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GESTAO ESCOLAR, ETICA ELIBERDADE* ela forma como devem entrelagar-se as miiltiplas dimens6es do educativo na realidade escolar, é possivel afirmar com seguran- ga que a relagéo da gestao escolar com a ética e com a liber- dade se da, privilegiadamente, por via da educag4o a que ela, como mediacgao, deve visar. Para que isso fique claro, basta considerar, mais detidamente, cada um desses conceitos: gestao, ética, liberdade ¢ educacao. Embora no senso comum de uma sociedade autoritaria a ges- tdo (ou a administraao, que sera aqui tomada como sinénimo) apa- reca ligada a relagées de mando e submissao, nao é isso que Ihe da a especificidade e a razdo de ser, mas sim seu carter de medi- agao para a concretizacao de fins. Ao administrar, ou ao gerir, utili- zam-se recursos da forma mais adequada possivel para a realizagao de objetivos determinados (Paro, 2000). Mas os fins e a forma de atingi-los nao sao independentes en- tre si, sendo que, em certa medida, condicionam-se mutuamente. ‘Assim, dado determinado fim, € preciso selecionar os meios, bem ‘como a forma de utilizd-los, para atingir precisamente 0 que se de- ja. De igual modo, meios inadequados podem desvirtuar os fins comprometer o seu alcance. A ética, por sua vez, esta na origem constitutiva do homem hist6- © porque € por uma postura de nao-indiferenca com relagdo ao Trabalho apresentado no 2° Congresso Internacional de Educagio do Coléglo Coragio Jesus, realizado em Florianépolis, de 18 a 21/7/2000 ¢ publicado em: Congresso Inter sonal de Educacio do Coldgio Coracio de Jesus, 2. Florianépolis, 2000. Anais: ética e Brasil outros 500. Florianépolis, Colégio Coragéo de Jesus, 2000. p. 92-94. mundo que o homem se apresenta diante da natureza ¢ busca transcendéJa por meio de sua ac4o. Portanto, no infcio (inicio légico, nao Meramente cronolégico), 0 homem se pde diante do mundo que 0 rodeia e que o contém, por sua vontade, ou seja, de forma interes- sada. Ele se pronuncia diante do mundo, comecando por criar um valor. Sua “decisao”, pois, de transcender a natureza (o meramente dado, aquilo que independe de sua vontade) tem uma origem e um fundamento eminentemente éticos. A primeira invencdo humana 6, pois, um valor. £ a partir dessa criacdo, e por ela, que 0 homem se constéi como ser histérico. O mundo natural 6 o mundo da necessidade, daquilo que neces- sariamente se da, independente da vontade e da acao humanas. Mas, 0 homem, enquanto ser diferenciado, nao se contenta com esse dado e se propée o supériluo. Para o homem, “somente o supérfluo é necessd- rio”, dird José Ortega Y Gasset (1963, p. 21-22), & pela negacdo do caré- ter “necessario” das coisas e situagées com as quais o homem se de- fronta que se instaura um dominio de liberdade. Ou seja, se a necessida- de natural independe da acao e da vontade humanas, a liberdade de- pende dele, é criada por ele. Note-se que estamos diante de um concei- to de liberdade que difere do normalmente admitido pelo senso comum, pois nao, é liberdade como mera soltura. Nao basta estar solto para es- tar livre. O pdssaro nao é livre para voar: ele necessariamente voa, isto é, ele nao é 0 autor de sua condicéo de voar. $6 0 homem pode ser livre para voar porque ele criou, por sua vontade (porque ¢ um ser ético), as condigdes (que nao existiam naturalmente) para voar. Trata-se, pois, do significado histérico do conceito de liberdade; 0 historico entendido aqui, nao como mera cronologia, mas como a pro- pria construcdo, no tempo, da humanidade do homem. Ao deparar-se com 0 imediatamente dado (a necessidade natural e suas leis), 0 ser humano, no contato com a natureza e com os demais seres humanos, coloca-se objetivos que transcendem o presentemente posto e, por sua acdo, transforma a realidade, construindo-se como ser hist6rico, como sujeito que faz da realidade seu objeto, de acordo com sua vontade. Mas a humanidade em sua hist6ria produz continuamente co- nhecimentos, valores, crencas, técnicas, tudo enfim que configura a cultura construida historicamente e que lhe possibilita transcender a necessidade natural e construir uma realidade humano-social. £ aqui que se encontra a importancia do conceito de educa¢do, entendida como a apropriacéo do saber, no sentido que nao se reduz a infor- magao, porque se reporta a toda essa cultura acumulada. & pela educagdo que a humanidade pode apropriar-se de toda a produgdo ESCRITOS SOBRE EDUCACA cultural das geracées anteriores © capacitar-se a prosseguir em seu desenvolvimento histérico. Para 0 individuo, a educagao significa sua atualizagao hist6rico-cultural, na medida em que, por ela, ele pode levar-se do nivel meramente natural em que nasce, apropriando-se da produgao cultural existente, € colocar-se num nivel de saber consenténeo com o alcancado pela sociedade em que vive. Esse conceito amplo de educagao como apropriacdo daquilo que é criado historicamente pelo homem revela sua intima relagao tanto com a ética quanto com a liberdade, na medida em que estes sao Campos de criagao humana e, portanto, passiveis de serem apropriados pela mediagéo do ato educativo. Falar, por conseguinte, em gestao escolar € ter presente 0 modo pelo qual, 20 viabilizar a educacao, a gestéo pos- sibilita 0 acesso do educando a ética e & liberdade. Isso significa que a administracao escolar deve ter como escopo 0 oferecimento das con- digdes mais adequadas possiveis para o alcance desse objetivo. No campo da ética, trata-se de garantir, pela educagao desen- volvida na escola, 0 contato com a ampla, complexa e rica varieda- de de valores desenvolvida historicamente, bem como a apropria- gao de concepcoes que apontem para © constante desenvolvimen- to de novos valores comprometidos com uma sociedade melhor. Registre-se, a propésilo, a negligéncia com que, em nossas escolas basicas, tem sido tratada essa questao, descurando-se totalmente da reflexéo, por exemplo, a respeito de uma concepgao de homem histérico como a que estamos aqui discutindo. No campo da liberdade, o papel da gestao escolar esta jnextricavelmente ligado & questao da democracia, nao apenas Ppor- que, pela educagao, faculta-se ao educando 0 acesso 4 ciéncia, a arte, tecnologia, enfim, ao saber histérico que possibilita o dominio das leis da natureza e seu uso em peneficio humano, fazendo afastar assim o ambito da necessidade, mas também porque pode propiciar a aquisicéo de valores ¢ recursos ‘democraticos propiciadores da convivéncia pacifica entre os homens em sociedade. Desde que cada ser humano produz sua propria materialidade, mas nao a produz diretamente, e sim em dependéncia miétua com os demais seres humanos, coloca-se a necessidade da relacéo social. Ser humano nenhum pode viver isolado do contacto com seus semelhan- tes e este fato encerma a questo politica essencial da humanidade: cada ser humano, como sujeito que € € que faz de seu entorno seu objeto, precisa conviver com outros sujeitos sem reduzi-los (e sem reduzir-se) a objeto. Isso evidencia a necessidade de relacdes de colaboracao entre os homens visto que, a qualquer pretexto, as relagdes de dominagao VITOR HENRIQUE PARO st os reduzem A condicéo de objeto, subtraindo-Ihes a qualidade de su- jeito e, portanto, desumanizando-os. E preciso, pois, envidar todos os esforcos para conseguir a convivéncia e a cooperacao dos homens em sociedade, o que € objeto da democracia, se esta, para além de seu sentido etimolégico de governo do povo ou governo da maioria, for entendida incluindo todos os mecanismos, procedimentos e recursos de que se langa mao em termos individuais e coletivos para promover o entendimento e a convivéncia social. ‘A democracia, assim como nao se dé espontaneamente, preci- sando, em vez disso, ser criada pela pratica politica, também precisa ter seus valores intencionalmente apropriados pela educagao, visto que ninguém nasce democrata ou com os requisitos culturais necessarios para 0 exercicio da democracia, Daf a importéncia da escola ter, entre 0s objetivos da educacao, a formagdo para a democracis Voltando para a questéo da gestéo escolar, é possivel afirmar que, para dar conta de seu papel, ela precisa ser, pelo menos, du- plamente democrética. Por um lado, porque ela se situa no campo das relagées sociais onde, como vimos, torna-se ilegitimo o tipo de relaco que ndo seja de cooperacao entre os envolvidos. Por outro, porque, também como vimos no infcio deste trabalho, a caracterfs- tica essencial da gestéo é a mediacdo para a concretizacao de fins, sendo seu fim a educacao e tendo esta um necessério componente democratico, 6 preciso que exista a coeréncia entre o objetivo e a mediagao que lhe possibilita a realizacdo, posto que fins democrati- cos nao podem ser alcangados de forma autoritaria. Assim sendo, o local em que se realiza a educagao sistematizada precisa ser 0 ambiente mais propicio possivel a pratica da democracia. Por isso, na realizagéo da educagao escolar, a coeréncia entre meios e fins exige que tanto a estrutura didatica quanto a organizacao do traba- tho no interior da escola estejam dispostas de modo a favorecer rela- g6es democraticas. Esses so requisitos importantes para que uma gestdo escolar pautada em prinefpios de cooperacéo humana e solida- riedade possa concorrer tanto para a ética quanto para a liberdade, componentes imprescindiveis de uma educa¢do de qualidade. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ORTEGA Y GASSET, José. Meditacao da técnica, Rio de Janeiro, Ibero Americano, 1963. PARO, Vitor Henrique. Administragao escolar: introdugao critica, 9. ed. So Paulo, Cortez, 2000. ESCRITOS SOBRE EDUCACAO OPRINCIPIO DA GESTAO ESCOLAR DEMOCRATICA NO CONTEXTO DA LDB* a medida em que a administragao seja entendida como a uti- Tizagéo racional de recursos para @ realizacao de determina- dos fins (Paro, 1986), é bastante vasto 0 conjunto de de- terminagées constantes na atual LDB que diz respeito a gestao da educagéo. Todavia, é possivel levantar alguns pontos que dizem respeito mais diretamente & democratizacdo da gestao das unida- des escolares. ‘A este propésito e a guisa de uma abordagem preliminar, apre- sento a seguir seis temas que considero relevantes para a discus- sao. Esses temas nao esgotam, evidentemente, 0 rol de questdes que se podem levantar sobre 0 assunto, nem pretendem ser tratados de forma exaustiva, mas apenas iniciar um debate que pode ser pro- yeitoso para a busca de solugoes € alternativas. 1 As normas de gest4o democratica da escola ‘art 3%. 0 ensino ser ministrado com base nos seguintes prinefpios: G) Vill - gestéo demmoctitica do ensino pablico na forma desta Lei e da legis- Jago dos sistemas de ensino; (co) __ y Trabalho apresentado no 18 Simpésio Brasileiro de Poltica © ‘Admiristragio da Educagio, * civade em Porto Alegre, de 24 a 28/11/1997 ¢ publicac Revista Brasileira de Administracao da Educagao. Porto Alegre, v. 14, 0. 2, p. 243-251, jul/dez. 1998. VITOR HENRIQUE PARO ‘Bat EH — Os sistemas ce ensino definirao as normas da gestao democrati- ‘c= do ensino piblico na educacao basica, de acordo com as suas peculi- ‘eskdades e conforme os seguintes princfpios: ] participacao dos profissionais da educagao na elaboracao do projeto pedagégico da escola; TE participacdo das comunidades escolar ¢ local em conselhos escolares ou equivalentes. OQ). Como se percebe, o Art. 3°, inciso Vill, repete a férmula da Constituicdo Federal que, no inciso VII de seu Art. 206, apresenta como principio “a gestéo democratica do ensino péblico na forma da lei” Em ambos 08 dispositivos, 0 primeiro aspecto que salta aos clhos do educador minimamente consciente da natureza da educa- edo é o absurdo de se restringir a “gestao democratica” ao ensino ptiblico. Significa isso que o ensino privado pode se pautar por uma gestdo autoritaria? Numa sociedade que se quer democratica, € possivel, a pretexto de se garantir liberdade de ensino a iniciativa privada, pensar-se que a educagéo ~ a propria atividade de atualiza- cdo histérica do homem, pela apreensao do saber — possa fazer-se sem levar em conta os principios democraticos? Por aqui dé para perceber a que disparates nossos legislado- res se prestam, quando, cedendo 4 Ansia do lucro representada nos lobbies dos interesses privados, permitem que a légica do mercado se sobreponha & razio e aos interesses da sociedade. A segunda observacao a se fazer é sobre a pretensao que pare- ce estar presente na LDB de, com este dispositive pifio, se entender que a regulamentaco legislativa prevista na Constituicao esteja esgo- tada no Ambito nacional. O principio ai estabelecido ¢ o de que a “ges- tio democratica” se daré “na forma desta Lei e da legislagéo dos si temas de ensino”, fazendo supor que, em termos de legislagaéo fede- ral, esta Lei esgota 0 assunto. Isto € confirmado pelo Art. 14, que es- tabelece “principios” que devem nortear “as normas da gestéo de- mocratica do ensino piiblico na educacdo basica”, que, segundo o mesmo Artigo, serao definidas pelos “sistemas de ensino.” Na verdade, era mesmo de esperar que uma lei que pretendesse estabelecer as diretrizes e bases da educacao no pais contivesse nor- mas bem definidas e com validade nacional a respeito da maneira de se concretizar um principio inerente a propria natureza civil (Gramsci, 1978) da atividade educativa. Mas isso ficou muito longe de acontecer. Ao es- tabelecer os principios que nortearaéo “as normas da gestao democrati- ca do ensino piiblico na educacéo basica’, esse Art. 14 é de uma pobre- cy ESCRITOS SOBRE EDUCACAO za sem par. O primeiro principio é 0 gue ha de mais Obvio, j4 que seria mesmo um total absurdo imaginar que a “elaboracéo do projeto peda- gogico da escola” pudesse darse sem a “participagao dos profissionais fa educacao.” O segundo (¢ tltimol) principio apenas reitera 0 que ja vem acontecendo na maioria das escolas publicas do pais. Além disso, ao prever a “parti ipacdo das comunidades escolar € jJocal em conse- Thos escolares ou equivalentes”, sequer estabelece 0 carater deliberativo que deve orientar a acéo desses conselhos, outra conquista da popula- ¢do que se vem implantando nos diversos ‘sistemas de ensino. Quando os grupos organizados da sociedade civil, em especial os trabalhadores em educacao, pressionaram 0s constituintes de 1988 para inscreverem na Carta Magna © principio da gestéo demo- cratica do ensino, eles estavam Jegitimamente preocupados com a necessidade de uma escola fundada sob a égide dos preceitos de- mocraticos, que desmanchasse a atual estrutura hierarquizante e autoritaria que inibe o exercicio de relacoes verdadeiramente peda- gégicas, jntrinsecamente opostas as relagdes de mando e submis- sAo que sao admitidas, hoje, nas escolas. Em vez disso, ao renunciar a uma regulamentacao mais preci- sa do principio constitucional da “gestéo ‘democratica” do ensino basico, a LDB, além de furtar-se a avangar, desde jé, na adequa¢ao de importantes aspectos da gestao escolar, como a propria reestruturacéo do poder e da autoridade no interior da escola, dei- xa também & iniciativa de Estados ¢ municipios — cujos governos poderao ou nao estar articulados com interesses democraticos - a decisao de importantes aspectos da gestéo, como a propria esco- tha dos

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