Cesrio Verde, atento ao mundo que o rodeia e tirando poesia de realidades
comezinhas ou at anti lricas, aprecia aspetos da sociedade do seu tempo.
Justifica esta afirmao, com referncia breve s leituras que fez deste autor. (alguns tpicos) C e s r i o Ve r d e u m p o e t a d o o l h a r : p i n t a c o m p a l a v r a s o que v, fugindo s convenes do que at a era considerado potico. Abre poesia as portas da vida e assim traz o inesttico, o vulgar, o feio, a realidade trivial e quotidiana. Cesrio Verde observa de forma atenta e minuciosa a realidade social e conclui que o povo o elemento mais resistente, ainda que alvo de diferenciao social. Por este facto, o poeta identifica-se com o povo trabalhador e coloca-se do l a d o d o s d e s f a v o re c i d o s , v t i m a s d e o p re s s o s o c i a l d a c i d a d e , e d e n u n c i a a s c i rc u n s t n c i a s s o c i a i s q u e c o n s i d e r a extremamente injustas. Um dos exemplos mais marcantes o da pobre engomadeira que mortifi ca para pagar a conta da botica. Cesrio Verde transportou a linguagem humilde e prosaica para o clima da poesia autntica. Demonstrou que a poesia anda derramada pelos seres e pelas coisas habitualmente consideradas prosaicas. Desceu deliberadamente ao concreto, ao imediato e, com um fino talento de reportagem artstica, surpreendeu belezas inditas que, em Portugal, ningum antes vira. A poesia de Cesrio Verde organiza-se em torno do binmio cidade/campo, refl etindo as transformaes da sociedade portuguesa da sua poca. A deambulao pela cidade permite-lhe o contacto com a realidade exterior e confirma-se como um pretexto e uma necessidade para a criao artstica. A cidade surge, assim, como o lugar da inspirao e da criao, mas tambm, contraditoriamente, como um espao de opresso, de desconforto, perverso. Portanto, isto leva-nos a concluir que a sensao de liberdade que a deambulao, em princpio, permitiria, esbarra assim com os limites de uma cidade estreita, que o deprime e sufoca (e de onde todos fogem), conduzindo-o a refugiar-se no campo, local puro e so. Mundo campestre que passar, deste modo, e por consequncia, a ser motivo de composies poticas.