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Afinal, que raça somos nos Estados Unidos?

Quando um brasileiro vai morar nos Estados Unidos, ele ou ela não muda
apenas de país, mas também de raça. Se no Brasil você é branco, por exemplo,
nos Estados Unidos você automaticamente deixa de ser branco e ser torna…
Latino! Tudo bem até aí se não fosse o fato de que aqui, nos Estados Unidos,
latino e hispânico terem a mesma força semântica, isto é, os dois termos são
considerados sinônimos. No Censo americano, entre as várias opções de raça,
lê-se Latino/Hispanic (latino/hispânico), não traz, portanto, separação entre os
dois termos. O uso de um termo pelo outro ocorre não apenas na fala cotidiana
das pessoas, mas também na televisão, revistas e jornais, pesquisas
acadêmicas e documentos oficiais.

E é aí que nós brasileiros ficamos confusos. Somos latinos mas não


hispânicos. De acordo com o nosso amigo Aurélio, latino se refere aos povos de
origem latina e hispânico se refere ao espanhol. Evidentemente não falamos
espanhol, como alguns “desenformados” americanos podem pensar (e por falar
nisso, nosso capital não é Buenos Aires!).

A língua é percebido por muitos falantes, inclusive pelos lingüistas, como


uma maneira de expressar identidade. A língua portuguesa é, portanto, uma
marca da nossa identidade como brasileiros. A confusão semântica entre latino
e hispânico tem conseqüências negativas para a comunidade brasileira dentro
do contexto dos Estados Unidos. Ao responder sobre raça no Censo americano,
os brasileiros se dividem entre branco, latino/hispânico, negro, etc. Fica então,
difícil saber quantos brasileiros existem por aqui, já que a nacionalidade não é
especificada.

Outro importante fator que tem aumentado as dificuldades dos brasileiros


em se identificarem etnicamente é que, historicamente, raça tem sido tratada de
maneira diferente no Brasil e Estados Unidos. Nos Estados Unidos, a categoria
branco e negro é rígida. No Brasil, a identificação da raça é baseada na cor da
pele e traços físicos. Oficialmente o Censo brasileiro traz cinco categorias:
branco, negro, pardo, índio e amarelo(asiático). Porém, se perguntarmos as
pessoas na rua, a tendência será de ouvirmos uma lista bem criativa de raça: de
moreno(a), claro(a), loiro(a), mulato(a), a escurinho(a), sarará, trigueiro(a) e até
sapecado(a) (dados parciais de uma pesquisa do Censo feita em 1976). Isto não
acontece nos Estados Unidos. O aspecto físico não importa muito. O que conta
são os ancestrais. Assim, para ser considerado negro nos Estados Unidos basta
ter o pai, ou a mãe, ou o avô, ou a avó negros. Isso é o que eles chamam aqui
de one-drop rule, isto é, basta uma gota de sangue negro para ser considerado
negro. Em outras palavras, se o americano tem descendentes africanos, ele é
definido etnicamente com negro (mesmo que tenha cabelos loiros e olhos
azuis!). No Brasil, parece que ocorre o oposto. Basta uma gota de sangue
branco ou europeu para uma pessoa deixar de ser negra.

O fato de nós, brasileiros, concebermos raça de uma maneira diferente e


o fato de os termos latino e hipânico trazerem confusão semântica fazem com
que a comunidade brasileira se torne uma minoria invisível e conseqüentemente,
com menos poder na perspectiva americana. Por outro lado, é um desafio à
imposição de rótulos que os imigrantes sentem que tem que se adaptar quando
vêm aos Estados Unidos.

Denise Osborne é mestranda em Lingüística Aplicada no Teachers College


Columbia University (Nova York) e professora de português como língua
estrangeira. dmdcame@yahoo.com

Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil):

Osborne, D. (2007, August 17). Afinal, que raça somos nos Estados Unidos?
Clarim, Ano 12, n. 581, p. A2.

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