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Neurociências • Volume 2 • Nº 5 • setembro-outubro de 2005 1

Revisão

Neurociência do esporte e do exercício


Neuroscience of sport and exercise
Emílio Takase

Resumo
Os avanços tecnológicos de imageamento cerebral, nos últimos dez anos, resultaram em
uma maior compreensão da mente humana, contribuindo, ainda, para o progresso de uma
subárea da Ciência do Esporte: a Psicologia do Esporte e Exercício (PEE). Mesmo assim,
ainda existem poucos trabalhos sendo desenvolvidos e aplicados pelos psicólogos do
esporte e exercício cujo enfoque seja a Neurociência Cognitiva e Comportamental (NCC).
Assim, neste artigo pretendo apresentar alguns resultados de pesquisas recentes na área
da NCC e sugerir mudanças de paradigmas na atuação do futuro profissional em PEE. Nesse
contexto, seria relevante pensar em uma nova proposta - a Neurociência do Esporte e do
Exercício - para estimular a criação de um novo caminho para as questões de performance e
saúde mente-corpo.

Palavras-chave: neurociência, psicologia do esporte, cérebro, exercício.

Abstract
The technological advances of cerebral mapping, in last the ten years, have contributed
towards the understanding of the human mind, and to the development of one particular
subarea in Sport Sciences: the Psychology of Sport and Exercise (PSE). Nevertheless, little
has been advanced by psychologists of Sport and Exercise with an emphasis in Cognitive
and Behavioral Neuroscience (CBN). Thus, in this article I intend to present some relevant
results in NCB and to suggest paradigm shifts for the future professional in PSE. In this
EMÍLIO TAKASE é professor do
regard, it would be interesting to create a new Neuroscience of Sport and Exercise to
Laboratório de Neurociência do stimulate the development of novel ways to approach sports performance and mind-body
Esporte e Exercício, Departa- health.
mento de Psicologia, Centro de
Filosofia e Ciências Humanas, Key-words: neuroscience, sports psychology, brain, exercise.
Universidade Federal de Santa
Catarina.

Correspondência:
takase@cfh.ufsc.br
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Introdução o tênis e tênis de mesa, por exemplo, dependem muito


mais do fator psicológico do que do físico. É freqüente
Nos últimos 30 anos, os trabalhos desenvolvi- observar a relação entre a capacidade de concentração
dos pelos psicólogos do esporte e do exercício (PEE) e o desempenho do atleta em várias modalidades es-
têm estado em constante evolução. Porém, ainda há portivas. Mesmo treinando muitas horas, erros são
muito a se entender sobre o desempenho dos atletas, freqüentes. Um pênalti pode tirar o sonho de um atleta
a aderência ao treino, a concentração, entre outros e da equipe de ganhar uma medalha de ouro; o tenista
temas da PEE. Apesar de inúmeras pesquisas nos úl- conhecido por realizar aquele saque indefensável pode
timos anos sobre a PEE, muitas estiveram focadas a apresentar falhas constantes durante o jogo.
temas clássicos, como ansiedade, motivação e con- As pesquisas desenvolvidas pela pesquisadora
centração, nas quais utilizaram-se instrumentos como Joan N. Vickers da University of British Columbia, por
questionários e inventários. Por questões econômicas exemplo, utilizando a técnica do quiet eye [9], demons-
e dispêndio de tempo, em muitas das pesquisas tram avanços no que diz respeito ao desempenho no
atuais, envolvendo seres humanos, os resultados se lance livre no basquete [6] ou no saque no tênis de
reduzem à análise de questionários, inventários e en- mesa [7,8]. Nesta técnica, equipamentos acompa-
trevistas, que são apenas a análise de conteúdo e a nham a direção do olhar do atleta durante o lance li-
descrição, muitas vezes, dos comportamentos das vre, mostrando se ele focaliza ou não o alvo. Apesar
pessoas. Além disso, muitas dessas pesquisas es- dos resultados de Vickers et al. não estarem basea-
tão relacionadas aos aspectos emocionais, deixando dos nas bases neurais do comportamento, os estu-
de lado os aspectos cognitivos. Assim, esses resulta- dos da pesquisadora Debbie Crews (citada em 9) su-
dos não têm contribuído para: a) diminuir horas de gerem que há um equilíbrio/harmonia das ondas cere-
treinamento e melhorar a qualidade de treinamento brais nos atletas experientes em golfe comparados
dos atletas; b) motivar as pessoas para a prática de aos novatos na hora de atirar. Um outro estudo [10],
exercício físico e mental; c) compreender melhor a por exemplo, verificou que em atiradores de elite, a
pessoa individualmente, oferecendo um trabalho dife- atividade alfa (8 Hz-12 Hz) no EEG da região occipital
renciado e d) oferecer às crianças uma iniciação es- diminui durante o melhor desempenho, enquanto que
portiva adequada a sua faixa etária. há um aumento da onda alfa no pior desempenho.
Por outro lado, a década de 90 representou um Existem outras funções cognitivas que auxiliam
marco no que diz respeito ao início da nossa história no bom desempenho do atleta, como a orientação
científica e tecnológica na compreensão do cérebro. visuo-espacial. Por exemplo, a posição do levantador
Assim, a partir das descobertas já feitas, é possível de vôlei exige do atleta um grande esforço de orienta-
imaginar os avanços na compreensão do comporta- ção visuo-espacial e de memória de trabalho para lan-
mento humano através de novos estudos da Neuro- çar a bola no local e altura exatos para que seu com-
ciência Cognitiva e Comportamental (NCC) e na cria- panheiro de time possa cortá-la. Em um estudo sobre
ção de novas áreas de estudo como a neuroteologia orientação espacial e memória de trabalho, Lepsien et
[1,2], neuromarketing [3], neuroeconomia [4,5]. al. [11] deram aos participantes a tarefa de memori-
Por outro lado, é inegável a contribuição das zar estímulos coloridos em determinadas posições
Neurociências à Ciência do Esporte, uma vez que já dentro de um quadrado de fundo branco, sendo de-
estão sendo aplicados resultados de pesquisas à Psi- pois apresentada uma nova configuração destes mes-
cologia do Esporte e Exercício, à Medicina do Esporte, mos estímulos. Os resultados revelaram, através do
à Fisioterapia do Esporte, à Nutrição do Esporte e à imageamento cerebral de ressonância magnética fun-
Educação Física. Assim, nesta revisão, pretendo apre- cional (fMRI), a ativação de diferentes áreas cerebrais
sentar alguns resultados de pesquisas em NCC que - o córtex parietal posterior, a insula e córtex pré-fron-
podem ser aplicados à Psicologia do Esporte e Exercí- tal medial e lateral – durante a tarefa de memória de
cio (PEE) e, além disso, propor a criação de uma trabalho e orientação espacial. É possível que estas
Neurociência do Esporte e do Exercício. mesmas áreas sejam ativadas no levantador de vôlei
durante sua performance, já que é alta a exigência do
Neurociência e psicologia do esporte atleta em também ficar atento às posições e movi-
mentações dos demais colegas para conseguir levan-
O sucesso do atleta na maioria das modalidades tar a bola na posição correta.
esportivas depende muito do preparo físico e psicológi- Não apenas no vôlei, mas também em outras
co, sendo que algumas modalidades esportivas como modalidades esportivas, o atleta depende muito da
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habilidade visuo-espacial: por exemplo, o atacante de que estão envolvidos no melhor desempenho físico e
futebol, o armador central de handbol e basquete, os psicológico. Porém, até o momento, poucos estudos
atacantes no futsal, entre outras posições nas diver- têm demonstrado o quanto o treino/exercício pode
sas modalidades esportivas. Manning & Taylor [12] modificar a estrutura cerebral de um adulto e de crian-
mostraram que os melhores jogadores ingleses de ças, e conseqüentemente influenciar na melhora das
futebol americano apresentavam o quarto dígito mais habilidades motoras e mentais, apesar de empirica-
longo que o segundo dígito, indicação de altos níveis mente observarmos que há mudanças comporta-
hormonais de testosterona durante a fase adulta e mentais significativas. Draganski et al. [17], por exem-
fetal [13]. Os autores supõem que tais níveis eleva- plo, realizaram um estudo para verificar se há mudan-
dos devem ser importantes para estabelecer e manter ça estrutural no cérebro de jovens que aprenderam,
as funções das habilidades visuo-espaciais do sexo ao longo de três meses, a fazer malabarismo para
masculino [12]. O elo estaria durante a décima quarta manter no ar três bolinhas. Passado o período de trei-
semana de gestação, quando a liberação do hormônio no, os autores verificaram, através de ressonância
testosterona influencia tanto a definição do comprimen- magnética funcional, aumento de área no córtex visu-
to do quarto dígito, quanto o desenvolvimento do he- al e parietal, associados possivelmente à melhora da
misfério direito do cérebro – com funções como a ori- visão de movimento e na localização espacial, respec-
entação espacial [13]. Outra pesquisa mostrou que a tivamente. Esta pesquisa revelou que o cérebro pode
diferença de comprimento do quarto em relação ao se modificar estruturalmente e não somente funcio-
segundo dígito e a influência do hormônio testosterona nalmente em jovens adultos, remetendo à questão da
no cérebro no pré-natal modifica/melhora as habilida- neurogênese e neuroplasticidade estrutural e funcio-
des cognitivas tanto de homens como de mulheres nal do cérebro depois do indivíduo se tornar adulto.
[14]. No caso do sexo feminino, o estudo mostrou Podemos pensar que, se uma criança recebe estimu-
que as mulheres que apresentam uma maior razão lações sensório-motoras adequadas durante o seu
entre o quarto e o segundo dígitos também possuem desenvolvimento, ao se tornar adulto não seria mais
melhor desempenho em navegação espacial [15]. fácil executar diferentes atividades físicas e mentais?
Mas o que vale ter as bases neurobiológicas ina- Mas, comparado aos adultos, o que nos chama a
tas se os atletas ou mesmo as crianças/adultos não atenção é o comportamento de imitação muito freqüente
recebem treinamentos adequados para melhorar a nas crianças. Se as crianças aprendem os movimentos
performance? Um estudo recente mostrou que a memo- de outros atletas profissionais (seus ídolos) apenas
rização de detalhes em crianças de cinco anos é maior através da imitação e sem a presença de um tutor/
do que nos adultos, já que nessa faixa etária a criança professor, será que poderíamos pensar que no cérebro
ainda está mais atenta aos estímulos novos [16]. Isso da criança o processo de aprendizagem motora é mais
mostra que uma criança presta mais atenção aos es- fácil? A pesquisa conduzida por Calvo-Merino et al. [18]
tímulos visuais presentes nos objetos e ambiente do é um exemplo em NCC que levanta contribuições para
que o adulto. Se um técnico/professor souber edu- a diminuição de horas de treinamento. Estes pesquisa-
car/ensinar e desenvolver essas capacidades cogni- dores utilizaram fMRI para comparar a atividade cere-
tivas desde a tenra idade, é provável que um jovem bral entre 10 bailarinos profissionais, 9 profissionais
apresente desenvolvimento sensório-motor e visual em capoeira e 10 não experientes, ou seja, pessoas
muito acima daqueles que não receberam treinamen- que não possuíam habilidades nem em dança nem em
to baseado na neurociência cognitiva e comportamental. capoeira (grupo controle). Durante o teste de
É o caso de alguns atletas jogadores de futebol, como imageamento cerebral foi apresentada uma seqüência
Ronaldinho, Ronaldinho Gaúcho, Romário, Robinho, de movimentos de balé e capoeira com duração de 3
entre outros, e atletas da ginástica rítmica como Daiane segundos, respectivamente, para os 3 grupos amostrais.
e Daniela, que na infância e adolescência tiveram opor- Os resultados revelaram que há a ativação bilateral da
tunidades de desenvolver diversas habilidades físicas região do córtex pré-motor, sulco intraparietal, lobo
e cognitivas em função da adversidade e diferentes parietal superior direito e sulco temporal superior pos-
estímulos que o ambiente propiciava, muito diferen- terior em bailarinos e capoeiristas experientes em res-
tes daquelas crianças que vivem em apartamentos ou posta ao movimento apresentado, comparado a movi-
aprendem em escolinhas esportivas. mentos que não haviam recebido treinamento anterior.
Para as crianças em desenvolvimento físico, Por outro lado, no grupo controle não houve ativação
cognitivo e emocional, é muito importante que os edu- em nenhuma das regiões ativadas nos bailarinos e
cadores compreendam os processos bio-psico-sociais capoeiristas profissionais.
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Outra pesquisa relacionada à plasticidade cere- sordens dissociativas e concentração em atletas. A


bral motora e treinamento é a de Mikheev et al.[19] pesquisa de Singer [25], por exemplo, examinou como
com atletas de judô. Neste estudo, foram realizados o treinamento em neurofeedback afetava o desempe-
testes de lateralidade do tempo de reação no nho e ansiedade de dançarinos profissionais. Foram
processamento visual e auditivo em atletas experien- colocados dois sensores na região do T3 e T4 (região
tes e não experientes. Houve preferência pelo hemis- temporal do cérebro), e concomitantemente os dança-
fério direito do cérebro para processamento verbal e rinos receberam 20 sessões de neurofeedback com
informação visuo-espacial e pelo hemisfério esquerdo duração de 30 minutos. A ansiedade foi avaliada atra-
do cérebro para percepção da fala. Os resultados su- vés do State-Trait Anxiety Inventory Test (STAI). Os re-
gerem que o treinamento alterou a preferência de sultados indicaram que houve diminuição da ansieda-
lateralidade dos atletas, sugerindo que a plasticidade de e, conseqüentemente, melhora no desempenho,
cerebral motora nesta modalidade esportiva é signifi- após as sessões de neurofeedback.
cativa. Após anos de treino em judô, a lateralidade do A NASA (http://oea.larc.nasa.gov/ news_rels/2000/
comportamento motor do atleta pode ser alterada, 00-063.html) liberou a licença da tecnologia de biofeedback
permitindo que se utilize alguns golpes com a mão baseado em videogame para a empresa CyberLearning
esquerda mais do que a direita, mesmo sendo destro. Technology (http://www.smartbraingames.com/
Assim como as características biológicas e am- nasa.asp). Este equipamento de neurofeedback baseado
bientais podem contribuir na mudança no desempe- em videogame permite que a criança seja monitorada atra-
nho das pessoas, alterando as funções cognitivas e vés do EEG enquanto joga. Por estar sendo monitorada
emocionais, o treino em alguns jogos de videogame pelo EEG, o programa registra e analisa cada jogada da
também tem mostrado melhora da capacidade de con- criança e faz com que ela siga uma certa ordem sem alte-
centração (atenção tanto a foco interno como exter- rar o estado atencional. Os indivíduos monitorados apren-
no), das estratégias de aprendizagem, do controle da dem rapidamente a controlar os níveis de dificuldade do
ansiedade, entre outras habilidades cognitivas e emo- jogo após 10 horas de treino com neurofeedback [26].
cionais. Por exemplo, um estudo de Green & Bavelier Ao que parece, podemos inferir que as novas
[20] mostrou que os jogadores novatos em vídeogame tecnologias digitais e os estudos das neurociências
obtiveram melhorara na atenção visual após 10 dias estão trazendo novas possibilidades na melhora do
de treino. Além disso, este estudo demonstrou que os desempenho, reduzindo o tempo de treino/sessões.
jogadores também tiveram melhoradas a capacidade Por que não um programa dessa natureza para desen-
de orientação espacial e resolução temporal. volver algumas habilidades cognitivas e emocionais
Os constantes avanços na instrumentação do em atletas ou mesmo melhorar a performance do tra-
biofeedback e dos softwares amigáveis, projetados balhador ou de estudantes? Apesar desses avanços
por profissionais da saúde e engenheiros, têm ofere- tecnológicos de imageamento cerebral, é fundamen-
cido melhor compreensão sobre o uso das tecnologias tal a realização de mais pesquisas em biofeedback
computacionais que gerenciam reações emocionais e com EEG para o desenvolvimento de novos protocolos
medidas psicofisiológicas de pessoas durante sessões de intervenção, no qual o treinamento das ondas cere-
de psicoterapia e treinamento da auto-regulação. Nas brais possibilite a melhora no desempenho cognitivo
pesquisas em neurociência do comportamento, é pos- e emocional.
sível utilizar, por exemplo, monitor de freqüência cardí-
aca [21], resposta galvânica da pele [22, 23], EEG Neurociência e psicologia do exercício
biofeedback ou neurofeedback [24, 25], entre outros
equipamentos, para registrar mudanças psicofisio- No Brasil, sempre ouvimos falar do psicólogo do
lógicas em várias situações determinadas pelo pes- esporte, mas não no psicólogo do exercício. O psicólo-
quisador/profissional do esporte. go do exercício é o profissional que, através da prática
O neurofeeback, por exemplo, que soma treina- de atividade física, proporciona o bem estar físico e,
mento de ondas cerebrais (utilizando o modelo de con- principalmente, o mental. Com a onda de crescimento
dicionamento operante) e outros métodos de neuro- de doenças neurodegenerativas, obesidade, depres-
terapia, dentro de um protocolo da psicoterapia, tem são, cardiopatias, entre outras, a presença de um pro-
auxiliado cada vez mais os médicos e psicólogos nos fissional de psicologia do exercício se faz necessária
EUA e em outros países no tratamento em desordens em clínicas, academias, clubes, escolas, e outros lo-
como dependência química, depressão, estresse pós- cais. Por outro lado, transformar a atividade física em
traumático, hiperatividade e distúrbio da atenção, de- rotina ainda é um desafio muito grande para os profis-
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sionais da saúde e do esporte. Mesmo em relação à que aumenta o interesse das pessoas por praticar
psicologia do esporte, há muitas pesquisas nessa atividade física. Este trabalho demonstrou uma correla-
área, mas poucas sobre o quanto a atividade física ção entre polimorfismo do gene DRD2 deste receptor
pode beneficiar a saúde do cérebro. dopaminérgico em mulheres de raça branca e negra e a
O nosso dia-a-dia é uma soma de emoções, so- prática de atividade física. Para aquelas pessoas que
bre muitas das quais não temos controle e, quando praticam atividade física regular, portanto, o gene DRD2
surge uma doença, muitas vezes é tarde para reverter pode ter participação importante na aderência ao treino.
um quadro clínico, como o câncer ou um AVC. Assim, De qualquer forma, várias pesquisas têm indicado o pa-
as pesquisas sobre a atividade física têm mostrado o pel da atividade física nos neurotransmissores e sua
quanto é importante aos praticantes estarem consci- contribuição na compreensão da saúde cerebral [36-38].
entes dos exercícios na obtenção de resultados. Esse Uma outra região do cérebro cuja análise pode
enunciado é sustentado por investigações como a de contribuir em futuros estudos de alterações cerebrais
Brigman & Cherry [27], na qual sujeitos jovens e ido- a partir da atividade física é o lobo frontal. Esta área
sos foram investigados. Os sujeitos foram separados tem chamado a atenção dos neurocientistas, já que
em dois grupos, quanto a sua faixa etária, com o obje- hoje se exige cada vez mais do lobo frontal (plane-
tivo de analisar as capacidades de memória de traba- jamento, tomada de decisão, memória de trabalho,
lho, velocidade de processamento de dados e de de- entre outras funções) para obter melhora no desem-
senvolvimento no desempenho qualificado após três penho na sociedade da informação e tecnológica. Hoje,
dias de treinamento. O estudo concluiu que ambos os os resultados desses estudos vêm a partir da utiliza-
grupos apresentaram melhora em seus desempenhos ção de animais, principalmente roedores, e de pesso-
cognitivos, reforçando a hipótese que pessoas idosas, as que tiveram alguma lesão no lobo frontal. Vários
quando estimuladas, também são capazes de apre- estudos têm relacionado a prática da meditação com
sentar melhoras nas variáveis investigadas. a ativação do lobo frontal [21, 39-42]. Por exemplo, a
O efeito da manutenção e do treinamento das pesquisa de Dietrich [40] sugere que os estados alte-
exigências biológicas pode ser tão benéficos ao siste- rados da consciência são ativados pela região do córtex
ma nervoso que, em muitos casos, é possível que pré-frontal do cérebro. Já a pesquisa conduzida por Peng
doenças conhecidas como a demência ou a neurode- [21] mostra que a amplitude da freqüência cardíaca,
generação possam ser retardadas ou até mesmo se uma resposta autônoma, aumenta significativamente
manifestar de forma insignificante em idosos que se durante a meditação. Através de pesquisas com prati-
mantêm ativos durante toda a velhice [28-32]. Entre cantes, por exemplo, os neurocientistas buscam com-
os fatores responsáveis pelo aumento da eficiência preender melhor o cérebro e os benefícios que a ioga
do sistema nervoso está a maior capacidade da pro- pode trazer para a saúde das pessoas.
dução de neurotransmissores. O efeito desse fator é
bem documentado em estudos com animais, como o Conclusão
realizado por Dey [33,34], que investigou as altera-
ções de metabolismo do neurotransmissor serotonina Foram apresentados alguns artigos relacionados
no sistema nervoso de ratos que foram induzidos ao à NCC e à PEE, demonstrando que estudos na NCC
exercício físico, além das possíveis relações com o estão contribuindo para o avanço científico e tecnológico
efeito antidepressivo. Os resultados sugeriram que a da PEE. Outros estudos, não abordados, como os so-
transmissão serotoninérgica se mostrou aumentada, bre a visualização [43] e a hipnose [44], também re-
principalmente pelo aumento dos seus receptores. velam contribuições da NCC à PEE.
Esses efeitos podem durar até uma semana após o Um ponto importante a ressaltar é a necessidade
término das atividades físicas. Assim, o autor concluiu da elaboração de meios na redução do tempo de trei-
que, possivelmente em humanos, a prática de espor- namento através do desenvolvimento de ferramentas
tes pode aumentar os níveis do neurotransmissor e modelos de intervenção que se ajustem às caracte-
serotonina, exercendo um importante papel na preven- rísticas físicas e psicológicas individuais. Por outro lado,
ção e auxílio de tratamento da depressão. é importante que as crianças e adolescentes também
Por outro lado, estimular as pessoas à prática de possam receber uma educação adequada às necessi-
uma atividade física não é tarefa fácil. Para auxiliar esse dades do desenvolvimento físico e psicológico basea-
processo, um estudo de Simonen et al. [35] sugere que da nos estudos da NCC pelos profissionais da PEE.
o receptor dopaminérgico D2, responsável pelo controle Através dos avanços de imageamento cerebral e
motor e mecanismo de recompensa, pode ser um fator biofeedback por EEG, em um futuro próximo será possí-
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vel uma melhor compreensão do cérebro nas diversas 10. Loze GM, Collins D, Holmes PS. Pre-shot EEG alpha-
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serão os benefícios a longo prazo. 16. Sloutsky VM, Fisher AV. When development and
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