ELES VIERAM
DO NADA
Autor
K. H. SCHEER
Tradução
AYRES CARLOS DE SOUZA
Digitalização e Revisão
ANTÔNIO CARLOS
(De acordo, dentro do possível, com o Acordo Ortográfico válido desde 01/01/2009)
Depois de doze meses de lutas e aventuras na galáxia NGC
4594, também chamada de Gruelfin, onde vivem os cappins,
Perry Rhodan e seus oito mil companheiros da Marco Polo
finalmente conseguem iniciar a viagem de regresso à Via-Láctea,
depois de um voo malsucedido.
Os calendários da grande nave porta-veículos registram o
dia 27 de julho 3.438, tempo solar padrão, quando finalmente
chega a hora. Perry Rhodan não tem mais nada a fazer em
Gruelfin. A luta entre os takerers e os ganjásicos governados por
Ovaron já foi decidida. Mesmo que os juclas ainda causem
problemas, eles não serão capazes de impedir que a paz volte a
reinar na galáxia de Gruelfin, sacudida por lutas que duraram
vários milênios.
Perry Rhodan e seus companheiros esperam que o voo
dimesexta que os levará de volta para casa corra sem incidentes.
Afinal, os rastreadores de conversão pralitzianos voltaram a
funcionar perfeitamente, depois de terem sido examinados pelos
técnicos e cientistas ganjásicos em virtude das falhas que
apresentavam.
Perry Rhodan e seus companheiros ainda esperam que
encontrar o Sistema Solar e a Humanidade em perfeitas
condições. Assistiram à intervenção da mãe primitiva quando se
encontravam em Sikohat, mas não sabem que consequências essa
intervenção produziu no Sistema Solar, uma vez que as
comunicações dakkar entre as duas galáxias não existem mais.
Só há dois homens a bordo da Marco Polo que não querem
voltar a Via-Láctea. Têm outros planos, mas não imaginam que
há seres estranhos ameaçando a Via-Láctea, porque Eles Vieram
do Nada...
Fazia cerca de mil e duzentos anos que qualquer astronauta terrano sabia o que
vinha a ser o tribunal de bordo. Também eram conhecidas as leis de guerra, promulgadas
com a autorização do Parlamento Solar.
Cabia a qualquer comandante convocar o tribunal de bordo, assumir sua presidência
e julgar qualquer tripulante que tivesse cometido uma infração. O acusado tinha direito a
um defensor. A acusação ficava a cargo de um dos oficiais no comando. Os participantes
deviam possuir conhecimentos jurídicos.
No caso dos sabotadores Ricod Esmural e Terso Hosputchan o comandante da
Marco Polo, Coronel Korom-Khan, se encarregara da acusação. O matelógico-chefe Dr.
Eric Biehinger foi nomeado defensor.
O Administrador-Geral Perry Rhodan foi escolhido para presidir o Tribunal.
Outros quatro juizes de bordo tinham de ajudá-lo no julgamento. Seus votos valiam
tanto quanto o do presidente.
O Coronel Korom-Khan, um homem de estatura mediana, era um acusador
rigoroso. Seu intelecto não podia ser subestimado.
Mas o matelógico Professor Biehinger era um adversário nos debates que não lhe
ficava nada a dever.
A Marco Polo continuava a deslocar-se em queda livre pelo vazio intercósmico. Os
especialistas já tinham dado seu parecer.
Para surpresa geral, os acusados confessaram prontamente as infrações cometidas.
Tinham agido conscientemente, conhecendo as consequências de seus atos. Desta forma
os acusados deviam contar na melhor das hipóteses com a prisão perpétua com trabalhos
forçados em algum planeta-penitenciária.
Mas se fosse aplicado o artigo 25, inciso III das leis de guerra da Frota, a execução
por um comando de robôs seria inevitável. A pena só poderia ser comutada para a de
trabalhos forçados pelo resto da vida mediante um pedido de indulto dirigido ao
Administrador-Geral.
Ao contrário do direito comum do Império, que não admitia mais a pena de morte,
esta podia ser aplicada a bordo de uma espaçonave em operações de combate. Mas isso
só era possível quando a infração punha em perigo a vida de todos os tripulantes, a
existência da humanidade e o próprio veículo espacial.
Era o que tinha acontecido no caso. Os relatórios dos cientistas eram fulminantes.
Os oito mil tripulantes da Marco Polo estavam praticamente perdidos.
A nave porta-veículos partira no dia 16 de julho de 3.438, tempo padrão, com
destino à galáxia de origem. Naquele momento os relógios marcavam o dia 27 de julho
de 3.438, às 3:56 horas. Ninguém seria capaz de dizer se a indicação era exata. O
conversor pralitziano funcionara durante o voo dakkar, mas não se sabia como. Depois de
um voo dakkar de uma hora, segundo o tempo adotado a bordo, a nave já se deveria ter
aproximado da Via-Láctea o suficiente para que se visse uma bola luminosa de grande
tamanho. Mas a única coisa que aparecia nas telas eram pequenos pontos luminosos.
Cada um deles era uma galáxia.
***
Os sabotadores tinham sido interrogados. Os depoimentos das testemunhas estavam
no processo. O presidente do Tribunal de Bordo, Perry Rhodan, permanecera em silêncio.
A fase inicial do processo chegara ao fim. Rhodan parecia deprimido. O grande
cassino dos oficiais, onde funcionava o tribunal, estava repleto de tripulantes das mais
diversas graduações. Os que não encontraram lugar acompanhavam a audiência pelo
sistema de intercomunicação.
Esmural e Hosputchan estavam sentados à frente do pedestal improvisado dos
juizes. Tinham o direito de permanecer sentados, da mesma forma que os juizes, o
acusador e o defensor. Os pareceres estavam à frente de Rhodan, que passou os olhos
pelos textos, mas ainda não leu o texto. Olhou para os dois sabotadores.
― Enquanto não for proferida a sentença, os senhores têm o direito de ser
chamados pelo título e nome. Peço ao representante da acusação que não use sempre a
palavra acusados. Quero que o processo siga a devida ordem, sem erros formais. Os
pareceres dos especialistas estão à minha frente, mas o tribunal faz questão de ouvir de
viva voz as informações neles contidas. Peço ao Professor Geoffry Abel Waringer que
repita diante das pessoas aqui reunidas o que escreveu. Antes disso quero fazer uma
pergunta aos senhores Esmural e Hosputchan. Por que praticaram os atos de sabotagem?
Por quê? Seu defensor alega que não são responsáveis pelo que fizeram. Os senhores
concordam?
Nem Hosputchan nem Esmural responderam à pergunta importante. Limitaram-se
aos aspectos secundários.
Hosputchan disse sorrindo:
― Não concordamos de forma alguma. Não somos doentes mentais, nem se trata de
um ato impulsivo. Achamos que as medidas eram necessárias e agimos de acordo.
Rhodan não ligou para os sussurros indignados que se fizeram ouvir. Atlan sentiu a
confusão interior do amigo. Era o processo mais estranho ao qual já tinha assistido.
― Eles são de uma arrogância incrível ― cochichou Mentro Kosum. ― Eles dizem
tudo que querem. Se eu fosse o Administrador, teriam atravessado a eclusa dez minutos
depois do crime, sem traje de proteção.
― Seu julgamento é muito duro, almirante.
― Foi por isso que não me quiseram como juiz. Um sabotador que põe em perigo
uma nave com oito mil pessoas a bordo merece a morte. É a opinião de um velho
almirante arcônida e imperador.
O Professor Waringer aproximou-se da mesa dos juízes. Rhodan dirigiu-lhe a
palavra. Desta vez não quis tratar de você o ex-marido de sua filha assassinada há mil
anos.
― Sejam breves, por favor. Suas explicações escritas serão lidas na íntegra antes da
prolação da sentença. Quais foram os estragos causados?
Waringer passou a mão pela cabeça.
― Acho que ninguém ignora que depois da destruição dos cinco aparelhos de
dakkarcomunicação já não podemos fazer contato com Ovaron. Os instrumentos indicam
que estamos a cerca de doze milhões de anos-luz da galáxia Gruelfin. A autonomia da
Marco Polo, com seus quatro conversares lineares ultracompactos, não passa de doze
milhões de anos-luz. Por causa dos voos de longa distância realizados durante a última
operação, o conversor que foi instalado já perdeu cinquenta por cento de sua capacidade.
Não existe a menor chance de chegarmos a NGC 4594 em voo linear. E não podemos
contar com o auxílio do Ganjo Ovaron, porque as comunicações pelo rádio não existem
mais. Estamos no espaço normal e desenvolvemos a velocidade da luz. A Via-Láctea fica
a pelo menos vinte e quatro milhões de anos-luz, fora do nosso alcance. É uma distância
que só pode ser percorrida com um propulsor dimesexta.
― É possível estabelecer contato de hiper-rádio com as unidades avançadas da frota
de Ovaron?
― Não senhor ― respondeu Waringer prontamente. ― Para Isso precisaríamos de
cerca de vinte vezes a potência de transmissão de que dispomos.
― Quais são nossas chances, professor?
― São praticamente iguais a zero, a não ser que consigamos consertar o desvio de
ajuste do único rastreador de conversão não destruído. Estamos trabalhando para isso. A
ajuda do Capitão Hosputchan seria muito útil. É o único que sabe exatamente de que
forma e por meio de que manipulação se chegou à falha.
Rhodan voltou a olhar para os sabotadores.
― Capitão Hosputchan, está disposto a ajudar a equipe de físicos fornecendo dados
exatos?
Hosputchan limitou-se a sorrir. Não se dignou de dar uma resposta.
― Temos de dar nosso jeito, professor. Por favor, prossiga.
― Tudo isto ainda não é o pior. O que mais pesa é a questão de quanto tempo
realmente se passou. Os relógios de bordo indicam a duração do voo dakkar como sendo
de cinquenta e nove minutos e dezoito segundos. Mas não devemos deixar-nos enganar
por esta indicação.
― Por que acha que isso poderia acontecer?
Poucas vezes Rhodan ouvira Waringer dar uma risada tão sem graça.
― Por causa do erro de ajuste do rastreador de conversão pralitziano o propulsor
dimesexta gerou um campo de isolamento cujos valores energéticos diferiram muito da
norma calculada que deve ser observada. Demos a este efeito o nome de vazamento na
absorção. Poder-se-ia dizer que o campo foi perfurado. Em virtude do vazamento ocorreu
um fenômeno na zona dakkar que a equipe hiperfísica chamou de resistência
superenergética aos impulsos. O fenômeno pode ser comparado com a antiga resistência
causada pela fricção e pelas ondas no casco de um velho navio que não dispusesse de um
sistema de deformação subaquática capaz de diminuir a resistência.
Rhodan já deduzira do relatório quais seriam as consequências do vazamento de
absorção. Fez a pergunta.
Waringer mordeu os lábios. As juntas dos dedos cruzados estalaram. Ninguém se
importou.
― O fenômeno conhecido como a dilatação do tempo é conhecido desde o tempo
do terrano antigo Einstein. Foi confirmado pela prática dos voos espaciais realizados
posteriormente. Não devemos pensar que o efeito de dilatação só se verifique no universo
normal, e isto quando um objeto voador alcança velocidade próxima já da luz. A
mudança total do campo de referência de bordo em relação a um observador que se
encontre por exemplo num astro do tamanho da Terra, produzida por esse fenômeno,
também deve ser aceita no caso. Pouco importa que nos encontremos numa dimensão
física diferente. O erro de ajuste do rastreador de conversão sem dúvida cria um estado
idêntico ao efeito de dilatação einsteiniano.
― Quer dizer que o senhor acha que sofremos os efeitos de um fenômeno
semelhante?
― Acredito ― confirmou Waringer. ― Mas existe uma diferença. Em nosso caso
os valores colhidos durante as experiências realizadas no universo normal não se aplicam.
Viajamos durante cinquenta e nove minutos e dezoito segundos no semi-espaço dakkar,
com um rastreador de conversão que tinha sido manipulado. Conhecemos a distância
percorrida, mas não o tempo que durou a viagem. Para nós não se passaram mais de
cinquenta e nove minutos. Mas ninguém sabe quanto tempo se passou na Terra. Podem
ser três semanas tempo padrão, cem meses ou dois mil anos. Nossos aparelhos de
precisão também sofreram a influência do fenômeno. Os relógios de bordo indicam
exatamente o tempo que tiveram de medir sob a influência da dilatação dakkar. Seria
inútil tentarmos fazer uma interpretação abrangente do fenômeno, quanto mais calculá-lo.
A bordo da Marco Polo não existe nada que possa ter escapado ao efeito. Para nós
passaram cinquenta e nove minutos.
Rhodan olhou para o micromonitor geral de bordo que se encontrava à sua frente.
Viu homens saltando das poltronas. O som tinha sido desligado. Fora informado pelos
chefes de setor de que a situação a bordo estava muito tensa.
Gucky tentou mais uma vez sondar telepaticamente os pensamentos dos dois
sabotadores. Não conseguiu.
Terso Hosputchan levantou de repente e ergueu o braço. Todos ficaram em silêncio.
As discussões pararam. Oito mil homens acompanharam com um interesse enorme o
fenômeno projetado nas telas.
Uma esperança absurda nasceu no interior de Rhodan.
― Resolveu ajudar os cientistas? Já sabe qual é a situação.
― Por isso mesmo exijo sua atenção imediata, Senhor Rhodan.
O Administrador-Geral apoiou as mãos sobre a mesa e levantou. Os outros tiveram
a impressão de que teve de fazer um grande esforço.
― Como? O senhor fazendo exigências?
― Não faria mal à sua arrogância se usasse o respectivo título ao dirigir-se ao nosso
presidente, Capitão Hosputchan! — observou o Professor Kaspon, que ocupava o cargo
de juiz substituto e exercia as funções de chefe da divisão cirúrgica da Marco Polo.
Hosputchan fitou-o com uma expressão pensativa. Voltou a sorrir.
― Isso iria de encontro à minha mentalidade, Senhor Kaspon. Não existe nada que
me leve a dirigir-me ao senhor ou ao Senhor Rhodan da forma que estão acostumados a
ouvir da boca dos pobres homens pertencentes à espécie do homo sapiens.
Se Rhodan e os ouvintes ainda não estivessem perplexos, eles teriam ficado naquele
momento. Só houve um homem que compreendeu imediatamente. Era o cosmopsicólogo
Thunar Eysbert. Há horas trazia uma suspeita na mente. Teve a impressão de que ela
acabara de confirmar-se.
Eysbert, o homem irônico e sarcástico, levantou da cadeira. ― Peço ao presidente
do tribunal de bordo que me conceda a palavra ― disse.
Perry Rhodan controlou-se até onde isso foi possível. Fez um sinal para o
cosmopsicólogo.
Eysbert foi para na frente. Parou a alguns metros dos sabotadores. Desta vez exibiu
um sorriso de superioridade igual ao que até então só se vira nos lábios dos acusados.
― O senhor acaba de usar a expressão homo sapiens de uma forma acentuadamente
depreciativa. Usou-a para designar os homens dessa espécie que vivem hoje. Será que
isto significa que os senhores se consideram representantes de uma espécie humana
diferente, melhor ou mais avançada?
O rosto de Hosputchan mudou de cor. O sabotador levantou abruptamente. Seu
olhar dominador não poderia deixar de ser notado, mas sua postura parecia ridícula.
― Cuidado ― advertiu o Professor Eysbert no tom petulante que lhe era peculiar.
― Cuide-se para não cair quando eu soltar o ar.
Ricod Esmural também levantou.
― Grande e velho Tchenoboli, chamo por seu eterno espírito peregrino ―
exclamou Eysbert. ― Desculpe. A pessoa cujo nome acabo de citar foi o psicólogo mais
importante do século vinte e um. Além disso possuía dons parapsíquicos. Será que o
senhor é a trigésima segunda reencarnação de Tchenoboli? Talvez seja mesmo a de
número duzentos.
― Eu o previno! ― retrucou Hosputchan. ― O senhor está falando com dois
representantes da nova espécie humana, o homo superior! Estou disposto a dar esta
informação porque a interpretação do Senhor Waringer a respeito dos fenômenos
hiperfísicos que se verificaram a bordo deste repugnante instrumento de destruição
chamado Marco Polo confere com meus cálculos. Os senhores estão perdidos.
Quando ouviu estas palavras, Rhodan deixou-se cair na cadeira.
― Essa não! ― gemeu.
Eysbert não mostrou nenhuma emoção. Tirou calmamente um estojo de seu
uniforme de bordo, pegou um cigarro e acendeu-o.
― Desculpem o vício. Um psicólogo também pode tornar-se dependente.
― É um meio reprovável de acalmar os nervos revoltados ― afirmou Esmural. ―
Parece que as drogas fazem parte da vida do homo sapiens.
― Bem! Fazem parte de nós da mesma maneira que a inteligência superior, o
elevado nível ético, o pensamento refinado e a expressão espiritualizada dos olhos fazem
parte do senhor, não é mesmo?
― Apesar de sua linguagem rude o senhor acertou por acaso.
Rhodan já recuperara o autocontrole. Não ligou mais para as vozes que se faziam
ouvir. De repente teve a impressão de que o assunto devia ser encarado de uma forma
bem diferente.
― Silêncio, por favor! ― disse sua voz, saída de milhares de alto-falantes. ―
Silêncio, por favor! A audiência não deve ser interrompida a todo instante. Faça o favor
de chegar mais perto, Senhor Hosputchan.
Os dois sabotadores entreolharam-se. Acabaram cumprindo a ordem.
Da mesma forma que Rhodan, o juiz assistente Major Ataro Kusumi era a calma em
pessoa. Observava tudo sem mostrar nenhuma emoção.
― Senhor Hosputchan, estou disposto a aceitar sua forma de tratamento ― disse
Rhodan.
― A submeter-se a ele.
― Por favor, não fique ainda mais arrogante.
― É uma coisa que o homo sapiens não aprecia. Sabemos disso.
Rhodan passou os olhos pela sala. Ninguém disse uma palavra. Os dois sabotadores
deixavam as pessoas cada vez mais estupefatas.
― O senhor diz que é representante de uma nova espécie humana, a espécie do
homo superior. O comando conhece suas qualidades excepcionais, pois é graças a elas
que fazem parte da tripulação da Marco Polo. Já compreendi por que tentaram impedir a
volta da nave. Os senhores não praticam sabotagem por motivos baixos. Agem por
convicção. Acertei?
― Parece que às vezes o senhor também consegue enxergar claro.
― Obrigado pelo elogio ― respondeu Rhodan em tom seco. ― Se fazem tanta
questão de manipular os mecanismos da máquina de tal forma que não podemos voltar a
Gruelfin nem chegar à Via-Láctea, isso só pode ter um motivo.
― O senhor quase chega a deixar-me curioso, Senhor Rhodan!
Hosputchan voltou a sorrir.
O Administrador-Geral entrara no psicojogo. Não se impressionou com mais nada.
― Quando seu colega Ricod Esmural foi preso, ele mostrou sintomas do medo de
morrer. Sua mente e seu corpo não são muito resistentes.
Hosputchan fez um gesto. Parecia que queria apagar a observação que Rhodan
acabara de fazer.
― Para um cientista espiritual que segue o lema da verdadeira pureza, estas coisas
não têm a menor importância.
― Muito bem. Aceito a observação. O Tribunal de Bordo não é formado por
monstros.
― É formado por servos submissos de um ditador despótico que sabe subjugar a
humanidade e manipulá-la de tal forma que conseguiu manter-se no poder absoluto por
cerca de mil e quinhentos anos. Refiro-me ao senhor, Rhodan.
Perry contemplou o acusado. Parecia cada vez mais interessado.
― Compreendi. Por que de repente se mostra disposto a responder às perguntas
formuladas pelos membros do tribunal?
― Pensei que já tivesse percebido. Tenho certeza absoluta de que a Marco Polo não
poderá voltar à Terra. Por isso as normas de sigilo perderam a validade. Ricod Esmural e
eu alcançamos nosso objetivo. O senhor nunca mais porá os pés na Terra. Mas se
conseguir percorrer a distancia que falta à velocidade da luz, o senhor e seus súditos só
envelhecerão alguns meses. Basta lembrar a exposição do Senhor Waringer. O senhor
terá essa graça por causa do efeito de dilatação. Mas na Terra distante já terão passado
centenas de milhares de anos, o suficiente para que possamos desmontar completamente
suas instalações militares, livrar o ser humano da ciência agressiva e levá-la de volta ao
seu pedaço de chão. Depois de tanto tempo o senhor não terá mais nenhuma chance. Foi
por isso que resolvi prestar as declarações.
― Acontece que o senhor está com medo de ser executado de acordo com o artigo
25 do Código da Frota.
Hosputchan empalideceu. Esmural também mudou de cor.
Eysbert acendeu outro cigarro. Ficou atento aos diálogos.
― Não nos ofenda, Senhor Rhodan. Na Terra já existem dois milhões de
representantes do homo superior. Os super-homens levaram muito tempo para
amadurecer. Vivemos escondidos, pois sabíamos que do contrário seríamos
exterminados.
― O senhor está muito enganado ― respondeu Rhodan. ― Mas está bem. Os
senhores querem depor o Parlamento Solar, tirar-me do cargo de Administrador-Geral e
desmontar as instalações técnicas e militares do Império Solar. Não é isso?
― Não. O senhor se esquece de alguns detalhes importantes. O próprio ser humano
tem de ser mudado. Todas as formas de governo serão abolidas. Cada indivíduo será
dono absoluto de seus atos. O uso da energia atômica será proibido. O homem pertecente
à espécie do homo sapiens será levado de volta à atividade sadia da agricultura. Todos os
bens existentes na Terra pertencerão a todo mundo. Todos viverão em paz. Sua ditadura
está chegando ao fim, Senhor Rhodan. Posso garantir que graças à dilatação do tempo
verificada dentro da zona dakkar o senhor está viajando há muito mais tempo do que
indicam seus instrumentos de bordo. Nós, os representantes da espécie do homo superior,
dedicar-nos-emos exclusivamente às ciências do espírito. Os seres primitivos poderão
trabalhar no ar puro. Cuidaremos deles.
― E se um dia aparecer um chefe de frota nada pacato dos saltadores galácticos? O
que farão? Meditarão?
― Deixe isso por nossa conta ― respondeu Hosputchan.
O Professor Eysbert levantou a mão. Rhodan fez um gesto para que falasse.
― Peço ao tribunal que a audiência seja interrompida por quatro horas. Gostaria de
analisar as declarações dos dois cavalheiros e apresentar o resultado ao tribunal.
Rhodan levantou.
— Defiro o pedido. A audiência é suspensa por quatro horas.
***
Quando a audiência foi reiniciada, o cosmopsicólogo Thunar Eysbert prestou
depoimento como perito. Seu laudo baseava-se não apenas em sua opinião pessoal, mas
na de um grupo de especialistas.
Eysbert chegou à conclusão de que os dois representantes do homem superior
terrano de forma alguma podiam constituir a fase final dessa espécie humana. Sem
dúvida um dia haveria super-homens na Terra. Mas seriam indivíduos capazes de, graças
à sua inteligência superior, combinar a ética e a moral com as exigências do mundo real.
Ao que parecia, os representantes da espécie homo superior que já existiam, em seu
estágio atual, de forma alguma estariam em condições de compreender nem mesmo de
forma imperfeita as necessidades duras do dia-a-dia. Não havia dúvida sobre sua
inteligência, mas sim quanto à sua filosofia de vida, consistente num pacifismo total e
num planejamento fora da realidade.
A simples intenção de desmontar usinas atômicas que serviam exclusivamente para
abastecer a população de energia era bastante preocupante.
A ideia de que cada indivíduo devia viver de forma independente, segundo o
sistema halutense, sem qualquer legislação, equivalia a um suicídio.
Eysbert concluiu afirmando que o homo superior faria bem se quisesse recolher-se a
outro planeta com a autorização do Parlamento Solar, para seguir suas inclinações. A
frota imperial se encarregaria de dar proteção ao mundo de imigrantes.
Hosputchan e Esmural limitaram-se a sorrir. Não disseram uma palavra. Sabiam que
a Marco Polo estava perdida.
Mas mudaram de opinião exatamente dois minutos e meio antes que fosse prolatada
a sentença.
Waringer, que há tempo se encontrava no pavilhão em que tinha sido instalado o
rastreador de conversão pralitziano, fez contato pelo intercomunicador. Rhodan, que ia
iniciar a leitura da sentença, olhou para a tela.
Waringer sorriu. Finalmente disse em tom enfático:
― Meu colega Hosputchan não foi tão inteligente como acreditava. Se não tivesse
sido cuidadoso a ponto de provocar um curto-circuito no projetor de raio de comando
ultraluz do campo esférico TP 4, nunca teríamos encontrado o defeito. Às vezes cuidado
demais pode fazer mal.
― O conversor pode ser consertado? ― perguntou Rhodan em tom nervoso em
direção aos microfones.
― Naturalmente. Não foi destruído como os três aparelhos sobressalentes. O defeito
no campo energético representava uma pista muito clara que nos levou ao local do crime,
se me permite esta expressão. A modificação da regulagem foi feita nos comandos de
saída. São bem complicados. Meu colega é mesmo muito competente. Os danos
provocados no projetor de raios de comando deviam evitar uma reprogramação casual
pelo sistema positrônico do dakkar. Isso não seria possível, mas nosso amigo não pode
deixar de danificar mais um aparelho suplementar. Uma modificação na regulagem não
chega a ser um estrago no verdadeiro sentido da palavra. Levaremos cerca de cinco horas
para concluir o ajustamento e o pequeno conserto.
Parecia que Hosputchan ia ter um colapso. Chorou que nem uma criança. Eysbert
contemplou-o com uma expressão pensativa. Finalmente Perry Rhodan proferiu a
sentença:
— Em nome do Poder Legislativo, exercido pelo Parlamento Solar, e da
humanidade por ele representada, que por sua vez é representada pelo Tribunal de Bordo
do Ultracouraçado Marco Polo, é tomada a seguinte decisão:
“Em virtude do comportamento dos acusados e suas manifestações, o Tribunal de
Bordo se vê obrigado a não pronunciar a condenação em conformidade com a lei da Frota
e o direito de guerra. O Senhor Capitão Ricod Esmural e o Senhor Capitão Terso
Hosputchan, além de deverem ser considerados pessoas que praticaram atos criminosos a
bordo de uma nave de guerra terrana, são perigosos sabotadores que põem em perigo a
existência da Humanidade. Por isso o tribunal resolveu manter presos os dois oficiais
para depois de nosso regresso à Terra entregá-los ao Supremo Tribunal Solar, para
julgamento.”
Os dois representantes da espécie homo superior desfaleceram de vez. Foram
levados imediatamente à clínica de bordo pelos medo-robôs.
Rhodan encerrou a audiência. Exausto, dirigiu-se ao seu camarote, onde Atlan já
estava à sua espera.
O arcônida ofereceu um caneco de café ao amigo.
― Como se sente?
― Que nem um gato que acaba de ser tirado da água.
― Hum... . Você se deu conta de que Korom-Khan pediu a pena de morte segundo
o artigo 25?
― Sem dúvida. Isso me caiu sobre o estômago.
― Ora essa ― ironizou o Lorde-Almirante. ― Para um déspota como você devia
ser uma satisfação mandar executar dois sabotadores que puseram em perigo sua vida,
além da de oito mil escravos dedicados. Além disso um ditador a esta hora já estaria
pensando num meio de exterminar dois mil representantes da espécie homo superior
depois de sua volta à Terra. Seria bom preparar uma psicocampanha. Não seria nenhum
problema. Por que não faz isso, amigo?
Rhodan colocou o caneco sobre a mesa. Estava com os olhos mortiços.
― Se não mudar de tom, você vai sair dos meus aposentos particulares dentro de
três segundos.
Atlan tirou o cinto com as armas.
― Não dá mesmo para falar direito com esse cara ― disse sorrindo. ― Tudo bem,
terrano. Quanto tempo levará Waringer para terminar os reparos?
4
Durante a audiência a velocidade da Marco Polo fora reduzida para dez por cento
luz. Rhodan queria evitar efeitos de dilatação indesejáveis no espaço normal einsteiniano.
Fazia pouco menos de uma hora que os resultados da votação tinham sido
anunciados.
O problema era o seguinte: A tripulação devia levar a nave de volta à galáxia
Gruelfin, para tentar o reparo completo dos rastreadores de conversão pralitzianos, ou
seria preferível iniciar imediatamente a viagem de volta à Via-Láctea?
O resultado da votação foi muito claro. Nenhum tripulante fizera questão de voltar à
NGC 4594. O motivo disso era conhecido.
Se o rastreador de conversão consertado por Waringer e sua equipe estivesse
funcionando, fazia pouca diferença que distância seria percorrida com ele. Funcionaria
perfeitamente, ou falharia por completo. Por isso resolveu-se arriscar o voo dakkar para a
Via-Láctea. Ninguém se manifestara contra a sugestão do comando.
O senso de responsabilidade de Rhodan ficou sujeito a uma sobrecarga ainda maior.
O Administrador-Geral tinha plena consciência do risco que estava correndo.
Havia uma questão martirizante. Será que todos os tripulantes da Marco Polo
tinham uma ideia clara da situação para poderem realmente manifestar sua opinião
pessoal? Rhodan tinha uma impressão vaga de que pelo menos sete mil tripulantes
confiavam cegamente em sua proposta e que isso os levara a votar a favor dela.
Atlan imaginava o que ocupava a mente do amigo. Estava novamente sentado na
segunda poltrona de comando, ao lado de Rhodan.
Fazia um minuto que a Marco Polo voltara a acelerar. O rugido dos jatopropulsores
que impeliam a nave à velocidade da luz perturbava a conversa. Os homens tinham
colocado novamente os trajes de proteção. O rádio funcionava perfeitamente. Toda vez
que chegava uma imagem de outro setor, o som era transferido automaticamente para os
alto-falantes instalados nos capacetes.
Na sala de máquinas principal o engenheiro-chefe manipulava os comandos e
acompanhava as funções com a precisão de sempre. Faltava pouco para a manobra de
entrada no espaço dakkar. Oito mil homens sabiam que risco estavam correndo. Afinal, a
Via-Láctea ainda ficava a vinte e quatro milhões de anos-luz.
O Coronel Korom-Khan deu início à manobra. Os emocionautas Senco Ahrat e
Mentro Kosum vigiavam todos os comandos. Podia-se confiar no trabalho de Korom-
Khan.
A velocidade à qual se daria o salto para o espaço dakkar fora calculada num valor
correspondente a exatamente 2,35967 por cento infraluz. Desta forma o rastreador de
conversão, que era o único aparelho dessa espécie que ainda funcionava, não ficava tão
sobrecarregado.
― Tudo pronto para a manobra de semitrilha ― soou a voz de Cavaldi.
Seu rosto apareceu nas telas de intercomunicação. Mas a galeria panorâmica
mostrava a escuridão do vazio cósmico. A galáxia da humanidade ainda ficava muito
longe. Sua posição fora introduzida no sistema positrônico de fixação de rota do
mecanismo dakkar.
― Se desta vez não der certo é porque os sabotadores conseguiram o que queriam
― disse Rhodan através do sistema de comunicação por cabo à prova de escuta do
capacete de Atlan, ao qual também estavam ligados os emocionautas. ― Não tenho
nenhum interesse em realizar um voo de dilatação e viajar durante pouco mais de vinte e
quatro milhões de anos enquanto só envelheço alguns meses. A ideia me deixa
apavorado.
O rugido dos jatopropulsores silenciou de repente. Ouviu-se um estranho sussurro.
A escuridão do espaço normal apareceu. A ondulação trêmula vermelho-escura voltou a
aparecer nas telas de imagem. Milhares de universos, todos eles parecidos com uma
molécula gigante, prendiam a atenção dos astronautas.
O ruído das máquinas era diferente da viagem de ida. Parecia que o trovejar dos
geradores postos a funcionar à potência máxima aumentava e diminuía constantemente.
Cavaldi voltou a chamar.
― Centro de máquinas principal. O Professor Waringer está aqui. Os dados
fornecidos pelos instrumentos são perfeitos. O novo ajuste funciona. Nenhuma mudança.
A tensão do campo dakkar de absorção em tomo da nave se estabilizou. Vamos
conseguir. Final.
Rhodan respirou profundamente. Mentro Kosum virou a cabeça. Sorriu para o
Administrador-Geral.
― Viu, disse o sábio, três mais três sempre são sete.
O estado de espírito da tripulação melhorava a cada minuto. Meia hora depois da
entrada na semitrilha dakkar 6D vieram novas notícias. O rastreador de conversão
pralitziano continuava a funcionar satisfatoriamente. O sistema positrônico de fixação de
rota fazia cálculos sem parar.
A figura luminosa parecida com uma bolha, que dava a impressão de estar
pendurada “embaixo” da nave, era o universo ao qual pertenciam a Via-Láctea e também
a galáxia Gruelfin.
Viu-se que o receio de talvez sair num universo diferente não tinha fundamento. A
analogia energética da nave não permitia que isso acontecesse.
Finalmente chegou a hora. Waringer voltou a chamar.
― Encontro-me novamente no centro físico. A operação de retomo é iminente.
Segundo os cálculos da rota, ele deverá verificar-se dentro de três momentos. Acho que
seria conveniente colocar os cintos de segurança. Se o rastreador de conversão ainda
estiver com problemas, poderá haver fortes vibrações.
― A sugestão é transmitida em forma de instrução a todos os setores ― respondeu
Rhodan. ― Façam votos de que dê certo, minha gente. Na sala de comando está tudo
preparado, Cavaldi. O comandante iniciará uma manobra de frenagem assim que a nave
tiver voltado ao espaço einsteiniano. Deixe as emocioligações em aberto e abstenha-se de
agir por sua conta.
Esperava-se que acontecesse uma coisa imprevisível. Atlan contava com um
estrondo, Rhodan com estranhos sussurros, outros homens com fortes abalos ou até
rupturas de matéria.
Não aconteceu nada disso. A Marco Polo caiu suavemente de volta ao universo
normal.
De repente as telas se iluminaram. A espaçonave corria em direção a uma galáxia
completa de estrelas fulgurantes. Bilhões de sóis, que por causa da distância, que ainda
parecia ser muito grande, pareciam antes uma massa compacta de grande luminosidade,
provavam que a nave tinha chegado. Mas apesar disso os astronautas experientes notaram
imediatamente uma anomalia que não deveria ter-se verificado com os comandos bem
ajustados.
― Silêncio, por favor ― gritou Rhodan.
Como as vozes que se faziam ouvir no alto-falante instalado em seu capacete eram
cada vez mais altas, Rhodan abriu o traje de proteção, dobrou para trás o capacete e
colocou o microfone do sistema de chamada geral perto dos lábios.
― Rhodan a toda a tripulação. Vamos ter juízo! Também vejo que não saímos
dentro da Via-Láctea, mas à frente dela.
― Será que é mesmo a Via-Láctea, senhor? ― perguntou alguém.
As discussões apaixonadas acabaram.
― Faço votos que sim. Vamos esperar as informações dos astrônomos e
astrofísicos. Atenção, observatório polar. Já iniciou as medições?
― Naturalmente, senhor. Os dados óticos estão sendo introduzidos no computador
positrônico de confronto. Daqui a três minutos teremos outras informações. Mas tudo
indica que chegamos à Via-Láctea.
Nos inúmeros setores, nas cinquenta corvetas e nos cinquenta cruzadores ligeiros o
ambiente era tenso.
Os astrofísicos fizeram contato. Seus radiotelescópios tinham sido colocados em
posição.
― Captamos os impulsos de uma radioestrela. Estamos recebendo a interpretação
dos dados. Trata-se de um pulsar. Um sol periférico isolado. Mas ainda pertence à
galáxia. Um instante, por favor...
Demorou apenas um segundo para que a radioestrela fosse identificada.
― Rastreamento concluído. Trata-se do farol solar Hiperon Gal Sul, um gigante
vermelho. Fica a 24.300 anos-luz do Sistema Solar. A distância que nos separa dele é de
aproximadamente 8.000 anos-luz. Estamos em casa, senhor.
Dali a pouco os astrônomos colocaram a estrela no campo dos gigantescos
telescópios com lentes de campo energético. Tratava-se do célebre farol solar ao sul da
galáxia.
Rhodan fez um sinal para o comandante. Korom-Khan mexeu nos comandos. Os
gigantescos propulsores da Marco Polo voltaram a rugir. A manobra de frenagem foi
iniciada a fim de reduzir a velocidade quase igual à luz, o que era necessário para
conseguir resultados mais precisos.
O movimento a bordo voltou ao normal. Oito mil homens infinitamente aliviados se
deram os parabéns.
Os trajes de combate foram tirados e guardados. Rhodan entregou o seu a um robô
que veio correndo. Foi para perto dos assentos dos emocionautas.
― Mr. Kosum, substitua o comandante. Encarregue-se da pilotagem. Quanto aos
outros, quero que se dirijam imediatamente aos seus camarotes. Estão exaustos. Vamos.
Korom-Khan e Ahrat jogaram para trás os capacetes SERT. O cansaço estava
estampado em seus rostos. Senco Ahrat chegara ao limite de sua capacidade. Korom-
Khan sentia-se um pouco melhor.
― É a ordem mais agradável que já recebi ― disse o emocionauta. ― Vamos em
frente, Senco. Nosso calouro cuidará do resto.
Todos riram para Mentro Kosum. Ele, que até então só exercera as funções de
observador, retribuiu o sorriso e disse:
― Já ouviu um carneiro relinchar?
Korom-Khan acenou com a cabeça sem abalar-se nem um pouco.
― Vi nesta sala de comando. Ali está sentado um desses monstros.
Korom-Kham apontou para Kosum, cujo rosto estava sendo coberto pelo capacete
SERT até a altura do nariz.
A Marco Polo continuava a reduzir a velocidade de mergulho. Os computadores
positrônicos cosmonáuticos já estavam calculando a rota mais favorável para o Sistema
Solar terrano.
Poucos se lembraram do efeito de deslocamento do tempo previsto por Waringer.
Estavam em casa!
Mas o pensamento de Rhodan seguia um caminho diferente. Atlan foi o único que
notou como estava preocupado.
Mas o Administrador-Geral permaneceu calado.
5
A grande manobra linear realizada por Kosum fez a supernave Marco Polo
percorrer cerca de oito mil anos-luz. Kosum fez o veículo sair perto do farol solar
Hyperon Gal Sul, conforme previam os planos.
Naquele momento a nave se deslocava em queda livre, desenvolvendo velocidade
bem inferior à da luz. Seguia em direção à distante Via-Láctea.
Perry Rhodan escolhera a grande sala de conferências, que geralmente só era usada
para encontros confidenciais. Desta vez a tripulação teve oportunidade de ouvir tudo pelo
intercomunicador. Num caso como estes não havia segredos.
Os chefes das equipes científicas e técnicas e os oficiais encarregados da
cosmonáutica estavam presentes. Os comandantes dos grupos de cruzadores e corvetas
faziam parte do grupo.
Ninguém parecia alegre. A experiência com a nave-arraia desconhecida dava o que
pensar. Rhodan tomou a palavra.
― Antes de mais nada devemos resolver se vamos voltar para junto do chamado
enxame para tentar a identificação ou se...
― Recuso a proposta ― interrompeu Waringer.
― Por favor, espere que eu termine. Também ia dizer que acho mais importante
voltarmos o mais depressa possível ao Sistema Solar. Por causa da interrupção repentina
das comunicações dakkar com Titã e Merceile não sabemos que rumo tomou a
pedoinvasão. O que é feito dos coletores e seus vassalos? Ainda poderemos aproximar-
nos do enxame, mas desta vez o faremos com uma poderosa esquadra.
― Antes assim ― disse Waringer. ― Afinal, o enxame ainda se encontra a uns oito
mil anos-luz da Via-Láctea. As unidades levarão cerca de dez mil anos para chegar lá, a
não ser que seus comandantes, ou seja lá o que for, resolvam executar mais uma das
manobras ultraluz que já conhecemos.
― Chegar aonde? ― perguntou a mecânica de gens Dra. Cláudia Chabrol, que
fizera parte da tripulação do deformador de tempo zero.
O cosmopsicólogo Dr. Multer Prest, que também participara da expedição no tempo
realizada em junho de 3.433, exibiu um sorriso triste.
― Querida Cláudia, até parece que a senhora ainda sofre os efeitos das radiações.
― Não pedi sua opinião.
― Eu nunca me casaria com a senhora ― afirmou o cientista de aspecto grosseiro.
― Tem a língua mais afiada que um bisturi energético. Waringer estava se referindo à
nossa galáxia. Isto significa alguma coisa para a senhora?
― Dou por encerrado este assunto ― observou Rhodan impaciente.
Em seguida acenou com a cabeça para a mecânica de gens.
Cláudia sorriu.
― Geoffry, qual é sua opinião sobre os acontecimentos?
― Não tenho a menor ideia de como os desconhecidos podem ter produzido o raio
de manipulação. Só sei que sua carga energética era muito reduzida, mas foi suficiente
para afetar a estrutura de nosso campo paratron, que deixou passar livremente o raio de
deterioração mental, mas somente porque o campo reagiu à mudança de frequência das
vibrações. Em virtude disso os aparelhos que funcionam na quinta dimensão também
foram manipulados. Uma constante gravitacional artificial se formou no interior da nave.
Esta constante foi produzida tanto pelas radiações secundárias do campo defensivo como
pelos neutralizadores de pressão e gravidade que funcionavam com valores falsos. Já
dispomos dos resultados fornecidos pelos instrumentos. São surpreendentes. De fato,
pouca coisa mudou.
Waringer olhou em volta meio desorientado. Parecia que queria ouvir uma
explicação melhor.
― Que resultados? ― perguntou Rhodan.
― A unidade de medida da constante gravitacional galáctica é expressa em
megakalups, uma designação tirada do nome de meu colega falecido, Professor Arno
Kalup. Ou, em abreviatura, mkl. O conceito era desconhecido até que foi introduzido o
sistema de propulsão linear. Corresponde à frequência das vibrações de unidades
energéticas da quinta dimensão, pertencentes a uma categoria superior, que são
encontradas em toda parte. Cada sol é um hiperemissor de radiações. Antigamente isto
não podia ser detectado. O mistério da gravitação assenta numa base pertencente a uma
dimensão superior. Se a constante a que acabo de aludir é manipulada, surge um efeito ao
qual o cérebro humano parece ser muito sensível. Chegamos à conclusão de que até os
animais mantidos a bordo para fins de experiência sofreram um processo de deterioração
mental. Dali se conclui que não são somente os seres humanos que sofrem a influência do
fenômeno.
― Mas isso deve aplicar-se principalmente à galáxia com seus inúmeros fluxos
energéticos.
― Sem dúvida ― concordou Waringer. ― Acontece que também fomos atingidos.
É que toda nave de um povo astronauta dispõe de campos defensivos, neutralizadores de
pressão e principalmente equipamentos antigravitacionais. Quer dizer que éramos uma
espécie de minigaláxia com sua própria constante gravitacional. Esta foi reduzida
exatamente em 852 megakalups. Em virtude disso toda pessoa que não possui seu próprio
bloqueio mental defensivo, nem tinha sofrido uma mutação ou possuía um ativador de
células, sofreu os efeitos de uma debilidade de concentração que degenerou em instantes
num processo de deterioração mental. E bem possível que, se este enxame chegar à Via-
Láctea, dezenas de milhares de naves-arraia do tipo que vimos manipulem a constante
gravitacional galáctica, causando uma deterioração mental de proporções galácticas nos
seres que vivem nela.
― Acho isso um grande exagero ― disse o físico-chefe da Marco Polo, Professor
Dr. Renus Ahaspere. ― Não se esqueça do tamanho de nossa galáxia.
― Sempre riram de mim por causa de minhas teorias malucas ― respondeu
Waringer em tom resignado. ― Mas acho possível que os desconhecidos sejam capazes
de manipular toda a galáxia. Quer saber por que tive esta ideia que pode parecer maluca?
― Quero.
― O raio de conversão que nos pôs fora de ação era tão fraco que ninguém se teria
preocupado por ele. Qualquer aparelho de raios ultravioleta produz radiações mais
intensas. Pode-se dizer que uma nave gigantesca como a Marco Polo foi inutilizada com
uma alfinetada. Bastou deteriorar a mente dos tripulantes. Será que este efeito não
poderia ser estendido a uma galáxia do tamanho da Via-Láctea por meio de energias mais
fortes? Campos gravitacionais existem em toda parte. Até são encontrados no espaço
interestelar.
― Mas...
― Desculpe, professor ― interrompeu Rhodan. ― Depois do que aconteceu
certamente tentarei esclarecer o assunto. Defrontamo-nos com um perigo iminente, seja
qual for a situação. Acho que o mínimo que se pode dizer é que os desconhecidos são
capazes de deteriorar a mente dos seres nas regiões atravessadas por eles. E é quanto
basta. Deixemos os debates científicos de lado. Gostaria que me dissesse o que querem os
desconhecidos. Quais são suas intenções? Trata-se de uma invasão? Em caso afirmativo,
contra quem é dirigida? Contra a humanidade ou outros povos?
― Por enquanto ninguém pode dizer ― afirmou o cosmopsicólogo Eysbert em tom
calmo. — Deixe de lado o complexo, senhor. É o conselho que lhe dou. E não se esqueça
dos dois presos que afirmam pertencer à espécie do homo superior. Devem ser deixados
na Terra o mais depressa possível.
― Acho que certa vez falei numa dilatação do tempo ― cochichou Waringer.
Mas foi compreendido.
Rhodan levantou.
― Partiremos imediatamente em direção ao Sistema Solar. Realizando algumas
manobras forçadas, percorreremos a distância de pouco mais de vinte e quatro anos-luz
em duas etapas de voo linear. Seu conversor de compensação aguentará isso, Cavaldi?
― Garanto que sim.
― Mas é bom não voltar a brincar com os controles ― ironizou Ahaspere.
Rhodan mandou passar alguns filmes feitos pelas câmeras automáticas do sistema
positrônico de vigilância. Mostraram cenas horríveis durante o período de deterioração
mental. De vez em quando alguém ria daquilo que ele mesmo tinha aprontado.
― Admiro os seres humanos ― rugiu a voz de Icho Tolot. ― Quem é capaz de rir
de uma coisa dessas, goza de boa saúde física e mental. Não vai promulgar normas
especiais?
Os olhos enormes de Tolot encararam Rhodan. O Administrador-Geral acenou com
a cabeça.
― Vou, sim. Prestem muita atenção, por favor. Os detalhes fornecidos por Tolot
serão transmitidos posteriormente para seus setores. Mas é bom que fiquem bem atentos.
Rhodan fez uma pausa de efeito.
― Para evitar um risco maior, devemos partir do pressuposto de que ainda nos
encontraremos com outra nave-arraia dos desconhecidos. Será elaborado um plano de
ação para cada tripulante sobre cuja imunidade não haja nenhuma dúvida, plano este que
será executado se houver outra emergência. Os robôs que possuem componentes
biológicos serão paralisados a partir deste momento. Está provado que as explosões
foram causadas pelas máquinas de guerra. Todos os robôs exclusivamente positrônicos
recebem imediatamente uma programação especial que será ativada automaticamente se
houver outra onda de deterioração mental. Outro sistema positrônico especial será ligado
no mesmo momento para desativar ao mesmo tempo todos os conjuntos em que haja
componentes vivos. Desta forma eliminaremos as maiores fontes de perigo. Verificou-se
que o grau de deterioração mental muda de pessoa para pessoa. Aquelas que possuem um
QI mais elevado comportaram-se de maneira mais sensata que os que não são gênios por
natureza. Isto deve ser levado em consideração. Os robôs e as pessoas que continuarem a
pensar mais ou menos claramente receberão instruções para que os tripulantes que
tiverem sido mais afetados sejam trancados imediatamente em recintos seguros.
Usaremos as grandes cantinas. Por enquanto é só. O plano de ação será transmitido aos
seus fac-símiles, conforme já foi mencionado. Distribuam cópias. Quero que todos
estejam preparados.
Rhodan encerrou a importante reunião. Restavam muitas dúvidas que não puderam
ser esclarecidas. O pedido de Kuruzin, que queria aproximar-se do enxame num
cruzador, foi rejeitado. Rhodan queria voltar imediatamente ao Sistema Solar.
***
Dali a uma hora a Marco Polo acelerou. Enquanto isso oito mil pessoas tinham sido
informadas sobre o que deviam fazer se houvesse outra ação de deterioração mental. As
pessoas imunes sabiam perfeitamente quando e como tinham de chegar aos seus postos.
Nada tinha sido esquecido. A meticulosidade terrana estava celebrando mais um dos seus
triunfos.
Atlan estava cético. Fora designado para o cargo de chefe de emergência do centro
de artilharia.
― Olhem que atiro muito mal! ― comentou.
8
Generalidades:
Fazia uma hora que a Good Hope II tinha pousado. O quarto teste de voo realizado
pelo estaleiro levara a nave para perto do sol gigante azul Vega. Os dois conversares de
compensação waringianos tinham funcionado perfeitamente nas mais variadas condições.
Os pequenos defeitos detectados nos aparelhos recém-instalados, em substituição aos
sistemas biopositrônicos inutilizados, puderam ser reparados em viagem com os recursos
encontrados a bordo.
O cruzador estava para ser aceito pela equipe técnica do centro de controle terrano.
Uma trovoada estava desabando sobre a paisagem florida que se estendia do outro lado
do campo paratron. O controle das condições meteorológicas falhara mais uma vez.
Todos os homens e mulheres que já tinham trabalhado na armação de espaçonaves
tinham oferecido seus serviços. Os pequenos barcos espaciais do cruzador, que em
virtude das características deste só consistiam em seis jatos espaciais com um diâmetro
equatorial de oito metros e doze caças espaciais modernos do tipo Lightning, também
tinham sido testados depois de uma revisão geral.
A tripulação formada por sessenta pessoas já estava a bordo. Entrara em veículos
voadores. O Coronel Korom-Khan ficara na Marco Polo, seguindo as ordens. Graças aos
comandos especiais instalados há pouco tempo, ele seria capaz de colocar o
supercouraçado numa órbita distante da Terra. Se houvesse algum perigo, poderia abrir
fogo. Não se podia arriscar a perda da preciosa nave da Frota Solar.
Os atos de sabotagem que continuaram nos últimos dias fizeram com que Rhodan
duvidasse da sinceridade do homo superior. Parecia que entre estas pessoas também
havia extremistas que não cumpriam o que combinavam.
Rhodan subiu a bordo. Tivera mais um encontro com os membros da guarnição de
Império Alfa. Roi Danton e Galbraith Deighton vieram com ele.
― A grande novidade do ano 3.440. Prefiro recolher-me a uma lata de conserva
cheia ― lamentou-se Roi ao entrar na eclusa de passageiros da calota polar inferior. ―
Que é isto? AI... !
Um técnico segurou-o para que não caísse.
― Cuidado para não cair em cima disso ― alertou. ― É a cabeça de rotor de um
helicóptero. Uma peça muito sensível. ― a senhor se esquece de que meu joelho também
é sensível?
O técnico sorriu.
― Vamos, Galbraith ― disse Danton. ― Vamos ver se conseguimos chegar à sala
de comando contorcendo-nos que nem minhocas. A quantidade de carga que está na nave
infringe todas as regras. Atenção! Ali também há uma coisa no chão.
― Sigam pelo corredor da esquerda e chegarão ao elevador ― gritou alguém. ― o
da direita está atulhado.
Os dois levaram quase quarenta e cinco minutos para chegar à sala de comando da
Good Hope II.
Rhodan já estava lá. Seguira outro caminho sem dizer nada a ninguém.
― É só para quem sabe ― disse bem-humorado. ― Quem sabe passar pelos lugares
certos chega mais depressa.
A sala de comando, que normalmente brilhava de limpeza e ficava muito bem
arrumada, parecia antes o porão de carga de um veleiro pré-histórico depois de uma
violenta tempestade. Mas os bem-informados asseguravam que se podia encontrar
qualquer pecinha de olhos vendados.
Rhodan deu as instruções finais. Os comandantes dos setores mais importantes
foram nomeados.
― O comandante e chefe de expedição é um certo Perry Rhodan ― leu o
Administrador-Geral.
― Atlan exercerá as funções de substituto do comandante e chefe dos barcos
espaciais. O primeiro-oficial cosmonáutico é o emocionauta Senco Ahrat, o segundo-
emocioficial cosmonáutico será Mentro Kosum. O cargo de chefe da sala de máquinas
principal será exercido por Abel Waringer. O ertrusiano Toronar Kasom será o primeiro-
oficial de artilharia. O chefe do rastreamento será Alaska Saedelaere. O cargo de chefe do
setor de radiocomunicação será exercido por Joak Cascal. Lorde Zwiebus ficará à
disposição para qualquer eventualidade. Os mutantes Gucky, Tschubai, Takvorian, Lloyd
e Merkosh formarão um grupo especial que entrará em ação no caso de uma emergência
interna. São estes os cargos técnicos. As outras atribuições já foram distribuídas.
Danton passou balançando entre peças sobressalentes acondicionadas em
revestimentos fundidos sob pressão.
Rhodan deu-lhe a mão.
― Mantenham a posição na Terra. Farei o possível para manter contato pelo rádio.
Talvez encontremos algumas estações retransmissoras que estejam em perfeitas
condições. Se o homo superior não cumprir o acordo, não tenha dúvida em tomar
medidas mais enérgicas. Deighton...
O primeiro-mecânico emocional do Império balançou a cabeça com uma expressão
resignada.
― Tudo em ordem, senhor. Faremos o que estiver ao nosso alcance com as poucas
pessoas imunes com que podemos contar.
― O senhor e Roi receberam plenos poderes. Façam o possível para manter a
ligação de transmissor com os estabelecimentos lunares. É importante. Quando Bell
aparecer com a Intersolar, os senhores poderão contar com reforços. Tenho certeza de
que Bell encontrará muitos imunes. Somente em Quinto Center deve haver pelo menos
trezentos especialistas mentalmente estabilizados. É ao menos o que informa Atlan. Os
homens e mulheres trabalhavam lá. Os especialistas que participam de operações de
combate talvez possam exercer uma função que faça jus à sua eficiência. Bell e Tifflor
farão o possível. Quanto a nós, senhores, vamos ver o enxame de perto.
A despedida foi ligeira. Os homens tinham muito trabalho e não havia tempo para
longos discursos. Roi e Deighton desceram da nave. Seu planador estava estacionado
além da marca vermelha de perigo.
Danton virou a cabeça. Visto de longe, até um cruzador ligeiro da classe planetas
parecia uma montanha de aço.
― De qualquer maneira ― disse Roi em voz baixa ― desta vez ele sai numa nave
muito melhor. Dois conversores Waring, autonomia de dois milhões de anos-luz. Uma
nave muito veloz e poderosa, que além de tudo isso tem mais quarenta metros de
diâmetro que a primeira Good Hope.
― Para mim uma experiência de quase mil e quinhentos anos vale mais que isso.
Vamos, Roi. Também temos uma tarefa a cumprir.
Os dois saíram voando e desapareceram na escotilha de um abrigo na superfície que
se abriu para eles. Era uma das muitas entradas de Império Alfa.
A Good Hope II partiu no dia 5 de julho de 3.441, às 13:30 horas, tempo padrão. O
campo paratron abriu-se muito acima dela e os geradores entraram em funcionamento. A
nave subiu como um brinquedo, mas era necessária muita competência para realizar uma
decolagem tão suave.
Os dois emocionautas só aceleraram quando a nave se encontrava bem acima da
brilhante bolha paratron e da metrópole Terrânia City, que parecia deserta.
O cruzador desapareceu em velocidade alucinante. Um ruído surdo sacudiu a
paisagem ampla.
Os mentalmente deteriorados e as pessoas inteligentes olhavam para a espaçonave
enquanto ela se afastava em alta velocidade.
― Boa sorte, velho, boa sorte ― cochichou Roi de si para si. ― Você vai precisar.
Bem, Deighton, vamos ao trabalho. Oito bilhões de seres humanos passam fome.
***
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http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?rl=cpp&cmm=66731
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?
cmm=66731&tid=52O1628621546184O28&start=1