Anda di halaman 1dari 31
wuther (F. H. Cox), com a p ipset)_€ com a cultura (P. Bosserman, M. Kaplan, H. ky). B tratddo como um quadro temporal \(G. Prudenski, G. Petrosjan, A. Szalai) em relaco a vida cotidiana (H. Lefebvre, €. Busch), como um conjunto de atividades (Littunen) ou um sistema de valores (S. de Grazia), em relagdo com a ideclogia (M. F. Lanfant), ete. Ao nivel dos métodos, a variedade também é grande. A sociologia do lazer nao se distingue por um método especifico ; ela a todos os métodos, ¢ historica de Veblen a Riesman ou de Grazia; é empirica na maioria dos casos comparativa. A enquéte sobre 0 tempo -tempo” (1967) versa sobre uma amo: es: Alemanha Federal, Bélgica, Austria, Franca, Hungria, U.R.S.S. E dirigida por A. Szalai (Hungria) no quadro do Centro Europeu de Documentagio e Ciénci Viena (1972). Ea mais importante observacao sociolégica inter- nacional sobre o tempo livre jamais realizada formulando um minimo de hipéteses explicitas. 1969, 312 p. A. VILLADARY, i Ouvrigres, 1968, 242 p.J. PIEPER, Leisure rhe Basis of Culture, Londres Faber and Faber, 1988. H. COX, Le Féce des fous, faitions du Sul, 1971, 240 p. 3. LIPSET, Poetical Man, New ‘York, Double Day, 1960, 432 p. P. BOSSERMAN, M. KAPLAN, (eds), Technology, Human Values and Leisure, New York, Abington Press, 1971, 256 p- A. SZALAL et aly The Ure of Time, Hais, Mouton, 1975, 868 p. H. LBFEBVRE, Citi: 1 de la Vie Quotidienne, Paris, L’Azche, 1958, 272 p. ©. BUSCH, et Perpectives de la Soctologte thi Temps Ltbre, Contribution tion du Champ D'Etude, 390 p., Mouton, mar.-abr, de 1973, 1962, 559 p. M.F. LANFANT, Les Theories du col. “Le socioiogue”, 1972, 254 p- Loisir, 24 is 2. ADINAMICA PRODUTORA DO LAZER 1. AS ORIGENS © proprio nascimento do lazer levanta um ponto em que alguns se perguntam, como o assinalamos no (Ge é uma realidede cu una ficetgl As leis do’ sen mento permanecem controvertidas tanto entre os yg08 como entre os historiadores. Pade-se falar de lazeres & propésito dos feriados e dos dias em que ndo se trabalha da sociedade tradicional? O lazer seria uma criagto especifica da sociedade industrial? Qual seria a dindmica de sta criagio ¢ de seu desenvolvimen considerando-se esta dindmica? Que futuro. pode ser previsto para ele dentro das fsociedades{ nas quais as sociedades industriais avangadas esto gerando? Apesar de uma abundante literatura muito em moda sobre este assunto, este futuro parece obscurecido pelas mais contraditorias profecias, rios meios da pesquisa. uns consideram que o lazer existia em todos os perio- dos, em todas as civilizagses. \Nio € 9 nosso ponto de vis l \ Ea tese de Sebastian ae Grazia! Zevidentemente, to antigo quanto © Pi (Guiszed possui tracos especfficos, caracter: faselda da Revoluggo Industral Nas sociedates do periodo arcaico, o trabalho © 0 jogo esto intoprados 28 fesias pelas quais 6 homem participa do mundo dos ancestrais*. B: duas atividades, embora diferentes ope alfa ies, ignifcagbes de mesma natureza re vida essencial de comunigade, A. festa engloba [o- teabali eB jose) Alem disso, trabalho. e jogo aprosontam-sc_amiG oT joeel ‘Sun poses é menor ou imexistente, ‘Também Tans “abusive ver ‘na categoria dos xam#s ou dot felticalras Gigpensados do. trabalho ordinario, a prefiguragdo do uma Skew de lazer" no. sentido que a entende . Veblen: xamds oe felticelros: assummern Tungoes' magicas ou religiosas ossenclas § Comunidade. O lazer € um concelto inadaptado 20 perfodo c Nas sociedades pré-industriais do perfodo histérico*, o taza "nfo existe tampon, © trabalho facreve se non ils Raturais das estagoes e dos dias: intenso durante a boa estagZo, ee ee nee ecient ma. Seu ritmo ¢ natural, ele é Gortado, por pausas, cartes, jogos, cerimOniss. Em geral so Confunde' coma atividade do dia! da aurora a0 pér-do-sol tiabulho'e Tepoito © corte nfo € nitide, Nos elimas temperados, ho’ decurso Hos longoa meses de inverno, 0. trabalho. Intenso decaparcce para dar Togar a uma semiatividade durante 1 qual uta pela ‘vida & multas vezes, diffe. O filo € mortifer0; & Tome, Requente conjugase as epidemias. Esta inatividade ¢ rapa sum cortejo de advert dndet, Evidentemente, nfo apresenta as propriedades do lazer modeme, Estes ciclos naturais sfo marcados por uma sucessfo de domingos e festas. 0 domingo pertence ao Culto. As festas multas vezes sf ocasifio de ui grande dispéndio de alimentos e de Tnergia; constituem o lnverso ov a negapfo da vida cotidiana Os Bestcjor ofa. indistoclavels das corimOnias; dependem gral mente do culto, nfo do lazer. Assim, embora. as. clvilizagéet tadisionals da Europa tenham conhecido mais de 150. dias sem trabalho por ano, ndo nos parece possivel aplicar 0 conceito ia s da civilizacso 1, $.de GRAZIA, Op. cit. 2. J, CAZENEUVE, La Mentallté Archaique, Paris, A. Colin, 1961, 205 p. A, VARAGNAC, Civilisation Traditionnelte et Genres de Vie, . 1948, 404 p. mpor tos pela Igreja contra o desejo dos camponeses e artesdos pars favorecer o exercicio dos deveres espirituais. O pobre homem das fabulas de La Fontaine queixa-se de que o “Senhor Cure sempre consegue por um santo novo no seu sermao™. Nos primdrdios do século XVIN, na Franca, estes feriados eram em ntimero de 84. A estes actescentamse os dias de trabalho impossivel (por causa da doenga, da baixa temperatura, ete.), por volte de 80. Logo, nesta época, na Franca, os camponeses e artesdos (95% dos trabalhadores) contavam, segundo Vauban, com 164 ins sem trabalho por ano, em sua maioria impostos pelas neces- sidades do culto ou pela falta de trabalho. Nas sociedades pre- -industriais da época atual eneontramos nunierosos trabalhadores “ou acto. Nao res fazem remontar o lazer ao modo de vida das classes aristrocraticas da civilizagso tradicional (de Grazia). Entretanto, também_ndo_acreditamos_que_a ociosidade dos filésofos da antiga Grécia VI sas lazer. Estes privilegiados da sorte, cultos Ou nfo, faziam pagar sud dg com 0 trabalho dos eseravos, dos camponeses ou dos valetes. Esta ociosidade nifo se define em relagfo ao trabalho. Ela ndo € nem um complemento nem uma compensacdo; é um substituto do trabalho. Este modelo de ociosidade aristocritica certamente trouxe uma poderosa contribuig#o ao refinamento da cultura. Os filésofos gregos associam este modelo a sabedoria; tal desenvolvimento do homem completo, corpo e espirito, era o ideal desta vida sem trabalho. A rejeig4o ao trabalho’ servil era justificada por Aristoteles em nome dos valores nobres; a palavra Scholé queria dizer, simultaneamente, ociosidade e escola, Os fidalgos das cortes curopéias posteriores a Idade Média inventaram ou exaltaram o ideal do humanismo e do honnéte home*. A ociosi- dade dos nobres estava sempre ligada aos mais altos valores de civilizacao, mesmo quando na realidade ela era marcada 4. VAUBAN, La Dime Royale, Paris, Bureaux de la Publication, 1872, Vil, 190 p. * " Homem integro. No século XVII homem perfeito segundo as lels da sociedade de seu tempo. (N. dos T.) ae pela Duas condig6es prévias na vida social tiveram de realizar-se a fim de que o lazer se tormasse possivel para a maioria dos trabaihadores: ~pa) As atividades da sociedade nso mais sfo regradas em sua totalidade por obrigagoes rituais impostas pela comunidade. Polo menos uma parte destas atividades escapa 08 ritos coletivos, especialmente o trabalho © o lazer, Este timo depende da livre escolha dos individuos, sinda que os determi- nismos sociais se exeream evidentemente sobre esta livre escolha. olnsli .4 ab o .zovizns ob obits O ledolg Ise1 oBgulove = smixéiq eism sxionsm ob -stinmog 28CI £ 8PRE 9b obzulove 6 sidoz sz19v sup .“tolnoH 4 romerisning :zofsbom ziob slaver zon alil -xodlom skautiz 2on- marliadex) sup eslooings-oBn zobeialsees ob oxomin o oup otaxe > oriv ons TI mo wordob s6up snsmse 10q esr0d BY ob einen RECT ob .eise uo 2sddlien HO g z0drilim Bb 9b uoeesq oup regio eobnsrg ofnomisieg Oe zorobsrlladsrt cota RT.QL 2 ‘001104 zoit1eqo — Inivoz sleozo ab sbabimoxtxo situo an — wo “eeinsioremos zoneupsq 20Diiz3iob zobsgoqmo zobsoitilsup cup zoloupsb oBgiogorq 8 sup rso9up29 oBn ozivorq 2 eM 8,02 ob ogmad omeom os uozenq eonom o esto OP muardlsdaxt zero -choigm obnsig ® oinsiioq obnstnsznqo: ;X259 6 zis sbniz uaseeo ofgivnimib & sisnSbnot & 2ons eomisiy oonis slnqioning lsiomq ogmst ob zogaqmo ob otnomus obiqht mus moo onllede:? on onsq sive .eninimst sido-sb-obm 6 siq_ stom @ ob) asib sb snsmse sb m3lA .*"ainsvear9 io Ismoizeitorq tosqunt of -nuriol Yo noltudintlb novon oft YARMSLIW bt {IDET 9b ofsay «0 amsldong Wick "omit aoe" no swrorg aieronoze To orsieaSt xodeh Qunaht ploow show gaol baa snuial sfsz lomevog 0 9 Innoxiag seasls s ,20%s9ibnie 20 sine BCL ob oilladmt ob snsmoe sb o8Qsub sb oBgivnimib ob oinsmi ob aib3ar obgeub 2 .mizzA sgn an oinsln ovon mo 31s esol Ob ob S19 sup .closhigs-oBn 10482 on consi ob obstiszzimoD 0 2 @dCl ms emor 2 meq 392: £1 zonsm oloq mo Briss oBgeub sizo 22! mo sup ver orivo 101 ."amod Eb uo bP brignits slo sup .d ori 2104 ob ansmse 8 (IV@I-8d@1) oboiteq omeom s%9 sinsib ,obsl ofgnsibnivior smu A .oeagsileronog 8 uabnat oriledext ob esi 9b ons O .zsrobedlisds) 9b otnosen oromin muy meq leu! ie 2obiugszno> 2oueq .sglot 2b sib SI 20 viuaimib odledsi1 2m mu & 8dCi edge eiogab 9 ennsmoe E's msiszesq EC! £001 ma msulove asisbi 26 A zobshsisees 2ob ehoism s sq 20 srt .oup evertzom “4041 ob lenoisen mogsbnoz emu ob es1od éeb oBgiuniatib amu sist E\l sb £5199 2oixr9q0 8 maixet 2olob £\S minoq onalse 9b oinomus mus orlisdsxt -ilewig-evon amy sbsb ict ooqd seo obzsb .10 .seroviai eillooe obsdiz) odladsst 9b snsmoe sb oBgeub eb oBgiunimib & sbsb A shobetnszoqs 9b obabi sb opmnve os 9 (owvil otmemsrisint zab InnoitkM sigh on sbesilaer mogsbnoe ainese smu ob ROT 9 ongoluofl ob Isozeaq ob R20 ."'ilusaohl eniiedbni oqms! 0 isiverde thsimg mereilosb aM aI 9b [sozoq zoberedl 20M ."“eootvrae"” ob xemssia romobog sup ob obenstxs staxo “sve olgalugog ab EO & Bt smaotos zogtinse 20b roree o 2obia) ASSP AHO) A 8,EP :eibde oketub ..2u0-neh STC ITAL «LL Bynes 2b Inomayendms 19 Hever ob aque ub nokloubdA “St POL «f ytappbnoz bon af t2 auziol aol wwe esiSupad SOARED AAUAT HEL SobsO ub aslo sRohamMONSD TUVA ei sb Isanorieg ub siv sb 26-6 qq VOL .aubads .¢ st da durag#o das férias € recente a tendéncia 80 aumen geral. Em 1971, segundo um recente relatério do Bureau of Statistics, a meioria dos assalariados dispde efetivamente de tiés semanas de férius, apesar de uma legislacso retrograde, quanto # este ponto, com respeito a da Franga. ‘Quanto ao argumento que se baseia sobre e duracao glo! da vida de tcabalho para negar ou minimizar o sentido geral da evolugfo em favor do tempo livre, como se situa ele num estuido de conjunto? Nao dispomes de estudos quanto a Franca, mas podemos utilizar os de Clawson!” sobre a evolugdo do oreamento-tempo da sociedade americana de 1900 a 1950, comporta uma reflexfo previsivel para o ano 2000. Apesar > cardter forgosamente aproximativo de um tal estudo macroecondmico e macrossociolégico, as ordens de grandeza da distribuigdo das horas de tempo livre da populagdo ativa no decorrer do perfodo estudado so suficientemente diferentes daquelas de hoje para néo deixar nenhuma diivida quanto a0 sentido geral do emprego do tempo nesta sociedade pés-indus- trial. E exato, na verdade, que a parte do tempo de trabalho global da naco nfo péra de crescer: de 86 milhoes de horas em 1950 passa a 132 bilhGes em 1970, e, de acordo com estudos sobre a probabilidade da evolucgo, seré de 206 bilhdes: de horas no ano 2000. Tais observagées aparentemente dio razo aqueles que preferem dar mais importancia ao aumento do tempo de trabalho do que ao do tempo livre. Mas, na realidade, 0 que € que tais mimeros medem? Primeiramente 0 crescimento demogrifico e 0 alongamento da expectativa de vida™® mais do que 0 aumento do tempo de trabalho na vida quotidiana. Por outro lado, esquece-se de acrescentar que, em valor relativo, a parte do trabalho no orgamento-tempo da nago encaminha-se de maneira decrescente: 1900: 13%; 1950: 10%; 2000: 5% — enquanto que, ao contririo, a duragé do tempo livre encami- nha-se de modo crescente: 1900: 11 137 bilhdes de horas (isto &, 27%), 1950: 453 bilhGes de horas (isto €, 34%), 2000: 113 bilhGes de horas (isto 6, 38%). Observemos, além disso, que baseia sua argumentacdo em casos de mulheres diplomadas que preferiram as obrigacGes ¢ o¢ lazeres domésticos a um trabalho profissional 17. M. CLAWSON e J. L. KNETSCH, Beonomies of Outdor Recreation, New York, J. M. P., 1966, 348 p. 18. Perspectiva de vida nos Estados Unidos, total da populacgo, 1900=48,5; 1950=68,2; 1967=70,5 — in Historical Statistics of the USA, Washington, US Department of Commerce, Bureau of the Census, 154 p.,p. 5 34 aumenta menos de trés vezes e 2 do tempo livre mais de seis Quanto s0 “valor do trabalho” como motor da evolueso € preciso renderse & evidéncia: mesmo numa sociedade industrial avangada como a U.RS.S., que faz mais que qualquer outea sociedade por estes valores, observase © seguinte: na pesquisa sobre os trabalhadores (18-30 anos) de 23 empresas do Lenin- grado (1965) aqueles que sfo dominados pelas “orientagdes para 0 trabalho de produgf0” representam apenas 7,7%"”. Diante do conjunto de todos estes fatos, o que podemos sustentar? De um lado, a sociedade pés-industrial ou clentifico- “técnica, apesar do aumento de possibilidades de tempo livre, ago seri para todos uma sociedade marcada pelo tempo livre. Uma parte dos trabalhadores, seja porque @ trabalho é para eles fonte de criagio cultural ou de responsabilidade social, seja porque as necessidades de consumo sio as mais fortes, soja por desinteresse para com as atividades do tempo livre, assumirao jomadas, semanas, longos anos de trabalho como na sociedade anterior. Esquecer de evocar estes fatos, quando se fala da evolugao atual e provavel para o futuro, é truncar a realidade, € produzir uma representagéo ideolégica do tempo livre ow do lazer; mas tais observagSes nfo concemem senio a minorias. Para a maioria dos trabalhadores, nas sociedades industriais avancadas, 0 sentido dominante da evolucso est provavelmente no aumento do tempo livre, metmo quando se trata de win regime socialista. Isolar_ um indicador relativo & duragio da semana de trabalho durante um periodo limitado, ou ainda a evolugi do mimero global de horas de trabalho durante « vida, sem situar a importineia relativa desta evolugso com respeito aquela do tempo. livre no orgamento-tempo global significa mutilar a realidade: esta_mutilaci a generalizag6es abusivas sobre a preponderancia do trabalho na. evolugdo. Tais generalizagses ‘so antes inspiradas pela vontade de ver o trabalho tomarse dos fatos relatives & evolugio das relag6es entre o tral © © tempo livre em todos os tipos de sociedades industriais avangadas””. 19. A. G. ZDRAVOMYSLOV, V. P. ROGIN, V. A. SIADOV, O Homem e seu Trabalho, Moscow, 1967, 130 p. 20. Para um ponto de vista diferente do nosso, cf. P. NAVILLE, Le Nouveau Leviathan, t. 1:De L'Alténation & la Joutssance, Op. cit. 3 ‘© aumente do ‘balho suscitard , pés-industriais daqui até © fim do século: as criangas que ingressam neste momento na escola de 19 grav nao tergo mes a metade de sua vida, b) O “bico”* em questao A que género de atividade este tempo liberade do trabalho ional teré afetado? Ele no se reduz ao tempo de lazer. 1957 um ensafsta social, H. #1, apés a reflexto iva de um grupo de militantes sindicalistas sobre 0 emprego do tempo liberado pela passagem para a semana de 32 horas, nas fabricas de borracha de Akron, publica um artigo de titulo espetacular: “Less Work, Less Leisure”. Este titulo difundiu-se, como certos nuimeros bastante convincentes: 40% dos fares € 17% teriam assumido uma segunda profissio. Est foram difundidos em um nin =P sionante de obras soci frequéncia 0 comentirio exp erar 0 tempo de trabalho pi tempo € ocupado Por um outro trabalho, o * Gnoonlighting, work)? NEO seria esta a prova de que o homém é incapaz de dominar o tempo livre, sobretudo o lazer, e que “o trabalho € a pri- meira necessidade humana”? Georges Friedmann resume bem esta posi¢fo afirmando que © tempo liberado é sentido como se fosse oco © que ele & preenchido com bricolages” (biseates) remunerados ou um segundo emprego, nZo somente porque se, tem fome, mas também porque se deseja preencher ito era: para que 22, S. de GRAZIA, Op. cit. * | Bricoler: no sentido aqui empregado, ganhar a vida execu- tando toda a espécie de pequenas tarefas (N. dos T.). 23.. G. FRIEDMANN, La Pulssance ef la Sagesse, Pais, Gaia 1970, 507 p. —s 36 ents o.cese de acerdo squisando ag condigdes nas qu fatos, percebemos que se tratava, uma pesquisa empfrica donunciar a prética do trabslho empresas. & por certo dificil, nas os fornecidos pelos proprios interessados: cumpre, portanto, recorrer as estimatives daqueles que podem observar 08 comportamentos reais, porém, para evilar as afirmacdes fs, toreidas pelas_necossidades di desejdivel partir primeiro de enquétes empiticas © em se tentar corrigilas pela observacfo critica dos comportamentos As estatisticas oficiais da Secretaria Federal do Trabalho ameri- cano (1966) indicam que cerca de 5% dos operirios prat algum trabalho de “bico” (moonlighting work). Na uma enquéte™ recente com 120 operirios de Toulouse, escol dos por cota segundo um plano experimental, revela a porcentagem. Os autores americans e franceses tem as ms Feservas quanto 20 nimero obtide, embora nfo dispo: das necessirias informag6es para corigilo. Numa enquéte (1955-1970) efetuada em Annecy, uma observago sobre uma Amostragem representativa do conjunto dos operarios da aglome- ragio (sondagem de 1/209) completada por uma observacio estendida por vérios anos (1955-1970) permitiu ou estimar, através da verificagdo de testemunhos, 0 niimero de assalariados ‘que praticavam trabalho de “bico”, como sendo cerea de 25%. Duas recentes enquétes empiricas na U.RSS. e outrs nos Estados Unidos possibilitaram obter respostas indiretas a questGes referentes a0 emprego do tempo liberado na primeira”, quando se perguntou a0s operdrios “se a jomada do trabalho fosse reduzida e se o seu tempo livre aumen de que maneita vooés pensariam utilizélo?”, 16,9% respon “cu farei um trabalho suplementar”, geralmente para_ dinheiro. A segunda pesquisa, feita por B. Gruschin®® 2 2000 trabathadores de Moscou revela que 28,7% dos operdrios exerceram um trabalho suplementar. Por outro lado, nos Estados Unidos, na amostragem (ngo-representativa) de empresas que 24. RRUE, Lotsir Ouvrier chez les Métallurgistes Toulousains, Haia, Mouton, 1965. 25. A. G. ZDRAVOMYSLOV, V. P. ROGIN, V. A. SIADOV, Op. ett. 26. B.GRUSCHIN, Op. cit. 37 ico” durante o regime dos fins de semana nde semana de trés dias, 0 total elevou-se © grupo encarregado de estimar o numero real dos res enyolvides pensa que eles devem representar 3% do total?” E muito dificil chegar 2 uma conclusdo capaz de escapar a toda e qualquer . Nao obstante, apés a andlise de todas estas observagdes sistematicas, acompanhadas ou no de aprecia- Ges criticas, acreditamos poder adiantar que o numero de operérios que se entregam a um trabalho camplementar dito “pico”, de duragdo e género variaveis (podendo ir de um “bis- cate remunerado” a uma segunda profissdo), deve situarse ha maioria das sociedades industriais avangadas de tipo capita- lista ou socialista, com variagdes importantes, em torno de uma média de 25%. Se esta hipétese € a mais plausivel, os 3/4 dos _operarios ariam seu. tempo liberado do trabalho profissional para outras atividades, exclusivas de todo trabalho remunerado. Voltemo-nos_ agora. para os managers; ouve-se dizer amidide que eles nfo tém lazeres, que so candidatos a enfi ete. Quanto a este ponto, faliam-nos pesquisas sistem de grande envergadura. Sabe-se apenas, através dos estudos médicos*™, que certos grandes responsaveis por empresas fazem. semanas de 50a 60 horas de servigo, que levam trabalho para casa e que para eles os lazeres sfo devorados pelas “obrigagoes. socio-profissionais”. Mas sabe-se tambem — e quanto a este ponto existem rosas pesquisas sistemiticas — que é entre 6s executivos que se encontra a maior proporeao de praticantes, de_esqui, equitago, barco a vela, longas viagens de férias, safaris, golfe, ténis, teatro, concertos, leitura, ete. Numa cidade como New York, é bem’ dificil encontrar ‘um executivo em seu escritério na’ sexta-feira a tarde... Como conciliar estas observag6es contraditérias? Em nossa opinifo, provavelmente 27. 1. DE RIVA POOR, 4 Days, 40 Hours, Cambridge (Mass), Bursk and Poor, 1970. 28. Dr. BIZE, Lé Surmenage des Dirigeants, Paris, Ed. Entre- prises modemes, 1961, 170 p. 38 a0 os managers mais imporiuntes, mais carregedos as bilidade ou os mais animados por uma yoniade de poder que sf privados de tempo livre, ¢ a observicS0 participante nos demonstra que sf minoritérios entre os executivos. A maioria destes sf 0s privilegiados do lazer em todas as enquétes siste- miticas sobre o lazer nos Estados Unidos, na Franca ou nas Ouires sociedades industriais avangadas; ‘pode-se, em certo sentido, considerdlos como os gucessores’ da leisure class ana- Tisada no fim do ultimo século”. Uma pesquisa de 1962 con- Guzida sob a égide da Harvard Business Review junto a cerca Ge 5.000 managers da indistria ¢ da administragao demonstrou ‘que, na verdade, em média, estes executivos trabalham 43 horas na empresa e 7 horas suplementares em casa. Tém 4,30 horas por semana de semilazeres profissionais, mas dispoem ainda de 30 horas para o lazer pessoal”. Na enquéte americana relativa as mudangas provocadas pelos tiés dias de fim de semana, 80% dos operirios, emprogados © executivos “usam seu tempo liberado para se dedicarem a atividades de lazer mais do que para ganhar uma renda suplementar”®. Na pesquisa de Lenin- grado (onde, como vimos, 16,9% dos trabalhadores escolheriam Um trabalho suplementar se ihes fosse dado mais tempo livre) entre as dez atividades nas quais, nesta eventualidade, recaem de 40,3 a 78,7% das escolhas, foram recenseadas sete atividades de lazer. 0 que € mais verossimil 6 que a maioria dos traba- Thadores de todas as categorias invistam seu tempo liberado em atividades fora fo trabalho e particularmente no lazer. Assim, podemos, & luz destas pesquisas recentes, propor duas conclusoes: 1. Qmitir um quarto dos trabalhadores para os quais a durag%o do trabalho aumentou nos Estados Unidos e que este 1/4 (muitas vezes os mesmos) que transforma seu tempo liberado em um tempo de trabalho em “bicos” para tece: loas a diminuiggo uniforme do tempo de trabalho, ¢ adotar concepsiio ideologica da situacdo, velar as desigualdades sociais, ignorar 0 desmesurado peso do trabalho sobre minorias despro- vidas ou hiperativas. 29. T, VEBLEN, Le Théorie de la Classe de Lotsir, Op. elt: 30. Enquéte realizada em 1962 dentro do quadro da Harvard Business School. 31. I. DE RIVA POOR, Op. eit. 32, Cinema, literatura, teatro, exposiges, espeticulos esportives, priitiea de esporte, felevisio. 39 wer ainda uma ideologia jbalho, tomar seus deso- os de uma concepeso ©) Aqutvoco das “atividaces familiares” © tempo liberado pela redueso do trabalho profisi seria ocupado pelos trabalhadores ¢ trabalhadoras. sobre com “atividades familiares”? E a tese que sustentam N. Anderson™ © numerosos socidlogos da vida familiar. Para alguns dentre eles o lazer seria uum conceito menos til que “‘a fungdo recreativa da famélia”*® E certo, antes de tudo, que o tempo liberado do trabalho profissional foi amplamente ‘ocupado por atividades familiares. E, Scheuch conclufu, numa pesquisa sobre a populagao de Colo- nia, que o lazer ou o semilazer tem sobretudo um cardter familiar ¢ que ele contribui para aumentar a coesfo da familia através do desenvolvimento do automével, através da televisio, das férias, dos fins de semana, etc.” Nas grandes cidades americanas, 0 tempo liberado para um trabalhador em proveito das obrigagdes domésticas ¢ fami- liais*” representa, em média, na enquéte internacional _sobre preciso evocar os socidlogos do trabalho que, a0 zeconhe- gica do trabalho industrial & produzix 0. nio-trabalho ividades de nfo-trabatho dependem : a sociologia de trabalho vé assim expandiz-se seu campo aquilo que é sua negacso, 0 nfo-trabalho, esfera das atividades livres” (P. NAVILLE, De L’Allénation @ la Joulssance). Sem negar & eyidente importancia das relagées, entre trabalho e lazer, por exeimplo, Yéae mal como a sociologia do lazer poderia achar seus conccitos © suas dimensGes especfficos em outro campo que nfo © seu, 34. N. ANDERSON, Work and Leisure, Op. cit. 38. W. GOODE, “The sociology of family” in Sociology to Day, ed. by R. K. MARTIN, L. BROOM, L. 8. COTTRELL IR., New York, Basie Books, 1959, 623 p. K. SCHEUCH, Family cohesion in leisure timo, Socfological nova série, julho de 1960. 32. © que chamamos de obrigngdes domésticas © familiares cores- Ponde Aquilo que a enquéte internacional sabre os orgamentos tempo Wesignou como housework, childcare, shopping, personal care, dating. 40 93 ustempo (1966), semana (3,0 para ‘a U.RSS., 4,4 para a Tchecoslovaquia e 4,1 para a Franga). O desenvolvimento dos fins de semana de trés dias nos Estados Unidos aumenta ainda 0 tempo dedicado a tais tarefas familiares em 23% dos casos: a viagem de visita aos parentes & praticada de 121%*. Se tais fatos se generalizarem, pois adiantar que © aumento do tempo Gerd © pritica das relagdes de parentosco (familia extensa) Numa sociedade industrial avangada de tipo socialista (URS, uma enquéte sobre “orcamentosterp: (Kirovskey) prova que 96.4% do tempo livre (lazer © obrigagdes) 6 utilizado em familia’® e, na pesquisa rei entre os jovens adultos das empresas de’ Leningrado, os valores da. familia dominam a orientagko de 41,6% dos individuos (enquan que apenas 7,7% dentre eles, 6 bom que o lembremos, sio Srientados para os valores do trabatho produtive) Cada ver que foram feitos estudos de orgamento-tempo sobre operérios que no se beneficiam de nenhum auxilio, familiar © assumem simuKaneamente o trabalho em casa co trabalho ma empresa, o tempo de lazer profissional é ocupado principalmente por um segundo trabalho, 0 de cas plano, sabese que aquela que trabalha é muito mais do que aquele que trabalha, mesmo nas sociedades socialistas que empreenderam um grande esforgo politico em favor da emancipagio da mulher. Assim, em 1966, na U.RS.S., 0 traba- Ihador urbano tem, em média, 510 horas de tempo livre ea trabalhadora apenas 3 horas © 8/10", quer dizer, cerca de duas horas a menos. Em nenhum lugar a'defasagem é to grande, segundo a enquére Internacional dos Orgamentos-Tempo. Mas em toda parte, sem excegfo, defasagem existe; apenas sua importaneia varia, Esta situagao traz em si novas possibilidades de as horas de trabalho profissional se as mulheres se org em grupos de pressfo. Ao observar as desigualdades de horirio entre as empresas da regiso de Paris, W. Grossin péde concluir 38. Os minutos #6 expressos em décimos de hors. 39. I. DERIVA POOR, Op. cit. 40. V. BELIAEY, V. V. VODZINSKAIA, Bstudo do orcamento- -tempo dos trabathadores como método de obscrvagso concrete s0cio- Iogico, Vesmnik Lau, 23, 1961. ‘41. V. BELJAEY, V. V. VODZINSKAIA, Jbid. 42. W. Grossin. Le Travail et le Temps: Horaires, Durées, Rythmes, Paris, Anthropos, 1969, 250 p. 41 que 0 fator mais detecmiuante da trabalho ngo é nem a pressfo sindical nem o genero de mas a pressiio do pessoal feminino. O peso desta dupla carge de trabalho familiar e profissional sobre as mulheres € que levou 9s sindicatos (CGT, CFDT), na Franca, a rever sua posicgo quanto & igualdade ‘do trabalho masculino ¢ feminino preco- hizando, sob certas garantias, uma extensto do trabalho de tempo parcial Entretanto, a conjunefo dos progressos da cigneia e do Movimento de Libertaggo Feminina, associada @ revolta dos jovens, modificou 2 concepggo daquilo que é chamado de “atividades familiais”. Que expressdo equivocal Na verdade, nuigge das © que significa ela? Quais, dentre estas atividades, so necessirias; ‘quais 40 as facultativas? Algumas so impostas pelas funcdes © pelo funcionamento domésticos; quer se trate de uma pessoa solteira, de um casal ou de uma coletividade; as outras ni serio lazeres ou semilazeres? Uma recente enquéte (1970) dirigida por B. Sullerot sobre uma amostra representativa nos permite distinguir em todas ai classes socials, em graus variados, uma “‘explosio” do trabalho doméstico antigamente concebide como uma neces- sidade © um dever indiscutiveis. Este trabalho explode em ccupacdes, diferenciadas pelo grau de necessidade que elas apresentam hoje: assim, fazer doces, arrumar armirios fo estfo no mesmo plano que arrumar a’ casa ou lavar a louga”® Segue-se que todas estas tarefas no mais podem ser classifi- cadas sob 0 titulo genérico de “trabalho”. Uma parte das antigas tarefas domésticas tornada inuitil pelo progresso da mecanizago ou da fabricagao em série, passou a ser lazer ou semilazer, a ser escolhida entre outros lazeres a partir de um certo limiar do consumo e do nivel de renda. Também 0 trabalho educativo relativo As eriangas n4o mais exige, exceto para as criangas de pouca idade, esta presenga constante, baseada na obrigaco pedagogica. A aco dos médicos, dos educadores, dos ‘‘colegas”” substituiu, em parte, a ago dos pais™. Os jovens reivindicam cada vez mais cedo, fora das obrigagoes escolares ou familiares, autonomia no emprego de seu tempo e de seu dinheiro; trata-se, na verdade, daquilo que € necessirio que se designe, realmente, com uma expresso mais forte do que “brineadeiras de crianga’", de uma vida lateral que se reveste das mesmas caracteristicas que a do adulto e que se origina no lazer. Na sociedade ameri- 43. E. SULLEROT, Comunicaedo agpresentada no Congreso dos Sociélogos de Lingua Francesa, Hammamet, set. 1971. 44. D.RIESMAN, La Foule Solitaire, Op. cit 42 reivindica esta crescente autonomia do lazer’ educativas da mie dividem-se portanto num trabalho edt talvez cada vez mais necessirio ¢ em stividades de lazeres ou semilazeres partilhados com as eriancas em passeios, em férias, em fins de semana, A necessidade educativa eo lazer_pessoal. estfo ai cada vez mais misturados’*; a afeigfo necessiria © ~afetividade nifo-necessiria devem ser uf distinguidas em cada caso. Finalmente, © papel conjugal (particularmente sob a forma do “dever conjugal”) foi também profundamente transformado para a mulher. A descoberta de meios de intervengio sobre o Proprio processo da procriagyo ¢ a causa cientffica disto, em Interaggo com uma mutag#o de valores. O que passam a ser 2 obrigagSes conjugais com respeito aos lazeres dos parceiros? ‘Na sociedade americans, 0 Relat6rio Kinsey"? jé revelara que, em 85% dos casos, a vida sexual dos americanos ¢ ameri- Canas nfo mais correspondia ao modelo ideal definido pela Gtica dominante. A descoberta da pilula acentuou e acelerou, para a mulher, esta dissociaggo entre a maternidade ¢ a sexuali- Gade: uma pesquisa sobre uma amostra representativa na Suécia (bem diferente do estudo Kinsey) dentro da populagfo urbana evideneiot que, no més da pesquisa, apenas uma relagdo sexual fem 1000 resuliara em um nascimento, estando a imensa maioria no abrigo de qualquer procriagfo. Doravante as relagdes sexuals se dissociam; uma pequena minoria destas ligase 4s necessidades da reprodueo da espécie, porém a imensa maioria tem como fim primeiro « partilha do prazer com o parceito de sua escolha espota ou esposo, amante, amigo ou amiga. O Movimento de Libertagso Feminina reivindica a seguir, para as mulheres, 0 direito de nfo. mais serem passivamente submetidas a0 dever ‘conjugal. As mulheres aspiram ao direito de levar uma vida sexual que as exprima perante si mesmas. A sexualidad da maternidade passa a ser “fato_individual-o—cultural’? (E. Sullerot), tomase “uma dimensdo da liberdade humana” 45. D. YANKELOVICH, A Study of the Generation Gap, Conducted for CBS, New York, CBS, 1969. 46. (MJ. BoM, et al. CHOMBERT DE LAUWE, La Femme dans izes? A prética conjugal é também da liberdade humana”. Melhor seria dizer que um conjunto de atividades, até entao regido pelas leis da espécie e pelo dever institucional, entra no setor das atividades cujo fim é, primeira. mente, a satisfacfo do proprio ser por si mesmo. Este tempo ganho a0 trabalho doméstico, ao trabalho educativo, a lei da espe. cie ou da instituiggo, 6 uma forma de tempo liberado que pode aumentar, apesar das desigualdedes, dos retardamentos, das resistencias, o tempo de lazer ou de semilazer feminino, ‘Mas as priticas e as_mentalidades atuais que dominam homens e mulheres permitem a todos uma tal liberagao? Comentemos os ntimeros citados acima. Nas grandes cidades americanas, o homem trabalha em média 6,3 horas por dia © a mulher que exerce um trabalho profissional dedicelhe, em média, 4,7 horas. Ele consagra, em média, 3,3 horas 4 obri. gages famillais © domésticas- (incluindo-se ai os cuidados pessoais)*° © ela, 5,7 horas, 0 que deixa, a um, 5,6 horas de tempo livre por dia e a outra cerca de 5’ horas. Na Franga, o homem trabalha 6,6 horas por dia ¢ a mulher que tem um emprego profissional, 5,5 horas. Deste tempo fora do trabalho profissional o homem emprega 4,1 horas em obrigagoes fami. als ¢ domésticas, e a mulher 6,4 horas, 0 que deixa ao homem, em média, 4,3 horas de tempo livre por dia, ¢ & mulher, 3,3 horas A orienta socialista de uma sociedade industrial avangada reduz esta desigualdade? Vimos que no: na U.R.S.S. © homem trabalha, em média, cerca de 6,2 horas por dia ¢ a mulher 5.7 horas; ele utiliza somente 3 horas de seu tempo extrapr i ara as obrigagdes familiais ou domésticas, ao passo que a mulher consagra a estas tarefas, 5,7 horas. Assim o tempo liberado deste duplo trabalho deixa ao homem 5,7 horas ¢ 3 mulher apenas 3,8 horas! Historicamente, o direito ao lazer 6 definido em relacgo a0 trabalho profissional; os homens é que o reivindicaram: “o dircito 4 preguiga ¢ 0 grito de um homem erguido contra redugao do trabalhador ao papel de- produtor™. Para as que trabalham no Jar ainda nao soara a hora! Elas tinham tao-somente 49. A. JEANNIERE ef af, Démocratie D’Aujourd'iut, Paris, 963, 191 p. 50. Vejase a definigdo das obrigagdes familiais © domésticas 8 pagina 94, Sl. F. GOVAERTS, Op. cit Spes, 44 Fe pee De ene Ree sane ee) agai ey Smee Fes chama-se “dignidade”. E portanto com relagéo a este duplo : Assim, a liberag%o do tempo profissional é acompanhada eae asces ue ce eee aie fea compensagio, ‘les para quem o tempo liberado todos os fatos, o que prova que se uma parte das obrigacdes ge Seema eet ee Sete ee ee ne sa ae aa ee a ee ee ae eee 45 Zo 4 a suptesstic dos deverss vindicada ¢ a do controle ituiggo familial sobre a vida pessoal de cada ser. Esta idade se desenvolve cada vez mais sobretudo nos meios instrusdos das novas geragdes. Abordemos, para terminar, 0 problema das_gtividades siclo-espiritusis © sécio-politicas’ Tanto umas quanto outras ‘esto incontestavelmente inclufdas no tempo livre, porém podem elas_ser_colocadas_entre_os lazeres? Certos autores nfo hesitam em fazélo, como 5. Pieper quanto as atividades espirituais, “A Contemplagdo”*? e G. A. Prudenski, assim como a maioria dos socidlogos soviéticos atuais** quanto as atividades s6cio-po- cas. Este nfo é nosso ponto de vista. Parece-nos que distingul- permite colocar trés problemas, em nossa opinidio de uma importancia maior para 0 conhecimento do fendmeno do lazer. 1. A extenso do tempo liberado foi proveitosa do ponto de vista historico sobretudo para as atividades s6cio-espirituais € sécio-politicas, ou entao para os lazeres? 2. Ne tempo liberado do trabalho profissional e familial, © desenvolvimento de uma nova parte do lazer ndo provém precisamente de um retrocesso de certos modos de atividades sécio-spirituais e s6cio-politicas do perfodo anterior? 3. Quais seriam, neste caso, as entre as atividades de lazer e as atividades de engajamento sécio-espiritual e sécio-politico? Estas questdes sdo primordiais para a apreciagso das verda- Geiras dimensoes do lazer nas sociedades industriais avangadas, também das novas condigses concretas do engajamento jo-espiritual ou sécio-politico. Comecemos pelas atividades sécio-espirituais, notadamente religiosas. A redugzo do tempo de trabalho profissional ¢ a limitagao das, obrigagGes familiais permitiram uma extensio 4a pritica religiosa? Nao conhecemos trabalhos histérico-empt- ricos acerea deste ponto especifico, porém, a observago 0 revela, certas minorias especialmente de devotas -aposeatadas ou de jovens adultos, militantes da agdo_religiosa, reverteram. em beneficio de sua pratica religiosa este tempo qué se tornou 52. J. PIEPER, Leisure, the Basis of Culture, Op. cit’ 33. G. A. PRUDENSKI, Op. cit. 46 300 catequistes americana sobre o fim de semana de trés dias, uma p: trabalhadores deciarou que eles haviam aumentado suas dades religiosas desde que dispunham de trés dies livres en ver de dois; mas esta investigacko diz respeito apenas a niimeros reduzidos de casos: 14 em 138 ao invés de 9 em 118 na situagso anterior. Entre os jovens estudantes ou empregados (ameri. canos, holandeses ou franceses) que limitam ou cessam tempora- riamente © trabalho escolar ou profissional para centrar o es cial de sua vida no tempo livre, observase incontestaveli certo. desenvolvimento de atividades coletivas, a jiosas, de inspiragdo mais ou menos oriental ou siti. cana®. Mas até agora, como no pasado, pelo menos desde o Renascimento, trata-se de pequenas minorias no sefo de minorias No passado, ‘permaneceram marginals. Suas idéias estiveram em moda, depois uma outra moda as substituiu por outras idéias. E desta ver, seré diferente?*> Até hoje, em todas as sociedades industrials avancadas, para a grande maioria da populago, é fato que a extensio do tempo livre ¢ acompanhada de uma regressio do tempo dedicado. as atividades controladas pela autoridade religiosa. Mesmo nas sociedades em que a pratica religiosa continuou por muito tempo Paricularmente forte, a taxa de_participaggo mais ou menos regular diminuiu nestes tltimos cinco anos: no Canad, passou em média de 40% a 30% da populagio. Nos Estados Unidos, segundo a sondagem nacional a respeito da juventude evocada. acima, 64% dos jovens fora das universidades consideram & religiso very important, mas esta é a opinidio de somente 38% dos estudantes. Sabe-se que, na Franga, a prdtica mais ou menos regular da missa ndo diz respeito, hoje, sendo a cerca de 20% da populagao®. ‘© movimento vem de longe. Segundo os analistas da socie- dade tradicional francesa, desde os ultimos cento e cingienta 54. E. A. TYRIAKIAN, “Remarques sur une sociologic du. siapeement qualita in BALANDIER (@.), Soctologte des Mtutaions, aris, Anthropos, 1970, p. 83-84 — Comunicagdo ao Congresso dos Sociétogos de Lingua Francesa, Hammamet, aut. 1971 35. ec. do ingles: 56, A. LUCHINI, La Fréquentation des Equipements Religicux, Etude Rétrospective sur te Comportement des Frangais, Pais, Comite Nacional de Construgo de Igrejas, 63 p. + anexos. a” 2 weilona sb ,inuiniqes-otnd2 ovnameiagns’ ob 5 olisqes: mos rossl ob onsménst ob asvitigeqes esbeb: noloupeb omaomn 0 i0sib stetasbod *fokgelqmsinoa. & #Giiktinuenos o}namiviovisee! is enouloni imogizo 2b zovinévins 2otisonce & msioxose zasoy esiuer alo & zobsupsbeni (sbsbinumoo .sbsbinressit .siest) Isnoi: oe ogee ab tina zolnomsquigs 20b vo zs0inust enb 22ilins ieb sholnm on ,manimil -emonia 9b eorobams uo eoobssesd ‘se-obnaving 2080! 9b otisonos olxgang 0 .2asev jio0 eedenornib cue ,indolg onoménst 9 absbisitiosges tinuihiqesoisd: zotnomsiggns 20 moo esolsbleib esbaalsr zauz 9 tb obuiawdos moviv tol aisivaubni robebsiooe enb seho an ‘ote miuo emu 3b absbinumoo amu ob sigisizon ab uo oBeutt i ot “ormao v9" 9b TsiMib sium sbnin > obteoup A -Aisioos 9 esilog Gie eoinsipatl 9 zonot oB} ,2mofeIAE 2% 201 sup ob sbE ‘Ciautasloiai tob siroinm x sis .zoxigdlomateiqa 20 Ginily, mu. eoiobevisenoo wo eetobemmTor _;conknciouloven Ouinsb cabinag 9b o1nog 0 abe amoldorg o snoiehae Isnoizesq Sloor ehb Onguutiz w zomsoove On 92 .anbidsonoserq asidbt ob SLU 8 orto ,etellsiooe oqid 9b esbagnsvs aishieubni zabsb aigoloinoe ob ongéanctnt ab ails 10q > ,siupivoleossoT 6 uo Gilleda) ab estod sab obgubo a eup atsiborg slogn’ 7 .eotigms Sosnueen 2ob sinamavin einer weqioinisq oftitoqo o8 sivsinmog Noid eob olanib wzinute roluqioetb ase 9b zoriuM .absbiO ab Gitmornue ov fanjoeob omoo roi12aM 0 9up 2sbeuli zonom «St © moma) "eobstedil” eaobailladeit cob soitilog absbivis « ‘mu “onpasitiloqesb ab. roIst loviteog. gw omo> 981 finq ob tobubivite 2x 92 .leo1 8 ogiioq O .°“ovoq ob oiqd" ubito> 20 wnbsjaioona tinm oe ob soitilog 9 Isivoe oByEq Gimloob vee moovorq mageome enoibil esdsoinumos 9b nnionam 25 oup ,ohbiinos on ymsznoq 2ogolbio02 201140 fnoiber o&! 3 alam Opn atioub nb 9 abroupes ab obgizogo & .ls123 init o wsionuna s oman magorls enualA 2ons iso bel oFnBup zeblutitedye mise estenteds e2sigolosbt 2A ."*esigolosbi 2sb tnumos sinomnvitalar eoxolay moritefiox 2 .oBge sb 20inbii1> 109 itnsbi s 31 mages oup toloupeb mdmat aslst eomsizebol .e2 cobibnatea eatzinut 20 on» "loe ob obigilay” svon smu sao0 Sb ofginiteb # riamab agol oouoq mus 3val cise Otel SovisT UDSATAL A x ofzuborini .TAOMAMMOG .M 0d 80 SLIAIVAM t'9 82K .oroqesh .bo svon zie jovea wl & wear oat aT CIID) o09n9iD «golosb\Yo A aK LIM C19 1q OIF ove oe sogoi 2 20113 (acbisuber sinomavisesgom sbabinurecs ab enogee ,eollna) "eoressl” ob smario asngnaV A eup oloq 2061 f mages singvsiob snrosel 20. -"e(obaivele!. adnan Tt onsaBsV ollioioD o 2dgs .elnomeinsossl .obsbiojus 2109 Ienotoiber: obyssinsgio attab aoighitar 20D mW «(202t-SOei) sinomajerib serssiexs s. leotisla sbabhioiue s iusosisquesb abilods io} tinovu| eoinamivom 20 sidot © tossnoxaq 20, s1doz toviv ain sev abso zohOraizaino® aisiooz zornnmivorm to 25¢3 om hr oBa otal # olnsuO -tsforal tab ise ohgorq on iniomuo obsquoo oqms! ob stnsiiogmn! sfeq amu .abiva tus slog eobslorinea attest Yo eogoi 10% yeseoigilan eobsbiv ton 2980v 26 absSinsyio .2isiuilus 9 asviissros1 2ababivids “Oli 20b 9 2idi_2ob-oailduq © sinq ,oflu ob einool zonao1q .eeoiziw} enogeiv_,2od9izoqx9 ,zovieeslo 2os19909_,Ssui_,219i1- 2ob osgesiliau sa os8l ob goviiom zob siondulini sieo 28M 919 obgeoMingie smu iueoq ob o%lve ob torbsup z0b 2 2isool Wogolda! zoliurm sjorl ,misznoq 0 mie S51 s sxaq sugtdms oup roverseo obGq onsohioms siehomud mU .2i3f 9 estobioone £ suq 192 8 Uoeeq roMlns2 ob si o zobinU zobsrel 20a mobno} so20q 8 9 59h 8 sup 9 “oseenuurls” ob sib o .snoinm obgequso sms se § 9bno} soe1q # uP UO somq # iUTia2due & tob shaq smU .ognimob ob eoressl 20 up esousen smzam ob teb oneq smu eb obgesivisl simu ob otsnog uooeen 20% ssdgagindo 2eb ohng atu ob oReeoraer ab 9 aevitsloa 25091 __ obsbinumos slog anizoqini enzoigilar-sthq 110 28201 niqeni ob 2ogoldivee ob crema sbnag mu .zioq mize igeooinde sabgeghdo exb oRezerger ah otisle 0 so0upe2 cote! © asneqs 19391 s16q 19881 ob oBQUbOg sb_soimbnib én zisur sieo malitum r0l8 -odladet) ob soimdi-ooitiyaots obgulover ab soup 9b o's o males uo maooupzs ,oqms! omeom os jwoimtbnib orlledert ob obersdil oqmn? ob sisoisq smu zevite anironimn sxx: -20-0l002 eababivire 9b oJnamtviovaseab os ebsoibsb 8 Temoizettorq : season HO eagitas eisutiai 109 © Holq » msoAismabi sup esloupa ,obsl o1uo oT” Isutitiqes 9 Isnoiviber) otieonos os ress! eb .ovis! ,omsbom sigolosbi smu 9b amon me ,mediorg 22 on “oxgsiqmatnos 2b SIV oh asineD 49 sllannonibarT woltealllW> AKOATAY A v2, “4 SOR 3PK fostid nidtA abot dts gO anh o zen onisd ATTA U8? oe atividades de lazer seriam substitutos felizes de ividades politicas puramente verbais. Devemos ultrapassar provisoriamente o confronto destas duas teses gerais para colocarmos de modo conereto, novamente, as trés questdes que abrem este capitulo e tentarmos sondar os resultados da pesquisa histOrico-empirica a fim de saber ssivel respondelas. A tarefa nfo ¢ muito simples. .. jo das respostas pode variar com os eritérios ¢ indieadores ‘omemos em primeiro lugar o indicador da abstenci nas eleigdes politics. Como evoluit este. abstenGionismo? Poderse-ia imputar uma eventual flexibilidade de interesse A influéneia das atividades ou dos valores de lazer? Os trabalhos de A. Lancelot“ sobre a evolugéo do abstencionismo nas sleigces legislatives na Franca desde meados do século passado afirmam que esta exibilidade é um mito: existe, ao contririo, uma motsvel constancia de taxas yes varlaoes! de 20 40% ram observadas em todas as épocas, conforme as circunstancias.. ‘orem omcigon agazs 0 stiediy ae imine pare a inbormnecks © a formagio. politicas. Dispomos, para paises diferentes, de fesultados ‘que convergem todos para wma mesma direga0: através da televisio, as informagdes e debates politicos atingem ‘ma populagso_evidentemente muito mais extenss"do_que antigamente™’. Mas 0 significado da recepedo destas informagoes nfo incita 4 aco e sim transforma o aconte fem espeticulo, Incita ‘menos a0 estudo do: programas politicos Jo que expse a transformar os politicos em vedetes simpaticas ou antip (© moralista ative do pasado tende a tomar-se o colecionador passivo de anedotas' Entre 08 60% de americanos que exerceram atividades de “edu- cagdo de adultos” durante seu lazer e entre os 20% que o fazer atualmente, os que estudam a fim de se preparar para uma ativi- Gade de lazer aio cinco vezes mais numerosos do que os que estu- dam os problemas sécio-politicos®. A enquéte nacional de D. ambigu: mento_poli A. LANCELOT, L'Abstentionnisme Electoral ei France, Patis, 968, XIV + 290 p. J, CAZENEUVE, Les Pouvoirs de la Télévision, Paris, Galli- Gity Press, 1965... definiero do campo s6cio-po- "a, iniciagle 3s ciénelas politicas, conhecimentos Yankelovich sobre os jovens de 15 u 2S-anos des 9s jovens trabalhadores americanos consideram muito importante, mas que esta parcentagem cai 50% entre os jovens universitérios™, Em Annecy (1956) em 20% dos entrevistados que teriam aceito uma licenca de estudos Pagos no decorrer de sue vida se ela Thes fosse ofere 1% teria escolhido para esta licenca de estudos o tema sdcio-po- Iitico. Mesmo nas sociedades industriais avangadas de tipo s lista, apesar de um esforgo de informagao e de intensa propag em favor de participago sécio-politica do cidadfo, obs. uma progressdo relativa inferior, uma estagnagdo ou um di Gas atividades de estudos politicos: na Tchecoslovaquia, de 1950 2 1968, na Academia Socialista, de acordo com as estatisticas publicadas por aquela Academia, o numero de cursos e confe- xéncias de formagio politica triplicou aproximativamente, enquanto que o dos cursos relatives a esportes © a atividades de lazer quintuplicava. Na U.RSS., gragas aos estudos de ‘orgamento-tempo desenvol ‘com 25 anos de intervalo (4924-1959) por S. G. Strumilin, sabemos que o mimero de horas_dispendidas no. — incluindo-se ai os estudos politicos — pelos operirios urbanos manteve-se quase constante, a0 passo que o nimero de horas dedicadas aos espetaculos esportivos quadruplicou"”. ae que € que se constata ao tomar o indicador de trabalho social benévolo? Na Franga, 0 numero de participantes das ativi- dades dos partidos, inclusive o PC, diminuiu de cerea da metade de 1948 a 1971 (500.000 contra 1 milhSo)*. Em compensagio, ha cingbenta anos que © aumento de organizages socials © culturais voluntarias de lazer é espetacular®. Em Annecy, onde @ cidade triplicou a populagio no decorrer deste perfodo, 0 mimero destas passou de uma trintena, em 1900, a mais de 300, em 1960, agrupando cerea de 40% dos chefes de familia; um ‘ndmero crescente de grupos pratica mais a ago politica, trata-se porém de agdes mais limitadas, mais coneretas © mais independentes da politica geral dos partidos que anteriormente” das ocorréncias atuais, problema do comunismo, defesa civil, america nizago e civismo, outros assuntos sobre of negéclat publices. 66. D. YANKELOVICH, Op. cit. 67. S. G. STRUMILIN, Problemas da Economia do Trabalho, Op. cit. 68. Origem da informaco: Partido Comunista Francés, 1971 69. M. HAUSKNECHT, Tie Joiners, New York, Bedminster Press, 1962, 141 p, 70. Nosso novo livro, Le Lolsir et Ja Ville; t. (om fase de redaga0). 2: Lolsir ot Societe St espetacular, passando de 109 para 17 24-1959). Segundo a mais recente pesquisa feita em Leningrado™, apenas 12,9% de individuos escolhetiam, na eventualidade de uma redugio—do temp trabalho, um trabalho social_voluntario na_localidade: é quase 2 porcentagem (12,3) daqueles cujos valores sfo dominados pelo “trabalho social’ incluindo o trabalho politico. Consta- tages deste género fazem brotar da pena de R. Richta um reparo muito importante a nossos olhos: “Se nZo forem desenvol- vidas a tempo formas novas de participagdo, observar-se-4 0 surgimento de um certo vazio politico, mesmo dentro das condigoes de uma sociedade socialista””™® Nos orgamentos-tempo dos trabalhadores de todas as sociedades industriais estudadas pela equipe de A. Szalai” apa- rece a parte limitada que as atividades sécio-politicas ocupam dentro do tempo livre. Um trabalhador dispée em média de 4,7 horas (Bulgaria) a 5,7 horas (Estados Unidos) de tempo livre por Gia: @ totalidade do tempo de participagio em organizagoes de toda espécie (espirituais, sociais ou politicas) representa em média de 1/10 a 3/10 de horas por dia, ou seja, aproxima- damente_cinqlienta vezes menos do que o tempo dedicado aos lazeres (inclusa a autoformagto voluntéria: de 0,2 a 0,7 horas por dia) © que concluir sobre as relagoes entre as atividades s6cio- -politicas eo lazer? Primeiramente, se a participagdo dos cidadqfos na orientagdo © na gestZo da cidade responde a uma exigencia fundamental da sociedade democritica que se impoe enquanto 71. 1 DE RIVA POOR, Op. oft 72. D. DUNN, Relatérlo sobre 0 Trabalho Voluntirio nos Extador Unidos, Department of Park and Recrestion USA, 1971. 73. S.G.STRUMILIN, Op. elt. 14. Idem 75. R.RICHTA, Op. eft. 16. A.SZALAI, Op. eft, 52 confundi-la em nossa opinifo com uma tada antes de tudo para a satisfagao do em distinguir claramente a ide de lazer. fo comparada e suas relagoes emrse, a adogio de claras distingdes sociologicas sobre 0 cartiter de uma e de outra. Uma parte do tempo liberado favoreceu pois inconteste- velmente as atividades de engajamento politico tal qual o desejava Engels, como o dissemos antes: no seio das minorias, a extensso do lazer néo reduziu 0 exercicio do dever politico! entre elas, as lutas ideolégicas continuam bem vivas. A vida politica neste sentido permanece muito ativa e 0 fim das ideologias nao vird amanhd, mesmo se as medidas concretas tomadas pelos governos de esquerda e de direita, face as instituigses, possuem cada vez mais tragos comuns. Porém, para a maioria, nas socie- Gades industriais avangadas, 0 tempi liberada_é controvertida. nfo em atividades politicas, como o previa Engels, mas em stividades_de_lazeres, © isto em todas’ as classes socials”. O que passa a ser a ica neste novo contexto? Ela no pode mais ignorar os problemas especificos do lazer. Desde 1934, Wilhelm Reich pressentira a importancia da incidéncia dos novos problemas dos lazeres sobre a consciéncia de classe, especialmente entre os jovens: renga 86 poderia tomarse positiva em conento 4a situagio de classe, como, por exemplo, Mas © controle politico sobre 0 lazer 6 0 mesmo que o controle politico em geral? Todas as tentativas de monop. de encampaefo dos lazeres por um poder politico encontraram, Nas sociedades industriais avangadas, éxitos provisorios mas J. H. GOLDTHORFE, D. LOCKWOOD, The Affluent Worker, . University Press, 1969. Este & um trago sobre 0 qual a maio- tas da nova classe operdria passa com rapide” surpreendente, ‘Trad. francesa, L Ouvrier de l’Abondance, Paris, Seuil, 1973. 78. W. REICH, Qu’est-ce que la Conscience de Classe? 53 Casas de Jovens ou das associagGes sécio-culturais, sempre em nome da plena liberdade de expresso, de informagdo, de e cago dentro das atividades de lazer, intelectual, a Mesmo nas sociedades industrials avancadas de afrma-se uma tendéncia para a autonomia ago cultural em face da esfera econdmica e pol cia & vigorosamente sublinhada por Richta no livzo neionado mais acima: La Civilisation au Carrefour? Uma politica cultural busca-se na relag iética de cooperagao e de tensso com os poderes econémicos e politicos. Se por um lado os partidos politicos tendem a multiplicar a organizacao de festas, passeios, viagens, espeticulos, para adaptarse aos 1s de lazer, reciprocamente a intromisso das or; stico, populaggo é cada vez menos suportada, A medida que os efeitos sociais ¢ culturais de uma industrializagao avangada se desen- volvem. Cumpre distinguir “partidizagio” e politizaggo.. Em Annecy, de 1955 a 1971, observamos, no campo da acao cultural, a regressio da primeira e o crescimento da segunda". ‘Conclusao: nossa primeira andlise dos resultados de pesqui- sas permitiu-nos afirmar que 0 tempo liberado pela reducao do trabalho profissional foi ocupado, sobretude para uma minoria, por um trabalho remunerado suplementar, por tarefas doméstico-familiais, por atividades de engajamento espirituais © socio-politicos, mas para a maior parte dos trabalhadores nao hd a menor ddvida de que sso sobretudo as atividades de lazer ‘as que mais aumentaram. ©) Dinamica social do tazer: trés componentes Pusemos em evidéncia que a dindmica produtora do lazer no estado mais avangado da sociedade industrial 6 provavelmente mais complexa do que as pretensas “leis da hist6ria” ou as profecias sobre os tempos futures deixam transparecer: em que consiste ela? ‘Antes de mais nada a produgio do tempo livte, invélucro que contém o tempo de lazer, 6, evidentemente, o resultado de um progresso da produtividade, proveniente ‘da aplicagio 79. R. RICHTA, Op. eit. 80. CF. Loisir ef Sociéeé, Op. cit. 54 Gas desobertas oi éenicas; todus os economistas concordam quanto a este panto, de Marx a Keynes, Mas este progresso cientifico-técnico € compietado por uma agao dupla: 8 dos sindicatos que reivindicam as vezes simultaneamente ‘mais freqiignia altemadamente o aumento do salario © a di mufego das horas de trabalho e a'das empresas que ti dade, para escoar seus produtos, de estendero tempo de consumo*. Todos esses fatos nem sempre estéo em harmonia. Dai resultam, como j4 o observamos na sociedade americana com 0 advento de consumo de massa, possibilidades de greves mais longas, conflitos socials mais extensos, integrando na ago dos trabalhadores, os aposentados, as danas-de-casa, etc. Entretanto, cabe notar que, no conjunto, todas estas forcas convergem’ para a reivindicagfo de um aumento do tempo liyre nfo s6 com respeito ao trabalho profissional, mas também com respeito aos trabalhos domésticos e familial. Sublinhemos que @ componente cientifico-téenica? inter- veniente nos movimentos sociais, concerne nfo apenas A tedugto das horas de trabalho profissional, mas igualmente as. horas do trabalho doméstico-familial:-este"€ um’ fato. frequentemente esquecido nas anélises da dinamica técnico-ccondmica que produz © tempo de lazer. J. Fourastié trouxe a luz a diferenga de durago do trabalho doméstico decorrente da desigualdade de equipamento té das casas. A enquéte orgamento-tempo de A. S: permitiu caicular a economia de tempo que a donide-casa americana, em idéntica situagdo social, realiza, gragas ao equipa- mento superior dos lares em relago a outros paises menos rico. Mas a componente tecnoldgico-econdmica nfo explica tudo. Ela no permite compreender por que 0 tempo liberado é transformado principalmente em atividades de lazer. E preciso fazer intervir uma componente ético-social. Com efeito, nossa hipétese 6 que a produgio do lazer é 0 resultado de dois movi- mentos simultaneos: a) 0 progresso clentifico-téenico apoiado pelos. movimentos sociais libera-uma parcela do tempo de trabalho profissional e doméstico; b) a regressdo. do controle i ices bésicas da sociedade (fumiliais, s6cio-espi- rituais e s6cio-politicas) permite ocupar o tempo Principalmente com atividades de lazer. Esta regress. dos controles institucionais relaciona-se & ago de movimentos socials dos jovens e das mulheres que se levantaram contra a onipoténcia 81. P. HENLE, Op. ct © FP. FOURASTIE, Histoire du Confort, Paris, PUF, 82. 1962, 128 p. 5 am 2 liberdade e 0 que © lazer. esta dinamica econdmica dizer, negativa. Trata-se de liberar tempo coercdes, 20s antigos deveres impostos constitutivas da sociedade global. ragho to forte pelo “vazio"! todas as sociedades industriais alistas € socialistas, uma forca positiva que jor parte do tempo liberado para o lazer? Qual principal fonte desta atraggo, cada vez mais essencial, exercida pelos lazeres 4 medida que as sociedades industriais evoluem para o estédio pés-industrial? Esta seré a ‘altima questo que tentaremos considerar neste capitulo. ‘A primeira vista, € bem dificil apreender’ esta atragso central, tal 6 a multiplicago de atividades aparentemente heterogéneas. Poder-se-4 mesmo postular uma unidade sob esta crescente diversidade, a evoluir ao sabor das descobertas téenicas ou conforme a fantasia das modas? Alguns, como j4 © dissemos, diante desta variedade, chegam até a negar que o lazer seja conceito valido e operatério™, digno de constituir um ramo da sociologia. Outros, ao contririo — ¢ nos colocamos entre eles —, afirmam que uma realidade oculta 6 provavelmente comum a todas estas atividades; cabe a nés trazéla a tona. A elaborago do conceito de lazer, de seus limites, de suas estru- turas intemas e de suas relagSes externas é o melhor caminho para tentarmos captar esta realidade profunda. Onde reside a forga central de atracdo deste fenomeno, quaisquer que sejam as formas de que ele se revista: férias, repouso, divertimento, reereago, entretenimento*, fins de sema- na, passeios, esportes, espetaculos, bate-papos, viagens de recreio, televisio, teatro, musica, bailes, autodidaxia, ‘bares, PMU, jogos de cartas, jogos amorosos e até mesmo “drogas de embalo”, ete.? Esta fora central de atragZo que se afirma através desta abundancia de atividades é — conforme pensamos — uma nova 83. C. BUSCH, Op. cit. (a sain). * No original, divertissement. Porém 0 termo é bastante amplo para permitir 9 uso destas tres palavsas em portugues. (N. dos T-) 56 eram em pai pelas instituicdes s6cio-ospil ;- Como a necessidade de um trabalho jade € menos extenso, um tempo margi € liberado: sua razdo de existir ndo é mais o funcionam ds uma instituiggo, mas 410 do individuo. Por que R. Richta diz que na sociedade do lazer ¢ subjetividade do individuo tornase em si mesma um yalor social Esta nova necessidade social, ainda que fortemente sentida por um niimero crescente de individuos, é sem davida di de ser conceituada em nivel cientifico. Ela nasce no conflito com as éticas © estruturas da época passada™. Ela pode ser reduzida_a_quase nada, por falta de dinheiro, de tempo, para 0s deserdados. Pode ‘ser desnaturada, pasando a ser uma fonte de “evasio”, .de inadaptacfo, de delingdéncia social. Pode ser a oportunidade de mistificagses ideoldgicas em todos 08 sentidos. Pode tomarse 0 objeto de novos controles institu- cionais cuja regressdo lhe permitiu nascer e crescer™*. Mas devesse compreender os caracteres especificos deste fendmeno na dinamica das sociedades industriais antes de criti cil. Do contrario, a critica social perderia seu objeto. Esta eritica atacaria um mito fabricado pelas necessidades da causa; denunciaria taras, ilusdes, ideologias suspeitas associadas 20 lazer em nossa atual sociedade, esgotando © proprio assunto, ignorando ou climinando o lazer enquanto tal. Sob a influéncia dos socidlogos da vida “séria” (trabalho, famflia, politica, relic gifo, educagfo. . .) o lazer & na maior parte das vezes recuperado conceitualmente por uma ideologia social que se esfora em ‘cobrir uma parte de sua realidade por conceitos mais tranquil zadores. Este lazer suspeito de delinquéncia ou de anarquismo em potencial causaria temor? 84. W. KERR, Tie Decline of Pleasure, New York, 1965, 320 p.: “We are all of us compelled to read for profit, party for contracts, lunch for contracts, bowl for unity, drive for mileadge, gamble for charity, g0 out for the evening for the grester glory of the municipality and stay’ home for the week-end to rebuild the house”. BAUDRILLARD, Le Systéme des Objets, Paris, Gallimard, Glass, New ‘York’ Londres, Columbia University Press, 1970, 183 p. O autor, um economista, demonstra que os objetos de consumo, assim como a: ativi- dades correspondentes, tormaram-se de tal maneira abundantes © variados ‘que cada vez mals falta tempo para consumi-los. 57 i i: E ite ern interagdo permanente igDes subjetivas e as que as favorecem ou as Sfo as do mercado econémico que as padro- 1, tradigdes éticas que as censuram ou as canalizam, ‘as que tentam manipulddas, em fungdo de objetivos muitas vezes estranhos as aspiragSes de livre expresso © comunicagso lade. Estas observagdes contradizem portanto as yepresentacoes simplificadas, caricaturais, nas quais o lazer ou é confundido com_a liberdade absoluta,_ou-éanulade-sob mesmo que limitada e em parte iluséria. A crianga nifo confunde_ recreago ¢ trabalho escolar; o adulto_ndo_pode_absolutamente confundir seus Tazeres com as obrigagdes do trabalho profissional ou doméstico, mesmo quando encontra prazer nestes Gltimos, Porém esta liberdade é sempre limitada, condicionada. Dentro destas condigoes reais, equivocas, dialéticas ou conflituais é que se elaboram as novas possibilidades hist6ricas, de tealizagao “Kadica” da pessoa. Esta conquistou pouco a pouco © direito’ © um certo poder (tempo) de escolher atividades Grientadas ‘pdoritariamente para. fins desinteressados, para a Satisfapfo. das necessidades individuals ou socials, em ullldade Social ‘direta, pura a expresso, a criagfo ou a re-criaglo® da propria pesos, A valonzaglo” do jogo, ssociada sobrotudo Tinfincia no periodo anterior, estende-e hoje, cada ver mais, 4 idade adulta. No campo do lazer as fronteiras entre as norma que regem as atividades das diferentes idades tomam-se cada vez mais ténues**. Na norma atual, o tempo de lazer no € apenas _um tempo de repouso reparador, mesmo se_continua _trabalhadores fatigados; tor- hou-se um tempo de atividades que tem um valor em si. Alguns individuos que antigamente viviam para trabalhar ousam hoje ‘trabalhar para “‘viver"” ou ousam sonhar com isto. . ‘Tudo ocorre como se esta valorizagfo social da expresso de si mesmo através do lazer fosse uma riova etapa das conquistas hhist6ricas da pessoa. Nos confins da historia e da psicologia, * Em francés, récreation. Trata-se, evidentemente, de um tro- cadino, alémdaTorma como a iradurimey eta palvea significa tam- ‘bém recreacdo, passatempo, diversdo. (N. dos T. 86. M. MEAD, Le Fossé des Générations, Paris, Denocl/Gonthier, 1971, 160 p. (Trad. do inglés). 58 i. Meyersou de aque singe > a préprios de cada individuo (um modo de sentir, pensar est, na realidade, profundamente marcado pela histéria sociedades que perturba os equilibrios anteriores®”. Acont 8 mesma coisa quanto aos direitos de pessoa dentro do (Tudo 0 s da empres hoje € dignidade; o que ontem se chamava ogofsmo em face Gas exiggneias da instituicto familial chamase hoje respeito as caracteristicas de um de seus membros. Uma parte do que €ra pecado aos olhos da instituicgo religiosa hoje € reconhecida como arte de viver.)Alguns falaram de uma moral do hedonismo. JE um equivoco: a ética do lazer nfo é a da ociosidade que rojeita © trabalho, nem a da licenga quo infringe as obrigagdes, mas a de um novo equilibrio entre as exigéncias utilitarias da socie~ dade ¢ as exigéncias desinteressadas da pessoa, Se esta perspectiva forconfirmada”pela historia, o lazer sera-menos uma compen- sa¢fo ou um complemento do trabalho profissional ou doméstico do que a causa eo resultado de uma nova aspiragdo da pessoa no tocante a uma nova etapa das sociedades tecnologicas, As necessidades de reduzir 0 tempo de produgo para liberar um tempo suplementar, no qual os produtores possam melhor consumir, ndo serlam mais que um corolario ‘desta mutago histrica, que todo sistema de produgfo e de consumo, qualquer que scja, ‘tentaria agambarear em proveito proprio, sem sev capaz de cridta. Assim tudo ocorre como se vivéssemos uma nova etapa da conquista da pessoa sobre todos os integrismos ou totalits- rismos brutais ou pacfficos, manifestos ou ocultos das insti- tuigdes sociais. No Renascimento, apés um longo movimento de ‘protesto © de contestago que deveria dar na Reforma, « Igreja comega uma mudanga que deveria condu: término dos processos de bruxaria, de atefsmo, de heterodoxia: o homem conquistara 0 direito de escolher seu Deus ou de no escolher nenhum. Dois séculos mais tarde, depois dos movimentos sociais contra o absolutismo, o arbitrio do soberano, sew poder discrecio- nérioperdem terreno: é a origem do habeas corpus: 0 sudito do rei passa a ser um cidadgo mais livre. Um século mais tarde, € © direito todo-poderoso da instituigdéo corporativista sobre © trabalhador que desaparece. Por um lado © surgimento da 87. I. MEYERSON, Les Fonctions Prychologiques et les Ocuvres, Paris, Vrin, 1948, 223 p. 59 10 fereises: « luth\ Ga elaase pods ter crgantzada, aseasr fa iol repressive, © essalariado conguista arduamente 0. direito de defender sua dignidade, Hoje, é propria institulgts farlla que relaxa os controles sobre seus membros, mesmo. quando Continua & ser um quadro efleaz de trocas funcionals © afstivas, © poder absaluto do chefe de familia sobre 6 lazer de. sous membros abrandase, tomase negociével. O. direito de cada tim de escolher ou fecusar os Luzeres em grapo sob © controle inet casas atl meet te teeefotic asteineee est pe jaedis 5 SIOpAE tomape ealkeee] Goan metea da peers elescetne Goanapa atlas idle onta veglanisilprcuoes. D: Russaan acetnl que, nes socledades modemas, os valores do individuo, muda- ram™. \Sua tese € que © individualismo do Renascimento nado feaiaiacas sea tnscoectd nleiel niet He elarnedi?o acts leroy |das grandes cidades andnimas. Pode-se verificélo. na busca, pela Populagio dat cidades, de unidades de vizinhanga mals Proxima: da natureza, onde os individuos se acham mals { ‘mat cuapriia Completar fal obser devem ser igualmente reconsiderados num seni viagens, relagdes afetivas ou estudos pessoais rados por muitos como perda de tempo, uma diversdo suspeita ou um atentado aos deveres familiais, sociais, tendem hoje, em certas condig6es ainda ténuese_variiveis em cada situagio, a se tornarem dovas exigéncias da pessoas Neste tempo prescrito pela nova norma social, nem a eficiéncia técnica, nem a utilidade social, nem o engajamento espiritual ou px a finalidade do individuo, mas sim a realizagio e a expresso de si mesmo: tal 6 nossa hipétese central. 2. SOCIEDADE SOVIETICA. EVOLUGAO DO LAZER — 1924-1967 Sabemos que esta hipétese geral é contestada. Sua verifi- cago exigiria um trabalho de grande folego conduzido conjunta- 88. Lei Lechapelier, 1791. 89. D. RIESMAN, Individualism Reconsidered and other Essays, Glencoe (Ill), The Free Pross, 1954, 529 p. 90. H.T. GANS, The Urban Villagers... New York, The Free Press, 1962, 367 ps The Levittowners Way of' Life and Polities tn a Suburban Community, New York, Pantheon Books, 1967,474 p. 60 termo, mas simplesmente dk ar responder As objegdes caminhos. Esta evolugdo da sociedado industrial para u dade de lazer nfo é posta em di neoliberais, como J. Galbrait pensadores de inspiracso marxista. Somos muito suas reflexes. Para eles, lazer e consumo sfio uma. tinica realidade. Esta realidade 6 um produto nfo da soci industrial avangada, mas do sistema capitalista de producdo, de distribuigtio e de consumo. Estamos convencidos de que este sistema selvagem, orientado pela busca do licro 105 malgrado alguns setores protegidos, desenvalve certos tipos de bens e servigos de conforto ou de lazer onde o interesse dos empresiirios € melhor servido que a exigéncia da persona- lidade. Ja falamos disso. Voltaremos ainda so assunto. E um problema crucial para a orientacdo do contetido social e cultural do lazer de massa. Mas se o lazer, enquanto tal, qualquer que seja seu contet- do, fosse produzido (e no apenas influenciado) pelo sistema capitalista, deveria ser impossivel observar um desenvolvirnento comparavel nas sociedades industriais avangadas de tipo capita- lista, e nas de tipo socialista. Qual € ele? Existe apenas uma Gniea sociedade industrial relativamente avangada de tipo socialista da cuja evoluc#o possamos observar durante um. meio século: € a U.RS.S. Nao € por acaso que jd tomamos de empréstimo a socio~ logia empirica russa alguns resultados de observagdo. Parece-nos itil observar de maneira aprofundada a evolugdo desta sociedade do ponto de vista dos problemas do lazer em suas relagdes com todos 0s outros, inclusive os do trabalho. Procuramos pois saber se observagées relativamente compa- réveis haviam sido feitas na mais antiga das sociedades industrial de tipo socialista em diferentes perfodos suficientemente esp: gados. Pudemos utilizar” trabalhos relativamente compardveis Sobre 0 modo de vida do operirio soviético com trinta e cinco anos de intervalo. Evidentemente no nos foi possivel verificar todas as hipéteses que acabamos de evocar sobre 2 dinimica 21. Com a a Société soviétique, Markiewicz-Lagneau. Ver nosso artigo loisit, Revue francaise de sociolorte, or apesaz 1s bem compreendidos, devemos efetuar algumas ares sobre a evolugio da pesquisa social fo de um estudo empirico sobre o rudangas simul- Seas A recente publ tempo livre di-nos 0 ensejo de medir algumas taneas na sociedade sovigtica e na pesquisa social ou so: que ela inspirou’? jos se_esbocam nitidamente na historia da gica sobre © orgamento-tempo na U.RSS. mento econdmico na U.R.SS. © as preocupagées fas sucessivamente prioritarias — A primeira fase situase na década de 1920 e continua até a extingfo. de toda pesquisa social na década de 1930. B marcada, no quadro de uma grande onda de pesquisa pés-revolt- Giondria, sobretudo por trabalhos de equipe executados por estatisticos, economistas © socidlogos sob a diregao de S. G. Strumilin?®. Estes trabalhos tinham por alvo estudar a influéncia da revoluglo sobre todos os campos da vida econdmica, politica 92. B. GRUSCHIN, Op. cit, 137 p. ~ Seu se insereva dentro de uma tradiego de pesquisa especifi Gtrumilin, Prudenski, etc.) 6 um sepresentante particularmente avi- sado dos "problemas da sociologia empirica. Ele pertence a esta nova geragdo de socilogor que sinda eram estudantes not anos 1956-1957, socialista. Esta gerago, apesar de numerosas dificuldades, Iutou durante ez anos contra 0 dogmatismo eo academismo hesdados do perfodo Stalinista © que’ ameagavam csterilizar 0 pensamento mardista. Depois de induzide 4 descnvoiver 0 estudo da opinide sob 0 patrocinio do setor 62 os orgamentos-tempe em geia! (© do tempo livre ‘em particular) 6 inspirada antes de mais ela deve ajudar a resolver certo ntimero de problemas concementes ao planejame: dos recursos humanos, do bem-estar dos cidadfos, da urban zage, do equipamento cultural, etc. — 0 segundo perfodo comeca com o surgimento, timido no inicio da pesquisa sociolégica no perfodo pos nista® . Todos os estudos conduzidos durante estes anos estavam estritamente ligados aos problemas de trabalho, 20 aumento da produtividade. As principais questoes eram, antes de mais nada: “Como reduzir os tempos mortos, 0 tempo perdido no tempo fora do trabalho? Como recuperar os bilhdes de dedicadas a um trabalho doméstico despido de interesse ps consegrélos & produg%o, primeiramente, e depois ao laze ‘Trés momes marcaram de’ maneira especial esse tipo de pesquisa: os de Maslov, de Pisarev (1957) e de G. A. Prudenski (1958)°*. — Foi necessirio esperar a década de 1960 para ver sui uma pesquisa inteiramente consagrada ao lazer, a estrutura, & andlise das condig6es do tempo verdadeiramente livre para © perfodo, tempo definido como aquele que fica apés a subtragio do tempo de trabalho ¢ do tempo fora do trabalho destinado as obrigagGes familiais e socials da vida cotidiana”*. Tais trabalhos itor encontraré a bibliografla sobre & pesquisa relativa 20 orgamento-tempo na U.RS.S. no artigo de B. KOLPAKOV..V. VOLGOV, Izucent bjudzetov vemin y SSSI (O: mentos na U.R'S.S.), Vestnik statistikt, 12, 1968, p. 20-27. Eis algunas das mais importantes publicagdes: V’ neraboctje vremija’ tradjascthyja © tempo fora do trabalho dos trabalhadores), sob a direcao de G. A. PRUDENSKI, NOVOSIBIRSK, 1961; STRUMILIN, 4 Jornada de tra batho © 0 comuntimo. Os Problemas do Socialisima edo Comunismo na U.R.S.S., Moscct, 1959; G. 8. PETROSIAN, V neraboce vremija tradjascihsja’ SSSR-(O tempo fora do trabalho ‘dos trabalhadores. ni U.RS.S.), Moscow, 1965; G.-A. PRUDENSKI, Vremia {trad (© tempo P. MASLOV, I. S. V. PISAREV, Sociologija » SSSR (A .RSS.), Moscou, ed. Mysl, 1965, 2 vols.: 533-504 p. 96. E nesta perspectiva que os socidlogos saviéticos da “nouvelle vague" participam da pesquisa ‘comparativa. sobre 0 orgamento-tempo, langada por A. Szalai.' Szalai insist, especialmente em seus primeiros comentérios da enquéte, sobre os limites que, em certos pafses © em certas categorias sociais, reduzem o lazer real. "Mas a riqueza das infor. ‘mages assim recolhidas em doze pafses permite tratar uma problematica diferente, mais completa, inspirada por uma dialética das cocredes mcuros do tempo. 63 u ‘a vez desde 1920, gracas nformados sobre 3 re trabalho e tempo livre continua sendo o la pesquisa soviética, mesme quando inte interesse pelos problemas do fora-do- A segunda preocupacdo comum é a claboragio de um método de investigacso do tempo livre. Observemos que a énfuse posta, desde os anos da década de 1930, na industrializagfo e urbanizacZo encontra seu reflexo nestas pesquisas. Se na pesquisa de Strumilin de 1923 ¢ ainda na de 1932 achamos um quadro completo do orgamento-tempo dos Kolkhozianos ¢ dos outros camponeses, tal problematica parece estar em regressfo em 1964 na investigagso sobre o lazer. Ela diz respeito, doravante, aos lazeres urbanos. b) O método evolui éncias como nas artes, a forma no é separavel do fundo, 0 método nfo é separavel do problema tratado. Esta fo nfo € mecanica, Um mesmo método (estudo dos or¢a- tos-tempo, por exemplo) € aplicdvel ao tratamento de problemas diferentes (os da U.R.S.S. por S. G. Strumilin e os Komarowsky, na mesmi priagio do tempo de lazer? pelo. método dos orgamentos pelo da divisio dos interesses (B. Gruschin, 1967). muitas vezes, a evolugdo na problemitica 6 acompanhada de uma evolugdo no método. Se considerarmos esta iltima como a criagfo de um sistema de técnicas e de conceitos necessério para tratar um problema numa situagdo dada em fungio da hipétese escolhida, qual vem a ser o método quando a situagio muda e a hipétese varia (mesmo que a ideologia seja constante)? A enquéte de 1924 6 marcada pela situagdo e pelas idéias dominantes da sociedade soviética de entdo. Tratase, antes de tudo, de estimular as forgas produtivas do nascente regime de planificagdo socialista. A economia, enquanto ciéncia das necessidades, dos recursos ¢ das obrigag0es, impde seu método 04 ‘édio de tempo consagrado a ‘a populagso global (por ex passa 433 horas por ano na de livros). © estudo das diferengas subj © grupos de individuos, segundo as estratificagoes 20: negligenciado. Esta situaco quate nao varia de 1924 Apés 2 década de 1960, os métodos ev logia nfo mais € reduzida & economia social. C de cidadania ao lado da filosofia. Os métodos objetivos se tomam mais exigentes. Eles si complementados por métodos subjetivos que permitem penetrar 0 contetdo das atividades, 3 Intetesses, os sistemas de valores dos sujeitos. As diferencas sociais entre as categorias sécio-profissionais, categorias de sexo, de idade, de nivel de insteucdo, de implantacdo urbana, etc., longe de ‘serem esquecidas, simplificadas, camufladas, sc tomam objeto de uma observagdo sistemitica, segundo as regras da sociologia probabilista. B assim que a pesquisa de B. Gruschi (1963-1964) nfo se limita a relatar os resultados “concretos” de uma amostra maciga (mas nfo representativa de 10.393 pessoas), ela centra sua exploragio cientifiea em uma amostra estratificada de populag%o urbana de 2.730 individuos. Por conseguinte, a generalizago se toma cientificamente possi __E certo que, até hoje, a imaginagao conceptual € tecno- logica € menos desenvolvida na sociologia russa do que na de outras sociedades socialistas’?. Mas é incontestavel que uma evolugso a qual a sociologia do tempo livre trouxe uma contri- bduigdo positiva” estd se esbocando neste sentido. ©) Os resultados Estas sucessivas pesquisas empfricas trouxeram a luz um conjunto de fatos interessantes de serem comparados: ao passo que fazem falta as investigagdes a longo termo nas sociedades de todos os paises, dispomos, gragas a S. G. Strumilin e a G. Prudenski, de dois conjuntos de fatos relativamente compariveis a dois momentos do desenvolvimento da sociedade soviética 97. J. SZCEPANSKI, Problémes sociologiques de Venseignement supérieur’ en’ Pologne, Paris, Anthropos, 1969, 330 p.; R. RICHTA, La (Civilisation au Carrefour, OP. ett. 98. J. DUMAZEDIER, “Marxisme et sociologio”, Soctalisme. Revue du socialisme international et québéquots, jan.-mat. 1967. os Por firn, os re as e dos métodos, podem no entanto ser aproximados dizem respeito, pelo menos, a uma amostragem Sem duivida, a porcentagem. de operéries dentro da populagio ativa, as condigdes de exis- Jo eram as mesmas em 1924, em 1959 ¢ em 1963. Mas os parece tanto mais interessante estudar como as atitudes s populacdo operaria urbana se transformaram com o desenvol- 0 da industrializagzo e de suas implicagdes sociais © culturais. O que nos ensina esta anélise comparada sobre a evalugso dos problemas de tempo livre de 1924 a 1959 ou 1967? ‘Limite do tempo livre: de acordo com os pesquisadores sovigticos, © tempo livre € evidentemente limitado pela duragao do tempo de trabalho profissional, mas também pela duragdo do tempo consagrado a outras atividades improdutivas, ainda que ligadas produgfo (higiene apés o trabalho ‘profissional, recolhimento ou devoluggo das ferramentas, etc.), do tempo Utilizado para os deslocamentos entre © local de trabalho © © local de moradia © do tempo destinado is obrigagdes domés- ticas ou familiais: tarefas ligadas A casa, educaggo das criangas (afora a participagio dos jogos) e arranjo das atividades de manu- tengifo vital: sono, refeigSes, higiene pessoal ‘Como evoluiu a duracao do trabalho profissional? A duragdo legal do trabalho profissional foi reduzida vérias vezes desde 1924, para chegar, em 1960, a uma duragao legal de 7 horas (e, por fim, de 6 horas). Que € da duragdo real? O que € sumpreendente, @ que a duracso cotidiana do trabalho e de suas sujeig6es (excegao feita ao domingo) teria antes aumentado durante quarenta anos, pelo menos para 0s operdrios das cidades. Em 1924, a duragfo média do trabalho era de 7,83 horas! por dia, com 1,17 hora para o transporte. Em 1959, era de 7,17 horas, com 2,30 horas em média para o trans- porte. Em 1963-1964, a duragio real do trabalho do ope- Firio urbano é de cerca de 7,30 horas por dia. Os tempos de deslocamento so quase tf longos quanto em 1959. Além disso, B. Gruschin tentou determinar pela primeira vez, a0 que sabemos, na U.R.S.S., a porcentagem de operirios que somam a0 servigo regular outro labor, fora das horas legais de trabalho. 99. Ao que saibamos, 6 a primeira vez que se faz, em sociologia, tal comparago sobre um perfodo de vinte © cinco anos, com tais dados sobre 0 orgamento-tempo. 1100. Os minutos si0.expressos em centésimos de hora, 66 J4 dissemos que esta cifase-cleve a 28,7%. Segundo o autor, fo das cidades, a insuficiéncia dos meios de transporte iduais, 0 dessjo de obter recursos suplementares, mo, podem explicar tal situaggo. Obrigagdes extraprofissionais: vimos que os trabathos domésticos ¢ familiais estavam na origem da segunda limitacdo do tempo iuragdo destes labores tem diminuido para 0s operitios? Apesar do desenvolvimento das comodidades Gomésticas 2 das organizag6es coletivas de manutencao, cla continuou a ser, para o homem, sensivelmente a mesma: 1924, 1.72 hora por dia; 1959, 1,70 hora por dia. Por conseguinte, em 1924, a duragfo do temy elevava a 3,54 horas por dia e, vinte e cinco anos depois, « 3,39 horas, ou seja, sensivelmente 4 mesma duracdo. Para 1963-1964 no possufmos dados compariveis, mas B. Gruschin avalia que doravante 0 aumento da duracio do tempo livre deveria vir menos da diminuiggo legal do trabalho do que do alivio das sujeigOes do transporte e do trabalho doméstico. . . No congresso do Partido Comunista de 1961 (129 Congresso) sao previstas, dentro do plano de desenvolvimento da economia soviétice (1961-1980), medidas destinadas a proporcionar 45 horas semanais a duragdo do tempo livre. Estas medidas prevéem nZo apenas o encurtamento do tempo de trabalho profissional, mas também uma economia do tempo das sujeicoes extrapro- fissionais: aumento da energia elétrica destinado a redugio do tempo de transporte, redugfo da metade do tempo conse- grado as obrigagdes doméstico-familiais, ao aumento das possibi- lidades de ‘toda espécie pelo desenvolvimento do consumo de equipamento, ete. Atualmente (escrove B. Gruschin), @ solugio do problema do acrés- cimo do tempo livre no se encontra na diminuigdo de tempo de trabalho, mas na liberagZo do tempo fora do trabalho, que, para o momento, 4 fem grande parte consumido polos trabalhos cotidianos que nfo. servem 20 desenvolvimento geral do homem. A criagio dos servicos de creche Para as criangas, a ia dos transportes, etc, Iiberardo milhSes de \oras para os lazerestOl Tempo livre: ele inclui, por um lado, atividades espirituais, les s6cio-politica e, por outro, lazeres. Observemos em iro lugar que os pesquisadores soviéticos, de Strumilin até Gruschin, definem com maior boa vontade 0 tempo livre por aquilo que ele nfo € do que por aquilo que ele 6. Com efeito, as relagdes entre dois tipos de atividades dessemelhantes 101. B. GRUSCHIN, Op. cit. 67 ftieas acerca deste dominio em nossa amostra de operarios anos. Limitarnosemes a lembrar uma indicagdo celativs 0 mural. Em 1924, os camponeses dedicavam individual fe por més, 8,85 horas a praticas religiosas, Em 1934, os Kolkhozianas observados por S. G. Strumilin ndo. devotavam jas religiosas mais do que 0,52 hora. Em que medida Sao as amostras © ss condigGes rigorosamente compardvels? Em que medida € possivel extrapolar, hoje, esse genero de resultados para os meios operdsios urbanos? Em geral, as infor mages dispontvels nao nos permitem oferecer respostas 4 tal engunts a Para aquil jue os pesquisadores soviéticos chamam de “arividades “sociais™, possuimos, em compensagao, dados. de grande interesse. sta tubrica ‘corresponde ® totalidade das aividades de participagio nas reuniGes espisituais, civicas, festagdes comespondentes As festas’coletivas Su not ‘acontecimentos.sociais “de toda espécie. 54 sabemos uc, em 1924, 0 operirio the dedicava cerca de 109 horas por tno. Em 1959, ele nfo consagrava a isto mais do que 17 horas, jezes menos. Em 1963-1964, Gruschin no caloulou itouse 3 contar o numero de jue se devotavam a apenas uma. atividade social rca de uma ver por més", O resultado foi que, 7230 fuziam considerando.o fato que a participago na maioria das. reunioes ‘sindicals ou politicas € ourigatora, vivamonte aconselhada sob a pressdo ‘da Organizagao. Parece pois que, desde 1924, 4 evolugio da sociedade soviética levou a uma dade na participaggo naquilo que chama- julgou possivel isolar as atividades s6cio-politicas propria- mente ditas. Acrescentemos que 44,6 dos operdrios seguem cerca de uma vez por més uma instrugio politica, quer imposta quer facultativa; esta porcentagem cai a medida que a urbani- zacao se desenvolve: 45,8% nas cidades menores e 29,3% somente ST eee eee tere ee Se aan cerca ra een cere a arcana eee (See en asa ee a eae eae ee ee arate esr gee tng aa area 68 Parte que corresponde a io livre q @ de pescar ou de assistir a um espetieulo de variedades. Tamb: do nos € possivel distinguir, dentre os temas 208 esportes, aos espeticulos e “outros divert cemos o amplo esforgo do governo soviético para aumentar 05 equipamentos sccioeducativos: © que resultou dist para a vida da populagso? Em 1924 0s operdrios dedicavam cerea de 168 horas anuais aos estudos e, vinte ¢ cinco anos depois, 175 horas, ou seja, 4% 2 mais!®. Em compensacgo, como jé vimos, a pritica dos esportes, tomada num sentido’ amplo, isto é, inclusive Provavelmente os jogos a0 ar livre (mas nfo os passeios © 0 turismo) elevou-se de 18 para 74 horas por ano, ou seja, um aumento de cerca de 400%. E no campo do espetiéculo’ que @ taxa de crescimento foi mais acentuada: 1924, 42 horas; 1959, 373 horas, ou seja, um aumento de 900%. Acrescentemos que, a0 mesmo tempo, 2 pritica dos outros divertimentos subiu de 210 para 257 horas por ano. Em 1963, a televisfo j4 havia penetrado em cerca de um tergo dos lazeres (Zvorikin, 1967); 37,5% dos soviéticos (3 para os homens, 38,7% para as mulheres) assistiam a televisdo diariamente e, 78.9% dentre eles escutavam rédio. Nzo conhe- cemos a distribuic#o de seus interesses de conformidade com 0s géneros de .emissoes, mas sabemos que 73,3% (74,4% para 0s homens, 73,39% para’as mulheres) iam ao cinema varias vezes Por més e que 42,2% iam ao teatro, 36,6% aos espetaculos de variedades, 24% a0 museu, © 17,8% aos concertos, sem indicagdo de frequéncia™. Pode-se pois estimar que em vinte © tempo livre nas cidades pequenas, as reunides © as manifestagdes sociais Podem af substituir parcialmente os entretenimentos socials. 103. Tal diferenca estatistica corresponderé a uma Variago signifi= cativa de um real progresso ou a uma vatiagdo sleatoria? O cileulo das: Probabilidades, se ‘reconsideradas as possivels margens de conflange, nifo permite solucionar a questo. 104. Na Franga, as cifras correspondentes para o teatro © o concerto 69 nos pratics do esporte, 9 comparectmento 208 espetéculos e @ outros divertimentos tém sido crescente entre os operiiios sovisticos, a0 passo que a prética dos estudos perma- necett antes estaciondria © que a intensidade da pratice das regrediu grandemente. Desigualdades culturais de conformidade com as categorias sociais*®*: evidentemente, estamos purticularmente atentos 3s jerengas sociais que podem subsistir, apesar da vontade do Estado socialista de suprimilas. O estudo desta experiéncia ta anos tem probabilidades de ser mais fecundo do que js sobre um socialismo ideal que corre © risco de naufragar na quimera por sua indiferenga ao real e & experi- mentago do possivel Infelizmente no dispomos de informagdes diacrénicas para tratar deste problema capital da sociologia do lazer, que S. G. Strumilin negligencia. Ao que sabemos 0 problema nfo abordado nesta perspectiva antes de 1960. E a andlise comparada das atividades de tempo livre, conforme o rendi- mento em Krasnoiarsk, feita por G. A. Prudenski, que nos permitiu conhecer melhor as disparidades culturais segundo 05 proventos!®. E é gragas ao estudo de B. Gruschin, publicado em 1966, que podemos observar tais disparidades conforme 4 categoria sécio-profissional e os niveis de instrugdo"®”. Utili- zamos alterativamente estas duas fontes segundo a informagao disponivel para cada um dos problemas. Em 1963-1964, na época em que a jomada de trabalho de 6 ou 7 horas foi decretada, quais as categorias sociais que mais trabalham, aquelas pois que tém provavelmente menos tempo livre? “atividades soci Teria sido interessante conhecer as diferencas_entre as categorias de operdrios (serventes de obra, operarios especia- lizados, operdrios qualificados), mas Gruschin tratou dos Operarios em seu conjunto. Em troca, sua enquéte nos fornece adicionalmente informagGes sobre © trabalho dos empregados, Telativas do nivel econdmico, tstatuto socio-profissional e do nivel de instrugso, Strumilin (1959) ‘observa que aqueles que percebem um maior rendimento tem, to mesmo tempo, um nivel de qualificaso mais clevado que implica uma instrucdo mals desenvolvida. Numerosos sacislogos. so ‘qualificagao € 0 fator principal da hierarquia sovi 106.G. A. PRUDENSKI, Op. cit. 107. B. GRUSCHIN, Op. cit 70 a intelligentsia “técnica” e~dos~ intelectusis. E pois possivei comparar a_duragfo de seu trabalho com a do trabalho dos operarios. Em média, empregados © intelligentsia trabalh: mais do que os operarios. Isto é particularmente claro no c da inteltigentsia técnica, da qual 43,2% trabalham 8 horas a mais, assim como 60,5% “dos intelectuais”. Estaria a sociedude soviética exposta ao’ problema da estafa de certos “managers © intelectuais” como os outros tipos de sociedade industrial? 54 fizemos alguns reparos sobre a evolugso das “atividades socials” de 1924 a 1959. Outros fatos n> menos interessantes so revelados pela pesquisa de Prudenski em Krasnoiarsk. A despeito do considerével esforgo da sociedade soviética em prol de uma educagho civica e politica de massa, nfo parece que tenha conseguido provocar uma participagio dos operirios na vida civica e politica igual aquela de outras categorias socials relativamente privilegiadas pelo nivel de rendimentos ou de instrugao. Com efeito, em 1960,em Krasnoiarsk os que recebern 0 salarios mais baixos (menos de 300 rublos mensais) dedicam apenas 6,2 horas por ano a “atividades sociais” contra 15,6 horas da faixa salarial entre S01 e 1000 rublos. Esta ultima categoria de trabalhadores participa portanto sete vezes mais das atividades orientadas para a gestio da cidade. Em_ 1963-1964, B. Gruschin observa, por seu lado, que a instrugso politica € seguida por 38,2% dos operarios, mas por 70,4% da intelligentsia. No campo dos lazeres, os que perceberm menos de 300 rublos passam cerca de 36,4 horas por ano a passear, contra 83,2 horas despendidas por aqueles que ganhara mais de 1 000 rublos. Os primeiros nfo dedicam mais do que 197,6 horas por ano a ler jornais ou livros, contra 332,8 horas devotadas pelos iltimos para o mesmo fim. Os primeiros desenvolvem quatro vezes menos atividades artisticas que os segundos. Enfim, estes passam 395,2 horas visitando museus ou seguindo cursos, enquanto que os menos ricos nfo dedicam a isto senso 46,8 horas, ou seja, quase nove vezes menos. Em 1963-1964, B. Gruschin contentouse em perguntar “quem praticava © qué” nos diferentes meios sociais, sem in cago de freqiiéncia, Ele verificou que 21,9% dos operirios vo ao museu'™ contra 31,9% da intelligentsia e 41% dos estudantes. Mais pessoas seguem cursos noturnos (durante 0 lazer e fora do lazer) entre os operarios (29,8%) do que entre os empregados (25,2%) e 6 entre a intelligentsia que 0 autoditatismo esti mais difundido: 58,8% contra 27,5% entre os operarios. Por fim, 108. Na Franga, 2 ou 5% de acordo com as sondagens. Ea porcentagenr de presenga-em concertos ¢ de 13,2% entre os operdrios e de 30, 2 incelligentsia técnica. Tais so, pois, simultaneamente, os Exitos @ os limites de ume ago esealonada dentro de um periodo de quarenta anos em favor da eleva do nivel cultural das atividades que a populacdo pratica durante seu tempo livre e, particularmente, 2 populacao operdria. Apesar do cardier incompleto das informacGes di de que dispomos, apesar das categorias de andlise mi grosseiras que do permitem isolar com preciso os fatas relativos aumento do tempo grupos socials ativo: principal do tempo liberado é o lazer, quando comparado as atividades s6cio-politicas incluidas nas atividades sociais ¢ aos estudos mais ou menos obrigatérios do adulto. No lazer, a maior taxa de aumento afeta as atividades de entretenimento de toda espécie. Sua preponderancia é tanto maior quanto se trata de meios operarios. Na verdade, a participagfo destes meios em atividades artisticas ¢ intelectuais de um nivel elevado ¢ maior que a dos meios correspondentes da sociedade francesa ou americana. Estara tudo na mesma quando no mais 30% mas 90% dos lares urbanos possuirem televisio, quando o nivel de vida tiver aumentado mais, quando a duraggo dos fins de semana e das férias houver atingido o nivel americano ou francés? Nenhum raciocinio critico, nenhuma proposigfoideolégica pode substituir as observagdes sistemiticas sobre as tendéncias hodiernas e as previsGes probabilisticas sobre a situagso de amanha. Apesar das dificuldades ainda encontradas -para o Progresso neste quadro de uma sociologia empirica livre, espe- ramos possuir logo informagSes novas sobre uma amostragem representativa'®, que nos permitirdo tratar melhor dos problemas do lazer, do trabalho e do engajamento sécio-politico no futuro das sociedades industriais avangadas de tipo socialista. 3. SOCIEDADE FRANCESA. UMA HIPOTESE SOBRE © PERIODO DE 1955-1965 Encontramos outras objeg6es relativas A evolugio da sociedade francesa, principalmente apés os anos de 1966-1967. 109. Particularmente os resultados da primeira grande enquéte modsmma de sociologa urtana sobre # eldad> de Taganrog (200 900 hab tantes). 72 © choque provocado pelos acontécimentos de malo 1968 reforgou tais abjectes. A crescente parte da ago publica © privada (poderes piiblicos ou asso: Voluntérias) suscitada pelos novos problemas socials e o do lazer levou a esquecer o cariter especifico daqui comecou a ser chamado de pol jolve a0 nivel da nacso Estado e das municipalidades. No entanto, afirmamos que o Periodo de 1955-1965 foi para a sociedade fruncesa o periodo em que as rupturas tenderam a levar vantagem sobre as c dades, de modo particular no plano do lazer e da politica cultural que a'cle corresponde. Certamente, as resisténcias a esta riutaca0 sfo ainda muito fortes no plano das estruturas, assim como no das mentilidades. Nossa sociedade esti bloqueada, nossa escola est bloqueada, nossa cultura também, etc. Mas {ais bloqucios, confrontados com a nova situag%o, S40 muité mais manifestos do que antes. Mudangas no plano do tempo, dos servigos, das onganizagdes, dos valores do lazer téin sido dissimu- das jlemas que causam estardalhago todas as anilises deste perfodo. Talvez,. el carreguem em si uma profunda possibilidade de renovacio cultural cujas implicag6es ainda esto longe de serem analisadas. a) O periodo de 1955-1965 © period de 1953-1955 enceta uma mudanga provav mente muito importante para a evolugio no s6 econdmic: também social ¢ cultural da Franga. O aparelho prod entio reconstraido pouco a pouco gracas aos esforgos cole! do p6s-guerra, sustentados pelo Plano Marshall. Como rea¢io a0 malthusianismo dos anos 30, 0 espirito de modernizacio ganha terreno, como j4 0 demonstra, em numerosos pontos, ‘© Segundo Plano Nacional dito “de modernizagao e de eq mento”. O Tratado de Roma (1957), concebido com o de criar um Mercado Comum de amplas dimens6es, est prepa- rado desde 1955. Fenémeno talvez mais significativo: as empresas industriais francesas, estimuladas pela perspectiva do comércio europeu, mas colocados diante de um mercado de trabalho restrito, © notadamente de uma escassez. de mfo-de-obra qu: cada, acentuam a necessidade de um ripido aumento produtividade. Foram precisos setenta anos (1880-1953) para que © indice da produtividade industrial dobrasse. Somente dez novos anos (1954-1963) bastardo para que este indice dobre 73 RR Economisias chegam mesmo a “prever que antes de 1985. O consumo por cabegs clevou-se em 1950 até 1959, apesar de um crescente aumento grifico; ele seria multiplicado por 2,5 entre 1960 e 1985 ais hipéteses se confirmarem, malgrado 2 morosidade atual estariamos a ponto de entrar nesta era do consumo ¢ do lazer de massa, que, segundo D. Riesman, poderia exercer um influéncia’ determinante sobre a transformagzo do “cardter social”, qualquer que seja 0 regime! Antes de retomarmos, partindo da experiéncia de nosso aos grandes problemas da evolugao da sociedade pos-ind: trial, que Riesman formulou a partir da experiéneia do seu pats, Propomo-nos a uma tarefa mais modesta: observar algumas ‘mudangss caracteristicas que intervieram na Franga, depois )53-1955, na demanda de bens e servicos culturais pelos juos € na da oferta dos bens e atividades pelas organizacoes comerciais € nffo comerciais, b) Evolupao da demanda de bens e servigos culturais pelos individuos Evidentemente € no tempo liberado pelo trabalho e em especial no lazer, que o adulto pode, acima de tudo, consumir ‘os bens © servigos culturais. Certamente, no curso do perfodo de 1953-1965, a durac#o hebdomadiria do trabalho (com exeego da agricultura) aumentou ligeiramente, mas a pritica do fim de semana completo estenc e a duragao do lazer anual dobrou sob a pressfo dos sindicatos: ela passou, para a maioria dos assalariados urbanos, em seis anos (1957-1963), de 18 dias para 30 dias, apesar da oposi¢aio do patronato ¢ da opinido desfavordvel dos peritos do Comissariado para a Progra- magao. Acrescentemos que, por outro lado, a parte mais impor- tante do tempo liberado redundou principalmente em proveito dos estudos dos jovens. Com efeito, a idade de ingresso na producfo foi retardada_por um prolongamento da escolari- dade*®. Apos este periodo, a maioria dos jovens prossegue 110. J. FOURASTIER, Prévision et Evolution, La Table Ronde, out. de 1962, p. 9:19. LLL. Grupo 1985 do Commissariado para a Programago, Réflexions pour 1985, Paris, Documentation Frangaise, 1964, 156 p. 1969, 319 p. (Médiations 61). 113.1. CROS, Uexplosion scolaire, Paris, CVIP, 1961. Ver, tam ‘wém, Bruder searistiques, 1964, 74 seus estidos dep. 14 anos (713% em 1964 conira’s em 1954). Mas, de nosso ponto de vista, 0 fato mais duradouro do decénio de 1955-1965 € duplo: a) uma: répida valorizagiio das atividades e das despesas de lazer em todos os meios urbanos © mesmo rurais!!* da populagao e, b) uma tomada de consciéncia generalizada da existéncia de um problema especifico do lazer no equilibrio da vida social e cultural, presente e futura de nosso pais. Tentemos especificar algumas dimens6es ¢ moduli destes dois fendmenos recentes: ‘As despesas de lazer nos orcamentos das fam representam 0 8% como aparece nas contas da nago porém muito mais. Com efeito, o item “Lazer cultura” que foi extraido da mubrica “diversos” a partir de 1953, nzo compreende todas as despesas reais de lazer. Gracas a estudo do INSEE e do CREDOC (1957-1961), sabemos que 51,7% dos quilémetros percorridos de automével, a cada ano, so relativos as atividades extraprofissionais: saidas de recreio, fins de semana e férias, ete." Ora, esse item global conta igualmente com 8% nos orgamentos das familias daquele ano. Do mesmo modo, as despesas de bar, ainda classificadas sob a mubrica “Hotel-Restaurante-Bar” (6,7%), correspondem para 4 maioria das pessoas, nfo as necessidades da vida profissional mas as de uma sociabilidade de lazer. Ora, as despe- do excluidas daquilo que é chamado de “‘despesas de lazer” (CREDOC). Cumpriria do mesmo modo levar em conta as despesas de habitagao (residéncias secundérias e .resi- déncias assimiladas aos fins de semana), do vestudrio (vesturio esportivo, de vero ou de invemo), dos cuidados e de higiene (creme protetor para o sol, acidentes de esporte. . .) e da alimen- tagao (despesas suplementares decorrente de iecepgoes e de saidas de recreio). Em tais bases, estimamos pelo menos 16% ‘© montante atual das despesas das famflias, dedicadas ao lazer. Mesmo que seja dificil para 0 economista reagrupé-las, sua signi- ficacdo comium com respeito ao lazer no deixa nenhuma divida. Neste perfodo, o corfjunto das despesas de lazer cresceu mais, rapidamente do que o conjunto das despesas das familias. Mas 0 que nos parece ser mais significative neste novo género de vida € a mudanga e talvez a mutagfo dos interesses "20 de dezembro de 1964, suplemento ‘ne onquéte per sondage sur voitures particulicres et _commergiaies”, Consommation, Annales it CREDOC? 1, jan-mar. de 1963, p. 81. 75 automével, 65, € 0 caso de quase 50% da populagso total e de 40% es de operdrios qualificados. Conta-se no total 8 milhoes de carros particulares. © Grupo, 1985 avaliava que o niimero 198546. Este advento do automével fas as classes modifica as mentalidades. De 1950 ro de partidas para férias nas cidades de mais ‘antes passou de 49% para 63%. Em 1964, 40% dos franceses com mais de 14 anos viajaram durante suas férias, a maiora de automével_(65%). Entre eles, 14% foram para 0 estrangeiro, ou seja, 3 780 000"”. Nao é mais possivel dizer que o francés atual é “‘caseiro”, © éxodo dos urbanos rumo a natureza assume formas cada vez mais “naturists”. A Franga é, depois da Holanda, @ nagdo européia que reserva ao camping o lugar maior em todos 9s meios sociais, qualquer que seja o nivel de recursos (em 1964, gerca de 21% dos operarios e 11,3% dos executivos de nivel superior). O total dos pescadores de vara, que era de 308 000 em 1950, € agora de 1120000, ou seja 41% dos pescadores. Este gosto pela natureza plena & crescente, a despelto das concentragdes que provoca (praias). Estende-se cada vez mais nos fins de semana. Conta-se cerca de 900 000 residéncias sccun- didrias''*: se se thes acrescenta as barraquinhas improvisadas, certas casas de jardineiros do fim de semana, os sitios falsa. mente produtivos, as caravanas estacionadas nos terrenos dos arrabaldes, seria provavelmente preciso, no minimo, duplicar a cifra. Observamsse residéncias secundérias reais, O Grupo 1985 prevé; que haverd, dentro de vinte anos, 1 250 000 novas residéncias secundarias, levando-se em conta o provavel desenvol- vimento (apenas encetado) da construgso de pavilhdes com 0 que sonha a maioria dos franceses (68% em Ps inventar um novo estilo de relagdes com a naturez: Apesar do aumentado atrativo das saidas para a natureza, © interesse tradicional pela bricolage em casa e pela jardinagem junto & casa persiste. Por certo, a pritica do artesanato doméstico Parece mais fraca entre os franceses do que entre seus vizinhos: Somente 21% dentre eles declaram que se dedicam a tais trabalhos 116. Réflexions pour 1985, Op. ctt. 117.C, GOGUEL, Les vacances des Francais en 1964, Eudes et Conjonct jun. de 1963, p. 65-102 118, » Recensement de 1962, population Idgele, diversos sasefeulos, 76 pelo menos-uma vez por-sermi 37% dos holandeses © 419% dos bri & grande: 60% dos bricolewrs de Annecy declaram que se d 40 bricolage unicamente por prazer (sob1 abalho pa um meio de expresso no qual Levi-Strauss ve 4éncia durdvel d lizagao cientifica"™ Seguros para medir a extensdo deste interesse e sua signifieagio, nossa hipétese é que ele estd em crescimento. Seré provavelmente cada vex menos utilitério ¢ cada vez mais psicologico, A medida que a racionalizago da produgao ¢ a padronizaego dos produtos de consumo de massa aumentar. E possivel ‘antecipar que a a, cada vex mais bm dos aspectos maiores da cultura popular, isto é, vivida pela maioria da populagio. Se o artesanato esti em regressio’ no Setor produtivo, ele prospera no do lazer, assim come no da jardinagem, Preocupagdo de economia com certeza, mas acima de tude, desejo de dispor de uma produgio mais “sadia” do que a do mercado, € © prazer que se experimenta ao contato das coisas da terra € no retorno periddico A natureza. Seja como for, esta relagdo tradicional com a terra a ser explorada ou com o material @ ser_transformado, corresponde a uma necessidade cultural gue nem a elevacdo do nivel de vida nem a do nivel de instrugo diminusram. partir de 19 de janeiro de 1962). Em setembro de 1965. havia mais de 6 milhOes de aparelhos. Assim, cerea de um lar sobre 119. SOFRES, 221 750.000 consommateurs, sob a directo de A. Piatier, Paris, Selegoes do Reader Digest, 1963, 250 p. 120. J. DUMAZEDIER, A. RIPERT, Lotsir et culture, Op. cit. 121.C. LEVESTRAUSS, La Pensée sauvage, Paris, Plon, 1962, 397. a bese que a audigfo de radio em familia é de duragao Ssbe-se também que desde 1957 a frequéncia ao cinema proprietérios de um ap: erat sate eee tee ace utros!9, Mas no mesmo periodo (1956-1963) a venda stores passou de 150 000 para 2 610 000, # dos discos long playings foi multiplicada por dez de 1954 a 1963 e um tergo das casas estfo equipadas com vitrolas. A vends dos periédicos continuow a crescer durante este lapso de tempo (11,7 quilos por cabeca em 1955; 15,4 em 1962). O CREDOC prevé que cla se manteré no perfodo de 1960 a 1970. Quanto 4 expansio do livro, ela foi de dez milhGes de_exemplares vendidos em 1960 para trinta ¢ um milhdes em 19637, Até 0 momento, o contetido das transmissGes da televisfo francesa nfo foi invadido pelas “variedades” da publicidade comercial, como nos Estados Unidos, onde ocupam 75% das horas de emissdo. O contetdo das transmiss6es francesas 6 mais equilibrado (25% de variedades de um nivel médio mais elabo- rado). O gosto do piblico divide-se entre os jogos faceis eas reportagens de grande qualidade como “Cing colonnes ala une” (Cinco colunas a uma), entre os folhetins (ou novelas) (de um nivel médio mais elevado do que nos Estados Unidos) e as pegas como Macbeth (J. Vilar) ou como Os Persas que, numa tinica noite, teve mais espectadores na Franga do que em dois mil anos de representagdes teatrais! E 0 hebdomadirio de televiso mais préximo das normas do meio mais instruido (Télé 7 jours) ‘que possui a maior tiragem (mais de um milhéo). Ele nfo tem equivalente nos Estados Unidos. Sao as cangOes que alcangam © maior sucesso radiof6nico, mas os cantores “literérios” tém, no final das contas, tanto éxito quanto os outros'#8 e, em 500 horas de transmisséo das emissoras nacionais, h4 150 dedicadas 122. J. CAZENEUVE, J. OULIF, La Grande Chance de la télévision, Paris, Calmann-Lévy, 1963, 242 p. 123. Sociedade de economia e de mateméticas aplicadas (SEMA), “Perspectives du. cinéma. frangais™, national de la cinematographic. dos. por uma 24 anos, em c. ‘os mais votados n pouco menos) do que cantores que, a ‘a “qualidade de svat" palavras ow ca cidssiea © moderuia ¢ © das exigéncies dow lo qualidade do que, em seu conjunto, o cinema de Hollywood. Em 1964, os géneros de filmes preferidos sfo Os Miserdveis (75%) e Os Canhoes de Nevarone (70%), mas Quai des brumes recolhe sinda 43% dos votos e Hiroshima meu amor, 37%'™. Os livros de bol: favoreceram a expansiio dos. romances policiais. mais. facei mas também a das grandes obras. ApOs 0 Larousse de poche 300 000 exemplares vendidos) vem O didrio de Anne (750.000 exemplares), A Peste (650 000 exemplares) © titulos de obras que, até 1964, lograram uma tiragem superior a 300 000 exemplares. Ainda que © livro de bolso esteja meno: Gifundido do que nos Estados Uni de uma produgao ¢ de uma distri geri! (ainda neo do tun consume, dé massa) anos, esta situagao cultural evoluiu para tuma crescents comple- Aidade, Ela se caracteriza na maioria dos meios socials de uma cidade! por uma confusdo de géneros ¢ de niveis culturais Variados que se interpenetram em combinagGes muitas vezes originals. Nem os refinados conceitos da cultura académica © da cultura de vanguarda, nem os conceitos simplificados de uma cultura de masta que domina nos Estados, Unidos nos parecem aptos a explicar os caracteres particulares dos contetdo= ulturais do lazer das diferentes classes © categorias socials ne Franga, apetar de certas tendéncias comuns. ©) Tomada de consciéncia coletiva Diante desta situaggo cultural, uma tomada de consciéncia geral dos problemas especifizos do contedido cultural do lazer das massas ocorre na Fran¢a, Nosso pais, com certeza, esperara por este recente periodo para valorizar © |: Jongo tempo, os estrangeiros apreciam na Franca aquilo chamam de Za douceur ae vivre". Ela 6 bem diferente Aznavour (21), G. Brassens (13), J. Brel (12), G. Bécaud (11), M. Amont (, L. Escudéro (7), ¥. Montana (6), C. Nougaro (4): 74% contra 81%, way of life). Seu significado corresponde a uma maneira calma de viver. (N-a0s T.) 79. \dicagfo frequente 2 impor. tante dos cipalmente ern 1936. Mas nestes Giltimos Gez anos, ele se tomou, como j4 0 dissemos, um probl geral que se tornou objeto de um de congressos, coloquios, jornadas de estudos e de revistas, no apenas ‘por iniciativa dos sindicatos operdrios, mas também das organizagOes patronais, dos organismos de publicidade, dos agrupamentos de assistentes sociais, dos orga- hismos pedagégicos, dos agrupamentos culturais, dos organismos religiosos, das administracdes publicas, etc. num problema realmente nacional, estando na ordem do dia de todos os géneros de organismos; 6 uma preocupacdo de uma dimensdo e de uma significacdo novas. Esta reflexdio coletiva, malgrado sua diversidade, apresenta uma unidade. Quatro so os problemas que a dominaram: a) Por que ¢ como afirmar 0 direito ao lazer como um aspecto novo da felicidade, contra a sobrevivéncia dos moralismos anteriores do trabalho, da familia, da politica ou da religito? b) Por que e como reduzir as sujeigdes (horirios: de trabalho, género de trabalho ou género de habitagdo e extenso do trajeto, ete.) que, para os meios mais desfavorecidos, as possibilidades de lazer? ©) Por que © como evitar que os valores do lazer nfo contrariem os valores auténticos do engajamento familiar, escolar, rofissional, sindical, politico ou espiritual? Prone) Por que © como favorecer no lazer um equilfbrio entre © prazer ¢ 0 esforgo, entre a evasio © a participagso, o diverti- mento e a cultura elevada? Para responder a tais problemas, constatemos antes de mais nada que todas as organizag6es da vida social se transfo- maram ou aceleraram, durante este periodo, sua transformacio. Em primeiro lugar, os organismos de distribuigéo comercial modificaram sua publicidade que se tornou, no crnjunto, mais informativa, mais educativa ou mais humoristica. Pela primeira vez (em 1964), Feira de Paris organizou uma “aldela de lazer” ‘que reagrupava todos os comércios de bens e de servigos culturais numa perspectiva comum em que a vontade de educagso do pablico estava associada A promogGo das vendas (colaboracto Ge pesquisadores, escritores, educadores). Agrupamento nacionais, 129, P. LAPARGUE, Op. cit.,p. 10. 80 lume vida equilibrada de lazer. O bazar tradicional de tudo e nfo conhece nada esté om retrocesso. A. margers G0 desenvolvimento dos supermersedos, muitas vezos providos de segdes especializadas para os lazeres, os novos comércios especializados de bens Culturais (vendedores de artigos de esporte, livreiros, vendedores de miisica...) fendem a ser geridos’ por animadores compete de estagios. Estes “vendedores na vida das sociedades locais ndo como benfeitores tendéncia, embora muito limitada, é, a nosso ver, um dos fatos marcantes da recente evoluco dos comércios de bens culturais. Um ndmero erescente de empresas industriais que foram construidas neste periodo n4o mais se parecem, absolutamente, com as antigas fabricas; certamente, seu mimero é bem reduzido fem face do conjunto das empresas. Mas assinalam uma nova tendéncia e criam um novo quadro de referéncia. A evolugo das fontes de energia e“dos métodos de trabalho impée constru- Ges mais semelhantes a edificios administrativos ou escolares que a antigas fabricas, ¢ 0 desejo de suavizar a vida leva 2 empresa @ construir estddios, quadras de jogos, salas de espetéculos, salas de reuniGes, salas de aulas e a prever jardins. As comiss6es de empresas desenvolveram suas atividades de lazer num estilo mais técnico. Em 1960 os principais responsdveis pela formacio das grandes empresas se reuniram para estudar “a cultura geral na formagao industrial”. Esta nova cultura concede amplo lugar as novas relagdes dos valores do trabalho e dos valores do lazer no equilibrio cultural dos quadros de funcioniirios. Por certo a maioris das em- presas ainda conserva condigdes anacrOnicas de trabalho, porém a empresa mais modema assemelha-se cada vez menos a imagem di fabrica que domina a literatura francesa, de Zola até Aragon. Durante este mesmo periodo, ja 0 dissemos, foram cons truidos mais de 3000000 de alojamentos. Bairros, cidades inteiras nasceram. A protecdo © o arranjo de um espago de lazer 6 um dos principais problemas na ordem do dia: espagos verdes, 130, Pode-se situar néste periodo a origem ou 0 reforgo de um movimento social quo deveria expandirse mais tarde © dosembocar em igociagBes entre sindicatos e patronato e depois em um conjunto de is 70/71 sobre a formacdo permanente na empresa. 81 plexo sistema de guardas, de delegados, de ass adores de centros culturais de todos os géneros para os locatarios jovens, adultos e idosos. Fm outro plano, acontece 0 mesmo no tocante a0 tradi- cional cura da paréquia. Ele foi o precursor da organizagio do lazer, Mas © quadro das “obras sociais da Igreja” revelou-se muito acanhado para responder as novas necessidades. Foi apés um “congress nacional sobre 2 aco pastoral ¢ o lazer” (965) que a secularizag#o geral destas obras foi decidida pela Igreja. A participacdo dos cristaos em todas as novas organizagOes de lazer viu-se encorajada. A ago pastoral se orienta para formas 0 mais adaptadas aos lazeres de fins de semana ou de fim 0 e 2 “nova mentali jonais do sacerdécio, o papel de guia de uma equipe de adores culturais € que esta na ordem do dia Por fim, as municipalidades mais dinamicas comegaram a se propor 0 problema do lazer de sua populaczo em termos novos. Antigamente as comiss6es dos esportes, das belas-artes ¢ das associagdes tinham uma politica fragmentaria, sem perspec tiva de conjunto. Hé uma dezena de anos, a exemplo das municipalidades inovadoras como Rennes, Estrasburgo, Metz, Rouen, Bourges, Avignon, Annecy ou Grenoble, uma politica mais coerente de desenvolvimento cultural extra-escolar a curto e longo prazo comega a ser elaborada em algumas cidades com a ajuda do Estado. O numero de piscinas, de gindsio e de estadios esté aumentando muito. Apesar do atraso em que-cairam h4 cingiienta anos'*!, as bibliotecas municipais tendem a organizar-se em centros culturais. Cum um retardo da mesma ordem, os conservadores de museus so encorajados a tornar-se animadores culturais (Congreso do Conselho Internacional da Organizagio dos Museus — Paris, 1964). Um grande numero de centros dramé- ticos nascidos de uma iniciativa da IV Repablica se transfor- jade” dos figis. Afora as exigencias maram ou esto se preparando pare se transformar om casas de cultura — seis foram coneretizadas durante o IV cerca de cingilenta estfo sendo projetadas. Os centros sociais, as Casas da Juventude e da Cultura e os centros de jove trabalhadores aumentaram em mais do que 0 dobro cm d anos (ha atualmente mais de 1 200). As tradicionais prefei 860 cada vez mais inadaptadas para resolver estes probler novos, culturais, a curto ¢ longo termo. Na verdade, repetimos, todas estas realizagGes inovado! so ainda iimitadas. Elas se deparam com a hostilidade dos conservadores ¢ a forga da inércia que caracteriza toda adminis- tragao publica ou privada. Mas é incontestvel que um movimento de renovacfo cultural foi desencadeado ow acelerado este periodo. Ele favoreceu realizagGes e muitos projetos cir tanciados que tém possibilidades de se efetivar progress dentro dos préximos dez. ou vinte anos, caso se verifiquem as hipdteses dos economistas. Tais projetos podem estar entre 05 indicadores mais coneretos das realizagGes de “1985”. Nao descrevemos, evidentemente, de maneira exaustiva os tragos da evolugso ‘cultural das famflias e dos organi sociais no decurso deste periodo. Nao era o nosso propésito. Escothemos alguns fatos significativos que evidenciam 0 mento de novos interesses na populago e de novas nas organizag6es de nosso pais em relagao com a valor desigual, porém geral, das despesas e atividades de lazer. Podemos falar, com D. Riesman, do desencadeamento de uma “segunda revolug#o” no carter’ nacional? Ainda nfo sabemos. Nossa hipétese, todavia, € que estas transformagoes culturais ja so bastante extensas © profundas para exercer um efeito duradouro na mentalidade geral da Franga, incluindo-se af suas atitades sindicais, s6cio-politicas ou sécio-espirituals. Apesar da modifi- cago do clima politico em relacdo Aquele periodo, apesar do efeito dos movimentos de maiojunho de 1968, tais tendé se mantém. Nenhuma observag¥o nos permitiria prever mudanga. Ao contrério, todas as estatisticas disponiveis desde © periodo de 1955-1965 prolongam-nas a0 nivel de lazer”. A reivindicag#o da redugio da semana de trabalho para 40 horas © a diminuigdo da idade de aposentadoria para 60 anos arris- cam estender estes problemas a um piblieo nove num futuro 132.3. DUMAZEDIER, Vers une ch ‘ova edigio, 1972. Com 133. Ver mais adiante: “Lazer e terceira idade”, para todos ¢ ela se choca ¢ se cl culos. Importantes minorias nio se beneficiam com esta evolucao geral. A doutrina oficial do trabalho numa sociedade industrial avancads, onde a propriedade dos meios de producao.é coletiva, pode orientar de modo diferente os contetidos do lazer, mas Ago modifica o movimento no sentido do incremento ¢ da valorizagio do iazer, para a maioria da populagao ativa. O mesmo se di nos outros tipos de sociedades industrials avangadas. A sociedade francesa, a partir dos anos de 1955-1965, parece, ela propria, entrar numa fase de mutagfo em que os problemas Scat he de coe a eccsen Voor ne ERINTORE, a © lazer se converteu num problema que se ampliou a escala ide ¢ da cultura global. reditamos ter mostrado que a dinamica produtora deste se reduz ao fator econdmico. D> fato, € justamente ja duragdo do trabalho profissional que per transportes entre 0 local de servigo e 0 habitat, como condigdes Ga produedo do lazer. Do outro lado, a confusfo entre tempo liberedo ¢ lazer oculta, freqientemenie, a agfo de dois outros fatores importantes: uma regressio dos controles institucionais dos organismos de base da socicdade © uma valorizagao social da expresso do! eu em todos os possiveis sentidos do termo, os os niveis © malgrado todas as forcas econdmicas, as ¢ culturais que se Ihe oper Esta dupla din&mica sécio-cultural do lazer falta nos ensaios te6ricos ou especulativos orientados por uma concepeo mecanicista dos determinantes econdmico-sociais nascidos “do trabalho. Isto ocorre amitide no recente estudo de M. F. Lanfant as teorias do lazer. Levada ela propria pela logica de sua ago ideolégica da dindmica do lazer, a autora taxa ddeologia” todo esforgo de pesquisa empirica para insezir 93 determinantes econdmicos do lazer numa relagéo dialética com os outros determinantes s6cio-culturais: Sem atentar 20 movitnento historico da reduggo das obrigacoes institucionais nna producio social do lazer, confunde ou subestima as difereinga> das signifieag6es sociolégicas da ociosidade, do tempo liberado, 84 universo impressionével Entretanto as andlises mais pertinentes até ha pouco escritas certas “‘previsGes” aparentemente cienti de fundo ideol6gico de certas éticas 134, M. F. LANFANT, Op. cit

Anda mungkin juga menyukai