Espaço: Rio de Janeiro

ESPAÇO - Psicológico pq decorrem das lembranças do defunto que conta sua história de quando era vivo.

CONCLUSÃO

Conforme observamos, nos romances predomina a visão negativa com que seus narradores observam
as mulheres. Apesar da lógica conduzir o leitor a imaginar que a proposta ideológica seja expor a
natureza feminina de maneira depreciativa ou caracterizar a mulher como um mal necessário à
sociedade, outra abordagem torna-se possível se transportarmos o foco da análise para uma outra
perspectiva.

Em “Memórias Póstumas” percebemos um Brás Cubas assumidamente fútil e preconceituoso ao

rejeitar Eugênia por sua deformidade física, preocupado com sua imagem social, apesar dela ser uma
jovem de tantos encantos e qualidades; volúvel ao reencontrar uma Marcela envelhecida; leviano ao
envolver-se com uma mulher casada; traiçoeiro por fingir amizade a Lobo Neves, aceitar favores que este
lhe oferece e, fracassar profissional e socialmente.

Em “Dom Casmurro” temos um protagonista em condição similar. Bento mostra-se fraco em suas
vontades, deixando guiar-se por decisões e opiniões alheias. Faz poucos planos para o futuro e sua única
certeza é Capitu, porém, também diante desta paixão mostra-se passivo, rendendo-se aos caprichos da
moça de maneira incontestável. Sempre que há um conflito na trama que exija uma reação sua, o
embate ocorre no plano psicológico. Bento foge de duelos e discussões.

Os romances parecem construídos à conclusão de que as mulheres serão a ruína dos homens, sendo
estas sempre manipuladoras, dissimuladas e artificiosas, construídas a partir do arquétipo de Eva que
guiará os homens à expulsão do paraíso. Contudo, talvez exista uma mensagem escondida por trás deste
conflito de gêneros: Machado de Assis conhecia a bem a essência humana e previa o cenário que
encontraríamos hoje em adiante.

As mulheres de suas obras são as personagens obstinadas e espirituosas. Fazem o que desejam e
articulam suas vontades em meio a homens inseguros e mal-resolvidos. Por isso sobressaem-se e deixam
a impressão na visão masculina de que são manipuladoras.

O retrato social mudou desde 1900. Hoje temos mulheres no comando de empresas, chefes de família,
mães independentes e oficiosas. Observando os romances a partir da perspectiva atual, vemos que talvez
estes sejam uma espécie de presságio aos dias atuais: homens fracos de caráter e indecisos em suas
próprias vontades viriam a disputar espaço com mulheres sedentas por seu quinhão de mundo,
submissas apenas às próprias vontades. Logicamente este cenário não será uma regra, mas tais tramas
criadas pelo autor servem para reforçar que sua capacidade de predição e vigilância assemelha-se à sua
genialidade literária. Em romances aparentemente sexistas, Machado de Assis presta uma grande
homenagem à força das mulheres.

Tempo: entre 1805 e 1869 (nascimento e morte do protagonista)

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