A organização do espaço amazônico: Contradições e conflitos.
Dentro do processo de constituição do espaço amazônico, podemos identificar
dois padrões de organização do espaço amazônico: rio-varzéa-floresta e pela estrada- terra-firme e subsolo. O autor apresenta na obra o processo de produção do espaço amazônico, que primeiramente tinha uma dinâmica histórica, que se fazia presente através dos meios naturais de fluxos, que eram os leitos dos rios e áreas próximas aos mesmos. Após o processo de inserção da Amazônia ao grande capital, este de origem nacional e internacional, a dinâmica de produção do espaço mudou. A partir desse momento as interligações eram feitas pela aberturas de grandes eixos rodoviários. Em seu livro, Carlos Walter, além de analisar as transformações ocorridas na Amazônia no decorrer dos séculos, analisa também os diversos atores que constituem, modela, interagem sobre o espaço amazônico. Para que possa haver um entendimento sobre o espaço amazônico de hoje, é preciso resgatar uma passagem histórica para reforçar o entendimento. O processo de ocupação da região amazônica se constituiu no cerne da disputa por territórios pelas potências européias no período colonial. Carlos Walter nos apresenta em sua obra a forma de como a Amazônia foi se configurando e se inserindo no processo mercantil. O referido autor trata ainda, da interação entre o Estado (Coroa) e a Igreja, esta última tendo o papel de catequizar os índios que aqui habitavam, garantindo a gestão do território para os portugueses. Gonçalves aborda as atividades econômicas desenvolvidas na região amazônica, primeiramente pelas “drogas do sertão”. A comercialização dessa atividade criou diversos pontos de interligação, ou seja, fazendo surgir aldeamentos e vilas, que futuramente dariam origem a importantes cidades da região. Com a comercialização, muda-se a forma de produzir o espaço. O interessante neste capitulo, é que o autor faz uma analogia da cruz e a espada, referindo-se ao processo de ocupação da região amazônica. A cruz seria o trabalho desenvolvido pela Igreja. A espada faz referência à ação da Coroa frente ao território. Em outro momento, Carlos Walter, exemplifica que saí à cruz (nesse momento o Marquês de Pombal expulsa os jesuítas do Brasil) e entra o lucro, aliado a espada. Nesse momento a Amazônia se insere ao grande capital mercantil. Agrega-se o dinheiro à escravidão, essa relação como propulsores do processo de colonização na região amazônica. A comercialização da borracha criou uma rede de interligação entre quem extraia, comercializava e exportava. Aliada atividade gomífera, a agricultura começa a ter relevância no cenário econômico amazônico. Carlos Walter nesse capitulo faz um resgate histórico da atividade gomífera, apresentando desde seu ápice até a decadência. O interessante na obra é a análise da constituição do processo econômico ocorrido na região, incluindo os seus atores, além da modificação na produção do espaço. O referido autor relaciona a produção do espaço social no extrativismo e na agricultura. A questão da liberdade e da servidão, haja vista, que na relação extrativista, o indígena ou dos caboclos, produzia para a sua própria subsistência, não ficando a mercê do trabalho escravo e/ou servil. No capitulo resenhado, fica evidente a forma de como o ciclo da borracha foi entrando em decadência. O autor exemplifica as ações e atos que levaram a essa barrocada. O autor ainda se concentra na análise no sistema rio – várzea – floresta. O autor procura exaurir suas análises sobre essa questão, para poder analisar a transferência no modo de circulação e produção do espaço amazônico.
A organização do espaço Estrada – Terra Firme – Subsolo.
O autor na obra dá um salto em suas análises, retomando suas atenções às
ações do Estado frente ao território amazônico. O período analisado é após a Segunda Guerra Mundial, onde as geopolíticas procuraram ordenar o território frente ao capital, tendo o Estado brasileiro um parceiro importante. O autor exemplifica a questão com a forma de como o Estado implementa o controle sobre o território com a criação da Superintendência da Zona Franca de Manaus, em 1966, em 1967, o governo federal implementa o Banco de Crédito da Amazônia, para fomentar a circulação de créditos na região. Dessa forma – segundo o autor – essas ações indicavam uma mudança na política para a Amazônia. Aliado a isso, temos a centralização de decisão nas mãos do governo federal, prova disso são as federalizações das terras as margens das rodovias federais, os grandes projetos, como forma de transnacionalizar essas áreas para o grande capital. Walter pontua a inserção do capital na Amazônia; no primeiro momento, até 1974, tendo como estratégia a atração de mão-de-obra para a construção de grandes obras de infra-estrutura, como as grandes rodovias que cortam a região. O autor faz um paralelo com o cenário mundial, neste caso a crise do petróleo, que afetou diretamente a economia brasileira, neste sentido, a Amazônia teve – e ainda tem – um papel fundamental na balança de pagamentos do Brasil. O texto abre um tópico, em que o autor analisa as conseqüências da inserção da Amazônia ao grande capital, servindo as pretensões da lógica capitalista de produção e acumulação de capital. Carlos Walter faz uma abordagem crítica na forma de inserção da região aos interesses das elites nacionais e internacionais. A retórica do papel na divisão nacional/internacional do trabalho como exportadora de matérias-primas, sobretudo nos setores minerais e madeireiras. A obra ressalta a questão ideológica implementada pelos militares na construção do “Brasil novo”, do “Brasil potência”, ideologia esta que sustentou o regime militar por duas décadas. O processo de integração via rodoviário, sustentada em quatro eixos de integração: Belém – Brasília, Cuiabá – Santarém, Cuiabá – Porto Velho e a Transamazônica. O Estado brasileiro implementou estradas e forneceu energia para dotar de condições ao grande capital implementar-se na Amazônia. Uma outra visão da análise do autor diz respeito às relações entre os diversos atores sociais na região Amazônica. A geração de conflitos ocorridos pelos mais diversos interesses. Carlos Walter se debruça em analisar as conseqüências da inserção da Amazônia no cenário nacional e internacional, pois esse modelo gerava alta concentração de riqueza e acentuava a desigualdade social. A necessidade de criar condições financeiras para a manutenção da balança de pagamentos do país, através de expressivos superávits. Um outro ponto importante na leitura, diz respeito ao processo de constituição da modernidade na região amazônica. Sob o título “Uma urbanização sem cidadania” o autor da obra, evidencia o intenso processo de urbanização ocorrido na região amazônica nas ultimas décadas. O censo do IBGE apontou que 70% da população amazônica habita em cidades. Esse modelo de urbanização, que segundo o autor foi pautado na constituição de um modelo agrário, aliado a um modelo industrial, que não contemplava a população regional. As maiores cidades da região tornaram-se grandes bolsões de miséria, escancarando o resultado de um modelo de produção espacial excludente. Carlos Walter em uma análise sócio-espacial na Amazônia condenou a forma de implementação e gestão dos grandes projetos na região. Esses seriam responsáveis pelos piores índices de sócias no país. Como o texto coloca: urbanizou-se a região, mas não se implantou a cidadania mínima para as camadas menos abastadas. A Amazônia: Entre a ordem e o caos
Nesse tópico o autor desmistifica o preconceito fundado sobre a região,
criticando o discurso de desordem social e ecológica. A idéia de “terra sem lei”, tão propagada deve ser entendida de outra forma, analisando os aspectos de organização histórica da região, esta influenciada pela implantação de um novo modelo de produção do espaço. Nesta passagem de capitulo, Walter aborda a relação do Estado com o território, este último – no caso da Amazônia – servindo como divisa para a balança comercial do país. Após o processo de apropriação e produção do espaço pelo capital na Amazônia, através da inserção de grandes redes de circulação e produção de energia, a crise gerada pelo petróleo, afetou diretamente a economia brasileira, fazendo o que o Estado abandone as grandes obras construídas na Amazônia. O autor critica abertamente o resultado obtido por esse modelo de produção espacial na Amazônia. A forma de como a energia é subsidiada aos grandes grupos econômicos, enquanto, milhares de pessoas continuam sem ter energia elétrica em suas casas. O processo de modernização via “enclave”, haja vista, que o modelo criou territórios do capital, cercado por muros e excelente padrão de vida, bem diferente de seu entorno. Para dar legitimidade e assegurar a continuação das ações, o Estado, detentor do monopólio da violência busca manter essa política na região, através de ações repressivas aos movimentos sócio-territoriais na região amazônica. Por fim, Carlos Walter, apresenta e analisa o programa implementado no governo Fernando Henrique Cardoso, o “Avança Brasil”, buscando entender como o referido programa poderia causar uma organização do espaço, em especial na Amazônia. O Avança Brasil tem como objetivo maior promover a construção de grandes obras, fortalecimento doa grandes eixos de integração, circulação e desenvolvimento. O autor sinaliza que o programa “Avança Brasil” carrega consigo um forte teor ideológico, que nós remonta ao regime militar, em frases saudosistas como “Brasil, amei-o oi deixa-o”, “Pra frente Brasil”. O autor chama a atenção para a forma de como está se constituindo a relação do Estado com o grande capital.