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DIALOGISMO E DIVULGAGAO CIENTIFICA Jacqueline Authier-Revuz” Resumo Faz-se neste texto uma andlise da espcifcidade do discurso de divulgagao cientfiea a partir da posigho dda autora sobre a heteroyeneidade da linguagem, Esta anise rellee sobre a constituigao deste wénero de discurso na sua relagio, de um Fado, como discursocietitieoe, de outro, com dseurso pease. Ennoquadro de uma abordagem “dialégica’" do discurso! que me interessei por textos de divulgagio cientifica (D.C) destinada ao grande puiblico— Ciéncias da Vida, Ciéncia ¢ Fucuro, paginas especializadas do Le Monde ~ : eles apresentam, com efeito, quanto A questio da heterogeneidade, do lugar do outro, um funcionamento discursivo muito ifieado ~o de uma encenagao do dialogismo, que faz da D.C. um “género” patticular no conjunto das préticas de reformulagio’, O dialogismo tal como Bakhtin o apresenta é, primeiro, uma condigio de existencia de todo discurso". © principio segundo 0 qual fala-se sempre com as palavras dos ‘outros trabalha em dois niveis: por um lado, nenhuma palavra é virgem, mas, ao contrétio, * Professora na Universidade de Pars HCNRS, Este 1.1985, pp. 117-122, CC Authier-Revuz, 1982, ‘Apoio-me aqui langamente em Authier-Revur, 19828. * Ver M. Bakhtin (1975), Esthctique et Théorie du Roman, eT, Todorov (1981), Mikhail Bakliine « Le Principe Dialogiques seguido de Bevits du Cercte Bathuine igo Toi publieado originalmente em DISCOS, Rua, Campinas, $:9-15,1999 to Dialogismo e divulgacdo cientifiea carregada, “habitada” pelos discursos “em que tenha vivido sua vida de paavra”,¢ alei de todo discurso é de fazer-se, inevitavelmente, no meio lo jd-dito dos outros discursos, perspectiva que se reencontra em andlise do discurso, na qual o discurso & concebido como produzido no e pelo interdiscurso; por outro lado, © discurso nilo existe independentemente daquele a quem é enderecado, ou seja 0s propésitos do destinatirio so incoxporados e determina o proceso de produgao do discurso, perspeetiva que se reencontra na nogao de “co-enunciador” e nos trabalhos consagrados & interlocugio. Este duplo dialogismo ~ que participa do que chamo heterogeneidade constitutiva de todo discurso ~ escapa larga e inevitavelmente ao enunciador e nio se manifesta no fio do discurso por marcas lingilfsticas. E por uma abordagem discursiva que coloca em relagao um texto e um ambiente discursivo que se pode tentaresclarecer certos aspects, do trabalho do dialogismo. Nesta perspectiva, 0 conjunto das préticas de reformulagio que ~ nos campos publicitério, politico, pedagégico, por exemplo~ produz um discurso segundo, em fungio do “alyo visado”, oferece um campo privilegiado ao estudo dos mecanismos do dialogismo, pela nitidez com a qual pode af ser posta a dupla restrigio do jé-dito do discurso Fonte (D1) ¢ do destinatirio do discurso segundo (D2). F.claramente 0 caso da D.C., que se atribui o papel de “colocar sob uma forma acessfvel a0 puiblico o resultado das pesquisas cientificas™. E a tese de M. F, Mortureux (1982), por exemplo, sobre os Eniretiens de Fontenelle, é um exemplo de colocagiio em evidéncia, no fio do texto, dos tragos ~ fragmentos conservados, substituigdes, transformagSes... ~ do trabalho essencialmente dialégico, de reescritura de um discurso fonte, o de Desearte Outra coisa é 0 nivel do dialogismo “mostrado”, ou seja, da represensagdo que um discurso di em si mesmo de sua relago com o outro, do lugar que ele Ihe ‘explicitamente, designando na seqiiéneia, através de um conjunto de marcas linglisticas, 08 pontos de heterogeneidade. Entre as formas que, suspendendo localmente o empreendimento enunciativo, marcam uma distineia em relagio a um ponto do discurso, caracterizado por isso como exterior, 5 Debates da Assosiago dos Eseritores Cientficas da Franca, citadosem Le Partage du Savvir- Science Metre, Vulgarsation(P, Requeplo, 1974). * Sobre este ponto, ef. Autier-Revur, 1981, Authier-Revuz, 19820, Rua, Campinas, $:9-15, 1999 Jacqueline Authier-Resuz " inapropriado ~ no sentido proprio ~ ao discurso no qual ele figura, encontram-se as formas do discurso relatado, as aspas, as glosas duplicando o fio do discurso’ (X, como dizem os especialistas, para falar metaforicamente, se se pode dizer, dito de outra maneira Yet Estndar as formas pelas quais um discurso coloca um exterior a si mesmo, e por conseguinte delimita um interior, € ter acesso & imagem que um discurso consti6i de si mesmo. Concretamente, & especificar de quaf(is) outro(s) um discurso escolheu distanciar-se, dando-lhe(s) lugar, mostrado, em si mesmo; ¢ sobre que modo funciona a relago a este(s) outro(s) mostrado(s): tanto quantitativamente ~ desde discursos “saturados” de heterogeneidade mostrada até discursos tendencialmente monolégicos, no dando lugar a0 outro ~ , quanto qualitativamente ~ desde 0 jogo das “pequenas diferengas narcfsicas” até os afrontamentos visando destruir 0 outro discurso. No conjunto das préticas de reformulagio, para as quis as condigdes diakigicas de produgio aparecem com uma nitidez particular, & no terreno da representactio do dialogismo no fio do discurso que a D.C, se singu diferentemente do manual escolar, porexemplo, ouem uma outra ordem de reformulagao, da tradugdo entre lingtas, a D.C. designa continuamente, como dois exteriores, 0 discurso cientilico fonte & 0 dliscurso familiar do grande piiblico, entre os quais ela se coloca em cena como atividade de reformulagio, E em dois niveis que se realiza esta representacdo do dialogismo, o do quadro cenunciativo e 0 do fio do discurso. Esquematicamente®, os artigos de D.C. colocam em cena de modo muito insistente ‘uma dupla estruturagdo da enunciagao: 4) a do discurso cientifico D1, que aparece massivamente sob a forma de discurso indireto: “O Senhor X (os quimicos, os especialistas, o mundo dos eruditos...) pensa (diz, experimentou, demonstrou, explicou, ete...) que...", nos quis os nomes prdprios dos enunciadores, lugares, tempos dos atos de enunciagao sio especificados abundantemente, Onde o manual cientifico francés produz, visando a um certo pablico, reformulagées que sto massivamente do tipo: “P", a D.C. reformula sob a forma * © Retomo aqui, de maneira muito resumids,andlises que esto expostas, com © Revue, 1982, smplos, em Authier Rua, Campinas, 5: 9-15, 1999 12 Dialogismo e divulgagdo cienfiea (ou seja D1) diz que P”; b) a de D2, ou seja, do discurso de D.C. produzindo-se: uma ancoragem temporal muito mareada (hoje na préxima década, etc...); € uma designagio dos interlocutores ~ 0 divulgador e o leitor ~ e do ato de comunicagéo que os liga (otemos ser nosso dever informar’”, “os leitores que gostam de estar em dia”, “mostrat= vos”... No conjunto, uma estrutura terndria: “ew vos (tes) digo que eles dizem que P”,com dois pélos: “eles”, “vos (Ihes)”, entre os quais funciona a mediagdo do “eu”, No nivel do fio do discurso, é a comparagao com a tradugio que me parece a mais esclarecedora: odivulgador é freqiientemente representado como um perito em tradugio, quem é necessério recorrer em virtude de uma “ruptura” de comunicagao na sociedad; ‘mas no lugar em que a tradugdo, por um trabalho de vaivém entre as duas linguas, de busca de equivalente, de tateamentos, ete...., produz um texto segundo que, homogeneamente em lingua de chegada, substitui um texto da lingua fonte, a D.C. representa, em discurso, a colocagdio em contato de dois discursos, constréi uma imagem da tradugao em andamento, através de um fio de discurso explicitamente heterogéneo. Este fendmeno, absolutamente massivo, realiza-se através de duas estraturas prineipai a justaposigao de dois discursos, sobre a cadcia, por numerosas formas de estabelecimento de equivaléncia (A, ou seja, B; A significando, batizado de B; A ow B, etc...); 0 distanciamento metalingiiistico alternativamente de um ¢ de outro discurso, designado, com uma flagrante densidade, pelo itélico ou pelas aspas, como exterior, inapropriado (a “varves”, “tuage”, “cluster”... como dizem os especialistas, em textos, em francés que analisei, responde “portes”, “boites”, “cartes de visite” como posso tentar dizer metaforicamente para thes fazer compreender) Notemios que se o diseurso de D.C. coloca em uma relagao simétrica os dois discursos entre os quais ele se constitui, eles sfio regularmente caracterizados de mod diferenciados: a distdincia dos termos eruditos é a de um “como dizem exatamente, em uma lingua dificil mas fundada racionalmente, os especialistas”, nuangada as vezes por um “como dizem em seu jargo”; enquanto a distincia dos termos familiares se funda sobre um “como (se) se pode dizer, aproximativamente, esquematicamente, grosseiramente, metaforicamente, efc..”, uangado por um “eficazmente, apesar de Rua, Campinas, 59-15, 1999 Jacqueline Autkier-Revuz 13 tudo”. Somos tocados, enfim, nesses textos, pelo fato de que nio hii sentido privilegiado nos estabelecimentos de equivaléncia, que fariam ir regularmente do especializado a0 familiar ou vice-versa; no mais que se observa uma redugio no curso de um artigo, da uantidade de formas mareadas como exteriores, ou seja, uma passagem progressiva a tum discurso apresentado como homogéneo; a verdadeira regularidade desses textos & 0 estabelecimento, através destas inumersveis formas de heterogeneidade mostrada, de ‘um caminho de vaivéin entre esses dois discursos, de unt ugar em que se realiza uma colocagio em contato, ‘Tanto no nivel do quadro enunciativo (“eles dizem’,¢ “eu thes relato isto”) quanto no do fio deliberadamente heterogéneo do discurso, um “eu falo por um outro” & representado sistematicamente, no duplo sentido de “no lugar de" ¢ “com a intengéo de”, verdadeira encenagao do dialogismo, que especifica a D.C. como “género”, no sentido ret6rico do termo, com relagdo a outras formas de reformulagiio. Esta conclusio proveniente de uma andlise interna a artigos de D.C. reencontra evidentemente a observagiio que se pode fazer, independentemente, sobre a quantidade de textos, emissoes de D.C. que tomaram no passado, ¢ tomam, a forma do dislogo “externo” como diz Bakhtin, ou seja, a conversagio” A fungiio deste dialogismo mostrado nao pode ser avaliada fora de uma relago, que se mostra aqui em oposigzo, tanto com o discurso origem quanto com o que o reformula no quadro pedagégico, que - esquematicamente, mas creio incontestavelmente ~ funcionam, na época contemporinea, na Franga, sobre um modo tendencialmente monol6gico: ou seja, representando-se como 0 discurso do verdadeiro, subtraido & heterogeneidade que neles mesmos faria entender outros discursos. A D.C. nfo sustenta, do pretende sustentar o discurso da Ciéncia; Ao contririo, por seu dialogismo exacerbado ela dele se separa ostensivamente, Mas em vez de 0 dialog constituir um questionamento do que o dialogismo do discurso cientifico ¢ de sua retomada pedagégiea tém de ideol6gico, « dupla monologismo/dialogismo funciona, segundo penso, de maneira solid 7 Cr. sobre este ponto Mortureux (1982), Beaujot ¢ Mortureux (1972) Rua, Campinas, 5: 9-15, 1999 1 Dialogismo e divulgagao etenifca A heterogeneidade mostrada da D.C. concorre para marcar diferencialmente, como niio sendo o “verdadeiro” diseurso cientifico homogéneo. Por outro lado, através da caracterizagio do registro familiar como “aproximativo”, “imperfeito”, diz-se, relativamente ao discurso fonte, ou seja, ao cienttfico, o tema da perda, da degrada de um discurso primeito. Por isso, o discurso cientifico, transmitida mas ao mesmo tempo perdido na operaco de “divulgacIo”, ocupa facilmente no discurso de D.C, 0 lugar fantasmiético do pensamento uno, absoluto, perfeito, anterior & fala, e que se degradaria nos tateamentos e eventos dos atos de comunicaglio, fantasma tenaz dos locutores em acio nas marcas de retoque, reserva, retic&neia... com que acompanham, seu dizer’ Paradoxo deste discurso que mostra, mantida, a distincia entre o cientfico eo familia, ainda que sua finalidade mesma seja de lutar contra a “ruptura cultural”? Nao, porque a eficdcia do funcionamento discursive préprio D.C. & construir em discurso um lugar em que se efetua o em contato de dois discursos, de representar uma comunicagdo em andamento, A distancia nao €, pois, anulada no discurso de V.C., mas 10 contrério, integrada Q encenacio de uma estrutura tripartida de cooperagao ciéncia-pablico- ivulgagdo, que oferece ao leitor uma imagem de si préprio gratificante e confortivel em um sistema de “lugares” harmoniosamente conformist, Em que medida a D.C. atinge efetivamente seu objetivo de restabelecimento de uma comunicagio rompida entre cientistas ¢ grande publica? E isto que nao sei avaliar, & que se encontra fora de meu propssito! O que ela faz, em todo caso, incontestavelmente, é dizer que ela o faz; este restabelecimento da comunicagio, ela o realiza sob 0 modo da representago, na ordem do discurso, Se a fungdo dita referencial, dominante no 80 cientifico, tem evidentemente sua parte na D.C., uma outra fungiio parece af pelo menos to importante, &a funedo fitica, no sentido amplo, trazida pela ret6rica”™ propria a D.C. do dialogismo mostrado. ‘Tradugio: Eduardo Guimariies "CE, Authier-Revuz, 1981; Authier-Revur, 1982b. ° Ver as anlises de GoiTman sobre a “encenagio dla vida enidina! "© Na qual s fungo metalingbstica tem evidentemente um grande papel Rua, Campinas, 5:9-15, 1999 Jacqueline Auihier Revi 15 Resumé ‘Avant comme source sa reflexion sur"nétrogéneitédu langage, auteur fst une analyse del speciicté du Giscours de vulgarisation sciemifique. Cette analyse pense Ia constitution de ce genre de discours par apport a diseoursscieatitique, d'un cas, et au discours pedagogique de autre, BIBLIOGRAFIA Authier-Revuz, J. (1981) “Paroles tenues & distance”, Actes du Colloque Matéviaités Discursives. Lille, PUL, pp. 127-142. Authier-Revuz, J. (1982a) “La mise en sene de la communication dans des de vulgarisation scientifique”. Langue Frangaise, 53, pp. 34-47. Authier-Revuz, J. (1982b) “Hétérogénéité montrée et hétéro; éléments pour une approche de l'autre dans le discours”. DRLAV, 26, pp. 91-151 Bakhtin, M. (1975) Esthérique et Théorie dw Roman. Moscou, trad. francesa: Paris, Gallimard, 1979. Beaujot, .P.¢ Mortureux, MF (1972) “Gentse et fonctionement du discours”. Langue Francaise, 15, pp. 56-77. Mortureux, MF. (1982) “Paraphrase et métalangage dans le discours de vulgarisation”, Langue Francaise, 53, pp. 48-64, Roqueplo, P. (1974) Le Partage du Savoir ~ Science, Matiore, Vulgarisation. Paris, Seuil Todorov, T. (1981) Mikhail Bakhtine ~ Le Principe Dialogique. Paris, Seuil Rua, Campinas, 5 9-15, 1999

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