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  • Arquitetura Como Linguagem

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    FranklynBrandão
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    Arquitetura

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    Capitulo 4 ARQUITETURA COMO LINGUAGEM. “A fungao da obra de arte néo é reconciliagao, esclarecimen: to ou veracidade, mas sim a inwenco de tm outro jogo de Tinguagem, de outro artifice.” Jean-Frangois Lyotard No Curso de Linglistica Geral, Ferdinand de Saussure mostra que o estudo da lingungem se divide em das par tes — a lingua langue”) ¢ a palavra ("parole")? No dizer do autor, a lingua € social e independente do individuo, en- ‘quanto @ palavra € individual. Neste capitulo procuro mos frar que existem, muito claramente, duas maneiras diversas de acontecimentos arquitetOnicos, que se dio ao nivel da lingua e 20 nivel da palavra s80 anilogos aos acontecimen: tos da linguagem verbal. A ideia de fazer este paralelo néo tem como finalidade a comprovagao de que a arquitetura é tuma forma de linguagem, mas, sim, aproveltar a semelhanga para procurar compreender principalmente duas coisas: emt primeiro lugar, a postura e as intencdes do arquiteto ao projetar; em segundo lugar, a diferenca que existe entre a arguitetura como forma de linguagem e a linguagem do arguiteto, ‘A Tingua saussureana é uum sistema em que todos os termes slo solidarios, no qual o valor de um depende da presenga simultinea dos outros. Entendida como lingus, a arquiterura tem também essa caracteristes. Formada 30 longo do tempo e da histéria, é@ somatdria do trabalbo de 7 muitos, fondmeno coletivo e social. Resultou de Inimeras comtribuigées impessoais ¢ inconscientes. F expressio de uma cultura, de uma época, de tradigbes consteutiva; arqui teuura de formas que se tornaram convencionais, obedecen do a normas nio escritas. E Lipa, regular, esperada. Seus valores so socials, comunitarios, Todos os reconhecem. & 0 produto de uma evelugao. O valor de wm eificio resulta da presenca simultanca de todas as outras arguiteturas, e par cularmente dos seus pares, E uma arguitetura qu existe fem functo de uma espécie de contrato social no escrito, estipulado pela comunidade que a will. ‘A arquitetura como palavra, 20 contro, resulta de um ato individual, geralmente de iaconformisao e rebeldia, no qual o autor destaca combinagSes muito particulars e inde pendentes,dentre os codigos estabelecidos na lingua, e expri- ‘me suas intengies pessoais. Nesta arquiletura 0 eificio surge, portanto, de uma agéo isolada do arquiteto. E um endmeno nove, uma obra individual, pessoal e consclente. © resultado é um edifclo quo, em ver de conviver em har. ‘moni com as outras arquiteturas, rd agir sobre elas. Hd isto uma agio inovadora do arquiteto, uma eriagSo, um estilo pessoal que val atuar sobre os esilos aceitose nerma- lizados. A arquitstura como palavra é insurgent, reforma- dora. E um trabalho de excepio, que desobedece is repras nova, singular e arbitravia, Surpreende, porque € impre visivel. Tem alta quantidade de informacio. Na concepeio teérica da Gestalt, ¢ a figura que se destaca do fundo, ‘A arquitetura da linge & um repertério que oferece ‘combinagdes ¢articulagoes possveis, enquanto que a arqui- tetura da palavra seleciona elementos desse repertorio © monta combinagdes inddlitas. A informacto arquitetonica corre em fungio da surpress, dentro de possvels expecta tivas. Como outras formas de arte, & certo que a arquitetura encontra um dos seus significados naguilo que tem de ines perado, A arte da lingua é uma arte de retaguards, de supor- te, ponto de partda e de referéncias a arte da palavra é de vanguarda. Naquela ba frases fitas, convencionas, consoan- tes, tonals; nesta é dissondneias,atonalidade B Associada & dicotomia lingua/palavra, Saussure esta- belece uma outra, expressa pelos conceitos de sincronia © iacronia. E 0 conjunto pode ser exposto assim: io { palavra Linguagem, De um lado, ht uma andlise sincrOniea da fingwa, que cha seus aspectos estiteas, um estado; de outro lado, uma anise diacrénica, que examina a evoluedo e reconhece na polavrao germe de todas as modificagoes da lingua, Também fm arquitetura, como procurarei mostrar a seguir, existe cesses dois aspectos facilmente idemtificavels. Assim como fa linguagem verbal, a arguitetora & composta de wm sistema festabelecido e de wma evolucao. A cada instante & uma inst ‘tiggo atual ¢ um produto do passado: 0 que ela é ¢ © que cla foi. Com os conceitos de ligua ¢ palavra e de sineronia fe diacronia,€ possivel mostrar de que modo a arguitetura ‘se modicicow ao longo dos séculos, através de ruitas ayses individuais que foram incorporadas a ela ¢, nesse processo, smudaram seu curso. ara explicar os conceitos de sincronia ¢ de diacronla, Saussure uliiza come exemplo o jogo de xadrer: de inicio, tama posigso de jogo corresponde a um estado da lingua {uma sincronia) © 0 valor das pocas depende de suas posi 623 no tabuleiro. No instante seguinte, como movimento e uma peca, passa-se do equilibrio inicial para um novo ‘equiltbro (ama nova sincronia). Em cada lance apenas uma pega € movimentada, mas 2 alterigio repercute em todo 0 sistema. Os valores anteriores das peas modificame nesta hova situagie de equiibrio. O lance nlo pertence a nenliom dos dois estados. Os estados s80 a snica coisa importante. A histéria revistra muitos exemplos de arquitetos gue, fogindo as reyras estabelecidas para. a arquitetura do seu tempo, deram contribuigoes ao nivel da palavra, e que foram p Sa sh: mdse a 80 1 seguir integradas & fingua. Em perfodos mais remotos da Arquitetura, em que os registro eram precérios, talver esse difilidentificar os nomes daqueles que, ou desrespeitendo (08 estabelecimentos tradisonais da época e do hignr o ine. vando na técnica de edifesr, mudaram, com o sew trabalho, fs rumes da arguitetura e da construcso, A forma de crag Pessoal, a partir do Renascimento, € mais reconbecivel © precisa: Michelangelo compreendia a autoridade das regras da lingua no seu tempo e, por 380, soube desenhar edifiios que as desafaram. Le Corbusier, 0 de Ronchamp, depois de ter construe obra que influenciou e continua inflven ciando toda a arquiterura do Século XX, rompeu violenta- mente com a continuidade e coeréncia da sa producdo ante- lor, com © projeto da sua eapels, Ignorando muitos dos prineipios do Movimento Moderno (vérios estabelecidos por cle proprio), Ronchamp e 0 conjunto da obra de Le Corb sier lembram o exemplo do jogo de xadrez de Saussure: 0 cquilfrio do sistema de uma linguz mines é mais do que ‘momentineo, pols, para passar de uma situagzo de equilk brio para outra de uma sincronia para outra (sincronia = mesmo tempo), basta deslocar uaa pesa © ato da palavra, no proceso de projeto arqultetinico, pelo menes come intengio, precede o ato da lingua tent tiva individual de combinar os elementos da constructo. Che- tase a lingua, a0 contrrio, através do esforgo no sentido de encontrar para o edificio uma ordem que seja t30 pouco vulneravel as oscilagées do gosto quanto possvel. A “ara terura total”, de Walter Groplus? nada mais ¢ do que esse esforgo visando transfer o impacto do ato individual do projeto, ne nivel da palavra, para o nivel mate couificada « Impesscal da lagu. Interpret, também, 0 verso de Carlos Drummond de Andrade "Cansei de ser moderno, agora setei sterno", como a intengdo do poeta de passar da palavra & lingua, percorrendo um caminho invereo na sua ergo" Giovanni Klaus Kéenig,florentine contemporineo, es creveu uma moaografia sobre a vida de Richard Neutra € Rudolf Schindler nos Estados Unidos, na qual analisa as difculdades dos dois arquitetos austrfacos naquele pas, a 8 sempre em situagio ambigua de inibigio © de admiragio diante da obra de Frank Lloyd Wright. Kienig mostra que (0 dois arquitetos “preferiram contribuir para a fundacio de uma lingua, ao flearem & sombea de Wright, “em vex de contribuir com novas palavras"* Stravinsi, referindo-se a Vivaldi, teria dito que o abade veneziano compés trezentas ‘eves 0 mesmo concerto. Ksenig completa esta idsla comen. tando que Morandi pintou trezentas vezes a mesma natureza ‘morta, e que Neutra projetou trezentas vers a mesma rest dncia. A grande maicra das obras ce arquiterure, suas a do passado, foram contribuigdes ao nivel da Zingua, acrése ‘moe aos estlos de cala 6poca, com variagSes adequadas a0 lugar, prevsivelse esperadas (nas nem por isso desprovidas de qualidade), ‘Ao contrario, a Villa Savoye de Le Corbusier, em Poissy, ‘a casa Robie de Frank Lloyd Wright, em Chicago, 0 pave Ihio da Alemenha em Barcelona, de Mies yan der Robe, a casa de Canoas, de Oscar Niemeyer, no Rio de Janciro, x80 fobrasprimas que marearam deciswvamente a histria. do Movimento Moderno. Cada uma delas foi uma contribaigao 0 nivel da palavre, um lance no jogo de xadrez, ¢ foram Sncorporadas a0 repertorio da lingua, Nao ha eliflelo con- temporineo, por banal que seja, que nio contenha solugdes {de projetolancadas orisinalmente por algum dos “pioneiras a arguileturs moderna. E, se a falta de perspectiva histé- ica mio nos engana, podemos dizer que © avontecimento pésmodernista na arquitetura & 0 lance mais reeente do Jogo de xadrez saussureane. © responsivel pela movimen: taeio da peca, ou pelo menos @ portawor da inguietagso ‘que j4 hi alum tempo se senna arquitetura moderna, foi Robert Ventur, nus Estados Unidos. Com algumas obras ‘excoutadas, © mais ainda com seus artigos e livres, Ventust ‘stimulou a reagio de viries arquitetos a alguns prineipios fo Movimento Modemo, até entto ortadoxes, Em lingistica se diela que a mais morta das palavras fol, um dia, Figura brithante. A pelavra,cado ou tarde, iscor porae a lingua © passa a fazer parte do sew repertéro, AA polavra eariquece a lingua, e contém a semente de toda 83 a sua evolucdo. Esta na obraprima, na girl ¢ no disleto. (© Museu Mir, de José Luiz Sert, em Barcelona, tem um caréter “regional”, um ar vernéculo? que enriquece a arqui- tetura que se tornou banal. Quando VillaLobos ou Bartok tomam emprestado os ritmos, as frases melddicas, a harmo- nia, os sons 4 misica brasileira ow hingara, no estZo sendo regionals. Pelo contro, estio sendo universais a0 acres: ‘eentarem algo & Hongua universal da misica. Os cantempe- neos de Mozart foram incapazes de compreender sua mish ‘2, porque tudo nela era novo demas. Apontavam efeitos ‘que consideravam estranhos, na procura de um conteido ‘emocional que nio viam como usual, Mesmo os romdnticos fifo o entendiom. Mavart era um modernists na sua epoca ¢, 50 anos apds sua morte, anda ern considerado um compo- sitor que havia escrito em um estilo fora de moda.’ Compe ~Arquitesura como Tinguager (aivel da Higa) Expressa uma cultura, wma epoca, uma tradicho mpessoal eineonseiente. Previsivel eesperada, Tom baina quantidade de informacao. redundante, Linguagem do arquiteto (eel da palavra) Serve pars exprensarse E pessoal econsciente Imprevisiele ssorpreendente Ealtamente informativa, pedi pherpia iy Continuidade, Inoragio. A sequir, utilizando a dicotomia saussureana, faco algu- Convencional Arbitraria, mas analogias entre a lingua e a arguitetura como forma de a Giopaiee linguagem, assim como entre a palavra e 0 que se poderia - cchamar de linguagem do arguiteza. Fixo uma série de idéios ‘Tradicional, banal. Nova, original. ‘opostas que podem melhor esclarecer esta dualidade: (Urn repertéetoz Combinagies seletivas e oe combinagées € inovadoras feitas com Argutetore come ‘Linguagem do articulagées possiveis.

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