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APE QUE CURA Estamosem constantenegociag0 com Deus, Tem avé tentando adiar a viagem para o plano espiritual para depois da formatura do neto; mari- do pedindo que uma forca superior auxilie no procedimento cirargico da esposa; mae orando ao pé da incu- badora do filho prematuro... Enfim, nto faltam exemplos que ilustrem como 2 religiosidade tende a aflorar em situagdes que envolvam doen- ca €, consequentemente, 2 morte. papel desempenhado pela fé no tratamento de pessoas enfermas foi reconhecido pelo Ministerio da Sat de brasileiro que, em 2006, através da portaria n? 971, aprovou a Polt- tica Nacional de Praticas Integrati- vas © Complementares no Sistema Unico de Satide (PNPIC-SUS). A medida incentiva postos de sat- de € hospitais pablicos a oferece- rem meditagao e ioga, por exemplo, em salas exclusivas para a pritica © reconhecimento cientifico destes tratamentos religiosos vai 20 encontro dos estudos desenvol- vidos nos Estados Unidos, onde, também em 2006, 0 National Insti- tutes of Health (NIH), responsavel pelas pesquisas médicas, garantiu a eficacia de terapias nao conven- cionais. A diferenca principal entre Brasil ¢ Estados Unidos € que, em nosso Pais, a oragao ~ a0 contratio da meditacao ~ nao est incluse na PNPIC-SUS, enquanto no sistema norte-americano cla € classificada como um exercicio religioso comple- mentar, Embora nao haja reconheci- ‘mento formal no Brasil, ha quem as- segure 0 poder que emana da oracao. Ministra da Palavra, Comunhao e Esperanea da Igreja Catélica, Odete Lopes Steffanello traz na bagagem 11 anos de trabalho voluntario reali- zado junto 4 Sociedade Beneficente Hospital Candelaria (SBHC), loca- lizada na cidade de mesmo nome. Sua atividade consiste em levar um Revista Excegio - Dezembro de 201 a pouco de paz interior aos pacien- tes da SBHC, estejam eles em esta~ do de satide regular ou grave. Dona Odete, que tem 67 anos, enfatiz: um dos principais aprendizados adguiridos nesta trajetoria: “Nun- ca vi ninguém morrer ateu, Na hora da morte, todos clamam por Deus” Ela descreve a sua iniciativa como “terapia do abraco"; “Eu abraco 0 cuidador do doente, toco o paciente. Aprendi, nestes Il anos, que doenga info pega”, Durante o perfodo em que circula entre os leitos hospitalares, Odete veste um jaleco branco, pois faz parte da equipe da casa de satide, emborade forma voluntaria. “Sempre que faco as visitas, pego: ‘Jesus, vem comigo, pois hoje estou no teulugar™ Odete diz que seu tratamento € paralelo a medicacao e, por isso, nao minimiza a importancia da medi- ina convencional. Ela Jembra que um dos ensinamentos repassados por Jesus Cristo aos discipulos fot: “Ide, curai os doentes”, Desta forma, analisa que, hoje, s40 os médicos que ccumprem o papel da cura, cujo dom, conforme acredita, foi enviado por Jesus. Apesar disso, Odete admite que alguns profissionais da area da satide ainda mostram certa resisten- cia com a pratica da oragao dentro de hospitais e unidades de reabilitagao. Para o médico responsivel pela delegacia seccional do Conselho Re~ gional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers) de San- ta Cruz do Sul, Gilberto Neumann Cano, 68 anos, geralmente sto os mé- dicos novatos que ficam constrangi- dos ao se deparar com um ambiente em que a confianca no poder da fé se sobrepoe ao da ciéncia, “Os mais velhos nao se importam”, assegura Ele explica que o médica nto pode indicar nada que ande na contramao da medicina tradicional, mesmo que sejam cirurgias experimentais - 0 que nao significa que 0s efeitos po- sitivos da fe nao sejam reconhecidos. “O que a gente (classe médica) nota € que as pessoas que tem al- gum tipo de fé - no anjo da guar- da, por exemplo ~ melhoram mais, aguentam mais. Flas tem o que se chama hoje de ‘sentimento de resi- liencia’ - aspecto psicologico que auxilia os individuos a, resumida- mente, lidar com problemas e supe- rar obstaculos ~ muito maior do que as outras pessoas’, sintetiza Cano. Sea féem apenas umanjo ja ajuda, imagine ser devoto de varios santos? E assim com Dorvalina Schena Pias- sini, 71 anos, moradora de Gramado Xavier. Na cOmoda do quarto, Dor: valina mostra as estatuetas As quais, direciona a sua devocao: Divino Pai Eterno, Nossa Senhora das Gracas, Santo Antonio, Menino Jesus ¢ Nos- sa Senhora Aparecida. “Eu sempre agradeco pelas gracas aleancadas, principalmente através das novenas do Divino Pai Eterno de Nossa Se- hora do Perpétuo Socorro, Eu rezo para toda a familia, mas tem que pedir e também agradecer’, instru Catolica, Dorvalina frequenta a igreja para manifestar a sua fé, além de acompanhar toclos os dias as mis- sas transmitidas na televisto. Mas, também busca ajuda na doutrina es- pita. A confianga em uma forga su- perior fez com que ela se submetesse a uma cirurgia espiritual em 2013, em um local destinado para a prati- cca em Santa Cruz do Sul. procedi mento alternativo foi realizado para o tratamento de uma dor intensa em uum dos joelhos. Bla softe de desgas- te nos ossos, o que a faz manter um castelo de remédios no armario da cozinha. Para o joelho, no entanto, © medicamento prescrito nao esta- va oferecendo a melhora prometida. Dorvalina descreve que nenhum. corte foi feito durante a cirurgia espiritual. Segundo ela, os me- diuns - uma mulher e um homem Pg et ee Por cirurgia espiritual = apenas colocaram as mios so- bre o membro dolorido e disseram palavras nao compreendidas pela paciente. “Nao havia velas.liga- das, somente uma luz que deixava as paredes amareladas", relembra Dorvalina, que ficou deitada sobre uma cama durante 0 tratamento, © procedimento foi realizado em trés sessoes de 10 minutos cada, com intervalo de 15 dias entre elas. A ‘dosa ficou consciente durante toda 2 cirurgia espiritual. “Eu lembro de tudo: de eles pasando ao mew re- dor, colocando as maos na minha cabeca”, diz. Quando as trés sessoes foram encerradas, Dorvalina rece- beu a informacao que estava sarada. “E fiquei curada mesmo’, garante. A caminhada de Dorvalina em toro da religiao iniciou ainda na infancia, A devogao, conta ela, foi aprendida com a mae, com quem rezava 0 rosario diariamente. Por isso, Dorvalina acredita que a sua fé garantiu 0 @xito do tratamento. Para ela, cada momento destina- do a oracio € uma conversa com Deus, dislogo no qual pede prote- io para os filhos, netos e bisneta. Ao ouvir 0 relato sobre a experi- éncia vivida por dona Dorvalina, 0 delegado do Cremers de Santa Cruz do Sul, Gilberto Neumann Cano, diz: “dor no joelho, com 71 anos, é doenca degenerativa-articular, no vai me- Jhorar. Ela pode ter uma grande for cade vontade, uma capacidade, endo esta dando muita bola para a dor”. Cético, ele compara as cirur- gias espirituais ao efeito placebo. “Toma aquele comprimidinho cor de rosa que € bom. © que é o com- primido rosa? Sei 14, extrata de morango... mas 0 paciente con- siderou aquilo bom. Isto é, a tua cabeca que faz funcionar. Tudo esti dentro da tua cabeca. E voce que faz e acontece", reflete Cano. A oracao © os tratamentos nao convencionais, como as. cirurgias soulley sueeyn{ cspirituais, refletem uma necessida de do paciente de ouvir uma palavra amiga e sentir um toque acolhedor ‘em um momento de fragilidade. Por isso, Cano reconhece a necessida- de de 0 médico se tornar, para além de um profissional, um ouvinte “Uma coisa € voce atender a do: enca. A doenca nao vem no teu con- sultério, ela esta no livro. Quem chega a tua frente € o doente, ele € ‘inico. O paciente que vai dizer que brigou com a av6, que esta fuman- do crack, Aio médico vai achar para ele o que é melhor para fazer. Claro que o profissional tem toda a medi cina ao seu dispor. Entao 0 pacien- te te diz: ‘mas eu posso rezar?’. 'E claro que tu podes rezar?. ‘Mas vai fazer efeito?. ‘Se tu acreditares, val Se nao, nao vz descreve Cano. Assim aconteceu com dona Dor- valina, Porém, foi em uma sociedade espirita, e nio num consultério mé- dico, que ela receben a energia ex- tra que precisava para seguir a vida sem abrir mio, por exemplo, dos bailes da terceira idade. “Para des: cer a escada, tinha que ser de lado, para nio forcar 0 joelho", conta. Desde a cirungia espiricual, nem a escada e, muito menos uma danca animada no baile s40 abstaculos. “A. gente nao pode acreditar em tudo, mas tém coisas que valem a pena” Entre soros e rezas As Qhoras de sexta-feira, 16 de ou- tubro, a ministra Odete recebeu-me ‘com um sorriso gentil na recepca0 da Sociedade Beneficente Hospital Candelaria (SBHC), Ha 11 anos é as- sim: suas tarefasrotineiras sto deixa- das em segundo plano e os pacientes da casa de safide assumem os papéis, Pima een ane | de irmaos, filhos e nets de Odere. Antes de iniciarmosas visitas, dei- xo clara a posicao que adotarei: ob- servadora. Dirigimo-nos ao primeiro leito, Duas batidas leves e, 0 logo a porta se abre, sinto-me desconforta vel:€ como se estivesse desrespeitan- do 0 sofrimento alheio. A sensacao, no entanto, logo é substituida por serenidade, tamanha a capacidade que dona Odete tem em levar espe- Tanga um ambiente, na maioria das vezes, dominado pela dor. 4 senho- a deitada na cama hospitalar pare- ce no perceber a nossa chegada. £ a cuidadora quem nos recebe ¢ ora sob a coordenacio de Odete, que me informa: “Elas (paciente e cuidado 1a) estao ha trés meses aqui”. Coma convivéncia, veio a confianca. Assim, apos rezarem, as duas conversam sobre o estado de satide da enfer- ma que, mesmo sem abrir os alhos, € tocada carinhosamente por Odete. De formalidade nas visitas, ha somente a batida na porta ¢ uma breve apresentacdo, na qual Odere Foram mais de duas horas de dia- Jogos e oragbes. Estivemos em leitos onde os pacientes apresentavam 03 ais diferentes quadrosde satide:em alguns, os familiares disseram que 0 ente querido tinka pouco tempo de vida, em outros, maes aguardavam 0 nascimento dos filhos. Na pediatria, as criancas intercalavam entre 0 soro ce obrinquedo, Independente da situ aco, a palavra frateraeo toque aco- Ihedor de Odete estiveram presentes ‘Alem dela, representantes de ou- tras religides cristas prestam auxilio religioso aos enfermos. Nas tercas ¢ quintas-feirasa oragio €coordenada, respectivamente, pelos pastores da Congregacio Evangélica Luterana Cristo e da Igreja Sinodal. As quar tas-feiras, €o dia de visita do padre €, 8s quintas ¢ sextas, ¢ Odete quem. assume a Unidade de Satide Men- tal e 0s pacientes da SBHC, Nestas datas, 0s representantes cristaos se deslocam por todas os leitos, inde- pendente da religiao dos intemos. “A oracio € espontinea, Com as da Guarda, esta tltima, principal: mente, na ala pediatrica”, descreve. Apesar de haver figis de diferentes doutrinas € religides nos leitos, to- dos foram receptivos. Mesmo quan- do nao sabiam rezar, os pacientes € acompanhantes fecharam os olhos e relletiram sobre as palavras pronun ciadas por Odeve, Um dos enfermos, diagnosticado com Alzheimer, num primeito momento ficou indiferente 20 que acontecia ao seu redor, mas logo comesouabalbuciarlogodepois de dona Odete encerrar a oragao. A filha se aproximon do paiedisse:“Ele esta rezando, Disso ele nao esquece”. A ciéncia explica As conexdes celulares € a tro- ca de informacées realizadas no cérebro intrigam cientistas e lei 0s, Por isso, estudos avangam no sentido de buscar entendimento para a complexidade da mente hu mana. Mesmo quando o assunto é religito, a cigncia vem ganhando espaco para mostrar evidéncias so explica quem € em nome de quem minhas palavras eu converso com bre a eficacia de priticas medita- esta ali, ou seja, Jesus Cristo, “Deus nto criow o mundo sem softimen- to. Ea ferramenta que nos temos para superar isso € 0 cuidado que uns dedicam aos outros", opina. Reconncen teste TT Soe cmt ora eer eet earnest STE omeareerenry ela filiacao re fewes eee at beneficiam eat Deus © peco que as pessoas pre- sentes no quarto facam parte deste momento. Quando todos no leito sto catdlicos, pego para que rezem a Ave Maria ou a aracio ao Anjo erry seco estes neat sae rete nes ees cect ere eee Sie graca: fisiologicos das emoeses eee pele per eee ae eee reece atte Serer ee tivas e a sua relaglo com 0 cézebro. Psicélogo © coordenador do Programa de Avaliacao do Estres- se do Centro Avancado em Satde da Beneficéncia Portuguesa de $20 eficia a SOUR ety ee ot Seen erie Be cpane neces Aa nentos misme eee ee ate er alouestadoalter Rooter eee rene teats a distancia em fa Teenie iiearcreoe re Paulo, o professor Armando Ribei- ro cita a importancia de tratamen- tos alternatives para as seguintes condigoes médicas: presst0 alta, sindrome do intestino irritavel, colite ulcerativa, ansiedade, de- pressio, insOnia, cessagio do taba gismo, dor cronica, entre outras. © tratamento, explica Ribeiro, nao deve se limitar a meditacao € ioga, por exemplo. Um programa completo inclui medicamentos, psi- coterapia ¢ educacao em satide. Se~ gundo o professor, 0 emprego das priticas meditativas na satde faz parte dos tiltimos estudos de revi- sao sistemitica do National Center for Complementary and Integrati- ve Health (NCCIH), do National Institutes of Health (NIH), agéncia dos Estadds Unidos. “Jé podemos afirmar que as praticas meditati- vas sto estratégias cientificamente aceitas, por apresentarem estudos de eficicia e seguranca”, garante Ribeiro. Além disso, cle diz que a cespiritualidade e a religiosidade st0 objetos de estudo da Psicologia e da Medicina. “Existem relatos secu- lares dos beneficios da espirituali- dade e da religiosidade para a sati- de fisica e emocional”, acrescenta. Durante as praticas de medita- G0 € oragao, descreve Ribeiro, regi Revista Excegio - Dezembro de 2015 des do lobo frontal do cérebro ficam mais ativas. Elas sao as responsaveis plas fumgdes cognitivas superiores, tais como planejamento, autocon- tole ¢ raciocinio logico, Ja 0 lobo parietal fica menos ativo durante as atividades religiosas, reduzindo a nogio de espaco ¢ tempo. Essa capa- cidade inata do cérebro de se modi ficar através de novas experiéncias e aprendizagens se chama neuroplas- ticidade, Um violinista, por exem- pplo, controla seu instrumento mu- sical através dos dedos. A regido do cérebro que controla esse movimen- to aumenta progressivamente a me- dida que 0 miisico domina o violino.

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