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JOAO ALEXANDRE BARBOSA | Biblioteca Imaginaria A sIDLIOTECA EACINARIA Duas Novas Fichas na Biblioteca Calvino, ow a fina posira das paleoras Borges redivivo Nota Bibliogrétea 283 286 297 A BIBLIOTECA IMAGINARIA (0 0 CANONE NA HisTORIA DA LITERATURA BRASILEIRA, Em 1936, foi instituido, no Columbia College, Ee dos Unidos, um curso de humanidades haseado na leitura de “grandes obras’, isto 6, obras que, por com venso, teriam sido fundamentals para a prépria ima- em daquilo que, naqueles tempos, chamava-se, sem ‘qualquer hesitagio, cultura ocidental. Curso roquorid para todos os novos alunos que fentravam no College, a idéia contral de sua institui- io, segundo um de seus mentores, o exitica Lionel Willing, era do enorme candura. Diz Trilling: A idéia era muito simples, era a prépria simplicidade. Consistia na erenga de que ninguém poderia sor edeado ex: ‘iwante ignorante das obras prineipaia da tradigao intelee- wal artista de sua prépria evilizag. [1 A simpliidade ‘iw idéia rigindria do eureo era corobarada pala simpliida- 4e do sou métado, que se propunka superar a ignordncia do estudante acerea dus obras clssions de nosea tradigio por = lum ‘nico meio ~ o astudante leria os livros Neste sentido, ainda segundo Trilling, 08 alunos doveriam abster-se da leitura de obras erftieas acerca das “grandes obras”, dedicando-se somente a leitura Aaguelas obras eseolhidas, © cure, ent&o (diz Trilling), foi coneebido como tendo somente trés elementos ~ um livre; um leitor que chegava a pela primeira vez; um profeasor que talves aio tiverse conhecimento académico especalizada mas quo, em razto de sua experitnein com as obras humanistieas em geral, pudes- fe ver olivro como um todo o ajudar a trazer seus signifies dos ¢ qualidades & consciéncia do estudante. Nao obstante esses objetivos, esta dieta enxuta quo deseartava toda a tradicio critica acerea das “grandes obras", trinta anos depois, mais preeisaments n 1962, dois ex-alunos do curse do Columbia College, Quentin Anderson © Joseph A. Mazzeo, publicaram, pela St. Martin's Press, de New York, um volume de ensaios que resgatava aquola tradigio: The Proper Study. Essays on Western Classios. Era uma grande mudanga de rumo, que também po- deria ser entendida como complementagio necesssria, © prefiicio, escrito por Lionel Trilling, do qual fo- ram extraidos os textos sobre o curso anteriormente citados, procura marear e expliear a mudanca. E esta 6, sobretudo, assinalada como a necessidade de fazer A Dipiorwen 4acnNAniA ‘Acompanhar a leitura dos clissicos por uma conseién- via das transformagOes histérieas de leitura que tormi- nam por intensificar a prépria qualidade cléssica, ou “yrande’, das obras selecionadas. Era, para usar uma expresso do préprio Trilling, © que 6 titulo de um en- wo famoso de sua autoria, 0 “sentido do passado”, quo $6 se apreende pelas variagSes de leitura das cobras, tais como reveladas através dos textos erticos las dedicados. & precisamente este “sentido do passa- «lo®, tio importante para toda a teoria eritica © mesmo ‘poesia de um TS. Eliot, por exemplo, que leva Tril- ling & seguinte reflexio sobre 2 mudanga ocorrida nas suas eertezas aeerca do curso do Columbia: Bstava muito bem dizer acerca dos livros que Kamas ‘ave foram escritos por homens falando para homens © que linham tanto significado para os homens de agora quanto ara quando foram escrito, Into exa uma coisa verdadeira de Alizor mas porecbia-se quo cua verdade dependia de como al udm a dizi, Se alguém « dizia com o (talver inconsionte) propdsito de negar a signifieagio do tempo que passara en- le entdo e agora, 60 alguém tontava jgnorar ou minimizar fs realidade maciga da histéria, entdo nfo se estava dizendo ‘nisa verdadeira, No estudo de qualquer literatura do pnssado exstem duas proposigies a que se deve dar igual peso. Via 6 que a natureza humana é sempre a mesma, A outra 6 tivo a natureza humana muda, 8s vez0s radicalmente, com ‘eda 6pcea histica. O grando encanto ~ ¢ um valor eduea- tivo eontral — om lor obras do passado reside om porecbor 2 verdade das duas proposigées contraditris, oem ver 0 mes- sa diferengae a diferenca no mesmo. A Binijonwes uAcisAnea este modo, ni havin como eseapar: a compreensio literéria, 26 inteiramente efetivada quando preenchida pela variacio histériea, haveria de incluir, para mo- Thor incorporagio das “grandes obras”, como fonte de conhecimento cultural as reflexdes erfticas por elas provocadas no curso do tempo. Polo livro de 1962, sabe-se hoje qual o corpus de autores que compunham 0 curso do Columbia: Home- 10, Hsquilo, Sofocles, Euripides, Tucidides, Aristofanes, Platio, Aristételes, Virgilio, Marco Aurélio, Santo Agostinho, Dante, Maguiavel, Montaigne, Shakespea- re, Cervantes, Milton, Molidre, Spinoza, Swift, Goeth Wordsworth, Stendhal, Melville, Dostoiévski, Henry James e Freud. Apenas Homero 6 discutide em dois textos quo correspondem tis duas epopéins do poeta ‘grego: 0 de Simone Weil, sobre a Ilfada, e 0 de Auer- bach, sobre a Odisséia. Os demais autores sio diseuti- dos, respoctivamente, por Richard Lattimore, H. D. F. Kitto, J. A. K, Thomson, F. M. Comford, Werner Jaeger, Eric Voegelin, S. H. Butcher, W. F. Jackson Knight, Matthow Arnold, Adolph Hamack, George Santayana, ‘Thomas B. Macaulay, Horbert Lathy, Francis Fergus. son, Americo Castro, William Hazalitt, Martin Turnell, Stuart Hampshire, F. R. Leavis, Brich Heller, Lionel ‘Trilling, Jacques Barzun, Richard Chase, R. P. Black- ‘mur, Dorothy van Ghent e Philip Rieff Como em todas as listas de livros e autores eand- nieos, 6 possivel dizer que faltam alguns ¢ sobram ou- tros. Nesta, por exemplo, aos clissicos gregos 6 dado, sem diivida, um espago muito maior do que aos Inti A binuiongea DeacrvAnia nos, gendo cabivel assinalar a auséneia de um Catulo, dle um Hordcio e do um Séneca, assim como esto aus ventes alguna elfssicos modernos de enorme fortuna ha literatura posteriar, como so 08 casos de Baudelai to, Flaubert, Tolati, Balzac. Esta instabilidade de avaliagio quanto As esco- thas, para o leitor de hoje, deixando-se de Indo as mu- langas de valor ocorridas a partir dos anos posteriares 8 Segunda Guerra, ainda mais se acontun no que se rufere ao eleneo de autores criticos escolhidos. Na ver~ ‘lade, nem todos fala ao pablico de hoje como pode- iam falar a0 sistema académico dos anos 30. Se ainda hoje 0 leitor eritico nj anglo-americano convive, eom anais ou menos intensidade, com os no- mos de Weil, Auerbach, Jaoger, Arnold, Santayana, Costzo, Leavis, Trilling ow Blackmur, 0 mesmo néo se pode dizer de nomes como Cornford, Harnack, Lithy ‘on Van Ghent. O que s6 dé razdo aos argumentos tutidos por Trilling em seu proficfo: entre o entdo da instituigao do curso do Columbia College e 0 agora de hnowa experigneia litoréria, cultural © histérica, trans- corret um tempo de modifieagbes de valores que trans- firma o proprio modo de apreensfo o leitura daquelas “grandes obras" explicitado pelos ensaios de interpre- Ingio que as sueaderam, (O que é de estranhar, diga- hw entre partnteses, é quo, solecionados trinta anos ‘lopois, esses ensaios tragam @ marea eritica o ideol6- trea dos ancs da leitura, por assim dizer, ingénua das pprdprias obras, Uma estranha ovorréncia de isomorfis- ‘mo erftico, nfo ha davidal) A Bunuiongea MAGINARIA De qualquer modo, tanto a experiéneia didatiea le- vada a cabo pelo Columbia College quanto a publica ‘940 posterior do livro de ensaios sio momentos impor- antes, o do eonseqtidneias duradouras na tradigfo con- ‘tompordinoa, quer do ensino da literatura, quer na for- ‘magio do um cinone universitario de obras classicas para as humanidades. ‘Seis anos depois de instituido o curso do Columbia College, em plena Segunda Guerra Mundial, mais pro- cisamente em 1942, era publicado, do outro lado do mundo, em Bema, o livra Mimesis. A Representagdo da Realidadle na Literatura Ocidental, de Brich Auerbach, Sem qualquer objetivo universitario imediato, em- bora foste, logo em seguida & publicagio, transformado numa espécie de text-book obrigatério para estudantes do lotras em todo mundo, o livro, a partir de seu eonceito toérico do baso, isto 6, a concopeiio de representagio, que atravessaria grande parte da literatura do Ociden- te, teabalha em silencio com umd nogio de cAnone que se revela na selopio de autores e obras que siio 0 ob- Joto da leitura flolégica, ertiea @ historica do ensatsta Extraindo os sous exomplos de cinones muito ‘mais variados que aquele que se revela no curso do Columbia College, mesmo porque 0 problema tebrico da mimese 6 perseguido pelo autor nas tradigies de ‘obras ¢ autores cléssicos, medic’ bach, ao mesmo tempo em que sejue, altora essas tra- digSes, Iendo textos pouco ou nada lidos , par isso mesmo, voltando a ineluir, em seus reapectivos efino- © modemnos, Auer- A Binulonwes uAciAnia nes, autores, poueo ou nada estudados pola posteridade académica. Assim se, por um lado, os ensaios ineluem autores: quo J estavam no enone do Columbia College, como Homero, Dante, Montaigne, Shakespeare, Cervantes, ‘Molitre e Stendhal, por outro, ampliam a recepefo com ‘autores @ obras como Petronio, Técito, Amiano Marce- lino, Gregorio de Tours, a Chanson de Roland, Chrétien ule Troyes, 0 Mystére @Adam, Bocaccio, Antoine de La Sale, Rabelais, Racine, Prévost, Schiller, Balzac, Flau- hort, os ieméos Goncourt, Virginia Woolf ¢ James Joyce. E claro que existe uma distancia incomensurvel en- Ine 0 livro de ensaios resultante da selegio canénica do ‘Columbia College e a obra de Auerbach: exiquanto aque- lo tinha um explicito objetivo doutrindrio ¢ pedagégico — fiwzer o estudante tomar eontato com as obras considera- ddas “grandes” na tradigio ocidental -, esta 6, também ex- plicitamente, uma investigagio teGrica que se utiliza da- ‘quela tradigao nao apenas como exemplario, mas como fimdamento para desenvolver, pelo menos, trés idéias Indsicas e que sto assim nomendas no “Bpflogo” escrito para ‘ livro: a doutrina acerea dos nfveis da representagto da ealidade, “mais tarde retomada por toda corrente clas- sicista", como diz Auerbach; a quebra desta doutrina elas irrupsies estilisticas romanticas e realistas; e a ‘win precedéneia pela “visto figural da realidade da tar dia Antiguidade e da Idade Média erista”. (O conceito © as significagdes do termo figura so amplamente dis- ‘eutidos pelo préprio Auerbach no capitulo “Figura” de ous Novos Estudos sobre Dante, de 1944.) De qualquer modo, dada a enorme importincia © ‘a ropercussio da obra, as escolhas de Auerbach, sobre- ‘tudo o seu amplo espectro, indo desde Homero a Joyce, deram a obra uma firme autoridade na difusdo acade- mica de um certo cfnone literdtio. B de ver, por outro lado, que este cAnone possui, tanto quanto aquele fir- mado pelo curso do Columbia College, um forte trago slassicista, mesmo quando considera autores © obras medievais e modemes. (O que, por outro lado, ainda mais se acentua pela auséncia, ealvo Homero, a Biblia, Dante e a Chanson de Roland, de leituras de textos posticos, No easo do curso do Columbia College, ocorre ‘© mesmo com os autores ¢ obras estudados, excotuan- do-se Homero, Virgflio, Dante, Goethe e Wordsworth.) Creio ser compreensivel este trago: obras escritas fas véaperas ou durante situagies politicas e sociais de grande tensio ~ a Segunda Guerra Mundial -, quando hhavia uma certa unanimidade em se pensar em amea- 28 A propria sobrevivincia da cultura ocidental, era natural a volta para as rafzes daquela cultura, caso dos grogos ¢ latinos, ou mesmo para aqueles autores € ‘obras que com eles dialogaram nos tempos modernos. esse sentido, pode-se dar ainda como exomplos ‘duas outras obras que, embora publieadas poucos anos depois, foram elaboradas no mesmo perfedo conturbs do e trégieo do livro de Auerbach, Refiro-mo, om pri ‘meiro lugar,’ monumental Literatura Européia ¢ Ida- de Média Latina, de Ernst Robert Curtius, de 1948, cuja pesquisa central — a que diz respeito & transmis- sfo dos ¢opoi dos mais antigos textos ocidentais para ‘A Bipiionsea saornAnia ts tempos medievais e medernos ~ nfo poderia deixar de envolver leituras, andlises o interpretagies mint- ciosas da tradigho eldssica; em segundo lugar, refiro: me a0 livro magistral do Gilhert Highet, A Tradiao Classica, de 1949, eujo principal objetivo & precisa. mente, como esté dito em sou subtttulo, a investigacao ddas “influéncias gregas ¢ romanas na literatura oci- ental”, indo desde os primeiros textos da literatura saxénica até os cotemporfineos de entio: Bliot, Gide, Joyee, Pound, O'Neill, ou mesmo Albort Camus. Livros, portante, quer o de Curtius, quer o de Hi- het, quo, no espago de bibliotecas tensamente amea- ¢adas por aquilo que um outro tpstemunho da época, grande historiador da arte ¢ da cultura Johan Hui- vinga, chamou ‘ss sombras do amanhd, buseavam contrapor Iuminosas reflexes acerea da heranga cul- tural aos ruinosos atos de barbaric que devastavam 0 mundo, até enti, dito civilizade. As bibliotecas que ram destruidas, ov amengadas de destruigao, substi- tufam bibliotecas ideaia; & desordem do mundo impu- nnham a ordem dos livros, recuperada pela silenciosa leitura das ednones eléssicos, monumentos perenes da, tranguilidads horasiona. Neste sentido, hé uma passagem na vida intelec- ‘tual de Paul Valéry bastante ilustrativa, Na introdu- ‘gio que eserever para a tradugio que fez das Bucdli cas, de Virgilio, 0 poeta confessa que 0 seu trabalho, realizado nos anes 40, de ocupagio da Franca pelos slemes, em grande parte resultou de um esforgo para sobraviver as angistias experimentadas, construindo © prolongando para si mesmo as dificuldades de enfren- tar o complexo verso latino virgiliano. Pensando em Virgilio ¢ em suas relagses de peque- 40 proprietério arruinado com 9 poder de Augusto, ‘mas também mencionando a adoragio de Racine pelo Roi Soleil, as maldigdes de Chénier dirigidas aos tira- nos, a abjeta submiss’o de Comnille, o exilio de Hugo ou a preferénein de Goathe pela ordem, mesmo com a vitoria da injustica, Valéry pensa em stia condigdo, a0 afirmar que “[.] 0 homem de espfrito se insurge entio ‘mais ow menos manifestamente, ou se tranea num tra- batho que exala em torno de sua sensibilidade uma espécie de isolante intelectual”. Bra este isolante que ossibilitava o trabalho lento e rigoroso de tradugio, verso a verso, da obra de Virgilio, asim como, durante 98 anos também sombrios da Primeira Guotra Mun- dial, « composieao do poema La jewne parque, publica: do em 1917, somento fora possivel por uma disciplina, semelhante da sensibilidade, eonforme as declaragies do proprio Valéry, nos numerasos comentérios quo fez acerca desse poema, Em ambos os casos, soja na tradugio de Virgilio, seja na realizagio do poema, a forte presenga de um certo ideal elassico que termina por ser, por assim di- zor, um movimento compensatétio de’ trangiilidade com relagio s0s disjecta: membra das convulsoes 0- « dais © politicas do tempo. Deste modo, quer o curso do Columbia College, quer as obras de Auerbach, de Curtius, de Highet, ou 08 dois exemplos da atividade poética de Paul Valéxy, 1 que se poderiam ainda sereseentar numerosas outras vhras, como O Outono da Idade Médig, de Heizinga, 'le 1919, ow A Crive dar Consciéneia Buropéia, de Pats Vazard, de 1935, ou ainda a ronumental Paidea, de Werner Jaeger, de 1983, sio casos notéveis do forte ‘ago classicizante que dominou o ambiente intelectual hwovfe-amerieano e europeu entre as duas Grandes Guer- vhs Mundisis. (sto, diga-so ontre paréntages, para niio toferir todo o movimento de poesia anti-roméntica que ‘lominou um importante grupo de poetas norte-ameri ‘unos, como, entre outros, Bara Pound e 8. Elit,) Por outro lado, se no caso das literaturas européia \ norte-americana a fixagio de eAnones literérios re- ultou astim do aparecimento de grandes ensaios de interpretagio da heranga cultural do Ocidente, quase ompre movidos por wm forte apelo classicizante, dan- ‘lo como resultado uma rigida hierarquizagéo de géne- Jos, ragas e modelos culturais, que somente sera aba- lula pelos movimentos multiculturais de anes recen- (cs, no aso brasileiro a formagio do efnone literdrio eyuit, de bem porto, © proprio desenvolvimento de ossas relagdes de dependéncia e de autonomia com vistas as fontes metropolitanas. Para tanto, contribuiram, sobretudo, os esforgos no nentido de estabelecer um corpus de autores e obras ‘dentificados como brasileires e diferenciados das cr yons européias, em que se destacavam, coma nio po- ia deixar de ser, as portuguesas. ‘Neste sentido, sobrolova o discurso histérieo-literefo, desde as suas mais incipientes manifestagdes romant- A Dinuionsca IuacisAnia A Binuiongea Imaonsnta ‘eas, passando pela. extraordingria sistematizagio de ‘Savio Romero, em fins do século XIX, até as reformula 0s modemas e contemporineas. Foi precisamento um dos autores de importante reformulagao contemporanea. do diseurso histérico-literdrio, Anténio Candido, que, ‘num dos tltimos capftulos de sua Formagdo da Litera- tura Brasileira, inttulado “Formagiio do Canon Literé- vio", sintetizou, do modo exemplar, a questo tal como {oj enfrentada pelos romanticos brasileiros. Diz ele ‘A sua longa e constante aspiragio foi, com efeito,elabo- rar una histrialitordria que exprimisse @ imagem da inte- ligéncia nacional na soqiéncia do tempo ~ projeto quase oo letivo que apense Silvio Romero péde realizar satisfatori ronte, mae para o qual trabalharam geragbs do eiios, or ditos« proféseores, reaninda textne,editando obras, pesqu sando biografias, num esforgo de meio séelo que tornoa poss vel a ous Histiria da Literatura Brasileira, no desinio de 8. Visto de hnj, ease osforgo som-ecular aparece coarente nna sucessio dae etapas. Primeire, 0 panorama geral, 0 “bos ‘qucj’, para tragar rapidamente 0 passado literdri; ao lado ele, & antologia doe poucoe textos disponiveis, o Mrilégio’, fou “parnaso". Em seguida, a concentrago em cada autor, ‘antes roferido rapidamente no panorama: sio as biografias| liters, reunidas em “galeias’, em “pantheons’; ao lado isso, um ineremento de Interesse pelos textos, que se dese- jam mais completes; io ax edigoes, rodigdes, acompantha- * das geralmente de notes expliativas ¢ informagio bingréf ca. Depois, a tentativa de elaborar a histéria, 0 iro doci- rmentirio, construe sobre 08 elemontos citades, [Na primeira etapa, slo 0s eshogas de Magalhies, Nor- bberto, Pereira da Silva; as antologiae de Janusrio, Pereira da Silva, Norbecto-Adet, Varnhagen. Na segunda etapa, as| Diografias em série ou icoladas, de Pereira da Silva, Anténio Soaquim de Melo, Anténio Henriques Leal, Norberto; so a8 cdigGes do Varnhagen, Norberto, Fernandes Pinheiro, Hen- riques Leal ete. Na tarcera, os “cureos" de Fernandes Pi- heiro e Sotoro dos Reis, os fragnmpntos da histéria que Nor- borto ndo chogou a eserover. Se a esta excelente exposigi forem acreseontados alguns daqueles nomes de historiadores @ eritieos os- trangeiros do Romantismo que se preocuparam com a literatura brasileira ¢ sobre ela esereveram, como Friedrich Bouterwek, Sismonde de Sismondi, Ferdi- nand Denis, Almeida Garrett, C. Scblichthorst, José da Gama e Castro, Alexandre Herculano e Ferdinand Wolf, todos antologizados por Guilhermino César em Historiadores Criticos do Romantismo, 1. A Contri- buipdo Buropéia: Critica e Histéria Literdria, tem-se uma perspectiva mais ou menos completa dos esforgos desenvolvidos, nos anos que eorrespondem ao nosso ipiente Romantismo, no sentido de establocer o qua- dro da literatura brasileira, através da reuniso e edi- fo dos toxtos, biografias dos autores e localizagiio his- {rica das obras, enfim, o estabelecimento de um eéno- ne literdrio, cujos primeiros delineamentos, apanas os- bogados pelas vérias ¢ numerosas academias do século XVIII, comegam a se impor pela realizagio de obras de hhistérialiterdria mais enerentes e eonsistantes na repre- sentagio da atividade literdria no Brasil, como, por cexemplo, os textos resultantes dos cursos de Fernan- dos Pinheiro, Curso de Literatura Nacional, ou de So- tero dos Reis, Curso de Literatura Portuguesa e Brasilei- ra, ou mosmo O Brasil Literdrio, de Ferdinand Wolf, todos dos anos 60 do século passado. ‘Assim, nfo obstante a organizagio atordoada © os Jjuizos convencionais do curso do Cinogo Pinheiro, tragos 54 assinalades por Antinio Candido, ali estio arrolados © de certa forma concatenados na série lterdria, alguns dos autores que formarso o elenco candnico das nossas fi tras histérias literérias: Manoel Botelho de Oliveira, Grexsvio de Matos, Rocha Pita, Sousa Caldas, Tomas An- ‘ténio Gonzaga, Manuel Indeio da Silva Alvarenga, Cléu- ‘io Manuel da Costa, Basilio da Gama, Santa Rita Du- 40, Monte Alverne, Goncalves de Magathiies, Porto-Ale- ‘ste, Gongalvos Ding, Teixaira e Souza, Joaquim Norber- ‘to, Joaquim Manuel de Macedo, Dutra & Melo, Alvares de Azevedo, Junqueira Freire, Pereira da Silva, Varnbs- {gon ¢ Jodo Franciseo Lisboa. E 0 meamo Antonio Candido enumerou, em nota ao citado capitulo de sua Forma: ‘ef, 08 autores brasleires estudados par Sotero dos Reis fem seu curso: Duro, Basilio, Sousa Caldas, Odorieo Mendes, Gonsalves Dias, Marques do Maries, Monto Al- vyerne, Antinio Henriques Leal e Jodo Francisco Lisboa bem de ver que ambas as obras ostudam os au- tofes brasileiros entre portugueses, soja conjuntamen- to, como ocorre no caso de Fernandes Pinheiro, seja separadamente, como om Sotero dos Reis. O mesmo ro acontece com a siltima histéria mencionada. Na verdade, o livro de Fordinand Wolf considera a literatura brasileira isoladamente, embora devorrente A Dinuiongen Incas dla portuguesa, ¢ 0s autores e obras por ele tratados, ‘com uma ou outra excegio, so expressies brasileiras i diferenciadas, on em processo de diferonciagio, das (eepenreeet Pelo indice da antologia anexada & obra pelo au- tor, ¢ revelado na iiltima edigio do toxto, de 1965, por Jamil Almansur Haddad, 6 possivel ver que o clenco de Wolf é, sem diivida, mais amplo quo os anteriores, ‘embora, em muitos pontos, coincidente com cles. Da esealha de Wolf fazem parte os seguintos auto- res: Eusébio de Matos, Grogério de Matos, Botolho de Oliveira, Ttapariea, Rocha Pita, AntOnio José da Silva, Basilio da Gama, Santa Rita Duro, Clsudio Manuel da Costa, Tomas Antonio Gonzage, Silva Alvarenga, Alvarenga Poixoto, Caldas Barbosa, Sousa Caldas, Frei Francisco de So Carlos, Eloy Ottoni, José Boni- ficio, Vilela Barbosa, Viseonde de Pedra Branca, Na- tividade Saldanha, Luis Paulino, Januério da Cunha Barbosa, Ladislau dos Santos Titara, Jodo Gualberto Ferreira dos Santos Reis, Teixeira de Macedo, Bornar- dino Ribeiro, Antonio Augusto de Queiroga, Monto Al. verne, Margués de Maried, Gongalves de Magalhies, Porto-Alegre, Gongalves Dias, Joaquim Manuel de Mace- do, Odorico Mendes, Joaquim Norberto, Taixeira ¢ Sousa, Joaquim José Teixeira, Alvares de Azovedo, Junqueira Freire, José Joaquim Corréa de Almoida e Varnhagen. Sei que é longa ¢ cansativa a enumeragio do au- tores; e por ela me desculpo, Mas ereio ser 0 modo ‘mais direto de extrair das trés histérias literérias dos A minuionsoa bexgmrsess ‘anos 1860 05 elementos de formagao do cAnone da li teratura brasileira Na verdade, o8 autores ¢ obras estudados por aque- les historiadores, depois de torem sido editados e sele- ionados por um Joaquim Norberto, um Pereira da Si- va ou um Varnhagen, ou biografados por um Antonio Henriques Leal ou um Antonio Joaquim de Melo, con- forme 0 esquema mencionado de Antinio Candido, pas- saram a ser 0 miicleo daquele incipiente cfmone litersrio que somente serd ampliado, ou dimnimutdo, por novos ext trios de leitura dos textos litersrios, através das pors- pectivas histériceas de um Silvio Romero, ainda no s6- clo XIX, ou do um José Verissimo ja nos infeios do XX. Por outro lado, embora diferentes nos critérios de selogio, quase sempre, contudo, trazendo importante contribuigio para o conhecimento de autores e obras, ‘camo é 0 caso de Joaquim Norberto na edicio dos poetas mineiros do séeulo XVII, ou o de Varnhagen na reve- lagdo de pocmas de Grogério do Matos em sou Florilé- gio, 08 trabalhos realizados por esses estudiosos ro- ‘inticos, gem excesao, eram fundados no principio ba- sioo da exaltagio nacionalista das exprossves brasilei- rag com relagio as fontos européias. Os critérios eram, portanto, a diferenciagio e a afirmagio de autonomia, Sendo assim, a escolha dos autores ¢ das obras, e 1 conseqtiente formagao do canone, se, por um lado, nfo podia fugir ao que, no plano dos conceitos, era tido como literatura segundo os tesricos metropolitanos, por outro lado, todavia, procurava ajustar aquoles con- A BIBUorEcA INAGHNARIA ceitos a uma representaglo que desse conta dos an- seios nacionalistas e, portanto, autondmicos. 1 de ver que, ex quaso ‘todos os exbogos de hist6- ria literéria, com mais ou menos poso em eada caso, a supremacia era sempre a da representagfo, Em cada ceasor se 0 eritério pesava de modo asfixiante na obra do jum Fernandes Pinheiro du mesmo de um Wolf, era me- nos predominante, por forga mesmo de uma mais ar- iguta leitura dos textos, na eclogio mais estrita de um Sotero dos Reis, 0 qual, segundo AntOnio Candido, “dou A sua pétria o primeiro livro eoerente © pensado de histéria Literdria, fundindo e superando o espirito de florilégio, de biografia e de retérica, pela adogfo dos ‘métodos de Villemain*. Isto, 6 claro, no significa o seu desaparecimento como votor de orlentago no diseurso historico-liters- rio, e mesmo na obra de José Verissimo, publicada em 1016, euja eoncepeio era indicadora de um desvio fun- damental daguilo a que um critico recente, Afrénio Coutinho, chamou “tradigéo afortunada”, isto 6, a tra- igo nacionalista da critica e da histéria literéria, po- dia-se ler nos seus parégrafos de abertura: “A litera- tiara quo se eserave no Brasil 6 jf a expresso de um pensamento ¢ sentimento que se no confundem mais, com o portugues, © em forma que, apesar da comun dade da lingua, nao é mais inteiramente portuguesa”. ‘Nao obstante este incipit, que, na verdade, articu- Jn o seu discurso histéricoliterdrio ao dos nossos his- torindores romanticos, toda a tensio da obra de José Verissimo est em como ajusté-lo ao proprio conceito A swwuiorEe4 10 de literatura que se expressa em outro momento da ‘mesma “Intredugto" & Histéria da Literatura Brasilei- ra. Ali, em troche famoso, esta dito Literatura 6 arta literéria, Somente o asrito com o pro- ésito ow a intuipio dessa arto, isto , com os artiicion de invengio © de eomposigio que a constituem, é, « meu ver, literatura, Assim ponsando, qui erradamente, pois nfo me Dresumo de infalive,sistomaticamente exeluo da histéria da teratura brasileira quanto a esta luz se nfo deva conside- ar literatura, Esta 6 nosto lio sinénime de boas ou belase letras, conforme a vorneula nogdo clésica, Nom se me di a pseudonovidade germanien que no vosdbulo literatura eompreende tudo 0 quo so escreve num pals, poesia lirica € economia politica, romance e direito piblic, teatro ¢ artigos eo jornal © até 6 que so nfo eacreve, discursos parlamenta- es, eantiga® e histérias populares, enfim autores e obras de | todo o géner, © avo do titimo pardgrafo é muito claro: Silvio Ro- ‘mero € sua Historia da Literatura Brasileira, de 1888, cuja “2edigo methorada pelo autor”, de 1902, dados 68 seus elementos de ampliagio e a revisio a que sub- meteu 0 cinone do diseurso histérico-iterério roman- tico, fixou-se, por mais de meio século, como o reper- tério candnico por exceléncia da historiogratia literaria brasileira, ndo obstante os desvios e as oposicdes de um ‘José Verissimo ou mesmo de wn Ronald de Carvalho ¢ ‘sua Poquena Histéria da Literatwra Brasileira, de 1919, Hordeiro de toda aquela enorme tarefa de recupe- ragio e transmissao do toxtos resultantes da atividade shan ico-hintrtea dos estudiosos romantics, ¢ findado, arando parte, aaquéla “novidade germéniea” rote rida pejorativamento por Verssime, fazendo, por isso, ‘is historia da lteratara-uma parte de mais ambiciosa histévia cltural, Silvio Romero fot eapaz de, por um ld, fazor da iatiria lterdria um repostério da va- riada caltura do pais © nio aponas de sua literatura, ©, poe outro, gragas a ama intsligenciaagHutinadora 6 emética, ar a sou diseurso histico-iterdrio wma paitio interpretativa com relagao a0 quaro geral da cultura brasileira, que ainda mais se acentuava pelas caracteristias polémieas de seu temperamento, Onedecendo a umn divisto em trés épocas, que corresponseriam so préprio desenvolvimento politico « do pais ~ “perf de formagho, 1600-1750"; “pe- iodo de desenvolvimento autontmico, 1750-18907; « perfodo de transformagao romantica, 1830-1870" -, precedidas por tum aotavel capitulo de metodologia & revisto do trabalhos anteriores, inftalado “Pateres da Literatura Brasileira’, a Historia nfo apenas absorvia os efinones anteriores de extragao setecentista ou ro- mantica, mas apontava substituigies @, a0 mesmo ‘ompo, is Veeos nim mesmo trecho,ligwidava com a8 lista de sutores erigidas pelo proprio Silvio Romero. £ assim, por exemplo, 0 métode adotado por ele a0 considera, no capita 1X da segunda époea, os “Ultie 1 Postas Clissicos", em que, depois de relacionar mais de vinto nomes “de algum mérito © outros sem merecimento algum’,afirma, de modo cortante o dof- nitiv: “His af uma grande lista de nomes obseuros. O JOTRCA INAGINARIA leitor nao se atormente; s6 dos dois tltimos darei uma anilise especial; os outros nfo a merece”. ‘Na verdade, os dois nomes excetuados poderio ser também obscuros para o leitor de hoje: Franciseo Vil lela Barbosa e Domingos Borges de Barros, o Viseonde de Pedra Branca, podem ser tio desconhecidos quanto Luiz Rodrigues Ferreira ou Antonio José Gomes da Costa, embora Os Ttimulos do Viseonde ainda hoje en- contrem os sets leitores, dentre os quais o proprio An- tonio Candido, que sobro ole tece interessante anslise comparativa acerea do tema da morte do filho, envol- vendo também Vieente de Carvalho ¢ Fagundes Vare- Ja, ogo nas paginas iniciais do sua Formagao. 0 leitor onfvoro que foi Silvio Romero teve também essa fungio: acroseontar nomes ans elencos preexistontos| de autores e obras, deixando pistas para leitores futuros ‘mais perspicazes. De qualquer modo, trazendo para a leitura histé- rico-literdria 0 peso de uma formagio cultural ampla, fem que 0s métodos positivistas © evolucionistas, fos- sem inspirades em ‘Paine on em Spencer, eram postos| a servigo de uma urgéncia de interpretagio do préprio desenvolvimento da sociedade e da cultura no Brasil, 1 Historia de Siivio Romoro impunha um corto discur- s0 histéricorliterdrio que foi decisivo na formagao ¢ fi igo do nosso efinone literério, ao menos aqucle que correspondia desde as primeiras manifestagles liters rias nos séoulos XVI XVII até a époea de formasio intelectual do préprio autor, isto 6, © momento crucial do transformagies empreendidas a partir de 1870, em- ‘A BInMlongca MUAGINANtA Jwora cometendo o grave erzo de omitir 0s feconistas do hrtlo XIX, Assim, se aqueles séeulos preenchem o pri- tnwito volume da Histéria, ao segundo eorrespondem as ivi fases do quo chama Romantismo a partir de 1880. Por outro Jado, embora saiba enriquecer as suas Jeitunas com a transerigfo de numerosos textos exem- Plilicatives, © que, som divide, representava um enor Jw yanho para uma historiogratia literéria ainda mal ‘npurelhada em termes de dosumentagio textual, é pre- ‘i amotar que a retérica naturalsta de Silvio Romero jo conseguia ultrapassar a urgencia interpretativa de fuwiter sobretudo nacionalista que ele compartilhava tom os seus antecessores roménticos. E isto, som di- isla, for as mais funestas eonsequéncias para a cons- fitnigtio do enone literdrio, pois a escclha do elenco de futures e obras termina por se definir pela maior ow Jionor eapacidade em funcionar eomo instrumento de fopresentagao do pats. ‘Assim, por exempl, fi este eitrio de selegto a mar- 9 dominante daqueles ecmptndios eoeolares que atua- frum como veiculadores do enone nas escolas brasilei- is, alimentadas, sobretudo, pelas versdes mais redw: hiilow e portdteis do Compéndio de Histéria da Litera- fiira Brasileira, do pesprio Silvio Romero em co-auto- in com Jodo Ribeiro, euja segunda edict, “refundida”, flo 1909, 0% mesmo a Pequena Histéria, de Ronald ilo Carvalho, de 1919, que, embora tivesse a vantagem onoldgicn de trazer 0 diseurso historio-literario até 4) Simbotisma de Cruz ¢ Souza, so assentava em pres- ‘iupostos da mesma ordem que a de Savio Romero De fate, nfo obstante a qualifcagio do titulo, ¢ gran- de a generosidade do autor na enumerasio de autores «obras, quase todos pertencentes ao efnone romeria- no, com a desvantagem, em rolagio aquela, de nao tra- er novidades de investigagio eradita ou de erica pos tica e, muito menos, a garra interpretativa que ali asta presente, (Diga-ze que é mesmo eurioso o fato de que um poeta, surgido sob as influéncias pés-simbolistas dos inicios do eéeulo, chogando mosmo a participar da S ‘mana de Arte Moderna de 22, continuasse tio entranha- damente naturalista ao se metamorfosear em histor dor literdrio, assumindo, por isso, as posigdes conser- vadores da nossa tradigho de historiografia literdria.) ‘Trés anos antes da edigio da obra de Ronald de Carvalho e no mesmo ano da morte do autor, 1916, mas aparecida postumamente, tinha sido publicada a Histéria da Literatura Brasileira, Da Bento Teixeira [1601) a Machaclo de Assis (1908), de José Verissimo. Era, sem diivida, obra resultante de uma Tons ex- periéneia de erftica e ensino: ao publicar a Histéria, José Veriesimo tinha a sou crédito nfo apenas 08 vo Jumes sobre edueagao, etnologia, cultura e literatura brasileiras publieadas em sua fase paraense, em que sobressaom A Edueagto Nacional, 08 dois volumes de Estudos Brasileiros © A Pesea na Amazénia, mas, 50- bbretudo, os volumes que reuniam os seus textos apa- reeides na imprensa do Rio de Janeiro, como os seis) volumes'de Estudos de Literatura Brasileira, os trés de Homens ¢ Coisas Bstrangeiras, ou mesmo 0 volume Que é Literatura e Outros Eseritos, além da edigio de A miouongen pexamsesa algumas obras fondamentais da literatura brasileira, como Marilia de Direew, de Tomés AntOnio Gonzaga, ou as obras de Basilio da Gama. ‘Nesse sentido, pode-se, de fato, afirmar que a sua Histéria 6 wma obra de sintese de toda a sua ativida- de; uma obra de sua maturidade intelectual, & diferen- sada de Silvio Romero, que foi eserita em meio & sua, ‘exuberanto carreira © que, por outro lado, nfo signifien dizer que a ‘obra, em sua claboragio, no se tenha submetide a processo semelhante que orientou a publicagio de ou- ‘ros livros do autor: algumas versées de capstulos fo- ‘am publicadas na imprensa, sobretudo na Revista da Academia de Letras ou na Revista Kosmos, € mesmo 0 plano geral da obra serviu de tema para conferéneias ilo autor em curso da entdo chamada Escola Popular, realizada na Biblioteca Nacional. De qualquer modo, a obra tom grande coeréncia na ordenagio de seus dezenove capitulos, precedidos por uma “Introdugio” metodolégien, j4 antoriormente cita- dda, de importincia para o ostudo de nossa historiogra- fia literéria, percebendo-se por cla, por exemplo, como ft influgneia contumaz do naturalismo de Taine 6 mi- ‘igada pela leitura de Gustave Lanson, de quem a His- loire de le littérature frangaise, euja primeira edigho 6 {le 1894, 6 citada, com aprovagio, pelo eseritor brasi- leiro @ partir da edigdo de 1912. Deseontado o pequeno atraso, comum na recepgio Iwrasileira no que diz respeito ts relaces Titerdtias rom fontes estrangeiras, sobretudo eritieas, a citagio A pinuionsca MsaGrNAntA do Lanson assim como a lembranca de Sainte-Beuve, que ocorre no final do texto introdutério, apontam para um esforgo que me parece sor a marea da tensio fundamental da obra de Verissimo no sentido de supe- var as amarras de sua formaglo intelectual como ho- ‘mem originério do ambiente cultural contaminado por faguilo que Silvio Romero chamou de um “bando de {dias novas” (leia-se, sobretudo, evoluctonismo e posi tivismo) @ que 0 préprio Verissimo, na Histéria, vai, caracterizar como “Modernismo". (Aliés, em nota de rodapé, 0 autor assinala a dife- renga entre o seu uso do termo © aquele adotado pelo critico peruano Ventura Garcia Calderon, em obra de 1010, para caracterizar a literatura hispano-ameriea- tna de corte pamaso-simbolista. Ali, afirma o escritor brasileiro: "Para mim lo modernisino} 6 o conjunto de idéiag Iiterdrias, ou. manifestando-so_literariamente, inflaidas pela corrente geral de idéias floséficas © ciontificas @ que se chamou pensamento modorno”) ‘Sem complicar a periodizagio, accitando como di visores os dais perfodos da histéria poltiea, isto 6, 0 colonial ¢ 0 nacional, Verissimo, entretanto, no foge & regra que orientou todos os seus precursores: a defini- ‘¢40 de uma literatura brasileira, de um modo geral, 6 afirmada pela intensidade maior ou menor de um vago “cepfrito nacional”, sempre pensado em confionto com ‘a8 expressGes metropolitanas. Por outro lado, todavia, por ter da literatura uma coneepgio mais restrita, de certo modo menos conteu- dista e dando maior atengfo aos elementos de forma: A biniovEea Iusctvna lizagdo, que se deduz da afirmagio da literatura como arte literdria, a paixiio interpretativa que fazia da Tei- tura das obras literrins um modo ambicioso de leitura dda cultura em geral, como esté, sobretudo, em Silvio Romero, mas também em seus antecessores romdnti- cos, comega a ser minada por uma paixiio analitica, cembora de teor improssionista ou, antes, Shumanista’, como est no historicismo de Lanson, ainda que disfar- ado pelas declaragSes de objetividade, como muito ‘bem anotou Roland Barthes no onsaio Sur Racine. ‘Era o impasso com o qual tinha que se haver @ obra do Verissimo: uma espécle de aguda dilacoragio entre fa sua formagio naturalista de eritico ¢ as mais recen- tes manifestagées da eriagio poética, dontre as quais avultava 0 Simbolisme, quo exigiam uma ultrapassagem ‘los modelos de critica inspirados naquela formacao. Desse mado, nSo incluiu os poetas simbolistas na istéria, embora a eles, isto 6, aos dais principais, se- undo 0 efnone estabelecido quer por Ronald de Car- vvalho, quer por Nestor Viter, ou antoriormente por Araripe Jnior, Alphonsus de Guimaraens e Cruz e Sou- ‘a, tena consagrado ensaios isolados, de grande in. compreensiio 6 verdade, eoletados nos Hstudos de Lite- ‘ratura Brasileira. Assim como Lanson nao soube ver a hovidade revelueionéria de Mallarmé, assim Verissimo ‘nfo conseguiu vislumbrar a impartdncia da linguagem ‘lo um Cruz e Souza, Em termos de poesia, a Histéria {ormina com 08 parnasianos sobre os quais Verissimo ‘oneontrava o quo dizer, som se desfuzer de sua heran- ‘oa naturalista, A Dipvioneen tuacrsnis # bem verdade, entretanto, que o impasse eriado entre aquela heranga ¢ concepeio de literatura esbe- sada na “Introdugdo” A Histéria 6 também respons4vel pelo modo mais arejada e mais adequado com quo 18 0 Romantisme, que ocupa o contro da obra, e, por outro Indo, que o faz abrir um capitulo especial, o timo do ivro, dedicado a Machado de Assis, percebido, a partir do seu momenta, como culminancia da literatura bra- sileira e pardmetro para o futuro, ‘Mais ainda, e isto é fundamental para a fixagio do cfnone de nossa literatura, gobressai a economia com ‘que trata autores e obras dos aéculos anteriores ao Ro- mantismo, libertande-se da enumeragto exaustiva, caética e, muitas vezes, com qualquer eritério literéio, que havia sido dominante em seus antecessores, Sendo assim, por exomplo, os séculos XVI e XVII redusidos a'sete autores e uma obra de autoria incerta em sou tempo: Bento Teixeira Pinto, José de “Anchieta, Gabriel Soares de Souza, Forno Cardim, Didlogo das Grandezas do Brasil, Frei Vieente do Sal- vador, Manuel Botelho de Oliveira e Gregério de Ma- tos. Do mesmo modo, antes do que chama *A pléiade mineira’, no s6culo XVIII so elencados apenas cinco autores: Frei Manuel de Santa Maria Itaparica, Rocha Pita, Nuno Marques Pereira, Matias Aires e Domingos Caldas Barbosa, Mas onde melhor, e mais adequadamento, se'exer- ce a escolha seletiva e econdmica do autor 6, sem dii- vida, nos estudes consagrades 20 Romantismo, em ‘que, pela certeira classifieaglo de duas goragies, pre- A minulonsce nsscisAata A unions ticagixénia cvdida por um capitulo sobre “predecessores do Ro- tmantismo® e seguida por um outro sobre “os ditimas romfnticos”,“abre eapitulos intermedidrios muito im- portantes, quer sobre o que chama de “préceres do Ro- ‘mantismo’, quer sabre “Goncalves Dins e 0 grupo ma: ranhense’, estabelecendo, desta maneira, um quadro romfntico de autores © obras que seré dominante na, historiografia literéria de meio séeulo depois. ‘Assim, enquanto naquele cria o espago necossério para diseutir alguns autores decisivos ma formagao do ‘cinone romfintico (@ sio ostudados seis nomes: Porto- ‘Alogre, Teixeira e Souza, Pereira da Silva, Varnaghen, Norberio e Joaquim Manuel de Macedo), neste outro, além de dar 0 destaque merecido a Gongalves Dins, ‘sabe valorizar a importineia isolada do grupo quo constituiu uma, verdadeira “ilustragio” brasileira no sGeulo XIX, elencando nomes como Odorico Mendes, ‘Anténio Henriques Leal, Sotero dos Reis e Joio Fran- ‘cisco Lisboa, sem deixar de menecionar, com destaque, f pacta Joaquim Gomes de Souza, euja atividado como tradutor de poesia era exaltada por seus contemport ‘eos, ¢ Verissimo anata a existencia de uma “antolori dds poemas lirieos das principais Imguas cultas” de sua fautoria, embora tena sido esquecida pelos pésteros. Nio chegou, entretanto, a perecber a novidade da lin- juagem roméntiea de um outro Joaquim, Souatindra- fle, arrolando entre “homens de letras ou de saber, todos que com obras de varios géneros e mérito conti nnuaram até perto de nés @ movimento literdrio da sua provincia pelo grapo primitivo inieiado”. Mas este te- ria mesmo que esperar, como © préprio poeta previra, pela atividade historiogréfica de quase meio séeulo de- pois, H, mesmo assim, uma historiografia reivindieaté- ia de uma tradigfo brasileira de linguagem inventiva exercida pela vanguarda poética o critica dos anos 60 de nosto séeulo, Entre a obra rigorosa de José Verissimo e esta his- toriografia de vanguarda, entretanto, o enone da lite: rratura brasileira, em fangio mesmo das inovagdes poé- ticas e ensaisticas que decorreram da ampla experi: mentagio desencadeada pelo movimento modernista de 1922, sofreria o impacto do apnrecimento, nos anos 50, do duas obras fandamentais da nossa historiogra- fia literdria: os seis volumes de A Literatura no Brasil, introduzida, organizada e divigida por Afrinio Couti- tho, euja publieagio se estenden entre 1955, quando apateceram o@ doia primeiros volumes, © 1968, data da tedigdo dos dois stimos, tondo 0 terceiro sido publicado fem 1959, ¢ 08 dois volumes da Formagdo da Literatura Brasileira. Momentos Deeisivos [1750-1880], de Ant0- rio Candido, de 1959, A primeira obra, cuja toresira e wiltima edigdo é de 1086, e ja em co-diregao com Fduardo Faria Coutinho, teve como propésito explicito a realizagio de uma his- ‘6ria literdria que, incorporando os dados do chamado New criticism anglo-americano, tratasse a literatura brasileira em termos estéticos o estilisticos,libertando- fa das perspectivas naturalistas ou impressionistas ainda dominantes na Pequena Histéria, de Ronald de Carvalho, ou mesmo nos dois volumes da Historia da ‘A bintromzes Iuacrsénin Literatura Brasileira, de Arthur Mota, de 1980, © que dizem respeito aos séeulos XVI, XVII e XVIIL este modo, o prinefpio de base ¢ a divisio da i teratura brasileira em estilos de época: eras barroea, neocléssica, romantica, realista, de transigao, compreon- dendo o Simbolismo ¢ o Impressionismo, e modernista, tudo prevedide por um capitulo de “Generalidades” que, na verdade, corresponde ao primeiro volume, © sueedido por um outro de “Relagdes e Perspectivas” © “Conclusio" que forma o sexto e diltimo volume, sta concepeao da obra, obrigando a tratar a lite- ratura seguido eritérios artisticos, se, por um Indo, teve a enorme vantagem de procurar aprendé-la atra- ‘vés de pressupostos estético-estilisticos, afustando al- rans preconesites de muito assentados em nossa his- toriografia literéria, como, por exemplo, a negagio do Barreco ou a incompreensfio com a escrita simbolista ‘ou impressionista, nem sempre, por outro lado, & bem. resolvida pelos intimeros colaboradores, nem todos, é claro, afinados com tal concepsfo. Sendo assim, se aa diversas introdughes escritas pelo organizador para os seis volumes revelam uma maturidade eritiea ¢ um amplo conhecimento das mo- demas correntes erfticas que sustentam o excelente plano da obra, os ensaios particulares nem sempre correspondem aos propésitos ali fixades Entéo, se, no primeiro volume, destacam-se, pela sistematizagiio do conhecimento na drea ou pela novi- dade de perspectiva, textos como o de Wilton Cardoso sobre a lingua literfria, 0 do Camara Cascudo sobre nae 4 Daan lteratora oral eHeratura popes ode Femando de ‘eve sabre a escola ea Herta, ou ode Antonio Candido sare o etnioro 0 tlc,» elu scsi ressentindose da suena de texas que dsc a Prépria motodlgin aatada nn obra, isto ension {eS Ingen sla Pirin cori tx al cada iteration eg, inclusive, om os tos abordados no volun, De moto eome foram concbidos © renizadss, os eneaios do primeno volume parecen dese to prs, dau nd ‘eis Intron qo eatio sempre presents nan ie Verna litera de corto naturalist, : Tote tah entios eo emjunt do txts partial ves seguir eit pou, on quasononhumeyrlapo ___Baerts por autos diferentes, com metodo ¢ ob fetivos avers, Ini tacnn, indopendontss de. sun Ialor ou menor adoquagto, no tsabalham, em ger, 4 mesma linguagom ee isthe daqula ental ida para a obra em gers, Aas, por exemplo, eae tana enorme dation entra linguagem do organi fore istara dew seus Monta, Ou de-um Wt son Marin, no iio volume, Na verdade, queen. A dar eapago A plvalidade de abordagens, x obra ho Imogencra de al tneina os linguagees que termine por anol a linguagem eten que nna Por ebjeive conseguln De qualquer modo, a abr represnion uma ropto ra, ao menos de props, om raagio heise tural nila por Sivo Romero ~ dat, no tino volume, Alin Cov flr enpitamente de ome A Binuiongca nesaisinis romisso anti-romeriano da obra -, ¢ se, por um Indo, ‘la continuidade ao cénone de autores © obras fixado mntro daquela tradigio, por outro, em casos isolados, ‘ jragas aos esforgos individuais de alguns colaborado- res, aoreseenta nomes e obras aquele cinone. Refiro- mo, sobretudo, aos estudos de Andrade Muricy sobre o imbolismo ~ Muriey 6 também o responsével pelos volumes antolégieas do Simbolismo, intitulados Pano- rama do Movimento Simbolista Brasileiro -, ou mes- imo 0 texto de Fausto Cunha sobre Romantismo, em ‘que j4 vem destacada a singularidade de Souzindrade dlontro daquele movimento. Ou mesmo os estudos neorea do regionalismo na fleglo, no volume dedicado ‘era realiste’, através de uma classificagao ema ciclos = nortista, nordestino, baiano, contral, paulista e gail- cho =, em que muitos autores ¢ obras sio recuperados 6 interpretados para 0 conjunto da literatura brasilei- ra, como 6 0 caso dos nertistas Alberto Rangel, o José ‘Vorissimo ficeionista das Cenae da Vide Amazénica 01 ‘Viana Moog, dos nordestinos Oliveira Paiva, o Araripe Finior fecionista, Carneiro Vilela ou Mério Sete, dos baianos Xavier Marques, Muniz Barreto ou Elvira Foepell, das mineiros ¢ goianos Feliio dos Santos, Afon- 50 Arinos, Godofredo Rangel ou Hugo de Carvalho Ras ‘mos, dos paulistas Valdomiro Silveira, Cornélio Pires ou Hilério Técita, dos gatichos Caldre Fido, Apolinétio Porto Alegre, Alcides Maia ou Simoes Lopes Neto. Enfim, um eonjunto de autores e obras do momen- to realista que apontam para a tradigao regionalista na literatura brasileira que vai atingir 0 sew apogeu & ean maior refinamento ostititico na dena de 80 do séew 1032 om um Graciano Ramos, um José Lins do Rog ou mesmo, no extremo sul, um Erico Verissimo. Mais uma vor, nttetant, 6 presse dizer que oe enseios enmespondenten a cia wm dos eis s80 mu to diveron om mun peropectivas de abordagem « em seu aleance erties, indo desde o mais inginue impr. sions o put e simples levantamento de dad, da. tas, autoreto obra, como no easo do Adetbal Jurema bye 0rd at ala Observagbes de um eco amass, no que diz eopeita ‘a0 ciclo gaticho, como Augusto cell i Sendo assim, lida com o discernimento eritico ade- quado, a obra organizada por Afranio Coutinho repre- sentou, sobretudo no momento de sua publicagio, a possibilidade de uma leitura mais ventilada do! enone da literatura brasileira, quer reorientando este mesmo cinone, como nos exemplos mencionados do Barroco ou do Simbolismo, quer a ele acrescantando elementos gue, mais tarde, serdo importantes ¢ mesmo decisivos: para leituras de movimentos ou autores contempord- neos — caso do Regionalismo de 30 ou da obra de um Jofio Guimaraes Rosa ¢ um seu precursor, 0 gaticho ‘Simos Lopes Neto, Mais ainda: a obra buseava indicar, no plano to6- rico, a viabilidade historiografiea, para o easo brasilet- ro, de uma loitura fundada numa concepgiio estétieo- estilistiea da literatura que se opusesse A pesada ear- ga naturalista da tradigao, ‘A Binulonges tuactxAnin hora existissem esforgos anteriores que, 2s vo- es vuyamente, acenassem para uma abordagem se- jiellunte, © 6 bastante lembrar a concepsao de José Verinsimo, da literatura eomo arte literdria ow mesmo to estetizante ¢ impressionista de uma literatuka Jnw-brasileira tal como era defendida por Antonio Noweess Amora em sua Historia da Literatura Brosilei- hu publicada no mesmo ano, 1955, de aparecimento de \ Literatura no Brasil, esta, de modo mais eonsistento ‘6 om maiores dimenstes, fazia a defesa explicita fquele método, embora nem sempre, coma j4 se vit, Mingisse a sua plena realizagio, dada a heterogenci- ‘lade de seus eolaboradores. ‘Um deles, Anténio Candido, ostabeleceria uma es- Iyécie de eompromisso entre a heranga naturalista, e hhiw me refiro apenas & tranguila autodefinigso rome- riana, mas, sobretudo, ao impasse que se registra na ‘lira de José Verissimo, © uma leitara analitica da obra Jiterdria ingpirada também em abordagens aprendidas ‘quor com o New eriticism, quer com a estilistica de wm livo Spitzer, ou, mais ainda, de um Erich Auerbach. (resultado foram os dois volumes que constituem A Formagao da Literatura Brasileira. Momentos Deci- sivos (1760-1880), publieados em 1969, mas, segundo informagio do préprio autor, redigidos entre 1945 ¢ 1951 e revistos nos anos do 1955, 1956 e 1957, ano em que assina o prefiio da obra. (Assinalese que € do mesmo ano de 1959 a publicagio do primeiro volume, ‘de um conjunto de cito, de uma obra que é um marco dda historiografia Lteréria publicada no pafs, embora A Bintiomsca tuacisAnia no trate da literatura brasileira, a nfo ser muito marginalmente, ¢ ser eserita por um brasileiro de ado- ‘fo; reflro-me A Hist6ria da Literatura Ocidental, do Otto Maria Carpeaux, em que se busea aplicar ao es- tudo da literatura, historieamente considerada, o mé- todo ostlistico-sociolégico, aproximando-a por ai quer do projeto da obra de Afranio Coutinho, quer da obra de AntOnio Candido, como se vera.) ‘Tendo por objativo o amplo estudo de trés momen- tos da literatura no Brasil — 0 Arcadismo, a Tlustragio © 0 Romantismo -, talvez o principal trago distintivo da Formapdo seja 0 deslocamento do eixo de aproxima- fo histérica a nossa literatura: em lugar de uma perspectiva eminentemente interpretativa, que domi- nara toda a nossa tradigio histérico-eritica, na obra de Antinio Candido se acentua e se intensifies 0 eixo analitico, 0 que signifiea dizer que nao se utiliza a li- teratura como vefeulo de uma interpretagio cultural, mas, respeitando-se a sua autonomia como obra de arte, busca-se estahelecer caminhos de acesso Aquela, Por outro lado, embora tenha uma forte ¢ bem ceonstrufda interprotagiio do lugar da literatura na eul- tura brasileira em geral, as relagdes de interdependén- cia entre autor, obra e piiblico que embasam a nog do sistema literério como, teoricamente, oposto A no- co de manifestagio literdria, e que, ao mesmo tempo, asseguram a coeréncia das andtises particulares e per- mitem o revezamento canstante entre historia ¢ litera tura, isto néo oblitera a predomindineia do jutzo erftieo fundado na andliso literéria. Num determinado paso A mipLiorgck biaaivdeia ‘lo “Proffcio’, o autor deixa explicita a trama composi- iva da obra, a0 afirmar: “A base do trabalho foram vssencialmente os textos, a que se juntou apenas 0 ne- ssadrio de obras informativas e eriticas, pois o intulto {oi néo a erudigio, mas a intorprotagao, visando 0 ju ‘0 eritico, fundado sabretudo no gosto". © que faltou dizer, para que a trama se completas- ve, @ 6, cextamente, dado como dbvio, 6 que entre a interpretagio ¢ © jufzo eritieo resultante, ainda que tondo por hae um vago “gosto”, estava o momento de- cisivo da andlige, sem 0 que aqucle juizo, ainda mais se confundido com o “gosto”, nada teria de critico. ‘esta nossa inferpretagio encontra o seu respaldo na. propria obra, em que os capitulos mais gerais de pre- varagao a Ieitura individualizada dos textos literdrias, vobretado no primeiro volume, quando slo diseutidos coneeitos culturais como raafo, natureza e verdade a m de apreender a figura a extrair do nosso século XVI, nfo apenas servem de fundo as obras literérias vungidas dos movimontos academicistas, em que se singulariza a de Sousa Nunes, mas ja aparecem como rosultantes da Ieitura das complexidades impostas pola posigto de intervalo assumida pola poesia de Cléudio Manuel da Costa, Que estas complexidades vjam antes extraidas da Ieitura dos poomas de Cléu- lio que decorrentes de uma aproximagio interpretati- va daqueles conceitos de cultura 6 marea do pendor ‘unalitico do método hist6ricosliterario do autor. Neste sentido, por exomplo, 6 fundamental que a loitura da poesia de Cliudio, eneontrando a sua meté- fora erftica essencial na relagio entre a recha, como imagem recorrente, ¢ a brandura como sentimento con- trastante, nao venha a escamotear a presenga de ele- mentos de toda ordem, os sociais, as histéritos ¢ psi col6giens que, por assim dizer, so resolvidos na estru- ‘tuna estética da obra. B esta resolugio, quer dizer, este resultado enquanto obra lterdria, que define o lugar a poesia de Cléudio no sistema literério, instituido pelo sentido quer da histéria em geral, quer da histo- ria literdria em particular. Este modelo de andlise domina a Formacéo, ¢ ain- a no primeiro volume é 0 que permite as earactoriza- 808 areddicas dos pootas pertencentes aquela “pléiade ‘mineira’, na expressiio de Jos6 Verfssimo, lidos por to- dos 08 antecessores da tradigao histéricoditerdria. Se nao hé novidade no sentido da flxagio canbnica, a lei- ‘tura agora emproondida, dado o seu teor fortemente ‘analftieo © judieative, 9 que vem acroscontar si0, so- bbretudo, argumentos mais fortes e plenos para a pré- ria canonizagho. No entanto, ainda nesse primetro volume, 6 possi- vel indicar um momento de salto na leitura do einone de nossa literatura. Refiro-me ao eapftulo VIL, “Promo- elo das Luzes’, em que sto articulados os elementos que, através de alguns nomos © obras, construfram ‘uma espécie de Hustragio brasileira, a “nossa Aula’ rung", como a denomina o préprio Antonio Candido. ‘Nomes como Sousa Caldas, Antonio Ferreira de Aragjo Guimaraes, o diretor de O Patriota, Hipslito da Costa, do Correio Brasiliense, Frei Cancea ou Evaristo a00% A bimuorgen IuscrxAesa dn Veiga, todas autores do que Antinio Candido cha- tna “€neros publicos", so resgatados da histéria poll ica para a literéria por meio de pertinentes andlises toxtuais © de estilo, construindo o eritic, as vezes, me- atoras de grande eficéeia como, por oxomplo, ocorre tu» tratar do estilo de Evaristo da Veiga, em trecho no Al cita até mesmo Roland Barthes, quando ainda a muito pequena a voga do eritico frances no pats: Como escrito fel @ orrste, sbandonando pouiens é- ve 0 tom do sorenidade, objetivo e simples. O seu perfodo ovo Jargueza, como era cemum no tempo, € quando 0 ‘unlor da argumentagdo o empolga chega a ser muito exten- to, cortado de subordinadas, sem perder a clareza e 0 fio. So rolomarmos a imagem propesta mais alto, e imaginarmos a vost como algo erginico ao escritor, fozendo parte do eu xp e prolongande no cantata com a pégina o ritmo da sua, wile, diremos, & manera simbsljea de Roland Barthes, que lo Hpi da Casta & um estilo encéfalo, ode Frei Caneca um tito congue, 0 do Bvaristo um estilo inte. Necessério a Vid, mas pélido, evocando idéias de serenidade e median, Da mesma maneira, ainda que se conservando abe- \liente a0 enone tradicional da literatura romantica no Hirsi, em que os autores e as obras destacados so, om inlese, aqueles mesmos examinados por seus antecess0- Yo sti a8 andlises e nfo apenas a afirmagio de impor- Minin interpretativa que operam ponderdvois desloca- Jnentos no modo de fixé-los em nosso enone literério. Sendo assim, por exemplo, a prépria obra escolhi- ‘ly para marear a intensidade do indianismo em Gon- A binuromen 1s0INAna salves Dias, 0 poema “Leito de Polhas Verdes’, renova fas abordagens ao poeta, na medida em que as obser- vvagées do leitura procaram uma sutura de elementos significatives a partir dos aspectos da composigao, por ‘assim dizer, tdenieos do verso, em que ritmos © imax gens produzides pela Hinguagem s80_privilogiados ‘como agenciadores dos mais profundos significados do texto, ‘Assim, também, a idéia central da nossa fleeao r0- mantica como “um instrumento de descoberta o inter- pretagio’, tal ecmo se prope no Cap, 3, em que se destacam as leituras de Teixeira © Sousa, e Joaquim Manuel de Macedo, eonsegue oparacionalizar uma re- leitura do “aparecimento da fiego” no Brasil, fugindo ‘ao8 eacoetes ertieos usuais, acenando para a atividade ficcional como meio de representagio literdria que, a0 mesmo tempo em que decorre, acresconta elementos do invenelo a leitura da realidade. E no somente a andlise da fiogio mas a fieeo como. anélise: uma invengio eritiea que 96 a tonsa relacio entre o historiador e o critico, sabendo impregnar 0 igcurso histérico-terdrio com elementos fundamen- ‘ais do discurso eritico-tesrico, conseyue expressar. ‘Nao se voja al, entretanto, apenas a contribuigto tebrien dos movimentos criticos mais ou menos ean ‘temporineos do autor, como a estilistica ou o New cri- pereepgio de tai autores e obras da ira foram essenciais os préprios poo- tas safdos do Modernismo de 22, destacando-se os dois que também foram pootas-eriticos: Mario de Andrada A Binuionsen IactsAnsa » Manuel Bandeira, 8, sem divide, com eles, além, 6 tlre, de seus antecessores de historiografia literdria, ‘que dialoga 0 método eritieo de Anténio Candido, ow, mo- thor, a eserita extica dele, acerea da poesia e da prosa «ly fiegto do Romantismo, Nao é de estranhar: & dispo- viii estavam os ensaios @ as valiogas antologias de Ma- nel Bandeira para os poetas, ou as observagses inter- )rotativas, de trago muito pessoal, de Mério de Andra- ‘lo quer sobre os poetas, como, por exemplo, Alvares do Nvevedo, quer sobre a prosa de fiegio, bastando lem- hnvor José de Alenear ou Manuel Anténio de A\lmeida. Por outro lado, todavia, a pressio sobre o einone ‘onniintico, neste segundo volume da Formagdo, é exer- |i sobretudo, de maneira marginal, em subeapitulos ‘om geral, trazem a denominago de “menores’. Neste sentido, vale a pena assinalar o trecho do Cop, 2, “Os Primeiros Romanticos", em que trata de Frmeiseo Otayiano, intitulado “Otaviano, Burguds: Nowsivel", quando solicita uma maior atengfio dos eri- tious para a obra do autor, salientando a sua qualida- ilo como tradutor de poesia (e Antinio Candido enu- nora as poetas por ele traduzidos: Haréco, Catulo, Al- flovi, Byron, Shelley, Ossian, Moore, Musset, Victor Hoyo, Obland, Goothe, Schiller, Shakespoare, ainda & juporn de uma oportuna edieio moderna, acrescente- i), subondo dar & tradugo postica um valor que nfo fi Lio usual no tempo do erftico quanto se possa ima- {inne no nosso em que é tida em alta conta. ‘Tanto a obra organizada por Afrinio Coutinho ito a de AntOnio Candido surgiram num momento a do grande efervese@neia cultural no Brasil, decorrente, sobretudo, do projet desenvolvimentista desenhado para o pais pela politin de Juscelino Kubitschek. ‘Na verdade, seguindo-2e d I Bienal de Arte do Sto Paulo, em 1951, 0 eoincidento com as comemoragoes do IV Centendrfo da cidade, em 1964, logo nos anos seguintes assistia-se a, pelo menos, trés acontecimen- tos literdrios mareantes: num mesmo ano, 1956, eram publicadas as duas obras mais importantes de Jodo Guimaries Rosa, 0 conjunto de novelas Corpo de Baile © Grande Sertéo: Veredas, 08 poemas reunidos de Joao Cabral de Melo Neto, Duas Aguas, © acontecia a expo- sigio de Poesia Conereta, mareando, por assim dizer oficialmente, a prosenga de uma vanguarda de corte internacionalista no pals. Por outro lado, aquilo que as obras do ficcionista © do poeta traziam para o contro do debate eritieo, quer dizer, a invengio de uma literatura em que os tragos lcalistas, herdeiros quer do rogionalismo realista-na- tturalista, quer do regionalismo dos anos 30, @ 08 cos- ‘mopolitas, herdeiras do movimento de modernizasao esencadeado pela Semana de 22, cram tensamente enfrentados e resolvides por uma linguagem inovado- 1a, foi, como ja se viu, reconsiderado pelas duas obras e historiografia literdria, ainda que tivesse um maior peso na reflexio e no préprio estilo de Antonio Candi- do, no obstante o eaforgo inovador de método perse- ‘uido pela obra dirigida por Afrénio Coutinho. Deste modo, num determinado momento, mais ou menos alé o golpe militar de 1964 ¢ seus desdobra- Jomscs DiagiNAnia Jhvntos Fmestos para a cultura, nos anos que se seguis in, # reflexao historico-ritiea, com énfuso na de An- Onin Candido, era eoineidente no mais importante, ‘slo 6, numa Teitura em que conviviam a nota ideolé- isla © autonomia relativa da criagho literdria, com uv propostas da vanguarda, sobretudo a coneret ‘lowliajue para os seus pootas-riticos da primeira hora, isto 6, Augusto e Haroldo de Campos e Décio Phgnitari, (Diga-se, de passagem, que exemplos do \liiloyo fertilizador entre tais reflexies © a pratiea da literatura foram dados nos dois Congressos de Critica W Histiria Literdria; que se realizaram nos infcios dos ‘nn 60, 0 de Assis, $40 Paulo, em 1961, © o de Jato Pons, Paratha, em 1962.) Foi precisamente neste siltimo Congresso que, ihiravés de trabalhos apresentados por alguns de seus juaiticipantes, trés autores maranhenses do século pas- puvlo cram repensados por novas leituras eritieas que Innweavam inelutlos, de modo mais eficaz, no candne torsrio brasiletro: Joo Francisco Lisboa, Odorico Mendes e Souzindrade. Refiro-me, sobretudo, aos tox= lo» du Taiz Costa Lima sobre 0 poeta do Guesa e de Hnroldo de Campos sobre a eriagio daquilo que 0 poe- (§ concreto vai chamar, mais tarde, tradusiofinvengio por Oilorice Mendes. na verdade, o infcio de reconsideragio do ef- ‘ion literrio, com especial énfage na poesia, mas nfo apenas, desenvolvida pelos poetas concretos que teré w resultado, logo a seguir, no ano de 1964, a publi tule do volume ReVisdo ce Souedindrade, de Augusto sae © Haroldo de Campos, com ensaio de Costa Lima ¢ colaboragio bibliografica de Erthos de Souza, ou, um. ppoueo mais tarde, os ensaios intradutérios de Haroldo de Campos as reedigdes de Oswald de Andrade, dirigi das por Anténio Candido, ou, mais tarde ainda, a re leitura dos simbolistas realizada por Augusto de Cam- pos, do que resulto o Livro ReVieio de Kilherry, em. 1971, ¢ 08 textas posteriores sobre Maranbiio Sobrinho ¢ Emndni Rosas. So 6 possivel ver em todo esse enorme o fértil tra- batho de releitara e revisdo do eAnone por parte dos poetas de vanguarda (¢ 6 preciso nfo esquecer tam- bem os ensaios de recuperagso de um outro vayuardis- ta, Mario Chamie, sobre Hilfrio Teito e seu romance ‘Madame Pommery) um gesto roivindicatério com rela- 80 ao passado literdrio pela construgéo de um conjun- to do autores precursores da propria vanguarda, o que, zno mais, segue o que ha de mais inventive na litera ‘tura de todos os tempos e lugares, © que mais importa 6 0 deslocamento do paradigma histérico-literario: de uma visio linear e somente diacrénica da histéria ite- ria para uma pereepgio das interseeydes sinerOnicas operadas naquela visio. Informados por concopeios lingiistieas de grande interesse para as reflexdes potticas, como as de Ro- man Jakobson, por exemplo, mas, sobretudo, fundados. na propria experiéncia criadara com a linguagem poé- tica, tais pootas-erticos representam também a van- guarda na leitura de nosso enone literéri e mesmo que nio se estaja do acorde com os sous gostos @ esco- forgo twaotnA Hus (como parece ser o caso, para citar somente 0 maior ‘ly sous interlocutores, de Anténio Candido, no quo s° olore & releitura das tradugies dos elissicos grogos e latinos por Odorico Mendes), 6 inegsvel a contribuigio rovisionista para uma Literatura to esvagiada, quanto « brasileira, de verdadeiros génios inventivos, sobretu- Iv se se anota que tais leituras e revises tm sempre Ww exereitada para a adigio endo para a exchusio de autores e obras. Ho caso da loitura que faz Haroldo de Campos da Formagio da Literatura Brasileira, especificamente wob 0 Angulo da problema da origem da literatura bra- ileira ~ 0 quo, por eaminho diverso, j4 havia sido tra- lado por Afrinio Coutinho no ensaio dedicado & obra dle AntOnio Candido do mesmo ano de sua publieagio, 1959, hoje fazondo parto do livro Concetto de Literatu- rw Brasileira, de 1981 -, intitulado O Sequestro do Rarroco na Formagéo da Literatura Brasileira: 0 Caso Grogério de Matos, do 1989. Nesso ensaio, mais do que polemizar com © autor da Formagao no que diz respeito ao que chama visto substancialista da histéria em Antonio Candido, o que so traduziria numa percopsao teleolégica da literatura, ro caso da brasileira e do autor da Formagdo, guiada pela nogao de “espirito nacional” de nossa tradigao his toriografica © que, por isso, haveria de privilegiar 0 Romantismo com a conseqtente recusa do Barroco, Haroldo de Campos busca, num eonecito de literatura, que se suporte antes na funglo poética da linguagem que em suas fungies referenciais o omotivas, segundo A bipziorees Iaan 8 termos da ligt de Jakobson, os angumentos essen- ciais nfo apenas para o resgate da voz barroca de Gre- g6rio de Matos, mas os elementos com os quais possa frabalhar uma outra histéria literdria, aquola das in- terseegies sinerdnieas, e nfo apenas alinear e diacro- nica jt referida. B, deste modo, uma operagio de adigdo, isto 6, no sentido de anotar 0 que chama "seqiestro do barroco” pedir a inelusio, om nosso sistema literdrio, do nome eda obra, ainda que muito disputada em sua autenti- cidade filoligion, de Gregério de Matos. Mais ainda, todavia, é uma espécie de rasumo da- ‘quelas idéias para a construcio de uma histéria lite. riria de corte sinerdnico que jé eram trabalhadas nas vérias revises empreendidas anteriormente. Neste sentido, é sem duvida, essencial para uma diseusedo acorea da formagio do eénone da literatura brasileira e, certamente, devers contar para a nossa historiografia literdria posterior. Como alguma coisa das revises passadaa da van- guarda contaram para, ao menos, duas hist6rias lite- rérias publicadas nas décadas de 70 80, Refiro-me 2 Historia Concisa da Literatura Brasileira, de Aliredo Bosi, de 1970 e ja com 32 edigdes, © a Historia da Li- teratura Brasileira, em quatro volumes, de Massaud Moisés, do 1983-1986. Para ficar 86 no caso mais famoso de revisilo, em ambas o poeta Souzindrade merece um destaque que no havia merecido nas histérias anteriores, com exce- A binuiomsca Ienoiusna yw do ensaio mencionado de Fausto Cunha inclufdo bm A Literatura no Brasil. No entanto, o que nessas histérins nfo conta 6 a pré prin discuss aceren do discurso histérieoiterdrio com tinnta intensidade problematizado pelas vanguardas. Os autores terminam, assim, por assumir uma po- isto conservadara quanto aoa métodos histérieelite- iris, eseravendo as auas histérias literdrias nos limi loys de um naturalismo eritico tradicional, om que nem weamo 08 esforgos analiticos individuals, © seria proci- i assinalar algumas formulagdes adequadas de Alfre- «lp Bosi no que se refere, por exemplo, & literatura dos tempos coloniais ou a prosa realista-naturalista, ou smo o grande esforgo de pesquisa historica de Mas- and Moisés e, sobrotudo, a importincia que concede 1 Simbolismo, a ele dedieando todo o tereeiro volume lle sua Histéria, fazom-nas escapar da repetigio © do Ingar-comum historiogrtico Mosmos autores, mesmas obras, na sucvsstio de quadros candnicos seeulares, acroscidos, aqui e ali, mas sem maiores repercusstes do aniliso literéria, polo proprio tempo histsrieo, e em decorréncia dos iné- todos historlograticos adotados. Nao aquela adigio a0 canone, advinda de uma releitura eapaz de pér em x°- (que as fables convenues da historiografia tradicional Hoje 6 eada vex mais evidente que a histéria nfo se define apenas como tarafa de acumulagio de datas e dados, mas que impoe, para a sua prépria efetiva- 0, uma metalinguagem que se volte para o discurso histérico, A BioLio7en benainansa Este sor4, com toda a probehilidade, o trabalho pi cipal de uma historiografia litertria para o futuro, No momento, no dificil momento de fim de séeulo, © que resta, como restava para aqueles homens que viviam os difiecis momentos de entre-guerras, é cuidar de nossa biblioteca imaginéria, metéfora para o efno- ne daquele tempo que viré. LeITURA, ENSINO & Critica DA LITERATURA ‘A orem escolhida para os termos deste ensaio, slém de realizar aqueles posstveis valores subliminares ‘onfatizades por Roman Jakobson no belo texto A Pro- ca da Esséncia da Linguagem, responde a uma preo- ‘wupagio metodoligica, que é bom, desde logo, acentuar Na verdade, situado entre a leitura e a critica, 0 consine da litératura 6 proposto, por um lado, como de- curréneia (da leitura) e, por outro, como eneontrando 0 vou prolongamento na eritiea, Desse modo, a qualifia- eo, quer de leitura, quor de critica, 6 instrumento es- sencial para que se poset pensar o ensino da literatu- ra, B claro, no entanto, que essa qualifcagio nfo 6 simples, e o que posso oferecer aqui sto algumas refle- xées e uns poucos exemplos extrafdos da exporiéneia com a prépria literatura ¢ com a reflexdo sobre ela.

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