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Olhem ali a jovem mulher.

Branca, triste,
se destaca dos demais passageiros, que
entretanto não a percebem. Passou a
roleta ainda agora. Pela janela do ônibus,
desdobram-se partes da cidade em que
nunca pisou – sua beleza de vida: o olhar,
a imaginação que guarda atrás daquele
muro bichinhos na grama e gotículas nas
folhas da madrugada, e nessa praça um
namoro ao entardecer – ela mesma
talvez.
Homem vivo algum se deleitara sob esse
vestido e o que morreu permanecerá
morto, independente de seu remorso ou
amor. Portanto apenas ali ainda persistia
o beijo no acamado, e um pouco mais
que isso à guisa de um maior conforto.
Derramou muitas lágrimas depois, é bem
verdade, na perseguição de um rastro de
sonho naquela face em que brilharam
virtudes que nem as feições meigas nem
a enfermidade poderiam dar a ele.
Levaram aquela tarde pelos anos
seguintes e não parecia haver tempo que
pudesse esmaecer os seus efeitos. Enfim
ele tornou um homem respeitável e, se
estivesse vivo, decerto teria esquecido. A
família passou a ser reconhecida por
causa dele, de sua capacidade no
trabalho e nas tramas dos negócios, mas
ninguém de fato deixara de lembrar que
o pai vinha da roça de cana e na cidade
até a aposentaria foi lixeiro. Ela ao
contrário ignora-lhe a riqueza e admira a
força de pais que possibilitou que ele
estudasse, e quanto a ele, o que
realmente significa alguma coisa era o
lençol branco de uma enfermidade cujo
desdobramento bem poderia, sim, não a
morte, mas ter sido ali no banco dessa
praça, e mais tarde entre os muros dessa
casa, com domingos na grama sob a
árvore. Encosta o nariz no vidro,
contemplando a cena.

Um estranhamento na longa avenida. A


luz da manhã que cega. O homem que
entra na parada brusca: sua imaginação
longe demais, será sempre túmulo de
possibilidades futuras. Mas é o porte que
roubou-lhe a atenção, cujo contraste na
enfermidade lhe restituiu em amor. Capa
e gorro tornam todos iguais. Tanto
assim? O bilhete da passagem está em
dedos quase se poderia dizer
inconfundíveis, como os dela própria
inconfundíveis se fizeram. A braguilha
do pijama aberta. Um taco de beisebol no
canto do quarto. Ingenuidade: não sabe
que garotos agora se interessam por
beisebol. Preenche o vão de polegar e
indicador com essa ingenuidade. Suas
lembranças agora são vermelhas, ainda
esmaecidas nos dedos de unhas cortadas
rente que apóiam seu queixo junto à
janela. Agora ela afasta fazenda por
profecia. Zunir de aumóveis na via
expressa e junto aos pontos. Na tarde
insistente transcendera. Um transporte
para sempre, simples como jamais. Ele
nem parecia assim tão deslumbrado. Mas
estava. Boquiaberto ante a perícia dos
dedos com a cura essencial. Três
amparos do oposto ao polegar, e o
mindinho numa importante função de
fetiche. Esse mindinho. Estou vendo o
que estou vendo, ele se pergunta.
Agora, depois da fracassada tentativa de
morar no estrangeiro (porque ela estaria
na Escandinávia), no primeiro ônibus que
entra após a decepção definitiva na
embaixada, no único anelo de esquece-la
pelo único meio infalível, o trabalho,
ainda assim quase paralisado, é você?,
nem sabe se chegou a articular as
palavras. Sente a misericordiosa boca
mais abaixo, acrescentando variações em
uma misericordiosa ária. Essa boca.

Uma nuvem carregada de velhos


presságios ganha tons de uma aparição
gradualmente clara: o que ele disser ela
ouvirá sem fazer idéia de como os mortos
ressurgem entre os vivos. Também a
morte tem fim? Porque aqui está o fim.
Sabiam que a família dela não fazia gosto
de um envolvimento entre os dois.
Impossível. O sol se derrama pelos
prédios que ladeiam o percurso. Gumes
de luz, sim, luzes cortantes. Um raio se
alonga a partir do final visível da
avenida, colore o tetos dos carros,
tornados ouro. Desse ouro ela faz
questão, tanto que a pureza do fulgor
que se alojara no rosto dele tocou-a bem
fundo, recortou como papéis todas as
lembranças da tarde, agora feitas
esperança no vozerio dos passageiros.
Seu pai, esse sim desde o ano anterior
nada mais podia falar sobre o
pretendente pobre, como são as coisas.
Mal conseguiu chorar no seu enterro, por
causa dessa mágoa. Enquanto dava a
informação pedida pela mulher à sua
frente, a senhora tem de descer no
próximo ponto, ele se perguntou o que
teria acontecido caso conseguisse o visto
e tivesse feito a viagem. Mas se deu
conta que não se questiona a vida e
somos o que fazemos do que dela
recebemos, simples assim. Sem sorte ou
azar. Ao descerem, rodeou-a com o braço
inicialmente coberto na visita daquela
tarde. As pessoas os ultrapassavam pela
calçada com uma pressa que juntos em
silêncio decidiram não perceber.

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