4 Da Direcção
34 Artigo . Ana Rosa Trindade
“Profissão professor - cientista criativo”
5 À conversa com... Desenvolvimento Profissional e Educação Inclusiva
Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades
para Todos
“Um mundo para as crianças é construído nos princípios da democracia, da igualdade, da não-discriminação, da paz e da justiça social.”
No final do Ano Europeu da Igualdade de para as crianças antes do ingresso na escola “generosas” e significativas (em termos de
Oportunidades para Todos, proponho-me obrigatória, independentemente do tipo de prioridade política e de investimento finan-
partilhar algumas reflexões sobre a Educa- estabelecimento, financiamento, horário de ceiro), elas têm de ser sistematicamente
ção de Infância em Portugal porque: está atendimento ou conteúdos programáticos.”. sustentadas, acompanhadas e reguladas
reconhecido que a Educação Pré-Escolar é À data do estudo, este organismo alertou pelo Estado e pela sociedade civil, de forma
a primeira etapa da Educação Básica numa as autoridades portuguesas para a fragili- a prosseguir os desígnios consagrados na
perspectiva de aprendizagem ao longo da dade das políticas educativas e recomendou Lei 5/97, de 10 de Fevereiro – Lei-Quadro da
vida, acredito que as respostas educativas que se fizessem investimentos diferenciados Educação Pré-Escolar."
para crianças dos 0 aos 6 anos podem de- para se reduzirem as desigualdades e esta- Neste momento, pode afirmar-se que a Edu-
sempenhar um papel fundamental na redu- belecer a igualdade de oportunidades. cação de Infância vive um momento que se
ção das desigualdades sociais e escolares, Efectivamente, as respostas educativas e a caracteriza, por um lado, pela ausência de
entendo que existem compromissos entre rede social de suporte às famílias no que políticas educativas sustentadas na capaci-
estados, a nível europeu e mundial, que Por- concerne ao atendimento de crianças dos 0 dade e coragem de pensar e agir respostas
tugal subscreveu e a que é necessário dar aos 6 anos, em Portugal, padece de enormes educativas e de cuidado para todas as crian-
resposta. debilidades, incoerências e insuficiências. A ças dos 0 aos 6 anos e, por outro lado, pela
A OCDE num estudo comparativo1 efectua- fragilidade de uma política educativa para a adiada discussão e reflexão alargada que
do em 2001, em 12 países europeus incluindo infância, que se vem agravando com maior conduza a uma alteração fundamental na
Portugal, veio afirmar que a educação e cui- incidência nos últimos anos, tem conduzido Lei de Bases do Sistema Educativo, de for-
dados para a infância com qualidade ofere- à instalação de um vazio. Os instrumentos ma a consagrar o direito à Educação desde
cem a possibilidade de motivar e preparar legais e conceptuais até foram criados, com o nascimento. Essa, sim, seria uma mudança
as crianças, desde os primeiros anos, para o Programa de Expansão e Desenvolvimento estrutural, na medida em que permitiria di-
um processo de aprendizagem ao longo da da Educação de Infância2 e os dados quan- minuir o desperdício de recursos, o desgaste
vida. titativos revelam que se caminhou para uma social e, em última análise, impediria que se
A OCDE considera que a educação e cuida- maior cobertura nacional, contudo, “Se as continuasse a comprometer o sucesso da
dos para a infância “inclui todos os contex- políticas para a Expansão e Desenvolvimen- Educação enquanto bem comum, ou seja,
tos que proporcionam cuidados e educação to da Educação de Infância, nomeadamente a pôr em causa a equidade e a promover
a partir de 1995, foram indiscutivelmente formas cada vez mais duras e precoces de
1 OCDE (2001). Starting Strong. Early Childhood Education
exclusão social.
and Care – Educations anda Skills. Paris:OCDE 2 O lema deste programa era “Um bom começo vale para a vida.”
Num país em que, de acordo com o relatório tros equipamentos como bibliotecas, ludo- Estatuto de utilidade pública
do Starting Strong II, 67%3 da força de tra- tecas, parques e ginásios, teatro, cuidados No passado dia 28 de Setembro, por des-
balho é garantida pelas mulheres e que ape- de saúde, habitação condigna, segurança… pacho do Senhor Primeiro-Ministro José Só-
nas 14% destas estão a tempo parcial (contra Temos crianças que não são atendidas por crates1, foi atribuído à APEI o estatuto de
5,8% dos homens), a definição e aplicação serem portadoras de deficiências ou doenças utilidade pública.
de políticas mais articuladas, que apostem crónicas e o sistema não tem capacidade de O pedido foi apresentado pela actual Direc-
na participação e responsabilização das co- resposta nem em infra-estruturas nem em ção em Abril de 2006 e após um percurso
munidades, nomeadamente das famílias, de- recursos humanos e financeiros. Há crianças moroso, que envolveu a consulta de dife-
verão ser a garantia de que a Educação é um a quem é vedada uma continuidade educati- rentes entidades para darem parecer sobre
direito alcançado com equidade. va como passaporte para o sucesso das suas o papel da associação, chegámos a bom
Citando Sall e Ketelle (1996), a equidade aprendizagens. As famílias têm que se valer porto.
diz respeito “ao modo como os custos e as de soluções prestadas por entidades priva- Esta declaração reconhece o “relevante tra-
vantagens do investimento educativo são das, com custos normalmente pesados, têm balho de serviço à comunidade” desenvol-
distribuídos entre os diferentes grupos da que ver-se diariamente confrontadas com vido pela APEI na “partilha de informação
sociedade (…) um sistema educativo será tão horários de trabalho incompatíveis com os e a formação contínua dos profissionais de
mais equitativo quanto sejam reduzidas as horários escolares e com a exiguidade de educação de infância, ao estimular a divul-
disparidades entre os mais fortes e os mais respostas de apoio para os complementos gação de práticas educativas inovadoras,
fracos, entre os grupos favorecidos e des- para além do calendário escolar, a acrescer contribuindo assim para o desenvolvimen-
favorecidos.” Os mesmos autores alertam, a tudo isto existem outras situações como a to de uma educação de qualidade da po-
porém, que a equidade nunca poderá ser mobilidade docente, a falta de consolidação pulação e, consequentemente, do País, ao
entendida desligada da noção de justiça e de modelos de gestão e de avaliação do sis- organizar e participar em eventos na área
que deste binómio depende intrinsecamen- tema educativo… da educação e ao cooperar com as mais di-
te a qualidade de vida e o desenvolvimento No presente número dos CEI, procurámos versas entidades públicas e privadas através
humano. trazer aos nossos leitores contributos que da celebração de vários protocolos.”.
No estudo prospectivo realizado em 2000, permitam dar visibilidade à reflexão de outros A Direcção pretende, num gesto colectivo
sob a coordenação de Roberto Carneiro,4 profissionais sobre a aprendizagem mas tam- de alegria e realização, congregar todos os
foi reafirmada a necessidade de expandir e bém testemunhos da intervenção educativa. associados que ao longo de 26 anos con-
desenvolver a educação pré-escolar como Encontrará também elementos relativos à tribuíram com o seu trabalho, empenho e
“estratégia-chave para a promoção da qua- investigação e à formação contínua, muito profissionalismo para que a APEI possa ser
lidade da educação”. No relatório previa-se concretamente, decorrente do trabalho da hoje um veículo significativo de formação e
que em 2010 seria possível atingir uma taxa APEI. informação para os profissionais de Educa-
de cobertura na ordem dos 100%. As hipó- Saliento ainda alguns testemunhos sobre o ção de Infância, Parabéns a todos e votos
teses de evolução apresentadas eram as Ano Europeu para a Igualdade de Oportuni- de que este momento reforce os laços de
seguintes: dades para Todos. participação de todos e cada um dos asso-
• Idade 5 anos: cobertura a 100% em 2005 Finalmente, o caderno destacável nesta revis- ciados.
• Idade 4 anos: cobertura a 84% em 2005, ta em que poderão encontrar um documen-
100% em 2010 to, produto do questionamento e reflexão do Eleição dos Órgãos Sociais da APEI
• Idade 3 anos: cobertura a 79% em 2005; Grupo de Trabalho “Ética”, coordenado pela Recordamos que em Março de 2008 se de-
100% em 2010 associada Maria da Conceição Moita, que a verá realizar a Assembleia Geral Extraordiná-
Direcção da APEI apresenta para discussão ria para eleição dos Órgãos Sociais para o
Estes objectivos ainda não foram alcança- pública e para o qual todos poderão dar o triénio 2008-2011.
dos. Temos ainda um número apreciável de seu contributo. Posteriormente este será re- Convidamos todos os associados a partici-
crianças, dos 0 aos 6 anos, que não têm ferendado entre todos os associados. par, constituindo e apresentando à Mesa da
acesso a respostas educativas (creche e jar- A Direcção da APEI agradece a fidelidade e Assembleia listas eleitorais para esse efeito,
dim de infância), também não o têm a ou- interesse de todos os associados e assinan- de acordo com o art.º 17º dos Estatutos da
tes ao longo de 2007 e formula desde já os APEI.
3 79% das mulheres com filhos menores de 6 anos está seus mais sinceros votos de um excelente
empregada, e 70,8% das mulheres trabalhadoras têm filhos 1 Despacho 23469/2007 de 12 de Setembro, Diário da Repú-
menores de 3 anos
ano de 2008. blica, 2ª série – Nº 197.
4 O Futuro a Educação
Questão 1. Considerando os objectivos traçados para o Ano Europeu para a Igualdade de Oportunidade para Todos, designa-
damente sensibilizar para o direito à igualdade e alargar o debate sobre as formas de discriminação em diferentes áreas, como
analisa as acções realizadas?
Questão 2. No quadro nacional e europeu, que medidas entende serem fundamentais para garantir, a curto prazo, a igualdade
de oportunidades para todas as crianças dos 0 aos 6 anos?
Rui Marques
Alto Comissário
para a Imigraçãoe Diálogo Intercultural
A alteração orgânica ( DL 167/2007 de 3 de tituições que, na sociedade de acolhimento Resposta 2. Do ponto de vista do ACIDI, e
Maio) que transformou o ACIME em Insti- interagem com as comunidades imigrantes, tendo em vista sobretudo as crianças des-
tuto Público, Alto Comissariado para a Imi- são dinamizadas acções de formação nas cendentes de imigrantes, que são as que
gração e Diálogo Intercultural – ACIDI- I.P., instituições que o requeiram, através do site se situam na esfera de acção do ACIDI, jul-
veio reforçar as funções de “...concepção, do ACIDI (www.acidi.gov.pt - Entreculturas/ go que valia a pena continuar a apostar na
execução e avaliação das políticas públicas, Módulos de Formação). Ao abrigo deste pro- formação inicial e contínua dos agentes e
transversais e sectoriais, relevantes para a grama, a funcionar desde Abril de 2006, já educadores que estão em contacto com as
integração dos imigrantes e das minorias se realizaram mais de 500 acções, nas quais crianças, sensibilizando-os e qualificando-os
étnicas...” atribuindo-lhe, ainda, responsabi- se destaca a participação expressiva de pro- para um trabalho pedagógico intercultural,
lidades mais alargadas na promoção activa fessores. O lançamento de dois novos sites, ou seja, que acolha a diversidade de todos
“do diálogo entre as diversas culturas, etnias (www.entreculturas.pt e www.entrekultu- os alunos e que esta, em vez de ser obstácu-
e religiões.” ras.pt), direccionados respectivamente para lo ou problema, possa ser transformada em
Este exercício de uma política voluntária e in- formadores e para jovens constituem duas recurso da aprendizagem. (No site do ACIDI
tencionalmente orientada para a implicação novas apostas que reforçam e enquadram www.entreculturas.gov.pt estão disponíveis
das comunidades imigrantes na definição de forma mais sistemática, instrumentos de para download duas brochuras que dão su-
das políticas que lhes dizem directamente apoio à aprendizagem intercultural. gestões neste domínio: “Uma Escola – Uma
respeito é um caminho longo e necessaria- - A Comissão para a Igualdade e Contra a sala de Aula Interculturais” e Um livro... Uma
mente lento e temos consciência do muito Discriminação Racial – CICDR (Lei n.º 134/99, História... Interculturais).
que há por fazer e que as (des)igualdades de de 28 de Agosto) um órgão independente,
partida são inúmeras e que os resultados só especializado na luta contra a discriminação O nosso lema “Acolher e integrar” também é
poderão verdadeiramente acontecer através racial que funciona junto do Alto-Comissa- válido para estas circunstâncias!
de um esforço e de uma cooperação institu- riado para a Imigração e Diálogo Intercultural
cional entre diversos sectores da sociedade e a que preside o Alto-Comissário, é a plata-
portuguesa. A expressão deste esforço é o forma mais directamente vocacionada para
Programa para a Integração de Imigrantes assegurar respostas mais concretas a formas Elza Pais
– P.I.I. (RCM 63-A/2007, de 7 de Março) que de discriminação étnico-racial ou qualquer Coordenadora da Estrutura de Missão do
envolve a actuação de 13 Ministérios e a con- expressão de xenofobia, nomeadamente nos Ano Europeu da Igualdade de Oportunida-
cretização de 122 medidas. domínios do trabalho, da saúde, da educa- des para Todos e Pres. da Comissão da Cida-
De uma forma mais concreta, poderei, no en- ção e da cidadania. Neste âmbito, realça-se dania e da Igualdade de Género
tanto, apontar algumas das actividades de- ainda a criação de um site (www.cicdr.pt)
senvolvidas pelo ACIDI, I.P. que se enquadram orientado especificamente para divulgar in- Resposta 1. A Estrutura de Missão do Ano
mais directamente nos objectivos do AEIO: formação útil a todos os cidadãos sobre a Europeu da Igualdade de Oportunidades para
- A institucionalização, por exemplo, de in- importância da luta contra o racismo e sobre Todos, criada pela Resolução de Conselho de
terfaces amigáveis e de resposta integra- os meios disponíveis para poderem denun- Ministros nº88/2006 de 6 de Julho, integra
da entre os imigrantes e a Administração, ciar situações de racismo e obterem todo o representantes de 7 instituições, a saber:
através dos Centros Nacionais de Apoio ao apoio necessário. Comissão para a Cidadania e a Igualdade de
Imigrante (CNAIs), em Lisboa e Porto, e dos, - Uma das contribuições do ACIDI no AEIO Género (CIG), Alto Comissariado para a Imi-
já 68, Centros Locais de Apoio ao Imigran- foi o lançamento, em colaboração com o Mi- gração e o Diálogo Inter-Cultural (ACIDI), Ins-
te (CLAIs), presentes em diversos pontos do nistério da Educação, do concurso “A minha tituto de Emprego e Formação Profissional
País. A linha SOS Imigrante, o Boletim de escola no combate à discriminação”. Este (IEFP), Instituto Português da Juventude (IPJ),
Informação mensal e os programas de tele- concurso, no qual foram convidados a par- Instituto de Segurança Social (ISS), Instituto
visão NÓS e de rádio “Gente com Nós” são ticipar as escolas dos 2.º, 3.º ciclos e ensino Nacional para a Reabilitação (INR) e Coor-
outros instrumentos fundamentais na facili- secundário, e que está em fase de análise denadora do Plano Nacional para a Inclusão
tação do acesso à informação por parte da de candidaturas, irá premiar acções levadas (PNAI). A mesma Resolução do Conselho de
comunidade imigrante. a cabo pelos alunos, dentro ou fora das es- Ministros atribuiu a Coordenação Nacional
- A educação e formação para a intercultu- colas, que privilegiem a informação ou a for- desta Estrutura à Senhora Presidente da CIG,
ralidade é outro dos eixos de acção em que mação contra a discriminação e o racismo e Dra. Elza Pais. A natureza da composição da
os ACIDI têm apostado de forma continuada. promovam o diálogo e cooperação entre as Estrutura de Missão garantiu, a priori, uma
Ao serviço da sensibilização de agentes e ins- diferentes pessoas e culturas. intervenção alargada por várias dimensões
Formação e Caminhos
1
de Profissionalidade
na Educação de Infância
Isabel Maria Tomásio Correia . itcorreia@gmail.com
“A formação é um fazer permanente (...) que singulares que vão surgindo no seu quoti- educadores. Deste modo, está a contribuir-
se refaz, constantemente, na acção. Para se diano, bem como a reflexividade das suas -se para o desenvolvimento profissional, na
ser, tem de se estar sendo”. práticas, permitem um caminhar para uma ideia de que este “é um processo vivencial
Paulo Freire, 1972 identidade profissional, através de processos não puramente individual, mas um processo
de socialização que Dubar (1997) designa por em contexto”, onde transparece uma preo-
A formação constrói-se “através de um tra- socialização secundária. Esta está directa- cupação “com os processos (levantamento
balho de reflexividade crítica sobre as práti- mente relacionada com a própria realidade de necessidades, participação dos profes-
cas e de (re)construção permanente de uma profissional e com a aquisição dos saberes sores na definição da acção), os conteúdos
identidade pessoal. Por isso é tão importante específicos dessa profissão. concretos aprendidos (novos conhecimen-
investir na pessoa e dar um estatuto ao sa- Spodek e Saracho (1998), ao abordarem os tos, novas competências), os contextos da
ber da experiência” (Nóvoa, 1992, p. 25). programas de formação dos Educadoress de aprendizagem (formação centrada na esco-
A este respeito, também Lesne e Mynvielle Infância, referem que estes devem compor- la), a relevância para as práticas (formação
(1990) consideram que a formação, enquan- tar áreas de conhecimentos gerais, amplos, centrada nas práticas) e o impacto na apren-
to processo organizado e intencional, corres- abrangentes, onde estejam presentes as dizagem dos alunos” (Joyce e Showers, 1988,
ponde a um processo contínuo e multiforme questões da linguagem e alfabetização, ma- cit., Oliveira-Formosinho, 2000b, p. 43).
de socialização coincidente com a trajectória temática, arte, educação física, saúde; co- Através desta definição é bem visível como
profissional individual. Assim, a produção nhecimentos profissionais, onde se incluem o desenvolvimento profissional é um proces-
das práticas profissionais remete para o pro- as áreas da história e filosofia da educação, so que decorre nos contextos profissionais,
cesso de socialização profissional vivido nos psicologia do desenvolvimento, pedagogia; na acção quotidiana, em que a pessoa do
contextos de trabalho, onde coincidem no conhecimentos curriculares, com o objectivo educador também tem um papel relevante,
espaço e no tempo, uma dinâmica formativa de aprenderem a planificar, organizar, imple- verificando-se, assim, uma interacção entre
e um processo de construção identitária. mentar e avaliar os programas a desenvolver o educador-pessoa e os contextos onde de-
Várias são as investigações que se têm rea- com as crianças; conhecimentos práticos, senvolve a sua acção.
lizado em Portugal, nos últimos anos, sobre considerados de extrema importância para O educador, no seu exercício profissional,
a formação de professores – Ana Benavente o desenvolvimento de uma intervenção de faz um grande investimento pessoal, tal
(1990), António Nóvoa (1988, 1991, 1992), Rui qualidade, sendo adquiridos através da ob- como afirma Nias (1991), “o professor é a
Canário (1992, 1994, 1995, 1997, 1999), Abílio servação e participação nos espaços edu- pessoa [assim como] uma parte importante
Amiguinho (1994) – no sentido de conside- cativos, entrosados com os conhecimentos da pessoa é o professor” (cit. Nóvoa, 1992,
rarem a profissão docente como uma pro- teóricos. p. 25), o que parece estar de acordo com a
fissão que se constrói no dia-a-dia, sendo o Todavia, estes autores consideram que a for- relação proposta por Dubar (1997) entre a
produto de um processo de formação contí- mação do Educador “não termina com o fim socialização primária e secundária, uma vez
nua, onde os factores pessoais e contextuais do curso (...), ela requer um contínuo desen- que considera que entre as duas se verifica
ocupam um lugar de destaque. volvimento profissional” (p. 36). As compe- uma dependência que não deve ser ignorada,
O sujeito, ao contactar diferentes grupos tências profissionais são adquiridas de forma atendendo a que “a socialização secundária
sociais ao mesmo tempo que se socializa, gradual, são como habilidades que se podem nunca apaga totalmente a identidade ‘geral’
torna-se identificável, uma vez que é na in- desenvolver através da experiência, da prá- construída no final da socialização primária”
teracção com os outros que interioriza pro- tica pedagógica quotidiana. Destaca-se, as- (p. 98).
gressivamente modos de ser, estar e pensar sim, a importância da formação contínua no Nesta sequência, é pertinente referir que é
dos membros de um grupo social. Neste desenvolvimento profissional do Educador. de extrema importância que o Educador ar-
sentido, o sujeito, ou porque se quer distin- A prática pedagógica na formação dos Edu- ticule as dimensões pessoais e profissionais,
guir do grupo ou, pelo contrário, manifesta o cadores ocupa um lugar de destaque, con- de modo a permitir apropriar-se dos seus
desejo de pertencer ao grupo, vai construin- sistindo este o elemento preponderante de processos de formação e atribuir-lhes um
do a sua identidade através de adaptações análise e reflexão. Neste sentido, está subja- sentido no seu percurso de vida porque, de
sucessivas. cente uma concepção de formação centrada facto, as preocupações e a compreensão das
No caso particular dos Educadores de In- na actividade quotidiana, nos contextos de situações, quer pessoais, quer profissionais,
fância, as adaptações sucessivas a situações trabalho, próxima dos problemas reais dos “podem ser pensadas como um processo
1 Este artigo integra-se numa investigação mais alargada realizada no âmbito do Mestrado em Ciências de Educação, na área de Formação de Adultos da Faculdade de Psicologia e Ciências da
Educação, Universidade de Lisboa, orientado pelo Professor Doutor Rui Canário.
docente e deve ter como eixo de referência o A profissão de educador de infância tem vin- grada às necessidades das crianças desde
desenvolvimento profissional na dupla pers- do a passar por momentos difíceis, tem-se os primeiros meses de vida até aos seis
pectiva do educador individual e do colectivo deparado com alguns obstáculos na afirma- anos” (p. 5);
docente, ou seja, as práticas e experiências ção social, é ainda considerada uma profis-
que individual e colectivamente os educado- são de baixo estatuto, contribuindo bastante - práticas pedagógicas que privilegiam os
res vão construindo nos seus contextos de para esta situação o facto de que as repre- espaços lúdicos e o jogo na aprendiza-
trabalho “contribuem para a emancipação sentações sociais das famílias e da socieda- gem das crianças, no envolvimento de
profissional, para a consolidação de uma pro- de, num sentido amplo, tendem a dar con- outros actores sociais no acto educativo,
fissão que é autónoma na produção dos seus tinuidade à ideia de que para trabalhar com na procura de soluções para a resolução
saberes e dos seus valores” (Nóvoa, 1992, p. crianças pequenas, “requer pouca actividade dos problemas locais, na preocupação em
27). Esta linha formativa tem como finalidade intelectual, rigor e credibilidade académica, proporcionar às crianças e famílias apren-
a aquisição e o enriquecimento profissional continuando-se a pensar que basta ‘gostar- dizagens que partam do real, do concreto
dos docentes, implicando a construção de -se de crianças’ e ser-se carinhoso para se e não do abstracto;
diferentes saberes: o saber, o saber-ser e o ser bom educador” (Portugal, 2000, p. 103).
saber-fazer. Estes saberes estarão alicerça- Sobressai uma imagem de maternalização - contextos de trabalho, muito diversifica-
dos quer nas “perspectivas sócio-educativas, enquanto nos professores dos outros níveis dos, desde atendimentos muito prolon-
psicopedagógicas e curriculares, quer nas de ensino sobressaem os saberes científicos gados, com um grande número de horas
perspectivas de desenvolvimento humano e e académicos. a funcionar, consistindo em “respostas de
de relação social” (Sarmento, 1999a, p. 3) e A intervenção do educador baseia-se na im- guarda e de educação extensivas” (p. 6),
correspondem a um processo de aprendiza- portância e valor da actividade lúdica como onde se procura servir crianças e famílias,
gem. suporte de desenvolvimento da criança; a a contextos cuja função é predominante-
Neste sentido, pensamos que é pertinente brincadeira e o jogo são os elementos cru- mente educativa;
reflectir sobre a singularidade da profissão ciais, diríamos estruturantes, da sua prática
do educador de infância, sobre o tipo de “re- pedagógica e como são “coisas” que qual- - públicos com que o educador trabalha
gras” baseadas num conjunto de saberes e quer um pode fazer, como são considerados – crianças e famílias –, que pelas suas
saberes-fazer adquiridos num determinado assuntos que não requerem saberes especí- características solicitam um investimen-
espaço e tempo de formação. ficos, provocam alguma indefinição quanto to complexo, onde a educadora tem de
às suas funções, dificultam a valorização e a “articular o seu saber profissional com as
A singularidade da profissionalidade dos afirmação da sua intervenção. expectativas e desejos das famílias, tem
Educadores de Infância O educador actua em contextos bastante de ser capaz de negociar quais os aspec-
A profissão docente é uma profissão que se diversificados e desempenha várias funções tos mais adequados ao desenvolvimento
vai construindo ao longo de uma vida, pro- que, segundo Saracho (1984, cit., Spodeck e integrado das crianças que devem ser
duto de um processo de formação e co-for- Saracho, 1998), se agrupam em seis dimen- valorizados, tendo em consideração os
mação, na qual os factores pessoais e con- sões: diagnosticar, desenvolver currículos, valores e cultura da comunidade em que
textuais em que se exerce ocupam um lugar organizar as aprendizagens, gerir as apren- está inserido” (idem);
de relevo, nalguns casos determinante. dizagens, aconselhar e tomar decisões. Os
Sacristán (1995) define profissionalidade papéis do educador também são vários, - representações sociais que o próprio edu-
como o “conjunto de comportamentos, identificados como afectivos, instrucionais cador tem do seu trabalho, a importância
conhecimentos, destrezas, atitudes e va- e relacionais, contendo cada um “elementos que atribuem à sua prática profissional,
lores que constituem a especificidade de de acção e tomada de decisões” (Spodeck e a diferenciação que fazem dos outros
ser professor” (p. 65). Está em permanente Saracho, 1998, p. 31). professores, recusando assumir funções
elaboração e para ser analisada terá de ser Cristina Figueira (1992) realizou um estudo “ensinantes”.
contextualizada de acordo com o “momento sobre a especificidade da profissão do edu-
histórico concreto e da realidade social que cador de infância e define essa especificida- Outro estudo sobre a especificidade da pro-
o conhecimento escolar pretende legitimar” de segundo cinco características, a saber: fissão do educador de infância é a investiga-
(idem). ção realizada por Júlia Oliveira-Formosinho
Katz (1993) considera que profissionalidade - funções amplas de atendimento à criança, (1998): o desenvolvimento profissional dos
se relaciona com o “crescimento em especi- que ultrapassam habitualmente as funções educadores de infância. Um estudo de caso.
ficidade, racionalidade e eficácia dos conhe- atribuídas aos professores dos outros níveis Ao reflectir sobre a especificidade da profis-
cimentos, competências, sentimentos e dis- de ensino. “O educador tende a colocar o são do educador, não se refere somente à
posições para aprender ligadas ao exercício ênfase nos processos de aprendizagem em situação portuguesa, mas também a outros
profissional dos educadores de infância” (cit. detrimento dos conteúdos de ensino, pro- contextos do mundo ocidental, onde apre-
Oliveira-Formosinho, 2000a, p. 153). curando responder de forma global e inte- senta cinco dimensões nas quais se “ancora”
de ou aquela intervenção foram bem ou mal obstante, a autora refere que a prática só por bais (...) com uma organização nem sempre
sucedidas, realizar outros ensaios e passar a si não é suficiente, esta deverá ser acompa- muito visível” (p. 85), originando práticas com
agir de forma diferente” (p. 130). nhada de “uma reflexão crítica partilhada quer um cariz muito pessoal “em que o pensamen-
Neste contexto, pensamos que é importante com pares, quer com as ciências da educação to pessoal de cada educadora de infância sur-
dar a conhecer o estudo realizado por Teresa e as ciências da especialidade” (p. 82). ge como uma marca distintiva” (idem).
Sarmento (1999b) sobre percursos identitários O saber integrado sustenta-se na integração O saber de tipo ético apresenta-se condicio-
de educadoras de infância em contextos dife- das teorias na prática, onde está subjacente nado pelas características da educadora, pelo
renciados, onde identifica três tipos de sabe- uma reflexão sobre a experiência, resultando seu “saber ser”, traduzindo-se, segundo Te-
res essenciais da profissão das educadoras de num processo de autoformação, onde se ar- resa Vasconcelos (1997, cit. Sarmento, 1999b,
infância e dá a conhecer onde se alicerçam: ticulam os diversos tipos de actuação, sendo p. 86), “pelo respeito enquanto educador,
saber prático quotidianamente construído, uma constante a “imprevisibilidade das situ- enquanto pessoa, [que] tem perante si mes-
saber integrado e saber de tipo ético. ações, a instantaneidade das respostas” (p. mo e perante os outros e é constantemente
O saber prático alicerça-se no dia-a-dia do 84), implicando um saber tácito para intervir (re)construído nas situações do quotidiano,
educador, onde este vivencia várias situações junto das crianças, famílias, comunidade... A nas interacções entre os diferentes actores
com cada criança e grupo e na sequência da autora evidencia na acção das educadoras sociais, em que os constantes dilemas éti-
sua acção directa poderão surgir oportunida- uma não padronização, considerando que “é cos e morais obrigam a tomadas de decisão
des de aquisição de saberes profissionais. Não integradora e direccionada para práticas glo- que se afirmam como novas aprendizagens,
:PUB
O que é uma emoção? O que é cultura? Em centrais da vida social do grupo e propõe (Pussetti, 2005). A autora esclarece (2007a e
que consiste a aprendizagem? (1984) que uma tarefa fundamental da An- 2007b) que em algumas culturas o conceito
O título deste artigo envolve conceitos que tropologia, seja a de mostrar como a cultura de “emoção” não se apresenta como uma
assumem ou assumiram particular relevân- determina a experiência psicológica dos indi- categoria autónoma, sendo assimilada a ou-
cia no debate científico, nomeadamente no víduos. Para a autora, que sustenta os seus tras parcelas de realidade e relacionada com
campo da filosofia, da psicologia, das neuro- argumentos em exemplos etnográficos e no outros aspectos da vivência quotidiana, e
ciências2, das ciências sociais. trabalho que efectuou com os Ilongot (1980 recorre a algumas pesquisas antropológicas,
A vivência das emoções é essencial nas nos- e 1984), o sentimento recebe a sua forma do as quais revelam, por exemplo, que muitas
sas vidas, porque determina o modo como pensamento e, por sua vez, o pensamento línguas africanas assimilam num único termo
sentimos e como nos relacionamos com o está cheio de sentidos emocionais. A visão “tristeza” e “raiva” (Leff 1973: 301), que em
outro. Na tradição intelectual do Ocidente, construtivista de Rosaldo não só chama a chinês é utilizada a mesma palavra para in-
as emoções estão associadas ao imprevisto, atenção para a relevância da cultura na vi- dicar “preocupação”, “tensão” e “ansiedade”
ao subjectivo, ao instintivo, ao animal. É fre- vência das emoções como não separa esta (Leff 1973: 322), que a expressão ilongot liget
quente ouvirmos dizer que “devemos usar a do mundo intelectual nem cria antagonismos significa ao mesmo tempo “raiva” e “inveja”
cabeça e não o coração”, opondo-se assim com ele. A autora considera que os senti- (Rosaldo M. 1980: 44-47).
o sentir ao saber, o sentimento ao conheci- mentos são práticas sociais, sustentadas nas Através do estudo do mundo afectivo ou
mento, o afecto à cognição. concepções de corpo e pessoa, culturalmen- emocional, a Antropologia das Emoções
Charles Darwin (1872), William James (1884) te definidas. pode ter acesso a aspectos da organização
e Sigmund Freud (1895)3 são os fundadores Lutz (1988), que fez pesquisa entre os Ifaluk, social relacionados com a vivência das hierar-
da pesquisa moderna na área das teorias afirma que o antropólogo só pode traduzir quias. A análise de como os seres humanos,
da emoção. O que é comum à visão destes “comunicações emocionais de um idioma, em diferentes contextos culturais, sentem e
autores é a tese das emoções como algo in- contexto, linguagem ou sócio-histórico expressam as suas emoções, bem como a
terno aos indivíduos, uma manifestação de modo de compreensão para outro” (p. 8, a das expectativas sociais quanto ao desem-
uma natureza humana ligada a uma genética tradução é minha), já que não existe um có- penho dos seus integrantes, pode ajudar a
hereditária e universal. digo universal nem uma gramática única das esclarecer como se constrói o mundo afecti-
Na abordagem das emoções esta é uma linha emoções. Em 1990, de parceria com Abu- vo individual em articulação com a socieda-
de fronteira, bem marcada, entre as teorias Lughod, Lutz defende que as emoções per- de, que transmite saberes e valores, educa e
universalistas ou inatistas4 e as teorias re- tencem à vida social, negando a primazia da condiciona o modo de sentir e de expressar
lativistas sociais5. As primeiras, consideram interioridade desses estados e instigando os emoções.
que as emoções são uma parte da natureza antropólogos a libertarem as emoções dos Na prática quotidiana do processo de trans-
humana universal – são inatas, genetica- estudos da psicobiologia, devendo eles abor- missão de valores, de saberes, que caracte-
mente determinadas, não cognitivas, invo- dá-las como construções socioculturais, bus- riza a vida em sociedade, apercebemo-nos
luntárias. As segundas, consideram que as cando entender a sua especificidade e evi- de que a regulação do mundo afectivo é es-
emoções adquirem sentido e valor graças a tando transferências para outras sociedades sencial para a convivência entre os seres hu-
um determinado contexto social e histórico de modelos interpretativos euro-americanos manos. Não há emoção ou sentimento não
que as classifica, interpreta e regula – são sobre o mundo afectivo ou emocional. tocado pela sociedade onde se expressa.
construídas socialmente e como tal variam Os antropólogos demonstram que outros Na transmissão da cultura6, no processo de
no tempo e no espaço. povos sentem emoções que nós não expe- aprendizagem7 que ela implica, as emoções
Antropologia das Emoções teve um grande rimentamos, sendo a inversa igualmente ver- assumem uma importância que nem sempre
desenvolvimento através dos trabalhos dos dadeira, e que o próprio conceito de emoção é reconhecida pelos intervenientes no pro-
construtivistas sociais, a partir de meados não é universal. Pussetti (2007a e 2007b), por cesso. A tendência maioritária na sociedade
dos anos 80 do século passado, especial- exemplo, refere a cólera como uma emoção ocidental é para centrar as atenções no sa-
mente nos Estados Unidos, onde avultam as desconhecida para os Utku e acrescenta que ber que é transmitido, nos vários elementos
pesquisas de Michelle Rosaldo (1980, 1984), a palavra “emoção” não tem equivalente nas que o compõem, na avaliação da prestação
de Catherine Lutz (1988, 1990) e de Lila Abu- línguas dos Papua da Nova Guiné (Hallpike, de quem aprende, na separação de quem
Lughod (1990). 1979; Poole, 1985), dos aborígenes australia- transmite e de quem recebe o saber (como
Rosaldo considera (1980) que uma aprecia- nos (Hiatt, 1978), dos Ifaluk da Micronésia se o processo de aprendizagem não envol-
ção das noções Ilongot do self e dos concei- (Lutz, 1986), dos Chewong da Malásia (Ho- vesse ambos, como se um professor que não
tos emocionais podem esclarecer aspectos well, 1981) e dos Bijagós da Guiné-Bissau aprende possa ensinar, como se os alunos
O povo português é tido por acolhedor, afável ou de trapo, nas costas de alguém, apupan- Também este final foi modificado:
e com uma facilidade invejável de se adaptar do-o: “Larga o rabo que não é teu! É do filho “Que vem nesta armada
a culturas diferentes da sua, conservando po- do Judeu!”, reflecte a crença de que os judeus Com a barba de molho
rém a própria identidade. Oiçamo-lo falar por- nasciam com cauda que lhes seria cortada, E a calça queimada.”
tuguês com sotaque anglo-saxão, francês ou deixando no entanto esse vestígio infamante. “Duro como a cabeça de preto”, “O trabalho
sul-americano; vemo-lo como saboreia com Evidente deturpação do rito da circuncisão. é bom para o preto”, e “Ovelha negra da fa-
um misto de alegria e saudade uma comida Menos agressiva a reacção face aos mouros. mília” são outras tantas expressões negati-
que lhe traz a recordação da infância perdida Ainda que na tradição oral as mouras encan- vas e injuriosas do vocabulário popular.
no tempo e no espaço. tadas fossem guardiãs de tesouros fabulosos “- Truz, Truz!
Logo no alvorecer da nacionalidade, termi- a conceder àqueles que viessem a merecê-los, - Quem é?
nados no século XIII os combates pela re- o seu convívio seria perigoso, pois que, seduzi- - É o preto da Guiné
conquista, viveram em pacífica coexistência dos pelos encantos delas, poderiam perder “os - Charuto na boca
comunidades de cristãos, judeus e mouros, santos óleos do baptismo”. Assim ressuscitava - Chinelo no pé.”
ainda que residindo em bairros distintos, não a ameaça do velho inimigo inicial: o infiel. Aqui faz-se a caricatura do negro que pre-
por discriminação mas para salvaguarda de Nem Camões escaparia ao preconceito em “Os sume de senhor, fumando charuto, mas re-
seus usos, tradições e práticas religiosas. Lusíadas”, tratando-o de “torpe ismaelita”, logo velando a sua origem pelo calçado modesto.
Os judeus gozavam de prestigio social e inte- na dedicatória a D. Sebastião; e na voz do Ve- Pior ainda a versão que acrescenta: “Lava a
lectual, já que era uma classe economicamen- lho do Restelo (“vox populi”, decerto) classifica cara com chulé”.
te desafogada que se dedicava ao comércio, o Islamismo como “do Arábio a lei maldita”. É Estas injúrias culminam no conto “As Três Ci-
já porque exerciam actividades científicas, também “mouro pérfido”, o piloto traidor. dras do Amor”. Nele, a preta que vai à fonte,
como a medicina, a astronomia, a cartografia; Mas com os Descobrimentos, novos “diferentes” ao ver a imagem da bela menina reflectida
lembremos os nomes conceituados de Mes- entram na sociedade portuguesa, estes agora na água, e julgando ser a sua, quebra a can-
tre Guedelha, astrónomo do rei D. Duarte, numa situação de escravatura: são os africanos. tarinha numa manifestação de libertação da
Mestre José Vizinho e Mestre Abraão Zacuto, E com eles um preconceito de superioridade que escravatura. Depois, enfeitiçando a menina,
o criador do Almanaque Perpétuo, e sabemos vai manifestar-se em numerosas locuções, e até toma o seu lugar no coração do príncipe.
que entre a “equipa” que, com o Infante D. infelizmente nas lengalengas infantis: O pior é que no final, quando descoberto o
Henrique, preparou os Descobrimentos, se “Tenho uma preta / dentro de uma gaveta / embuste, é a menina (a “boazinha” da história,
contavam muitos judeus e árabes. Dou-lhe um osso, diz que é grosso / Dou-lhe pasme-se!) quem lhe dita a sentença de morte:
Aos mouros deviam os habitantes de Lisboa um pau, diz que é mau / Dou-lhe chouriço. “Quero que da pele se faça um tambor, e dos
o abastecimento dos produtos hortícolas, – Isso! Isso!” ossos uma escada para eu descer ao jardim!”.
cultivados nas almoinhas (as hortas) dos ar- De onde se infere um tratamento desumano: Sem comentários.
redores da cidade. a preta, está prisioneira, e a alimentação que
É só no século XVI que toda esta harmoniosa se lhe dá é imprópria. As normas da ética profissional impõem aos
convivência se quebra em consequência de António Torrado corrigiu-a pedagogicamente educadores o respeito incondicional pela
interesses políticos e da perversão da doutri- do seguinte modo: cultura das crianças que lhes são confiadas,
na de Cristo, dando origem a perseguições, “Tenho um macaco/Dentro de um saco... etc.” pelo que a eliminação total de qualquer for-
expulsões e massacres. Uma outra bem conhecida, diálogo entre ma de expressão que possa ofendê-las será
Terá sido a partir dessa época que entraram ama e serva: do mais elementar cuidado.
na linguagem portuguesa termos pejorativos, - Maria Coca! Com as famílias é possível informarem-se de
como “judiar”, isto é, fazer judiarias, ou seja, - Senhora chama? dietas prescritas pela sua religião que dese-
atormentar, causar danos físicos ou psicoló- - Acender o lume! jam eventualmente verem observadas pelos
gicos, numa evidente culpabilização dos ju- Fazer a cama! filhos, (ex.: a carne de porco proibida aos
deus pelos sofrimentos de Cristo, ou chamar - Não posso lá ir muçulmanos; o coelho, às testemunhas de
a alguém judeu como sinónimo de avarento. Estou ocupada Jeová; o uso de carne e lacticínios na mesma
Se inadvertidamente alguém pisava outro, A fazer biscoitos refeição interdito aos Judeus).
logo ouvia o remoque irritado: - “Ai! O de E marmelada Há um provérbio africano que diz: “O rio fica
baixo é meu, o de cima é do Judeu!”. Para o Senhor Capitão grande graças à contribuição dos pequenos
Até um jogo carnavalesco que consistia em Que vem nesta armada riachos.”
colocar sub-repticiamente uma tira de papel Com pretos e pretas para o servir.
1 – Neste texto, a partir de um olhar lan- Na realidade, para estas faixas etárias, o cri- Muito embora concordemos com esta afir-
çado por alguns artigos e estudos (Veloso, tério da estética literária parece-nos muito mação, acreditamos que há todo um traba-
2002; Brito, 2006), onde se faz referência importante, mas o critério da estética plástica lho a desenvolver com o livro de literatura
às bibliotecas presentes nas salas de jar- não o será menos, na medida em que os livros infantil, que possibilitará à criança fazer lei-
dim de infância, pretendemos problema- têm uma componente icónica muitas vezes turas plurais em redor do texto literário ou
tizar e deixar algumas pistas de trabalho superior à componente verbal. Podemos, cer- seja preencher os “espaços em branco” (Eco,
que possam contribuir para a promoção de tamente, definir muitos livros literários, para 1993) deixados pelo texto literário, levando a
uma educação literária junto das crianças estas idades, como artextos (Agra e Roig, criança a “falar dos textos com as suas pró-
que frequentam a educação pré-escolar. 2006), na medida em que, nestes livros, exis- prias palavras”,
Tendo como pano de fundo um trabalho te um casamento, um diálogo íntimo entre o «Fazer com que o aluno aprenda a falar dos
pensado para as crianças do 1.º ciclo do código verbal e o código icónico, e só a leitura textos com as suas próprias palavras, procu-
ensino básico (Balça, 2007), queremos conjunta de ambos os textos possibilitará o rar que os descubra pela sua própria reescrita,
apresentar agora uma proposta desen- acesso pleno ao significado da obra. parecem-me condições de possibilidade para
volvida para as crianças que frequentam a Nestas orientações curriculares podemos en- conhecer a literatura. Condições privilegiadas
educação pré-escolar. contrar ainda notas sobre os materiais de lei- para aceder à palavra poética por via da com-
A promoção de uma educação literária tura que devem estar ao alcance das crianças. plementaridade entre a autêntica emoção e a
junto das crianças tem sempre como re- Assim, a primeira referência é para a literatu- verdadeira cognição.». (Pereira, 2005:144)
curso pedagógico privilegiado o texto de ra infantil, quer em prosa quer em poesia. A Assim, no ponto seguinte, a partir da leitura
literatura infantil, designadamente o livro chamada de atenção neste documento para de um texto de literatura infantil, propomos
de literatura infantil. Só conseguiremos a literatura infantil afigura-se-nos capital, um conjunto de actividades que permitam
formar crianças leitoras literárias através para a promoção de uma educação literária, às crianças efectuar múltiplas leituras desse
da leitura de livros de literatura infantil, desde estas idades mais precoces. texto literário, proporcionadas pelo código
com os quais muitas vezes elas contactam Mas apesar da referência explícita, neste do- verbal e pelo código icónico.
unicamente no jardim de infância. cumento orientador, à literatura infantil, al- Este conjunto de actividades tem como fio
O desenvolvimento de uma educação literá- guns olhares (Veloso, 2002) e estudos (Brito, condutor um modelo de leitura do texto ver-
ria visa formar a criança como leitora literá- 2006) dão-nos conta da pobreza do acervo bal e do texto icónico. Para a leitura do texto
ria, capaz de apreciar a Literatura, sabendo bibliográfico de determinadas salas de jardim verbal, atendemos a um modelo de leitura cen-
interpretar, valorizar e activar os seus inter- de infância, nomeadamente no que diz res- trado na literatura (Azevedo, 2006), que prevê
textos, contribuindo para o desenvolvimento peito ao livro literário. um momento de pré-leitura, outro de leitura
da sua competência literária. Ora só os livros literários encerram uma di- e ainda um terceiro momento de pós-leitura.
Assim, nas Orientações Curriculares para mensão estético-literária capaz de potenciar Estas diversas etapas têm como objectivos,
a Educação Pré-Escolar encontramos, na o desenvolvimento de uma educação literá- entre outros, motivar a criança para a leitura,
área de conteúdo “Área de Expressão e ria, uma vez que a leitura da obra literária atiçar a sua curiosidade em redor da história
Comunicação”, no “Domínio da linguagem consente a participação do leitor na constru- encerrada no livro, mobilizar as suas referên-
oral e abordagem à escrita”, algumas reco- ção do sentido de texto. cias intertextuais e permitir uma experiência
mendações sobre a leitura e o livro. Gosta- Para além da presença, maior ou menor, de afectiva, uma relação de prazer entre o leitor e
ríamos de salientar que as recomendações textos de literatura infantil nas bibliotecas o texto, relação esta que possibilita o diálogo
apresentadas apontam para o contacto das salas de jardim de infância, ao alcance e entre o texto e a criança leitora, permitindo-lhe
das crianças com o livro, considerando-se à disposição das crianças, há ainda a consi- ser indagadora e construtora de sentidos.
que é através do convívio com os livros derar, na promoção de uma educação literá- De igual modo, para a leitura do texto icónico
que as crianças (também) contactam com ria, o trabalho com o livro literário. observámos o modelo de Durand (Colomer e
o código escrito, descobrem o prazer da De acordo com o estudo de Brito (2006), os Duran, 2001), que apresenta três etapas, o
leitura e desenvolvem a sua sensibilidade educadores de infância referiram que o “pro- reconhecimento, a identificação e a imagi-
estética. longamento didáctico”, ou seja a realização nação. Através deste modelo, a criança ob-
Neste sentido aconselha-se algum cuida- de actividades depois da narração da história serva e reconhece um determinado objecto
do na selecção dos livros que se põem à e que estejam relacionadas com ela, ocorria, na imagem, identifica-se com ele e projecta
disposição das crianças, devendo-se seguir na maior parte dos casos, esporadicamente, sobre a imagem uma série de circunstâncias,
dois critérios, o de estética literária e o de porque, na perspectiva dos inquiridos, a his- que lhe permitirá activar e actualizar os seus
estética plástica. tória pode ser só para ouvir e reflectir. conhecimentos intericónicos.
Resumo: O presente artigo centra-se num estudo desenvolvido com o ob- Enquadramento Conceptual
jectivo de identificar a relação entre algumas competências psicomotoras e Ao longo da história da civilização humana, a conceptualização e a prá-
a capacidade grafomotora em crianças de idade pré-escolar. Procurou-se tica da psicomotricidade sofreram evoluções, resultantes de mudanças
também comparar os valores das variáveis dependentes em função do filosóficas na abordagem à noção de corpo. O contributo de várias
género e idade. Como conclusões principais do estudo destacam-se os influências conceptuais, nomeadamente da fenomenologia, psicaná-
seguintes aspectos: 1) a idade, ou seja, o factor desenvolvimental parece in- lise, neuropsicologia e pedagogia provocaram também mudanças na
fluenciar o desempenho, em ambas as componentes; 2) o género feminino conceptualização da psicomotricidade, resultando no seu reconheci-
Silva, Elvira Cristina; Martins, Rui (2007) "Competências psicomotoras e capacidade grafomotora em crianças de idade pré-escolar", «Cadernos de Educação de Infância» 82: pp. 21-26
evidencia melhores desempenhos na maioria das variáveis dependentes e 3) mento, como um meio de interacção integrada entre o mundo interno
na correlação entre as variáveis de estudo na totalidade da amostra, todas do indivíduo e o mundo que o rodeia. A definição psicológica que foi
se relacionam entre si, o que sugere que as competências na componente atribuída ao movimento, explicando-o como uma síntese das expe-
grafomotora estão relacionadas com as competências psicomotoras. riências vividas de cada sujeito e da sua história, permite relacionar
Palavras-chave: psicomotricidade, grafomotricidade, pré-escolar, a actividade psíquica e actividade motora. Em termos metodológi-
desenvolvimento. cos, a educação psicomotora é assim encarada como uma forma de
promoção de aprendizagem e de adaptação ao mundo exterior, num
Introdução processo onde motricidade e psiquismo são indissociáveis. Martins
“ A aprendizagem escolar nunca parte do zero. (2001), refere a psicomotricidade como “uma prática de mediação
Toda a aprendizagem da criança na escola tem uma pré-história.” corporal que permite à criança reencontrar o prazer sensório-motor
(Vygotsky, 1977) através do movimento e da regulação tónica, possibilitando depois
a apropriação dos processos simbólicos, com forte acentuação da
A escrita, na medida em que representa uma forma de expressão da componente lúdica” (p. 34).
linguagem que pressupõe uma comunicação simbólica através de si- Também Sánchez, Martinez e Peñalver (2003) definem a psicomotri-
nais gráficos convencionais, ela constitui uma actividade psicomotora, cidade como um meio que facilita a compreensão do sentido profun-
integrando aspectos gnósicos e práxicos numa perspectiva sistémica do da expressividade motora na criança, sendo esta expressividade
de relações ao nível motor, perceptivo e simbólico, e envolvendo uma a forma única, original e individual de ser e estar no espaço, como
fase da planificação e uma fase de execução. consequência do funcionamento psíquico da criança.
A grafomotricidade constitui o processo expressivo da escrita que “A aprendizagem da leitura e da escrita deve assentar numa adequada
possibilita efectuar um registo gráfico, a partir de um suporte postural estruturação do esquema corporal, que por sua vez se relaciona com a
estável, combinando os movimentos do braço, mão e dedos em liga- orientação espacio-temporal “ (Torres & Fernandez, 2002)
ção com aspectos espacio-temporais e visuo-quinestésicos. Em termos práxicos, o desenvolvimento psicomotor depende da matu-
Este estudo teve como principal objectivo o estudo da relação entre ração (exteriorização do desenvolvimento através do comportamento
algumas componentes psicomotoras e grafomotoras em crianças de e entendida em termos ontogenéticos), e da mielinização do Sistema
idade pré-escolar. Nervoso Central. É um processo contínuo numa sequência de etapas,
Do ponto de vista conceptual, embora o âmbito deste estudo visasse de ritmo variável, num número quase ilimitado de padrões de desen-
os aspectos psicomotores, obviamente considera-se a abordagem de volvimento. Os diferentes perfis de desenvolvimento dependem das
outras variáveis importantes do ponto de vista da avaliação ecológica, competências nas diferentes áreas e na interacção entre essas compe-
como é o caso dos factores sociais afectivo, emocionais e cognitivos tências. Em termos posturais evolui-se numa orientação céfalo-caudal
que podem reflectir-se no insucesso escolar, no que se refere à escrita, e próximo-distal, o que se traduz numa diferenciação progressiva que
porém se abrange todas as variáveis num estudo tornaria difícil o gerir evolui da motricidade global à motricidade fina.
de toda a informação pelo que se considera este estudo uma parte da Para Alston e Taylor (1987), escrever é uma actividade complexa, pois
realidade, como uma visão parcial de um universo observado. exige a integração de habilidades verbais, perceptivas e motoras. Para
Como refere Fonseca (1999): a escrita se tornar um meio de expressão, é necessário ter-se apreen-
A praxia não pode ser entendida como sinónimo de movimen- dido a estrutura da linguagem escrita, bem como os mecanismos para
to reflexo ou automático, mas sim de sistemas de movimentos representar as formas adequadas no papel.
coordenados em função de uma intenção ou de um resultado a Os referidos autores apresentam um modelo conceptual que permite
obter, o que pressupõe a emergência da aprendizagem e da função uma visão sistémica da sequência e estrutura dos processos envolvidos
simbólica, pois são sistemas de movimentos que nascem no pen- na aprendizagem da escrita. Deste modo, o sistema da escrita envolve
samento, na medida em que estão interiorizados antes de serem a elaboração e conjugação adequada da pontuação, o conhecimento
expressos em acções e uma vez que servem para fixar a informação 1 Artigo publicado nas revistas “A psicomotricidade” (2005) n.º 5, da Associação Portuguesa
e suportar a função cognitiva (p. 410). de Psicomotricidade e Ricerche e Studi in Psicomotricitá, Anno XIV n. 3, Deciembre 2006
dos numerais e das letras (maiúsculas e minúsculas) que compõem o Uma das razões primordiais do interesse desta temática surge na
alfabeto. As letras maiúsculas parecem ser mais fáceis de aprender, sequência da constatação de que, frequentemente, parece existir
porque as formas da maior parte das letras são baseadas em círculos, por parte dos profissionais (nomeadamente de alguns educadores
partes de círculos e linhas rectas, podendo ser feitas com vários traços de infância e professores do 1.º Ciclo do ensino básico), uma pre-
separados. É frequente, crianças com 3 ou 4 anos, serem normalmente ocupação centrada exclusivamente no treino gráfico. A actividade
capazes de desenhar o círculo e a cruz. pedagógica é realizada com recurso a meios centrados no treino de
Uma vez apreendidos, os movimento ligados a estes padrões gráficos grafismos visando desenvolver a motricidade fina, em detrimento de
Silva, Elvira Cristina; Martins, Rui (2007) "Competências psicomotoras e capacidade grafomotora em crianças de idade pré-escolar", «Cadernos de Educação de Infância» 82: pp. 21-26
tornam-se automáticos e depois de estabilizados, tornam-se resisten- uma intervenção psicomotora mais global, orientada para pré-requi-
tes à mudança (Alston e Taylor, 1987). sitos desenvolvimentais, ligados por exemplo à regulação tónica, ao
Os mesmos autores referem que os elementos ligados à caligrafia, controlo postural, à lateralidade, à noção de corpo, à estruturação
associados aos processos subjacentes à codificação da escrita, são espacial e temporal e à coordenação práxica de movimentos globais
factores essenciais para a integração perceptiva e para o processa- e finos.
mento verbal, necessários para a produção da escrita. Inclui-se aqui Embora frequentemente se encontre em alguma literatura, referência
a rechamada da forma das letras, a relação de cada uma com a linha à relação entre os aspectos psicomotores e grafomotores, quer na
de base, os padrões de movimento para produzir cada letra (porque perspectiva genética como na patológica, as investigações realizadas
até evoluir para a escrita automática é exigido um esforço cognitivo são escassas, e mais ainda no âmbito da idade pré-escolar. Assim, a
para a representação das letras) e, por fim, a capacidade para exercer identificação precoce de dificuldades nestes pré-requisitos desenvol-
a autocrítica. vimentais é particularmente pertinente na faixa etária estudada, uma
A escrita, para os mesmos autores, representa uma tarefa psicomotora vez que a competência grafomotora é utilizada em todo o percurso
complexa que assentando na estabilidade postural, envolve o controlo escolar da criança.
e coordenação de todos os músculos do membro superior, na depen- Alston e Taylor (1987) referem também que poucas investigações
dência da orientação visual, exigindo uma coordenação simultânea do têm sido realizadas sobre como deve ser o ensino ou a reeduca-
polegar e dedos da mão que escreve, assim como a abdução e adução ção da componente grafomotora, apelando para a necessidade de
da articulação do pulso para a transcrição das letras e o deslocamento identificar os elementos envolvidos na evolução dos progressos in-
ao longo da linha base. dividuais das crianças. Nesta perspectiva, revela-se fundamental a
Alston e Taylor (1987) apresentam um modelo para a compreensão dos identificação precoce das dificuldades grafomotoras e psicomotoras
processos envolvidos na aprendizagem da componente grafomotora na idade do pré-escolar, na medida em que esta fase constitui um
da escrita, e referem que o insucesso na aprendizagem pode ser devi- momento de transição para o 1.º Ciclo, colocando à prova a capaci-
do a uma dificuldade num ou mais dos seguintes processos: dade grafomotora da criança, nomeadamente através da escrita num
• integração de capacidades visuais, auditivas e tácteis. contexto mais formal.
• integração da coordenação motora global e fina. São diversos os autores que referem a importância da expressão
• lateralidade e direccionalidade gráfica no desenvolvimento da criança, como contributo para o seu
• sequencialização auditiva (a existência de problemas perceptivos desenvolvimento global, para a construção da sua personalidade
auditivos dificultará a memorização de um conjunto de nomes e e do seu carácter, tornando-se deste modo fundamental detectar
sons das letras.) precocemente dificuldades, pois habilidades motoras adquiridas são
• memória (rechamada de nomes, sons de letras e padrões de movi- resistentes à mudança.
mento); as capacidades sequenciais, visuais, auditivas e motoras; Ajuriaguerra, Auzias e Denner (1988) referem a importância do de-
a lateralidade e a direccionalidade são factores que fazem parte da senvolvimento perceptivo-motor para a aprendizagem escolar e,
memória, condição necessária para a formação das letras. em especial, para o desenvolvimento da escrita. Torres & Fernández
• expectativas do professor, sendo fundamental que este utilize pa- (2002) referem também que dificuldades na área psicomotora podem
drões de escrita aceitáveis e métodos de ensino que influenciam a comprometer a aprendizagem escolar.
atitude dos alunos. Boscaini (1998) salienta que se pode avaliar o nível psicomotor da
• auto-avaliação do aluno (comparação da letra escrita com o mo- criança através da tipologia do seu traçado e da sua atitude corporal.
delo), estando implícita a capacidade de conhecimento crítico que Realça ainda o mesmo autor (2003), preconizando as ideias de Ajuria-
deve ser estimulado. guerra, o papel da vivência corporal no desenvolvimento, salientando
É neste quadro conceptual que se insere o estudo efectuado, no qual ainda que “tanto as funções motoras como as psíquicas apresentam
se pretendeu observar e reflectir, numa perspectiva desenvolvimental, como denominador comum o corpo” e que o aparecimento de diver-
sobre a interdependência entre os factores da capacidade grafomoto- sas problemáticas está dependente da qualidade de vivência corporal
ra e algumas competências psicomotoras. (Boscaini, 2003, p22).
motora mais no sentido preventivo do que remediativo. Crianças - Assessment Batery for Children – Compiled by Sheila E.
Henderson and David A. Sugden (1992), para a avaliação da vari-
Metodologia ável Qualidade do Movimento, nomeadamente destreza manual,
O presente estudo, como já foi referido, visa particularmente os aspec- capacidades manipulativas, equilíbrio estático e dinâmico.
tos psicomotores, sem desvalorizar a importância de factores sociais, A nível das competências da área Grafomotora:
afectivos, emocionais e cognitivos que podem também constituir fac- • VMI – Teste de Desenvolvimento da Integração Visuo-Motora (De-
tores condicionantes do sucesso ou insucesso na aprendizagem da velopmental Test of Visual-Motor Integration) - Beery, k.E. (1989),
escrita. Considerando-se primordial a importância da maturidade psico- para a avaliação visuo- motora.
motora da criança, para poder realizar a aprendizagem do acto gráfico, • Teste da representação corporal – Desenho de uma pessoa - Draw
esta opinião não esgota, contudo, o interesse de tomar como objecto A Person – A Quantitative Scoring System - Jack A. Naglieri (1988),
de estudo outras áreas relevantes para este problema, pelo que a rea- para a variável de representação do corpo.
lidade avaliada neste âmbito deve ser considerada apenas como uma Para tratamento dos dados utilizou-se a estatística descritiva (tabelas
das perspectivas possíveis de abordagem desta área de estudo. de frequência e parâmetros de tendência de dispersão: média e limites
Recorreu-se nesta investigação a um diverso número de variáveis, rela- de variação), bem como a estatística inferencial a nível correlacional e
tivas às componentes psicomotoras e às componentes grafomotoras e comparacional, com a probabilidade de erro de p = 0,05.
correspondentes aos itens dos diversos instrumentos de avaliação.
Apresentação dos Resultados
Amostra Atendendo ao número de elementos da amostra e às variáveis intro-
A investigação decorreu em Jardins-de-infância da rede pública de uma ci- duzidas, a apreciação dos resultados implicou uma análise cuidadosa
dade do distrito de Lisboa. De um total de 264 crianças (assumindo-se co- de tipo descritivo, a nível quantitativo. Apresentam-se de seguida as
mo factor de exclusão a existência de deficiências sensoriais ou motoras, interpretações globais dos resultados dos dados obtidos, nomeada-
a atipicidade comportamental e a existência de problemas emocionais), mente a correlação entre as variáveis dependentes na totalidade da
foi seleccionada uma amostra total de 120 crianças de ambos os géneros, amostra e a comparação entre variáveis dependentes e independentes
subdivididas por três grupos etários: 30 crianças dos 4,5 aos 5 anos; 40 por grupos etários e entre os géneros.
crianças dos 5 aos 5,5 anos e 50 crianças dos 5,5 aos 6 anos, constituin-
do-se assim a idade e o género como variáveis independentes. Correlação entre variáveis no total da amostra
Com base nos pressupostos anteriormente enunciados, foram deline- Visuo Motora Des. Fig. Humana Equilíbrio Coord. Bilateral
ados os seguintes objectivos de estudo: Qualidade do Movimento
• Comparar os resultados obtidos nas variáveis do âmbito psicomo- 0,8
tor e grafomotor, entre os grupos das várias faixas etárias. 0,6
• Comparar os resultados obtidos nas variáveis do âmbito psicomo-
0,4
tor e grafomotor entre os dois géneros, quer nos diversos grupos
das várias faixas etárias, quer na totalidade da amostra. 0,2
• Correlacionar os resultados obtidos nas diversas variáveis de estudo, nos 0
diversos grupos das várias faixas etárias, e na totalidade da amostra. -0,2
Os instrumentos utilizados, na recolha dos dados, permitiram avaliar -0,4
a amostra nas seguintes variáveis dependentes:
-0,6
a) No âmbito das competências psicomotoras: Equilíbrio; Coordena- Visuo Des. Fig. Equilíbrio Coord. Qualidade
ção Bilateral e Qualidade do movimento (Destreza manual, Capa- Motora Humana Bilateral do Movimento
cidades manipulativas, Equilíbrio estático e dinâmico) Variáveis
b) No âmbito da componente grafomotora: Representação do corpo Gráfico 1. Estatística referente à correlação entre as variáveis
(desenho da figura humana) e Integração Visuo Motora. dependentes na totalidade da amostra
Da leitura do gráfico deve-se ter em conta que em função do valor do mais o seu valor se aproxima do zero, assim é visível que crianças mais
n da amostra (120), o valor de referência para o grau de significância velhas apresentam valores mais baixos nessa variável, o que se traduz
é 0,19, o que significa que só as correlações com este valor absoluto por melhor desempenho.
ou acima dele são significativas em termos estatísticos. De salientar Em relação ao factor idade, este confirma a existência de diferenças
também que a variável Qualidade do Movimento é cotada com valores significativas entre as crianças dos vários grupos etários a nível do perfil
inversos, ou seja, quanto mais próximo do valor zero (0), melhor o de execução motora e do desempenho gráfico, confirmando a impor-
desempenho, o que significa que os valores negativos correspondem tância da experiência acrescida como referem os estudos de Ajuriaguer-
Silva, Elvira Cristina; Martins, Rui (2007) "Competências psicomotoras e capacidade grafomotora em crianças de idade pré-escolar", «Cadernos de Educação de Infância» 82: pp. 21-26
à correlação com a referida variável. ra, Auzias e Denner (1988) e Silva (1998) que referem existir diferenças
Quer da leitura do gráfico como desta figura é possível afirmar que em alguns meses de idade, traduzidas em melhor desempenho.
de facto os perfis de execução psicomotora das crianças observadas
neste estudo se correlacionam com os pré-requisitos da componente Comparação entre Géneros
gráfica. De salientar a importância do desenvolvimento psicomotor No que se refere ao factor género, verificam-se diferenças signifi-
para as aprendizagens e de modo particular para o desenvolvimento cativas na maioria das variáveis, onde o género feminino evidenciou
da praxia fina. As variáveis do âmbito psicomotor correlacionam-se melhores resultados, resultados defendidos também por Ajuriaguerra,
deste modo na sua totalidade com as variáveis da componente gráfica, Auzias e Denner (1988), que afirmam que o género feminino se carac-
indicadores sobre a eficiência e realização motora. teriza por uma melhor capacidade de imobilização postural, controlo
Os resultados principais obtidos neste estudo permitem afirmar que os e coordenação das actividades digitais finas. Os resultados obtidos
aspectos globais somagnósicos que foram avaliados na variável Quali- situam-se na linha das investigações de G. Presscott (1955 cit Conde-
dade do Movimento, bem como as variáveis Equilíbrio e Coordenação marin et al, 1986) e das conclusões de Ajuriaguerra, Auzias e Denner
Bilateral, se correlacionam com a noção do corpo, representada na (1988), que afirmam que a execução gráfica do género feminino é
variável desenho da figura humana e que por sua vez se correlacionam constantemente melhor que a do género masculino.
com a praxia fina, avaliada na variável (Integração visuo motora).
Conclusões
Comparação das variáveis entre as diferentes faixas etárias Espera-se que este estudo constitua um contributo para a for-
A observação do gráfico sugere que na maioria dos casos o factor mação e informação dos profissionais envolvidos nesta área de
idade é preponderante, ou seja, o desempenho melhora com a idade, estudo, possibilitando novas interrogações, atitudes e propostas
tendo em conta o factor maturação e experiência acrescida. de actuação relevantes para o desenvolvimento da criança dado
Tal como no gráfico anterior, este gráfico mostra também como o fac- que esta área de estudo tem sido negligenciada, particularmente
tor maturação influencia o desempenho, ou seja, crianças mais velhas, na idade do pré-escolar.
supostamente com maior número de experiência vividas, reflectem No âmbito das suas implicações práticas, considera-se fundamental
melhor desempenho. De referir que a variável Qualidade do Movi- que no jardim-de-infância a intervenção nesta área seja realizada de
mento é cotada inversamente, ou seja, quanto melhor desempenho forma a promover actividades que envolvam uma ligação progressiva
Figura 1. Correlação entre as variáveis - Totalidade da amostra Gráfico 2. Comparação entre os diferentes grupos etários
– Género Masculino
forma lúdica, a criança adquire os alicerces sensório-motores e per- o jardim-de-infância uma função formativa, que deve ter sempre em
ceptivo-motores que estão na base dos comportamentos exigidos conta a personalidade da criança, respeitando de forma integrada o
para as aprendizagens escolares, nomeadamente a componente gra- seu desenvolvimento motor e psíquico.
fomotora da escrita, evitando desse modo dificuldades nesta área do Face à constante preocupação, nas nossas escolas, com as diversas
desenvolvimento. dificuldades de aprendizagem, a psicomotricidade deve ser encarada
A intervenção psicomotora é contemplada nas Orientações Curricula- no contexto tanto educativo como social, nomeadamente na faixa
res para a Educação de Infância do Ministério da Educação (1997) onde etária do pré-escolar, como meio de integração escolar e preventiva
refere: “a exploração de diferentes formas de movimento permite das dificuldades de aprendizagem.
ainda tomar consciência dos diferentes segmentos do corpo, das suas A capacidade de aprendizagem de cada criança depende também do
possibilidades e limitações, facilitando a progressiva interiorização educador como mediador de oportunidades e da adequação ao estímulo,
do esquema corporal e também a tomada de consciência do corpo mas também das motivações e capacidades das crianças, o que exige em
em relação ao exterior” (p.58), constituindo assim “um meio facili- termos desenvolvimentais a possibilidade de experimentar actividades
tador da compreensão no sentido da expressividade motora única, que desenvolvam competências psicomotoras numa atmosfera lúdica.
original e individual de ser e estar no espaço como consequência do Espera-se que a presente investigação possa contribuir para o apro-
funcionamento psíquico da criança”. (Sanchez, Martinez e Penalver fundamento do conhecimento nesta área de estudo, que tem sido ne-
2003). Deste modo, a psicomotricidade deve ser encarada como uma gligenciada, ainda mais na idade do pré-escolar, pelo que não existem
educação corporal básica e um meio de expressão, opinião também muitos dados com os quais analisar os resultados obtidos e pelo que,
sublinhada por (Fonseca 2003), quando afirma que “é (…) pela sua devido à sua complexidade, envolve, por vezes, intervenções pouco
actividade psicomotora total, que a criança aprende vários tipos de claras e objectivas.
participação e realização social, e se apropria de tarefas lúdicas, es- Como recomendações para trabalhos futuros, destaca-se a necessi-
colares, culturais, etc.” dade de aumentar a amplitude da amostra, nomeadamente nas dife-
O conhecimento global do corpo e das suas partes representa um rentes faixas etárias, bem como a extensão a outras variáveis de es-
suporte fundamental para o acto de escrever, permitindo mecanismos tudo, o que permitirá dar continuidade a resultados mais específicos
sensoriais de “feed back” que monitorizam os movimentos. (Alston e na população considerada.
Taylor, 1987).
Gráfico 3. Comparação entre os diferentes grupos etários Gráfico 4. Comparação entre géneros nas diferentes faixas etárias
– Género Feminino
Boscaini, F. (2003). O desenvolvimento psicocorporal e o papel da Psicomotricidade. A Psico- para a aquisição e desenvolvimento de competências científicas e
motricidade, Vol. 1, n.º 2, 20 - 26. pedagógicas que sejam relevantes para o trabalho dos docentes
Bruininks, R. H. (1978). Bruininks – Oseretsky Test of Motor-Proficiency, Examiners Manual.
Minnesota: American Guidance Service.
e particularmente para a sua a actividade lectiva.
Condemarin, M. & colaboradores (1986). Maturidade escolar. Manual de avaliação e desenvol- Contempla ainda e um regime transitório de integração na nova
vimento das funções básicas para a aprendizagem escolar. Rio de Janeiro: Enelivros. estrutura da carreira que tem em consideração os direitos dos
Fonseca, V. (1999). Insucesso escolar. Abordagem psicopedagógica das dificuldades de apren-
docentes que nela se encontram providos.
dizagem. (2.ª ed.). Lisboa: Âncora Editores.
Fonseca, V. (2003). O Corpo da Cultura: da evolução corporal à evolução cultural. A Psicomo-
tricidade, Vol. 1, n.º 1, 7-23. Decreto regulamentar (aprovado em Conselho de Ministros
Henderson, S. E. & Sugden, D. A. (1992). Movement ABC – Assessment Batery for Children. de 25 de Outubro de 2007)
United Kingdom: The Psychological Corporation – Harcourt Brace Jivanovich, Publishers.
Martins, R. (2001). Questões sobre a Identidade da Psicomotricidade – As práticas entre o
Para a regulamentação do Estatuto da Carreira Docente, o Conse-
Instrumental e o Relacional in Fonseca, V. & Martins, R.(Ed.), Progressos em psicomotricidade. lho de Ministros aprovou o projecto de decreto regulamentar que
Cruz Quebrada: Faculdade de Motricidade Humana (pp.29-40). define os mecanismos indispensáveis para a aplicação do novo
Ministério da Educação (1997). Orientações curriculares para a educação pré-escolar. Lisboa: sistema de avaliação de desempenho dos professores e prevê
Ministério da Educação.
Naglieri, J. A. (1988). Draw A Person – A Quantitative Scoring System. The Psychological Cor-
novos instrumentos que virão a ser utilizados para avaliação de
poration Harcourt Brace Jovanovich. Inc. desempenho dos educadores de infância (o Dec. Regulamentar e
Sánchez, P. A., Martinez, M. R. & Peñalver, I. V. (2003). A psicomotricidade na educação infantil os Instrumentos de Avaliação estão disponíveis em http://apei.
– uma prática preventiva e educativa. Porto Alegre: Artmed. no.sapo.pt)
Silva, E.C. (1998). Desenvolvimento da criança e autoconceito – Estudo da imagem corporal,
grau de criatividade e organização perceptivo-motora em crianças em idade escolar com e
sem actividades de tempos livres. Monografia não publicada, com vista à obtenção de diploma Despacho n.º 12 591/2006 de 16 de Junho de 2006
de estudos superiores especializados. Escola Superior de Educadores de Infância Maria Ulrich, Definição das orientações relativas às actividades de enriqueci-
Lisboa.
mento curricular
Silva, E.C. (2005). Estudo da relação entre algumas competências psicomotoras e a capaci-
dade grafomotora em crianças de idade pré-escolar. Monografia não publicada, com vista O presente despacho aplica-se aos estabelecimentos de educa-
à obtenção de Grau de Mestre em Educação Especial. Faculdade de Motricidade Humana / ção e ensino público nos quais funcione a educação pré-escolar e
Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa. o 1.º Ciclo do ensino básico e define as normas a observar no pe-
Torres, R. & Fernández, P. (2002). Dislexia, disortografía e disgrafía. Amadora: McGraawHill.
Vygotsky, L.S., & Luria, A. R. & Leontiev (1977). Psicologia e Pedagogia I. Lisboa: Editorial
ríodo de funcionamento dos respectivos estabelecimentos bem
Estampa.
como na oferta das actividades de animação e de apoio à família
e de enriquecimento curricular.
1) Artigo publicado nas revistas “A psicomotricidade” (2005) n.º 5, da Associação Portuguesa
de Psicomotricidade e Ricerche e Studi in Psicomotricitá, Anno XIV n. 3, Deciembre 2006 Circular n.º 17/DSDC/DEPEB/2007 (Direcção-Geral da Inovação
e Desenvolvimento Curricular)
A Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular
em articulação com as Direcções Regionais de Educação e com
a Inspecção-Geral de Educação, concebeu o documento “Gestão
do Currículo na Educação Pré-Escolar - Contributos para a sua
Operacionalização”.
Este documento integra princípios sobre a organização curricular,
procedimentos a ter em conta na avaliação na Educação Pré-
Escolar, bem como questões relacionadas com a organização e
gestão da componente de apoio à família e a articulação entre a
Educação Pré-Escolar e o 1.º Ciclo do Ensino Básico.
32%
Isabel Maria Tomásio Correia . Directora do Centro de Formação da APEI 68%
Um olhar sobre a dinâmica formativa Como nos é dado a conhecer através dos
Quem escolheu ser professor [leia-se profissio- gráficos, o Plano foi constituído por acções Acções Não Financiadas - % de acreditação
nal de educação], escolheu a mais impossível, de formação financiadas pelo programa
mas também a mais necessária, de todas as PRODEP III e por acções não financiadas; Não Financiadas Não Financiadas
profissões. E sabe que não vale a pena acreditar incluiu acções acreditadas pelo Conselho Acreditadas Não Acreditadas
que podemos tudo, que podemos tudo trans- Científico Pedagógico da Formação Contí- 0% 20% 40% 60% 80% 100%
formar. Não podemos. Mas podemos alguma nua – CCPFC e por acções não acreditadas.
coisa. E esta alguma coisa é, muitas vezes, “a Constatamos que a maior percentagem de Acções Financiadas - programa PRODEP III
coisa decisiva” na vida das nossas crianças... acções executadas recai sobre formação não n.º Formandos assoc. não assoc.
António Nóvoa, 2007 financiada pelo PRODEP III e não acreditada
pelo CCPFC, o que nos leva a inferir que os 50
Concluído que está mais um ano lectivo formandos que frequentaram as acções de 40
(2006/2007), pretende-se com o presente formação não tiveram necessidade de crédi- 30
documento lançar um olhar sobre a dinâmica tos para progressão na carreira. 20
formativa promovida pelo Centro de Forma- O Centro de Formação tem âmbito nacional, pelo 10
ção da APEI. Impõe-se fazer o balanço do que tem vindo a desenvolver esforços, no senti- 0
Norte Centro L VT Alentejo
trabalho desenvolvido, bem como dos resul- do de dinamizar formação em todas as regiões.
tados alcançados, com base, essencialmen- Constata-se que os formandos não associados Acções não financiadas (dist. p/região e n.º formandos)
te, em dados recolhidos nos inquéritos que o têm uma maior representatividade, o que muito Lisboa V. Tejo Centro Algarve
Centro de Formação usualmente utiliza para nos apraz, pois é um indicador de que estamos 60
recolha de informação. Aproveitamos tam- a conseguir ir ao encontro de novos públicos, e
40
bém esta oportunidade para permitir a todos por conseguinte a “captar” novos Associados.
os Associados e leitores um olhar estatístico A formação realizada abrangeu todos os níveis 20
sobre os dados da formação realizada. de educação e ensino (Educação Pré-escolar,
0
Números são números. Muitas vezes é ne- 1.º, 2.º, 3.º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Se-
P.Socor.
LGP
Exp.Oral
Mat
G.Confl.
Aval.
sim
não
cessário ler para além deles, desocultando, cundário) levando a que um número cada vez
através de indicadores vários, o que verdadei- maior e mais diversificado de profissionais se Designação das acções Associado
ramente nos interessa. Tentaremos, sempre identifiquem e frequentem as acções propos-
que possível, fazer esse exercício, sendo cer- tas pelo Centro de Formação da APEI. Ateliers (acções de curta duração) 2007
to que nos é difícil manter o distanciamento A formação realizada também abrangeu Pes-
Atelier 01 A Atelier 2 Atelier 4 Atelier 5
necessário, por sermos actores interessados soal Não Docente (Auxiliares de Acção Educa-
20
e comprometidos no próprio processo. tiva), que com grande empenho da Direcção
16
Antes de mais, poderá referir-se que, no essen- da Associação, teve possibilidade de frequen-
cial, o plano no período em análise foi executa- tar formação neste Centro. Pena que os cortes 12
do na sua quase totalidade, sendo convenien- financeiros não tenham permitindo dinamizar 8
te (re)lembrar que a planificação da formação acções financiadas junto deste público. 4
é feita por ano civil e não por ano lectivo. Não Regozija-nos registar a consolidação da ima- 0
obstante, no início de um novo ano escolar, gem deste Centro de Formação junto do Pes-
Educadores
1º ciclo
sim
não
o.funções
estudante
consideramos pertinente dar a conhecer a di- soal Docente e que se tem vindo a alargar, de
nâmica formativa no ano transacto. forma crescente ao Pessoal Não Docente. Público Alvo Associado
Colocámos ao alcance dos profissionais de Gostaríamos ainda de salientar o elevado grau
educação uma oferta formativa diversificada, de satisfação final dos formandos, o reconhe- Aux. de Acção Educativa Região (Lisboa e Vale do Tejo)
tendo a mesma sido validada e reconhecida cimento do elevado potencial de aplicabilidade Não Associado
Associado
pelo número significativo de profissionais dos conteúdos da formação na actividade de
25
Nº de formandos
A Biblioteca Escolar
Carlos Guardado da Silva
O presente artigo consiste numa breve reflexão e em simultâneo num testemunho do “vivido” Com a reforma geral dos programas e as
pelo Dr. Carlos Guardado, formador no centro de formação da APEI, na área das bibliotecas novas concepções e práticas pedagógicas
escolares. pós-25 de Abril, as BE adquiriram uma nova
Dinamizou duas acções de formação; “O Papel e Função da Biblioteca Escolar” na modalidade importância, multiplicando-se as referências
de curso, 25 horas, na Escola Superior de Educação de Leiria, ao longo dos meses de Março às mesmas, sobretudo a partir da Lei de Ba-
e Abril de 2007 e “Organização e Gestão de Bibliotecas Escolares”, na modalidade de oficina, ses do Sistema Educativo, de 1986.
50 horas, na Escola Básica 2, 3 D. João II nas Caldas da Rainha, ao longo dos meses de Abril, Mas as BE encontravam-se ultrapassadas, e já
Maio e Junho de 2007. não respondiam às necessidades das Comu-
nidades Educativas que visavam servir, quer
porque a sociedade mudou, quer porque o
próprio conceito de Biblioteca, e especifica-
mente da BE, mudou, alterando-se, conse-
quentemente, as necessidades e as expec-
tativas dos seus utilizadores, com destaque
para os alunos.
Até 2015
1 Diminuir a extrema pobreza e a fome pela metade.
O número de pessoas que vive com menos de um dólar por dia e que tem fome deve diminuir pela metade.
6 O HIV/AIDS e a malária serão combatidos. Aproximadamente 50 milhões de pessoas no mundo são portadoras do HIV/AIDS.
...e porque a fotografia é um óptimo instrumento de trabalho, que deve ser potencializado, os Cadernos de Educação de Infância
organizam este espaço dedicado à divulgação de trabalhos fotográficos dos associados e de outros interessados.
Envie-nos o seu contributo para APEI - Bairro da Liberdade, Lote 9, Loja 14, piso 0, 1070-023 Lisboa
...e porque a fotografia é um óptimo instrumento de trabalho, que deve ser potencializado, os Cadernos de Educação de Infância
organizam este espaço dedicado à divulgação de trabalhos fotográficos dos associados e de outros interessados.
Envie-nos o seu contributo para APEI - Bairro da Liberdade, Lote 9, Loja 14, piso 0, 1070-023 Lisboa
Um dos desafios postos para a educação infan- acontecimento entre acontecimentos, constru- o processo de conhecimento do ser humano,
til é a elaboração de projetos pedagógicos que ção cultural entre construções. principalmente na infância, período de consti-
contemplem a formação integral das crianças Um exemplo é o engatinhar, quase sempre tuição da função simbólica.
com as quais actuamos. Para contribuir nesse visto como uma preparação para o andar. Mas A música, por exemplo, é uma das formas de
debate, proponho aqui uma reflexão sobre a para a autora esse é um acontecimento em que expressão artística que mais une os indivíduos.
educação da sensibilidade, o que implica co- a criança constrói um novo lugar no mundo, no A cantiga de ninar é algo comum a muitos seres
locar a criança no centro de todas as acções qual, nas suas relações espaciais, se produz um humanos em várias culturas. Ser embalado é
educativas, sendo em torno da sua realidade, determinado olhar e uma consciência dos es- uma das primeiras experiências de movimento
da sua cultura e das suas necessidades que paços sociais. que a criança vivencia, e a cantiga contém rit-
deve ser pensado as acções pedagógicas. Ver a infância como acontecimento é percebê-la mos que o indivíduo conhecerá e reconhecerá a
Ao enfatizar a criança no projecto educativo, construindo uma cultura própria, a cultura in- vida toda. Um outro exemplo são as artes plás-
parte-se de uma determinada compreensão fantil, ou seja, é reconhecer a complexidade e as ticas: pintar um quadro, desenhar ou esculpir
sobre a infância, que não se reduz a um dado especificidades das suas manifestações. Picasso, funciona como elemento organizador do real,
da natureza, mas sim como uma construção o pintor espanhol, já afirmava: “Levei 20 anos como forma de narrar o quotidiano e socializar
histórica e cultural. A criança deixa de ser vis- para pintar como Rafael e toda uma vida para essa narrativa com os outros indivíduos.
ta como um dado universal, se constituindo pintar como criança”. Ele aponta a complexidade É necessário ressaltar as implicações directas
como uma criação sociocultural. Não existe plástica da pintura infantil, que é uma das refe- dessas considerações para a educação infantil.
infância, mas infâncias. rências para a arte moderna. Reconhecer a cul- A arte deve ser vista como um recurso educa-
A infância como uma construção cultural foi, tura da criança é reconhecer que o infantil não é tivo para a construção do saber e, como tal,
e é, influenciada por uma determinada leitura a mesma coisa do infantilizado. O que queremos deve ser utilizada. Não deve ser reduzida a uma
que se produziu sobre o tema. A teoria dos sugerir é a necessidade de superar uma perspec- forma lúdica de preencher lacunas ou tempos
estágios do desenvolvimento cognitivo, de um tiva etapista e infantilizadora da infância, apre- vagos, numa perspectiva muito comum de ins-
lado, contribuiu para conhecermos as diferen- endendo a criança como sujeito social, produtor trumentalizar a arte. O fazer artístico na insti-
tes fases do conhecimento. Mas, por outro e produto da cultura, que na singularidade da tuição educacional tem muito a contribuir para
lado, veio reforçar uma concepção etapista, ou sua experiência constrói uma cultura própria. a constituição e o exercício de procedimentos
seja, colocou o desenvolvimento humano numa Mas qual seria a singularidade dessa cultura? O cognitivos que estão ligados à construção do
forma universal, como se qualquer criança, em conhecimento existente sobre a infância nos conhecimento. É uma situação de interacção
qualquer lugar, passasse pelas diferentes eta- mostra várias características da cultura infantil. entre o indivíduo e o objecto de conhecimento
pas ao mesmo tempo e da mesma forma. Há Entre elas, podemos citar: a imitação como uma culturalmente acumulado (LIMA, 2003). Desta
uma tendência em vê-la vivendo um período no operação complexa, que é fundamental para a forma, a música, a dança ou a história da arte
qual deveríamos intervir para fazê-la chegar a introjecção da realidade; a imaginação, que é deveriam ser trabalhadas com as crianças des-
um outro posterior. Essa concepção traz o ris- o mecanismo básico de apreensão do mundo; de cedo, constituindo um dos conteúdos do
co de compreendermos a criança sob o ângulo a repetição, que permite à criança experimen- currículo. Acreditamos, assim, num processo
das etapas, não valorizando o momento real, tar suas emoções e elaborar suas vivências ou educativo que trabalhe a totalidade da criança,
concreto, no qual ela está situada. mesmo o grupo de pares por meio do qual vai tendo na educação da sensibilidade uma das
Com isso, não enxergamos a criança como aprendendo a arte de viver colectivamente, en- suas principais estratégias.
sujeito real, com demandas e necessidades tre outras características. Para finalizar, é importante lembrar, com Nilton
próprias do seu tempo. É necessário ques- Nesse contexto, investir na educação das sen- Fischer, que as propostas pedagógicas deve-
tionar essa ideia da criança como um ser que sibilidades é um dos desafios para os educa- riam conter uma única frase: “toda criança de-
já traz em si o futuro adulto, futuro esse que dores infantis. OSTROWER (1986) nos diz que verá ser feliz na escola!” E o que faz uma crian-
vai chegar a partir de uma continuidade de todo ser humano nasce com um potencial de ça feliz na escola é deixá-la brincar, desenhar,
estágios já pré-definidos e traçados. sensibilidade que precisa ser desenvolvido. En- cantar, pintar, esculpir ou dançar. Acredito que
Sugerimos aqui uma outra ideia a partir das tendemos, assim, que a sensibilidade é a porta deve ser essa uma das tarefas dos profissionais
reflexões de GOUVÊA (2003). NO seu texto, de entrada das sensações, ou seja, é através que actuam com a educação infantil.
a autora nos fala da necessidade de conside- dos diferentes sentidos, como o tacto ou a
rarmos a infância como um acontecimento, visão, que estabelecemos relações com o mun- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ou seja, “como vivências descontínuas, que do. Educar para a sensibilidade significa desen- GOUVÊA, Maria Cristina Soares. Infância: entre a anteriorida-
marcam rupturas, que não se sucedem, mas volver a capacidade da criança de apreender o de e a alteridade. Belo Horizonte: UFMG, 2003 (mimeo)
LIMA, Elvira Souza. A criança pequena e suas linguagens. São
se confrontam”. Sugere pensar a infância não mundo que a rodeia. Para isso, um dos meios
Paulo: Sobradinho,2003 (Coleção Criança Pequena).
como degraus de uma escada cujo ápice seria mais importantes é a arte. LIMA (2003) nos OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Pe-
o adulto, mas como camada entre camadas, lembra que a arte tem uma relação íntima com trópolis: Vozes,1986. 5ª edição
“A escola converte-se, hoje, numa comuni- se situa, começou a questionar-se o sistema ge-se alguma continuidade entre as práticas
dade de vida e de aprendizagem, num es- como o centro do problema. passadas, as presentes e futuras.
paço de cultura e formação, onde se apren- Ambos os esquemas que se seguem colocam Para isso têm-se desenvolvido esforços que
dem os conceitos, procedimentos e valores o aluno no centro, mas as variáveis que in- promovem novas formas de organização da
da experiência humana, através da troca de fluenciam a sua aprendizagem são de natu- escola, têm surgido investigações sobre os
significados e de vivências com os colegas e reza diferente, sendo no primeiro esquema factores favoráveis ao sucesso da aprendi-
adultos. Assim, aprende-se ao mesmo tem- atribuídas a limitações pessoais e no segun- zagem e essencialmente tem-se procurado
po que se vive e vive-se ao mesmo tempo do a limitações do sistema educativo (Adap- desenvolver e aperfeiçoar a formação de
que se aprende”. tado de Costa, et al 2006). professores de forma a transformar as suas
Pérez Gómez, 1995 Começamos, então, a assistir a um movi- atitudes e a promover a mudança das práti-
mento em que o enfoque do problema é co- cas sem que percam as suas referências, pois
A escola do novo século herda do passado o locado no contexto escolar e não nos alunos. a inovação implica um equilíbrio cuidadoso
paradigma da homogeneidade e com ele um Desta forma, torna-se urgente reestruturar entre a salvaguarda do que existe e a mu-
conjunto de variáveis que constituem, em si- as escolas de modo a que reconheçam a di- dança.
multâneo, uma volumosa preocupação e um ferença e a diversidade como um factor de
permanente desafio. Os desafios da escola enriquecimento e de desenvolvimento. Escola - organização onde os professores
actual têm a ver com aquilo que a sociedade Em termos políticos, pede-se à escola que, e os alunos aprendem… em conjunto:
espera da escola - um é de carácter socio- aliada à massificação do ensino, garanta a “Não é possível prescrever o que se tem de
lógico, outro cultural, outro operacional e o permanência dos alunos nos seus estabele- mudar, quanto mais complexa é a mudança
último enquadra nos anteriores e tem a ver cimentos e que assegure a massificação do menos poderá ser forçada; a mudança tem
com o papel do professor. sucesso educativo. Para enfrentar este de- de ser apropriada e construída pelas pesso-
Ao longo dos tempos, uma grande mudança safio apresenta-se-nos um triplo problema: as nas complexidades dos contextos. A utili-
nos papéis e funções dos professores tor- por um lado não podemos permanecer como zação de dispositivos facilitadores e de con-
nou-se, assim, urgente a definição de uma estamos; mas, por outro, não podemos dições estimuladoras e de suporte individual
matriz básica para que os diversos profissio- construir uma escola nova sobre alicerces e colectivo é condição indispensável.”
nais tenham uma linha de acção comum e arcaicos e conservadores; e, por outro, exi- Fullan, 1993 (in Alonso,2000)
desenvolvam um trabalho cooperado. Este
não se pode resumir a ser “técnico” ou “fun-
Esquema 1 Não responde
cionário” (Rodrigues, 2006, p. 79), mas sim Não consegue aprender
um profissional versátil, criativo, autónomo,
capaz de desenvolver planos de intervenção Precisa de professores especiais Tem necessidades especiais
em condições muito diversificadas - trans-
A criança
formar-se num cientista capaz de enfrentar
Precisa de um ambiente especial como Precisa equipamento especial
todos os desafios que a escola actual lhe
coloca. problema
A conceptualização de educação inclusiva É diferente das outras crianças Não pode ir para a escola
não pode ser vista separada desta pano-
râmica geral de escola, que corresponde a
Esquema 2
uma ruptura com os valores tradicionais e Atitudes dos professores
aparece em sequência de uma insatisfação
generalizada com os métodos, estratégias e Métodos rígido
Formação pouco adequada
metodologias da escola tradicional, que dei- Currículo rígido
xava de fora os alunos com características A criança
Falta de ajuda técnica como
individuais de natureza física, psicológica, e equipamento
Ambientes inacessíveis
cognitiva, étnica e cultural. problema
Na perspectiva tradicional, as diferenças Elevado abandono escolar
Falta de desenvolvimento dos pais
e repetência
individuais eram vistas e sentidas como um
problema do aluno. Actualmente e tendo em Falta de apoio às escolas
conta o contexto ecológico em que aquele e aos professores
regulares das necessidades para identifi- E poderemos também fazer referência a ou- lidade, orientado por princípios e finalidades
car os tipos e conteúdos de assistência tras experiências desenvolvidas em Portugal que dão sentido e coerência às decisões, ba-
técnica mais necessária e urgente; e noutros países que conseguiram identificar seado no diagnóstico das necessidades, ba-
• 7.º Elemento – Manter a flexibilidade, uma série de pontos-chave que acompa- seado numa planificação e gestão participa-
para se incluir a todos, a escola deve ser nham e sustentam a melhoria das escolas. da, articulado em torno de questões pessoal
flexível e aberta à diferença; Eles são: e socialmente relevantes, concretizado com
• 8.º Elemento – Examinar e dotar aborda- • Trabalho colaborativo entre professores e base em actividades integradoras, significa-
gens de ensino efectivas e diversificadas, uma comunicação efectiva entre estes e tivas e contextualizadas na experiência dos
pois os alunos não aprendem da mesma o Conselho Executivo; alunos e que integre a avaliação e a investi-
maneira, nem têm os mesmos ritmos e • A resolução conjunta de problemas; a gação como elemento de enriquecimento e
estilos de aprendizagem; gestão dos tempos de partilha para aná- desenvolvimento do projecto.
• 9.º Elemento – Comemorar os sucessos lise e discussão de práticas encarando a Quando falamos de formação não podemos
e aprender com os defeitos pois um insu- aprendizagem como um processo contí- esquecer de que ela é o «motor» de desen-
cesso é sempre uma nova oportunidade nuo em permanente aperfeiçoamento; volvimento de uma certa comunidade, de
para a melhoria; • A liderança partilhada, sendo os elementos um certo grupo e que os saberes adquiridos
• 10.º Elemento – Estar a par do processo internos da escola a assumir a liderança ao longo da vida de uma pessoa têm de ser
de mudança, mas não permitir que ele na criação e implementação de planos de reconhecidos e valorizados e sempre que
paralise, isto é, a mudança não ocorre de desenvolvimento e a existência de um ele- possível enquadrados no contexto em que
um momento para o outro, mas sim em mento externo – denominado amigo críti- o adulto se encontra integrado. A experi-
pequenos avanços (e por vezes alguns co, capaz de olhar a realidade escolar com ência, independentemente da área em que
recuos) e a aceleração do processo pode maior distanciamento poderá constituir um nos situamos, é um factor muito importante
fazer com que os indivíduos rejeitem as contributo valioso no apoio à mudança; no percurso de qualquer profissional desde
novas práticas e sabotem os esforços da • E por último estabelecer uma rede de que seja um processo reflexivo a fim de evi-
mudança. apoio entre escolas para favorecer a tar «conformismos» que levam a quebras de
sustentabilidade das práticas educativas qualidade na educação.
Salmons, Hillman e Mortimer cit por Rodri- (Caldeira, E. et al, 2004). A escola é habitualmente pensada como o
gues (2001) identificam características nas local onde os alunos aprendem e os pro-
escolas promotoras de sucesso, elas são: Uma última publicação do Professor Luís fessores ensinam. Esta é, sem dúvida, uma
• Uma liderança profissional forte da ges- Miranda Correia (2005) também nos fala dos ideia simplista, não apenas os professores
tão da escola; princípios gerais para a construção de esco- aprendem como aprendem aquilo que é
• Uma análise dos objectivos partilhada en- las inclusivas, eles são: verdadeiramente essencial: a sua profissão.
tre os profissionais; • O sentido de comunidade; Exemplo disso é o resultado de um projecto
• Um ambiente de escola que valorize a • A liderança; desenvolvido nalgumas escolas portuguesas
aprendizagem de todos; • A colaboração e cooperação; e relatado no manual “Aprender com a Diver-
• Professores empenhados na melhoria do • Flexibilidade curricular e serviços; sidade – um guia para o desenvolvimento da
ensino; • Formação; escola” editado pelo Alto Comissariado para
• Altas expectativas dos professores face • Serviços de Educação Especial; a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME).
aos alunos; • Apoios Educativos. O referido projecto organizou-se a partir da
• Professores que reforçam positivamente aplicação dos questionários do “Index for
os progressos dos alunos; Como verificamos, é sobejamente referen- Inclusion” dirigidos a toda a comunidade es-
• Controlo individual próximo dos alunos e ciado na literatura quais os factores que le- colar e de onde resultou a identificação das
a avaliação é usada para a planificação; vam à construção de escolas de qualidade; barreiras à inclusão, ao nível da cultura, polí-
• Os direitos e responsabilidades dos alu- no entanto, a evolução a que temos assisti- ticas e práticas, e a partir iniciou-se um pro-
nos são reconhecidos; do é, por vezes, tão rápida que deixa pouco cesso de resolução conjunta de problemas.
• Existem boas relações entre a escola e a espaço para a reflexão e discussão das impli- Ora, cada vez mais os professores têm de
família; cações geradas pela própria mudança. desenvolver processos que promovam a aná-
• A escola é uma organização onde todos Cabe-nos a nós, enquanto profissionais, lise de contextos, a colaboração, a liderança
aprendem em conjunto – alunos e pro- construirmos um projecto curricular integra- partilhada e a aprendizagem através da ac-
fessores. do com características de abertura e flexibi- ção em contextos reais de formação.
O Stress e a aprendizagem
Em pleno século XXI, assistimos cada vez de aprendizagem das nossas crianças e jovens. cadores demasiados austeros na sua prática
mais à difusão de um fenómeno global, que Observa-se sobretudo uma: pedagógica que utilizam frequentemente
designamos por stress e que afecta de forma - Diminuição da capacidade para distinguir ameaças (ex., humilhação, castigos) para
transversal todas as faixas etárias. o essencial do acessório; controlar o comportamento dos educandos.
Todos nós já passàmos por situações em que - Inibição da memória de curta duração e A fim de se intervir ou evitar situações ge-
nos sentimos stressados, ou observámos ou- da capacidade de formar memórias de radoras de stress, torna-se necessário que
tros que se sentiam dessa forma. longa duração; os educadores utilizem algumas estratégias
O stress é uma reacção normal e saudável do - Maior susceptibilidade para desenvolver específicas, tais como:
organismo, quando exposto a uma situação doenças (ex., ter uma crise de asma antes - Ensinar aos educandos técnicas de gestão
de ameaça física, emocional ou social. de uma situação de avaliação); do stress, sobretudo ao nível das compe-
O organismo de um indivíduo exposto a uma - Adopção de comportamentos hostis tências relacionais, do controlo do tempo
situação stressante desencadeia uma série como mecanismo de defesa a qualquer e técnicas respiratórias;
de reacções físicas (ex., aumento da pressão estímulo percepcionado como ameaçador - Utilizar métodos pedagógicos mais dinâ-
arterial) devido a uma elevada libertação de que provenha do exterior. micos (ex., jogos, dramatizações, visuali-
cortisol das glândulas supra-renais. São atribuídas como as causas prováveis zações criativas.)
Esta reacção bioquímica, por si só, não é negativa, do desenvolvimento do stress crónico: - E, fundamentalmente, ter o cuidado de
pois permite alertar o indivíduo para um estímulo - Um ambiente familiar violento; utilizar menos a ameaça e investir mais na
vindo do exterior a que tem de dar resposta. - No ambiente escolar: condições de sobre- negociação, em situações potencialmente
Porém, perante uma situação que provoque lotação; dificuldades nos relacionamentos geradoras de stress, tanto para o educa-
stress crónico, esta resposta torna-se disfuncio- interpessoais entre educandos; uma ilumi- dor como para o(s) educando(s).
nal, afectando o comportamento e a capacidade nação desadequada das salas de aula; edu-
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Sábados Temáticos Não existe um modelo fixo que determine A Animação Sócio - Educativa em Jardim de
– O porquê desta iniciativa? o Sábado Temático, são os convidados que, Infância Pela Familia *
através da sua disponibilidade e natural ca- Processo de Validação de Competências
pacidade de transmitir conhecimento, lan- Profissionais e Académicas das Auxiliares de
çam e propiciam a reflexão conjunta. Acção Educativa
Agradecemos aos nossos participantes assídu- Intervenção Educativa no Contexto de Cre-
os que fazem desta iniciativa um sucesso e a che: Novos Desafios
todos os profissionais da educação que atra- Aprender a “Fazer” Matemática na Educação
vés do seu contacto revelam interesse pelos de Infância *
resumos apresentados no sítio da APEI e que Os Recreios: Constrangimentos e Potencia-
nos incentivaram a descentralizar a iniciativa. lidades
A descentralização, face a todas a contingên- Envolver as Famílias no Processo Educativo
cias logísticas e disponibilidade humana que – As Potencialidades das TIC a)
A APEI promove desde 2005 a realização carece para ser efectuada, não é uma tarefa * realizados também em Santarém
de Sábados Temáticos, tendo sido possível, fácil e apenas a boa vontade e participação a) realizado apenas em Santarém
a partir do último trimestre de 2005, apre- empenhada de alguns associados possibilita
sentar aos seus associados e interessados essa realização.
na educação de infância em geral uma calen- O interesse dos profissionais que aguardam com Interacção com a família na creche e no
darização anual da iniciativa a qual acontece expectativa o calendário anual, para procederem jardim-de-infância:
com periodicidade mensal. à sua efectiva inscrição, é o melhor sinal que esta “De mãos dadas ou de costas voltadas”
Tem sido objectivo da APEI propor e acolher te- é uma iniciativa em constante renovação a que
mas sugeridos pelos profissionais, quer por aque- vale a pena dar continuidade, fundamentalmen-
les que já participam com alguma assiduidade te, porque acreditamos que a mesma constitui
neste espaço formativo, quer daqueles que não um valor acrescentado para a formação e para o
tendo estado presentes gostariam de os abordar desenvolvimento profissional.
ou mesmo de ver renovada a sua apresentação. Apresentamos a listagem dos temas abor-
Pretende-se que esta actividade constitua dados nos Sábados Temáticos realizados até
um espaço e um tempo de partilha e reflexão Junho de 2007:
sobre a prática e sobre saberes entre profis-
sionais de Educação de Infância, mas igual- Autoformação dos Educadores de Infância
mente se deseja aproveitar esse momento A Creche e a Intencionalidade Educativa
para dar a conhecer algumas iniciativas e O Papel do Educador de Infância nos Agru- Foi-nos lançado/Lançaram-nos um desafio:
sobretudo o entrecruzar de conhecimentos. pamentos partilhar características da nossa prática pe-
Por tal facto não são apenas educadores a falar Sim ou Não à Definição de Competências na dagógica a um grupo de alunas do Curso de
para educadores, temos o grato prazer de ter Educação Pré-Escolar Educação de Infância da Escola Superior de
tido como convidados, entre outros, um soci- O Desenvolvimento das Emoções Educação de Viseu – Pólo de Lamego (12 de
ólogo, uma professora de filosofia, um centro A Literacia no Jardim-de-Infância Julho 2007), pela professora Rute Moura.
de formação profissional de auxiliares de acção Intervenção Precoce no Concelho de Loures Na perspectiva de partilha e troca apresen-
educativa, uma contadora de histórias, etc. Expressão Musical támos um trabalho/powerpoint através do
Também os nossos convidados são surpre- Uma Europa Para Todos qual realçámos a importância da interacção
endidos pela reflexão, troca de ideias e expe- Planificação e Registo no Jardim-de-Infância * com as famílias. Estruturámos a apresenta-
riências do momento vivido. Educação Estética ção através de um enquadramento legal e
Acreditamos que o sucesso desta iniciativa A Educação de Infância em Reggio Emília * perspectivando os benefícios e os obstácu-
reside no propiciar momentos não apenas de Educação Para as Ciências los que poderão surgir nesta relação.
formação, mas por possibilitar a todos o pre- Crianças de Rua Ao longo da apresentação recorremos às es-
sentes, de uma forma informal, o tempo e Competências na Educação Pré-Escolar tratégias utilizadas na intervenção educativa,
espaço para o pôr, em comum, o quotidiano Filosofia Para Crianças nomeadamente a participação das famílias em
dos pequenos grandes momento que fazem A Animação Sócio - Educativa em Jardim de actividades/momentos relacionados com os
o dia-a-dia destes profissionais Infância Pela Equipa Educativa Projectos Curriculares de Sala e Educativos.
Gostaríamos de realçar um aspecto comum 2ª Sessão: “Alimentação saudável” foi con- ções desfavorecidas, que não dispunham, na
nas nossas práticas pedagógicas: no final do duzida pela Prof.ª Isabel do Carmo. Aqui maioria das vezes, da companhia dos pais.
ano lectivo propomos um espaço e / tempo foram debatidos os erros alimentares que Nesse contexto, foi salientada a importância
cultural com as famílias, para que de mãos ocorrem no nosso quotidiano. A sociedade de ajudar as crianças a aprenderem a gerir
dadas se termine o ano lectivo num ambiente contemporânea foi “invadida” por comida os seus sentimentos e afectos, para poderem
lúdico e que enriquece as relações sociais. Al- hipercalórica e pouco nutritiva, que, graças enfrentar os seus medos e inseguranças. É
guns dos momentos já realizados: passeio ao às campanhas publicitárias destinadas a um importante não se mentir à criança, uma vez
Oceanário, ao Badoka Park, à Livraria Bichinho público infanto-juvenil, induzem a um con- que pode levar à perda de confiança.
de Conto e ao Planetário Calouste Gulbenkian. sumo excessivo de refeições de custo redu- Cada vez mais a ligação Escola-Comunida-
“A relação com cada família resultante de pais zido (rica em calorias, gorduras e açúcares) de-Família (entenda-se por Família neste
e adultos da Instituição serem co-educadores em prol de uma alimentação saudável, na contexto os Pais) tende a diminuir, levando
da mesma criança, passando pela troca de in- qual constam, entre outros alimentos, os ve- à compartimentação da vida da criança.
formações sobre o que lhe diz respeito, como getais, a fruta e os iogurtes. Como resultado É importante saber a origem dos problemas
está na Instituição, qual o seu progresso, os desta alimentação deficitária, e tendo em que afectam a estabilidade física e emocio-
trabalhos que realiza…” (DEB, 1997, p. 43). conta os aspectos padrão da sociedade que nal das crianças, e não considerá-las como
vivem em função das aparências, as nos- sendo o problema.
Educadoras de Infância: sas crianças, e adolescentes, crescem com É igualmente importante saberem viver com
Patrícia Carvalho maior probabilidade para desenvolverem, regras e deveres, direitos e obrigações, si-
Rita Banza (ritabanza@iol.pt) num futuro próximo, doenças do comporta- tuações boas e más, e aprender que temos
mento alimentar. Cabe a nós, como pais e que lutar e fazer por merecer.
educadores, ensiná-los a dosear e adquirir Conscientemente devemos ser criativos com
“Como Pais, o que fazemos?” os princípios básicos duma alimentação com a nossa personalidade e recriarmo-nos to-
Na sequência dos inquéritos efectuados aos qualidade, visando sempre a saúde, equilí- dos os dias como pais e seres humanos, de
encarregados de educação da Escola EB1/JI brio e bem-estar dos nossos filhos. forma a ajudar e a servir de exemplo aos
do Pendão, a Associação de Pais organizou, 3ª Sessão: “Como pais o que fazemos à edu- nossos filhos, a provar que a autenticidade
no ano lectivo 2006/2007, um conjunto de cação”. Nesta palestra orientada pela Dr.ª e individualidade de cada um de nós deve
palestras no âmbito do projecto “Como Pais, o Andreia Martins foram abordados os sinais de ser respeitada. Há que aprender a respeitar
que fazemos?”, sob coordenação do Dr. Nuno sofrimento emocional, com os quais podemos para poder ser respeitado... Só assim se con-
Colaço, com o objectivo de ajudar a compre- deparar no nosso dia-a-dia. Estes sinais po- segue evoluir como comunidade e viver em
ender melhor a missão de todos os pais. dem ser desencadeados por vários factores, harmonia na sociedade.
As conferências abordaram diversas questões entre os quais qualquer forma de segregação, Concluindo, há que relembrar que as crianças
e situações de ordem prática, que muitas ve- culpabilização ou de falta de atenção paren- de hoje são os adultos de amanhã, aqueles
zes, como pais, nos são alheias. As sessões tal. Existem ainda fases da vida em que as que continuarão as nossas pegadas e que um
foram organizadas do seguinte modo: “feridas internas” podem marcar etapas de dia irão estar também neste papel difícil de
1ª Sessão: “Como pais, o que fazemos?” transição emocional na vida da criança (entra- educador. Educar uma criança é hoje em dia,
teve como orador o Dr. Nuno Colaço, e da para o pré-escolar, mudança de escola...). e sempre, um grande desafio! Cometer erros
abordou essencialmente o tema das recor- Nesta sessão, a premissa mais importante foi é normal, não somos perfeitos, no entanto
dações marcantes da nossa infância. Esta que as crianças são felizes, quando sabem temos sempre oportunidade de melhorar...
intervenção foi muito dinâmica e interactiva. que estamos presentes, e que para eles é fun- Como mãe, agradeço esta oportunidade e não
Foram relembradas as experiências vividas damental saber que estamos disponíveis. quero deixar de felicitar a equipa que constitui
por todos e para todos, e concluiu-se que “O É essa também uma das nossas missões en- a Associação de Pais, bem como o staff clínico
melhor manual de educação está dentro de quanto pais e educadores. que partilhou connosco as suas experiências e
nós”. É necessário tirar partido das experi- 4ª Sessão: O que fazemos como pais nos aconselhou sabiamente a poder marcar a
ências que marcaram a nossa infância e aju- 5ª Sessão: Na última sessão intitulada diferença numa sociedade em que os valores
daram-nos a formar os adultos que somos “Como pais o que fazemos à comunidade” morais e educacionais são cada vez mais discu-
hoje. Foi também realçado dois factores a contámos com a presença do Dr. Valter Silva. tíveis e cada vez menos valorizados.
ter em conta no bom desenvolvimento dos Aqui foram relatadas algumas experiências Vamos viver com educação e educarmo-nos
nossos filhos: as crianças precisam de regras vividas pelo psicólogo, no que diz respeito a viver!
e as pequenas coisas marcam. ao acompanhamento de menores em situa-
De acordo com o compromisso assumido Penso que relativamente ao calendário devem designadamente, para formação contínua
pela Direcção por ocasião do cancelamento continuar a apostar nos fins-de-semana. têm constituído um significativo incentivo
do Encontro Nacional, a APEI realizou já três Na minha opinião, a divulgação é muito di- para a Direcção.
eventos. Nesse contexto e para que a nossa minuta, podem fazer mais e melhor. Uma dos primeiros passos no sentido da
acção seja melhorada e renovada, disponibi- Em relação à dinâmica penso que seria inte- descentralização tem sido a realização de
lizámos uma ficha de avaliação aos partici- ressante se proporcionassem mais momen- Sábados Temáticos fora do âmbito da sede
pantes (preenchimento anónimo). tos de participação com o público, como (Lisboa).
Com este instrumento pretendeu-se recolher fizeram duas conferencistas. Igualmente a opção de realizar o Encontro
opiniões sobre a organização e conteúdos É de louvar que na organização destes encon- “Pensar a(s) Infância(s)” em Portel, o Ser
dos encontros e também sugestões para tros se tenha em conta a participação de todos Bebé IV no Pragal e a Conferência de Peter
próximos eventos. os profissionais ligados à educação, auxiliares Moss no Porto, são exemplos claros desse
Agradecemos e valorizamos a participação de acção educativa, como é o meu caso. objectivo.
de todos aqueles que disponibilizaram bre- Agradou-me imenso, tanto os horários, Só com o natural interesse e empenhamento
ves momentos para escrever e entregar as como os conteúdos. dos associados é que a Associação poderá
suas opiniões. Foi muito útil para o meu desenvolvimento ampliar a sua acção, por isso é importante
como profissional, auxiliar numa creche. a leitura cuidada das informações divulga-
Pensar a(s) Infância(s) Muito boa ideia, a realização do encontro ao das através dos CEI, do InformAPEI (enviado
Portel Sábado, muito bem escolhido o horário e a quinzenalmente por correio electrónico) e a
29 de Setembro escolha da temática, muito pertinente e útil. consulta do site http://apei.no.sapo.pt que
Parece-me bastante bem, a realização dos en- Foi boa diversidade de comunicações, com actualiza de um modo mais célere os nossos
contros ao sábado. O horário, tal como estava distintos (mas complementares) olhares. eventos e de outras entidades.
previsto também me parece bastante bem. A aposta na divulgação e informação por via
Sugiro que em próximos eventos haja uma Mudança Social e os Serviços Sociais para electrónica representa um ganho em rapidez,
melhor gestão do tempo/horários, no senti- a Infância volume e capacidade de actualização da in-
do de respeitar o programa. Escola Superior de Educação do Porto formação que a APEI veicula, mas também
Seminários ou Encontros sempre descen- 9 de Novembro uma medida de gestão financeira dos bens e
tralizados, como aconteceu este ano, nesta Estive presente e adorei. E peço mais. Mais recursos da associação que acredita que cada
vila, foi muito simpático. iniciativas do género, mais parcerias, mais profissional está empenhado em manter-se
Como educadora de uma I.P.S.S., como tantas Peter (s) Moss (s), mais oportunidades de actualizado na esfera da sua profissão.
outras associadas da A.P.E.I., gostava de ver crescermos profissional e pessoalmente,... E Agradecemos o reforço daquela que foi
focadas as realidades nestas instituições. com certeza, mais zonas do país que possam sempre uma opção de todas as Direcções da
Os encontros têm-se baseado na educação ter aceso a estas iniciativas. No meu caso, APEI: realizar a formação e todos os eventos
pública, mas acho pertinente a reflexão so- neste linda cidade do Porto e área metropo- fora do horário lectivo, privilegiando o horá-
bre a educação privada e semiprivada. litana envolvente. rio pós-laboral, os sábados e as interrupções
Às sugestões de descentralização de eventos lectivas.
Ser Bebé IV respondemos com o investimento e esforço Congratulamo-nos com o interesse manifes-
Pragal que julgamos será do conhecimento de to- tado pelos auxiliares de acção educativa que,
13 de Outubro dos os que têm acompanhado a nossa ac- com as suas opiniões, fundamentam o nosso
Encontros desta natureza são extremamen- ção; tornar a intervenção da associação cada empenho em ampliar as nossas acções a ou-
te importantes, mas deveriam ser mais des- vez mais abrangente e descentralizada impli- tros profissionais de Educação de Infância.
centralizados e mais frequentes. ca a colaboração de todos.
Nomeadamente no Algarve, Alentejo e norte As propostas/pedidos que nos têm sido diri- A Direcção
do País. gidas por indivíduos, por grupos e instituição,
Conte-nos o que quiser, como quiser e quando quiser. Escreva-nos para Cadernos de Educação de Infância
Bairro da Liberdade, Lote 9, Loja 14, piso 0, 1070-023 Lisboa, através do e-mail: apei@mail.telepac.pt ou por fax para o número: 213827621
(só serão publicados textos devidamente identificados. Os textos recebidos podem ser alvo de adaptação para publicação)
O que se sente
ao misturar água e farinha?
As misturas fazem parte do nosso dia-a-dia. Esta actividade pode ser realizada em pe- 3. Mexer, com as mãos, para misturar bem.
Se pensarmos em algumas, como, por exem- queno grupo, sendo, no entanto, desejável 4. Pegar numa mão cheia desta mistura e for-
plo, o ar, o aço, o leite, a água com gás, os que todas as crianças mexam na mistura e mar uma bola, rolando-a entre as mãos.
refrigerantes, a gasolina, a areia da praia, o exprimam a sua opinião. Peça às crianças para descreverem o que
granito, a água açucarada, etc., facilmente As actividades em pequeno grupo permitem estão a observar e a sentir.
concordamos com esta afirmação. Ao realizar não só estimular a realização das actividades É natural que obtenha respostas essen-
esta actividade, as crianças podem perceber forma autónoma e responsável como também cialmente relacionadas com as sensações
o significado da palavra mistura e explorem a cooperação com outros em tarefas comuns. tácteis (fica dura), peça para completarem
algumas propriedades relativas à mistura de as respostas com observações. Aproveite
água e farinha de milho (ou amido de milho). Materiais necessários para introduzir (rever) novos vocábulos:
Se realizou a actividade “Tinta invisível”, pro- • 1 bacia (por grupo) rijo, comprimir, sólido, consistente, áspe-
cure que as crianças façam uma relação en- • 1 copo de medidas (por grupo) ro, liso, rugoso, etc.
tre as duas actividades, uma vez que alguns • 1 colher de sopa (por grupo) Questão: A mistura que têm nas mãos
materiais são comuns (água e farinha maize- • Água está seca ou molhada?
na). Aproveite esta actividade para explorar • Farinha com amido A tendência geral é dizer que está seca uma
algum vocabulário ligado aos sentidos atra- vez que não sentem as mãos molhadas.
vés da descrição das sensações tácteis que Verifique que todos mexeram com as
vão sentindo ao longo da actividade. mãos e que parece seca.
Não se esqueça que o procedimento descrito 5. Colocar na bacia e tocar com o dedo.
é apenas uma sugestão que deve adaptar às Peça às crianças para descreverem o que
condições físicas e humanas disponíveis, pla- estão a observar e para compararem o
neando e testando antes de realizar em sala comportamento da mistura quando está
de aula. E tão importante como a preparação nas mãos e quando está na bacia.
da própria experiência é a preparação das Em geral não têm dificuldade em distinguir
questões orientadoras, que permitem guiar que quando está nas mãos parece seca e na
as crianças no decorrer da actividade. bacia parece molhada “porque escorrega”.
Procedimento: Verifique que todos observam e tocam
Tema: descrever sensações tácteis 1. Colocar 4 colheres de sopa com farinha na na mistura e que esta parece uma papa.
bacia Aproveite para introduzir (rever) novos vo-
Antes de começar Mostre a caixa da farinha e questione o cábulos: mole, líquido, molhado, etc.
O tipo de mistura formada pelo amido de mi- que é e para que serve. Peça explicações para estas diferenças.
lho e a água possui propriedades interessantes. Abra a caixa e mostre a farinha, questione Explique, de uma forma simples, que, quando
Quando se rola esta com as mãos, ela é com- as crianças sobre as propriedades da mes- se mexe com as mãos, a mistura é compri-
primida e as partículas aproximam-se de modo ma (cor, estado físico, etc.). mida e as partículas aproximam-se de modo
que a mistura parece seca; quando se deixa em 2. Colocar água (quantidade predeterminada) que a mistura parece seca; quando se deixa
repouso, as partículas voltam a separar-se e a na bacia (forma-se uma pasta) em repouso as partículas voltam a separar-se
mistura fica com um aspecto lamacento. Questão: O que vai acontecer quando co- e a mistura fica com um aspecto lamacento.
Realize a actividade antes para determinar locarem a água na farinha?
a quantidade de água adequada ao tipo A farinha desaparece, vai para o fundo, der- Pode utilizar um corante para colorir a papa
e quantidade de farinha que vai utilizar de rete, são algumas das respostas que possi- que pode ser enfeitada com botões, berlin-
modo a garantir a formação da mistura com velmente vai obter. Se já realizou a activida- des (para fazer de olhos), etc.
as propriedades desejadas: parecer seca de “Tinta Invisível” poderá obter outras res- Não termine aqui a actividade, os alunos
quando comprimida e lamacenta quando postas, neste caso algumas crianças podem devem fazer o registo das suas observações
deixada em repouso. Colocar água em quan- saber que a farinha é insolúvel em água. da forma que achar mais conveniente (de-
tidade insuficiente leva a uma mistura muito Introduza ou relembre os termos solúvel, senhos, textos, oralmente, etc.). Promova a
granulosa, o inverso leva a uma mistura mui- insolúvel e dissolve-se e explique o seu discussão sobre estes resultados ao longo
to líquida impossível de comprimir nas mãos. significado. do ano, pois esta pequena experiência pode
Em qualquer um destes casos torna-se im- Realize este passo experimental e compa- dar origem a muitas outras.
possível atingir os objectivos propostos. re o resultado com as previsões.
Correia, deu-nos o testemunho da sua expe- No passado dia 29 de Setembro, realizou- mologicamente polissémico, que funciona co-
riência enquanto formadora de pessoal auxi- se, no auditório Municipal de Portel e com mo o “canto da sereia, no qual estamos todos
liar, elementos fundamentais nas equipas de o apoio do Município de Portel, o Encontro seduzidos, mas não sabemos ao que vamos”,
trabalho com as crianças, nomeadamente se Pensar a(s) Infância(s), que teve por base Américo Peças brindou-nos com uma reflexão
nos colocarmos do ponto de vista da efecti- a temática da Avaliação, na prossecução acutilante sobre as práticas educativas desen-
vação das práticas de qualidade, que exigem do objectivo da Direcção da Associação de volvidas no pré-escolar, valorizando a neces-
que todos e cada um se apropriem da sua Profissionais de Educação de Infância de sidade da escola compreender, antes de uma
função, no seio de um grupo. Como referiu, realizar, de forma descentralizada, as refle- definição rigorosa de Competências exigíveis, o
o êxito educativo depende de um trabalho xões e discussões previstas para o Encontro que, realmente, devem as crianças saber.
colaborativo de participação, de cooperação Nacional da APEI, marcado para o passado Nesta linha, defendeu também que a defini-
e de aprendizagem comum, a realizar em mês de Abril, mas que teve que ser cancelado ção de competências tem de ser suportada por
contexto de trabalho, tendo por base a par- por razões alheias à vontade da Direcção. uma efectiva avaliação que não pode ser base-
tilha de saberes ao serviço da educação de Dinamizado em torno de três espaços ada na organização de instrumentos apriorísti-
todos, partindo de dentro para fora, ou seja, específicos da Avaliação: Avaliação das cos, ou seja, não se pode perder na “avaliação
dos próprios projectos educativos. Que não Aprendizagens, Avaliação das Instituições de comportamentos repetidos à exaustão em
dispensa ninguém dos que estão presentes e Avaliação de Desempenho dos Docentes, rotinas predefinidas e desadequadas dos reais
no quotidiano com as crianças e os seus este encontro contou, entre os convida- interesses e capacidades das crianças”.
contextos de desenvolvimento. Que exige dos, com o professor Américo Peças, da Pelo exposto, defendeu uma actividade de
posturas éticas e compromissos sérios com Universidade de Évora, o professor Luís Silva ensino dinamizada por uma nova ecologia e
a profissão, num diálogo permanente. Que Pereira, do Instituto Superior de Psicologia economia da acção educativa, na qual seja
implica a criação de espaços de trabalho e Aplicada, o Sub Inspector-Geral da Educação, dada às crianças uma nova “mundividência”
formação, como um binómio resultante da Dr. Alexandre Ventura, a educadora Joana e nas quais o “tempo não seja ocupado, mas
profissionalidade exercida. Para um atendi- Freitas, em representação da Fundação intensamente vivido”. Finalizou, fazendo vo-
mento de qualidade à 1ª infância. Bissaya Barreto, o Director Geral dos Recursos tos para que os educadores, e os adultos em
E é assim que no fim e depois deste rápi- Humanos da Educação, Dr. Jorge Morais e o geral, façam das crianças suas semelhantes,
do percurso pelas diferentes comunicações, adjunto do Secretário de Estado Adjunto e da escutando-os e levando-os a sério, porque
necessariamente incompleto face à sua ri- Educação, Dr. José Manuel Batista. a “pedagogia é uma relação e uma rede de
queza, chegamos novamente ao princípio Após a sessão de abertura, presidida pelo obrigações em que a condição da prática pe-
que norteou este encontro SER BEBÉ IV: a Presidente da Câmara Municipal de Portel, dagógica é uma atenção infinita ao outro”.
importância e a necessidade de em conjunto Dr. Norberto Patinho, e com a presença Luís Silva Pereira, numa intervenção seguida
com todos os implicados (famílias, profissio- do Sub-Director Regional de Educação do com muita atenção pelos presentes, promo-
nais e outros técnicos e parceiros…) sermos Alentejo, Dr. José Carlos Calhau, a presidente veu uma interessante reflexão sobre Emoção,
capazes de construir respostas educativas da Direcção da APEI apresentou a dinâmica Cultura e Aprendizagem.
contextualizadas para os bebés e a sua cir- dos trabalhos a seguir, com especial destaque Começando por afirmar que o conceito de
cunstância. para os espaços de reflexão e análise sobre Emoção não é um conceito global, e por tal
Muito obrigada a todos os que com as suas Avaliação e a sua relação, cada vez mais perti- se prestar a diferentes formas de expressão,
comunicações contribuíram para mais um es- nente e actual, com a dinâmicas de mudança culturais e sociais, defendeu a necessidade
paço de reflexão, partilha, debate e troca de social e profissional dos docentes. dos docentes terem, na sua preparação aca-
perspectivas neste sábado, aqui em Almada. Américo Peças, por sua vez, e na primeira co- démica e humana, um espaço de aprendiza-
municação do dia, apresentou dados sobre gem relativa à relação emocional e emotiva
A Comissão Organizadora um estudo de investigação-acção desenvol- que os preparem para a efectiva inclusão
vido no âmbito do grupo de reflexão sobre a sócio-educativa dos alunos.
aplicação prática das Orientações Curriculares Recordou ainda, através de exemplo práticos
para a Educação Pré-escolar, no qual foram de uma investigação que desenvolveu numa
também reflectidas as Competências a de- comunidade Mapuche do Chile, a importância
senvolver em crianças em idade pré-escolar e pertinência de uma atenção específica, em
e as práticas de avaliação possíveis. termos de formação e de relação pedagógica,
Partindo do princípio que o conceito de aos novos desafios de integração, diversidade e
Competência é um conceito ainda vago, episte- ambiente cultural de todas as comunidades.
Em casa, na escola,
no carro ou de barco a navegar há sempre tempo para cantarolar
Olá a todos, As lengalengas, as rimas, as canções berra- ciência que não sei cantar, mas uso o meu
Depois de um Verão cheio de mudanças, via- das no banco de trás do carro e as doces direito de mãe para cantarolar e brincar com
gens, obras e muitas peripécias pensei que po- melodias ao adormecer fazem parte de um sons com mais segurança.
deria aproveitar o artigo para partilhar com vo- tesouro imenso que nos ensinou o valor da Perdi as “vergonhas” e aprendi a brincar com
cês os meus momentinhos de paz e descanso. vida, são memórias acordadas pelos largos a minha boca que só mastigava palavras.
Estes momentos não me pertencem só a mim. tardões e serões que o Verão nos oferece Agora digo disparates com rimas sem senti-
São pedacinhos de tempo roubados a um outro quando estamos todos juntos. do, desafio os mais pequenos e mantenho
tempo atarefado e azafamado, são os momentos Pois é, ler é cantar livremente palavras de vá- assim as minhas memórias de menina de pé
de paz e partilha que vivo com a minha família. rias cores, texturas, tamanhos e formas. descalço a cantar com as manas e os primos
Este Verão foi terrível no que diz respeito a via- Cantar é ler a melodia das palavras, é brincar em casa da nossa avó transmontana.
gens, ora com o carro cheio de caixotes ora vazio com sons despreocupadamente e saborear o Com a Matilde percebi que a música é um
fazíamos os mesmos percursos vezes sem conta. gosto requintado de cada palavra ou som. uma aprendizagem constante e é acima de
Com a Matilde sempre presente ouvimos, con- Cantarolar é um exercício criativo sem limi- tudo experimental.
támos e cantarolámos 5458 vezes os mesmos tes, onde se põe em prática uma série de es- A nossa vida está cheia de música, parece
CD’s. O que nos valeu foi ter encontrado num tímulos importantes para o desenvolvimento um filme onde a natureza e o quotidiano do
dos caixotes uma orquestra com bichos canto- de um bom leitor. espaço que nos rodeia nos enchem de som.
res e um livro com um CD cheio de lengalengas. A aquisição de conceitos e vocabulário apre- Graças a projectos como “Cantar Juntos” - edita-
De repente ali estávamos nós a viajar com senta-se de uma forma divertida e pouco rí- do com afecto pela Estúdio Didáctico em parce-
musicólogos e especialistas na arte de dizer gida, as melodias vão entrando pelo ouvido e ria com a A PAR (Projecto Aprender em Parceria)
e mastigar sons e palavras. saindo pela boca, afirmando-se pela repetição, ou como “ Enciclopédia da Música com Bicho”
“Caracol, caracol, põe os pauzinhos ao sol. dando, mais tarde, forma às nossas memórias – obra que conta já com 3 tomos orquestrados e
Caracol... Pões os pauzinhos ao sol!” que dão colo aos conhecimentos adquiridos. editados pela Companhia de Música Teatral – as
Em seguida a Matilde dizia: Muitos são os contadores de histórias e media- nossas viagens ganharam um outro ritmo.
-Maiiis?! Tumama, tu! dores de leitura que recorrem a estas práticas No embalo, a Matilde adormece, eu desligo
Era um pedido sentido e tão terno que não para enriquecer e dar forma ao conto. A narra- o rádio e no silêncio sinto que a maternidade
se podia recusar. tiva ganha outra dinâmica quando é animada é uma bênção.
Ouvimos a história do caracol que se quer com sons, melodias com ou sem palavras que Peço-vos que procurem estes trabalhos e
casar, da galinha que fala inglês, da borbole- ajudam a embalar leitores de todas as idades. que se deixem levar pelos desafios que estas
ta de asa às cores e cara preta. É engraçado que mesmo tendo consciência propostas nos apresentam.
Ao chegar a casa tornávamos a cantar, can- de que não sei cantar, me sinto uma diva Da minha parte, e em nome da Matilde, digo:
tava o pai, a avó, as tias, a madrinha, o padri- quando a minha filhota me pede: Obrigada a todos por nos porem a cantar.
nho e os amigos. Mãe, tanta. Tanta tu. Digo-o eu que não sei cantar e me sinto uma
Apesar do cansaço e da repetição destas Antes da maternidade, quando recorria às diva quando a minha filhota me pede:
cantorias sentia o cheiro, os barulhos, as lem- melodias para contar histórias, ficava nervo- Mãe, tanta. Tanta tu.
branças de quando era mais pequena. sa e sentia-me insegura. Agora, tenho cons-
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