Abismo do padrão
A distância existente entre a língua dos falantes e a língua dos compêndios gramaticais
incita a discussão sobre a norma-padrão e o ensino da gramática nas escolas
É incontestável que a escola tem o papel essencial de orientar os falantes para o uso correto da língua. O ensino
tradicional da gramática, no entanto, cada vez mais polariza opiniões no debate sobre o aspecto social da linguagem.
A aura de superioridade da norma-padrão incutida durante a trajetória escolar e reforçada pela postura da mídia e da
sociedade antagoniza a relação cotidiana dos falantes com a língua.
Afinal, mesmo entre os mais escolarizados, a gramática normativa não é regra. Ao mesmo tempo, a ideia de que "o
brasileiro não sabe falar português" é cada vez mais generalizada, assim como as críticas às deficiências do ensino de
gramática no sistema educacional brasileiro.
Considerando que a sociedade não apenas cobra o domínio da língua em situações formais como o considera um sinal
de valor social, não seria esse descompasso uma indicação da necessidade de rever as bases que sustentam a
gramática normativa?