Anda di halaman 1dari 5
DILEMAS DA MEDICINA A oferta de Um quimico afirma ter encontrado a cura do cancer, mesmo sem Marcela Buscato, de So Carlos, © Ana Helena Rodrigues: . ees administrador de empresas Oswaldo Luiz Silva Neto, de 61 a cae anos, moraa dois quarteirdes do paelers ns Instituto do Cancer do Estado de S40 pes Paulo, na capital paulista, uma referéncia Skates reer rty poetry red no tratamento da doenca. Mas viajou 240 quilémetros,em direcao a Sao Carlos, no interior do Estado, para buscar ajuda. Desde que descobriu um tumor de 3,8 centimetros no esofago,no fim de setem- bro, Silva Neto vasculha a internet em busca de informagées sobre a doenca. Encontrou noticias e grupos em redes sociais a respeito de uma substancia que tem o poder, segundo seus defensores, de fazer tumores regredirem. Alguns a ape- lidaram defosfo” (mais ici de dizer que fosfoetanolamina sintética) Ela ¢ fabricada num laboratério do Instituto de Quimica da Universidade de Sio Paulo (USP) no campus de S40 los, para onde Silva Neto viajou na quin- ta-feira passada, Seu médico, na capital, recomendou cirurgia. Com sorte, pode bastar para livré-lo da doenga, jé que o tumor nao se espalhou. Depois de ler relatos quase milagrosos de gente com cancer terminal que vive anos & base da fosfo, Silva Neto decidiu tentar a sorte. “Quero tomar esse remédio e evitar uma cirurgia. Enquanto espero marcarem a ‘operagao, vou tomando. Se o tumor re- agredir, posso optar por nao fazé-la’, diz, O médico dele, sua irma, que é médica, ea mulher, também da drea da satide, nao sabiam de sua viagem a Sao Carlos. Ele sabe que a decisao ¢ controversa. 'A fabrica improvisada das cApsulas anuis e brancas, que se tornaram famosas no bocaa boca, fica no pequeno laborat6- rio do Grupo de Quimica Analitica e Tec- nologia de Polimeros. Um tinico funcio- nério da USP é encarregado de produzi-la. im milagre provas. E sugere aos pac: sugere aos pacientes que larguem outros tratamentos No inicio dos anos 1990, fosfo despertou a atencio do entio coordenador do labo- rat6rio, o quimico paulista Gilberto Ori- valdo Cherie, de 72 anos, hoje professor aposentado. “Acho que é uma cura para © cancer’ diz Chierice, descascando o fumo decorda que usaria no cigarro que segurou durante toda a entrevista a EPOCA. Seria uma noticia extraordinaria, no houvesse um grande problema. A substan cia nunca passou das etapas mais basicas de pesquisa: alguns estudos feitos com camundongos ecélulas humanas,cultiva- dasem placas delaboratorioe transferidas para roedores. So estagios muito iniciais de avaliagao, insuficientes para assegurar sua eficicia¢afastar possveisriscosa sau- de (lia o quadro na pagina 64). Em 1996, Instituto de Quimica firmou um convé- nio com o Hospital Amaral Carvalho, em Ja, para estudar “novas moléculas para disfungoes celulares’ Mas 0 hospital no tem registro de estudo com a fosfo. Nunca foram feitos testes clinicos da substancia, em um grande niimero de pacientes, sob © controle de médicos e pesquisadores. Testes assim So fundamentais ¢ euigidos por leis para que um composto seja con- siderado medicamento. E um padrao in- ternacional, A fosfo ndo tem registro na Agencia Nacional de Vigilancia Sanitaria nem pode ser distribuida ou vendida como remédio no Brasil. Mesmo assim, por ra- 20es que a USP nao explica, a fosfo era distribuida abertamente, hi mais de 20 anos, as portas do Instituto de Quimica em Sao Carlos, para pacientes em busca da “cura” do cancer. "Nao estamos autoriza- dos a falar sobre isso”, diz Helena Ferrari, assistente de direao da unidade. Questio- nada pela reportagem, a reitoria da USP nao tinha explicagao para o ocorrido, até a tarde de sexta-feira. Em uma nota, a USP concorda que a fosfo nao € um me- ddicamento reconhecido ¢ afirma estar ® eens em eae 69 — ps DILEMAS DA MEDICINA verificando “o possivel envolvimento de ocentes ou funcionériosna difusio desse tipo de informagao incorreta’ Na semana passada, Helena ¢ 0 vice- diretor do Instituto de Quimica, Eder Cavalheiro, tentavam controlar, sob as vistas da Policia Militar, cerca de 20 pes- s0as que se aglomeravam na frente do scinuto em busca das cépsulas. Varios vinham de outros Estados, como Parand ¢ Minas Gerais A procura aumentou des- de que a historia ganhou destague no noticiério, na semana passada. A distri- buicio, que estava proibida pela univer- sidade desde junho de 2014, foi liberada provisoriamente (até julgamento) por tums decisio do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal Addecisio, de 6 de ounubro, abre a pos- Shilidade de pacientes de cincer terem ireito de acesso & fosfo, Centenas ja ha- viam requerido acesso, negado, pelo de- sembargador José Renato Nalini, no ‘Tribunal de Justica de So Paulo. O argu- mento era factual: “Nao hi nenhuma prova de que,em humanos, a substincia redamada, que ndo é um remédio, pro- duza algum efeito no combate a doencas’. Desde o dia 6, pacientes que exigem a substancia da universidade conseguem excedireito.“Da paraentenderoquepas- gags maNQA ss na cabeca do juiz numa hora dessas ‘Geweldo Line diz Fernando Aith, profesor da Faculda-_SllvaNeto, de 61 de de Medicina da USP.“Eo entendimen- romeee bon to de que as pessoas merecem mantero—tveeedouna direito 3 esperanca” cirurgia (=e EFTUDGS raé-c.incos) ee] OCAMINHO " : DE UM REMEDIO $ | | | | As etapas pelas quais uma 4 } | | 1 | ‘substdnoia precisa passar para Seals i | i £ se tornar um medicamento. i | § j | 1 | $ A fosfoetanolamina nao : 3 3 e 3 i completou nem a primeira i i | i ea sia } ; | Paes t 3 3 + ; TAPAS DE DESENVOLVIMENTO 1) 4/4 1 She te eiee: DEUM REMEDIO . emernererere rn |) rT) | go yoos voluntarios, ‘aia soguranga 0d08a- nda mecicagaa “nermina como deve ser "ado, corn transfor= done organismoe 2 seu feito no Corp ESTUDOS CLINICOS Zoe Determina dosagem. cfcdcia e seguranga do medicamento om umn: ero maior de voluntarios Estuda quanto da substancia tom ofeto paratratar adoenga DUVIDA Aanalista fiscal Katia Pompllio, de 43 anos. Ela para usara substancia da USP Ava soguranga no longo ‘raz ofeitoscolatorais ‘intoragdes com outros romedios. Roune grande ‘mero de voluntaios. a ‘ima fase. So aprovadl, ‘substinoia ganha oregstro dda Anvisa © viraremécho Tal experanga ¢ alimentada por te de cura nas tedes sociais, O debate guard semelhanga com uma crengt religion f compreensivel, diante do med « por um diagndstico de edncer, Nos casos que os médicos informam que nada {ural que o paciente do. A Sociedade Ame- Clinica estima que yam quanclo pessoas ais podem hizer¢ procure qualquer op ricana de Oncologia 80% dlos pacientes recor mentoalternativo,O rise com boas chances de recuperagao abrem imiodo tratamento: padre para seartiseat em terapias mo comprovadas. O paciente perde um tempo precioso de tratamento, ipos de discussio na internet, € substincia deve B, nos g disseminada aida de qu serusada sorinh, mio junto com tra tos tradicionais, como a quimiote 0 “pai” da fosfo, essa orientayio perigosa, “Em py pioterapia nao funciona porque do corpo deve nestudo Chierie emqu 6 sistema de defe fortalecido’, diz, sem ter nenhu publicado que comprove aa Pesquuisadores que publicar com Chierice discordam. O especialista do Ins. FMagilo, mn estudos, em imunologia Durvanei M tituto Butantan,testou a fosfo em animais ¢ células humanas, Confia no potencial da substincia como medicament, Mas no recomenda seu uso antes que testes sejam feitos, nem acha que c remédio, leva substituira quimioterapia, A abordagem de Chierice é de um iro, firma © jornalista Alceu ® Za Mosmo depois que o romeédio chega no mercado, Continua anor monitorad Posqursas com mihares ‘do posons que tomar ‘droga ajuda a encontrar ‘fotos coltorais nso dotootados antes DILEMAS DA MEDICINA mss Castilho, de 45 anos. O pai dele morreu de cancer, em 2009, dois meses depois de descobrir a doenca. Como o cancer esta- va em estégio avancado, os médicos ha- -viam sugerido apenas cuidados paliaivos, para dar conforto.O pai de Castilho quis tentar as cépsullas e recusou qualquer ou- tro tipo de intervencao. “Ele teve um final de vida com muita dor’ diz Castilho. “Esse irresponsivel esté jogando com a a vida das pessoas.” rea crea nO ade de co da fosfo & quase uma religido, Chierice é Deus a defensores Resalvas fata de estudos da substancia sio tomadas como tuma tentativa da “indiistria” de esconder da populacao a descoberta da cura do cancer. Cherie tratado como um ab- negado ¢inj Filho de um fazen- dezo de Rincao, Séo Paulo, estudou qui- mica na Faculdade de Filosofia, Ciencias ¢ Letras de Araraquara. Fez mestrado € Goutorado na mesma area, na USP. Nos ‘anos 1970, virou professor da instituicdo dm $40 Carlos. Agoraaposentado, édono de uma fabrica de impermeabilizante € Ge uma empresa que faz enixertos 6sse08 aisemiene BUSCA Pacientes ¢ familiares na USP om Sto Carlos, espera das cépeulas de fosfo. Na quinta-feira, dia 16, logo de manhd, as cdpeulas hhaviam acabado com um polimero, ambos produtos cria- dos por ele."Sempre quis ser médico’ diz Chierice. “Quando era crianga, via aque la pessoa de avental para ca ¢ para li, pesquisando, e achava que todo pesqui- sador tinha de ser médico.” Chierice, a seu modo, nunca deixou a medicina de lado. E entende a gravidade do que faz. “Bu sabia que estava interferindo em re- comendagdes médicas. Sempre pensei ‘que, mais cedo ou mais tarde, seria preso por exercicio legal da medicina’, afirma. Mas, se eu nao distribuir 0 remédio, quem pensaria nos cancerosos?” ‘Aanalista fiscal Katia Pompilio, de 43 anos, dirigiu mais de 200 quilbmetros,na quinta-feira, de Osasco, onde mora, até ‘Sao Carlos, com uma liminar da Justiga. Estava autorizada a pegar as capsulas. Mas nao conseguiu. Haviam acabado. Ha um ano, Katia trata de um cancer de mama, o roteiro reconhecido: quimio e radioterapia. Agora. cy © tratumento para tentar [anes casos de pessoas que p a tomaram a fosfo ¢ methoraram’ i Katia. Ela considera a possibilidade je tentar a quimio e a fosio tuntas. “0 aye voc? aria?” diz, com lagrimas nes ciboe ‘Chierice conhevewa fosfo quando oe quisava substincias que servissen parg apontar o mineral cilcio nas since ip laboratorio. Leu estudos intertacunas que mostravam.a presenc2 arcane ge fosfo em células cancenyenas. Fou im trigado eaventowa hipotese dea substine cia, produzida naturalmente peo compa, fazer parte de um sistema de defesa anti cancer do organismo. Em purcera cam outros cientistas, publicou alguns etme dos bisicos, mas diz mio ter conseguiiie despertar interesse de instinigies cape citadas para fazer testes. “E preciso ter evidéncias ¢ estudes adequades para comprovar para a comunikiaie cennfice e para 0 comitt de ética das insarsicies que voc? esta lidando com algo rekevane” diz a farmacéutica Vilma Regra Marans superintendente de pesquisi Jo “esa A.C. Camargo,em Sio Paulo. “Ha mule res de substincias que iniber 4 ore ragio das células cancergenas us 9% ccaem por terra (durante us wesces imac.” Pesquisadores que trabulharam om Chierice no questionam seu cate. Mas tambem reconhecem que as est berto ¢ uma pesou maravithost. pensando nos pacientes, Mas so 38> sirios mais estudos”, diz o farmaczuti? Adilson Kleber Ferreira, Ele pest? agdo anticincer da fost no Busi. com animais.“Exiscem milhares det tras substincias em teste, com noua to bons ou melhores.” Na quarta-feira, dia 14, Chere homenageado na Assembles Legsist= va do Rio Grande do Sul, coon tht 2 dalha. Viajou a convite r Sepetat estadual Marlon Santos P07 defende a fabricacio da empresa do governo gauche. 0 Su do ¢ um medium e foi peo eS Por exercicio ilegal da medias realizar cirurgias espiritusis Ma Coen ara FO — aa

Anda mungkin juga menyukai