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Paula Beiguelman Procedencta COMPRA A CRISE DO ESCRAVISMO E A GRANDE IMIGRACGAO 1? ediedo 1981 38 edigio | PRESERVE SUA FONTE ‘DE CONHECIMENTO pe @ cententrio de monteirolobato = = = brasiliense Copyright © Paula Beiguelman Capa: 123 (antigo 27) Artistas Graficos Revisao: Jos6B. Andrade Sonia S. Nicolai BIBLIOTECA CENTRAL bata aay [oroca] Spt. FG GSE ip editora brasilionse s. 01223 — +. general jardim, 160 so paulo — brasil INDICE Abolicionismo e imigrantismo ... Apogeu e declinio do imigrantismo . Indicacdes para leitura ... ABOLICIONISMO E IMIGRANTISMO Na historiografia referente ao bin6mio abolicio- hismo-imigrantismo, a noglo de Oeste paulista as- sume, como 6 sabido, importincia capital. ‘A designacio de Oeste, quando se trata dessa etapa histérica da cafeicultura, tem como referéncia jotéria o Vale do Paraiba. Observando o mapa da Provincia (depois Estado) verificamos que a lavoura que se expande a partir de Campinas se localiza na Verdade na regido Leste, orientando-se a seguir no ‘yentido Norte. Ou seja, o Oeste histérico corres- jonde, grasso modo, ao Leste e Nordeste geogritfico. Ja mesma forma, o Vale do Paraiba, localizado no udleste, era chamado de Norte, também em funcdo) direcionamento do café, em marcha progressiva sentido Sul, a partir da Provincia do Rio de Ja- ro, para depois contornar para o Oeste. ‘A Crise do Escravismo e a Grande Imigragio Sao extremamente abundantes as evidéncias de uma discrepancia do Oeste. com respeito a um’ modelo rigorosamente escravista, decorrente de fa- tores diversos que, inclusive, aliaram os fazendeiros: dessa dea a um incipiente processo de urbanizaglo _ nas fimbrias da lavoura. Isso, 6 claro, nao interferia no proceso de estruturagao do quadro de trabalho da prépria 1a- voura, essencialmente escravista. Sem davida, tendo iniciado sua expansao depois da extingao do trafico = portanto numa etapa jé adversa a especulagto, em escravos — a layoura do Oeste passa a desen- volver uma tendéncia a reservar o brago escravo. para as fungdes essenciais, empregando o trabalho. ‘nacional livre nas tarefas supletivas ow perigosas, Igualmente, multiplicam-se as tentativas para in- ‘troduzir colonos eutopeus, 0 pagamento de cujas passagens era adiantado pelos fazendeiros. Colo- cados, porém, em fazendas jé organizadas em ba- se escravista, onde recebiam uma remuneragfo pau- , tada pela rentabilidade do trabalho escravo, ori- \sinavam-se freqlentes conflitos entre proprieté- *Yrios e colonos, que tornavam desvantajoso 0 sis- tema. Em vista disso, a nova lavoura passa a insistir numa solugao que the permitisse ao mesmo tempo poupar o investimento em escravos e garantir-se um brago barato: a entrada do trabalho semi-servil de cules (coolies, trabalhadores indianos ¢ chineses) & custa dos cofres piblicos. i ‘Mas, enquanto fracassam essas tentativas, pros- segue no Oeste o sistematico suprimento de brago ‘eseravo, vindo de outras provincias. Por isso, durante ‘a passagem da lei emaneipadora de 1871, que encon- tra a oposigdo generalizada da lavoura de todo 0 pais, & exponencial a resist@ncia do Centro-Sul em eral e especialmente do Oeste paulista. Uma vez. promulgada a Lei do Ventre Livre, porém, tendo sido o proprio investimento servil fe- rido pela depreciagio, comecam a se esbogar tenta- tivas para dificultar @ corrente de trafico interpro- vincial, ao mesmo tempo que a administragio passa ‘a promover um programa de auxilio a introducio de jimigrantes. ‘A abertura de uma terceira frente cafeeira pro yoca uma substancial mudanca qualitativa na situa- ‘glo, conduzindo ao rompimento dos quadros restri- fos dessa politica imigrantista. Com efeito, a lavoura mais nova do Oeste da Provincia de Sto Paulo, de- senvolvida depois da lei de 1871 (quando decresce o interesse pelo inyestimento em escrayos), tendia a se organizar na base do trabalho imigrante, e se voltava para as possibilidades propiciadas pelo surto imigra- trio italiano, 0 colono, até entio localizado supletivamente fem lavouras j4 constituidas, passaria a ser empre- jgado no cafezal em formagio, vendo o seu salirio faerescido com o usufruto das terras intercafeeiras. ‘A introduco de imigrantes em familias permit ‘40 fazendeiro obter um suprimento de trabalho su- 10 A Grise do Escravismo ¢ a Grande Imigrasaio u plementar barato, fornecido pelos membros femini- nos ¢ infantis, enquanto ao colono se tomava pos- sivel, através da cooperagdo da unidade familiar, um ‘melhor aproveitamento das oportunidades de ganho. Para o sistema funcionar a contento era, entre- tanto, necessério respeitar a mobilidade do colono, seja entre as fazendas, seja na directo dos niicleos urbanos. Esse fator, obrigando a uma continua intro- Gugdo de novos imigrantes, tomnaria impraticavel 0 esquema no caso do financiamento das passagens continuar cabendo aos fazendeiros. Além disso, & transferéncia dessa despesa para os coftes puiblicos devia infiuir favoravelmente sobre a oferta de bragos, uma yez que o imigrante estaria liberto da necessi dade de reembolsar prego da passagem, vendo aerescida, portanto, a sua remuneragio, —) Como sistema do imigrantismo em grande es- ala, subyencionado pelos cofres piblicos, alterava- se radiealmente 0 enfoque corrente da matéria. En- quanto as administragdes provincial e nacional entea~ Tavam o problema em termos de uma concessio de auncilios pecuniérios aos fazendeiros para a introdu- $4 de colonos, a nova layoura, ao invés, passava a {nterpretar a imigragto subvencionada como alicerce de um abundante mercado de trabalho estrangeiro, ue eaberia aos poderes pablicos proporcionar, EA fea responsivel por essa proposta Area essa correspondente a Alta Mojiana), e cujo porta-vor era o lider imigrantista Martinho Prado Jénior, que cha mamos de Oeste novo. Em carta de outubro de 1877, registra Martinho Prado Jinior sen entusiasmo por Sao Simao e Ri beirdo Preto. A vista da terra roxa, exclama: “Cam- pinas, Limeira, Rio Claro, Araras, Descalvado, Casa Branca, tudo pequeno, raquitico, insignificante, diante desse incomparavel colosso”. E, de fato, a regio constitui-se em novo centro de atragio, a cla afluindo, além de fazendeiros de ‘outros pontos da Provincia, grande mimero de pro- prietdtios provenientes de Minas Gerais. © distrito que Martinho Prado Jiinior representa na Assem- biéia Legislativa Provincial, em 1882, inclui Pinhal, Siio Joto da Boa Vista, Casa Branca, Ribeirao Preto, Siio Simao, Cajuru, Batatais, Franca. Casa Branca seria uma espécie de limite entre 0 Oeste anti (Campinas, Limeira, Rio Claro, ete.) e o Oeste mais ovo, o primeiro centrado em Campinas ¢ o segundo em Ribeiro Preto. ‘Com 05 dois Oestes e mais o Vale, configura-se perfeitamente na Provincia uma constelagdo con: tuida de trés dreas socio-econdmicas nitidamente dis- tinias. ‘Como o abastecimento de escravos aumenta com ‘tempo de ocupagao da terra — por sua vez fator de deeréscimo da produtividade da lavoura tropical —, \etifica-se uma relagao inversa entre o suprimento de mao-de-obra em cada area e a produtividade da Ia- ‘your. Ou seja, o Vale do Paraiba, de cultura velha, constitui a area proporcionalmente mais abastecida | de escravos em termos de suas necessidades produ- Crise do Escravismo ¢ a Grande Imigragdo vos que acompanhassem os senhores vindos de fora da Provineia para abrir fazendas — obviamente no Oeste mais novo; a aparente condescendéncia com 0 eseravismo apenas redundaria, porém, em contribuir para avolumar, a curto prazo, a pressio imigran- tista, uma vez.formadas as fazendas. ‘Aprovado pela alianca dos representantes dos distritos mais novos e mais antigos (estes tiltimos jé fabastecidos) da lavoura cafeeira paulista, 0 projeto, fniretanto, no se transforma em lei: 0 Clube da Lavoura de Campinas, que congrega os importantes interesses do café do Oeste mais velho, obtém do Executiva provincial, com a cobertura do ministério Sinimbu, a recusa de sancao & lei aprovada pela mais novo apresenta. atributos opostos; e 0 Oeste campineiro situa-se intermediariamente. ‘A dindmica do escravismo conduzitia, a longo prazo, a uma progressiva transferéncia de braco, da Javoura mais antiga para os setores novos. Mas ‘corre que o processo se interrompe — e justamente por iniciativa do setor de vanguarda que, embora faminto de mao-de-obra, propde a obstaculizacio do, trdfico interprovincial (que introduzia escravos pro- cedentes do Norte agropecuario € dos setores mais antigos do Nordeste agucareiro), como passo t4tico, para impor a soluco imigrantista, que afinal aca- aca i ‘ ; Es sic Assembiéia. Manifestando ainda sua afinidade com me sai, are us ain amass fads de posi por su ver, cwoWe I] tiers do Oeste aun, ese gaint bral po. moye, em ambito nacional, a defesa da reivindicagio dela quanto a introdugao de brago asiatico. ‘Além disso, no terreno da legislaco penal sobre escravos, 0 governo, argumentando com a freqiéncia dos crimes de assassinato de senhores, apresenta & Camara dos Deputados, em fevereiro de 1879, uma proposta determinando que, para o caso desses deli- tos, se substituisse a pena de galés, que o escravo teria a cumprir, pela de prisao celular. Um projeto nnesse sentido ja fora apresentado em outra ocasifo, fundamentado com a alegacao de que a pena de galés feta ineficaz, visto ser o servigo da lavoura mais pe- sado... A ordem escravista vivia assombrada, de forma ‘Com efeito, com o eseravismo ja ferido em duas tapas — em 1850, com o encerramento da especu- Jagdo em escravos; em 1871, quando o proprio sen- tido do investimento escravista se vé condenado a longo prazo —o desinteresse do setor de vanguarda ‘pelo suprimento em escravos torna evidente para a: consciéncia nacional a perspectiva da viabilidade de um movimento visando o golpe final na iniqua insti- tuicao. Em fevereiro de 1878, Martinho Prado promove na Assembiéia Legislativa Provincial o encaminha- mento de uma proposta criando 0 imposto proibitivo | de 1:0008000 sobre cada novo escravo averbado na Provincia. Desse tributo procurara excetuar os escra- (rise do Escravismo e a Grande Imigracdo 15 permanente, pela ameaca de manifestagdes de rebel )\, dia, representadas pelos quilombos, levantes, fug |. individuais € crimes contra a vida dos fazendeiros, Mas, na conjuntura particular em que se discutia roposta, actescia o incremento do trfieo interpro- vincial, que ‘‘desenraizava” escravos das reas 1 quais hayiam sido criados e em que se sentiam como (sesstio de 22 de margo de 1879), para transplanté-lo uma érea estranha onde, além do. mais, se sujeitos a uma superexploragao, & qual reagiam con: flituosamente. ___Atesposta aesse contexto é a emergéncia de uma lideranga parlamentar abolicionista, que, além de questionar o tréfico interprovincial em que 0 pro- blema criminal em aprego se inseria, passa a spon tar a necessidade de se resolver de vez o problema eseravista, Ao mesmo tempo que combate as tenta- tivas da Eseravidao para melhorar seus recursos de Seguranga penal, o abolicionismo se contrapte ao in- tuito dela de se reorganizar através do trabalho semi- },servil asiético. Assim, pois, ointeresse titico do setor dle vanguarda em ferir 0 escravismo configura uma crise nacional dentro da qual o abolicionisme emer- ge, passando a evoluir com dindmica prépria. E evidente que abolicionismo e imigrantismo nao se identificam subjetivamente. Aliés, Joaquim. Nabuco foi um severo crtico do imigrantismo, iden- tificando perfeitamente a intengdo da grande lavoura de pressionar o trabalho nacional livre e liberto e, Martinho Prado. ‘principalmente, de perpetuar o sistema territorial & agricola em que a escrayidao se inseria, sistema em {iltima anélise lesivo também para o proprio imi- ‘grante. Enquanto o abolicionismo se referia ao es- feravo como trabalhador escravizado, advogando a Jncorporacio econémica da populacio nacional livre ‘p liberta num outro sistema, os idedlogos do imi- _grantismo, como Louis Couty (Z ‘esclavage au Brésil © 16 Paula Beigu Crise do Eseravismo ¢ a Grande Imigracdo ” Le Brésil en 1884) difundem uma nogio de traball escravo associado a um atributo de incomperénci extensivo ao liberto. Contudo, o imigrantismo capitalizaya a insta ago do contexto cataclismico, criado pela agitagt abolicionista, indispensivel para abalar uma const Jago geral que, sem isso, se revelaria, dado eat rio natural de forgas, favordvel A escravidao. __ Num determinado momento do contrapont imigrantismo-abolicionismo, ao fim da segunda ge tio Dantas (1884-85), quando se discutia o projet de lei relativo aos sexagendrios, os deputados pat listas Campos Salles ¢ Prudente de Morais, eleitos com 0 auxilio do chefe conservador Antonio Pra proeminente lider do setor imigrantista, declaram-s indiferentes escravidao ¢ interessados exclusiv ‘mente na imigragio, projetando assim, em Ambit nacional, o ponto de vista da lavoura cafeeira mai préspera. Incumbindo-se da passagem do projeto dos xagenarios, o lider liberal Saraiva, em vista do i nente revezamento partidario, estabelece negociagd com os conservadores. Delas se encarregando, 0 cor servador Anténio Prado, ao mesmo tempo que ap sentava varias sugestdes tendentes a captar a col fianga da layoura escravista, declara considerar fo do terreno partidario trés questdes: a do element servil, a financeira e, last but not least, a imigraci No ministério Cotegipe, Ant6nio Prado ocup: a pasta da agricultura, sustentando ante o Senadi juntamente com Saraiva, a passagem da lei de 1885. Em seguida, passa a ostentar uma plena identifi- ago com a politica escravocrata de Cotegipe, dessa, forma se recomendando ao agrarismo. Com esses ti- ulos, Anténio Prado obtém o controle do Executivo provincial de Sao Paulo, através da Presidéncia Joao, ‘Alfredo, seu amigo politico. A 24 de junho de 1886, Joo Alfredo transmitia 0 cargo ao Vice-president ueirez Telles; simultaneamente, a 2 de julho de 1886, constituia-se, sob a lideranga de Martinho Prado Finior, a Sociedade Promotora de Imigragio, ‘para a qual seriam praticamente canalizadas as ver- as destinadas 20 pagamento de passagens a imi: sprantes, Uma vez conseguido 0 poder administrativo ne- cessirio ao encaminhamento da imigragtio subven- cionada, AntOnio Prado se dissocia da politica re- pressiva de Cotegipe, através de um incidente que culmina com sua retirada do ministério. Por sua vez, fa defecgto de uma figura da importéncia do ex-Mi nistro da Agricultura define uma conjuntura favo- rriyel ao recrudescimento da campanha abolicionista. IE, de fato, intensifica-se a agitagao na Provincia de Sto Paulo, onde AntOnio Bento e seus caifazes so- Japam a seguranga da propriedade escrava, ao mes- ‘mo tempo que abalam a opinido publica revelando pprovas dos maus-tratos sofridos pelos cativos. A Re~ denedo, folha de Anténio Bento, comega a ser publi- teada no ano de 1887, ‘Agora, Anténio Prado ¢ © imigrantismo espe- 18 rise do Eseravismo e a Grande Imigracao 19 ravam da agitagto abolicionista, uma yez rompids ‘as comportas que a haviam represado durante a pri meira fase da administragio Cotegipe, a quebra d resist@ncia do escravismo, localizada no prospero re: duto campinciro, o mais importante setor quanto a riqueza realizada. ‘Uma representagiio dos fazendeiros de Campi: nas & Camara, protestando contra a indiferenca Executivo provincial (controlado pelo imigrantismo) ante a fuga de escravos das fazendas e solicitando governo imperial medidas enérgicas, corretivas e re pressivas, leva Ant6nio Prado a tribuna do Senado, onde toma a defesa do Presidente da Provincia em termos francamente abolicionistas, Com efeito, enca minhado o imigrantismo, o almejado restabeleci- mento da ordem tinha, agora, como premissa essen= cial, a aboligao. No curso desse processo, ficara determinada ta: xativamente a composigdo familiar do grupo imi grante a ser introduzido com passagens pagas pelo ‘governo, sendo, pois, atendida a proposta do setor de vanguarda. E, uma vez fundada, a Sociedade Pro- motora da Imigragdo celebra imediatamente um con= trato com a Provincia, para promover a entrada cerca de 30000 imigrantes no ano de 1887. Um de- creto de 3 de fevereiro de 1888 autorizaré o presi dente da Provincia a contratar com a Promotora introdugo de 100 000 imigrantes. Em suma, a orientagao imigrantista do setor dé vanguarda, provocando uma erise fundamental den: {70 do escravismo, cria as condighes objetivas para a femergéncia do movimento abolicionista, circunscre~ vendo, porém, seu triunfo. Com efeito, a fase ascen- dente da campanha abolicionista, que culmina na liquidagio do nefando instituto, encerra-se brusca- mente, sem propiciar as mudangas estruturais alm jadas pelo grande teérico do movimento, Joaquim Nabuco. ito entre 0 Oeste antigo e 0 novo é mani- {esto durante todo o processo de crise. ~ Na sessio de 16 de margo de 1852, na Assem- bléia Legislativa Provincial, Martinho Prado investe contra 0 Clube da Lavoura de Campinas, consid rando-o ‘tudo o que hé de mais anacrénico em maté- ria de lavoura”, pela posigio assumida primeiro con- ‘ra a proibieZ0 do trafico interprovincial ¢ depois pela insistente opedo (Fracassada) pela imigrad0 de coolies. >) De qualquer maneira (0 Vale e mais os dois Oestes) que assumem posigdes distintas, num contexto em que 0 Oeste mais novo busca a alianga tatica de uma ou outra, de acordo com seus proprios propésitos. Por outro lado, 0 progresso da agitagao abol cionista-podia unir os-dais Oestes 1a reivindicagao iigrantista, ante o protesto do Vale do Paraiba, que info se beneficiaria dos recursos empenhiados para esse fim. Nesse caso, 0 Oeste como um todo de volve uma auto-representacto progressista, em cons traposigio ao “‘emperramento” do Norte (0. Vale)s Ressalte-se que nos estamos referindo a uma constelagio politica constituida de trés elementos dois dos quais costumavam ser englobados na cate goria geral Oeste, que dissociamos em Oeste antigo Oeste novo. Para quem focaliza um perfodo posterio ao que estamos examinando, quando emergem nova frentes pioneiras e de expansio, esse Oeste aparec ‘como 0 “velho Oeste” de Sao Paulo. Tal expressao, porém, ¢ insidiosa, visto prestar-se a uma con! sem@ntica que levaria a se considerar num mesmo bloco duas Areas distintas, que tém como centra respectivamente Campinas e Ribeirdo Preto — num evidente retrocesso analitico. Com efeito, quando se emprega, sem maior preocupacdo de rigor, a expres sti “'velho Oeste” em sentido genérico, englobandd Campinas e Ribeirio Preto, o leitor pode supor que al explanacto se refere ao Oeste antigo, dada a sino nimia da adjetivacio, ou entdo estender ao Oeste novo imputagdes validas apenas para o antigo. Por isso, a fim de preservar a distingao entre Oeste anti ¢ Oeste novo, tal como a formulamos, preferimos, ‘nos casos referidos acima, a expresstio Oeste histo rico ou qualquer outra que ndo se preste a mal-entenl didos. ‘Cumpre ainda lembrar que o Oeste novo corr onde, grosso modo, a Alta Mojiana e, portanto constitui apenas uma pequena parte da area ai 2 (rise do Eseravismo e a Grande Imigragdo Samuel H. Lowrie chama de Mojiana-Paulista (“O. Elemento Negro na Populacao de Sio Paulo”, in Re- | vista do Arquivo Municipal, ano IV, vol. XLVIII, Junho de 1938, S40 Paulo, pp. 5-56). | Lowrie divide a Provincia em quatro érea: oral, Norte, Centro ¢ Mojiana-Paulista, servindo-se deum critério estritamente geografico, que Ihe pare- ‘ceu pertinente tendo em vista seu objeto de interesse. Deixando de lado o Litoral, de fato pouco expressivo com respeito & nossa questio, restariam trés regides significativas: Norte, Centro ¢ Mojiana-Paulista, Na regido Norte (na designagao da época, como jé vimos) esto arrolados por Lowrie realmente os municipios | do Vale do Paraiba. Mas a area central e a Mojiana- | Paulista no correspondem ao que chamamos de Oeste antigo e Oeste novo. Assim, o Centro com- preende Campinas, Braganca, Itatiba, Itu, bem co- mo municipios da rea sorocabana. Por outro lado, sob a designagio de Mojiana-Paulista, so na ver- dade englobados os Oestes antigo (com excegiio de | Campinas) e 0 novo. A classificagio de Lowrie no apresenta, pois, qualquer equivalencia com © nosso esquema analitico Oeste antigo—Oeste novo, ba- seado numa divisio que tem como marco aproxi- mado Casa Branca — enquanto a Mojiana-Paulista, fa que se refere Lowrie, engloba municipios impor- tantes do Oeste antigo, como Limeira, Rio Claro, ete, ‘Dada a enorme importincia do Oeste antigo em. ermos de riqueza realizada, nao é de admirar que Crise do Eseravismo e a Grande Imigragdo estatisticamente a Mojiana-Paulista (mesmo exch do Campinas, mas incluindo Limeira, Rio Claroy cic.) situe-se em primeiro lugar quanto ao nimeto di eseravos. Mas tal constatagio nada tem a ver com nossa assertiva sobre 0 obviamente escasso abasteci mento de escravos em que ainda se encontrava g Ceste novo, propulsor do imigrantismo. © (Em termos tanto da evidéncia historiea como d propria Iogica do escravismo, foi-nos possivel Ie em conta, em nosso esquema: o Vale, saturado di escravos ¢ ié tendo, portanto, passado 0 apogeu nomico; 0 Oeste antigo, com um quadro de trabalho em avangado estado de organizaco; ¢ um setor vanguarda, iniciando 0 suprimento de braco e perce endo a possibilidade de fazé-lo em novas bases ‘Nessas condicées, nada mais natural que 0 te antigo, em pleno apogen sécio-econdmico, se cons titufsse, como Tealmente ocorreu, no centro da resis ‘éncia politica, primeiro A proibieao do trafico in proviniale depos Bprépriaabolicaaa ‘Quanto ao Oeste mais novo, a peculiaridade d0 seu comportamento merece especial atengio. C eleito, ele toma a iniciativa de obstaculizar o tratica interprovincial. Ou seja, no apenas as possibili dades de suprimento por essa via nao estavam aind esgotadas (embora, é claro, se restringissem gra tivamente) como, ao contrario, a nova lavoura feeira tinha que se empenhar para evitar o fluxo de escravos para a Provineia, E nao se tratava de mer Tecusa A imobilizacéo de capitais no investiment escravista, ligada, por exemplo, & teivindicagdo geral de um braco barato € abundante, desembaracado de tais énus..O Oeste mai sistia numa opedo entre tipos de brago nao escravo, opondo-se tenaz~ fnente @ imigragio asiética e exigindo a imigragao curopéia, introduzida em unidades familiares. Pelo exposto, percebe-se a ineficécia da propo- sigio cotrente com respeito ao bindmio abolicio- nismo-imigrantismo. Nela se enfatiza o estrangula- mento na oferta de bracos, impelindo & busca de uma solugiio — que “‘casualmente” teria conduzido a introdugio do imigrante europeu, com as decorren- tes conseqiéneias no Ambito da renda agréria inclu- sive através do usufruto das terras intercafeciras (ra, como vimos, a grande imigracdo resultou de ‘uma opeao definida nesse sentido. Nao que os fazendeiros do Oeste novo fossem dotados de uma “mentalidade” especialmente racio- fal e “progressista’”. O caso € que a lavoura de van- guarda se encontrava em condi¢des privilegiadas para operar com um tipo de trabatho s6cio-economi- ‘camente incentivado, que the evitaria o investimextto fem escravos e até mesmo 0 recurso-a-um-quadro coativo. Enquanto o elemento semi-servil (cules) se teria Jocatizado indiferentemente em qualquer Area, a ‘eapacidade seletiva do braco nitidamente assalariado propiciava ao setor cafecito mais préspero a utili agio preferencial dos recursos despendides com a imigragio, partilhados apenas com o segundo setor mais produtivo. E, na solugio que defendeu e acabou. prevalecendo, passou a contar com dois allio: o europeu, de tipo nitidament eonacional, livre e liberto, para-as pelo primeiro. Nas condigées peculiares de sua lavoura, da dis: ponibilidade de verbas governamentais e da conjun- tura escravista nacional e internacional, 0 setor ca- feciro de vanguarda reivindicou a forma mais conve- niente de suprimento de mio-de-obra, capaz de pri vilegié-lo quanto ao direcionamento dela — e, além disso, manifestamente de molde a propiciar a dina- ‘mizagdo do cireuito global da economia.* Para interpretar eseo creccimento econSmico, Vineulando & emergente industrializagto, associada a0 fim do escravismo ¢ & injegdo de um elevado contingente imigrante, tem sido aventada uma ex- plicagdo, de certa forma corrente, mas cujo signic fieado, como veremos, antes metaférico que heu- stico. Nesse esquema, é levada basicamente em conta ‘introdusio de uma massa proletéria, desenraizada de suas origens (européias) e destituida de bens de produgio, yendo-se limitada unicamente a posse de sua forca de trabalho. E visivel a intengao de esta- (9) Olstor qu assim o prefers pode passar, desde, a0 print capi tulo, “Apogea e Declisi do Imigrantsmo”, delcanda par of precio ete esa gue detrei mss Pia «ta noo seulates 1932] in Instituto do ica ao Estado de Sto rio de Andrade’ (i Sa Se Paulo Brasil, Acero da Seoto de Livros Raros da Biblotece Café do Estado de Sto Paulo — Visita da Missdo Econ6h belecer uma analogia com o proletariado f ‘20 capitalismo manufatureiro inglés, em decor a discusstio metodolégica sobre a inadequacao dest tipo de aproximagoes (em que se retrara uma es de nova génese do capitalismo industrial nas di ses de nossas plagas...), basta observar que a lizagao do aparecimento de um proletariado dis pondo unicamente de sua forga de trabalho tem , explicar’ passagem do artesanato @ indiistria capitalista, sua etapa manufatureira. Nao se trata, evident mente, de uma chave pronta a ser extrapolada para’ anilise dos processos particulares de industriali ‘ho. De qualquer forma, no caso do complexo cafees ro paulista, 0 referencial analitico a ser elaborado especialmente diverso e peculiar. Com efeito, cons derando-se que a destruigio do escravismo gerall ‘mente se esgota na criagiio de um trabalhador malmente livre mas destituido de capacidade aquisi tiva, e que o setor cafeeiro de vanguarda optou pel introduedo de mao-de-obra de tipo diverso, temos, i de inicio, 2 dissociaeao do braco no escravo em dus categorias, compondo, com 0 escravo, trés tipos ao invés da mera antinomia escravo-livre. O atribut do despojamento dos meias de producto e da ven da forga de trabalho est4, a rigor, presente em ambi 0s tipos de trabalho nfo escravo, e por isso nos é d jpouca serventia analitica. © que os distingue (e isto é ) verdadeiramente relevante no caso) € 0 fato de 0 rabathador que aqui designamos como nitidamente tassalariado conjugar ao braco uma tendéncia 2 capa- fedade de consumo — o que the permitiré atuar jinamicamente sobre uma economia que jé havia {gerado um embrido de mereado interno. # Com efeito, a propria cafeicultura do antigo ‘Oeste, tornada prospera depois de encerrada a espe- ‘eulagio em escravos (com a extingao do trafieo) ten- iia: a poupar o brago escravo, reservando-o para as fungdes essenciais; a empregar excedentes dispon{- eis na valorizago da terra, cedida em parte & agri- ‘cultura de alimentacao. E, desenyolvendo ainda for- mas diversas de redistribuicdo da renda gerada na lavoura, aliou-se a um incipiente processo de urbani- gio que incluiria o estabelecimento de pequenas ividades fabris diversas, nos anos 70. Estas consideragdes nos convidam a comentar 0s limites da importancia da quebra da auto-suficiéncia io latifiindio como fator de criagdio de um mercado de consumo para a industria emergente. ‘Como acabamos de observar, 0 processo de superagio da estrutura autondmica na fazenda pau- lista — alis, anterior mesmo a Lei do Ventre Livre — ‘opera-se de fato dentro de um esquema de alianga ‘com a incipiente urbanizagtio, num contexto de esti- mulo & emergéncia de uma economia mais com- plexa. Encarado isoladamente, porém, esse fendmeno a (rite do Escravismo ea Grande Imigragio : dde mio-de-obra adotada pelo setor de vanguarda, em seria menos relevante como fator responsével pelagil| sua opedo pelo trabalho imigrante.* caracteristicas assumidas pelo complexo cafeeiro. A quebra da auto-suficiéneia poderia, por exempio, fi mitar-se & meta disposigdo de concentrar na ativi dade da lavoura o quadro de trabalho escravo, redi ido ao minimo indispensével — sem envolver quai quer outras implicagSes ou conseaiiéncias transfo madoras, seria esse o caso se 0 abastecimento extern fosse feito com o recurso a importacbes para a aret Em outras palavras, € possivel, teoricamente, mesmo tempo suprimir a estrutura auto-suficiente da fazenda pela utiizacdo intensiva dos trabalhadore apenas na lavoura tropical, e adotar formas de abase tecimento extemno tais que nao favorecam 0 apareci ‘mento de um mercado local de consumo ou de um opulagio circunvizinha consumidora. Assim, para realmente compreendermos a din mizagao do cireuito abrangente em que o estimulo industrializagdo se insere, temos que levar em cont as premissas jé estabelecidas na economia como todo; a caracteristica peculiar do trabalho de nitidamente assalariado, que conjuga #0 brago capacidade tendencial ao consumo; ¢ as condigd especiais em que o setor de vanguarda da cafei {ura logrou promover a grande imigracio subven nada européi ‘Complementarmente, ao interpretar a imigras gio, hé que levar em conta: a conjuntura global ‘em que se insere a absoredo do trabalho assalaria combinada com a definigio especifica do problem (0) Na redagho deste capitulo aprovettames, com os petinents arc fos e corte, otto por nis publirado sa revista Almanague, 8, Sto Paulo, Braiiense, 197, pp. 101-106. & se do Exeravismo a Grande Imigracao 31 us intercafeciras, que ele exploraré simultanea- jyente com 0 trabalho do cafezal, sem a dispersio eo cultivo de pequenos lotes afastados (e freqiien- omente de terras ja impréprias para a cultura) acar- lava. . sistema era de molde a gerar atritos entre lazendeiros e colonos. Com efeito, estes dltimos comecavam a traba- thar 4 onerados de dividas e, dada a organizacao do rabalho cafeeiro em que eram enquadrados, nio gontavam com oportunidades certas de ganhos suple- nentares. Desapontados com o escasso rendimento pecunidrio do seu servigo, na execugao de um con- lrato cujo funcionamento efetivo nfo tinham podido prever, atribuiam-no & fraude ou entio reivindica- ‘yam a alteragio dos termos do ajuste. Sao freqiientes is revoltas ocorridas nesse periodo, das quais a mais gélebre a de Ibicaba. Por sua vez, 0 fazendeiro solicitava do governo meios para obrigar os colonos ao cumprimento do contrato, defendendo-o inclusive do riseo de perder capitais que tinha adiantado (pagamento de pas- sagens, etc.) e que, segundo o ajuste, reaveria dos colonos. De qualquer forma, os fazendeiros se desinteres- savam da introducio de imigrantes, continuando a se ater ao brago escravo, mais compensador, apesar do grande investimento inicial, e cuja rentabilidade idaya a medida do que se esperava do trabalho livre, nacional ou estrangeiro. APOGEU E DECLINIO DO IMIGRANTISMO Na primetra etapa das tentativas de introduc de imigrantes (inicialmente alemaes do norte, depoi alemies do sul ¢ suigos), que se abre com a iniciati de Nicolau Vergueiro ainda nos anos 40, fora aé tado o sistema de trabatho em parceira. Consisti em tese, na divisio do lucro liquido, apés a venda da café, cabendo metade ao colono. Quanto as divide contraidas com o fazendeiro (passagens, sustento no primeiros tempos), metade no minimo da renda quida anual dos imigrantes seria destinada a penséclas. O colono s6 entrava no cafezal depois derrubado-o mato, plantado 0 café e tratado p quatro anos, Essa organizagio, na yerdade, privava-o de uma oportunidade econémica da qual se benef ciaré, quando, mais tarde, lhe for entregue-o trato di cafezais em formagao — ou seja, 0 usufruto das ter No perfodo de grande prosperidade e extrem demanda que a década de 70 inaugura, a lavout torna a se voltar para o imigrante estrangeiro, porém, buscando sanat urna das fontes de insucess 4 responsabilidade dos fazendeiros e colonos no p ‘gamento das passagens. Nos termos de uma D1 de José Vergueiro a0 Ministro da Agricultura, 4 1870, o governo promoveria de pronto a entrada 100 a 200000 imigrantes com passagens integ mente pagas, fornecendo, pois, aos fazendeiros tn balho abundante e barato, de acordo com “o pri pio inquestionavel: os trabalhadores devem procul 95 proprietarios € nado os proprietérios os trabalh dores" ‘Tal esquema, obviamente, nfo possufa aindl condigdes de receptividade na esfera administrativ Entretanto, com o golpeamento do escravismo ao encaminhamento e subseaiiente promulgacdo d Iei de libertagdo dos nascituros, tanto 0 governo im perial como 0 provincial passam a desenvolver programa de auxilios, visando a compensar a divid dos colonos para com 05 fazendeiros e destes par com os introdutores, no concernente ao pagament das passagens. Estimulados por esses auxilios governamentai vvrios fazendeiros se interessam pelo emprego do tr balho imigrante, No entanto, situag%o do colono dentro cafeicultura ndo se alterara ainda, uma ver que él ccomtinuava tendo a seu cargo cafezais jé const junidades de ganho suplementar, esse tyentual formacio de um pectlio — e 0s conflitos tontinuam freqilentes. pesas de que pretend {ese, se pudesse considerar vantajosa a introdugio de {rabatho livre em quaisquer condigSes, dado 0 alto iprego do escravo, contudo s6 a garantia de uma rela- {iva estabilidade, que no obrigasse a renovar conti- nuamente essas despesas (proibindo-se, na verdade, 4 mobilidade do colono entre as fazendas ¢ na di {io dos nticleos urbanos), € que permitiria ao lavra- dor (que podia apelar para a alternativa do brago escravo) encarar o trabalho imigrante como compa- rativamente interessante, na competigao entre ambos 0 tipos. ‘Além disso, como, apesar dos auxilios do ‘emo, os fazendeiros nfo apenas pagavam comisses ‘os introdutores, como faziam adiantamentos aos co- Jonos, a operaco envolvia efetivamente algumas des- jam indenizar-se. Embora, em Substitufdo geralmente o sistema de parceria pelo de salGrio quanto & cultura de café, acrescido do ‘pagamento da colheita por alqueire, seri em torno dos contratos de locago de servicos que passardo.a ‘centrar-se 0s conflitos. Todavia, a essa época, os fazendeiros da érea mais nova, em plena expansio, tirando partido do surto emigratério italiano, ja vinham ensaiando orga- rnizar sua lavoura com base nesse tipo de mao-de- ‘obra, desenvolvendo uma interag3o_conveniente a PUC-R: se do Escravismao ¢ a Grande Imigracdo ambas as partes, Do ponto de vista do imigrante, tratava-se b: camente da perspectiva de formagao de um peal peciilio, através da atividade intensa da familia ona, remunerada na base de um salério fixo anu acrescido de quota por alqueire de café colhido principalmente, com a permisso do usufruto terras intercafeeiras onde eram plantados géner alimenticios. Essa ditima maneira de remune © trabalho era, na verdade, exclusiva do setor expansio, e, pois, em processo de abertura de ferais: ele tratava ainda de constituir 0 préprio at dro de trabalho — ¢ na conjuntura excepciot mente favordvel em que se descobria a érea da te roxa, Dessa forma, entregue as familias colonas trato dos cafezais novos (com o conseqliente usu das terras intercafeeiras), as caracteristicas do ‘mento imigrante, que anteriormente Ihe haviam desfavordveis no confronto com o escravo, agora mitiam o ajustamento.reciproco dos interesses colono ¢ fazendeiro, ambas as partes voltadas paré expansio do cafezal. ‘Na nova conjuntura, o trabalho assalariado p: sava a competir vantajosamente com o trabalho es cravo, nao obstante a maior rentabilidade deste en Valor absoluto. De fato, nas condigbes de ajusta mento estabelecido, o trabalho incentivado nao ef menos intenso que o servil; e, num sistema de ret tamento que permitia superar o quadro de trabalho {ixo, abria-se a possibilidade de elasticizar o nimero Pee een eet Ce a. Essas vantagens, porém, se anulariam caso cou- esse aos fazendeiros o 6nus (despesa com a intro- duo continua e renovada) acarretado pela mobili- dade dos colonos. A solugio proposta pelo Oeste mais novo consistiré em despreocupar 0 fazendeiro tlo problema do transporte da mio-de-obra imigran- 1c, chamando o governo a si, exclusivamente, todas fas despesas com a imigraco. Os colonos seriam tra- ‘iidos do pais de origem e colocados & disposigo dos fazendeitos — tudo por conta do governo; e essa operacia se repetiria qnantas veres fossa necesshrin, dispostas para ela as verbas competentes. Desapare- ceria para o fazendeiro o interesse em garantir a esta- bilidade do colono através de contratos longos ¢, para o imigrante, que sairia da Europa livre de di- vidas e compromissos e podendo contratar livre- mente, aumentaria o interesse pela imigragao. Na luta pela implantagto desse sistema, a area mais nova combater4 as outras alternativas propos- tas. Com cfeito, o imigrante asiftico, idealizado como semi-servil, além de néo representar um tipo de bbrago como o que se requeria (interessado na expan- sitio do cafezal) ¢ nao dispensar 0 quadro coativo, afluiria indiferentemente para qualquer area que o solicitasse — enquanto o imigrante europeu reivin- dicado representava uma garantia de suprimento preferencial para o Oeste mais novo. A vit6ria das 36 Paula Beiguell je do Escravismo e a Grande Imigragao 37 proposigdes dessa rea significaré, assim, um qui ‘monopélio dela no concernente as verbas que serial destinadas & imigracio; de fato, o Oeste mais novo, partir de meados da pentiltima década do séci tomnou-se 0 sorvedouro das levas de bracos estrat geiros de que necessitava, atraidas pelo estado d cultura e fertilidade do solo. O contingente imi ‘6rio era apenas partilhado com o Oeste mais antiga sendo rejeitada, até com o recurso a rebeldia, a fi mais velha (Vale do Paraiba), A introdugo de imigrantes, de que se encar gava a Sociedade Promotora de Imigragio, funda a2 de julho de 1886, fazia-se essencialmente, cot forme j4 assinalamos, na base de unidades famili res: as mulheres e os menores forneciam considerd soma de trabatho médico suplementar e garantiam 9 abastecimento de bragos durante as colheitas. Quanto ao regime de trabalho, AntOnio Pradk negava, em 1889, que o colono ainda estivesse suieit 420 regime dos contratas de locagao de servigos. Rel tava também o argumento de que haveria oscila na remuneragdo: um desfalque na renda, no caso escassez da colheita, seria compensado, em grand parte, pela cultura de cereais. As exceléncias do sis- tema se demonstrariam, ainda, pelo fato de estar a) propriedade do solo, nas circunvizinhancas das dades ¢ vilas, fracionando-se entre os imigrantes, ‘A base do estabelecimento da grande corrente imigrat6ria italiana — dentro das novas condigdes d enquadramento na cafeicultura, e respeitada a mobi Capa de folheto de propaganda distributdo na Iidlia — reproduzido do élbum \tlia-Brasil, Masp, 1980. 38 Paula Beigs ise do Escravismo e a Grande Imigragao 39 TABELAT lidade do colono — era o pay i Bee peste intearal IMIGRANTES ENTRADOS EM SAO PAULO assagens a mao-de-obra destinada a lavoura, (Os préceres imigrantistas supervisionavam pe soalmente a operagdo, tendo em vista prevenir atrito futuros: assim, nfo apenas davam preferéncia, campesino, habituado a condigdes penosas de exis ‘€ncia (evitando, na medida do possivel, a entrada artesios e do elemento urbano em geral), como pi curavam limitar-se a parentes e amigos dos colonos aqui estabelecidos, através do recurso’ as famosas “eartas de chamada". A imigragdo esponténea, n controlada pela Promotora, era rejeitada, bem com ade individuos isolados, ‘A propaganda era organizads, ¢ a entidade publicara e fizera circular na Itélia um folheto inti tulado A Provincia de Sdo Paulo. Contudo, 0 imi grantismo se defendia da acusagio de recrutamento, leyantada seja pelos interesses italianos contrari devido & evasio de mao-de-obra, seja por uma o ido sinceramente preocupada com a situacio d seus compatriotas na lavoura tropical. Nao obstante os dbices, que fazem as cifras d imigragdo cair consideravelmente em 1889 © 1890 (tornando, porém, a subir em 1891), 0 periodo que estende at6 1897 representa a fase aurea. da imis gracAo italiana. Todo esse sistema, embora baseado na continu e renovada introducio em massa de imigrantes, usta dos cofres piblicos, e em grande parte pi substituir 0s que deixavam a lavoura, patecia justi 1 2, abl de 1940 ¢ oleic Serio de Inigraio © sods 194) ficar-se plenamente na etapa de prosperidade. Era até considerado abonador que o imigrante se deslo- vasse para as cidades, imputando-se a presungfo de que o fizesse jé de posse de um pequeno peciilio. Depois da superprodugio, entretanto, embora essa forma de suprimento de braco continuasse man- tida, j4 passard a ser encarada de maneira mais crf fica, conforme veremos mais adiante. vue Antes, porém, examinemos, em contrapontoy-a- situago do trabalhador nacional. #2 Paula Beiguel ise do Escravismo e a Grande Imigraga0 ot No sistema escravista, esse elemento vira- inserido num contexto no qual a alternativa do suprl mento servil permanecia sempre presente, sendo) medida da rentabilidade do trabalho livre dada pel do trabalho eseravo; ¢, no caso de rendimento int rior, o trabalho livre era substituido pelo escravo, qual tendia a ser assimilado. Efetivamente, nos casos em que o braco nacia nal livre se empregou em fazendas novas, ainda sent Renhum investimento servil, era considerado de-obra provisoria para acumulagio inicial, subst tufda depois de um certo tempo pelo escravo. E nesse contexto de rejeigio da categoria “ balho livre” ¢ de uma tentativa de 0 assimilar trabalho escravo, que passa a ser solicitado 0 co! curso supletivo do elemento nacional, livre e liberto Pressionado, de formas diversas, a deixar sua vultu de subsisténcia, nos intersticios da grande lavouré A atitude desta com respeito 4 populagto Para a qual esporadicamente se voltava é de extrema aborrecimento. Recrimina-lhe a indoléneia porque la se Ihe furta e, por fim, ao conseguir atrai-la em Parte, desiste de empregi-la na cultura, depois de Ihe Tangar o labéu do écio ¢ inércia, porque nfo se su bordina & atividade intensa e sistemética exigida pel grande empresa escravista. sentido da insergo do elemento nacional no sistema e 0 seu no reconhecimento pela ordem esta belecida, enquanto pequeno agricultor, manifestam se na natureza das obrigacdes militares ¢ paramili Angiolo Tomasi, pertencente ao Acervo da Galeria de Arte Moderna, Roma. Apud Itdlia-Brasil, Masp, 1980, A saida dos imigrantes — reprodugdo em preto-e-branco, reduzida, do quadro de a Paula Beiguelialy) Crise do Escravismo e a Grande Imigrasao {rato do cafezal em formagio. Por isso, ao mesmo iempo que obstaculiza o tréfico interprovincial, 0 novo Oeste abre excecdo para a entrada de escravos acompanhados de seus senhores — isto é, fazendei- ros que vinham abrir lavouras nessa Area e que ime- ‘iatamente adeririam ao imigrantismo, com vista as atividades da etapa seguinte..Com a aboligto, tam- }ém o servico inicial da formagao dos cafezais passa ser atribufdo ao caboclo. 3 Estabelecida a corrente imigratéria, o trato sis- temético do cafezal novo, com as oportunidades de- correntes do usufruto das terras intercafeeiras, & en- ‘regue 4 familia colona. Ao trabalho nacional, lirre e liberto, ficardo afetas as tarefas ainda mais penosas e ‘menos remuneradoras, rejeitadas pelo imigrante. © enquadramento bisico do elemento local corre na drea mais velha, processando-se o ajusta- mento entre as condigdes de menor produtividade dessa regido ¢ o ritmo de atividade inerente a uma mio-de-obra que acedia em se engajar no setor me- nos capaz de remunerar o trabalho na cafeicultura, sendo, por isso mesmo, rejeitado pelo imigrante. Tornou-se comum a opinido, obviamente infundada, que atribuia a decadéncia da tavoura do Vale do Paraiba ao braco que ela justamente empregou por- que jé se encontrava em declinio. ‘Quanto as areas mais novas, ocorre uma pro- cura intensiva de mo-de-obra nacional para as ta- refas de derrubadas das matas virgens e do preparo da terra, as quais o imigrante (ao qual é reservado tares com que era grayado: recrutamento para 0 Exército ¢ servigo da Guarda Nacional. Em suma, elemento livre se veria perturbado nas suas ativida: de pequeno produtor de géneros ou se transformari em mao-de-obra para a grande lavoura. Integrado gradativamente a 6rbita desta, que i ocupando a terra e inclusive expropriando-o, a loca: lizagdo do elemento nacional se fazia atendendo um duplo angulo: sua repugnincia por um trabalho identificado com o servil; e 0 interesse do fazendeiro em evitar ao quadro escravo, de que era proprietrio, tarefas que envolvessem riscos de vida ou alheias atividade sistematica no trato do cafezal. © trabalho livre nacional se empregard, po! ‘exemplo, em boa escala e com grande éxito, no ser- vigo arriscado e dificil das derrubadas. Alids, os ca- maradas (caboclos) eam considerados excelente para tal atividade, e também para a formacio Iavouras novas. Cabia-Ihes ainda 0 cuidado de valase ccercas, e servicos diversos do género. As vésperas d: aboli¢ao, um contingente numeroso dessa populagto era constituido de agregados, vivendo em terras que nnao eram suas, lavrando os piores solos da fazenda, sem qualquer seguranga, © morando em mfsers choupanas, precariamente levantadas, €poca em que o Oeste novo inicia a incorpo- rago do imigrante europeu, sua lavoura operava com trés tipos de braco: o livre nacional, para as tarefas de derrubadas de matas; o escravo, para a formagao das lavouras novas; e 0 imigrante, para o. ae eae a Paula Bi rise do Escravismo e a Grande Imigracao © colonato) nao se sujeitaria, preferindo a repatri gio. Ou seja, a expectativa do imigrante e a situagal em que se encontrava previamente o elemento brash leiro estereotipam a distribuigao dos papéis na I voura nova: o elemento nacional simplesmente conti ‘uava a ocupar a posigdo, de certa forma compl ‘mentar e de reserva, que sempre the coubera, j& respeito ao trabalho escravo, A solicitagdo de um trabalho sécio-economi mente motivado, capaz de se beneficiar da expansi do cafezal, traduzira-se em reivindicagio de bi imigrante, sem que se acenasse ao elemento nacioni ‘com proposta andloga, abrindo-lhe novas perspecti vas. Em outras palavras, a répida injecio de ut ‘massa de mao-de-obra ja s6cio-economicamente mo tivada (a ponto de atravessar 0 oceano) pressionava elemento local, antes que sua atitude psico-econs mica tivesse tempo de se reformular ‘mesmo que isso ocorresse. Em conseqiiéncia, a voura nova péde contar com um brago a0 qui incumbiriam as tarefas rejeitadas pelo trabalhad Quanto ao liberto, sua atitude sécio-econémica se assimilara & da camada livre nacional que passa a integrar, e se define, como a desta, num quadro mar- ado, apés a aboli¢io, pela presenga efetiva e poten- ‘ial da massa imigrante. Passado o periodo de desor- fganizagao do trabalho de base servil e da intensa mobilidade dos ex-escravos dentro da Provincia, apenas na zona velha assiste-se a um reenquadr mento deles na atividade essencial da cafeicultura, sobrepujamento do liberto (tendo sido o es- travo o factotum na lavoura) ¢ do caboclo (consi- ilerado “hAbil como nenhum outro para todo ser- vigo") pelo imigrante, permite perceber que a prefe- éncia por este nfo se devev a qualquer atribnto ligado A qualificagdo profissional; e, com efeito, era Esse'fator, porém, era irrelevante para a lavoura do Oeste mais novo, uma vez que o aprendizado dos rudimentares trabalhos da cafeicultura fazia-se rapi damente. Assim, o fazendeiro dessas Areas selecio- fnou seu brago menos na base de uma experiéncia ‘agricola especifica que na disposicdo de trabalhar intensamente no cafezal. A referéncia a essa questiio nos conduz a algu- mas considerag®es, no que concerne a0 confronto entre o elemento nacional e 0 estrangeiro, no mbito do trabalho urbano. Como observava Pierre Denis (O Brasil no Sé- ceulo XX), todos 0s anos a colheita mareaya um novo mais velhas teve garantida a disponibilidade de ‘massa de trabalho barato. Donde se conclui que: atitude psico-econémica caracteristica do caboel mio decorre de mera “persisténcia dos padrées s6 culturais herdados da escravidio", mas se inser funcionalmente no contexto pés-escravista e imigran tista, 6 Paula B 12 do Escravismo e a Grande Imigracdo a7 ponto de ser essencialmente estrangeira mesmo a oferta de mao-de-obra barata para o nascente parque fabril. Essa quase auséncia do @lemento nacional na indéstria de Sto Paulo, no periodo de sua formagto, chegou a conduzir alguns autores a concluir por uma, habilitago maior do operdrio estrangeiro, suposta superioridade essa elevada, inclusive, a categoria de {ator fayordvel ao desenvolvimento de uma atividade tconémica para cujo desempenho o brago nacional néo teria revelado a necesséria competéncia, Todavia, 6 perfeitamente sabido que o artesa- nato nacional independente exerceu com habilidade profissional as tarefas para as quais era solicitado. E, ile qualquer maneira, a massa estrangeira que afiufa to trabalho fabril — massa praticamente recém: egressa da lavoura (eujo servigo também desconhecia 41 €poca em que 0 buscara) — nao possuia especial habilitagado no setor. Alias, a propria composi¢ao do pessoal dos estabelecimentos téxtels, que absorviam uma mio-de-obra que inclufa mogas e menores a partir, de cinco anos, atasta a hipétese de no se tncontrar 0 brasileiro livre ou egresso da escravidio consideravelmente representado na indistria por quaisquer motives relacionados com a habilitagio profissional.* movimento de concentragio da populagdo rural ti directo dos centros urbanos. Nas cidades, os ex-c Jonos empregavam as nogdes artesanais que porves tura jé trouxessem ou adquirissem, para se apn priar, num ritmo de atividade intensa, conjugac um padrao de vida infimo, das eventuais oportut dades de acumulacio preexistentes ou que se ci yam em virtude de sua propria presenca. Psico: nomicamente equipado para aproveitar as brec! ainda no exploradas da economia urban: em atividades ndo qualificadas, o imigrante, naya mais agudos os problemas urbanos com mobilidade acelerada para as cidades, como a fr trava com a utilizagdo intensiva dos canais de ascet sto s6cio-econémica. Em correspondéncia a xenofobia, desenvolveu-se entre as massas imigrantas um sentimento de hostilidade contra o meio. No anos de 1892 ¢ 1896, por exemplo, o antagonism entre os grupos brasileiro e italiano na Capital, que refletia as insatisfatérias condigdes de vida de ambos tomou a forma de sérios conflitos de rua. A competi¢ao pelos empregos urbanos se fazi pois, praticamente dentro do grupo imigrante, wae *) Na redagto deste capitulo viemos nos bsseando fusdamentaiments ‘om naga "Os Estat Popalresna Formato do Compexo Cale (rise do Escravismo ¢ a Grande Imigracao ‘TARELA IL enfoque expressaria, talvez, 0 ponto de vista do setor apaz de se afirmar na disputa quanto & reserva do braco j4 introduzido, o qual, portanto, podia encarar hima restrigio dessa ordem em termos de recurso para dificultar um incremento ainda maior no vo- lume fisico da produgao global, além de que o acrés- timo de dificuldades a serem enfrentadas por outras, ireas tenderia a beneficié-lo na competigao interna. Mas a lavoura em seu conjunto nao se dispunha a sbrit mao de um sistema que lhe permitia pressionar ‘o mercado de mio-de-obra local. ‘A situagdo de pentiria em que vivia a populacao das provineias meridionais da Itélia deveria, em tese, permitir que se continuasse a implementar normal- mente o projeto imigrantista em eurso — mas logo, tsse fluxo emigrantista acaba por preterir o Brasil, nptando pelos Estados Unidos. Com efeito, €0 que se yéna Tabela IIT, Ou seja, aps um forte ingresso em 1901, a entrada de imigrantes, dois anos depois, nao ipenas se da numa escala extremamente reduzida, como corre um proporeionalmente alto déficit emi pratério. anor Bnradas Seldae 1940 nw 27917 (A Acompanhemos, agora, 0 processo de deci do imigrantismo. Inicialmente, verificamos que, configurada superproduco, o braco estrangeiro passa a afluir menor abundancia, ao passo que aumentam propos cionalmente as repatriagdes, chegando-se ao dé emigratério, conforme se pode perceber pela belall. q E, com efeito, a cafeicultura jé deixava de pra piciar ao imigrante as condligdes mfnimas de rem nneragio por ele requeridas: os fazendeiros, endivi dados, cogitavam de reduzir os salérios e, de qual quer forma, a inseguranga quanto ao pagamento d servigo jé se instalara entre os colonos. imigrantismo passa a ser alvo de critica, siderado agora enquanto despesa que, continus mente renovada, deixara de ser compensadora. Tal ‘TABELA IL Anat Entradas Soldas ino", In A Forma do Povo no Complero Cafsiro, 2 ed revs 1 se 36058 © ampliad, Poets, 1978" O texto que segue fol claborade sso 37831 aua7 ‘idlmecte pare eto ao cae 17083 397 (Crise do Fscravismo e a Grande Imigraga0 A essa época, é reelaborado 0 esterestipo respeito ao imigrante italiano, que ganhara consi ‘téncia durante o apogeu do imigrantismo. __De fato, alteradas as condigées de ajustament recfproco entre fazendeiros e colonos, sucediam-se q conflitos eo abandono das fazendas antes de cut prido o ajuste de um ano, como resposta (embol hndo articulada) dos colonos, face as expectati frustradas. As medidas restritivas A plantacdo d cafés novos (1903) terminam por dissociar os inte esses das partes, uma vez que os imigrantes viam. usufruto das terras intereafeeiras uma fonte essenci de remuneracio — o que pressupunha a expansio d cafezal; apenas em tais condiedes 0 colono, ao mek ‘mo tempo que contava com terra ainda nfo exauridy Para o cultivo dos géneros alimenticios comerci zados por sua conta, podia conjuger o trato dos pi de café com o trabalho em suas proprias culturé Nessas circunstancias, 0 comportamento s6k econdmico do imigrante italiano, sua disposic&o « tentar a formagio de um pectilio através da atividé intensa no cafezal em expansio (atributos que o hi viam tornado 0 colono ideal a partir do tiltimo quar tel do século XIX) passam a ser alvos de critica, néncia na fazenda, mesmo num contexto em que @ operagao ja se tornava financeiramente desvantajosa para os fazendeiros... Em contrapartida, a deterioracdo das condides de remuneragio no Brasil facilita a promulgagio do decreto Prinetti, de 1902, pelo qual o Comissariado Geral da Emigracio na Italia proibia a emigracao subvencionada que o Brasil promovia. E bem ver- dade que a proibigao estabelecida no decreto Prinetti seria burlade através da distribuicdo direta das pas- sagens entre os interessados. Contudo, era passada a época das “cartas que despovoavam aldeias” italianas em beneficio do café. Na conjuntura que se abre, a lavoura volta sua expectativa para outros centros emigratérios, principalmente Espanha e Portugal. Do contingente imigratério no periodo 1902-1911 participam: 139228 italianos, 110923 espanhéis € 78140 portugueses (apud Boletim do Departamento do Trabalho, 1916). Ou seja, a imigragio de espa- nhéis e portugueses, conjuntamente considerada, sobrepuja de longe a italiana, embora o total de imigrantes italianos entrados no periodo seja supe- rior ao dessas outras nacionalidades consideradas ‘soladamente. No perfodo imediatamente seguinte, a imigragHo italiana passard para o terceiro lugar, depois das duas mencionadas. De qualquer forma, tendo em vista manter 0 equilibrio que the convinha entre os componentes do mereado de mio-de-obra, a cafeicultura defendeu veementemente a imigragdo subvencionada (que formados, O Dr. Carlos Botelho, que s tornaria Secretério da Agricultura do Estado, chegg ‘mesmo a culpar, em 1902, 0 imigrante italiano de Propiciado a superproducio: 0 colono imporia plantio de novos cafezais como condigao de perma: (Crise do Escravismo e a Grande Imigragdo prosseguiria até 1927), justificando-a mesmo quand! destinada apenas a cobrir os claros decorrentes das sucessivas repatriagées. E até abriu milo do principi da introdugdo em grupos familiares, concedendo Pagamento de passagens também a i sos. ‘A introducto maciga de mio-de-obra imigrante promovida entre 1886 ¢ 1897 dizia respeito ao setor Ge vanguarda da cafeicultura que entto se expandia, ¢ onde se geravam capitais que, sob seu comando, impulsionayam a economia inclusiva, diversificando- a. tornando-a mais complexa. Correspondis a uma pedo por um tipo de trabalho nitidamente assala- riado, capaz de ser absorvido por esse embriao de economia em crescimento, © de ao mesmo tempo dinamizé-lo. 4 0 imigrantismo do perfodo que tem como mareo 0 infeio da superprodusao vincula-se simples- mente a0 objetivo da lavoura de, pela continuago do istema, garantir-se 0 répido © continuo suprimento de uma massa de mAo-de-obra, de mancira a evitar 0 desequilibrio do status quo. Pelas suas caracterstices de trabalho assalariado, o elemento introduzido es- tava fadado necessariamente a uma frustraglo no Ambito rural — restando-the a eventualidade de uma integracto (também tornada menos compensadora) no urbano. Ou seja, a questio em pauia se rela- cionava essencialmente com 0 suprimento de mAo- de-obra (de qualquer tipo), uma vez que, dadas as bases estreitas da economia, o impulso para a absor- ¢do macica de um trabalhador-consumidor, numa conjuntura ascensional, praticamente se esgotara. abertura de novas frentes pioneiras, como a alta araraquarense, embora se opere, é verdade, durante © prosseguimento do imigrantismo, nio altera esse quadro, nfo obstante algumas semelhangas formais Face aos conflitos freqiientes entre fazendeiros colonos, cuja repercussio prejudicava 0 pretendi afluxo, so promulgados os decretos n2s 1150, dé 5-1-1904, ¢ 1607, de 29-12-1906, regulamentado pelo decreto n? 6437, de 27-3-1907, que privilegia a divida decorrente dos saldrios de operérios agt colas — embora essa disposi¢ao necessariamente ni encontrasse recursos judiciais de cumprimento. Pel decreto n? 2071, de 5-7-1911, era criado 0 Depa mento Estadual do Trabalho. A lei n? 1299-A, 27-12-1911, criava o Patronato Agricola para defen: der os “direitos ¢ interesses dos operdrios agricolas! (artigo 12), no sentido de “resolver, por meios st sorios, quaisquer diividas que porventura surjam entre os operarios agricolas e seus patres” (arti 32, 1), O decreto n? 2400, de 9-7-1913, consolidav as leis, decretos e decisdes sobre a imigragao, c nizagdo e patronato agricola, Com todo esse empenho, a cafeicultura logro promover uma entrada de 364834 imigrantes entr 1900 ¢ 1909, e 446582 entre 1910-1919, para 7349 no perfodo dureo de 1890-1899. Contudo, o sig ficado dessa intensa injec4o de um contingente es trangeiro ja se havia reformulado, (Crise do Escravismo e a Grande Imigragio vorrente sobre o imigrante italiano, passando a ser qualificada como negativa uma disposicao psico-eco- nomica antes elogiada; e se propunha sua substi- do por um elemento menos “ambicioso” ou “exi- pent”. A. essa época, e visto que 0 Japao procurava co- locar seu excedente populacional em varias partes do mundo, é firmado, durante a gestdo Carlos Botelho ina Secretaria da Agricultura, um contrato com a ‘Companhia Imperial de Emigrago de Téquio, para introduzir 3000 japoneses, em levas de 1000 cada ‘no. Pela clausula XT desse contrato, os imigrantes nao poderiam obter lotes em micleos coloniais, en- quanto nao tivessem feito pelo menos a primeira co sheita nas fazendas em que tivessem sido colocados & sua chegada, e enquanto nao estivessem quites nas mesmas fazendas, ou outras em que se tivessem em- pregado. Como ja vinham contratados para deter- ‘minadas propriedades, cumpria aos fazendeiros be- neficiados o pagamento de uma parcela do prego das passagens, a ser descontada dos salarios, sendo todos ‘0s membros das familias dos imigrantes coletiva- mente responsaveis pelo débito dos respectivos che- fes. O primeiro grupo, que chega a 19 de junho de 1908, era constituido de 793 pessoas, quase todas contratadas para fazendas da Alta Mojiana. Por outro lado, a proposta administrativa nao Wdeixava de parecer no minimo 2 zo concernente as oportunidades e incentivos ao th bathador agricola, inerentes a etapa de formagao, cafezais. Mas 0 prosseguimento do. imigrantism

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