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TEWS0 6600006608 0008S00806 000000008 oe Dlo— Educacaioe Pesquisa Print version ISSN 1517-9702 - . Vol.29 no.1 Si0 Paulo Jan/Sune 2003 >" Bae. Pesq ois 10.1590/51517-97022003000100012 Educagéio;identidade negra e formagao de ——professores/as: um olhar sobre o corpo negro e o ee ~ —cabelo-crespo_— : Education, black identity, and teacher education: a look upon ——the black body and hair ——NilmaLinoGomes . - ne Universidade Feveral de Minas Gerais Endereco para correspondéncla RESUMO - Este artigo discute as particularidadés € possiveis relacdes entre educagio, cultura, \dentidaide negra e formacao de professores/as, tendo como enfoques printipais a corporeidade e a estética.-Para-tal,-apresenta-a necessidade de articulacdo entre os Processos educativos escolares e ndo-escolares e a insercio de novas tematicas © discussGes no campo da formacao de professores/as. Dando continuidade as reflexbesrealizadas pela autora na sua tese de doutorado, discutém-se as representaces-e-as.concepgias sobre o corpo negro eo cabelo Crespo, construidas dentro e-foga do ambiente escolar, a partir de lembrancas ' depoimentos de homens e mulheres negras.entrevistados durante a realizacso de uma pesquisa etnografica em saldes étnicos de Belo Horizonte. Para essas pessoas, : a experiéncia com 0 corpo negro-e-o-eabelo-crespo nao se reduz ao espaco da 4 familia, das amizades,-da-militéncia-ou-dos-relacionamentos amorosos- AESCoa— aparece em varios depoimentos-como-um importante espaco no qual também se —desenvolve o tenso processo-de-construgso-daidentidade negra. Lamentavelmente, nem. sempre ela é lembrada-como uma Tnstituigao em que o negro e seu padrao estético sao vistos de maneira positiva. O entendimento desse contexto revela que © Corpo, como suporte de construgio da identidade negra, ainda nao tem sido uma tematica privilegiada pelo campo educacional, ——Plincipalmente pelos estudos-sobre-formagao de professores e diversidade étnico- 969 866 0 SSS SSS GWU UHH SO 20865900008 — cultural E-que-esse-campo, também , ao considerar tal diversidade, deverd se abrir para dialogar com outros-espacos em que 0s negros constroem suas identidades. Muitas vezes, locals considerados pouco convencionais pelo campo da educacéo, — come -por-exemplo;-os-saldes:étnicos. ——- ———-Palavras-chave: Cultura—Formagio de professores/as ~ Identidade negra - = era — ‘This article discusses the specificities and possible-rélations between education, culture, black-identity, and teacher education, approaching thertsfam the perspective of corporeity and aesthetics. For thatthe-text introduces the need to articulate education-and-ron-education processes, to insert new themes and discussions-into-the-field-of teacher education. Following on:the-considerations made by the author in her doctoral thesis, the representations-and notions about the-black body-and-hair-constructed inside and ~~ outside schoot-are-discussed;-based on memories-and-testimonies of black men and women interviewed during an ethnographic study carried out in. ethnic beauty shops in Belo Horizonte. For those people, the experience with-the black body and hair is not restricted to the family environment, friendships,-militancy or love life. The - school appears in several testimonies as an important-space in which the tense __ process of-construction of the black identity also takes place. 1 Sadly, the school Is not often remembered as an institution where black people and their aesthetic standards are viewed positively. The appreciation of this context, reveals that the body, as.2- support for the construction of the black identity, still has to be takef-up as a theme of choice by the-zducational field, particularly in the studies on teacher education-and ethnic-cultural diversity. It also shows that, when considering such diversity, this field of study wil-Have-to-open itself to the dialogue with otherspaces where black people also construct their identity, spaces such as beauty shops, many times regarded as unconventional in the field of education. Keywords: Culture — Teacher education ~ Black identity - Aesthetics. A formacao-de professores/ras tem sido uma preocupago constante do campo da educagéo;-O'MEC, @-universidade, os centros de formagao de-professores, as escolas, enfim, todos se preocdpam e concordam que € preciso hoje formé-los mais adequadamente tanto-em-setrpercurso inicial quanto em servico. Mas apenas; ——investir numa melhor formago no é 0 suficiente. A formacao de professores/ras, sobretudo a que visa @ diversidade, deveria considerar outras questées, tais como: x como-os/as-professores/ras-se-formam no cotidiano escolar? Atualmente, quais sao as principais necessidadies formadoras dos/das docentes? Que outros espacos formadores interferem na sua competéncia profissional e pedagégica? Que temas 05/as professores/ras-gostariam de discutir e de debater no seu percurso de formaao e no dia-a-dia da sala de aula? E-que-teméticas sociais e culturais s80 omitidas, nao so discutidas ou simplesmente nao s3o consideradas importantes para.a sua formacao profissional e para o proceso educacional dos seus alunos? | —__—Seeré que a questo racial est -inelufda nessas tematicas omitidas ou silenciadas?2 ey '€ 600 © SSO 006 CT OTTO SO0000060000000 = e ‘Sabemos que existem-vérios-artigos-livros-€ pesquisas que discutem a relacdo entre a questéo racial e a educacao. Porém, seria interessante pesquisar se 2 Produgao tedrica sobre raga e educacdo, e negro e educacio, tem destacado a articulagao entre identidade negra, cultura niegra-e formacao'de professores. Seria simplificar 0 problema dizer que tudo o que produzimos sobre a questo racial na educagéo-e em outras dreas do conhecimento-pode-ser-aproveitado e aplicado na formagtio de professores. Estamos diante do desafio.de analisar a producéo = __académica existente sobre relacies raciais no Brasil e discutir quais aspectos dessa —_—__ produc&o devem fazer_parte dos processos-de formagio-dos-docentes. Resta ainda === outtro desafio, o de descobrir como a produgiie-sobre-o-negro-e -sua-cultura, is = realizada por outras areas do conhecimento, poderd nos ajudar a refletir sobre a ~—temética negro e educacéo, enriquecendo e apontando novos.caminhos para'o ‘campo da formagao de professores. == Serd que conhecemos os estudos e as pesquisas-realizados-pela antropologia, pela ——— ~ sociologia, pela psicologia social, pela histéria,-pela-comunicagao social, entre eee outros, que tém as relagées racials como objeto-tle-Investigagao? Ao conhecermos +tais estudos, refletimos sobre as possiveis relacdes-entres-estes-e 0 campo da = Seducagéo, e vice-versa? A articulacdo entre-a-producao tedrica-educacional'sobre'o ~negro-e-a produgéo que tem sido realizada por-diferentes-dreas do conhecimento sobre a mesma tematica poderé nos ajudar a-descobrir novas dimensées da realidade racial brasileira? O conhecimento dessas-dimensées nao poderd ser ; incorporado como mais uma competéncia dos educadores nos seus processos de formacio? Sem divida, os questionamentos.acima nos mostram que essa n5o é t uma tarefa facil. Para realizé-la sera preciso entender e considerar a importancia da articulagio entre-cultura, identidade negra e-educacao. Uma articulacio que se da nos processos educativos escolares € no-escolares. 0 olhar sobre a identidade negra: uma forma de articular cultura, educacao e formagao de professores : Um dos primeiros caminhos a serem trilhados riessa direcdo podera ser o da insergio, nos cursos de formacao de professores e nos processos de formacdo em servico, de disciplinas, debates e discussées que privilegiem a relacdo entre cultura © educagdo, numa perspectiva antropoldgica. A perspectiva antropolégica nos ajuda a compreender que a cultura, seja na educacao au nas ciéncias sociais, 6 mais do-que um conceito académico. De acord: com Denys Cuche (1999), ela diz respeito as-vivéncias concretas dos sujeitos, a variabilidade de formas de conceber 0 mundo, e as particularidades e semelhancas constfuidas-petos seres humanos ao longo do-processo histérico e social. x Os homens eas mulheres, por meio da cultura, éstipulam regras, convencionarn valores e significagSes que possibilitam a comunicacao dos individuos e dos grup : Por melo da cultura eles podem se adaptar 20 meio, mas também o adaptam a si * mesmos-e, mais do que isso, podem transforma-lo_ Laraia (2001,-p. 67) nos relata que Ruth Benedict escreveu, em 0 crisdntemo e a espada, que a cultura € como uma tente através da-qual 0 homem vé o mundo. Sendo assim,-homens e mulheres de diferentes culturas usam lentes diversas e, portanto, no tém a mesma visdo das coisas. Ainda segundo esse autor: 100 © 08 6 6 O OOTH HS O OO HO 5880080000008 0 modo de ver 0 mundo, as apreciacées de-ordent foral € valorativa, os diferentes EOMPOGIENAG SOGDIF € MEMO 25 PORLUTAS CorpOrals Sa assiin produtos de uma heranca cultural, ou seja, o resultado da operacao de uma determinada cultura. (Laraia, 2001, p.68) Entre os processos culturals construidos pelos homens-€-pelas mulheres na sua Telaco com 0 meio, com os semelhantes e com os-dife 1 formas por meio das quais esses. sujeitos se educam-e-transmitem essa educagao- ~~ para as futuras geragdes. E por melo da educacdo que a cultura introjet-os—=— sistemas de representagbes-e-as-légicas-construfdas na vide-cotidiana,-acurmmladas——_ (e também transformados) por geragées e-yerayées;—~ Por isso, ao discutirmos a relacdo entre cultura e educacéo, € sempre bom-lembrar ~~ que a educacéo no se reduz & escolarizagéo. Ela é um amplo-pracesso, constituinte da nossa humanizacdo, que se-realiza em diversos-espacos-sodaissna=— familia, na comunidade, no trabalho, nas aces coletivas, nos-grupos-culturais, 10s, movimentos sociais, na escola, entre outros. Como nos diz- Carlos Rodrigues Brandao (1981): I A educaco &, como outras, uma frac&o do modo dé Vida dos grupos sociais-qtie-a— — criam e recriam, entre tantas outras invencies de sua cultura, emsuasociedade,———S* Formas de educagSo que produzem e praticam, para que elas reproduzam, entre todos os que ensinam-e-aprendem, o saber que atravessa as palavras da-tribo,-os— cédigos sociais de conduta, as regras do trabalho, os segredos da arte ou-da———. religidio, do artesanato ou da tecnologia que qualquer pove-precisa para reinventar, ‘ todos 0 dias, a vida do grupo e a de cada um de seus sujeitos, através de trocas sem fim com a natureza e entre os homens, trocas que existem dentro do mundo social onde a propria educago habita, e desde onde ajuda.a explicar ~ 8s vezes a ocultar, a necessidade da existéncia de sua ordem. (p. 10-F- —_ Consideramos, assim, que existem diferentes e diversas formas € modelos de educagdo, e que a escola no ¢ o lugar privilegiado onde ela acontece.e-nem 0 professor € o {inico responsavel pela sua pratica. Essa retlexao é importante para Se pensar os processos educativos, quer sejam escolares ou ndo-escolares. Muitas : __vezes, as praticas educativas que acontecem paralelaménte a educacao escolar, desenvolvidas por grupos culturais, ONG's, movimentos sociais e grupos juvenis a precisam ser considerados pelos educadores escolares como legitimas € formadoras. Elas também precisam ser estudadas nos processos de formacao de— professores. “Apesar de levar em conta essa dimensio mais ampla e mais geral do processo “‘educativo, neste artigo pretendo privilegiar a educacao que acontece no interior da instituigao escolar, tentando, porém, compreendé-la inserida no processo cultural € articulada com outros espagos educativos néio-escolares. A escola é vista, aqui, ~ como uma instituic5o em que aprendemos e compartilhamos no sé contetidos e , saberes escolares mas, também, valores, crencas e hdbitos,assim como preconceitos raciais, de género, de classe e de idade. E essa visdo do proceso ‘educativo escolar e Sua relacdo com a cultura e a educacéo - vista de uma maneira 5 mais ampla - que nos. permite aproximar-e-tentar compreender melhor os e ‘aminhos complexos que envolvem a construcao da identidade negra e sua —articulagao com os processos formativos dos professores e-das-professoras. & _ também essa viso que nos possibilita compreender a presenca da dimen: ‘educativar em diferentes espacos sociais e ndo somente no interior da escola. Mas como a identidade negra se articula com a cultura e com a educaco? Um caminho interessante para refletir sobre essa articulagao seria no pensar a SHSSSSSSSS SSC ORO @88S288200080086 g identidade negra como a tinica possivel-de-ser-construida pelos sujeitos que pertencem a esse grupo étnico/racial..Entre.as méltiplas Tdentidades sociais que os negros e as negras constroem, a identidade negra é uma delas. A reflexdo sobre a construcéo da identidade negramnas pode prestindir da discus sobre a identidade como processo mais-amplo,-mals complexo. Esse processo possul dimensées pessoas e sociais que néo podem ser separadas-pols esto — Interligadas e se constroem na vida social. Como sufeitos sotiais, éno-Smbito-da-cultura e da historia-que-definimos“as———— identidades sociais-(tedas-elas;-e-ndo-apenas a identidade raeiat-mas-tambén as— See Identidades de género, sexuais, de nacionalidade, de classe,-etc-) —Fssasmuiltiplas. 6 distintas identidades constituem os sujeitos, na medida em que estes séo_ Interpelados a partir de diferentes situacies, instituicées ou_agrupgmentos social Racinibacerse shina dinseite platen egeendics Seem Meenas ree interpelaco e estabelecer um sentido de pertencimento a um-grupo-social-de—— referéncia. Nesse processo, nada é simples ou estével, pois-essas-miiltiplas—— identidades podem cobrar, a0 mesmo tempo, lealdades distintas;-divergentes-ou até contraditérias. Somos, entéo, sujeitos-de muitas identidatles-e-essasmnditiplas identidades sociais podemser, também, provisoriamente atraentes,-parecentdo=10s;, depois, descartaveis; elas podem ser, entéo, rejeitadas e abandonadas-Somos; — desse modo, sujeitos de identidades transitérias e contingentesPor 15s0as identidades sociais tém cardter fragmentado, instavel, histérieo-€ plural (touro, 1999). Assim, como em outros processos identitérios, a identidade-hegra se constrot gradativamente, num processo que envolve intimeras varidvels, causas e efeitos, desde as primeiras relagbes estabelecidas no grupo social mais intimo, em que os contatos pessoais se estabelecem permeados de sancdes e-afetividade e no qual se elaboram os primeiros ensaios de uma futura visdo de munida=Geralmente tal processo se inicia na familia e vai criando ramificacées e desdobramentos a partir das outras relagdes que o sujeito estabelece. ‘A identidade negra é entendida, aqui, como uma construc social, histérica, cultural e-plural. Implica a construcao. do olhar de um grupo étnico/racial ou de sujeltos que pertencem a um mesmo grupo étnico/racial sobre si mesmos, a partir da relacdo com 0 outro. Bes Construir uma identidade negra positiva em uma sociedade que, historicamente, ensina ao negro, desde muito cedo, que para ser aceito é preciso negar-se a si mesmo, é um desafio enfrenitado pelos negros brasileiros. Sera que, na escola, estamos atentos a essa questao? Serd que incorporamos esa realidade de maneira séria e responsavel quando discutimos, nos processos de formacao de professores, sobre importéncia da diversidade cultural? — Nesse sentido, quando pensamts a articulacdo entre educagdo, cultura e identidade negra, falamos de processos densos, movedicos e plurais, construidos pelos sujeltos sociais no decorrer da histéria, nas relagées socials e culturais. Processos que esto imersos na articulagéo entre o individual e o social, entre 0 passado © 0 Presente, entre a meméria e a histéria. Nessa perspectiva, quando pensamos a escola como um espago éspecifico de formagao, inserida num process educative bem mais amplo, encontramos mais do que curriculos, disciplinas escolares, regimentos, normas, projetos, provas, testes e contetidos. A escola pode ser considerada, entao, como um dos espacos que interfere na construcao da identidade negra. O olhar langado sobre 0 negro e sua te EU 8 0 6 06 SOOO OOS GOSS 08 80SE 829600688 HE nossos alunos tentam nos comunicar? Quantas vezes néo ouvimos frases como *o | negro fede"; "o cabelo rastafari é sujo e no se pode lavd-lo"; "o negro que alisa o cabelo tem desejo de em-branquecer"; "aquele é um negro escovadinho"; "por que a voc8 no pentela esse cabelo pixalm"; "esses meninos de hoje usam roupas estranhas, parecem pivetes"? Quantas vezes essas frases nio sto repetidas pelos préprios docentes, dentro de sala de aula, nas conversas informais'e nos-conselhos de classe? Quan-tas vezes essas frases nao so emitidas nos corredores das faculdades de educago e nas universidades? = Como a escola lida com o corpo negro e o cabelo.crespo? © corpe localiza-se em um terreno social conflitvo, uma-vez querétocado pela esfera da subjetividade. Ao longo da histéria, 0 corpo se tornou um emblema tnico © sua manipulagéo tornou-se uma caracteristica cultural marcante para diferentes Povos. Ele é um simbolo explorado nas relagdes de poder e de dominagao para classificar e hierarquizar grupos diferentes. O corpo 6 uma linguagem e a cultura escolheu algumas de suas partes como Principais veiculos de comunicacao.; 0. cabelo é uma delas. O cabelo é um dos elementos mais visiveis e destacados do corpo. Em todo e qualquer grupo étnico ele é tratado e manipulado, todavia a sua simbologia difere de cultura para cultura. Esse cardter universal e particular do cabelo atesta'a sus Import&ncia como simbolo identitério. © entendiento da simbologia do corpo negro e dos sentidos da manipulagso de suas diferentes partes, entre elas, 0 cabele; pode ser ark on cre compreensio da identidade negra em nossa Sociedade. Pode ser, também, um importante aspecto do trabalho com a questo racial na escola que passa despercebido pelos educadores © educators, tm torne de menfactonss to corpo e— do cabelo do negro existe uma vasta historia, Uma hetero a = meméria. Ha, também, significacdes e tensdes construidas no contexto d: ~ flac rails do ravine DTSTEGS. A dcuscde STe a tai a do + Corpo negro «sobre os processos de opvessdo que o mesme tanta ogo da histéria pode vir a ser uma rica atividade pedagégica a ser desenvolvida com os ; alunos e as alunas em sala de aula, possibtanda devotes ¢ atone eae eS histria e a cultura afo-broslea, Hesse process, um estado eens rae cabelo crespo e as praticas corporais pode ser um bom caminho. Pestacar a existéncia de uma positividade nas praticas do negro diante do cabelo, hoje, quer seja trancando, implantando ou alisando-o, pode ser um interessante exercicio intelectual que nos afasta das andlises que primam pelo olhar da introjésao do branqueamento. Poderemos resgatar e encontrar muitas sémelhancas entre algurtias técnicas de manjpulaco do cabelo realizadas pelos negros ' contemporaneos e aquelas que éram desenvolvidas pelos nossos ancestrais = africanos, a despeito do tempo e das mudancas tecnolégicas. Esse processo pode ser visto como a presenca de aspectos inconscientes, como formas simbdlicas de —Pensar.o.corpo oriundas das diversas etnias africanas das quais somos herdeiros € Que néo se perderam totalmente na experiéncia da didspora. Em totlos esses momentos, a busca da beleza por meio da manipulacao do cabelo destaca-se como — uma virtualidade histérica e atuante. Esta é uma questo que merece ser trabalhada nos processos de formacao de professores quando se pretende estudar a questo racial. 16, 609S 0900685695998 9 0855S E8H00008 Mas como a escola lida com 0 corpo negro, o cabelo crespo-e a-cultura negra? — Como as criancas, adolescentes, jovens e adultos negros sio vistos e se véem-na escola? Para respondermos a essas questées teremos que nos aproximar dos_ homens e mulheres negras que j4 passaram pela escola e também daqueles que ainda esto realizando a sua trajetoria escolar e escutar,-atentamente, o que=eles tém a nos dizer, como a dona de casa M., de 29 anos: M.: Ah! Antigamente tinha muita gozago. As vezes chamavam de cabelo Frits O—<$ $= ah... muita gozaco. Cabelinho ruim, muita cotsa assim, agora ngo-— N.: Voc acha que isso mudou? — M.: Hum... um pouco. Mudou um pouco. Hoje em dia, os nearos ndo querem-ficar = pra trés no. ty a N.t E Isso que vocé disse: cabelinho frito, cabelinho ruim. Em que lugares Ihe= falavam isso? a M.: Em escolas... escola, danceteria que a gente ia. a N.: Isso era muito falado? M.: Tinha, @ como tinha! Até os préprios negros falavam) Hoj Hoje em dia ja é diferente. (...) E que hoje tem muitas op¢Ses e antigamente nao tinha..Eu e a— ‘rine calchgehee testo, nce Iatazver “Moses stata MENesad Sees ox esl A gente ia com 0 cabelinho horrivel pra escola”. Agora nao, vocé pode escolher— tudo puny geaibels. O'udadla {- )ate® Auer coulda belie im jek act oct ne gota epeeg ese lediiceralnaerae rein oie : vé que tem até negro loiro ai, antigamente néo tinha. Era s6 aquilo € aquilo Tee eg eae elena cea eee ras Sera Ee “dinheiro, porque antigamente era carissimo ir ao saldo. Hoje em E interessante constatar que.o depoimento expréssa uma mudanga, nos dias de : hoje, em relacao & representaggo construida sobre o negro e.seu cabelo, 3s possibilidades econémicas e ao acesso aos espacos de beleza que cuidain do corpo do negro e do cabelo crespo. Essa;mudanga também possibilita ao negro apresentar:se esteticamente de ume maneira considerada mais "aceitavel” socialmente, 0 que pode ter contribuido para a diminuigo dos apelidos e tratamentos preconceituosos nos espacos piiblicos, entre eles, a escola. Seré que essa mudanga se deve somente a invenco das novas técnicas de pentear e alisar 0 cabelo apontadas pela depoente? Ou seja, ndo mais o "cabelo frito” pelo pente- quent, mas cabelo “relaxado" via pfodutos quimicos de mator qualidade ou "alongado" via processos mais variados de implantes, ou mesmo o "careca” cortado cont rhiéquina um? Ou seré que essa mudanca implica alguma alteragdo na forma como 0 préprio negro contemppraneo lida com a diferenca racial inscrita no seu corpo e no seu tipo de cabelo? Ou ainda: seré que as manifestacdes de preconceito esto diminuindo dentro do atual espaco escolar? No podemos deixar de pontuar que a sociedade e a escola brasileira da atualidade t8m construido representacdes sociais mais positivas sobre o negro-e sua estética, E 0 que nos fala a depoente acima. Essa transformacao, sem diivida, no se dé por = honra e gloria da educagio escolar. Se pesquisarmos mais a fundo, éncontraremos 2 aco da comunidade negra organizada em movimentos sociais, dos grupos culturais negros, das-comunidades-terreiro como partes importantes no processo de deniincia contra o racismo e de afirmacéo da identidade negra. Encontraremos também familias negras que, atentas aos dilemas de seus filhos e filhas, enfatizam. ? nn terre 0OO 056.9098 08008600088 96088088 65608 a \ de forma positiva e de diversas manelras a heranca cultural riegra; ESSeS Grupos e ~ €ssas familias Sempre pressionaram a escola e sempre cabraram desta instituigso uma responsabilidade social e pedagégica diante da questo racial. Porém, essa pressio.nfo.selimita-& escola. Ela atinge a sociedade como um todo €, 208 poucos, am ~_ fem tomado possivet uma Tenta insercio social do negro em alguns setores do mercado de trabalho, a sua presenga (mesmo timida) nos meios de eomunicacdo e culos publicitérios e a'sua entrada em maior nlimero na educacio bacica, Somando=se:a0s-outros-grupos-sociais que lutam pela democratizacio da Sociedade, a comunidade negra tem conseguide-mudar, aos poucos, a situacio do == negro_no-Brasil_Mas ainda ha muito que avangar. ————— aaa Nesse-processo-tante-e-tenso; alguns negros, desde muito cedo, aprendem a = Posicionar-sede maneira afirmativa e a reagir & discriminacSo racial. Muites = ctlancas neares percebem, desde multo cedo, que ser chamada de,"negrinha” nem —_— sempre significa um-tratamento carinhoso, pelo contrério, 6 uma expresso do racismo-Nesse-contexto;-cada um luta com as armas que tem: 5.: Eu era-muito-bagunceira na escola, nunca deixei que ninguém me chamasse de negrinha-na-escola, porque éu batia neles mesmo! Ento quando eu chegava em. —

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