Conserva seus excretos, destila ácido úrico, Onde sarjetas escorrem em volta aos tribunais, E transeuntes tropeçam nas pernas dos mendigos Que manuseiam seus testículos debaixo das altas marquises;
Nesta, que foi, um dia, Tróia, a Mui Fiel,
E hoje não passa de uma lamentável Cabul, Sem um sonho sequer, um mito, um homem honrado, Sem um gesto de carícia, um riso de jubilação;
Nesta, onde busquei sempre, mais que exílios,
Ruivos crepúsculos e nuvens violetas, E cavei (inútil!) uma fonte de águas limpas Que me lavasse a alma, da pátina do tempo;
Nesta cidade maldita, opressora de poetas,
De ouvidos moucos às églogas dos seus pastores, Mísera de outonos, pobre de primaveras, Pródiga, porém, de verões, milionária de infernos;
Nesta cidade tecida de conjeturas e andrajos,
Embora em parte inchada por dólares e sestércios, Definitivamente descoroçoei, dela me despeço E levo só o estrito, o necessário mínimo:
Minhas cinzas e cruzes, tristes túmulos,
Lembrança de mãos inertes, sem desejos, A urna lacrada dos meus beijos E alguns poemas de amor, desmantelados.