reentrée oficial em esti ‘Low Spark of High Heeled Boss — mais percussivo, latino, solto um sucesso de vendss. Mas jd em 72 0 processo final de dissolugio ead em andamento. Saem Grech e Gordon, Capaldi chama ami 208 seus, miisicos dos estiidios Muscl © baixista David Hoods ¢ 0 Hawkins — © este re- na Jamaica Shoot out at the Numa faixa, Win: ‘wood se confessa: “As vezes me sinto tiio sem inspiragdo.” Pouco depois cai doente, com peritonite, Tudo suspenso. Um ano depois, 0 rupo recebendo mais o remendo do iadista Barry Beckett e gravando, no meio de uma four européia, 0 du: plo On the Road. Mas ja era o fim, Si hificativamente, todas essas adicGes ‘com a excecio de Rebop — deixam o mendado Teal Fantasy Factory. N grupo no fim da excursio. O album do adeus, When the Bugle Flies, € gra- .do com apenas 0 nucleo basico do Traffic, mais Rebop. Na mao de Chris Wood, no desenho da capa, 0 cireulo segmentado em quatro, simbolo origi- nal do grupo. SINTESE Ao todo, so oito anos de carreira fem duas etapas distintas, da explosio inieia a complexa evolugdo por den- 9 do cipoal dos anos 70. Ao longo desse tempo, nenhuma historia ex: wraordindria, “nenhum evento, ne: nhuma rachadura, O que 0 Traific i fazendo aqui, entao? Porque nesses oilo anos eles encar- nara e explicaram, quase didatica- mente, 0 que acontece quando os idiomas musicais negros, americanos, si digeridos por misicos nao- americanos, Porque n.lhor que qual quer outro grupo — inclusive o flam- boyant Cream, que era basicamente tum tridente, um feixo de trés explosdes separadas \és em sua quinesséncia, Nao se pode atrelar 9 Traific a comboio alg i pauleira, nio sio_psicodelicos, sio progressivos, So um ciaimente, um grupo de misicos. No jardim zoologico do rock’n roll, que abriga igualmente 0 som, a fantasia, 0 presumido, o subentendido, a violén ia, a pacificacio, a revolta, a dome ticagao e o deiitio, eles cumprem um papel — e 0 cumprem muito bem: eles Ha grupos para maluquinhos, gru- pos para revoltados, grupos para opri midos, grupos para complexados, pos para sonhidores, grupos para volucionarios, grupos para utopi © Traffic € um grupo para conhece- cies s0 0 rock ing Ana Maria Babiana DISCOGRAFIA DO. TRAFFIC no Brasil ent 72 ¢relaneado em 90 ‘Lam Spark of High Hecled Bots — 00 no Br @ relancado | “Stout eum Fc = 29 Fe oO te Read ~ (4) dup 20 vivo FC. | 2 Whew ike tagies Pies = 8) FC. More Heavy Trafic (0) antoioga. ons: Tineado no Brasil FC disc forn de catalog ee: CO ac ae UE ad CTT Ces VALE | INFLUENCIA ATE DOS CLASSICOS cozinha (lavando pratos). “Simon ¢ Garfunkel”, respondeu sem hesitar Chris Squire, baixista quatro anos mais mogo que Jon mas que ha 14 meses burilava seu estilo no Syn, grupo de certo prestigio no cenirio rogressivo Jondrino. Jon também adorava Simon ¢ Garfunkel e naque- la madrugada Chris 0 convidou a sua casa. Junto com Nicki, mulher de Squire. passariam todo’ 0 resto da noite ‘compondo. O resultado “Sweetness”. (0 que 05 dois ndo poderiam imagi nar naquele inverno implacdvel era ue daquele conjugado exiguo estava ppara nascer um dos grupos mais in- fluenciadores de tudo que, mais tarde ¢ gragas.a cles mesmos, caberia na de- um estilo que ja @ pompa sinfonica das compo- ‘Ses com arranjos etricos, que ad- ntetiza- dores 20 mesmo tempo. Uma corrup- {cla (a do rock predominante por toda dentro da qual o Yes (porque soava extremamente posi- . Jon explicaria para justlicar 0 finigdo “Rock erudito’ Dureza aciistica e frios a década de estranho bauismo do grupo) foi des- bravador e figura de proa, Pois bem, Amantes confessos das mesmas misicas, ungidos pelas mesmas influéncias, 1a foram John Chris recrutar a banda. Acharam Tony Kaye com um Hammond novinho em folha encomendado (e mais nada, a ‘do ser pouquissimo talento). Do Syn, Chris tirou 0 guitarrista Peter Banks, O baterista jé foi mais dificil, mas aca- baram chegando a Bill Bruford, cara de bebé, com apenas trés shows com © Savoy Brown na bagagem ¢ um es- tilo “meio chinés”, como ele mesmo dizia. Bill era inventivo, disposto, mas logo deixaria o Yes por sua grande Paixdo, a arquitetura. Nao por muito tempo: dias depois, apés uma desas- trosa_apresentacao do Yes com um baterista “alugado”, Bill, aos prantos, pediu para voltar. © primeiro album, Yes, seria rece- “ bido com loas pela critica, puxado por "Sweetness" uma versio inrn- Gada de "Every Lite Thing’, antigo sucesso dos Beales, © piblico cust. ria um pouco a assimilar aquele som no tinha vergonha de $e expor ain. ls om generotade num contexts tho pesado e psicodslico quanto qual. quer colsa que‘o Cream e Hendix jé thessem foto. Eventuaimente, Yes chegou 20 primeiro poso das sas de endagem ingles €, em 69, 0 grupo i aplaudido de pé pela primeira vez, no Royal Alber Fal, quando abriu 0 show para o Crea AMERICA Desde 0 inicio, Jon e Chris manti- veram em. suas mios as rédeas do grupo, de forma despstica mesmo, es- tipulando arranjos, cadencias, harmo- nias, tudo, enfim. E foi assim que, siludidos com a preguiga de Ban} demitiram-no no meio das gravacdes do segundo album, 4 Time and a Word, pondo em seu lugar o jovem Steve’ Howe, 23 anos de miisica renas- centista, barroca ¢ rock. E foi assim que puseram na rua o tecladista Tony Kaye nem bem 0 terceiro disco, The Yes Albun, havia sido lancado. The Yes Albun, de 1971, foi 0 disco definitivo: exato e complexo, inspi- rado e uno, melédico e com vida pré- ria. A partir dele o Yes passaria de ovidade promissora a mestre de sua arte. “Your Move”, 0 compacto do bum, tornar-se-ia uma das miisicas mais executadas daquele ano na In- glaterra. Jé praticamente superestrela ‘em sua terra, que mais faltava, entio, ao Yes? A América, Quando 0 Yes recebeu sua pri- eira_ standing ovation nos Estados Unidos, abrindo para o Emerson, Lake & Palmer na Filadélfia, Tony Kaye ja nao pertencia mais 20 grupo. Em scu lugar, um louro gordo e cabe- ludissimo, tho de Cyril Wakeman, pianista famoso dos anos 50 ¢ 60, lato de sua banda — o Strawbs — ¢ da vida de misico de estidio, para aplicar sua formagio de Royal Academy of Music de fora mais fér- tile prolifica: Rick, carnivoro, beber- io, 0 mais letrado musicalmente de todo o grupo. Ele participaria do disco seguinte, © antolégico Fragile, no qual o estilo Yes se cnistalizaria so berbamente ¢ do qual sairia um grande hit, “Roundabout Desde sua estréia no grupo, Rick seria a estrela do Yes, com seus tecla- dos miltiplos, sua capa cintilante sua pirotecnia musical. E, nao s6 por isso, viria a provocar atritos intensos dentro do Yes — embora brigas inter- was fossem rotina desde 1968 —, con- flitos que o levariam, por duas vezes, a deixar 0 grupo. Quando o album Close to the Edge toi langado, a alianga do quinteto nao resistiu e co- lapsou: Bruttord foi embora ¢ no sew jugar entrou Alan White, ex-Plastic Ono Band, ex-Ginger Baker Air Force, que em 4¥ horas decorara todo 6 repertério do Yes para uma tour pendente. Chamando de “miisica para robs” o material de Close, Wa eman partiu para sua primeira aven- uri solo, aravando (com todos do Yes, exceto Anderson) As Seis Espo- sas de Henrique Vill. TROCA-TROCA Apos Yessongs, um ousado dlbum triplo gravado a0 vivo, viria a gota agua na cisio Yes/Wakeman: Tales from Topographic Oceans, wim projeto ‘mais ininteigivel do que Close, mas ‘em dose dupia — quatro lados inspira- dos nos estudos do iogue Parahansa ‘Yogananda. Wakeman abandonaria 0 n 1974 para nova empreitada solo (sua feerica Viagem ao Centro da Terra, que valeu-lhe 0 epiteto de Ce- «il B. de Mille do rock), cedendo 0 spotlight ao suigo Patnck Moraz, ex- Refugee, recrutado apes a eliminagao clis da lista de pretendentes ‘A estréia de Moraz em Relayer, gravado em meras seis sema- nas, demonstraria de forma mais con creta 0 que todos ja sabiam: 0 Yes sempre tinha sido (¢ por muito tempo mais seria), 0 grupo de Jon e Chris, no qual todos os outros integrantes parti cipavam sem decidir ~ White, Wake- man e, agora, Moraz, eram pistoleiros de aluguel habeis o bastante para atender as exigéncias da dupla ongi- nal. Tanto que a metedrica passagem de Moraz pelo Yes — Going for the ‘One e Tormato jé trariam Rick Wake~ ‘man de volta — pouco ou nada seria notada, ndo fossem os créditos nos discos © suas aparigdes a0 vivo, Dai para diante, a vida dentro do Yes s6 vinia a detenorar. o fim dos anos 70 enterrariam quase tudo aquilo que o Yes representava ~ mis- lucismo esoterico, vegetarianismo, classicismos, superproducdes, supe- rarranjos — e deles sO sobraria Jon Anderson, com uma féril carreira solo, € 0 que poderia muito bem se chamar Yes-Il, sem Anderson, sem ‘Wakeman, mas com os nefandos ¢ es- téreis Buggles em substituicao. Anderson optaria por uma visio atualizada de seus ideatsmos hippies de paz ¢ amor, adaptando-os a visoes Pragmiticas do dia-a-dia. Por sua vez, (9s cacos do Yes teimaram em manter ‘9. nome de ulgo que ndo existia mais, por comodismo ¢ medo de fracasso de uma marca desconhecida, por mais célebres que fossem seus avalis- tas, Wakeman € 0 que se sabe: 0 rei do glace sem recheio, uma casualty superproduzida do Yes que nilo soube digentt sausfutoriamente 0 aprendizado classico junto com a estrada do Rock. Pelo menos o Yes-II foi honesto no tulo de seu primeiro album em cor junto: Drama, Nao poderia haver i= tulo mais apropriado. José Emilio Rondeau DISCOGRAFIA DO ‘CONJUNTO YES, Yes — (6) FC + Time an World ~ (M0) langado no Bra- sil sS.em Th 2 The Yer Album ~ (11) relancado em 74 © Fragile ~ (72) relancado em 76 1 GiSeto the Bdge ~ (2) reancado em 76. “Tales from Toponeaphic Ocean ~ (73) dup, rlaneao em To Yesongs — antologia (73); trplo a0 vivo relaneado em 76 "S Realer ~ (73) relangado em Yesterdays ~ amologia (73) relaneado em 76 "Going for one ~ (70) Tarmato ~ (8). + Drama ~ 0. + Yesshows ~ antologia (81) dup a0 vi + disco langado no Brasil; FC disco fora de catilopo. 5 de exit YE eo eOM Ue star cerns eas Se rer Recerca Ir Dees Perec) ora ee men mise ry Re oe) er ad pera MUITO MAIS problemaitico, com um pendor por miisica classiea e um trumpete logo substituido por um baixo, fornecia a Ris Someta mec Ieee re meren eectn rs Peter ean Seas a eet ROM ante a Cr oon ‘que durante 1 anos seria parte indis- eee re Who, com sua bateria andrquica e in- Coenen t mor i a ‘ano seguinte, depois de um teste signi- roe toate Perret ran) Sco ero once a Cg | Pee er ae tS een eC od ENTRE O CINEMA EO DISCO Deltrey € um Townshend estupefatos Em seus primeiros anos de carreira profissional — primeiro como The Who, depois como High Numbers, fi- nalmente como Who, de novo — 0 grupo foi identificado como uma banda de e para mods: gang juvenil en- tediada, trajada com apuro clean que antecipava a new wave nos primeiros anos 60 na Inglaterra, Era uma adesio oportunista, manipulada a principio por Pete Meaden, depois pela dupla Kit Lambert (falecido no final de abril, em Londres) e Chris Stamp —a tinica ligagdo genuina e legitima entre © Who e 0s mods era 0 gosto por imiisica negra americana, paixio fun- damental de Townshend, Na reali- dade, & exceed talvez de Daltrey —a quem, de todo modo, faltava 2 calma cool do mod genuino — nenhum dos quatro era 0 grupo elegante © por dentro que Lambert ¢ Stamp apre- goavam — muito turbulentos, muito energéticos para isso. ‘A-decolagem do grupo também se deveu, em boa parte, a0 genio de ‘marketing de Lambert’ e Stamp, que souberam transformar um acidente — © choque entre a guitarra de Town- shend € 0 teto muito baixo de um clue binho inglés — num gesto de rebeldia andrquica — 0 quebra-quebra de apa- relhagem que acabou atraindo aten- ‘¢do sobre 0 grupo ¢ 0 endividou du- ante pelo menos quatro anos, até que as_macicas vendagens de Tommy salvassem as finangas. Mas 0 marketing terminou ai — com ‘a centelha tinica do talento indiscuti- vel, que resgata, transforma e con- troia a regra do jogo (como j tinha acontecido com os Beatles, como aconteceria, anos depois, com 0 Clash) 0 Who que sobe ao’ palco do Festival de Monterey, em 67, jé era uum grupo de criadores, ultrapassando a fronteira da mera curiosidade. A fi- leira de albuns com que pontilham os tltimos anos 60 — My Generation, A Quick One/Happy Jack, 0 concei- ‘tual/autogozativo Sell Out ~ mostra a “8 répida maturagio de uma banda re- pleta de energia contradigées, que se leva a sério, que se ridiculariza, que ‘exagera, que brinca, TOMMY Tommy, que eles chamaram a principio de brincadeira, de “Opera rock", eristaliza o talento do Whi de Townshend como usina de id do grupo como intérpretes ativos para trihar os caminhos mais absur- dos sem se perder (em parte, porque nio leva exes caminhos a sé110), Es: pécie de maldieao branda, a saga do Menino cego, surdo © mudo. inspi- rada nas experiéncias de Townshend com — alternada e simultaneamente — © dcido e as palavras do sabio indiano Meher Baba, perseguiu 0 grupo por anos a fio, saidando suas dividas mas cobrando ‘altos sildos: paralisa 0 foco de ateneao, ameaga transformar Ro- ter Dalicey num terno Tommy Wal- Ker, no paleo, em shows, em filme (quando, dirigido por Ken Russell, ele extrapola todo o absurdo implicito na obra original do grupo) Curiosamente, € a aparente mo- dorra eriativa pos-Tommy, somada a0 abort de Life House, um projeto de filme elaborado por Townshend, que surge © que, provaveimente, ¢ 0 me. Ihor bum do Who: Who's Next, ma- duro de equilibrio e paixio, ‘com Townshend namorando os teclados eletronicos, os brinquedos da nova era, € a banda soando coesa como nunca. A etapa seguinte levaria mais de dois anos para ser concluida, re- presentaria, em si, 0 fim de um ciclo: Quadrophenia, concebida para, ser € Soar como “um itimo ilbum”, uma Tevisitacdo de raizes € projetos, um anti-Tommy preto e branco e travado de amargura, se torna 0 adeus defini tivo de Townshend e do Who a ado- lescéneia, a inocéncia, um cumpri- mento i morte antes da velhice que se E ironico pensar que, sete anos de- pois, Quadrophenia se’ tornaria, ela também, filme: s6 que dirigido ‘para ‘uma nova platéia que 0 Who talvez ti vesse sonhado mas nunca pensado ver em came e 0550 — a onda se- guinte, a geracdo seguinte de rebeldes © anarquistas € [uriosos, como eles mesmos tinham sido nas idos de 62, 63, 64, 68. BRIG (As presses iguais ¢ enormes does trelato que equivale a stablishment & das novas geracdes que representam ruplura e denuncia corroem estes anos mais recentes do Who. Como grupo, ele se estifhaca em projetos Gividuais que cristalizam as notorias diferencas dos quatro: Moon, 0 porra-louca; Entwistle, 9 misico si lencioso perseguindo i banda ideal: Daltrey, © vocalista lamboyane, com um oiho no cinema: Townshend, 0 pensador inquieto, desconfortavel em sua recém-adquirida posigio de pa- drinho de punks. Como unidade eria tiva, ele se toma cada vez mais uma extensio dos conilitos e pesadelos de Townshend — 0 que nao impede de produzir musica magnifica, mas tensa, tem Who by Numbers, Who are You, no ilbum solo Empar Glass A morte previsivel mas dolorosa de th Moon — salvo da veihice como ha cangao, mas a que prego? ~ ere undo nas contradict sda. banda, DISCOGRAFIA DO CONTUNTO THE WHO eG Sires my Geeraon — (65) A Quick one While he's Away ~ (66) ‘Insane Party ~ (6) antlogie Happs Jack (67) versio americana do A ‘One oud The Who Sell Oat ~ (67) Direct fs ~ (68) antloia Mog Bax Tre Wh on Tor — (68 too = Tommy — (8) ur dp (00 Bre. stbum npc) iat The Who Vat 1 login ea = (0) a + Who's Next ~ (1), oe {Tommy = G1) am deio, grado com Orquestra Sinfémiea de Landes Bef The Whe Vol = Ci) aclogia * ay Mea? Bond Bound CTI) an- ‘opp Hy ~ The Who ~(2) atl Pop Hisiry—The Who ~(72 anon "Se Bes fom T Je from Tommy — (7) soo + Quadrophenia -"C3) bur dale 1 Bl ad Sods (7) ning) Lie by Neen © 5) + Tommy ~ 03) ba sonora do fie / pap Gs Vl 19 ~ (5) alga / oy” ee S07 The Wo C8 aoa) io are you — 08) + — (79) tritha sonora do ‘imc bon dons ot Fe Ride Al igh (tia sonora dame, sos cule ete at Led (0 + Who's Next boceees! Fae Domes O IDIOMA SAGRADO DO ROCK ‘N ROLL No pegam o mote, recusam o fim: Kenney Jones, pesado mas polido. substitiira © insubstituivei Moon © © grupo ira para estudio c estrada nov mente, € novamente se falara e tuma vez". Ha brigas no pale: gas na imprensa. Faces Dance, 0 lumo album, € desinteressado € senil salvo surpreendentemente por John Entwistle. Daltrey soa contrariado, Townshend deiira de medo de estar velho, ultrapassado, vendido, rio, maduro demais, Ble canta a si proprio fe canta ao Who — suas giorias, seus sonhos, seus impasses. Mas, no fundo, sabe que canta mesmo aguilo que mais ama no mundo, a tinica lingua que sabe: rock'n roll, que um dia tam- bém imaginou ser um clardo arrasa- dore breve e que também se transfor- mou numa duradoura e intermindvel mani. Ana Maria Babiana [LPs INDIVIDUAIS DOS MEMBROS DO THE WHO. +Who Came Firts ~ (72) / + Rough Mix — (77) com Ronnie Lame / | * Enmpy Glass — (60) Roger Daltrey ager Daltrey — (73) /_ FC) Be Ga Vol. 3 ~ (73) versio brasiei- veer Daley See Rac ase ~ (15) / (FC) = oniwe NC lo ola sons do fe ith Noon Te Sues of th Moon — (9) (FC) BS: 6 tn sens Br (FO) dos fore 8 cago. 50 a somites pimeron oe neDacho oon NS emma: vgs Pw RESPONSAVEL 05 ncones SnLANTOS O€ ROCK DE TOD0S 08 ‘ow als Gant ‘vss SOWTRES momen x Compe ops Tem Metal no Polysistem. man Dae a B\-aaema pit ft Este novo “‘system””’ da Polyvox é Metal Tape, oN ee | a ultima palavra para se ouvir e gravat. _Cada vez mais _ £ um equipamento completo, que incorpora Polyvo. x itens inéditos, confirmando o impulso da Polyvox | em oferecer sempre, e cada vez mais, um som | acima do comum. Confira. *

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